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225 CAPITULO 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS “Significa que eu começo do natural para chegar ao social e não o contrario. Porque o natural pode ser perdido, deteriorado, inutilizado, e o social pode se adequar. O que determina que um bom projeto deve estar embasado em dados naturais significativos.” Sylvio Sawaya

Capítulo 7 – Análise dos Resultados

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7º Capítulo da Dissertação de Mestrado "Espaços de Sociabilidade entre comunidades específicas da antiga Fazenda São Roque em Franco da Rocha São Paulo."

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CAPITULO 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

“Significa que eu começo do natural para chegar ao social e não o contrario. Porque o natural pode ser perdido, deteriorado, inutilizado, e o

social pode se adequar. O que determina que um bom projeto deve estar embasado em dados naturais significativos.”

Sylvio Sawaya

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A tendência natural da situação que nos encontramos hoje é de gradativa piora até que cheguemos a um ponto no qual a vida do homem

na Terra se extinguirá. Na nossa metrópole paulistana o que pode acontecer num futuro breve é que o crescimento das áreas periféricas se

tornará um grande problema na preservação da qualidade da água que é consumida por cerca de 10 milhões de habitantes, na realidade isso já

ocorre, mas fingimos que não sabemos que aqui em São Paulo reciclamos o esgoto das ocupações ilegais do sistema de abastecimento da Região

Sul.

Além do assoreamento dos rios e nascentes o que compromete o volume de água, já os esgoto e resíduos industriais jogados nessas águas

comprometem sua qualidade. A centralidade do município de Franco da Rocha (onde está a Fazenda São Roque), em relação a Macro Metrópole

Paulistana, mostra como fatalmente a área do MST se tornará alvo da especulação imobiliária em breve.

Quando esse momento chegar, o que farão os atuais proprietários coletivos da terra? Venderão as áreas coletivas pelo melhor preço em

comum acordo? Os lotes individuais poderão ser loteados? Nesse caso toda a Estrutura do Suporte Biofísico e sua Biodiversidade estaria em real

perigo na área estudada.

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O projeto de espaços de sociabilidade, se refere as dimensões a serem exploradas Arquitetura, através de um programa elaborado

conjuntamente com toda a sociedade. Hoje vivemos em uma torre de Babel, a Constituição Brasileiro de 1988, possui uma redação que pode ser

interpretada de diferentes maneiras, o que prejudica a justiça.

Tais espaços seriam uma forma de efetivar a Quarta Geração de Direitos estes, que segundo o Ministro do Supremo Ricardo

Lewandovsky, é o acesso a Informação1. Pela nova dimensão inserida no fenômeno jurídico, ocultar verdades do Espaço Pleno seria crime, o

que tornam os dados, índices e quaisquer formas de tornar visível aquilo que existe no Mundo Real, num Bem que todo o Ser Humano possui a

Direito de ter consciência.

Saber o que cada um representa e significa para a Sociedade Brasileira, saber igualmente qual o sentido da filigrana de detalhes das

coisas, é direto de todo o cidadão do mundo, ao menos saber onde a resposta se encontra. Em nível mundial, pois a ONU, foi pioneira nesse

intento, ao fazer a declaração Internacional dos Direitos da Pessoa Humana na década de 60 do século passado. Mas como temos que construir a

viabilidade da materialização de tais direitos, há ainda muito a ser feito até que o Ideal seja implantado no Espaço Pleno.

1 Faculdade de Direito - USP. (N.A.), 2007.

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Norberto Bobbio em “A Era dos Direitos”, afirma que nem todos os direitos humanos fundamentais que são absorvidos pela Constituição

Brasileira, são direitos reais na prática. Ou seja, no mundo real eles não têm sua efetivação imediata mesmo estando na lei, porque o Estado tem

o Direito de não cumpri-los, caso não tinha recursos para fazê-lo. Segundo o grande educador Paulo Freire, é somente através das lutas sociais

que se tem a conquista de direitos. Ele admirava o Movimento dos Sem Terra por ter essa característica: a lutas pelos Direitos Sociais.

Para Leonardo Boff o homem tem o direito a liberdade de sonhar, direito que segundo ele tem sido suprimido, pela busca desse modelo

inatingível de beleza que é difundido pela mídia para a manutenção do Modo de Produção Industrial contemporâneo. No qual os homens e

mulheres possuem o mesmo estereótipos iguais: vestimentas, cabelo, casas enfim um Modo de Vida sem Identidade Cultural.

Mas a população brasileira é subserviente devido ao processo de colonização, isso dificulta a implantação da Cidadania Plena, e de fato

a cidade evolui a medida em seus direitos evoluem. No entanto o objetivo do desenho da cidade precisaria ter o foco no Bem Estar do Ser

Humano e garantir seu Espaço Vital. Assim talvez poder-se-ia consolidar os Direitos já legalizados, ainda negados aos mais necessitados pelo

Poder Público. Sabemos que este será um processo longo que lavará algumas gerações para se concretizar, mas que precisa ser iniciado através

da Educação. Se o acesso ao estudo e ao trabalho for democrático, talvez se possa reverter o movimento de degradação da sociedade, para tanto

Claudia Konuma em sua Dissertação de Mestrado sobre a Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno, afirma que isso pode ser possível, através da

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Economia Solidária e com empresas auto geridas pelos moradores. Isso aconteceu com a contratação da ONG Usina Consultoria Técnica

Habitacional2, que deu a consultoria para que auto gerenciassem a construção. Experiência inovadora que não deu muito certo, mas abriu novas

possibilidades, na Comuna Urbana de Jandira, primeiro eles estão construindo as casas, só saberão onde morarão após sua finalização. O método

de Projeto Participativo foi utilizado na elaboração do Espaço de Sociabilidade da Comuna Dom Tomás (desenho na pág. 36), do arquiteto Caio

Boucinhas, a experiência exige muito esforço de todos, e estão todos sujeitos ao risco do equivoco, justamente por serem vanguarda.

A relação da Arquitetura com o cidadão, precisa ser formada, assim se poderá compreender o que a arquitetura quer dizer. Ideal que nos

exige a capacidade de ver novamente as coisas sob o ponto de vista analógico, usar o digital como instrumento e não ser fragmentado por ele.

Isso com relação a qualquer coisa, principalmente as Relações de Trabalho e Poder Político/Religioso, projetar o novo que possibilita a inserção

de todos só poderá ser realizado com a formação de bons arquitetos, que possam compreender e significar o Espaço, para passar esse

conhecimento a população e ter uma resposta dela. Esse processo é o que permite que as relações sociais existentes se fortaleçam e aquelas que

2 Contratada pelo MST e responsável pela finalização do trabalho de Iniciação Cientifica, da aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da Fau-USP, Julia Zaragoza, que foi orientada pelo professor Reginaldo Ronconi. (Associados: Beatriz Bezerra Tone; Fernando Minto; Heloisa Diniz de Rezende; Isadora Guerreiro; Jade Percassi; José Eduardo Baravelli; Luciana Ceron; João Marcos de Almeida Lopes; Mario Luis Attab Braga; Pedro Fiori Arantes; William Eiji Itokazu. Colaboradores: Tiaraju Pablo D’Andrea; Taís Jamra Tsukumo.) www.usinactah.org.br, 2009.

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REGIÃO METROPOLITANA – TAXA CRESCIMENTO POPULACIONAL ATUAL (2005)

CAMPINAS

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

SÃO PAULO

SANTOS

SOROCABA

PARQUE JUQUERY

POPULAÇÃO

FONTE: EQUIPE DISCIPLINA PROJ. SENSÍVEL E TECNOLÓGICO. 2005

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possuem conflitos possam se afastar. Permite criar a consciência das relações existentes na Estrutura do Pratico Inerte, o que permite aos futuros

usuários escolherem com quais dimensões quer se relacionar.

“Jaques Derrida sugeriu que, tradicionalmente, a língua elimina estética em favor da retórica”

(continua)

” Na Arquitetura, porém, é quase o oposto que ocorre. A estética domina a presença no objeto; a ausência ou a qualidade retórica é

suprimida.” 3

O espaço sem significação, ou seja sem arquitetura, cria caminhos sem lugar para o diálogo, assim a ordem dominante se estabelece sem

questionamento e sem a ‘digestão’ da mensagem. Mas, ao proporcionar o encontro, pode fazer as relações de territorialidade se estabelecerem,

tecendo as relações sociais, para assim criar a blindagem econômica necessária para que crises mundiais não entrem em território brasileiro, mas

será que dará tempo de libertarmos as futuras gerações???

3 EISENMAN, Peter: IN: NESBITT, 2006.

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Portanto investigar as possibilidades dos novos Modos de Produção e Vida, através da ciência e tecnologia pode contribuir para inserir

nossa nação na economia global, através de Espaços de Sociabilidade, onde os novos e velhos atores e agentes do Espaço Público possam

desenvolver a Razão Comunicativa habermasiana. É possível construir os inputs e outputs para consolidar os Direitos Legais por meio de

instrumentos como o Planejamento Participativo do lugar. Objetivo da união do método de planejamento integrado do doutor Sylvio Sawaya,

com o método de Processo Participativo desenvolvido por Halprin4, o que permitiria ao mesmo tempo a elaboração coletiva das diferentes

escalas do Projeto Urbano, assim como um Modelo Relacional para o Sistema de Informação e Comunicação.

Isso determina que: apenas a existência de locais para esta finalidade, como objetivo de projeto, não seja suficiente para que cada um

saiba seu papel no Sistema de Relações do Prático Inerte. O diálogo é ferramenta fundamental para a troca de saberes, portanto a linguagem

precisa ser clara, tanto para entender o outro, quanto para se expressar. A necessidade de se estabelecer uma linguagem comum para

estabelecimento do dialogo em nível nacional, pressupõe que todos os ‘brasilianos’5 a conheçam.

4 HALPRIN, 1969. 5 Entendemos que seja preciso mudar a forma com a qual somos chamados, o sufixo eiro, ser relaciona a profissão e não a Nação.

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Mas no Brasil atual, inserido no Sistema Capitalista, o Ser Humano virou objeto: o empregado que acaba fazendo qualquer coisa em

troco do salário, pois o mercado exige do empregador Competência, Competitividade e Lucratividade e neste jogo quem perde é o trabalhador

das periferias de São Paulo, posto que enfrentam viagens de até quatro horas para chegarem ao emprego.

Um trabalhador que mora em Franco da Rocha, mas trabalha em Guarulhos, por exemplo, cujo trajeto é feito em transporte público (trem

e ônibus), chega a demorar cerca de 4h. Com isso fica no transporte 8h, no trabalho outras 8h, sobra pouquíssimo tempo para dormir, se

alimentar e cuidar da família. Quando ele terá tempo de pensar em Vida Activa? Como é que seu filho poderá? Parece que estão fadados a um

destino de trabalhar para sobreviver e apenas isso, tendo em verdade seu Direito Político subtraído, ou por sua ignorância sobre os mecanismos e

instrumentos de ascensão social, ou mesmo por não concordar com eles.

Outra forma muito simples de resolver o problema na área de educação, seria colocar os idosos nos EMEIS da capital, eles poderiam se

alegrar com as crianças, colaborar com as professoras na educação dos pequenos, pois atualmente apenas uma professora, por período no EMEI

Ignácio Henrique Romeiro da capital. E talvez em decorrência da Crise Econômica Mundial o número de crianças cresceu na escola, algumas

crianças novas vão pra escola com uniforme de escolinhas particulares do bairro.

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Para entender como anda a qualidade de vida da população existem diferentes formas de avaliação. O índice mais comum é o de Índice

de Desenvolvimento Humano, mostra um pouco da realidade da vida dos habitantes de uma cidade. Mas como existe a necessidade de medir a

qualidade de vida, esses instrumentos foram também se aprimorando.

Surgiram os Indicadores Ambientais de diferentes tipos de método de avaliação da Qualidade de Vida. A parte final do Relatório Técnico

Parcial sobre a Bacia Hidrográfica Juqueri - Cantareira trata dos Indicadores Ambientais. Essa nova forma de compreender o que ocorre no

Espaço. Surgiu no final da década de 80 do século passado, com a intenção de verificar o Estado do Ambiente. Estudam as pressões que atuam

no Espaço Pleno, também apontam para formas de diagnóstico espacial, através de índices mais complexos, que seriam mais próximas da

realidade. Para chegar neles é feito um padrão de associação de relações pré-estabelecidas por método de análise, são uma forma de melhorar a

comunicação, através da simplificação dos fenômenos.

Ele podem ser aplicados para diferente objetivos, tais como: “atribuição de recursos – suporte de decisões, ajudando gestores na

atribuição de fundos, alocação de recursos naturais e determinação de prioridades; classificação de locais – comparação de condições em

diferentes locais ou áreas geográficas; cumprimento de normas legais – aplicação a áreas especificas para clarificar e sintetizar a informação

sobre o nível de cumprimento das normas ou critérios legais; analise de tendências – aplicação a series de dados para detectar tendências no

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tempo e no espaço; informação ao público sobre os processos de desenvolvimentos sustentável; e investigação cientifica – aplicação em

desenvolvimentos científicos servindo nomeadamente de alerta para a necessidade de investigação cientifica mais aprofundada.”6 Os modelos

existentes são:

PER => PRESSÃO – ESTADO – RESPOSTA: “baseia-se no conceito de casualidade, de acordo com as atividades humanas exercem

pressão no meio ambiente e mudam a qualidade e a quantidade dos recursos naturais.”

6 DGA/DSIA, 2000.

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FER = FORÇA – MOTRIZ – ESTADO – RESPOSTA: são indicadores que classificam também o Desenvolvimento Sustentável. Foi

idealizado para atender o capitulo 40 da Agenda 21, em 1995.

FPEIR => FORÇA MOTRIZ – PRESSÃO – ESTADO – IMPACTO – RESPOSTA: tais indicadores elaboram a caracterização dos

efeitos da ação humana no meio ambiente.

APUD: RELATORIO IPT, 2005.

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PEIR => PRESSÃO – ESTADO – IMPACTO – RESPOSTA: esse modelo procura definir e relacionar o conjunto de fatores que

determinam a qualidade do Suporte Biofísico e o nível de agregação territorial.

PEER => PRESSÃO – ESTADO – EFEITO – RESPOSTA: uma elaboração maior do modelo PER, acrescenta alguns outros pontos,

como uma nova categoria d efeitos.

APUD: RELATORIO IPT, 2005.

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Os modelos são aplicados de diversas maneiras para obter a simplificação dos impactos ambientais em diversos setores, tais como: ar;

água; solo; conservação da natureza; ambiente marinho e costeiro; floresta; resíduos; ruído; economia; energia; transportes; agricultura; turismo;

industria; população; saúde; educação; emprego; segurança social; cultura; justiça; etc..

Eles ainda não são utilizados para medir o que acontece, mas o IPT recomendou: “ O estabelecimento de um futuro sistema de

indicadores ambientais para a Sub-Bacia do Juqueri-Cantareira deve partir de critérios de seleção definidos de forma pactuada com os diversos

atores para, a seguir, se proceder a escolha dos indicadores e a sua descrição de forma técnico - cientifica consistente, com o auxilio de

especialistas nas diversas áreas do conhecimento envolvidas.”

Para Celso Furtado e Caio Prado Junior as soluções, não acontecem devido as resistências, para estabelecer a mudança “é preciso

eliminar velhas práticas políticas e implementar ações sociais que resgatem a cidadania da população excluída, dando-lhes condições para sua

emancipação econômica.” afirma Marcio Pochmann e diz existir um trabalho “hercúleo para quem quiser mudar a face sofrida deste pais.”7

7 AMORIM; CAMPOS; POCHMANN; SILVA, 2004.

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Grande esforço que deve ser combatido com os meios de comunicação, pois eles divulgam novidades que muitos não estão preparados

para conhecer, pois são estão formados para tomar decisões. Dentro da cidade o individuo começa a ter necessidades pelo grupo ou situação

geográfica, relacionadas a mobilidade, lazer, trabalho e educação, tantas coisas a fazer, acelera-se o ritmo de vida, diante do estresse, novas

necessidades surgem! Mas Susan Andrews, monja americana, diz que ele faz bem, que fortalece o sistema imunológico e aumenta a

produtividade, mas a quem esse sacrifício beneficia? Trabalhar tanto por que e para quem? Melhor não seria que dividíssemos nossa parcela da

Petrobrás para que pudéssemos fazer apenas aquilo que quiséssemos fazer, e não aquilo que alguém impôs estruturalmente?