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ROCHA E TOSTA 2009

Antropologia e educação :o sentido da etnografia

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Antropologia e educação :o sentido da etnografia

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ROCHA E TOSTA2009

CAPÍTULO 2

O capítulo está dividido em 6 tópicos:

Fenomenologia do conhecimentoOcularcentrismo O olho do furacão A arte de viajar A educação dos sentidos

Uma experiência indisciplinada

 

Fenomenologia do conhecimento “Estamos presos a nossos sentidos” (p. 51)

“(...) a idéia segundo a qual existe um conhecimento verdadeiro em detrimento de outros considerados falsos é relativa” (p. 51); “O conhecimento do senso comum não é

falso” e “o conhecimento científico não pode ser visto como verdade absoluta” (p. 51).

“Os sentidos interferem na produção do conhecimento científico, colocando novos problemas, sugerindo novas questões” (p. 52).

O conhecimento na nova perspectiva antropológica:Lanternari (1997)

“(...) SE NÃO PODEMOS COMPREENDER O MUNDO SEM ANTES DETECTÁ-LO POR MEIO DOS SENTIDOS, FAZ-SE NECESSÁRIO, ENTÃO, BUSCAR

COMPREENDER QUAL A IMPORTÂNCIA DOS SENTIDOS NO PROCESSO DE CONHECIMENTO”

(ROCHA & TOSTA, 2009, p. 52).

Sentidos: ligados a sistemas culturais historicamente determinados (p 52);

TRABALHO DE CAMPO: reeducação dos sentidos acompanhada de uma atitude fenomenológica:Merleau-Ponty (1989)

Experiência etnográfica: “oportunidade única e singular no processo de compreensão do ‘outro’ (...)” (p. 54).

OcularcentrismoA dimensão do olhar no Ocidente

Gregos: olhos associados ao conhecimento;Mito da Caverna (Platão)

“(...) em geral somos ‘cegos’ se não ‘míopes’ quando se trata de olharmos para a nossa própria

realidade social e/ou cultural” (p. 56).“Desde o renascimento, no séc. XVI, uma nova

cultura da sensibilidade é, paulatinamente, posta em prática” (p. 57).Sociedade de Corte;A idéia de Civilidade.

A partir do século XVI renovação dos conhecimentos filosóficos e científicos.Mudança no status dos sentidos em diversos campos (p.

58).

“É COM O ILUMINISMO QUE O OLHAR ATINGE A MAIS CLARA FORMULAÇÃO DE UMA NECESSÁRIA PEDAGOGIA CAPAZ DE COMBATER A PRÓPRIA CEGUEIRA PROVOCADA PELA EDUCAÇÃO, ISTO É, OS PRECONCEITOS” (p. 59).

“No centro de tudo o olhar” (p. 59);Anna Grimshaw (2001), parafraseando Martin Jay:

OCULARCENTRISMO

O olho do furacãoSéculo XIX: “triunfo do olhar”

“(...) transformações sociais, políticas, econômicas, culturais e estéticas promovem uma verdadeira alteração no campo visual da sociedade moderna” (p. 60). Essas transformações compõem um cenário importante para

a formação da antropologia (p. 60).

Antropologia no século XIX:OLHAR: um de seus principais mecanismos de

legitimação e constituição identitária; Antropologia: ciência do olhar, orientada para a

compreensão da diferença e de seus significados.

Paris: flâneur: observador do cenário urbano Ruas: cenário natural.Charles Baudelaire (1821-1867);Walter Benjamin (1892-1940)

Na História: Carlos Ginzburg;

O panóptico: Jeremy Bentham;O impressionismo nas artes plásticas

Visão primitivista.

“(...) a partir do século XIX, com o nascimento das primeiras escolas de antropologia, na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos, aos poucos os antropólogos passaram a participar de viagens de

expedições com a finalidade de se estudar determinadas sociedades primitivas (...)”

(ROCHA E TOSTA, 2009, p. 64).

A arte de viajar“A ANTROPOLOGIA NÃO É UMA DISCIPLINA

LIGADA SOMENTE AO OLHAR , TAMBÉM AS VIAGENS SÃO DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA NA DEFINIÇÃO DE SEU CAMPO EPISTEMOLÓGICO” (ROCHA & TOSTA, 2009, p. 64).Relatos de viagens, descrições de costumes culturais

realizados por viajantes, colonizadores, missionários, militares, diplomatas: origem da disciplina.

Viagem: ethos antropológico:“(...) deslocamento no espaço, mas também no tempo e

na hierarquia social, propõe Lèvi-Strauss (...)” (p. 64).

“Será andando pelas ruas de nossas cidades que realizamos o sentido das viagens e da aventura no mundo

cotidiano. Por outro lado, será viajando para o distante mundo das sociedades primitivas que os antropólogos

objetivam ‘resgatar’ tais culturas, registrando seus costumes e hábitos, ameaçadas de desaparecimento em

face das transformações urbanas do século XIX deflagradas pelo ‘inelutável’ processo civilizatório

ocidental” (ROCHA & TOSTA, 2009, p. 65).

Origens da antropologia moderna: estreita relação das expedições etnológicas e missões científicas com os movimentos artísticos e culturais de fins do século XIX e início do século XX, na constituição da disciplina” (ROCHA & TOSTA, 2009, p. 65).

“As viagens podem ser vistas como experiências relacionadas não só ao deslocamento no espaço e no tempo, mas, sobretudo, como experiências do olhar” (ROCHA & TOSTA, 2009, P. 69).“(...) a observação de uma outra cultura exige do

antropólogo, a exemplo dos ritos de passagem, um processo de ‘educação dos sentidos’ (...)” (p. 69); O Olhar, o Ouvir e o Escrever.

NOS PRÓXIMOS SUBTÍTULOS, DOIS EIXOS FUNDAMENTAIS ORIENTAM A DISCUSSÃO:

O processo de educação dos sentidos, a partir das contribuições do antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira;

A especificidade do relato etnográfico diante dos relatos de viagem.

A educação dos sentidosRoberto Cardoso de Oliveira (“O trabalho do

antropólogo):

“(...) o olhar o ouvir e o escrever representam não só três momentos importantes, mas também três ‘faculdades de entendimento’ fundamentais no trabalho de campo antropológico” (ROCHA & TOSTA, 2009, p. 69).

“(...) o antropólogo garantiria a objetividade do conhecimento científico por meio de um olhar disciplinado e relativamente distante” (p. 69);

“é preciso ouvir o que o outro tem a dizer, seja ele o nativo da sociedade primitiva, sela ele o ‘nativo’ de uma ‘tribo urbana’ nas sociedades contemporâneas e, sobretudo, quando o ‘outro’ é um membro da ‘tribo acadêmica’” (p. 69-70).

“Escrever, Geertz já o disse, é o que o antropólogo faz. O antropólogo escreve. Haja vista que uma das preocupações constantes do próprio saber/fazer da antropologia na atualidade é justamente com a escrita, com o próprio texto etnográfico” (p. 70);

O sentido do “ouvi dizer”: “(...) as narrativas de viagens (...) são significativas na medida em que revelam o imaginário social de uma época” (p. 70);“Se os relatos de viagem não atestam a verdade dos fatos,

atestam, por outro lado, a realidade do imaginário” (ROCHA & TOSTA, 2009, p. 71).

“OS RELATOS DE VIAGENS NOS AJUDAM A COMPREENDER NÃO SÓ OS LIMITES ENTRE O OLHAR, O OUVIR E O

ESCREVER INSCRITOS NAS NARRATIVAS ETNOGRÁFICAS, MAS TAMBÉM AS DIFERENÇAS ENTRE AS NARRATIVAS

DOS VIAJANTES E A DOS ANTROPÓLOGOS PROFISSIONAIS” ( ROCHA & TOSTA, 2009, p. 72).

DOIS PONTOS BÁSICOS DE DIVERGÊNCIA:“As monografias antropológicas suspendem a aventura da

jornada e priorizam o momento de chegada quando muito o momento de saída de suas sociedades em estudo” (p. 72).

A etnografia realizada pelos viajantes são narrativas de viagens cujo objetivo maior consiste em descrever a experiência da própria viagem”

(p. 72).

“(...) a etnografia realizada pelo antropólogo em seu trabalho de campo é motivada pela colocação de um

problema, isto é, o antropólogo busca responder a uma questão ou problema previamente levantado por

ele e/ou sugerido por outros autores” (ROCHA & TOSTA, 2009, p. 72).

“A etnografia antropológica parte de um problema que orienta o olhar do antropólogo ao mesmo tempo em que relativiza o sentido do ‘ouvi dizer’” (p. 73);

O que, nos relatos de viagens, “(...) é puramente episódico ou exótico, fica em segundo plano na monografia antropológica, e em seu lugar busca-se atingir as estruturas e os sistemas sociais” (p. 73).

“(...) os sentidos do olhar e do ouvir assumem importância significativa na prática etnográfica do trabalho de campo do antropólogo na medida em que problematiza o próprio processo de conhecimento antropológico” (p. 73);

“(...) a maneira como esses sentidos são revelados encontra-se inscrita na escrita do texto etnográfico ou da narrativa monográfica realizada pelo antropólogo, portanto, o campo do conhecimento antropológico está relacionado com a forma da escrita” (p. 73-74).

“(...) é por meio da escrita que (...) o antropólogo organiza as culturas que estuda e também a sua própria” (p. 74);

“Com variados graus de liberdade, o olhar, o ouvir e o escrever guardam uma estreita relação com o ethos científico (...)” (p. 74).

“(...) a realidade passa a ser vista sob um certo prisma, as pessoas são ouvidas com mais atenção, a escrita inscreve o dito por meio da interpretação antropológica” (p. 74).

Uma experiência indisciplinadaTrabalho de campo: superação da antropologia de

gabinete;

Estudar a vida “In loco”;

Qual seria a especificidade do trabalho de campo?

Não há um padrão de pesquisa;

As orientações de MAUSS (1947): Manual de etnografia;

Trabalho de campo indisciplinado x Rigor, Autenticidade;

As contribuições de Malinowisk frente aos desafios do campo:“Imagine-se o leitor sozinho, rodeado apenas de seu equipamento, numa praia tropical próxima a uma aldeia nativa, vendo a barca ou lancha que trouxe afastar-se no mar até desaparecer de vista”(...)

Os Nuereses:

Pritchard (1978. P.305) diz: “(...) aprendi mais sobre a natureza de Deus e nossa condição humana com os nuer do que com tudo o que eu aprendi em casa”.

O ofício do antropólogo:

• GEERTZ afirma: (...)o antropólogo faz etnografia!

• Essa é uma resposta dada, pronta e acabada, mas também é a problematização acerca do fazer antropológico.