19
Universidade Portucalense e Infante D. Henrique Mestrado em Finanças Trabalho para a Gestão Financeira Internacional A Argentina e os investimentos das empresas portuguesas na América do Sul Professor Doutor Vasco Soares Matosinhos, Junho de 2002 César Ferreira

A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

Universidade Portucalense e Infante D. Henrique Mestrado em Finanças

Trabalho para a Gestão Financeira Internacional

A Argentina e os investimentos das empresas portuguesas na América do Sul

Professor Doutor Vasco Soares

Matosinhos, Junho de 2002 César Ferreira

Page 2: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

2

Índice

0 Objectivos do trabalho

3

Parte I

4

1. Introdução

4 1.1 As características históricas, geográficas, económicas políticas e sociais 4

2. Um breve análise a três variáveis macro económicas

6 2.1 A taxa de desemprego 7 2.2 O consumo 8 2.3 A Balança de Transações Correntes 8

3. As políticas económicas da Argentina na última década

9

3.1 As políticas económicas de Carlos Menem e Domingo Cavallo

9 3.1.1 Currency board 10 3.1.2 União monetária 10 3.1.3 Dolarização 11

3.2 A escolha da Argentina

11 3.2.1 Os movimentos especulativos 11 3.2.2 O crescimento económico da Argentina 12

3.3 Um breve relance pelas contas públicas argentinas

12

3.4 As medidas de Duhalde para a crise

13

3.5 A ajuda do FMI

13

4. Conclusões

14

Parte II

15

1. Introdução

15

2. Amostra

16

3. Objectivos

16

4. Conlusões

16 Bibliografia

17 Anexos

18

Page 3: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

3

A Argentina e os investimentos das empresas portuguesas na América do Sul

0 Objectivos do trabalho

Este trabalho foi elaborado entre Setembro de 2001 e Junho de 2002, para ser avaliado

na disciplina de Gestão Financeira Internacional do Mestrado em Finanças da

Universidade Portucalense. A conclusão do trabalho foi consecutivamente atrasada, não

só pelas mutações constantes que ocorreram na Argentina, bem como, pela falta de

resposta de algumas empresas nacionais a uma pequena questão, oportunamente

colocada, que é da maior importância para as conclusões deste estudo.

O trabalho tem como tema principal o estudo do risco cambial. Defini os seguintes

pressupostos para a sua elaboração: um trabalho que envolvesse aspectos práticos e

utilizasse algum trabalho de campo, um trabalho sobre um tema actual, que abarcasse

várias matérias da Gestão Financeira Internacional mostrando a interligação que existe

nas matérias estudadas, que a sua elaboração me proporcionasse conhecimentos

adicionais aos estudados durante as aulas teóricas da disciplina.

Escolhi a crise na Argentina como pano de fundo para a elaboração do trabalho, e

utilizei uma forma bipartida para o estudo. Numa primeira parte fiz um diagnóstico da

Argentina e na segunda parte debrucei-me sobre o estudo dos mecanismos de cobertura

do risco cambial que as empresas portuguesas tinham utilizado aquando dos seus

investimentos na América do Sul

Para a elaboração do diagnóstico foi analisado o desenvolvimento da Argentina numa

perspectiva histórica passada e recente, foram analisados indicadores macro económicos

de apoio e foram estudadas as opiniões de diversos economistas acerca dos problemas

actuais da argentina. Para o estudo dos mecanismos utilizados para a cobertura do risco

cambial, por parte das empresas portuguesas, foram inquiridas algumas empresas

nacionais acerca de como é que estas tinha assegurado o risco cambial quando

efectuaram investimentos na América do Sul. O trabalho está assim dividido em duas

partes uma que é dedicada ao estudo da Argentina e da sua situação actual e a segunda

parte é uma pequena análise ao comportamento das empresas nacionais face ao risco

cambial.

Page 4: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

4

Parte I

A Argentina

1. Introdução

Para a elaboração do diagnóstico da Argentina resumi os dados essenciais para a análise

que importava a este trabalho. Assim dividi a primeira parte em quatro pontos. Um

primeiro ponto onde se apresentam os dados históricos, geográficos, demográficos,

políticos e sociais da Argentina, o segundo ponto é dedicado ao estudo dos dados macro

económicos actuais, no terceiro ponto vamos analisar as políticas económicas da

Argentina na última década (nomeadamente, de Carlos Menem, apontado como o

principal causador da situação actual e de Eduardo Duhalde o actual presidente) e no

quarto e último ponto vamos apresentar as conclusões e as nossas contribuições para o

problema.

1.1 As características históricas, geográficas, económicas, políticas e sociais

Ocupando a maior parte do sul da América do Sul com 2.766.890 km2 estende-se ao

longo de 3.460 Km, desde a Bolívia até Cape Horn. Tem fronteira a oeste com o Chile

ao longo da Cordilheira dos Andes, faz ainda fronteira a norte e a este com a Bolívia,

Brasil, Paraguai e Uruguai. Actualmente tem cerca de 36 milhões de habitantes(1). As

principais fontes de riqueza são: agricultura com o trigo e a fruta, a criação de gado,

especialmente bovino, e os recursos energéticos como petróleo e gás natural.

Numa perspectiva histórica A Argentina foi uma colónia Espanhola até 1816, sendo este

facto de extrema importância por dois motivos, o primeiro revela-nos a importância

deste país para o nosso maior parceiro comercial (a Espanha), o segundo motivo é o

facto em si, de a Argentina ser uma ex-colónia espanhola, com todas as especificidades

idiossincráticas da colonização Espanhola. Uma forte presença da igreja católica com

pouca escolarização da população, “... quanto a manufacturas, poucas, e a maior parte

delas era remanescente da indústria caseira. Quase todo esse trabalho recaía sobre os

ombros das mulheres – fiar e tecer, olaria, fabricação de sabão, de óleo de cozinha, de 1 36.265.463 em 1998 de acordo com a Enciclopédia Encarta

Page 5: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

5

velas. Numa sociedade macho com valores herdados da Espanha, a idade adulta trouxe

para os homens «a completa independência e ociosidade».(2)”

O arranque económico da Argentina deu-se no final do século XIX, utilizando o modelo

da vantagem comparativa. O principal sector económico foi a criação de gado e os

produtos derivados, peles, lã, sebo e carne. Quando em 1880 apareceu o transporte de

carne refrigerada para a Europa e posteriormente o transporte de carne bovina

congelada, foram os factores determinantes do desenvolvimento e criação de riqueza da

Argentina.

Para termos uma ideia da importância e dimensão do comércio de gado na altura,

existem estudos demográficos sobre o desenvolvimento da população europeia que dão

como factor de desenvolvimento e de alteração da robustez e altura da população

europeia o aumento de consumo de carne bovina provocado pela importação de carne

da Argentina que ocorreu no início do século passado.

A Agricultura ficou em segundo plano sem programas de desenvolvimento e

modernização, e a indústria foi entregue a interesses estrangeiros, sobretudo britânicos,

que desenvolveram a indústria de acordo com os seus próprios interesses e necessidades

estratégicas.

Mas o grande problema da Argentina foi, desde a sua independência, a governação. É

importante reflectir que a independência foi conseguida em 1816, no entanto a república

foi proclamada em 1862 cerca de 50 anos após. Durante esses 50 anos reinou uma

batalha entre os centralistas de Buenos Aires e as respectivas províncias. Desde essa

data até aos dias de hoje, o poder na Argentina tem passado de mão em mão

normalmente pela força e quando não é utilizada a força, os processos tendem a ser

conturbados, exemplo disso, é que aconteceu no final do ano passado, em pleno século

XXI, a Argentina teve 5 presidentes no espaço de 2 semanas revelando a instabilidade

política deste país.

Num rápido decorrer cronológico, podemos evidenciar que em 1543 os espanhóis

instalaram as primeiras colónias nos vales dos Andes, em 1816 é proclamada a

independência das Províncias Unidas do Rio de La Plata, durante o período de 1835 a

1852 o poder foi exercido pelo ditador Juan Manuel Rosas, em 1853 é estabelecido o

sistema Federal, em 1857 os europeus começam a instalar-se nas pampas e o poder do

país estava entregue a uma oligarquia de 2000 famílias, em 1916 é eleito,

Page 6: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

6

democraticamente, o primeiro presidente, Hipólito Yrigoyen, em 1930, um golpe militar

abala a constituição republicana, em 1943 dá-se um novo golpe militar, em 1946 o

general, Juan Péron, é eleito presidente com o apoio dos militares e das organizações de

trabalhadores. É um período em que a Argentina vive governada pelo populismo e pelo

faz de conta, em 1955, um golpe militar derruba Péron quando, no país, vive-se um

clima de greves, de desemprego e de inflação elevada. Em 1973 Perón regressa do

exílio e é reeleito presidente, morre no ano seguinte. É sucedido pela sua terceira mulher

Isabelita que é incapaz de controlar a esquerda Peronista e a violência urbana. Em 1976

o poder é tomado pela junta militar controlada pelo general Videla, os partidos políticos

são proibidos, inicia-se um período obscuro, criminoso, com o desaparecimento 10.000

“suspeitos de esquerda”. Em 1982 o general Galtieri sucede a Videla e no ano seguinte

ordena a invasão das Ilhas Falkland (território britânico), o exército Argentino é

humilhado, e no ano seguinte são convocadas eleições livres multipartidárias, que são

ganhas pelo candidato humanista Raúl Alfonsin, vive-se, no entanto, num período de

hiperinflação e de crise na dívida externa. Em 1989 Carlos Menem é eleito presidente e

em 1990 lança o Plano de Convertibilidade, um regime de câmbios fixos ancorado na

relação de paridade de um peso um dólar. Em 1999 De La Rúa é eleito presidente após

um conjunto de complicações com o governo de Menem, nomeadamente, o descalabro

económico do país e a acusação de envolvimento do presidente no tráfico de armas, De

La Rúa não consegue controlar a economia da Argentina e em Janeiro de 2002 após um

conturbado processo político é eleito pelo congresso Eduardo Duhalde antigo

governador da província de Buenos Aires.

2 Uma breve análise a três variáveis macro económicas para se compreender os

problemas sociais de hoje na Argentina

A situação que se vive hoje na Argentina é dramática, no entanto, e no âmbito do estudo

deste trabalho, vou analisar três variáveis macro económicas, taxa de desemprego, o

consumo das famílias e o saldo da Balança de Transações Correntes para avaliar os

problemas que existem hoje na Argentina. No ponto 3.3 fiz algumas considerações

sobre as contas públicas da Argentina, devido à importância do equilíbrio orçamental,

numa situação de currency board.

Page 7: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

7

Estas variáveis macro-económicas servem para reflectir a situação actual da Argentina

pela relevância que imprimem à produtividade, às expectativas presentes via

desemprego e pelos cenários que se desenham por via do consumo das famílias

Uma elevada taxa de desemprego reflecte um clima de instabilidade social profundo e

uma revolução popular eminente. A diminuição do consumo dos argentinos reflecte

uma diminuição do rendimento disponível das famílias e algum (senão muito)

cepticismo face ao futuro.

O saldo da Balança de Transações Correntes é crucial para se estudar a competitividade

de um país. É importante numa sociedade, cada vez mais global, um posicionamento

internacional competitivo. Caso não se consiga uma competitividade internacional o

país tem dois caminhos ou se isola, atrasando-se imediatamente, ou vai ser penhorado,

aos poucos, por centros de decisão internacional, muito zelosos dos seus interesses mas

sem preocupações sociais e de desenvolvimento económico do país.

2.1Taxa de Desemprego

Analisando a taxa de desemprego Argentina verificamos que apresenta valores

elevados, comparativamente aos EUA e Europa.

Se analisarmos a evolução do nível de desemprego na Argentina (ver gráfico I)

verificamos, que embora, o

país apresente uma

sazonalidade que está

associada a uma economia

com uma forte componente

primária, podemos afirmar

que o nível de desemprego

está a aumentar

consideravelmente. Entre Outubro de 1999 e Outubro de 2001 a taxa de desemprego

cresceu 32,6%, gerando uma forte contestação social e graves problemas económicos.

Não podemos analisar esta questão de per si, mas teremos que estudar os problemas

económicos a montante e a jusante do aumento do desemprego. Quais são as causas dos

despedimentos? É a fraca competitividade das empresas argentinas, ou será a

diminuição do consumo interno? Qual será o impacto nas expectativas dos

Page 8: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

8

consumidores de um aumento do desemprego? Qual será o impacto da diminuição de

receitas induzido pela diminuição de imposto e contribuições pagas pelos trabalhadores

e sobre os seus salários? Qual será o impacto no aumento da despesa através do

pagamento das prestações de desemprego? Que custos estruturais estão a ser criados

com os despedimentos em massa?

2.2 O Consumo

Se analisarmos as vendas nos supermercados durante o período de 1996 a 2001 (Gráfico

2(2)), verificamos que a partir de 1998 existe uma quebra acentuada do consumo

Argentino, realçamos que

os dados estão a preços de

mercado.

A diminuição do consumo

tem reflexos importantes

no PIB, bem como, os

efeitos induzidos através

da diminuição do gastos

públicos provocados pela

diminuição de receitas do sector público pela via fiscal (diminuição das receitas das

empresas). Podemos afirmar, conscientes que podemos ser polémicos, que uma

diminuição do consumo arrasta sempre a sociedade para um nível de bem estar inferior.

Conscientes de todos os pressupostos teóricos da economia pública para que se

verifique esta condição, não posso deixar de realçar este ponto.

2.3 A BTC

Embora suscite alguma discussão, essencialmente por economistas americanos que não

concordam com o método, a melhor forma de analisarmos a competitividade

internacional de uma economia, é a análise à sua Balança de Transações Correntes

(BTC). Analisando o saldo da BTC durante o período que decorre entre 1995 e 1999

(em anexo mapa fornecido pelo INDEC Instituto Nacional De Estadistica Y Censos De

La Republica Argentina), verificamos que o saldo da BTC diminui 358, 62 %, no

espaço de 5 anos, diminuindo, essencialmente, nas relações com a Ásia, Brasil e

2 Dados obtidos do INDEC Instituto Nacional De Estadistica Y Censos De La Republica Argentina

Vendas anuais em supermercados

11.500

12.000

12.500

13.000

13.500

14.000

14.500

15.000

1996 1997 1998 1999 2000 2001Gráfico 2

Em

milh

õe

s d

e d

óla

res

Page 9: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

9

Europa. Estes tempos não foram fáceis para o comércio dos produtos argentinos. Em

1997 e 1998 a Ásia sofreu uma crise económica que a abalou profundamente e que

ainda hoje não foi ultrapassada. O Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina e

mantinha uma relação de paridade com o dólar que assegurava alguma estabilidade às

relações comerciais entre os dois países, no entanto em 1999 o Brasil desvaloriza o real

face ao dólar e em 1999 o saldo da BTC com o brasil diminui 89%. A desvalorização do

real face ao dólar foi fatal para a economia Argentina, os produtores argentinos não

conseguiram vender para o brasil, os brasileiros aumentaram as suas vendas para a

Argentina e os produtores internacionais que estavam sediados na Argentina

deslocalizaram as suas unidades produtivas para o Brasil. Na Europa, na última metade

da década de 90, surge um problema de saúde pública com repercussões económicas

importantes que indirectamente vai afectar as exportações argentinas, a febre das vacas

loucas vai afectar o consumo de carne na Europa, afectando naturalmente as

exportações argentinas, e, por outro lado o dólar valoriza-se face às principais moedas

europeias encarecendo as exportações argentinas a facilitando as exportações europeias.

Podemos então concluir que a conjuntura internacional não foi boa para a Argentina,

mas provavelmente, a Argentina não tinha estrutura económica para a política monetária

que escolheu.

Se conjugarmos a diminuição do consumo com o aumento da taxa de desemprego e

com a degradação da balança comercial, podemos concluir que a Argentina está numa

crise profunda interna e externa, que os comportamentos irracionais3 dos indivíduos

perante uma situação de crise económica vão certamente agravar essa mesma crise. Isso

já aconteceu, com a saída em massa de capitais e com a emigração depauperando a

força produtiva do país.

3 As políticas económicas da Argentina na última década

3.1 As políticas económicas de Carlos Menem e Domingo Cavallo

Em 1990 o presidente Carlos Menem lança o Plano de Convertibilidade que consiste

basicamente na ancoragem do peso ao dólar numa relação de paridade de um para um.

Este mecanismo permitiu o controlo da inflação. Mas Menem não só instituiu a

3 J. M. Keynes

Page 10: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

10

paridade com o dólar como lançou um programa de privatizações que permitiu a

abertura da economia ao estrangeiro, conseguindo entradas significativas de capital

estrangeiro atraídos não só pelas condições económicas locais, mas também pela

paridade com o dólar. Pois os investimentos não acarretavam riscos cambiais apenas um

risco político que muitos pensavam ser controlado através da exposição internacional da

economia Argentina. No início, tudo parece correr bem e Domingo Cavallo ministro da

economia argentino é considerado um mago das finanças(4). Tinha descoberto o ovo de

Colombo.

Para compreendermos melhor o plano de convertibilidade vamos resumir três conceitos

essenciais para estudarmos a escolha Argentina. São mecanismos cambiais que existem

actualmente e que se encontram a funcionar em vários países.

3.1.1 Currency Board

Este sistema é definido pela cobertura integral da base monetária do país por activos

numa moeda externa que vai servir de âncora, e uma relação de paridade fixa com essa

moeda. A instituição monetária central não pode refinanciar os bancos de segunda

ordem, obrigando que esses bancos fiquem dependentes do saldo de transações

correntes e da sua capacidade de financiamento externo. Para que a economia possa

crescer, assegurando a liquidez necessária ao sistema financeiro, e de alguma forma,

proteger-se contra ataques especulativos é necessário que a Balança de Transações

Correntes do país seja estruturalmente superavitária, e, a sua Balança de Operações Não

Monetárias seja no mínimo equilibrada e tendencialmente superavitária. Para que estas

situações aconteçam são necessárias pelo menos três condições de base, níveis de

produtividade e competitividade internacional superiores ou iguais à dos seus parceiros

comerciais, disciplina orçamental e restrições à livre circulação de capitais. Falhando

um destes pilares a liquidez da economia será drenada, implicando a insolvência do

sistema financeiro e a falência do modelo.

3.1.2 União monetária

É o que acontece na UE com o euro em que dois ou mais países partilham a mesma

moeda, no entanto, existe uma actuação conjunta dos bancos centrais na formulação da

política monetária. Não há lugar à renúncia da soberania monetária mas sim partilha da 4 Executive Digest, Janeiro de 1999

Page 11: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

11

mesma. Implica livre circulação de mercadorias e capitais, tal como a liberdade de

estabelecimento e de prestação de serviços.

3.1.3 Dolarização

O termo foi criado em relação ao dólar mas pode ser utilizado para qualquer outra

moeda, e basicamente define-se como a substituição da moeda nacional pelo dólar, não

sendo necessário o consentimento do país que fornece a moeda âncora. Não é

necessário, no entanto, é desejável.

Pois caso não exista um acordo o país que fornece a moeda fica com todos os ganhos de

senhoriagem. O país dolarizado fica impotente quanto a uma actuação, no âmbito da

política monetária, do país que fornece a moeda, que pode ser contrária às suas

necessidades.

3.2 A escolha da Argentina

Mas se formos analisar o sistema utilizado pela Argentina verificamos que não é

nenhum dos mencionados. Assemelha-se a um currency board, no entanto diverge num

ponto essencial. A actuação do Banco Central. O Banco Central Argentino continuou a

refinanciar os bancos de segunda ordem e estes dados são fornecidos pelo próprio banco

central (em anexo) que apresenta um aumento dos recursos monetários globais entre

1995 e 1999 de 66.63%!

O que aconteceu?

O problema tem que ser analisado de uma forma cuidada e devem ser separadas as

operações especulativas internacionais, do crescimento económico argentino durante a

década de 90 do século passado.

3.2.1 Os movimentos especulativos

Os investidores internacionais com uma taxa de juro de cerca de 10 % durante o período

de 1995 a 2000 e com uma taxa de câmbio fixa com o dólar foram atraídos para o

sistema financeiro argentino. Um montante considerável de liquidez que procurava

elevada rendibilidade com um baixo risco, foi “aplicado” na economia argentina, só

que essa mesma liquidez desapareceria ao mínimo indício, de desvalorização do peso ou

de instabilidade económica. Assim e durante algum tempo estiveram na Argentina

vários milhares de milhões de dólares que fomentaram o crescimento via sistema

financeiro, e do crescimento que este sistema aportava à economia, no entanto, esta

Page 12: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

12

situação estava apoiada numa arquitectura frágil que poderia a qualquer momento

desacreditar o próprio sistema financeiro argentino. Bastava para isso que os

investidores estrangeiros retirassem os seus depósitos e investimentos em dólares para

ser decretada a insolvência da banca argentina.

3.2.2 O crescimento económico da Argentina

Durante a década de 90 a Argentina regista um crescimento médio do PIB superior a

5%, este crescimento deve-se essencialmente pelo investimento directo estrangeiro via

privatizações. Faltou, no entanto, a consolidação desse crescimento através da melhoria

dos níveis de competitividade da economia argentina com os seus parceiros comerciais,

competitividade essa, que era essencial para a manutenção de uma relação de paridade

com o dólar.

3.3 Um breve relance das contas públicas argentinas

Analisando as contas publicas argentinas(5) verificamos que durante a segunda metade

da década de 90 o déficit público aumentou, essencialmente, através das transferências

para as províncias e do aumento dos encargos com a dívida pública, estes duplicaram

em 5 anos(6), a dívida pública aumentou ao longo dos anos, mas é sobretudo para a

emissão de obrigações e títulos em moeda estrangeira que é canalizada a dívida pública.

Estes dados revelam por um lado uma derrapagem orçamental crónica, motivada pela

falta da disciplina orçamental e por uma política central dependente das províncias,

originando uma grave descoordenação da política orçamental.

O aumento da dívida titulada em moeda estrangeira é talvez a consequência da política

monetária e orçamental da Argentina. O país precisa de moeda estrangeira para manter

o seu regime cambial, no entanto, a sua competitividade vai eliminando a liquidez do

sistema financeiro, o Estado gasta mais do que pode, e por isso a solução será a emissão

de dívida titulada em moeda estrangeira pagando um prémio cada vez maior no final de

2000 a taxa de retorno da dívida pública argentina era de 15 % (?) implicando um

aumento dos encargos com a dívida, e sem resposta efectiva para esse aumento.

5 Saldo de la deuda pública, por tipo de deuda y credor ( Fuente: Ministerio da Economia, Secretaria de Hacienda) Ejecución del pressupuesto del Sector Público Nacional, en valores corriengtes. ( Fuente: Ministerio da Economia, Secretaria de Hacienda) 6 Esta conclusão não pode ser analisada de uma forma linear, pois os dados foram apresentados a preços correntes, no entanto, dá-nos uma percepção da variação, pois a análise é relativa.

Page 13: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

13

3.4 As medidas de Duhalde para a crise

Em primeiro lugar o executivo criou um complexo sistema cambial que utiliza dois

mercados, um para operações de exportação e importação e algumas operações de

capital, com um câmbio de 1 USD = 1.4 Pesos, as restantes operações cambiais seriam

realizadas num sistema de câmbios flutuantes. Foi instituído o sistema de corralito que

consistia na limitação dos levantamentos dos depositantes do sistema financeiro. Foram

congelados os despedimentos e foram anunciados um conjunto de promessas no âmbito

da criação de postos de trabalho.

3.5 A ajuda do FMI

Será que os empréstimos do FMI à Argentina vão ajudar a resolver a crise da

Argentina?

Os empréstimos do FMI à Argentina vão servir para honrar os compromissos com os

credores internacionais, credores que estavam a ser remunerados a uma taxa com um

prémio de cerca 10%. Existia um prémio de 10 % porque os credores só se dispunham a

compra títulos da dívida Argentina se esses títulos rendessem mais 10% do que os

títulos da dívida pública do EUA (por ex.), o prémio era para cobrir o risco de

incumprimento, por parte do emissor da dívida. Então se o emissor se declarar

insolvente os credores estavam avisados do risco que corriam quando compraram esses

títulos, pois caso contrário, não exigiriam 10% de prémio.

No caso de o FMI emprestar o dinheiro suficiente à Argentina para cobrir os

pagamentos, os credores (especuladores) vão ser reembolsados e continuarão a investir

em mercados economicamente deficitários, pois, têm a garantia do FMI do reembolso

dos seus investimentos.

No caso do FMI não socorrer a Argentina o país vai declarar a insolvência e,

consequentemente, não vai conseguir atrair investimento estrangeiro nos próximos

tempos. Poderá sofrer algumas sanções internacionais, no entanto, o povo argentino irá

certamente sofrer com essas sanções, e será o mais prejudicado.

Page 14: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

14

4. Conclusões

Vários economistas propuseram algumas soluções para a crise Argentina, neste ponto

vou apresentar algumas soluções desses economistas, e a minha modesta opinião.

Concordo com a desvalorização do peso e da criação de uma união monetária com o

Brasil defendida por Jeffrey Sachs, quanto ao pagamento da dívida externa e ao

cumprimento das obrigações internacionais, devem ser acautelados os credores

internacionais mas com um pagamento desfasado no tempo, devem adiar-se os

pagamentos a uma taxa de juro igual a da reserva federal americana. A ajuda do FMI só

poderá ser aceite caso mude a sua política restritiva da despesa pública pois este não é o

momento oportuno para diminuir a despesa pública Argentina, muito pelo contrário, a

Argentina necessita de um empurrão económico e cabe neste momento ao governo

Argentino impulsionar a economia com despesas de investimento que criem riqueza.

Essas despesas devem ser canalizadas para vários sectores sociais e económicos, no

entanto, a sobrevivência de qualquer povo, nos dias de hoje, depende do grau de

escolarização e de desenvolvimento tecnológico dos seus recursos humanos, pelo que é

fundamental investir na educação tecnológica e na fomentação da investigação, para que

o país alcance níveis de competitividade que sustentem por si só a economia Argentina.

Devem ser controladas as despesas das províncias, impedindo o despesismo eleitoral

que só serve para afundar a economia, e o grau de endividamento de cada província.

Quanto ao congelamento dos despedimentos, é uma medida desnecessária que só vai

atrasar a recuperação da economia, vai impedir que as empresas se adaptem aos tempos

da crise, empurrando-as para a falência. É uma medida populista que vai acabar por

prejudicar mais os trabalhadores. Uma alternativa seria o lançamento de um conjunto de

medidas de incentivo à criação de empresas e de emprego. Esta tem sido uma política

utilizada na União Europeia, muito criticada pelos EUA, mas, na minha opinião, as

políticas de apoio à criação de empresas em sectores estratégicos são determinantes para

o desenvolvimento e coesão social de um país.

E mais importante do que tudo deve ser eleito um governo competente e honesto que

consiga levar a bom porto tão grande nau. Séneca dizia que sem bons marinheiros por

muito bom que seja o piloto nunca se chega a lugar nenhum e que sem um destino, por

muito bom que o vento esteja também nunca chegaremos a lugar nenhum.

Page 15: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

15

Parte II

Os Investimentos Nacionais na América do Sul

1. Introdução

A actual situação sócio-económica da Argentina serviu de base à elaboração deste

trabalho, tentei, utilizando os conhecimentos adquiridos sobre Finanças Internacionais

estudar o problema Argentino, e as implicações deste na economia Portuguesa.

Nos dias de hoje, a cobertura de risco cambial é uma ferramenta que está ao alcance de

qualquer empresa que transaccione internacionalmente. Será então interessante verificar

que mecanismo de cobertura é mais utilizado, e, quais as empresas que mais utilizam a

cobertura do risco cambial.

Analisando o investimento directo das empresas portuguesas no estrangeiro, durante o

período 1979-1998(7), verificamos que uma grande parte 43.29% foi direccionada para

dois países, Espanha e Brasil. Estes dois países são dos maiores parceiros comerciais

que a Argentina tem, o Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina e a Espanha

ocupa o sexto lugar .

A recessão que afecta a economia Argentina tem reflexos importantes nas economias do

Brasil e de Espanha, afectando obrigatoriamente os investimentos portugueses nestes

países. Tem ainda uma repercussão importante nos países que constituem o

MERCOSUL (Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil) que pode arrastar estes países

para uma crise profunda através do efeito de bola de neve. E uma crise no

MERCOSUL, vai se alastrar à UE, NAFTA e APEC, isto é, ao mundo inteiro, à boa

maneira da globalização.

Ao nível micro-económico, as empresas portuguesas poderão ver os seus recebimentos

internacionais em causa, bem como, o retorno dos seus investimentos. Uma situação

que poderá ser preocupante tendo em conta o montante dos investimentos portugueses

no estrangeiro nos últimos anos.

7 Fonte : Banco de Portugal

Page 16: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

16

2. Amostra

Para servir de amostra para o estudo foram contactadas as empresas que constituem o

índice PSI 30 através de contacto por correio electrónico para o gabinete de apoio ao

investidor. Desta forma não foram contactadas as empresas, SAG, Teixeira Duarte,

Cofina, Corticeira Amorim, Jerónimo Martins, Mota-Engil, Soares da Costa, Semapa e

Ibersol. Forma contactadas 21 Empresas (BCP, BANIF, BES, BPI, Pararede, Portucel,

Somague, Sonae SGPS, Sonae.com, Sonae Indústria, Modelo Continente, Brisa,

Cimpor, CIN, EDP, Impresa, Inapa, Portugal Telecom, PT Multimédia, Vodafone e

Novabase)

3. Objectivos

As empresas contactadas forma confrontadas com uma questão acerca da cobertura do

risco cambial nos investimentos efectuados na América do Sul. O objectivo deste

“inquérito” tinha uma dupla intenção a primeira era a de verificar qual o instrumento de

cobertura do risco cambial preferido pelas empresa nacionais a segunda era mais

modesta e tentava-se testar a sensibilização das empresas nacionais para a problemática

do risco cambial.

4. Conclusões

Não podemos estar contentes com os resultados obtidos, e forçosamente teremos que

reformular a nossa estratégia de contacto com as empresas caso queiramos aprofundar o

nosso estudo. Mesmo assim podemos retirar algumas conclusões que, objectivamente,

não podem ser ignoradas; a primeira conclusão que podemos retirar, é que mesmo

empresas que figuram num dos principais índices bolsistas nacionais e têm uma

dimensão bastante razoável não estão sensibilizadas para a economia digital e para as

vantagens da internet na comunicação e divulgação das empresas.

A segunda conclusão é retirada pelo reduzido número de respostas o que demonstra

uma cultura empresarial virada para o umbigo das empresas dando pouca importância

ao mercado e aos pequenos investidores. É preocupante que empresas como a PT e

Sonae não tenham sequer respondido à questão que lhes foi colocada, e que a EDP,

embora tenha assinalado a recepção da mensagem, não tenha respondido ao fim de seis

meses.

Page 17: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

17

A terceira conclusão é retirada das duas respostas (em anexo) que demonstram que as

empresas nacionais não utilizaram qualquer mecanismo de cobertura do risco cambial

demonstrando a fraca sensibilização dos gestores portugueses para a gestão

internacional, demonstrando mesmo alguma falta de preparação para a gestão financeira

internacional.

Page 18: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

18

Bibliografia

Landes, David S. – A Riqueza e a Pobreza da Nações – Edições Gradiva

Atlas Enciclopédico Mundial - Dorling Kindersley

Casalinho, Cristina – Os Dilemas da Argentina – Economia Pura, Março de 2002

Soares da Fonseca, J. A. – O duopólio monetário – Economia Pura, Janeiro de 2001

Palhinha Machado, A. – To dolarize or not to dolarize – Economia Pura, Abril de 2002

Sachs, Jefrey – O Erro Argentino – Economia Pura, Dezembro de 2000

Sachs, Jefrey – A Armadilha Argentina – Economia Pura, Julho/Agosto de 2001

Page 19: A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul

19

Anexos