Click here to load reader
Upload
karin-cristine
View
110
Download
3
Embed Size (px)
Citation preview
João da Cruz e Sousa -Broquéis
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d'aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
VOCABULÁRIO
[1] Gavroche - garoto.[2] Clown – palhaço, bobo.[3] Estuoso – ardente, febril.
O morcegoAugusto dos
Anjos
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela igneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolhoE olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. ChegoA tocá-lo. Minh'alma se concentra.Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!Por mais que a gente faça, à noite, ele entraImperceptivelmente em nosso quarto!
A Consciência Humana é este morcego!Por mais que a gente faça, à noite, ele entraImperceptivelmente em nosso quarto!