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O que os Family Offices podem aprender com os Endowments
Uma das grandes dificuldades dos Family Offices é ter benchmarks e
referências claras para balizamento de suas regras, estruturas e processos de
investimento. Na busca por tais referências, um grupo de instituições chama
a atenção pelo pouco conhecimento por parte dos Family Offices: os
endowments de universidades.
Endowments são, por definição, ativos doados para instituições, pessoas ou
grupos para servirem como fonte de renda. Os endowments de universidades
são os recursos doados por pessoas, em geral ex-alunos, cujos principais
propósitos são: (1) gerar renda no longo prazo para as universidades com o
intuito básico de garantir autonomia institucional e (2) prover uma fonte
independente de recursos.
Isto faz com que o orçamento destas instituições não dependa das fontes
tradicionais de renda como anuidades de alunos – que são insuficientes - e
recursos governamentais – que estão diminuindo. Sendo assim, os
endowments tem se tornado cada vez mais importantes como fonte de
financiamento das atividades das universidades americanas.
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De acordo com dados da NACUBO de 2015, existem quase 1.000
endowments de universidades nos EUA e Canadá, com recursos totais que
ultrapassam US$ 500 bilhões. Os principais endowments já representam, em
média, mais de 30% do orçamento anual das universidades. O Yale
Endowment, por exemplo, distribuiu US$ 1.08 bilhão em 2015 para a Yale
University, o que, ao câmbio atual, representa quase 75% do orçamento total
da USP em 2015, numa universidade com cerca de 1/5 dos alunos. Isso
demonstra a crescente importância destas instituições como base
orçamentária e fator de diferenciação e excelência no cenário global.
Endowments e Family Offices são instituições com horizontes de tempo de
vida muito longos, enfrentando normalmente os mesmos desafios: preservar o
poder de compra dos ativos (“longo prazo”) e prover fontes de recursos
correntes para um ou mais objetivos (“curto prazo”).
Um Family Office cujo principal objetivo seja perpetuar o patrimônio familiar
através das gerações e prover um padrão de vida para os seus beneficiários,
se depara com desafios muito semelhantes aos de um endowment:
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26 24 23 22
1310 10 10 10
Fonte: NACUBO
Maiores endowments de universidades nos EUA Em bilhões de US$
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Family Offices (exemplo) Endowments
Beneficiários Membros familiares Alunos das universidades
Curto Prazo Dividendos e verba de
contingência
Complementação do
orçamento anual e verba
para investimentos
Longo Prazo Garantir poder de compra
da família
Garantir manutenção do nível
de ensino
Tabela 1: Paralelo entre Family Office e Endowment
Muitos Family Offices têm ainda outros objetivos, de modo que a
complexidade e dificuldade de atingir os objetivos pode ser maior.
Em termos de governança e gestão, enquanto uma família, por meio da
governança familiar, define, entre outros aspectos, os objetivos, mandato e
regras gerais que o Family Office irá trabalhar para atingir, a universidade,
com sua governança corporativa, cumpre um papel semelhante ao da
família, definindo os objetivos, metas e regras que os endowments irão buscar.
Sendo assim, tanto os Family Offices como os Endowments são estruturas que
executam estratégias previamente definidas desdobrando-as com práticas
de governança patrimonial.
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Figura 1: Comparativo Governança e Gestão
Dentre os aspectos interessantes já bem desenvolvidos nos endowments que
os Family Offices podem usar como referência, destacam-se:
1) as regras e níveis de distribuições anuais: os endowments tem refinado suas
regras nas últimas décadas de modo a buscar distribuições mais estáveis ao
longo do tempo sem comprometer o capital principal. Nos casos mais
interessantes, são levadas em consideração distribuições médias de 10 anos,
patrimônio mais recente e ainda perspectivas futuras dos investimentos. O
nível de distribuição anual nos grandes endowments tem ficado, em média,
próximo a 5% dos ativos nos últimos anos.
2) os modelos de alocação e gestão: os endowments se preocupam bastante
com um bom desenho em termos de classes de ativos buscando
diversificação, liquidez e balanço de riscos consistente com os objetivos e
horizonte de investimentos de longo prazo. Além disso, é feita uma cuidadosa
e rigorosa seleção de gestores externos com quem desenvolvem
normalmente relacionamentos de longo prazo, se apoiando muito pouco no
trading e movimentações de carteira mais constantes.
3) os processos e a governança: é interessante notar a importância dos
Comitês de Investimentos, normalmente com a missão de supervisionar o
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processo de investimentos e prover suporte ao time interno de alocação e
gestão, a quem cabe a gestão e apresentação das oportunidades de
investimentos. Estes comitês contam usualmente com membros externos
independentes e um ou mais representantes da universidade.
Regras e processos de investimentos bem definidos, uma estrutura de
governança robusta e adequada e um time de gestão motivado se refletem
nos retornos de longo prazo: o Yale Endowment, nos últimos 30 anos, teve um
retorno anualizado de 13,9%, enquanto Harvard Management Company teve
um retorno anualizado de 12,2% nos últimos 40 anos, ambos muito acima da
inflação e dos benchmarks de referência.
Estes aspectos demonstram que os endowments de universidades
americanas podem ser referências muito interessantes em diferentes aspectos
e deveriam ser acompanhados pelos Family Offices mais de perto.
Sobre os Autores:
Os autores deste artigo são co-fundadores da INEO, empresa que se dedica
a tornar famílias protagonistas na gestão do seu patrimônio através do Single
Family Office. A INEO busca difundir sua expertise publicando conteúdo e
organizando eventos para capacitar membros familiares nos assuntos
relacionados. Saiba mais em www.ineo.fo
Antonio Fernando Azevedo
Marcelo Geyer Ehlers
Setembro de 2016