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INVESTMAIS 42 COMO FUNCIONA A ESCOLHA DOS ATIVOS E O EFEITO ZIP-ZAP por CLÁUDIA AUGELLI E scolhi a dedo o assunto deste meu primeiro texto aqui na InvestMais: análise quantitativa (estatística), que considero ser essencial para o sucesso de qualquer investidor. A análise estatística deve permear a escolha (da combina- ção) dos ativos que irão formar uma carteira, é a base da diversificação. A diversificação não é nenhuma novidade, provavelmente sua avó já dizia que não é prudente colocar todas as fichas na mesma aposta, ou todos os ovos na mesma cesta, justificando que, se você perder a aposta, perde tudo; se a cesta cair no chão... lá se vão todos os ovos. Há quem defenda a teoria da concentração; explico, alguns acreditam que, se o investidor tiver muitos ativos na carteira, não vai conseguir capturar a valorização no caso de alta e obter bons ganhos. Por exemplo, se alocarmos R$10 mil em dez ações de companhias distintas − supondo um investimento de R$1 mil em cada uma −, se uma delas subir 20% (o que é uma alta espetacular), nosso lucro será de apenas R$200 naquele papel, ou seja, apesar de o ganho percentual ser alto, o ganho financeiro é baixo. Portanto, existe um número ótimo de ativos entre os quais devemos distribuir nossos recursos. Contudo, essa quantidade ótima é bastante polêmica. Em minha opinião, esse número varia de caso para caso e vale o bom-senso. Diversificar não é “entupir” a carteira de ativos como pregam por aí (sabe aquela história de “mais do mesmo”?). Se fosse assim, uma carteira com 50 ativos seria melhor que uma com 10; e uma carteira com 500 ativos, melhor que uma formada por 100 e assim por diante. Mas isso é uma grande besteira. Sabemos que, por vezes, um portfólio com 5 ações pode estar melhor diversificado do que um com 20. Precisamos de uma diversificação estatística, combinar ativos de diferentes riscos. Para compreendermos como a diversificação funciona de fato, devemos entender que um ativo é composto de dois tipos de risco: 1. Risco não sistemático, também conhecido como di- versificável, é o risco próprio ou individual do ativo, está associado a fatores que afetam um setor ou uma empresa isoladamente. É possível minimizá-lo ou, até mesmo, zerá-lo por meio da diversificação dos ativos que compõem uma carteira (conforme você pode observar na figura da página seguinte). 2. Risco sistemático, ou não diversificável, é de natu- reza geral e macroeconômica. Ocorre em função de fatores que afetam a economia como um todo − taxa de juros, inflação, câmbio, guerras, catástrofes naturais, etc. Essa categoria de risco não pode ser compensada mediante diversificação.

A ESCOLHA DOS ATIVOS E O EFEITO ZIP-ZAP

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Page 1: A ESCOLHA DOS ATIVOS E O EFEITO ZIP-ZAP

I N V E S T M A I S42

C O M O F U N C I O N A

A ESCOLHA DOS ATIVOS E O EFEITO ZIP-ZAPp o r C L Á U D I A A U G E L L I

Escolhi a dedo o assunto deste meu primeiro texto aqui na InvestMais: análise quantitativa (estatística), que

considero ser essencial para o sucesso de qualquer investidor. A análise estatística deve permear a escolha (da combina-ção) dos ativos que irão formar uma carteira, é a base da diversi& cação. A diversi& cação não é nenhuma novidade, provavelmente sua avó já dizia que não é prudente colocar todas as & chas na mesma aposta, ou todos os ovos na mesma cesta, justi& cando que, se você perder a aposta, perde tudo; se a cesta cair no chão... lá se vão todos os ovos.

Há quem defenda a teoria da concentração; explico, alguns acreditam que, se o investidor tiver muitos ativos na carteira, não vai conseguir capturar a valorização no caso de alta e obter bons ganhos. Por exemplo, se alocarmos R$10 mil em dez ações de companhias distintas − supondo um investimento de R$1 mil em cada uma −, se uma delas subir 20% (o que é uma alta espetacular), nosso lucro será de apenas R$200 naquele papel, ou seja, apesar de o ganho percentual ser alto, o ganho & nanceiro é baixo. Portanto, existe um número ótimo de ativos entre os quais devemos distribuir nossos recursos. Contudo, essa quantidade ótima é bastante polêmica. Em minha opinião, esse número varia de caso para caso e vale o bom-senso.

Diversi& car não é “entupir” a carteira de ativos como pregam por aí (sabe aquela história de “mais do mesmo”?).

Se fosse assim, uma carteira com 50 ativos seria melhor que uma com 10; e uma carteira com 500 ativos, melhor que uma formada por 100 e assim por diante. Mas isso é uma grande besteira. Sabemos que, por vezes, um portfólio com 5 ações pode estar melhor diversi& cado do que um com 20. Precisamos de uma diversi& cação estatística, combinar ativos de diferentes riscos.

Para compreendermos como a diversificação funciona de fato, devemos entender que um ativo é composto de dois tipos de risco:

1. Risco não sistemático, também conhecido como di-versi& cável, é o risco próprio ou individual do ativo, está associado a fatores que afetam um setor ou uma empresa isoladamente. É possível minimizá-lo ou, até mesmo, zerá-lo por meio da diversi& cação dos ativos que compõem uma carteira (conforme você pode observar na & gura da página seguinte).

2. Risco sistemático, ou não diversificável, é de natu-reza geral e macroeconômica. Ocorre em função de fatores que afetam a economia como um todo − taxa de juros, inf lação, câmbio, guerras, catástrofes naturais, etc. Essa categoria de risco não pode ser compensada mediante diversificação.

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Cláudia Augelli é sócia-fundadora da Eugênio Invest e agente autônoma de in-vestimentos certifi cada pela CVM. Possui especialização em fi nanças (Yale School of Management) e em corporate finance (New York University), MBA em mercado

de capitais e derivativos pela BM&F, graduou-se com honras em administração, é palestrante e professora de fi nanças e gestão de custos no Ibmec.

Perguntas, comentários ou sugestões através do Twitter: @eugenioinvest

*A quantidade de ativos é apenas um exemplo e não indica regra.

Risco da carteira

de investimentos

Risco diversi� cável

*Quantidade

de ativos

5 10 15 20

Risco sistemático

Risco

total

Riscos da carteira de investimentos

- risco + risco

! < 1 ! = 1 ! > 1

Termômetro de risco da carteira

Códigodo ativo Preço Quant. Finan.

(R$) Peso (%) Beta

ABCD4 57,40 700 40.180,00 44,32 1,78

XPTO3 27,37 1.000 27.370,00 30,19 0,96

WTZY5 46,20 500 23.100,0023.100,0090.650,00

0,40

Beta da carteira: 1,18

CÁLCULO DO BETA DA CARTEIRA

O risco sistemático pode ser quantificado pelo coeficiente beta (representado pela letra grega b), que indica a variação dos retornos de uma ação ou cartei-ra em oposição aos retornos do mercado (Ibovespa). Lembrando que o beta do mercado é sempre 1; no caso de um ativo com beta igual a 2, se o Ibovespa subir 1%, o ativo sobe 2%. Que ótimo, então sobe mais que o índice! Porém, se o Ibovespa cair 1%, o ativo cai 2%, bem mais que o índice também. Portanto, ativos com beta > 1 são considerados agressivos.

Já os ativos que apresentam beta < 1 são considerados defensores. Imagine um ativo com beta igual a 0,5. Se o Ibovespa subir 1%, o ativo sobe apenas 0,5%. Mas, se o Ibovespa cair 1%, ele só cai 0,5%. Ativos com beta igual a 1 se comportam igual ao mercado e, por isso, são considerados moderados. Diversificar é misturar ativos com betas diferentes. O ideal é que o investidor ajuste sua carteira de acordo com o cenário macro: carteiras agressivas para bolsa altista e defensivas para bolsa baixista.

mantenham relação inversa entre si − efeito zip-zap. Isto é, quando um sobe, o outro cai.

O beta pode ser calculado por meio da relação de covariância entre o ativo e a carteira de mercado com a variância da carteira de mercado (b = Cov x,y ÷ Var x). Parece complicado, mas é bem simples, principalmente com a ajuda do Excel ou dos softwares que existem por aí. O risco de um ativo mantido fora de uma carteira é diferente de seu risco quando incluído numa carteira. O risco de uma carteira depende da forma como seus elementos se relacionam (covariam) entre si. E a sua redução pode ser promovida pela seleção de ativos que

Interpretação: o beta é um indicador de risco dos ativos (ações/carteiras), indica como o ativo se comporta em relação ao mercado.

Quanto > o beta, mais arriscada é sua ação/carteira.Quanto < o beta, mais defensiva é sua ação/carteira.A base de comparação é a carteira de mercado, que possui beta = 1.

Vale lembrar que, quanto maior é o risco, maioré a possibilidade de perda ou retorno.

É muito raro encontrarmos ativos que apresentem correlação negativa se comparados ao Ibovespa − como ouro, a Selic e o dólar −, que, para efeito de diversi! cação, formam combinações “mágicas” com outros ativos dentro de nossas carteiras. Observe os movimentos opostos no grá! co, ! ca bem nítido:

Fo

nte

: Eco

no

tica, ela

bo

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o po

r Clá

ud

ia A

ugelli.

Ibovespa x dólar x ouro x Selic

20

15

10

5

0

-5

-10

-15

-20

-25

201020092008200720062005

Ibovespa

Dólar

Ouro

Selic

Não se esqueça de ver no site da InvestMais o beta dos papeis que compõem o Ibovespa!