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IDEC 2016 – Mikkeli, Finlândia INSPEÇÃO ESCOLAR – (e algumas outras reflexões) Derry Hannam Traduzido livremente para o português por Alex Bretas

Apresentação de Derry Hannam na IDEC 2016

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Page 1: Apresentação de Derry Hannam na IDEC 2016

IDEC 2016 – Mikkeli, Finlândia

INSPEÇÃO ESCOLAR – (e algumas outras reflexões)

Derry Hannam

Traduzido livremente para o português por Alex Bretas

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Políticas públicas e educação privada

• Ao contrário de Peter Gray, acredito muito em sistemas educacionais públicos (estatais)

• Admiro a abordagem finlandesa por princípio• Nos EUA e no Reino Unido as escolas privadas são

socialmente segregadoras e limitam as oportunidades para a maioria das crianças

• A Suécia tentou o mesmo caminho e chegou às mesmas conclusões

• No passado, eu acreditava que a inovação só poderia vir de escolas privadas que cobram mensalidades (as “pioneiras do possível”) – Summerhill, Sands School, Sudbury Valley – MAS

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Meu trabalho em três escolas estatais

• A comunidade de aprendizagem democrática 1H/2H – a reunião de classe, o tribunal de alunos, currículos feitos pelos alunos, ausência de avaliação a não ser se requisitado pelos estudantes, colaboração substituindo competição…

• Escalando o modelo e então fazendo a transformação em outra escola

• Trabalhando com alunos de diferentes faixas etárias juntos numa escola comunitária

• Countesthorpe, Stantonbury, Centro Sutton

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O Relatório Hannam

• Pesquisas feitas em escolas secundárias inglesas para encorajar o ministro da Educação a apoiar a “participação democrática e a ação responsável” no currículo de cidadania.

• 42 formas pelas quais algumas escolas são mais democráticas que outras

• Quanto mais democráticas as escolas se tornavam em relação à media dos resultados apurados, maior a frequência dos alunos e menor o número de comportamentos antissociais.

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ALGUMAS SÃO MAIS DEMOCRÁTICAS QUE OUTRAS

• Conselhos estudantis• Organizações estudantis nas escolas• Envolvimento dos alunos na administração da escola• Participação dos alunos nas decisões sobre currículo junto com professores seniores e comitês de

diferentes áreas• Programas eletivos liderados de maneira compartilhada por alunos e professores• Alunos como pesquisadores• Mentoria, ensino e aconselhamento entre pares• Alunos envolvidos na escolha da equipe da escola• Empresas estudantis• Projetos comunitários liderados por alunos – agentes da mudança• Avaliação do ensino feita pelos alunos• Cursos para novos professores liderados por alunos• Grupos de defesa do meio-ambiente liderados por alunos• Jornais, TV e radios produzidos por alunos• Vários outros projetos liderados por alunos• Filosofia para crianças – programa “P4C” (Philosophy for Children)• Escolas que respeitam direitos

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Modelos inspiradores em outros sistemas estatais

• Forsoksgymnaset (FGO) em Oslo, Noruega• Escola democrática de Hadera, em Israel• Laborschule em Bielefeld, Alemanha• Werkplaats em Utrecht, Holanda• EscolasDentroDeEscolas (SchoolsWithinSchools) como

a escola de ensino médio Brookline, em Boston, EUA (“Apenas Escolas Comunitárias” – Just Community Schools – de Kohlberg)

• Escola alternativa de ensino médio Calgary, no Canadá

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A escuridão se aproxima• Currículos nacionais prescritos de forma rígida• A chegada de avaliações cruciais (high stakes tests) para crianças cada vez mais

novas – escola como fábrica de avaliações• Inspeções escolares ganhando cada vez mais poder – poder de fechar escolas,

demitir professores, pagamentos atrelados ao desempenho nas inspeções etc• Rankeamento e competição• Mais poder de escolha para os pais que acaba dstruindo o poder de escolha dos

mais pobres• Formação de professores reduzida à gestão de seu comportamento e preparação

para os testes baseados nos currículos nacionais (N.T.: o ENEM, por exemplo)• Foco em preparar para a prova restringe o currículo – as artes desaparecem• O medo do fracasso assume o controle – crianças perdem confiança em si mesmas

como aprendizes – depressão e automutilação crescem exponencialmente• Coerção e ansiedade levam à recusa escolar, diagnósticos de déficit de atenção e

hiperatividade e prescrição de ritalina – expansão da educação domiciliar

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INSPEÇÃO ESCOLAR

• Meu modelo preferido não tem nada a ver com o que se vê no GERM (Global Education Reform Movement) de Pasi Sahlberg, levado à cabo por meio dos testes numéricos dos testocratas corporativos privatizantes e de políticas guiadas pelo lucro como as utilizadas pelo OFSTED na Inglaterra (N.T.: Office for Standards in Education, órgão do governo inglês que define os padrões de qualidade do ensino)

• Veja a apresentação LIÇÕES FINLANDESAS 2.0 (FINNISH LESSONS 2.0) de Pasi Sahlberg disponível online.

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Moveu-se em direção diametralmente oposta à do GERM (o Grande Movimento de Reforma Educacional doentio e tóxico) nos Estados Unidos e no Reino Unido e é o sistema mais bem-sucedido do mundo nos rankings da OCDE/PISA em aprendizado de matemática, ciência e letramento na língua materna

Algumas características:

Aprendizagem criativa e personalizada X currículos e avaliações prescritas de maneira padronizadaIlegal cobrar mensalidades da educação infantil à universidadeTodos os alunos em “escolas de 9 anos” locais – dos 7 aos 16Voz dos alunos é levada em consideração em todos os níveis do sistemaUm único sindicato para todos os professoresColaboração X competiçãoProfessores altamente qualificados (todos com mestrado)Ilegal agrupar alunos por “habilidade acadêmica”Uma refeição nutritiva provida para todos os alunos da escolaNão há inspeção escolar nacionalCrença de que “menos é mais” – poucas horas na escola e pouco dever de casaPoucas horas em sala de aula para os professores – mais tempo para reflexão colaborativa e planejamento

O sistema escolar finlandês – parte 1

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Pekkarinen, T., Usitalo, R., and Pekkala, S. Education Policy and Intergenerational Income Mobility: Evidence from the

Finnish Comprehensive School Reform. 2006. Bonn, Germany: IZA

O sistema escolar finlandês – parte 2

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• O papel das organizações estudantis nas escolas– Suomen Lukiolaisten Liitto (SLL)– Finlands Svenska Skolungsdomsforbund (FSS)– O projeto de Antonia Wulff – CoE, OBESSU,

Budapeste, Compass, o relatório de Hannam• Veja DEMOKRATI I SKOLE en METODBOK –

Antonia Wulff, Helsingfors, 2010

O sistema escolar finlandês – parte 3

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A Finlândia confunde a testocracia

• Algumas pessoas desvalorizam os resultados da Finlândia no PISA dizendo que eles não têm qualquer relação com as políticas e pedagogias adotadas

• Ou então dizem que as prescrições do GERM não são mais necessárias na Finlândia porque o país possui um sistema tão bom que a inovação e a confiança agora são permitidas (o que eles não dizem é que a Finlândia não utilizou o GERM para chegar onde está hoje!)

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O GRANDE PERIGO que ameaça o controle democrático e a democracia nas escolas

• Os testocratas corporativos privatizantes enxergam o financiamento do sistema público de educação como a fruta baixa no pé esperando para ser colhida

• Primeiro desvalorizam o sistema educacional público – persuadem politicos, gestores públicos e o público em geral dizendo que é esse sistema que está “falhando com as nossas crianças” e, com isso, “nós estamos ficando pra trás” nos rankings do PISA e no cenário da “economia globalizada”.

• Depois se apropriam de boas ideias como as Escolas Autônomas (Charter Schools) nos EUA ou as Academias na Inglaterra, desvinculam esses projetos do mainstream do sistema educacional público e então os transformam em privatizações em massa que visam lucro. Ao privatizar o sistema de escolas públicas dessa maneira, eles começam a colocar seus testes, livros didáticos, inspeções, currículos restritos, formação de professores baseada em testes numéricos e demissões, fechamento de escolas, competição por meio de rankings, escolhas para pais que acabam com o poder de escolha dos mais pobres etc etc etc etc.

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Os antídotos

• Pasi Sahlberg - 2011 – Lições Finlandesas (Finnish Lessons)

• Pasi Sahlberg - 2015 – Lições Finlandesas 2.0 (Finnish Lessons 2.0)

• Diane Ravitch - 2010 – A Morte e a Vida do Grande Sistema Escolar Americano (The Death and Life of the Great American School System)

• Diane Ravitch - 2013 – Reino do Erro (Reign of Error)• Ken Robinson - 2015 – Escolas Criativas (Creative

Schools)

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Voltando à inspeção escolar

• Eu disse com o que ela não deve se parecer.

• O caso de Summerhill – que provou ser possível defender uma escola democrática icônica da ameaça de fechamento por parte do sistema de inspeção testocrático.

• Até mesmo num sistema GERM de escolas públicas livres talvez seja possível não haver inspeção escolar, como ocorre na Finlândia.

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Breves sugestões• A escola está fazendo o que diz que está fazendo? Ex.: averiguar se uma escola do modelo

Sudbury tem reuniões e tribunais com participação dos alunos tal como o modelo requer. Será que os registros dessas reuniões estão sendo guardados?

• As crianças realmente são “livres para aprender”? Os recursos, ou o acesso a eles, estão disponíveis numa atmosfera não coerciva? A cultura de pares está coagindo os alunos mais entusiasmados a esconder seus interesses e paixões ou está os estimulando a voar?

• Os alunos estão seguros no sentido de proteção aos direitos da criança? (muito difícil isso ser um problema no caso das escolas democráticas – Summerhill)

• Os inspetores possuem a experiência e a imaginação necessárias – eles ficam confortáveis na convivência com as crianças e enxergam isso como um elemento-chave do processo?

• Modelo elaborado em 2014 por Hartkamp e Hannam 2014 – me envie um e-mail caso queira uma cópia.

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A missão urgente• Defender o que as escolas democráticas têm a oferecer da forma mais veemente possível –

usando as mídias mais efetivas como palestras no TED (ex.: Ramïn Farhangi alcançando quase 35.000 franceses com uma fala sobre educação democrática, o modelo Sudbdury e a abertura da L’Ecole Dynamique)

• Buscar financiamento estatal a fim de que sejamos tão inclusivos quanto possível.

• Fazer amizades e alianças com os melhores e mais influentes educadores democráticos e gestores públicos nos nossos sistemas escolares públicos (estatais).

• Publicizar e desafiar os programas da testocracia corporativa privatizante. Isso é possível – somente no estado de Nova York 250.000 pais tiraram seus filhos dos Common Core tests (N.T.: testes que avaliam a qualidade do ensino das escolas em cada série a partir de um conjunto de habilidades e conhecimentos definido a priori pelo Estado) – e lutas de pais também começaram na Inglaterra, Espanha e Polônia. Associações de professores e pais estão ocupando mais e mais assentos nos grandes debates educacionais e fazendo perguntas difíceis aos tradicionais detentores do poder. Isso está ficando cada vez mais frequente.

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E para a Finlândia

• Não deixem os testocratas entrarem na Finlândia!!! Resistam à pressão dos rankings de classificação e de escolhas entre escolas baseadas em testes numéricos e, em vez disso, desenvolvam uma rede de experimentos e oportunidades democráticas dentro do sistema escolar público de vocês – que já é ótimo.

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Obrigado!

Adoraria ouvir de vocês e continuar o debate em

[email protected]