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Aula de Sociologia no Ensino Médio - Narrativas sobre o Impeachment de Dilma: da votação na Câmara dos Deputados até a votação no Senado. Nome:______________________________________________Turma:_________ Data: / / Introdução: Em 2016, a menos de 100 dias dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o noticiário em língua inglesa sobre o Brasil não se pautava em problemas que poderiam advir aos turistas que visitariam o país. Tal preocupação estava bem presente na imprensa internacional no período anterior à Copa do Mundo de 2014, com várias dicas de como se comportar e sobreveviver no Brasil. Em 2016, vários temas poderiam ter sido tratados como alertas àqueles que viriam aos jogos: a epidemia de microcefalia causada pelo vírus Zika, a síndrome de Guillain-Barré, a dengue, a febre Chikungunya, os cuidados para com o mosquito Aedes aegypti, o surto de H1N1, a violência crescente no Rio de Janeiro, a falência do sistema de saúde pública, a poluição da Baía de Guanabara, a disputa entre taxistas e o aplicativo Uber , os problemas nas obras públicas, etc. Entretanto, a questão que predominava na imprensa em língua inglesa era o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, seguida de análises econômicas, políticas e sociais da conjuntura brasileira. Em geral, havia uma dificuldade nestes órgãos de imprensa em entender questões fiscais como passíveis de impeachment de uma presidente e não a corrupção ativa propriamente dita. Por outro lado, a alegação de que o Brasil estava passado por um “golpe de estado” também não frutificou na imprensa internacional. Neste processo, foi notável que tanto o governo Dilma quanto a oposição se preocuparam com a interpretação que a imprensa internacional daria à crise política no Brasil. Assim, foi comum que os atores políticos procurassem órgão internacionais para expressarem suas versões dos fatos. Desse modo, nesta atividade, serão lidas três reportagens: a primeira do The Washington Post faz uma análise da percepção da crise nas classes mais pobres do Brasil e a perda de credibilidade do Partido dos Trabalhadores com os trabalhadores do país; a segunda do The Economist faz uma análise do cenário econômico e político que se desenhava com o fim do processo de impeachment no Senado; a terceira da rede britânica BBC comenta as reviravoltas políticas do processo de impeachment, claramente o órgão destaca o exotismo do sistema político brasileiro e seus personagens controversos. Começaremos com uma charge do artista brasileiro Amorim, publicada no site internacional <http://www.cartoonmovement.com/cartoon/29205>. 1) Esta charge foi publicada entre a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara e no Senado em abril de 2016, assim, marque a alternativa que melhor interpreta seu significado: (A) A presidente Dilma Rousseff aguardava ansiosamente a votação no Senado para saber qual seria o seu destino político; (B) Já era dada como certa pela imprensa que o Senado confirmaria o afastamento da Presidente Dilma Rousseff encaminhado pela Câmara, assim, o tempo de Dilma como presidente parecia estar se acabando; (C) Mesmo com a eminência da confirmação do prosseguimento do processo de impeachment no Senado, a presidente continuava se atrasando para seus compromissos; (D) A utilização de créditos de bancos públicos para mascarar o deficit nas contas do governo foi um dos dois fatores que sustentam o pedido de impeachment da presidente; (E) O Congresso Nacional funcionou como um relógio pela celeridade com que acolheu e deu prosseguimento ao processo de impeachment da presidente.

Aula de Sociologia no Ensino Médio - Narrativas sobre o Impeachment de Dilma II

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Aula de Sociologia no Ensino Médio - Narrativas sobre o Impeachment de Dilma: da votaçãona Câmara dos Deputados até a votação no Senado.

Nome:______________________________________________Turma:_________ Data: / /

Introdução: Em 2016, a menos de 100 dias dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o noticiário em língua inglesasobre o Brasil não se pautava em problemas que poderiam advir aos turistas que visitariam o país. Tal preocupaçãoestava bem presente na imprensa internacional no período anterior à Copa do Mundo de 2014, com várias dicas decomo se comportar e sobreveviver no Brasil. Em 2016, vários temas poderiam ter sido tratados como alertas àquelesque viriam aos jogos: a epidemia de microcefalia causada pelo vírus Zika, a síndrome de Guillain-Barré, a dengue, afebre Chikungunya, os cuidados para com o mosquito Aedes aegypti, o surto de H1N1, a violência crescente no Rio deJaneiro, a falência do sistema de saúde pública, a poluição da Baía de Guanabara, a disputa entre taxistas e o aplicativoUber, os problemas nas obras públicas, etc. Entretanto, a questão que predominava na imprensa em língua inglesa era oprocesso de impeachment da presidente Dilma Rousseff, seguida de análises econômicas, políticas e sociais daconjuntura brasileira. Em geral, havia uma dificuldade nestes órgãos de imprensa em entender questões fiscais comopassíveis de impeachment de uma presidente e não a corrupção ativa propriamente dita. Por outro lado, a alegação deque o Brasil estava passado por um “golpe de estado” também não frutificou na imprensa internacional. Nesteprocesso, foi notável que tanto o governo Dilma quanto a oposição se preocuparam com a interpretação que a imprensainternacional daria à crise política no Brasil. Assim, foi comum que os atores políticos procurassem órgão internacionaispara expressarem suas versões dos fatos. Desse modo, nesta atividade, serão lidas três reportagens: a primeira do TheWashington Post faz uma análise da percepção da crise nas classes mais pobres do Brasil e a perda de credibilidade doPartido dos Trabalhadores com os trabalhadores do país; a segunda do The Economist faz uma análise do cenárioeconômico e político que se desenhava com o fim do processo de impeachment no Senado; a terceira da rede britânicaBBC comenta as reviravoltas políticas do processo de impeachment, claramente o órgão destaca o exotismo do sistemapolítico brasileiro e seus personagens controversos. Começaremos com uma charge do artista brasileiro Amorim,publicada no site internacional <http://www.cartoonmovement.com/cartoon/29205>.

1) Esta charge foi publicada entre a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara e no Senado emabril de 2016, assim, marque a alternativa que melhor interpreta seu significado:

(A) A presidente Dilma Rousseff aguardava ansiosamente a votação no Senado para saber qual seria o seudestino político;(B) Já era dada como certa pela imprensa que o Senado confirmaria o afastamento da Presidente DilmaRousseff encaminhado pela Câmara, assim, o tempo de Dilma como presidente parecia estar se acabando;(C) Mesmo com a eminência da confirmação do prosseguimento do processo de impeachment no Senado, apresidente continuava se atrasando para seus compromissos;(D) A utilização de créditos de bancos públicos para mascarar o deficit nas contas do governo foi um dosdois fatores que sustentam o pedido de impeachment da presidente;(E) O Congresso Nacional funcionou como um relógio pela celeridade com que acolheu e deuprosseguimento ao processo de impeachment da presidente.

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Como os governo do Partido dos Trabalhadores perdeu os trabalhadores

The Washington Post, por Alex Cuadros, 24/04/2016 (Tradução: Rodrigo Belinaso Guimarães)

Elen Rodrigues, 24, faz parte de uma geração de brasileiros que cresceu numa era dominada peloPartido dos Trabalhadores – um movimento que pela primeira vez na história deste país profundamentedesigual se pautava na erradicação da pobreza. Esta geração, acompanhada de outros milhões de brasileiros,viram suas vidas melhorarem durante um boom econômico sem precedentes, tal fato inspirava a se falar emum novo Rooseveltian dream, devido à ampla política de bem-estar social no Brasil. Rodrigues, queingressou em uma universidade pública, ainda não tinha se acostumado à prosperidade, quando a economiamergulhou na mais profunda depressão em décadas.

Agora ela é uma, além de muitos dos pertencentes à classe trabalhadora brasileira, que se voltacontra o Partido dos Trabalhadores, rejeitando, até mesmo, seu antigo herói, o sindicalista que chegou àpresidência: Luiz Inácio Lula da Silva. Em meio a uma ampla investigação de propinas e alegações defraudes no orçamento, a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, pode ser impichada pelo Senado no próximomês (maio de 2016). Elen Rodrigues não se importa em presenciar a saída da presidente de seu cargo. “Lulafez um grande trabalho em muitas áreas, mas a corrupção na verdade me desapontou,” disse Rodrigues. “E ogoverno de Dilma é uma confusão total – parece que ela simplesmente não sabe o que está fazendo.”

A crise tem cobrado um pesado preço para as classes mais baixas. A alta da inflação já está erodindoos salários apertados e 3 milhões de brasileiros perderam seus empregos desde o ano passado – incluindomuitos funcionários do setor metalúrgico onde Elen Rodrigues conseguiu um emprego administrativo. Odeclínio no apoio dos trabalhadores não somente torna o afastamento de Dilma Rousseff mais provável, odesapontamento com a presidente e especialmente com o carismático Lula, cofundador de um dos maisduradouros movimentos de esquerda nas democracias latino-americanas, deixa um vácuo que nenhum outropolítico parece capaz de preencher.

Para os brasileiros comuns, parte do apelo carismático de Lula nasceu de sua história de vida.Nascido no desolado sertão nordestino, ele começou a trabalhar numa fábrica de autopeças próxima a SãoPaulo aos quatorze anos. Como líder sindical no fim dos anos 1970, ele enfrentou a ditadura militar eenquanto líder do Partido dos Trabalhadores nos anos 1980, ele ajudou a promover a transição para ademocracia. Lula e o partido chegaram ao poder em 2003. Ele é o primeiro presidente que nasceu pobre eque elevou o salário-mínimo todos os anos de seu mandato. Ele também expandiu enormemente despesasvinculadas ao bem-estar social com o programa chamado de Bolsa Família, que mantém 14 milhões defamílias distantes da fome.

Uma das ironias na queda de prestígio do Partido dos Trabalhadores é a de que seus líderes tinhamantes prometido afastar do poder os políticos corruptos, mas terminaram por produzir seus própriosescândalos. É a história do idealismo que definhou quando entrou em contato com o poder. Para aprovarseus projetos com uma coligação política instável, em um Congresso fracionado, por muito tempo envolvidoem clientelismo e no financiamento de campanhas políticas, alguns dos mais próximos aliados de Lula e deDilma recorreram ao suborno para fazer a máquina andar. “Eu na verdade gostava do Lula,” disse VeraSantos, 28, uma estudante de história do nordeste que vive da pensão de sua mãe adotiva doente. “Eugostava do jeito que ele falava, do quanto ele parecia comprometido em ajudar os mais pobres aconquistarem os mesmos direitos que os demais. Mas o Partido dos Trabalhadores não é o que eu pensei quefosse.”

Lula está sendo investigado no esquema da Petrobras, no qual bilhões foram retirados da companhiapetrolífera estatal, mas ele nega qualquer irregularidade. Ele e Dilma afirmam que o impeachment é umatentativa de golpe promovido pelas elites que usam o escândalo como um pretexto para chegar ao poder.Aliás, muitos dos deputados que votaram pelo impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados este mês(abril de 2016) estão eles próprios implicados neste e em outros esquemas de corrupção.

Enquanto os milhões que marcharam pela destituição de Dilma Rousseff são, em geral, brancos ericos se comparados com o conjunto da população, pesquisas de opinião indicam que por volta de 60 porcento dos mais pobres também apoiam o impeachment da presidente. Eles apenas não tomam as ruas, talcomo os outros. Na maior parte, como Rodrigues, eles vivem longe do centro de sua cidade de mais de 20milhões de habitantes (São Paulo) e teriam que percorrer uma longa viagem em vários ônibus e trens.

Geralmente, aqueles que participam dos protestos reclamam dos efeitos da corrupção na economia,em vez de usarem termos morais. Jumar de Jesus Pereira, 40, que constrói linhas de metro para viver, tinhavotado em Dilma, mas agora quer seu impeachment. “O preço de tudo está aumentando,” ele disse. “Elesestão quebrando o país com toda esta corrupção.” A popularidade de Dilma Rousseff com os mais pobrescomeçou a afundar logo depois que ela venceu de forma apertada sua reeleição em 2014. Com a economia

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mostrando sinais de desaceleração, ela fez campanha prometendo não implementar medidas de austeridade.Contudo, uma vez que ela venceu, abruptamente a economia mudou de curso, reduzindo os benefíciossociais ao mesmo tempo que aumentavam as taxas de juro e o preço da energia. Tais reveses têm provocadouma crise de identidade no Partido dos Trabalhadores. Celso Rocha de Barros, um apoiador do Partido queescreve uma coluna para o jornal Folha de São Paulo, disse que perder o apoio do pobre é o “pior pesadelo”para o movimento. Ele afirma, no entanto, que o governo é o principal responsável por esse fato.

Os “Campeões Nacionais”

Lula deve à sorte parte de seu sucesso. Depois de seu predecessor derrubar a hiperinflação nos anos1990, os preços das commodities subiram cada vez mais e permitiram que ele investisse em programassociais sem criar conflitos com a classe empresarial. Quando os preços das commodities despencaram, obalanço de pagamentos do governo entraram em deficit. Entretanto, Lula e Dilma Rousseff tambémimplementaram políticas que Barros e uma variedade de economistas descrevem como desastrosas – taiscomo isenções fiscais para setores empresariais. Na esperança de criar “campeões nacionais” em áreasindustriais como a de carne e de construção, o Partido dos Trabalhadores transferiu dinheiro para o topo dapirâmide de renda, beneficiando doadores de campanhas ricos ao mesmo tempo que incorporavam centenasde bilhões de dólares à dívida pública.

O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) financiou obras essenciais de infraestrutura taiscomo autoestradas e barragens, mas também projetos de questionável interesse público, como estádios daCopa do Mundo (2014) e, até mesmo, portos e pontes em países estrangeiros – construídos por empresas queestão no esquema da Petrobras. Enquanto isso, metade dos brasileiros ainda não possuem saneamento básico.Esta desconexão não passa desapercebida pelos brasileiros comuns. Crisângela Barbosa, 36, que éempregada doméstica, permaneceu às margens da marcha pelo impeachment em São Paulo. Ela disse que:“eles estão emprestando bilhões para Cuba, Venezuela, África, enquanto nós vamos de mal a pior aqui.”Entretanto, considerando os anseios urgentes dos mais pobres, não é surpreendente o fato deles não seremfavoráveis à oposição ao governo Dilma. Aqueles que estiveram à frente das manifestações peloimpeachment reivindicavam diminuir o papel do Estado, mas pesquisas de opinião mostram que a classetrabalhadora no Brasil tende a querer o oposto: um Estado forte que estenda a rede de seguridade social.

Assim, refletindo uma ampla insatisfação com a classe política, 9 em cada 10 brasileirospertencentes à classe trabalhadora não conseguem apontar um nome de algum político que possa liderar opaís para sair de sua crise. “O Brasil passou por crises antes, mas esta é primeira geração de brasileiros quecomeçam a perder aquilo que tinham conquistado,” disse Renato Meirelles, presidente da agência depesquisas de opinião Data Popular. “E o debate que realmente importa para eles é sobre como criar ascondições para melhorarem de vida, isto não está acontecendo.”

2) Marque (V) verdadeiro ou (F) falso nas expressões seguintes conforme o texto acima e não conforme àssuas convicções pessoais.

(__) Elen Rodrigues pertence a uma geração que participou de um boom econômico, mas que viu suaprosperidade decair com a recessão econômica;(__) com a queda de popularidade do Partido dos Trabalhadores não há outro movimento ou político quepoderia representar, naquele momento (2016), os anseios dos trabalhadores;(__) o Partido dos Trabalhadores e seus líderes nunca prometeram afastar do poder os políticos corruptos;(__) alguns dos mais próximos aliados de Lula e de Dilma recorreram ao suborno para fazer a máquinaandar;(__) muitos dos deputados que votaram pelo impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados estãoenvolvidos em esquemas de corrupção.

3) Sublinhe no texto a passagem que explicaria o porquê dos mais pobres, mesmo aqueles que apoiavam oimpeachment, não terem participado das manifestações contra o governo de Dilma Rousseff.

4) Qual foi a mudança, apontada pela reportagem, entre o discurso de Dilma Rousseff na campanhapresidencial de 2014 e a sua política econômica durante o seu segundo mandato?

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5) Circule no texto uma passagem que explicaria o porquê dos mais pobres mesmo apoiando o impeachmentnão se identificarem com a oposição ao governo Dilma.

O que vem após a votação do impeachment da presidente do Brasil

O vice-presidente provavelmente assuma o poder. Ele não encontrará facilidades para governar o país

The Economist – 18/04/2016 (Tradução: Rodrigo Belinaso Guimarães)

Às 23:07 horas do dia 17 de abril de 2016, o deputado federal Bruno Araújo de Pernambuco proferiuo voto mais memorável de sua carreira no parlamento. O deputado da oposição de centro-direita do Partidoda Social-Democracia Brasileira (PSDB) foi o 342º membro do Câmara dos Deputados do Brasil que possui513 membros a dizer “sim” para a continuidade do processo de impeachment contra a presidente DilmaRousseff. O processo será encaminhado ao Senado. O limite necessário de dois terços dos deputados tinhasido então ultrapassado; os adversários de Dilma na Câmara desataram a comemorar. Ao final da votação,um pouco depois da meia-noite, eles tinham conseguido 367 votos. O governo, liderado pelo Partido dosTrabalhadores de Dilma, contou com 137, somados com 7 abstenções e duas ausências, distante do númerode 172 necessário para barrar o processo.

Em seus breves discursos durante as 6 horas da agitada votação nominal, parlamentares pró-impeachment declararam-se contrários ao desgoverno econômico de Dilma Rousseff e a corrupção no PT – opartido e seus aliados estão envolvidos em um gigantesco escândalo de suborno na companhia petrolíferaestatal, Petrobras. Eles também declararam votar por suas famílias ou por seus eleitores ou por Deus. Umeufórico deputado pró-impeachment disse que votava pela “paz em Jerusalém.” Poucos mencionaram aacusação confusa contra Dilma Rousseff de que ela falsificou com bancos públicos o verdadeiro tamanho dodeficit orçamentário.

Com o voto de Bruno Araújo, o Brasil ingressou em um período tenso e incerto. Nos próximos diaso presidente do Senado, Renan Calheiros, convocará uma comissão para analisar o processo da Câmara dosDeputados. O Senado terá dez sessões para decidir se prossegue com o processo. No plenário, o parecernecessitará da aprovação da maioria simples dos 81 senadores para ter prosseguimento. É provável que avotação ocorra em meados de maio (2016).

Se os Senadores decidirem irem adiante com o processo, como é provável, Dilma Rousseff deve seafastar da presidência. O vice-presidente, Michel Temer assumirá seu lugar por até 180 dias. Depois disso,dois terços dos senadores precisam votar para remover Dilma Rousseff de seu cargo. Assim, Michel Temercumpriria o resto de seu mandato, que termina em 2018. Se ele ao final assumir o poder, encontrará umadesalentadora tarefa: a economia está em queda livre. A produção econômica caiu 3,8% em 2015 e deveráencolher novamente neste ano (2016) algo parecido, conforme o FMI. Mais de 10 milhões de brasileiros ou 1em cada 10 trabalhadores estão sem emprego. A inflação está diminuindo ligeiramente, mas permanecepróxima de 10%, erodindo os salários. Dessa forma, para restaurar a confiança, Temer primeiramente precisareduzir o deficit orçamentário, que foi inflado de 2,4% do PIB para 10,8% desde que Dilma Rousseff chegouà presidência em 2011. Isto tudo requer a combinação de cortes de gastos e aumento de impostos, nenhumadas medidas teria apoio popular – sendo que algumas necessitariam de mudanças constitucionais para serempromulgadas.

Investidores torcem pelo impeachment. Muitos consideram que qualquer um é melhor do que adesafortunada Dilma Rousseff. Em novembro, Temer esboçou um conjunto de propostas de reformas pró-mercado que estão na contramão do programa de esquerda do PT de Dilma Rousseff. Porém, a euforia terávida curta se Temer não apresentar rapidamente uma clara agenda de reformas e uma forte equipeeconômica. Apesar de seus instintos reformistas, nada está assegurado.

Além disso, mesmo com 72% de deputados da Câmara apoiando o impeachment, nada significa queTemer terá facilidades para conseguir maiorias simples para reformas no Congresso, muito menos os trêsquintos de ambas as casas congressuais necessários para aprovar emendas na Constituição. Ele não pode nemmesmo contar com o apoio total de seu centrista Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB):sete dos seus colegas de partido apoiaram Dilma Rousseff durante a votação do impeachment na Câmara,incluindo o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani.

Na montagem de um novo governo, Temer terá que contrabalancear competências tecnocráticas comas demandas de construir uma coalizão entre os 27 partidos do fracionado Congresso. Ele terá que seesforçar para atrair talentos, fora de seus apoiadores, por causa dos problemas de imagem do PMDB. Opartido, que era o aliado mais próximo do PT até romper a aliança no mês passado (março de 2016), está

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também envolvido no caso da Petrobras. Seis de seus Senadores estão sobre investigação, incluindo RenanCalheiros; a Suprema Corte já indiciou o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (abril de2016), por corrupção e lavagem de dinheiro. (Todos negam as irregularidades). O PSDB diz nos corredoresque pode apoiar o governo Temer sem entrar oficialmente no gabinete (embora alguns de seus políticospossam aceitar postos ministeriais).

Embora o mercado seja pró-reforma em princípio, é provável que seja menos entusiástico na prática.A alta de impostos é desaprovada pelas federações empresariais que exercem considerável influência commuitos dos políticos do PMDB. Muitos empresários, especialmente os agraciados do setor manufatureiro doBrasil, não estão tão entusiasmados em cortar seus subsídios ou derrubar as barreiras comerciais que osprotegem da concorrência estrangeira. Tampouco os empresários começarão a contratar de repente todos osdesempregados novamente: os prognósticos para tanto continuam incertos. A austeridade não foi a vencedoradas eleições; o novo governo estará relutante em cortar gastos antes das eleições locais de outubro, que sãoespecialmente importantes para o PMDB.

Talvez a tarefa mais difícil para Temer, uma vez que ele assuma o cargo, será persuadir a grandeminoria de brasileiros que ainda apoiam Dilma Rousseff que ele encabeça um governo legítimo. Não há nadaparecido com a unanimidade testemunhada em 1992, quando o Congresso impichou o primeiro presidentepopularmente eleito, Fernando Collor, por aceitar propinas. Daquela vez, apenas 38 deputados se opuseramao processo; Collor não tinha expressão popular que o defendesse. Apesar dos fracassos políticos eeconômicos, Dilma Rousseff ainda tem aqueles que a defendem. 53 mil manifestantes pró-impeachmentcelebraram o resultado em frente ao Congresso; do outro lado de uma cerca de aço montada pela polícia, emtorno de 26 mil manifestantes contrários gritavam “golpe.” Cenas parecidas – porém sem a cerca – serepetiram pelo Brasil. As multidões antigoverno podem agora se dispersarem, ao menos até a decisão finaldo Senado no próximo mês (maio de 2015). Aqueles que consideram a remoção de Dilma Rousseff como umgolpe antidemocrático provavelmente não ficarão tão quietos.

6) Circule no texto a crítica do jornal ao modo como os deputados brasileiros votaram no processo deimpeachment.

7) Liste ao menos 3 problemas econômicos e sociais que um possível governo Temer teria pela frente pararesolver:a)__________________________________________________________________________;b)__________________________________________________________________________;c)__________________________________________________________________________.

8) Sublinhe no texto uma das dificuldades políticas que um possível governo Temer teria que enfrentar.

Crise no Brasil: o processo de impeachment de Rousseff “volta aos trilhos”

BBC – 10/05/2016 (Tradução: Rodrigo Belinaso Guimarães)

O processo de impeachment contra a presidente do Brasil Dilma Rousseff parece ter voltado aostrilhos depois da revogação do presidente da Câmara de sua surpreendente decisão de suspender a votação doimpeachment (09/05/2016). O presidente Waldir Maranhão não deu nenhuma razão para voltar atrás,decisão tomada menos de 24 horas depois dele ter cancelado a sessão do impeachment da Câmara. Espera-seagora que o Senado vote na quarta-feira (11/05/2016) sobre o prosseguimento do processo de impeachment.Se Dilma perder, ela será suspensa enquanto durar o processo. Ela responde por alegações de que seugoverno violou regras fiscais, o que Dilma afirma ser uma prática comum no Brasil.

A decisão anterior de Maranhão de anular o voto proferido em 17 de abril pela Câmara dosdeputados lançou o processo em um turbilhão. Waldir Maranhão argumentou que houve irregularidadesdurante a sessão da Câmara, onde os deputados votaram esmagadoramente em favor do prosseguimento doimpeachment. Ele disse que os membros da Câmara não poderiam ter anunciado publicamente suas posiçõesantes da votação e que tinha sido um erro os líderes dos partidos terem orientado o voto dos deputados.

Movimentos apressados

A decisão controversa adicionou uma reviravolta dramática na crise política do Brasil. Os mercadosreagiram rapidamente: a moeda brasileira caiu 4,6% antes de se recuperar levemente. O índice das ações daIbovespa caiu em torno de 3,5%, refletindo o mau humor dos investidores com as políticas do Partido dos

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Trabalhadores de Dilma Rousseff, que eles consideram intervencionistas. Entretanto, a decisão causouconfusão principalmente sobre o que aconteceria depois, ou seja, se o voto do Senado sobre o impeachmentde Dilma Rousseff aconteceria na quarta-feira tal como estava planejado.

O presidente do Senado Renan Calheiros afirmou que prosseguiria com o cronograma e acusouMaranhão de “brincar com a democracia”. O discurso de Renan foi acolhido com vaias e aplausos pelossenadores divididos pelo processo. Então, mais tarde, na madrugada (10/05/2016), Maranhão lançou umcomunicado em que dizia que tinha revogado a anulação. Ele não citou nenhuma razão. Os meios decomunicação brasileiros relataram que ele foi pressionado por seu partido de centro-direita, PartidoProgressista, que ameaçou expulsá-lo se ele não mudasse seu posicionamento.

A imprensa brasileira no “furação político”

A última reviravolta na saga do impeachment dominou as manchetes. A mídia tradicional criticou ocaos causado por Waldir Maranhão. O jornal de orientação à direita, O Globo, descreve o evento como um“furação político”, enquanto o jornal regional Diário Catarinense apresenta um artigo intitulado “WaldirMaranhão e o circo do constrangimento nacional.”

Além destes, alguns meios de comunicação focaram nas razões que fizeram Maranhão mudar deopinião. O diário de centro-direita, Folha de São Paulo, escreve que Maranhão “temeu” perder seu mandatose ele não revogasse sua decisão e o inclinado à esquerda, Diário do Centro do Mundo, diz que o presidenteda Câmara foi “pressionado”.

Os eventos também deflagraram reações nas redes sociais. O advogado e jornalista EmersonDamasceno (@EmersonAnomia) escreve no Twitter que Maranhão “será lembrado como o cara quedesagradou gregos e troianos no mesmo dia”.

Maranhão ainda não falou publicamente sobre sua mudança de orientação. Ele tinha desafiado seupartido antes quando votou no dia 17 de abril contra o processo de impeachment ir adiante. Ele somenteassumiu como presidente da Câmara na semana passada. O presidente anterior, Eduardo Cunha, foi suspensopor alegações de que ele obstruiu investigações de corrupção contra ele.

O que vem depois?

O Senado agora espera votar como originalmente planejado na quarta-feira (11/05/2016). Para oprocesso de impeachment ir adiante, a simples maioria terá que votar favorável. Se os senadores votarem afavor, Dilma Rousseff será suspensa enquanto durar o processo e o vice-presidente Michel Temer assumirá opoder como presidente em exercício. No fim do processo, os senadores votarão se eles consideram Dilmaculpada ou não culpada. A maioria de dois terços é necessária para ela ser considerada culpada e ser banidade cargos públicos por oito anos.

9) Sublinhe no texto a passagem que relata a reação econômica ao anúncio da suspensão do impeachment.

10) A reportagem relata três ações controversas de Walter Maranhão no processo de impeachment, aponteestas ações e o motivo delas serem controversas:

17/04/2016: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________.09/05/2016: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________.10/052016: _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________.