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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus Rolante Projeto de Pesquisa - Mídia, Biopolítica e Sala de Aula: uma relação possível A “Geração do Milênio” e as narrativas de Zumbis: apontamentos a partir de Peter Dendle Prof. Rodrigo Belinaso Guimarães Outubro de 2015

A “Geração do Milênio” e as narrativas de Zumbis: apontamentos a partir de Peter Dendle

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Page 1: A “Geração do Milênio” e as narrativas de Zumbis: apontamentos a partir de Peter Dendle

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus Rolante

Projeto de Pesquisa - Mídia, Biopolítica e Sala de Aula: uma relação possível

A “Geração do Milênio” e as narrativas de Zumbis: apontamentos a partir de Peter Dendle

Prof. Rodrigo Belinaso Guimarães Outubro de 2015

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Como explicar o paradoxo apontado por Peter Dendle? “Uma geração altamente estimulada, saturada tecnologicamente e de ritmo acelerado se concentrou num monstro conhecido especialmente por sua vagareza, sua unidimensionalidade de pensamento e ação, sua simplicidade de caráter e sua inabilidade em usar qualquer ferramenta tecnológica, mesmo a mais simples.”

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O que é a “Geração do Milênio”? “Aquelas pessoas que nasceram por volta da época em que a MTV foi lançada; que cresceram imersas em vídeo games, acostumadas com downloads e com mensagens instantâneas ; e que alcançaram a idade adulta por volta da virada do milênio. Esta geração apresenta características que são um enigma para pais e críticos culturais. A “geração do milênio” é bem conhecida pelo pouco tempo de atenção dispensada a qualquer objeto, por sua sinistra capacidade de realizar múltiplas tarefas, por sua diversidade de noções sobre conhecimentos das mais improváveis áreas, e – por causa da peculiar característica da violência na era moderna – uma acurada consciência, se não um completo entendimento político, da violência contemporânea num contexto de forças esmagadoras tais como a cultura da guerra e das ameaças biológicas globais.”

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Pensando sobre o paradoxo de Peter Dendle... Além disso, poderia se acrescentar que a “geração do milênio” está intimamente vinculada à construção individualista de suas identidades, como também, a busca individualista por riqueza e bem estar numa sociedade de ampla concorrência. Por sua vez, contrastando com a construção individualista dessa geração, os zumbis em suas narrativas estão inexoravelmente formando e permanecendo em multidões. Assim, não faz o mínimo sentido em falar de zumbi no singular, pois sua maior força está no número.

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Doses a mais de paradoxos... Uma geração que complexificou suas construções identitárias, além de trocá-las e de modificá-las velozmente, escolheu um monstro cujas necessidades são estritamente biológicas: numa instintiva busca por carne fresca, sem se preocupar com reprodução ou sexo. O corpo do zumbi é sobrenaturalmente limitado, por sua vez, o corpo, cada vez mais em nossa época, é cientificamente expandido em suas fronteiras e características. “Para os zumbis, escolhas são fáceis e o mundo é descomplicado.”

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Mais sobre um corpo de antíteses... “Como um retrato artístico do corpo humano, o zumbi pode ser visto como refletindo as mudanças das noções de identidade na era da internet. É um corpo animado na ausência (principalmente) de pensamentos, paixão, inteligência, filosofia, história e cultura. Esta é uma antítese do corpo virtual que alguns comentadores começaram a discutir na era da internet, um “corpo” cujas tradicionais fronteiras são dissolvidas.” O corpo do zumbi está intrinsecamente localizado, restrito aos estímulos do lugar em que se encontra. O corpo na “era da internet” recebe estímulos globais, ou mesmo, que superam os limites do planeta terra.

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Zumbis como metáforas do envelhecimento contemporâneo!

“A inabilidade para as multitarefas podem contribuir para o horror que uma pessoa idosa – e um zumbi – pode causar para um adulto jovem de hoje, cujo panorama social e conceitual é definido pela habilidade e pelo sucesso em navegar simultaneamente numa série de estímulos e interações.” “Mesmo que subjacente na demência, na pele endurecida, nos olhos fundos e na limitada mobilidade, o zumbi é também um espectro da velhice. No início do terceiro milênio, a expectativa de vida está crescendo dramaticamente, enquanto que a qualidade de vida dos anos de senilidade não está necessariamente mantendo o mesmo passo.”

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É melhor matar um doente amado ou permitir que ele se torne alguma coisa monstruosa?

Nesse sentido, as narrativas de zumbis encenam de uma forma constante a despedida por seus familiares e de seus amigos mais íntimos de um corpo que sofre, mas que insiste em permanecer vivo. Assim, nessas narrativas, alguém se habilita para estancar aquele sofrimento de uma forma que mantém fortes conexões com a eutanásia. Na série televisiva The Walking Dead é comum os personagens realizarem uma morte misericordiosa dos conhecidos que são infectados, mesmo de zumbis desconhecidos que são encontrados pelo caminho. Assim, como um paciente terminal, os infectados tem algum tempo para se despedirem, para darem conselhos e recomendações. Porém, invariavelmente, chega o momento em que a vida deve ser suspensa. A eutanásia está na fronteira entre a vida e a morte, quando se percebe que um corpo demonstra estar mais morto do que vivo, onde a morte tem uma dimensão maior, pela perda de consciência, da cultura e dos traços pessoais que descaracterizam a manutenção da sobrevivência do corpo.

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A vida de uma pessoa muito idosa tem que ser mantida através de uma contínua medicalização e intervenção

médica? “O pensamento de se tornar crescentemente dependente de outros para qualquer atividade diária simples, combinado com a possibilidade de dor permanente e desconforto (a dor de estar vivo) se estendeu indefinidamente com o atual período de avanços na medicina.” “Esta é uma imagem do corpo sugerida pelo cambaleante zumbi. A velhice nunca tinha carregado tal potencial de ansiedade para as gerações de jovens. A velhice se tornou um crescente, visível e presente setor da sociedade, com um crescimento de sua proporção relativa com o conjunto da população (como os contagiosos zumbis, eles poderiam se vistos como tomando o controle).”

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Por fim, novamente o paradoxo... Num mundo em que crescentes demandas por tempo e atenção estão sendo postas para as pessoas jovens, e no qual a quantidade de informação e de estímulos disponíveis parecem aumentar exponencialmente, haveria uma simples atração para os mínimos mecanismos internos dos zumbis. O mundo mental do zumbi não se estende para além do que ele pode ver ou ouvir em suas proximidades imediatas.” Em uma geração acostumada com respostas imediatas e instantânea gratificação, a lenta paciência do zumbi deve representar algo de enigmático.”

To be continued...