Ao observarmos o ser humanoencontramos várias divisões.
Uma parte vive exclusivamente no passado,isto é, só começam a compreender as coisas
quando estas já são passadas. O resultado é que eles não podem alegrar-se
verdadeiramente a respeito de um acontecimentonem sentir intuitivamente a gravidade de qualquer coisa.
Somente depois é que começam a falar dela, a se entusiasmarem ou a se lastimarem.
Desse modo se descuidam sempre dos acontecimentos do presente,
ocupados com as conversas sobre os fatos decorridos, quer seja para lastimá-los
ou para se aprazerem a seu respeito.
Somente quando as coisas pertencem ao passado é que começam a dar-lhes valor.
Uma outra parte, ao contrário, vive no futuro.Só desejam e só tem esperança no futuro,
esquecendo-se que o presente lhes pode dar muito,e esquecendo-se também de se mover,
de modo que possam transformar em realidade muitos de seus sonhos de futuro.
Ambas as partes, às quais pertence a maior porção da humanidade,
não têm vivido realmente sobre a Terra. Estão perdidos em sua existência terrena.
Haverá também indivíduos que compreenderão por modo inteiramente falso o grito: “Vivei o presente!”
julgando talvez que com isso tenho em mente aconselhar o aproveitamento e gozo de cada momento,
inculcando uma existência frívola. Há muitas pessoas que passam pela vida cambaleando dessa maneira insensata.
É certo que com esse apelo exige-se o aproveitamento incondicional de cada minuto,
interiormente, não no sentido superficial, somente externo.
Cada hora do presente deve ser verdadeiramente vivida pelo homem! Tanto a alegria como o sofrimento.
O homem deve encontrar-se aberto em todos os seus sentidos
e o pensamento a todos os sentimentos do presente, e, por esse motivo, encontrar-se desperto.
Somente assim terá lucro com a vida terrena que lhe foi destinada.
Não poderá encontrar a verdadeira vida nem com os pensamentos do passado
nem com os sonhos a respeito do futuro, porque ambos não podem ser bastante fortes para imprimir seu cunho próprio no espírito,
a ponto de constituir isso um lucro que possa levar para o Além.
Se não viver mesmo, não poderá ficar amadurecido. O amadurecimento depende de viver.
Se na vida terrena não se faz viver sempre o presente em si próprio, voltará vazio,
tendo que percorrer novamente o caminho que não soube aproveitar,
porque não se encontrava desperto, não soube apropriar-se dele por meio da verdadeira vida.
A vida terrena é como um degrau no ser integral do homem, e por tal modo grande que o indivíduo não pode saltá-lo.
Se não firmar bem o pé nesse degrau, não poderá passar para o seguinte,
porque necessita daquele como fundamento próprio.
Se os homens imaginam toda sua existência nesta Terra como um esforço para voltar à Luz, tem que adquirir consciência clara
de que só poderão passar para um determinado degrau depois de haver preenchido verdadeiramente o anterior,
e firmado bem o pé nele.
Pode-se dizer tudo por modo mais forte ainda: somente da realização total e incondicional
de um determinado degrau que tem de ser vivido é que pode desenvolver-se o degrau subseqüente.
Se o indivíduo não preenche cabalmente com o viver, o único meio que tem disponível para alcançar o amadurecimento,
o degrau em que se encontra, não poderá ver o que vem a seguir,
porque precisará para isso da realização do viver do degrau anterior.
Somente com o aparelhamento adquirido pelo próprio viver é que fica com a força necessária para reconhecer
e galgar o degrau superior.
E assim se dá, sucessivamente, de degrau em degrau. Se quiser olhar somente para o ponto mais elevado,
sem atender aos degraus intermédios que o levarão àquele,
jamais conseguirá alcançar a meta desejada.
Os degraus que se verá na contingência de construir para poder elevar-se,
serão muito precários, e demasiado ligeiros, desfazendo-se no momento
de serem ensaiados para a ascensão.
Esse perigo é obviado pelo fato muito natural de só poder desenvolver-se o degrau ulterior pela realização completa do degrau presente.
Quem não quiser, portanto, ficar com sua existência pela metade em um degrau qualquer
e ter que voltar continuamente aos já percorridos, esforce-se sempre por pertencer completamente ao
presente, para aprendê-lo com acerto, vivê-lo inteiramente,
para que possa tirar disso proveitos espirituais.
Não lhe faltará com isso também o lucro terreno, porque a primeira vantagem colhida
consiste em não esperar dos homens e do tempo senão o que realmente podem dar!
Desse modo jamais poderá iludir-se, assim como ficará sempre
em harmonia com seu ambiente.
Mas se trouxer consigo somente o passado ou devaneios do futuro,
suas expectativas poderão ultrapassar facilmente os limites de seu presente,
tendo que ficar desse modo em desarmonia com ele,
o que não somente lhe ocasionará sofrimentos como também aos que o cercam mais de perto.
É certo que o homem deve também pensar no passado para tirar dele experiência,
assim como fazer sonhos a respeito do futuro, afim de receber estímulo...
Mas só se deve viver conscientemente o presente!
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