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Corrente renascentista Amor é um fogo que arde Camões Amor é um fogo que ard

Amor é fogo que arde

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Lírica Camoniana

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Page 1: Amor é fogo que arde

Corrente renascentista

Amor é um fogo que ardeCamões

Amor

é u

m fo

go q

ue a

rde

Page 2: Amor é fogo que arde
Page 3: Amor é fogo que arde
Page 4: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Page 5: Amor é fogo que arde

António José Saraiva: Talvez nenhuma literatura tivesse petrarquizado tanto como as da Península Ibérica, onde não houve nenhum Ronsard [1524-1585, “o Petrarca francês“]. E talvez na Península Ibérica ninguém fosse mais petrarquista que Camões. Frequentemente, o nosso Poeta repete, numa forma talvez menos voluptuosa, mas com maior intensidade de luz e recorte mais nítido, o ideal que o italiano apurara sobre a herança provençal. É um mover de olhos brando, piedoso e abstracto, um gesto sereno, um à-vontade encolhido, um «repouso gravíssimo e modesto»; uma fala rara e suave que suspende as vidas, uma «presença moderada e graciosa». Como Laura, esta imagem aparece associada às manifestações da natureza primaveril, que lhe servem de cortejo.

(Luís de Camões - Estudo e Antologia, Lisboa: Bertrand 1980: 56s)

Petrarquismo em Camões

Page 6: Amor é fogo que arde

Amor Platónico

A ideia do amor platónico tem raízes na poesia trovadoresca e na poesia de Petrarca.

O amor platónico em Camões está diretamente ligado à conceção do amor em Petrarca, que possui raízes essenciais e remotas na filosofia de Platão. De acordo com a teoria transcendente do amor platónico, o amor é uma aspiração que engrandece o espírito do poeta; o que o verdadeiro amante busca no ser amado é o reflexo de um Bem supremo que existe em estado absoluto no mundo Ideal. O amor não pode nunca ser consumado, pois tem de ser sempre sofrimento e desejo insatisfeito.

Page 7: Amor é fogo que arde

Tema: AS CONTRADIÇÕES DO AMOR

O poeta expõe as contradições do amor. Como pode este sentimento harmonizar dois corações. Sendo afinal tão contraditório?Este tema das contradições do amor, expresso por antíteses à maneira petrarquista, é um lugar comum da lírica europeia quinhentista para evidenciar a impossibilidade de definir o amor.

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

TEMASoneto petrarquista, cujo tema é o amor, definido como um sentimento contraditório, mas ainda assim procurado pelos corações humanos.

Page 8: Amor é fogo que arde

Síntese

Voltar

Neste poema, o sujeito poético tenta dar uma definição de amor, à maneira petrarquista, através de uma série de metáforas e antíteses bastante sugestivas. Ele joga de forma artística com a palavra Amor que abre e fecha o poema, para chegar à conclusão de que é impossível definir o amor.

Assunto

Page 9: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Amor

Desperta reacções/sentimentos contraditórios

Impossibilidade de definir este sentimento

(Ver as três primeiras estrofes)

De realçar são:

- a circularidade do poema: palavra inicial/final- a funcionalidade da anáfora (verbo “ser”)- as relações lexicais- os tipos de frase utilizados- a funcionalidade do conector “mas” no início do último terceto - a descodificação da palavra “amizade”- a expressividade da sucessão de oxímoros- a interrogação retórica

Page 10: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Circularidade do poema

- A palavra Amor , utilizada no início e no fim do poema, exprime o tema deste e expressa a vontade que o poeta tem de falar deste sentimento.

- A repetição da palavra “amor” está também ao serviço de uma descrição mais pormenorizada deste sentimento.

Progressão para a interrogação retórica

Ao longo do poema, vamos percebendo que este nos leva para uma questão.

Essa pergunta é dirigida a todos os leitores, tendo sido formulada para suscitar reflexão e não propriamente para se obter uma resposta para a mesma.

(última quadra)

Page 11: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Funcionalidade do conector no início do segundo terceto

- A palavra “mas” é utilizada no início do segundo terceto para exprimir uma ideia contrária a acrescentar às restantes.

- Marca uma oposição, neste caso entre o amor e a amizade, destacando também a questão levantada.

Significado da palavra “amizade”

Neste poema, a amizade surge como um sentimento contrário ao amor e o sujeito poético dá-lhe mais importância, como se pode ver pela repetição sucessiva da palavra.

Assim, a amizade surge como uma impossibilidade face ao amor, ou seja, são sentimentos contrários.

Page 12: Amor é fogo que arde

Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

1º momento (vv.1-11)

Fazem-se onze tentativas de definição do amor através de frases declarativas afirmativas.

2º momento (vv.12-14)

As tentativas anteriores são superadas por uma interrogação retórica final que apresenta o amor como um sentimento contraditório.

Todo o soneto é uma tentativa de conceituar o amor

amor é sofrimento

amor é desprendimento

amor é doação

amor é paradoxo

O poema se encerra com uma indagação: Como as pessoas podem gostar de uma coisa tão contrária a si mesma como o amor?

Page 13: Amor é fogo que arde

Amor é:

um fogo que arde ferida que dói um contentamento dor um não querer mais um andar solitário um nunca contentar-se um cuidar que ganha querer estar preso servir a quem vence ter lealdade

Trata-se de um entendimento

original do amor?

Page 14: Amor é fogo que arde

Amor é: 1. fogo que arde sem se ver 2. ferida que dói e não se sente 3. contentamento descontente 4. dor que desatina sem doer 5. não querer servir a quem vence o vencedor 6. andar solitário entre a gente 7. nunca contentar-se de contente 8. cuidar que se ganha em se perder 9. querer estar preso por vontade 10. servir a quem vence o vencedor 11. ter com quem nos mata lealdade

Nos onze primeiros versos, o sujeito poético apresenta onze tentativas para definir o amor.

O sujeito poético procurou, sem sucesso, definir o amor. Todas as

tentativas de definição apontam para o facto do amor ser um sentimento contraditório. Não é de estranhar,

portanto, a pergunta com que o sujeito poético encerra o poema. Sendo o

amor tão contraditório e impossível de definir como pode ser

sistematicamente procurado pelos “corações humanos”, isto é, como é que as pessoas podem continuar a

apaixonar-se?

Page 15: Amor é fogo que arde

um fogo que arde sem se verferida que dói e não se senteum contentamento descontentedor que desatina sem doerum não querer mais que bem quererum andar solitário entre a genteum nunca contentar-se de contentecuidar que se ganha em se perderquerer estar preso por vontadeservir a quem vence o vencedorter com quem nos mata lealdade

Definição do AmorAmor é:

Síntese - natureza contraditória do Amor"Tão contrário a si é o mesmo amor?"

Page 16: Amor é fogo que arde

Como é que se consegue inovar?

O poeta desenvolve a definição de Amor através de um pensamento antitético. A antítese é uma figura de estilo pela qual se aproximam dois pensamentos de sentido contrário (triste e leda, branco e preto, dia e noite). O oxímoro (oxy – agudamente + morós - néscio) consiste na fusão num só enunciado de dois pensamentos que se excluem mutuamente. Espécie de antítese concentrada ou reforçada (ex. ilustre desconhecido) (expressão de um paradoxo)

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Page 17: Amor é fogo que arde

Fogo que arde

Manifestação Invisível Sem se ver

Ferida que dói Sofrimento Insensível E não se sente

Contentamento Felicidade Infeliz Descontente

Dor que desatina Sofrimento Indolor Sem doer

Não querer mais Humildade Ambiciosa De bem querer

Andar solitário Isolamento Acompanhado Entre a gente

Nunca contentar-se Insatisfação Satisfeita De contente

Cuidar que ganha ilusão Frustrada/ desfeita Em se perder

Querer estar preso liberdade Limitada Por vontade

É o vencedor servir Devoção/ dedicação Imerecida A quem vence

Ter lealdade fidelidade Traída Com quem nos mata

Como é que se consegue inovar?

Page 18: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

O soneto divide-se em duas partes lógicas:

1ª parte – duas quadras e 1º terceto – fazem-se onze tentativas de definir o amor

2ª parte – 2º terceto – as onze tentativas de definição anteriores são superadas por uma interrogação retórica final que apresenta o amor como um sentimento contraditório.

ESTRUTURA INTERNA

Page 19: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

“Mas” – a conjunção adversativa provoca um corte com o que anteriormente foi dito.

1ª parte: definição do Amor | 2ª parte: chave de

ouro – conclusão. 1ª quadra : sentimento - deseja explicitar o

amor enquanto sentimento Nomes concretos / nomes abstractos

{estatismo}2ª quadra : ponto de vista de quem ama -

amador Infinitivos substantivados{dinamismo}1º terceto: relação (subentendida) entre duas

pessoas:está-se preso a alguém serve-se um vencidoé-se leal a quem nos mata2º terceto: complexidade do AMOR –

SENTIMENTO CONTRÁRIO A SI MESMO um (artigo indefinido) parte, diversidademesmo todo, unidade

Page 20: Amor é fogo que arde

Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

ABBA

ABBA

CDC

DCD

Chave de ouro:Adversativa «mas» introduz paradoxo final.

APAPEAAP

JPAPJPEA

APJPAP

Soneto 43, publ. 1598

11 definições lapidares com frases afirmativas.

Cada definição contém 1 oposição de carácter variável:

AP – Afirmações paradoxais

EA – Expressões antónimas

JP – Jogos de palavras da mesma família

Page 21: Amor é fogo que arde

Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Def. do amor através de metáforas antiteticamente dispostas em paralelismo anafórico e de iterações/repetições.

Efeito circular: amor abre e fecha o soneto.

JP: Metáforas in praesentia = afirmação de equivalência a partir de núcleos sémicos comuns.

Única afirmação concreta na forma de oração condicional / interrogação: “Como pode o amor harmonizar duas pessoas, sendo tão contraditório?”

Page 22: Amor é fogo que arde

Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Amor como fonte de contradições:

Vida vs. MorteEsperança vs. Desengano

Conflito com a vivência sensual desse mesmo amor.

Amor é inefável, mas, assim mesmo, fundamental à vida humana.

Page 23: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

a) Antíteses – onze primeiros versos;b) Anáfora – forma verbal “é” (2º a 11º versos);c) Enumeração – estados psíquicos contraditórios a que o amor pode levar, de forma a identificar a sua principal característica;d) Interrogação Retórica Final – apresenta a característica que verdadeiramente distingue o Amor;e) Metáfora – encarece a força do sentimento amoroso: “Amor é um fogo…” e “…é ferida”;f) Artigo Indefinido – adequado à natureza indefinível do sentimento descrito e que sugere semelhança;g) Verbo substantivado – a sugerir vida: “É um não querer…”“É um andar”"É um nunca contentar-se”“É um cuidar”

Camões procura definir o amor, lançando mão de variados recursos:

Page 24: Amor é fogo que arde

O sujeito poético procura definir o amor. Para isso utiliza vários recursos:

Antíteses Anáfora

Enumeração

Frases declarativas afirmativas

Interrogação retórica

Metáfora

Uso do artigo indefinido

Verbos substantivados

onze primeiros versos “Amor é fogo que arde

sem se ver”da forma verbal “é”, no

início do 2º até 11º verso

dos estados psíquicos contraditórios a que o amor pode levar, de forma a identificar a

sua principal característica (a

contradição); podes constatar isto nos onze

primeiros versos.

ao longo das duas quadras e do

primeiro terceto

final do último terceto “Se tão contrário a si é

o mesmo Amor?”

que reforça a força do sentimento

amoroso: “Amor é um fogo..’

adequado à natureza indefinível do

sentimento descrito - Um

de forma a sugerir actividade, vida:

“É um não querer…”

Page 25: Amor é fogo que arde

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Funcionalidade da anáfora

A anáfora resulta da repetição da mesma palavra no início de cada verso.

Neste caso, a anáfora é originada pela repetição de uma forma do verbo ser (“é”). Esta tem a função de introduzir o predicado, evitando também a repetição da palavra “amor”. Esta construção anafórica facilita a descrição mais deste sentimento tão contraditório.

Sucessão de oxímoros

Há vários oxímoros neste poema. Os oxímoros são conceitos opostos que

estão presentes numa só expressão (“é ferida que dói, e não se sente”).

Page 26: Amor é fogo que arde
Page 27: Amor é fogo que arde

Q U A D R A S

T E R C E T O S

Este poema é um soneto

porque é constituído por duas quadras

e dois tercetos.

Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Análise Formal

Page 28: Amor é fogo que arde

Os versos são decassílabos, isto é, versos que têm dez sílabas métricas. Trata-se da medida nova.

É / um / con /ten /ta /men /to/ des/con/ten/ (te)1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Análise Formal

Page 29: Amor é fogo que arde

A rima é interpolada e emparelhada

nas quadras como se pode verificar

no esquema rimático

ABBA. Nos tercetos a

rima é interpolada como se

vê no esquema

rimático CDCDCD

A B B A

A B B A

C D C

D C D

Esquema rimático e tipo de rima

Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Análise Formal

Page 30: Amor é fogo que arde

Plano morfológico

Amor é um fogo que arde sem se ver,É ferida que dói, e não se sente;É um contentamento descontente,É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer;É um andar solitário entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Princípio e fim: Amor Repetições:

Amor – 2 vezes É – vezes Que – 5 Um - 5 É – 12 vezes Relação um / mesmo coincidentia

oppositorum

Page 31: Amor é fogo que arde

Plano Fonológico

Amor é um fogo que arde sem se ver,É ferida que dói, e não se sente;É um contentamento descontente,É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer;É um andar solitário entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Amor é um fogo que arde sem se ver,É ferida que dói, e não se sente;É um contentamento descontente,É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer;É um andar solitário entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Page 32: Amor é fogo que arde

Disciplina: PortuguêsProf.ª: Helena Maria CoutinhoFim