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1 A PRESENTAÇÃO GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE SUBSECRETARIA DE SAÚDE COORDENAÇÃO DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE DIVISÃO DE FATORES DE RISCOS BIOLOGICOS MANUAL PARA MANEJO DE MORCEGOS E CONTROLE DA RAIVA

Manual de Morcego Atualizado

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Page 1: Manual de Morcego Atualizado

1

A P R E S E N T A Ç Ã O

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE

SUBSECRETARIA DE SAÚDE COORDENAÇÃO DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE

DIVISÃO DE FATORES DE RISCOS BIOLOGICOS

MANUAL PARA MANEJO DE MORCEGOS E CONTROLE DA RAIVA

Page 2: Manual de Morcego Atualizado

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APRESENTAÇÃO

Este pequeno manual tem como objetivo mostrar a importância ecológica

do morcego e seu impacto na vida do Homem, bem como orientar seu manejo, de

maneira a não quebrar o equilíbrio ambiental decorrente de sua existência,

mesmo sem haver o convívio direto.

É fruto de um árduo trabalho de campo e de consultas da equipe citada

que é coordenada por Paulo Roberto Almeida Barbosa SES/RJ, Drª. Phyllis

Catherina Romijn Médica Veterinária pesquisadora da PESAGRO e Walace

Guimarães Osório SES/RJ.

Page 3: Manual de Morcego Atualizado

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M O R C E G O S

São animais de hábitos noturnos . Iniciam suas atividades ao entardecer

(crepúsculo) prolongando-se por toda noite. O morcego é o único mamífero com

capacidade de vôo, graças à membrana que envolve quatro dos seus cinco dedos,

transformando assim, seus braços em asas.

Há aproximadamente 1.070 espécies diferentes de morcegos, e

representam ¼ de toda a fauna de mamíferos.

O morcego pertence à ordem Chiroptera , que é dividida em duas

subordens e 18 famílias, da seguinte forma:

• MEGACHIROPTERA – 1 família

• MICROCHIROPTERA – 17 famílias

No Brasil existem cerca de 150 espécies de morcegos, e nas Américas,

300 espécies, todas da ordem Microchiroptera .

Durante o dia, seus abrigos são locais tranqüilos e escuros, como:

cavernas, fendas de rochas, bueiros, casas abandonadas, forros de casas, copas e

ocos de árvores.

E q u i p e d e Zo o n o s e s / S E S - R J

Só não existem morcegos em algumas ilhas oceânicas muito afastadas do

continente, e em regiões polares.

Page 4: Manual de Morcego Atualizado

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Os morcegos não são cegos como muitos pensam, possuem excelente

visão. Para auxiliá-lo na sua localização, utiliza além da visão um sistema

chamado ecolocalização, que consiste em emitir ultra-sons, ecoando no que

estiver a sua frente. Este eco é captado pelos seus ouvidos que são muitos

sensíveis. Desta forma, calculam a que distâncias estão os obstáculos e seus

alimentos. Podem voar em locais completamente escuros. Só os morcegos da

subordem microchiroptera têm o sistema de ecolocalização.

F o n t e : E mb r a p a

O aumento populacional dos morcegos, nas áreas domésticas, deve-se

principalmente ao fato do Homem estar de uma forma direta ou indireta,

fornecendo abrigo e alimento.

Alimentação Os morcegos são os mamíferos mais versáteis quanto ao tipo de

alimentação. Cerca de 70% das espécies alimentam-se de insetos, são os

morcegos insetívoros. São úteis ao Homem por eliminar insetos que lhe são

nocivos e representam uma praga para a agricultura, assim esses morcegos

permitem a util ização de menos inseticida.

F on t e : In s t i t u to P a s t eu r F on t e : In s t i t u to P a s t eu r

Page 5: Manual de Morcego Atualizado

5

Poucas espécies são carnívoras, alimentam-se de anfíbios, lagartos, ratos e

camundongos, podendo ainda complementar sua dieta com insetos e frutas.

Nesta categoria podemos incluir os morcegos pescadores.

F o n t e : w w w . i cb . u f mg . b r

F o n t e : w w w .u n iv e r s e - r ev i ew . c a

F o n t e : w w w .f s t . c o m. b r

A espécie nectarívora ou polinívora alimenta-se do néctar das flores que

se abrem à noite, ajudando assim na polinização e produção de alimentos.

F on t e : www.bdt.fat.org.br

F on t e : www.flickr.com

Page 6: Manual de Morcego Atualizado

6

A espécie frugívora alimenta-se de frutas, espalhando assim as sementes

por onde passa. O frugívoro contribui de forma direta no reflorestamento de

áreas atingidas por queimadas e destruídas pelo Homem. Podem espalhar

milhares de sementes em uma só noite.

F o n t e : w w w .b a t c o n .o r g

F o n t e : w w w .b a t c o n .o r g

F o n t e : w w w . Ge o c i t e s . co m

Basicamente os morcegos mais comuns nas cidades são:

• Insetívoros, os Nectárivoros e os Frugívoros.

Obs .: Apesar de terem hábitos alimentares diferentes, com exceção dos

hematófagos, todos podem complementar sua dieta com insetos.

Page 7: Manual de Morcego Atualizado

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MO R C E G O HE M A T Ó F A G O

F o n t e : Eq u i p e d e Z o o n o s e s / S E S - R J

O morcego hematófago só se alimenta de sangue. Isso nos coloca em risco? Sim.

Portanto eu posso capturá-lo? Não. Só os técnicos das Secretarias de

Saúde ou da Agricultura treinados, submetidos devidamente ao tratamento anti-

rábico e autorizados podem fazê-lo, isso nos termos da lei, Nº 5197 de 03 de

janeiro de 1967, que protege os animais silvestres.

Mais à frente você aprenderá o que é feito quando um técnico das

Secretarias de Saúde ou Agricultura captura e identifica um morcego

hematófago.

Na cidade, em residências próximas as matas (áreas silvestres) e meio

rural os morcegos que podem nos causar problemas são os morcegos

hematófagos, popularmente chamados de vampiros. É representado por três

espécies, que são: Desmodus rotundus , Diphylla ecaudata e Diaemus youngi .

www.fst.com..br www.morcegolivre.vet.br www.morcegolivre.vet.br

Page 8: Manual de Morcego Atualizado

8

Das três espécies de morcegos hematófagos, só o Desmodus rotundus

alimenta-se de sangue de mamíferos. O Diphylla ecaudata e o Diaemus youngi

alimentam-se de sangue de aves, e raramente completam sua dieta com

mamíferos.

Os dois últimos não devem sofrer controle dos órgãos oficiais, pois por se

alimentarem quase que exclusivamente de sangue de aves que repousam em

árvores, não tem importância epidemiológica. Para evitar que causem

problemas, basta prender as aves em galinheiro fechado, caso contrário às aves

podem morrer de anemia.

Os morcegos hematófagos são maus reguladores térmicos, não suportando

baixas temperaturas por muito tempo.

Deve-se atentar que, como qualquer mamífero, todo morcego doente ou

infectado pelos vírus da Raiva, seja hematófago ou não, pode transmitir a

doença. No Brasil , tem-se conhecimento de que, em várias espécies foi

confirmada a presença do vírus rábico.

A incidência de mordidas ao Homem, deve-se ao fato do mesmo estar

invadindo o ambiente silvestre ou de transição. De um modo geral os morcegos

hematófagos só mordem o Homem quando não encontram animais silvestres ou

domésticos para se alimentar, já que somos fonte secundária. Os morcegos não

hematófagos só mordem em defesa própria ou se estiverem doentes.

F o n t e :

w w w . L i b r a r y .T h in k q u e s t .o rg

F o n t e :

w w w . L i b r a r y .T h in k q u e s t .o rg

F o n t e :

w w w . L i b r a r y .T h in k q u e s t .o rg

Instituto Pasteur

Page 9: Manual de Morcego Atualizado

9

O morcego hematófago faz uma pequena incisão na pele do animal e

lambe o sangue que vai escorrer (conforme foto acima). Como ele possui uma

substância anticoagulante na saliva, o sangue flui do ferimento por mais tempo.

A característica de um animal mordido pelo morcego hematófago é a marca de

sangue escorrido que fica evidente no animal. Se o morcego estiver infectado

por vírus da Raiva, vai transmitir pela saliva, por onde os vírus são eliminados.

O morcego faz a incisão no animal, localizando um vaso capilar através do calor

que é detectado por sensores localizados no nariz (termorecepção). Não morde

em qualquer lugar, vai ao local certo. A mordida nas aves não tem importância

epidemiológica na transmissão da Raiva, porque as aves não são suscetíveis à

virose, porém a perda constante de sangue pode levá-las á morte por anemia. H á b i t o s

O morcego hematófago tem o hábito de voltar ao mesmo animal para se

alimentar, aproveitando a ferida já aberta. Por isso, deve-se passar a pasta

vampiricida no ferimento feito por ele no animal. O uso da pasta não faz mal

aos herbívoros (cavalo, boi, carneiro.. .) considerando a sua massa corporal.

Obs.: Não se deve nunca colocar pasta vampiricida em animais de estimação ou

aqueles que têm o hábito de se lamberem constantemente.

Fonte: Instituto Pasteur

Page 10: Manual de Morcego Atualizado

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Ao sair do abrigo em busca de sangue, o morcego hematófago seleciona

sempre o animal mais dócil e calmo que está mais acessível, geralmente os

animais das extremidades. Faz seu vôo rasteiro util izando o espaço entre a

vegetação, que chamamos de rua, pousando próximo do animal. A característica

do vôo deve ser levada em consideração ao realizarmos a captura da espécie.

Ao capturar, identificamos a espécie e separamos os não hematófagos dos

hematófagos em gaiolas ou sacos diferentes. Os não hematófagos são soltos ao

final da ação e nos hematófagos, fêmeas, passamos no dorso, uma pasta

vampiricida (composta de warfarina a 2% em vaselina sólida) com propriedades

anticoagulante, que vai ser repassada a outros morcegos da colônia por contato

corporal, causando paralisia devido à hemorragia, que o leva a morte.

Fonte: Equipe de Zoonoses / SES-RJ

O morcego tem o hábito de lamber-se, ingerindo assim a pasta que o leva

a morte por hemorragia (figuras abaixo), já que a pasta aplicada no morcego

contém produto anticoagulante.

F on t e : In s t i t u to P a s t eu r

Fonte: Equipe de Zoonoses / SES - RJ

Page 11: Manual de Morcego Atualizado

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F o n t e : D r . C l ay t o n B . G i t t i

:

O morcego transmite várias doenças, sendo a principal delas a Raiva. São

transmissores de vírus, bactérias, parasitas unicelulares e fungos.

A b r i g o s

Os abrigos diurnos representam os locais onde os morcegos repousam

durante o dia. Por passar cerca de metade de seu tempo diário nesses locais, os

abrigos devem oferecer condições físicas mínimas que permitam a sobrevivência

dos morcegos. Geralmente, fatores como estabilidade da temperatura ambiente,

a umidade relativa do ar e a luminosidade determinam à sua ocupação, ou não.

F on t e : In s t i t u to P a s t eu r

Instituto Pasteur

Page 12: Manual de Morcego Atualizado

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F on t e : In s t i t u to P a s t eu r

Devem oferecer condições que permitam o acasalamento, o parto e a

criação de filhotes, as interações sociais e a digestão do alimento consumido

durante a noite, e, ainda, proteção contra intempéries ambientais (chuva, vento e

insolação) e de possíveis predadores.

A evolução do sistema de ecolocalização é apontada como o fator

determinante na diversificação dos tipos de abrigos utilizados pelos morcegos.

Por causa disso, os morcegos da subordem microchiroptera obtiveram sucesso

em ocupar o interior de cavernas e fendas de rocha, onde a ausência de luz é

total. De modo geral, podemos classificar os abrigos de internos (cavernas,

fendas de rocha, ocos de árvore e edificações) e externos (folhagem, ocos de

tronco de árvores).

Os morcegos podem fazer uso de abrigo também durante os períodos

noturnos, sendo estes denominados de abrigos noturnos, abrigos noturnos

temporários, pouso noturno ou digestório. Os abrigos noturnos são locais para

onde os morcegos levam o alimento (frutos, artrópodes e pequenos vertebrados)

para serem consumidos. No chão desses abrigos, podem-se encontrar restos

alimentares e fezes.

O morcego hematófago pode viver até 20 anos, e sua gestação é de sete

meses. Tem um filhote por gestação. A fêmea alimenta seu filhote através das

mamas que ficam entre a asa e o peito, carregando-o onde for grudado em seu

corpo até não poder mais transportá-lo, quando então traz o alimento até ele.

Não se deve entrar em cavernas à procura de colônias de morcegos sem

equipamento adequado, pois ali estão presentes grandes quantidades de fungos e

bactérias nocivas ao Homem.

Page 13: Manual de Morcego Atualizado

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Em casas que tenham forros ou não, as entradas de ar não podem ficar sem

tela. No caso de haver morcego, deve-se expulsar a colônia, sem mortes

(conforme orientação técnica) para não haver desequilíbrio ecológico. O

morcego, quando acometido de Raiva na fase paralítica, não obrigatoriamente

perde a capacidade de morder, já que a paralisia nem sempre atinge a sua

mandíbula.

M é t o d o s d e C a p t u r a

Para que possamos aumentar a eficiência de uma captura é necessário que

a equipe chegue com antecedência ao local, para melhor planejar a estratégia de

ação, como, por exemplo, prever os equipamentos a serem utilizados, sua

quantidade e o método mais adequado para a situação.

Existem três métodos de captura:

Captura manual: Esse método é utilizado, principalmente, em locais

onde os morcegos ficam alojados em pequenas frestas (cumeeiras, beirais, rufos,

pedras, etc). Em algumas situações, utilizam-se instrumentos flexíveis (tipo

arame), que possibilitem desalojar os morcegos de seu abrigo. A captura se faz

com o auxilio de pinça e com a mão protegida por luva de couro.

Captura com puçá ou coador: Esse método é empregado para capturar

morcegos em seus abrigos diurnos, (cavernas, minas, bueiros, sótãos, em

folhagens, etc), ou quando abandonam o abrigo para atividade alimentar (ocos

de arvore, juntas de dilatação, frestas de edificações, etc).

Page 14: Manual de Morcego Atualizado

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Captura com redes-de-espera (tipo mist-met): Esse método é utilizado

para capturar morcegos em frente a Abrigos (cavernas, edificações, bueiros,

etc), junto de fontes de alimentação (currais, casas, chiqueiros, galinheiros,

árvores, cursos de água, etc.) e rotas de vôo (clareiras, trilhas, estradas, cursos

de água, etc.).

O morcego hematófago realiza vôo rasteiro, a fim de alimentar-se do

sangue do animal que se encontra no solo. Deste modo, após ter escolhido o

local, a rede para captura deve ser armada o mais próximo do chão; para a

captura dos não hematófagos, a rede deve ficar mais no alto, próximo à sua

fonte de alimentação. As redes devem ser afixadas em estacas, onde os cordões

guias devem ficar esticados horizontalmente e as malhas soltas, formando

bolsas, onde os morcegos, após se chocarem contra a rede, ficam emaranhados.

Se as malhas ficarem muito esticadas a rede funcionará apenas como anteparo,

não permitindo o enredamento dos morcegos.

Fonte: Equipe Zoonoses / SES - RJ Fonte: Equipe Zoonoses / SES - RJ

Page 15: Manual de Morcego Atualizado

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R A I V A

A Raiva é uma doença infecciosa de curso agudo, causado por vírus da

Família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus , levando a inclusive no homem.

É transmitida pela saliva de um animal infectado, geralmente através de

uma mordedura. O vírus da Raiva ao infectar o Homem, penetra no organismo

do hospedeiro através da inervação periférica (antes, porém, é replicado no local

da lesão). Atingindo o sistema nervoso central, causa a ¹encefalomielite aguda,

vindo a causar paralisia dos membros que progride em direção à cabeça. Leva o

indivíduo à morte por parada cárdio-respiratória. Pode ainda difundir-se pelos

nervos periféricos até as glândulas salivares dentre outros órgãos.

R A I V A H U M A N A

O principal transmissor é o cão. A doença manifesta-se após um período

de incubação usualmente compreendido entre 20 e 60 dias, o que depende da

quantidade de vírus inoculado pela mordedura, bem como da distância da zona

de inoculação ao sistema nervoso central.

• Cabeça ± 30 dias

• Membros super iores ± 40 dias

• Membros infer iores ± 60 dias

1Encefalomiel i te Aguda Inf lamação general izada no cérebro Nervos per ifér icos – Nervos da muscula tura

Cérebro

Medula

Replicação viral

Nervo motor

Replicação viral Glândula salivar

Saliva de animal contendo vírus rábico

I l u s t r a ç ão : Lua n a M a r i a – Eq u i p e d e Zoo no s es / S E S -R J

Page 16: Manual de Morcego Atualizado

16

A R A I V A C A N I N A

No cão a doença inicia-se após uma incubação de 3 à 6 semanas,

provocando um comportamento anormal, tornando-se arredio e desobediente.

D a a g r es s ão ( in f e c ç ão ) à d o en ç a .

O cão é o animal que mais infecta o Homem na cidade e no campo, porém,

o morcego é o transmissor de vírus Rábico que mais infecta os animais no meio

rural.

Cérebro

Medula

Replicação Viral

Nervo Motor

Músculo Replicação

Viral

Glândula Salivar

Saliva Infectada

www.jilo.turmadobar www.unimedara

Page 17: Manual de Morcego Atualizado

17

A RA I V A BO V I N A

Nos bovinos, a Raiva assume a forma paralítica, sendo extremamente rara

ou acidental a contaminação direta do Homem. Nos herbívoros a fase excitativa

geralmente é curta ou ausente, passando da fase prodrômica para a paralítica.

C I C L O S D E T R A N S M I S S Ã O

Didaticamente existem quatro ciclos de transmissão de vírus rábico que

podem atingir o Homem, que são:

Aéreo - morcego para morcego.

Silvestre - morcego para mico, macaco, raposa e etc.

Urbano – morcego para seres humanos, cachorro, gato e etc.

Rural - morcego para cão, boi, cavalo e outros animais de criação e

eventualmente seres humanos.

Instituto Pasteur

Page 18: Manual de Morcego Atualizado

18

F A S E S

Classicamente a Raiva é descrita em três fases, Prodrômica , Excitativa

e Paralítica:

Prodrômica é quando ocorre o período de incubação, podendo levar de

dois a três dias, com manifestação de pequenas alterações comportamentais,

tais como hiperexcitabilidade aos estímulos externos (luz, ruídos,

deslocamentos de ar, etc.. .) .

Excitativa é a fase em que o animal torna-se agressivo, investindo

contra outros animais, pessoas que estejam próximas a ele e até contra objetos

inanimados. Diz-se estar o animal acometido pela Raiva, na sua forma

furiosa. Essa fase pode durar em torno de três a sete dias (nos herbívoros,

essa fase geralmente é curta ou ausente).

Paralítica é a fase que ocorre após a excitativa, caracterizada por

paralisia progressiva, geralmente desenvolvendo-se dos membros inferiores

em direção à cabeça. A morte por asfixia ocorre quando a paralisia chega à

musculatura respiratória.

Instituto Pasteur

Page 19: Manual de Morcego Atualizado

19

SI N A I S

A infecção do sistema nervoso central pelos vírus rábicos manifesta-se

no Homem e nos animais por alterações de comportamento, agitação intensa e

falta de coordenação motora, resultante da paralisia progressiva da

musculatura do corpo. Com a paralisia dos músculos da mandíbula, não se

consegue ingerir alimentos, beber água ou engolir a própria saliva, por isso o

indivíduo baba. Quando o paciente tenta beber água, ocorrem contrações

intensas na musculatura da garganta, acompanhadas de dor. Por isso se fala

em “hidrofobia”, medo ao ver ou ouvir o ruído de líquido escoando. Pequenas

correntes de ar causam dor, espasmos, e ele desenvolve “aerofobia”. Ocorrem

convulsões e a morte se dá por parada respiratória.

A confirmação da suspeita de Raiva obrigatoriamente passa pelo

diagnóstico laboratorial, através das provas de imunofluorescência direta e

biológica .

Imunofluorescência Direta: É uma técnica que utiliza anticorpos

marcados com a Fluoresceína que determinam à presença de vírus. É

pesquisada a presença de “corpúsculos de Negri”, que são inclusões contendo

proteínas virais no citoplasma da célula nervosa.

Na prova biológica prepara-se uma solução com materiais suspeitos,

que é inoculado em camundongos, ficando estes em observação por vinte e um

dias. Se há vírus rábico no material inoculado, os camundongos geralmente

adoecem em cerca de cinco a dez dias, apresentando paralisia entre sete a

quinze dias (prazo médio), morrendo em seguida.

M A T E R I A L G E N É T I C O

Uma fita de RNA e Proteínas que caracterizam a Partícula Viral , e as

glicoproteinas, que permitem a adsorção dos vírus de se ligar à célula que vai

infectar, e que estimula o organismo infectado a produzir anticorpos.

Page 20: Manual de Morcego Atualizado

20

Prevenção A prevenção da ocorrência de casos de Raiva se dá com a vacinação de

todo animal doméstico susceptível à Raiva e com o combate ao morcego

hematófago, quer seja na cidade ou no meio rural. A vacinação deve ser da

seguinte forma:

Área Epidêmica – de seis em seis meses;

Área Endêmica e Esporádica – uma vez ao ano.

A vacina usada é a “inativada”, que deve ser acondicionada a uma

temperatura que varia de dois a oito graus Celsius.

O estudo sobre a Raiva começou em 1880 e sua vacina foi criada em

1885 por LOUIS PASTEUR, sendo usada pela 1ª vez em Paris, chegando ao

Brasil em 1888. A descoberta da virose em morcegos foi do médico Italiano,

ANTONIO CARINI, no início do século XX, em Santa Catarina, Brasil.

Só é possível à profilaxia antes da infecção chegar ao sistema nervoso

central. Após, o individuo estará condenado à morte.

Se agredido por cão, morcego ou qualquer animal silvestre lave

imediatamente a ferida com água e sabão. As partículas virais ficam no local

da lesão para se replicar e o sabão desfaz a gordura do envelope viral,

destruindo-os e impedindo que penetrem na célula.

São aplicados: a vacina + o soro anti-rábico.

A vacina tem como objetivo a formação de anticorpos.

Os soros já têm anticorpos prontos.

Animais silvestres como: macaco, mico, raposa e outras espécies

também são importantes transmissores dos vírus rábicos para outros animais,

inclusive ao Homem. Por isso é desaconselhável t irá-los de seu ambiente

natural. Quando mordido por um cão, este deve ficar em observação por 10

dias.

Page 21: Manual de Morcego Atualizado

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C O N S I D E R A Ç Õ E S G E R A I S

O objetivo deste manual é facilitar a compreensão da relação entre o

Homem e o meio em que vive, nos aspectos epidemiológicos, sócio-

econômico, político, cultural e ecológico, especificamente em relação aos

MORCEGOS.

1. Na relação entre seres humanos e o meio em que vivem temos como

objetivo transmitir e ajudar no desenvolvimento do individuo quanto a sua

responsabilidade para com a saúde pública, sempre preservando a ecologia;

2. No aspecto epidemiológico, a proximidade entre o Homem e o

morcego nos espaços urbano e rural, deve ser compreendida como parte

integrante do meio ambiente em transformação. Considerando-se a dinâmica

dos fatores e os processos produtivos implantados pelo Homem, a integração

entre as espécies animais muda e pode trazer consigo desequilíbrios que

propiciam o surgimento de doenças;

3. Os seres humanos mais diretamente expostos aos riscos de contato

com morcegos são aqueles de baixa renda, por viverem em condições muito

precárias, embora todos possam sofrer as conseqüências, indiferentemente da

classe social a que pertençam. A maior freqüência de mordidas por morcegos

hematófagos ocorre aos animais domésticos e de criação, ao redor das casas,

que são geralmente abertas ou permitem fácil acesso aos morcegos

hematófagos. Os seres humanos entram como fonte secundária de alimento, já

que o morcego só o morde quando há escassez de animais;

4. Na forma política, tem o governo (federal, estadual e municipal)

como obrigação, inserir em seus quadros na área de saúde e agricultura

profissionais especializados, submetidos devidamente à profilaxia anti-rábica

(pré-exposição) e com resposta imunogênica satisfatória. O órgão atuante

deve ter como objetivo, em especial, orientar a comunidade e obter

informações quanto a abrigos e ocorrências de morcegos encontrados, assim

como agressões ao Homem e aos animais, fazer a identificação de morcegos

para eventualmente encaminhá-los ao laboratório para exames de

identificação de vírus rábico entre outros;

Page 22: Manual de Morcego Atualizado

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5. Culturalmente nenhum outro grupo de mamífero parece estar tão

envolvido em mistérios, mitos, folclore e desinformação. Para uns representa

o mal, como chupadores de sangue, para outros o bem, como nos manuscritos

dos povos astecas, onde eram considerados deuses e estavam associados à

cultura do milho e aos rituais de fertil idade. Quanto à desinformação, fica por

conta de que muitos acham que o morcego é o rato velho que voa, pelo fato de

os morcegos insetívoros da espécie Molossus molossus ter a cauda semelhante

à do rato e habitar os cantos de forros e telhados.

6. Os morcegos representam ¼ das espécies dos mamíferos e é o grupo

mais versátil quanto a sua alimentação, podendo explorar uma grande

variedade de tipos, como frutos, néctar, pólen, partes florais, folhas, insetos

(mariposa, besouro, pernilongos e percevejos), outros artrópodes (como

escorpiões), pequenos peixes, anfíbios (rãs e pererecas), lagartos, pássaros,

pequenos mamíferos (roedores e morcegos) e sangue.

Desta forma, podemos afirmar que os morcegos têm um papel de grande

importância no meio ambiente.

Os morcegos vêm recuperando as florestas degradadas pelo Homem,

pela dispersão de sementes, aumentando a produção de alimentos, através da

polinização e diminuindo de forma considerável o uso de inseticidas, já que

70% dos morcegos alimentam-se basicamente de insetos.

Podemos afirmar, com toda segurança, que sem os morcegos haveria um

grande desequilíbrio ecológico.

Cabe ao IBAMA a fiscalização do cumprimento da lei no. 5.197 de 03

de janeiro de 1967, que protege os animais silvestres da fauna

Brasileira, bem como dar autorização aos órgãos oficiais para seu

manejo, através da portaria no. 332.

Page 23: Manual de Morcego Atualizado

23

E L A B O R A Ç Ã O

Jorge Cerqueira Querino, SES/RJ Siape 1428923.

Almir Soares de Brito, SES/RJ Siape 1430402.

Nilson Juvenal de Melo, SES/RJ Siape 1430942.

Jorge Maximiano da Silva, SES/RJ Siape 1429168.

Luana Maria P.N. Cavalcante, SES/RJ Siape 1428088.

João Junior Alves de Moraes, SES/RJ Siape 1428356.

Claudemir dos Santos Souza, SES/RJ Siape 1428813.

Celso da Silva Melo, SES/RJ Siape 1428641

Luciane da Costa Pereira, SES/RJ Siape 1430241

Helena Regina dos Santos, SES/RJ Siape 1428039

A P O I O A D M I N I S T R A T I V O

Paulo Roberto de Almeida Barbosa, SES/RJ;

Walace Guimarães Osório, SES/RJ;

A S S I S T Ê N C I A T É C N I C A E R E V I S Ã O

DrªPhyllis Catherina Romijn,Médica veterinária e pesquisadora da PESAGRO.

Agradecimento especial

Ao Dr. Clayton Bernardelli Gitti , Médico Veterinário, Professor de Doença

Infecto-contagiosas na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que

muito colaborou na nossa formação além de nos fornecer vasto material

didático.

Page 24: Manual de Morcego Atualizado

24

Referências Bibliográficas

1. Ministério da Saúde, MORCEGOS EM ÁREAS URBANAS E RURAIS:

Manual de Manejo e Controle , 1998. 2.a Edição;

2. Publicações e vídeos do Instituto Pasteur:

2.1 Manual Técnico–Controle da raiva dos herbivoros Nº1 ,novembro de 1998;

2.2 Manual Técnico – Orientação para projetos de centros de controle de

zoonoses (CCZ) Nº 2 , agosto de 2000;

2.3 Manual Técnico – Vacinação contra a raiva de cães e gatos Nº 3 ,

novembro de 1999;

2.4 Manual Técnico – Profilaxia da raiva humana Nº 4 , novembro de 1999,

atualizado em 2000;

2.5 Manual Técnico – Educação e promoção da saúde no programa de

controle da raiva Nº 5 , agosto de 2000;

2.6 Manual Técnico – Controle de população de animais de estimação Nº 6 ,

agosto de 2000;

2.7 Manual Técnico – Manejo de quirópteros em áreas urbanas Nº 7;

2.8 Video – Vídeos Morcegos e Raiva , julho de 2000.

3. Sites da internet:

3.1 www.batcon.org;

3.2 ARDEA ADRIAN WARREN ;

3.3 www.morcegolivre.com.br ;

3.4 www.embrapa.com;

3.5 www.flickr.com ;

3.6 www.fts.com.br;

3.7 www.library.thinkquest.org ;

3.8 www.icb.ufmg.br ;

3.9 www.geocites.com;

3.10 www.universe-review.ca;

3.11 www.bdt.fat.org.br;