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A Lírica Latina Tibulo Propércio Ovídio Ana Paula Magalhães Flávia Karina Kruck Rodolfo Junio do Nascimento

A lírica latina

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A Lírica LatinaTibulo

Propércio

OvídioAna Paula Magalhães

Flávia Karina Kruck

Rodolfo Junio do Nascimento

Momento Histórico

81 a. C. 68 d. C.043 a. C. 14 d. C.

FASE CLÁSSICA

Época de Augusto

A Época de Augusto

• “Período Áureo” da poesia latina;

• Língua poética estruturada, léxico enriquecido;

• Assentamento dos modelos gregos e

alexandrinos;

• Incentivo do imperador;

• Poesia a serviço da política.

A Poesia Elegíaca• Acredita-se que provenha do Oriente;

• Desenvolveu-se na Grécia, e era usada em elogios

fúnebres;

• Séc. VII e VI, voltou-se para a expressão patriótica,

depois moralista e, por fim, sentimental;

• Séc. V, torna-se a forma lit. predileta dos

alexandrinos, utilizada para escrever lendas

mitológicas com cunho erótico;

• É introduzida em Roma no séc. I a. C. e coloca-se a

serviço do subjetivismo e do patriotismo;

A Poesia ElegíacaESTRUTURA

• Compõe-se de estrofes de dois versos denominados

dísticos elegíacos:

1° verso: Hexâmetro datílico

- vv|- vv|- vv|- vv|- vv|- v* Corresponderia entre 13 e 17 sílabas poéticas

2° verso: Pentâmetro datílico

- vv|- vv|-|- vv|- vv|-* Corresponderia entre 12 a 14 sílabas poéticas

* Os pares de sílabas breves sublinhadas podem ser convertidas em uma sílaba

longa.

Albius Tibullus

60? – 19? a. C.

“Heu heu divitibus video gaudere puellas

iam veniant praedae, si Venus optat opes”

Ai de mim! Vejo que as moças se deleitam com riquezas!

Aproximam-se qual presas, pois Vênus exige fausto*.

(Tib. II, 3, 49-50)

* Ostentação, grandeza, pompa.

Tibulo• Não tinha grandes interesses políticos ou

militares, apesar de ter atuado em algumas campanhas;

• Cultivou o amor livre, a vida simples, a paz e o ócio (criativo);

• Frequentou o Círculo de Messala, espécie de clube patrocinado por Valério Messala, do qual fizeram parte vários outros autores;

• O conjunto de obras dos autores do Círculo foram reunidos no Corpus Tibullianum.

O Corpus Tibullianum• Livro II - Escrito por Tibulo

o 1 - Poema dedicado a deuses

rústicos e à vida campestre;

o 2 - Poema em homenagem ao

aniversário de Cornuto, amigo de

Tibulo;

o 3 - Elegia dedicada a Nêmesis;

o 4 - Elegia dedicada a Nêmesis;

o 5 - Poema em homenagem a

Messalino, filho de Messala, eleito

para um cargo religioso;

o 6 - Elegia dedicada a Nêmesis.

• Livro I - Escrito por Tibulo

o 1 - Elegia dedicada a Délia;

o 2 - Elegia dedicada a Délia;

o 3 - Elegia dedicada a Délia;

o 4 - Elegia dedicada a Márato;

o 5 - Elegia dedicada a Délia;

o 6 - Elegia dedicada a Délia;

o 7 - Peça em homenagem ao

aniversário e a vitória de Messala;

o 8 - Elegia dedicada a Márato;

o 9 - Elegia dedicada a Márato;

o 10 - Elegia com apologia à paz.

O Corpus Tibullianum• Livro III - Escrito por vários autores

o 1 a 6 - Elegias de autoria desconhecida onde o eu-lírico Lígdamo canta o

amor pela jovem e bela Neera e o sofrimento do amor não correspondido;

o 7 - Panegírico* anônimo a Messala;

o 8 a 12 - Elegias compostas possivelmente por Tibulo, pois seu estilo está

presente, porém em menores proporções;

o 13 a 18 - Epigramas atribuídos a Sulpícia, sobrinha de Messala. São pequenos

bilhetes de amor em versos, onde uma jovem fala de sua paixão por Cerinto;

o 19 e 20 - Poemas de autoria de Tibulo.

* Poema em louvor de alguém.

Características da poesia de Tibulo

• Tibulo canta o amor puro e desinteressado;

• Pureza= amor sincero, desejo bem intencionado;

• Não importa o objeto do amor: uma mulher

casada (Délia), um homem (Márato) ou uma

prostituta (Nêmesis);

• Essas variantes não “poluem” o amor;

• O que conspurca o amor é o perjúrio e a

venalidade*.

*Aquilo que se deixa vender, corromper por dinheiro

Características da poesia de Tibulo

• Délia, Márato e Nêmesis deixam o amante por

terem encontrado algo mais “lucrativo”;

• Essa atitude é inaceitável e indesculpável.

“Nam donis vincitur omnis amor”

“O amor é derrotado pelos presentes”

(Tib. I, 5, 60)

“Blanditiasne meas aliis tu vendere es ausus”

“Ousaste vender a outros carícias que eram minhas?”

(Tib. I, 9, 77)

Características da poesia de Tibulo

• Outra tônica da poesia de Tibulo é a exaltação à

vida simples, à paz bucólica, a admiração pela

natureza e o desprezo pelos bens materiais.

“Divitias alius fulvo sibi congerat auro,

et teneat culti iugera multa soli [...]

“Que outros acumulem riquezas de fulvo ouro

E tenham muitas jeiras de terra cultivada [...]

(Tib. I, 1, 1-2)

[...] me mea paupertas vita traducat inerti,

dum meus adsiduo luceat igne focus.”

Quanto a mim, que minha pobreza me conduza numa vida

sossegada,

Desde que a lareira se ilumine constantemente com fogo.”

(Tib. I, 1, 5-6)

“Quam iuvat inmites ventos audire cubantem

et dominam tenero continuisse sinu”

“Como é gostoso ouvir o vento forte, quando se está deitado,

abraçando-se a mulher juto ao peito, com ternura.”

(Tib. I, 1, 45-46)

Sextus Propertius

45? – 15? a. C.

“Quaeritis, unde mihi totiens scribantur amores,

Unde meus ueniat mollis in ora liber.

Non haec Calliope, non haec mihi cantat Apollo:

Ingenium nobis ipsa puella facit.”

“Perguntas-me por que escrevo tão frequentemente sobre

meu amor

E por que meus livros têm aspecto tão suave;

Não é Calíope quem inspira meus versos, não é Apolo:

É minha amada quem domina meu talento.”

(Prop. II, 1, 1-4)

Propércio• Poeta elegíaco que viveu no século de Augusto,

nasceu na Úmbria, na cidade de Assis, por volta

de 47 ou 46 a. C., e morreu em torno de 14 a. C.;

• Propércio foi considerado um poeta de pouco

valor, porém, crítica moderna está mudando esse

posicionamento atribuindo-lhe sua devida

importância;

Propércio - Obras• Em 27 a.C. é publicado seu primeiro livro de

elegias dedicado inteiramente à sua amada

Cíntia, e que parece ter feito sucesso imediato;

• Ele caracterizou detalhadamente o físico,

compôs uma textura psicológica e deu

personalidade a personagem Cíntia;

• Propércio construiu um retrato feminino

complexo, o mais detalhado de toda poesia

Latina;

Propércio - Obras• Das noventa e duas elegias que compôs, setenta

e três se ocupam do amor, e na maioria a figura

de Cíntia domina o texto.

“Errat, qui finem uesani quaerit amoris:

Verus amor nullum nouit habere modum.

Terra prius falso partu deludet arantes,

Et citius nigros Sol agitabit equos,

Fluminaque ad caput incipient reuocare liquores,

Aridus et sicco gurgite piscis erit,

Quam possim nostros alio transferre calores:

Huius ero uiuus, mortus huius ero.”

“É errado supor que o amor tenha fim:

o verdadeiro amor, esse, nunca termina.

Desentranhe-se a terra em frutos inesperados,

agitem-se no Sol os mais negros cavalos,

à nascente retorne o volume dos rios,

fiquem secos no mar os húmidos abismos:

nem mesmo assim darei a outra o meu amor,

pois vivo lhe pertenço, e lhe pertenço morto.”

(Prop. II, 15, 29-36)

Propércio - Obras• Das trinta e quatro elegias que compõem o livro

II de Propércio (publicada após a morte do

poeta) apenas uma não se atém ao tema amor;

• Essa elegia fala do templo de Apolo, o

descrevendo:

“Quaeris, cur ueniam tibi tardior aurea Phoebi

Porticus a magno Caesare aperta fuit,

Quanta erat in speciem, Poenis digesta columnis,

Inter quas Danai femina turba senis.”

“Queres saber por que cheguei tão tarde? O pórtico dourado

de Apolo foi inaugurado pelo grande César.

Em suas colunas fenícias várias imagens se exibiam aos olhos

e, entre elas, as das numerosas filhas do velho Dânao.”

(Prop. II, 31)

Propércio - Obras• No livro III, o tema de suas elegias começam a

variar: surgem os epicédios, ou poemas fúnebres,

e as primeiras elegias de tema nacionalista;

• No livro IV há seis elegias de tema nacionalista,

já que Propércio adere a causa de Augusto.

Propércio - Estilo• O estilo de Propércio é muito diferente do de

Tibulo;

• Tibulo primava pela simplicidade e Propércio

escreve de maneira mais complexa e elaborada;

• Mas, o que os dois poetas tem em comum é a

pregação do amor desinteressado e puro, o

combate à ambição e ao luxo e a defesa da

fidelidade e da paz.

Publius Ouidius Naso

43 a. C. – 17 d. C.

“Est uia sublimis caelo manifesta sereno:

Lactea nomen habet, candore notabilis ipso.”

“Existe em céu sereno uma sublime via:

Láctea chamada, de brancura bem notável.”

(Ovid. Met. I, 168-169)

Ovídio• O mais versátil dos líricos da Época de Augusto;

• Ele era “talentoso e culto, brilhante e original,

refinado, elegante, irreverente e irônico”;

• Surgiu no cenário romano entre 20 e 15 a.C.

com duas obras: Heroides (Heroidum Epistolae) e

Amores (Amores);

• Amores são um conjunto de elegias eróticas que

destacam a personagem Corina. As elegias foram

publicadas sequencialmente, como um romance.

Heroides• Escritas em dístico elegíaco, apresentam uma

seleção de cartas escritas por heroínas da

mitologia grega e da mitologia romana, que

escrevem a seus amantes: Penélope a Ulisses,

Briseide a Aquiles, Dido a Eneias, etc.

• Essas figuras femininas assemelhavam-se às

damas da época. Elas eram vaidosas, frívolas e

mundanas, daí, talvez, o sucesso da obra.

Ovídio - Obras• Ao fim do Séc. I a.C., Ovídio publica três obras:

A arte de amar (Ars Amatoria), Os remédios do amor

(Remedia Amores) e Produtos de Beleza para o rosto da

mulher (De medicamine faciei feminae);

• A respeito de Produtos de Beleza para o rosto da

mulher, chegou até nosso tempo apenas um

fragmento. A forma como o assunto é tratado

torna a obra mais didática que poética.

Ars Amatoria• Conjunto de três livros em dísticos elegíacos

onde Ovídio constrói uma “teoria da sedução”;

• 1° livro: Ovídio mostra as principais ocasiões

onde um homem pode aproximar-se do objeto

de seu amor - em edifícios públicos, no fórum,

no teatro, no circo, em banquetes, etc.;

• 2° livro: O autor refere-se aos meios de prender

a pessoa amada: amabilidades, complacências,

presentes, perseverança, manifestações de

ciúme,etc.;

Ars Amatoria• 3° livro: O poeta discorre sobre as artimanhas

das mulheres para se tornarem amadas: roupas,

penteados, artifícios, etc.;

• A arte de amar é um importante documento

sobre os aspectos sociais e a vida cotidiana na

Época de Augusto;

• Logo depois, Ovídio publica Os remédios do amor.

Com um leve tom irônico, retrata a frivolidade e

inconsequência de partes da sociedade romana.

Metamorfoses(Metamorphoseon Libri)

• Longo poema em quinze livros, escrito em

versos hexâmetros encadeando cerca de 250

lendas etiológicas que mostram as origens de

diversos seres (mares, astros, plantas, animais)

através de metamorfoses;

• O talento descritivo de Ovídio é bastante

evidente nesta obra, como a descrição do palácio

do Sol:

“Regia Solis erat sublimibus alta columnis,

Clara micante auro flammasque imitante pyropo;

Cujus ebur nitidum fastigia summa tenebat,

Argenti bifores radiabant lumine valvae.

Materiem superabat opus: nam Mulciber illic

Aequora caelarat medias cingenta terras,

Terrarumque orbem, coelumque, quod imminet orbi.”

O palácio do sol se elevava sobre altas colunas,

Faiscante pelo brilho do ouro e do cobre que imitava o fogo;

O marfim resplandecente cobria o cimo de seu teto

E os dois batentes da porta cintilavam com a luz da prata.

A arte superava os próprio materiais. Muciber ali esculpira

A imagem dos mares que cercam as terras interiores,

O globo terrestre e o céu que se sobrepõe ao mundo.

(Ovid. Met. II, 1-7)

Metamorfoses• A dor e a paixão são, muitas vezes, agentes das

metamorfoses;

• A beleza e a delicadeza dos quadros mitológicos

de Ovídio atravessaram os séculos;

• No extenso poema salientam-se as lendas da

criação do mundo, das “quatro idades”, da

guerra dos gigantes, Prosérpina, Aracne, Ícaro,

Orfeu, etc., e da ninfa Eco:

“Spreta latet sivis, pudibundaque frondibus ora

Protegit, et solis ex illo vivit in antris.

Sed tamen haeret amor, crescitque dolore repulsae.

Attenuant vigiles corpus miserabile curae,

Adducitque cutem macies, et in aera sussus

Corporis omnis abit; vox tantum atque ossa supersunt:

Vox manet; ossa ferunt lapidis traxisse figuram.

Inde latet silvis, nulloque in monte videtur;

Omnibus auditur: sonus est, qui vivit in illa.”

“Desprezada, ela se esconde nas florestas e protege entre as folhas

O rosto envergonhado; vive, então, desde esse dia , nas grutas solitárias.

O amor, porém, subsiste, e cresce com a dor da repulsa,

O sofrimento e a vigília extenuam seu pobre corpo,

A magreza seca-lhe a pele e a doce umidade da carne

Evapora-se no ar. Sobram-lhe a voz e os ossos.

A voz permanece. Os ossos assumem a forma das pedras.

Ela se oculta, então. Ninguém a vê pelos montes

Mas todos podem ouvi-la: a voz é o que vive dela.

(Ovid. Met. III, 393-401)

Cantos tristes(Tristia)

• Em 8 d.C., Augusto exila Ovídio em Tomos, no

Ponto Euxino;

• Durante este tempo, publica os Cantos tristes e as

Cartas pônticas (Epistolae ex Ponto);

• Cantos tristes relatam sua viagem, o lugar onde se

encontra e a chegada da velhice;

• A tristeza e a dor são bastante perceptíveis;

• Essas elegias são os últimos poemas líricos de

Ovídio.

A Lírica pós-ovidiana• Na época dos príncipes júlio-claudianos (Tibério,

Calígula, Cláudio e Nero - 14 a 68 d.C. ) a filosofia,

a história e a tragédia ainda florescem, mas a

literatura como um todo, começa a declinar;• Calpúrnio Sículo: publica poemas rústicos inspirados nas Bucólicas;

• Estácio: publica Silvas (Silvae), poemas circunstanciais (epitalâmios¹,

elegias, epicédios²);

• Marcial: escreve Epigramas (Epigrammaton libri), poemas curtos sobre

assuntos diversos que retratavam a vida romana;

• Entre os sec. II e III, é publicado A vigília de Vênus (Peruigilium

Veneris), atribuído a Floro, poeta africano;

¹ Poema que celebra bodas. |² Poesia fúnebre.

A Lírica pós-ovidiana• Séc. IV e V:

o Líricos pagãos:

o Ausônio: autor de epitalâmios, epigramas, epístolas e idílios;

o Claudiano: autor de epitalâmios, epigramas, epístolas e idílios;

o Líricos cristãos:

o Prudêncio: autor de hinos inspirados nas odes de Horácio;

o São Paulino de Nola: autor de elogios e salmos;

o Sidônio Apolinário: panegíricos em verso.

• Porém, nenhuma dessas obras se comparam às

produzidas durante o período áurea da poesia lírica

latina.

Referências• CARDOSO, Zelia de almeida, A literatura latina. 3ª ed. rev., SP:

Ed. WMF Martins Fontes, 2011.

• http://publicacoes.ufes.br/contexto/article/view/6706/4916

• https://archive.org/stream/laselegasdetibu00sulpgoog#page/n1

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• https://archive.org/stream/sexpropertiieleg00prop#page/n3/m

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• https://archive.org/stream/decerptaexpovidi00ovid#page/60/

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• David Mourão-Ferreira in Vozes da Poesia Europeia – I,

Colóquio Letras nº163, Janeiro-Abril de 2003.