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Antártida Antártida Os brasileiros que vivem no gelo Os brasileiros que vivem no gelo A dura rotina dos militares da A dura rotina dos militares da Marinha que se isolam um ano Marinha que se isolam um ano inteiro na Antártica, para dar inteiro na Antártica, para dar impulso na carreira impulso na carreira

Antártida

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A rotina dos militares e pesquisadores na Antártida.

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AntártidaAntártida

Os brasileiros que vivem no geloOs brasileiros que vivem no geloA dura rotina dos militares da A dura rotina dos militares da Marinha que se isolam um ano Marinha que se isolam um ano inteiro na Antártica, para dar inteiro na Antártica, para dar

impulso na carreiraimpulso na carreira

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A sirene do navio toca pontualmente às 6 da manhã e vale para A sirene do navio toca pontualmente às 6 da manhã e vale para todo mundo a bordo - marinheiros, pesquisadores ou jornalistas todo mundo a bordo - marinheiros, pesquisadores ou jornalistas convidados. É hora do despertar no pequeno quinhão ocupado convidados. É hora do despertar no pequeno quinhão ocupado

pelo Brasil na Antártica, o que inclui o navio Ary Rongel e a pelo Brasil na Antártica, o que inclui o navio Ary Rongel e a Estação Comandante Ferraz, na Ilha Rei George, que está bem à Estação Comandante Ferraz, na Ilha Rei George, que está bem à nossa frente. A ordem, como em qualquer base naval da Marinha nossa frente. A ordem, como em qualquer base naval da Marinha brasileira, é levantar da cama, tomar café e se preparar para um brasileira, é levantar da cama, tomar café e se preparar para um dia cheio de trabalho. Os primeiros barcos logo deixarão o navio dia cheio de trabalho. Os primeiros barcos logo deixarão o navio

em direção à estação e precisamos estar prontos para a em direção à estação e precisamos estar prontos para a travessia. A cada ano, a base do Brasil na Antártica cresce travessia. A cada ano, a base do Brasil na Antártica cresce

fisicamente e recebe mais gente.fisicamente e recebe mais gente.

É assim desde 1984, quando 12 homens do arsenal da Marinha É assim desde 1984, quando 12 homens do arsenal da Marinha desembarcaram na Ilha Rei George para erguer os primeiros oito desembarcaram na Ilha Rei George para erguer os primeiros oito

módulos da estação. A missão foi cumprida em 32 dias, e os módulos da estação. A missão foi cumprida em 32 dias, e os construtores voltaram ao nosso país imediatamente depois. No construtores voltaram ao nosso país imediatamente depois. No ano seguinte, a estação foi ampliada, passando a ter 33 blocos. ano seguinte, a estação foi ampliada, passando a ter 33 blocos. Atualmente já são 64 módulos, incluindo alojamentos, salas de Atualmente já são 64 módulos, incluindo alojamentos, salas de

estar e jantar, copa e cozinha, banheiros, biblioteca, 13 estar e jantar, copa e cozinha, banheiros, biblioteca, 13 laboratórios de pesquisas, sala de computadores, cabines laboratórios de pesquisas, sala de computadores, cabines telefônicas, academia de ginástica, oficinas de veículos, telefônicas, academia de ginástica, oficinas de veículos,

despensa, lavanderia, centro cirúrgico, gabinete dentário e uma despensa, lavanderia, centro cirúrgico, gabinete dentário e uma farmácia muito bem guarnecida de medicamentos. A base farmácia muito bem guarnecida de medicamentos. A base

também deixou de ter atividade apenas no verão, passando a também deixou de ter atividade apenas no verão, passando a ser ocupada o ano inteiro.ser ocupada o ano inteiro.

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Churrasco, futebol na TV, internet e celular com tarifa Churrasco, futebol na TV, internet e celular com tarifa local ajudam a matar a saudadelocal ajudam a matar a saudade

Do início de outubro, quando o navio Ary Rongel parte para a Antártica, ao final de março ou começo de abril, quando ele costuma regressar

ao país, a Estação Comandante Ferraz recebe centenas de pesquisadores e visitantes. Na temporada que acaba de se encerrar,

cerca de 230 pesquisadores estiveram na base brasileira, dedicados a estudos biológicos, atmosféricos e químicos no continente gelado.

Vieram também vários senadores e deputados, como em quase todos os anos, e até o presidente da República dessa vez. O navio ficou 189

dias em águas antárticas, batendo o recorde de permanência na região. Agora, à medida que o inverno se aproxima, a base vai se

esvaziando até se restringir a cerca de 25 moradores, entre militares e encarregados da manutenção das instalações.

É esse pequeno grupo que tem de lidar com a solidão, o isolamento e o frio extremo nesse pedaço de fim de mundo. A Ilha Rei George -

onde também ficam as bases do Chile, da Polônia, da China, do Uruguai, da Argentina, do Peru e da Coréia do Sul - está a mais de 60 graus na Latitude Sul. O outro meio de acesso a Ferraz é por um dos vôos anuais realizados em avião Hércules C-130. No período do verão austral são realizados quatro vôos, que têm início no Rio de Janeiro,

fazem escalas em Pelotas (RS) e Punta Arenas (Chile) e seguem até a base chilena vizinha, que é provida de um campo de pouso. Dali até a

estação brasileira são três horas de navio ou meia hora de helicóptero. Os vôos permitem a substituição de pesquisadores,

resultando em maior variedade de pesquisas. No inverno, os vôos de apoio das aeronaves da Aeronáutica levam suprimentos para

reabastecimento da estação, lançando a carga em pára-quedas. O segredo: salário triplicado.

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Para fazer parte do seleto grupo de militares brasileiros na Antártica é preciso se submeter a rigorosos exames de seleção. Depois de uma

bateria de testes de saúde, os aprovados recebem instruções de montanhismo e de sobrevivência no gelo, aplicadas pelo Clube de

Alpinismo Paulista e pelo Batalhão de Operações Especiais do Corpo de Fuzileiros Navais. Em seguida, passam por uma severa prova psicotécnica. Todos os militares são voluntários e a disputa chega a ter 15 candidatos

por vaga. A explicação de tamanha procura é simples: além de impulsionar a carreira na Marinha, a experiência antártica garante

salários três vezes maiores que os normais. A contrapartida é ficar 12 meses longe de casa, da família e dos amigos. Por causa disso, é de se esperar que os voluntários sejam em sua maioria solteiros - mas não é

assim. Dos dez militares que acabam de retornar ao Brasil, sete são casados. Entre eles, o capitão-de-mar-e-guerra Carlos Benício Sá de Mello,

comandante da estação no último período, que lembra que os marinheiros, em geral, estão acostumados a se ausentar de casa.

Além disso, "trabalhar na Antártica é motivo de muito orgulho para qualquer militar e uma experiência única". De fato, a visita ao continente gelado é algo para se guardar na memória pelo resto da vida. Nos sete dias em que passei em solo antártico, não deixei de me surpreender - e me fascinar - um minuto sequer com a natureza ao meu redor. Uma das

primeiras lições que aprendi ao desembarcar foi sobre as bruscas alterações do tempo. Os ventos são muito fortes e mudam o tempo todo.

Tive sorte. No primeiro dia, o sol apareceu. Os pingüins já esperavam para proporcionar um grande espetáculo. Focas e ossos de baleias também.

Guiada por meus anfitriões, percorri as redondezas da estação num quadriciclo, escalei o Morro da Cruz, voei de helicóptero sobre a Baía do

Almirantado e fui de barco até a Ilha de Deception, que, aliás, não merece o nome que tem - a sensação de entrar numa antiga cratera vulcânica

navegando é muito especial.

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A rotina na estação segue padrões militares. Além das funções a que cada um foi designado, todos devem participar da faxina - inclusive os visitantes.

Um dos locais que chamam atenção é a sala Rio 40 graus, onde são secados os macacões, gorros, luvas, cachecóis e botas que chegam molhados de neve. O lugar é um pedacinho do Brasil e é o mais quente da estação. A base brasileira chega a acomodar até 70 pessoas durante o verão, quando as temperaturas costumam oscilar entre os 10 graus positivos e os 10 graus negativos. No inverno, os poucos habitantes que restaram enfrentam frio de até 25 graus abaixo de zero e ventos acima dos 100 km/h. As atividades externas são reduzidas e as salas de computadores, agora com internet banda larga, são o maior alento.

Desde o ano passado, os brasileiros que vivem no gelo também podem se comunicar com o país por celular, pagando tarifa local (quando a ligação for para o Rio de Janeiro, cidade da maioria deles) ou a mesma taxa para interurbanos cobrada no Brasil (quando o telefonema for para outras cidades). Churrascos e transmissões esportivas ao vivo também ajudam a quebrar o "gelo" e a rotina. Comida é o que não falta: a estação é abastecida anualmente com cerca de 4 toneladas de carnes diversas, 775 quilos de peixes e frutos do mar, 500 quilos de feijão e 1.200 quilos de arroz, além de pães, doces e enlatados abundantes. Junto com o salário triplicado, a fartura ajuda a suavizar a saudade de casa.

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O Ary Rongel em frente à Ilha O Ary Rongel em frente à Ilha Rei George: suporte à base Rei George: suporte à base

brasileirabrasileira

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O balé de pingüins do lado de O balé de pingüins do lado de fora: um luxofora: um luxo

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Criada em 1984, a base brasileira se divide em 64 módulos, que incluem biblioteca, 13

laboratórios de pesquisa, academia de ginástica e centro cirúrgico

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Na sala de TV, novela e futebol Na sala de TV, novela e futebol em tempo realem tempo real

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A sala Rio 40 graus: o lugar A sala Rio 40 graus: o lugar mais aconchegantemais aconchegante

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A proa do Ary Rongel A proa do Ary Rongel congelada: e nem era congelada: e nem era inverno

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Em 2007, a base recebeu 230 Em 2007, a base recebeu 230 pesquisadorespesquisadores

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Na despensa, alimentos às Na despensa, alimentos às toneladas para o ano todotoneladas para o ano todo

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Fonte: Revista Terra edição Maio de 2008 Fonte: Revista Terra edição Maio de 2008 Organizado por Elô SteffensOrganizado por Elô Steffens

Julho de 2008Julho de 2008