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Discriminação de "Rolezinho" em São Paulo vira causa de movimentos

sociaisApós repressão policial e liminar da Justiça, passeio de jovens da periferia em shoppings

de São Paulo virou bandeira de ativistas

Foto: RENATO MENDES / FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Incomodados com a multidão de jovens da periferia, a maioria negros, cantando refrões de funk

ostentação nos corredores, as direções de shoppings de São Paulo entraram na Justiça para impedir os

chamados "rolezinhos". Conseguiram liminares a seu favor, com base nas quais a polícia reprimiu

fortemente as aglomerações, com uso de bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.

No começo, os rolezinhos eram convocados por cantores de funk, em resposta a um projeto de

lei que proibia bailes do estilo musical nas ruas da capital paulista. Agora, são promovidos por ativistas

de movimentos sociais, como forma de protesto contra o preconceito e a segregação social.

Os passeios romperam a fronteira paulistana. Em Porto Alegre, há dois eventos sendo convocados por

meio Facebook: no Shopping Moinhos, no próximo domingo, e no Barra Shopping, em 1º de fevereiro.

— Estamos caminhando para uma consequência mais política do rolezinho, o direito a estar na

cidade — comenta o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira, professor da Universidade Federal de

São Paulo (Unifesp).

Para ele, a grande questão é que, se fossem jovens de classe média, não seria caso de polícia.

ua.

Nome: Data: Texto 2

DISCIPLINA: ATUALIDADES Objetivo: Compreender as manifestações ocorridas na Tailândia

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Um vídeo que vem sendo compartilhado nas redes sociais pelos apoiadores do rolezinho é

citado como exemplo. Nas imagens, gravadas em 2011, bixos da Faculdade de Economia da

Universidade de São Paulo (USP) tomam conta da praça de alimentação de um shopping, sem

qualquer intervenção da polícia ou de seguranças privados.

"Rolezeiros" querem " pertencer a esse mundo"

No último sábado, a Polícia Militar deteve três pessoas no Shopping Metrô Itaquera. Os jovens

teriam furtado objetos. Em eventos anteriores, no entanto, mesmo sem registro de roubos ou de

quebra-quebra, dezenas de "rolezeiros" foram levados para a delegacia (confira na linha do tempo).

— A sociedade não está entendendo que não se trata de uma manifestação. Esses pequenos

grupos são movimentos de ostentação. Eles estão tentando participar daquela realidade apresentada na

TV, nos clipes musicais, e querem pertencer a esse mundo, que não é real para eles, mas eles querem

participar — comenta o advogado André Zanardo, membro do coletivo Advogados Ativistas, que apoia

causas populares.

Na opinião de Zanardo, diante da repercussão das medidas repressivas, o rolezinho se tornou

uma "crítica anticapitalista". Esse é o tom da descrição dos eventos convocados para o fim de semana

dentro e fora de São Paulo. Um deles sugere levar pão com mortadela para ser consumido na praça de

alimentação do shopping e entrar nas lojas apenas para experimentar roupas. A convocatória diz ainda

para "fazer tudo de maneira pacífica, sem querer causar tumulto, só a presença já incomoda bastante".

LINHA DO TEMPO

Os rolezinhos

— Estes encontros nos shoppings de São Paulo começaram no final de 2013, reunindo centenas

de jovens da periferia. Entre os primeiros rolezinhos, estavam atos organizados por cantores de funk

em resposta à aprovação pela Câmara Municipal de São Paulo de um projeto de lei que proibia bailes

do estilo musical nas ruas da capital paulista. A proposta foi vetada pelo prefeito Fernando Haddad no

início de 2014.

— No início de dezembro, os comerciantes do Shopping Aricanduva, na Zona Leste, tiveram

de baixar as suas portas durante um tumulto seguido de diversas tentativas de roubo às lojas durante o

rolê, conforme o Sindilojas-SP.

— Em 7 de dezembro, cerca de 6 mil jovens haviam ocupado o estacionamento do Shopping

Metrô Itaquera, que atrai gente de todas as regiões da cidade devido ao fácil acesso, e também foram

reprimidos.

— Cantando refrões de funk ostentação, dezenas entraram no Shopping Internacional de

Guarulhos, no dia 14 de dezembro. Ao todo, 23 foram levados à delegacia.

— No dia 22 último, no Shopping Interlagos, de classe média, os manifestantes foram

revistados assim que chegaram ao local e um forte esquema policial foi montado.

— Um dia antes, a polícia foi chamada pela administração do Shopping Campo Limpo e não

constatou nenhum tumulto, mas permaneceu no estacionamento para inibir e também entrou no

shopping com armas de balas de borracha e bombas de gás.

— O shopping JK Iguatemi, — considerado um dos mais luxuosos da cidade — conseguiu no

final da semana passada uma liminar na Justiça proibindo as manifestações, com previsão de multa de

R$ 10 mil a quem fosse identificado causando tumulto. Outros quatro estabelecimentos também

conseguiram liminar proibindo o ingresso de manifestantes.

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— No último sábado, a Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, além

de balas de borracha contra um grupo de aproximadamente mil pessoas que se reuniram para um

rolezinho no shopping Itaquera, na zona leste da cidade.

Fonte: ZeroHora

O direito à cidade: a apropriação democrática do espaço urbano*Por João Telésforo

CLARO CALAR SOBRE UMA CIDADE SEM RUÍNAS (RUINOGRAMAS)

Paulo Leminski (Anos 1980)

Em Brasília, admirei.Não a niemeyer lei,a vida das pessoaspenetrando nos esquemascomo a tinta sangueno mata borrão,crescendo o vermelho gente,entre pedra e pedra,pela terra a dentro.

Em Brasília, admirei.O pequeno restaurante clandestino,criminoso por estarfora da quadra permitida.Sim, Brasília.Admirei o tempoque já cobre de anostuas impecáveis matemáticas.

Adeus, Cidade.O erro, claro, não a lei.

O “direito à cidade” foi pioneiramente concebido como tal por Henri Lefebvre, na obra-

manifesto “Le droit à la ville”, publicado poucos meses antes de Maio de 1968. Lefebvre repudia a

postura determinista e metafísica do urbanismo modernista: tem ciência de que os problemas da

sociedade não podem ser todos reduzidos a questões espaciais, muito menos à prancheta de um

arquiteto.

A crítica ao urbanismo positivista, porém, não se reduz à questão de que ignora os limites da

capacidade do planejamento racionalista abstrato transformar a realidade. Mais do que apontar a

falência do resultado, Lefebvre repudia o caráter alienante da própria pretensão de tornar os problemas

urbanos uma questão meramente administrativa, técnica, científica, pois ela mantém um aspecto

fundamental da alienação dos cidadãos: o fato de serem mais objetos do que sujeitos do espaço social,

fruto de relações econômicas de dominação e de políticas urbanísticas por meio das quais o Estado

ordena e controla a população

O Estado autoritário planificador pode até eventualmente resolver necessidades materiais como

moradia e transporte, mas também priva as pessoas da condição de sujeitos da construção da sua

própria cidade. No livro “Contra os tecnocratas”, de 1967, Lefebvre critica inclusive os regimes do

“socialismo real”, por se calcarem numa concepção produtivista que ignora que o direito à cidade não

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se realiza simplesmente pela construção de moradias e outros bens materiais, mas de uma

sociabilidade alternativa à da sociedade burocrática – seja a de consumo, seja a planificada –,

dominada por uma racionalização automatizadora que torna a vida cotidiana trivial, desprovida de

sentido e autenticidade, mutiladora da personalidade.

Em oposição a essa perspectiva administrativista, Lefebvre politiza a produção social do

espaço: assume a ótica dos cidadãos[1] (e não a da Administração), assentando o direito à cidade na

sua luta pelo direito de criação e plena fruição do espaço social. Avança numa concepção de cidadania

que vai além do direito de voto e expressão verbal: trata-se de uma forma de democracia direta, pelo

controle direto das pessoas sobre a forma de habitar a cidade, produzida como obra humana coletiva

em que cada indivíduo e comunidade tem espaço para manifestar sua diferença.

Sua realização só pode acontecer quando, confrontando a lógica de dominação, prevalece a

apropriação do espaço pelos cidadãos, sua transformação para satisfazer e expandir necessidades e

possibilidades da coletividade. Apropriação não tem a ver com propriedade, mas com o uso, e precisa

acontecer coletivamente como condição de possibilidade à apropriação individual. Lefebvre verifica

que é essa a forma de uso da cidade em períodos nos quais ocorre produção do povo pelo povo, como

na experiência da Comuna de Paris, quando os trabalhadores se reapropriaram do centro da cidade,

após terem sido jogados para a periferia pelo planejamento Haussmanniano.

Em vez da ciência e da técnica, Lefebvre propõe, assim, outro ator como protagonista do

processo de transformação do espaço urbano: “[a] classe trabalhadora deve ser agente dessa luta. Aqui

e ali ela nega e contesta, aqui e ali, a estratégia de classe dirigida contra ela”[2]. O novo urbanismo

idealizado por ele é o da utopia experimental, que parte dos problemas de lugares concretos, onde se

desenvolvem relações sociais, e os submete à crítica e à imaginação de novas possibilidades. O papel

da ciência é auxiliar, cabendo-lhe fazer a crítica da vida cotidiana por meio da análise do ritmo da vida

diária das pessoas, e estudar as implicações e consequências das novas formas de apropriação

inventadas pelos cidadãos.

Lefevbre pensa o espaço como “a inscrição do tempo no mundo”: os ritmos da população

urbana definem o cotidiano, formado por uma multiplicidade de momentos, com diferentes durações:

trabalho profissional, voluntário, descanso, arte, jogo, amor, luta, conhecimento, lazer, cultura… A

nova sociedade urbana nascerá da alteração dos seus ritmos, de modo a propiciar o uso completo dos

lugares, com plena fruição de direitos. Para tanto, é preciso contrariar o status quo de segregação e

uniformização do cotidiano (com hipertrofia dos momentos de trabalho alienado), por meio da

contestação e da vivência concreta de experiências alternativas, mais espontâneas e autênticas,

propiciadas, por exemplo, pela arte e por atividades lúdicas comunitárias, como festas e jogos no

espaço público. Para Lefebvre, por meio dessas formas de contracultura, de primado da imaginação

sobre a razão, da arte sobre a ciência, da criação sobre a repetição, é possível restaurar a cidade como

obra dos cidadãos.

Lutar pelo direito à cidade é romper com a sociedade da indiferença e caminhar para um modo

diferencial de produção do espaço urbano[3], marcado pelo florescimento e interação igualitária de

diversos ritmos de vida, expressão das diferentes formas de apropriação do espaço. Avesso às

“impecáveis matemáticas”, ao planejamento metafísico que pretende resolver em definitivo os

problemas sociais e declarar o fim da história, a intervenção transformadora desse espaço é ciente de

sua historicidade, procurando no tempo sua reconstrução cotidiana pelas tensões entre as experiências

do real e as utopias construídas a partir delas.

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Como no poema de Leminski, a luta – inclusive contra a lei, ou à margem dela – e a pluralidade

das vidas das pessoas vão subvertendo os esquemas de redução da complexidade social, minando,

aberta ou clandestinamente, a estratégia dominante de sufocar o aparecimento de diferenças autênticas

e sua integração igualitária.

[1] Lefebvre distingue citadins (todos os habitantes da cidade) de citoyens (aqueles a quem o

Estado reconhece a cidadania política), esclarecendo que o direito à cidade é de todos os seus

habitantes, independentemente de seu reconhecimento legal como cidadãos. Nossa compreensão de

cidadania extrapola o aspecto formal e estatal: reivindicamos a plena cidadania para todos os

habitantes da cidade, e é por isso que aqui os chamamos todos de cidadãos, independentemente de

serem ou não, em maior ou menor extensão, reconhecidos assim pelo sistema jurídico formal (ao qual

tampouco reduzimos o direito).

[2] LEFEBVRE, 1996: p. 158.

[3] BETTIN, 1982: p. 118________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Como no poema de Leminski, a luta – inclusive contra a lei, ou à margem dela – e a pluralidade

das vidas das pessoas vão subvertendo os esquemas de redução da complexidade social, minando,

aberta ou clandestinamente, a estratégia dominante de sufocar o aparecimento de diferenças autênticas

e sua integração igualitária.

[1] Lefebvre distingue citadins (todos os habitantes da cidade) de citoyens (aqueles a quem o

Estado reconhece a cidadania política), esclarecendo que o direito à cidade é de todos os seus

habitantes, independentemente de seu reconhecimento legal como cidadãos. Nossa compreensão de

cidadania extrapola o aspecto formal e estatal: reivindicamos a plena cidadania para todos os

habitantes da cidade, e é por isso que aqui os chamamos todos de cidadãos, independentemente de

serem ou não, em maior ou menor extensão, reconhecidos assim pelo sistema jurídico formal (ao qual

tampouco reduzimos o direito).

[2] LEFEBVRE, 1996: p. 158.

[3] BETTIN, 1982: p. 118________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________