http://amigosdofreud.blogspot.com.br/2009/03/ciume-da-para- controlar.html#.VV1XOvlViko Ciúme: dá para controlar? Um sentimento ligado ao amor, mas que freqüentemente traz dor e angústia, o ciúme é o medo de se perder alguma coisa – um receio de que o ser amado se dedique a outro, por exemplo. Na Filosofia, o ciúme aparece sempre no contexto de uma discussão geral das paixões, em especial daquelas ligadas à amizade e ao amor. E aí há dois grupos distintos: os que acreditam ser preciso extirpar as paixões, já que não podemos controlá-las, e aqueles que afirmam ser possível e vantajoso governá-las por meio da razão. A forma como devemos lidar com o ciúme, de acordo com a Filosofia, vaga entre estas duas linhas. A origem etimológica da palavra ciúme vem do latim zelumen e do grego zelos, por isso, muitas vezes ele é encarado como uma prova de amor, de cuidado com o outro. E daí vem grande parte da controvérsia sobre ser o ciúme algo bom ou ruim, já que, em excesso, ele pode trazer sofrimento tanto para quem o sente quanto para quem é vítima desta paixão. Em geral, as reflexões filosóficas sobre o ciúme o aproximam do amor e do ódio. É o que aparece nas Máximas de La Rochefoucauld, quando este diz que “o ciúme sempre nasce com o amor, mas nem sempre morre com o amor”. Esta frase aponta para o caráter ambivalente do ciúme: começa visando um valor positivo, mas pode se converter na adesão a um valor negativo. É possível dizer que o ciúme tem, inicialmente, uma aparência louvável, por ser natural ao sentimento de amor. “Gostar de alguém ou de alguma coisa implica zelar por sua segurança ou por sua continuidade. Seu caráter ‘zeloso’, porém, facilmente se converte em um sentimento negativo, ao adquirir uma forma possessiva que suprime o caráter positivo desta ‘afeição’, resultando em egoísmo e prepotência ou em insegurança e temor”, afirma Carlos Matheus, doutor em Filosofia e professor titular do Departamento de Filosofia da PUC-SP. Segundo Descartes, o ciúme tanto pode ser positivo quanto negativo. É positivo quando é apenas zeloso e o que se procura preservar é de real importância, e negativo quando está associado ao egoísmo ou à insegurança. Já Espinosa entende o ciúme como algo apenas negativo: é uma tristeza decorrente da ameaça de uma perda. Mesmo dizendo que o ciúme está relacionado ao sentimento do amor, diz que se converte em ódio sempre que a relação amorosa parece ameaçada. Espinosa acrescenta
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Cime: d para controlar? Um sentimento ligado ao amor, mas que
freqentemente traz dor e angstia, o cime o medo de se perder alguma
coisa um receio de que o ser amado se dedique a outro, por exemplo.
Na Filosofia, o cime aparece sempre no contexto de uma discusso
geral das paixes, em especial daquelas ligadas amizade e ao amor. E
a h dois grupos distintos: os que acreditam ser preciso extirpar as
paixes, j que no podemos control-las, e aqueles que afirmam ser
possvel e vantajoso govern-las por meio da razo. A forma como
devemos lidar com o cime, de acordo com a Filosofia, vaga entre
estas duas linhas. A origem etimolgica da palavra cime vem do latim
zelumen e do grego zelos, por isso, muitas vezes ele encarado como
uma prova de amor, de cuidado com o outro. E da vem grande parte da
controvrsia sobre ser o cime algo bom ou ruim, j que, em excesso,
ele pode trazer sofrimento tanto para quem o sente quanto para quem
vtima desta paixo. Em geral, as reflexes filosficas sobre o cime o
aproximam do amor e do dio. o que aparece nas Mximas de La
Rochefoucauld, quando este diz que o cime sempre nasce com o amor,
mas nem sempre morre com o amor. Esta frase aponta para o carter
ambivalente do cime: comea visando um valor positivo, mas pode se
converter na adeso a um valor negativo. possvel dizer que o cime
tem, inicialmente, uma aparncia louvvel, por ser natural ao
sentimento de amor. Gostar de algum ou de alguma coisa implica
zelar por sua segurana ou por sua continuidade. Seu carter zeloso,
porm, facilmente se converte em um sentimento negativo, ao adquirir
uma forma possessiva que suprime o carter positivo desta afeio,
resultando em egosmo e prepotncia ou em insegurana e temor, afirma
Carlos Matheus, doutor em Filosofia e professor titular do
Departamento de Filosofia da PUC-SP. Segundo Descartes, o cime
tanto pode ser positivo quanto negativo. positivo quando apenas
zeloso e o que se procura preservar de real importncia, e negativo
quando est associado ao egosmo ou insegurana. J Espinosa entende o
cime como algo apenas negativo: uma tristeza decorrente da ameaa de
uma perda. Mesmo dizendo que o cime est relacionado ao sentimento
do amor, diz que se converte em dio sempre que a relao amorosa
parece ameaada. Espinosa acrescenta o seguinte aspecto negativo ao
cime: o ciumento tende a adquirir averso pela pessoa amada. Medo
irracional Os esticos, de acordo com o que escreve Digenes Larcio
em Vida e obra dos filsofos ilustres (Cap. VII), incluam o cime
entre as contraes irracionais da alma. Referindo-se a uma obra de
Crisipo sobre as paixes, Digenes afirma que o cime est entre os
temores relacionados expectativa de um mal que escapa ao controle
da razo. Descartes dizia que o cime uma espcie de temor relacionado
ao desejo que se tem de conservar a posse de algum bem Descartes
tambm enfatiza o lado irracional do cime: o cime no decorre da fora
das razes que permitem julgar que este bem possa ser perdido e sim
de uma suposio
2. que faz a respeito do que se julga que pode ser perdido
(Descartes, Tratado das Paixes, art. 167). No mesmo Tratado,
Descartes define o cime como uma espcie de temor relacionado ao
desejo que se tem de conservar a posse de algum bem. Para Matheus,
Espinosa vai alm de Descartes, ao aproximar o cime da inveja,
dizendo ser um sentimento simultneo de amor e de dio acompanhado da
idia de outro de quem se tem inveja (tica, III, Esclio da Proposio
35). Espinosa define a inveja como sendo uma tristeza diante da
felicidade de algum (tica, III, 23), sendo o cime resultante da
imaginao de que a coisa amada se une a outro, de modo a impedir
fru-la sozinho (tica, III, Proposio 35). O cime tem sido
relacionado, em vrias ocasies, inveja por ser um sofrimento
decorrente do sentimento de inferioridade em relao a algum. Como a
inveja, o cime tambm provoca sofrimento em quem no se sente
merecedor de algum prmio, conquista ou aquisio. Os pensadores do
sculo XVIII mantiveram esta viso. O cime como sendo um modo pelo
qual o ser humano se coloca em inferioridade em relao aos demais.
Este o ponto de vista de Adam Smith, exposto em sua Teoria dos
Sentimentos Morais e de Immanuel Kant, em suas Lies de tica. Embora
no se refiram especialmente ao cime, ambos apontam a inveja como
uma conduta na qual h um desejo de alterar a relao entre sua
felicidade e a dos outros. Seria possvel aplicar ao cime o que diz
Kant da inveja: um modo irracional de querer ser feliz. S o
Romantismo ir quebrar essa viso racionalista a respeito do cime.
Surge a paixo romntica, na qual o amor rima com a dor, como duas
faces do mundo emocional. H uma cano popular na qual se expressa
esta viso romntica do cime: o cime o perfume da flor, o cime o
queixume da dor, comenta Matheus. Para o Romantismo, o cime tanto
faz parte das emoes como tambm dos sofrimentos que cercam os
sentimentos humanos. Na vida ou na arte no faltam exemplos de
histrias sobre ciumentos. um sentimento que aparece com freqncia
nas relaes humanas, quer seja nas relaes amorosas entre homem e
mulher como tambm nas lutas pelo poder poltico, nas disputas
econmicas e nos congressos cientficos. Nas relaes familiares so
freqentes as
3. cenas de cimes, especialmente entre irmos, como aquela
narrada pela Bblia, entre Caim e Abel. Os amantes trazem muitos
problemas ao amado, que estariam ligados a uma paixo excessiva que
se traduziria em cime Seria possvel, tambm, dizer que at os deuses
experimentam o sentimento do cime, como teria sido o caso do
castigo sofrido por Prometeu. O cime de Menelau, face ao rapto de
Helena, por Pris, teria sido a causa da Guerra de Tria. E vrias
tragdias de Shakespeare ou de Racine revelam sua presena como um
fator oculto de carter emocional, tornando quase sempre ausentes as
condutas racionais, menciona Matheus. O cime tambm tema recorrente
dentre os filsofos que estudam as paixes e as emoes humanas. Ele
discutido, por exemplo, no Fedro, dilogo no qual Plato se refere
aos conflitos entre amantes, nos quais o cime os torna violentos,
criando uma relao semelhante ao modo como o lobo ama o cordeiro. O
Discurso de Lsias Fernando Santoro, professor da Faculdade de
Filosofia da UFRJ, explica que neste dilogo, Fedro e Scrates esto
lendo o discurso de um amigo, chamado Lsias. Este havia escrito um
pequeno discurso sobre o amor e levantado a tese de que mais
conveniente para o amado ter uma relao amorosa com algum que no
amante (que no o ama) do que com algum que amante (que o ama de
verdade). Isto porque os amantes trazem muitos problemas ao amado.
E esses problemas estariam ligados a uma paixo excessiva que se
traduziria justamente em cime. De acordo com o raciocnio de Lsias,
o aman te muito apaixonado comea a tolher as amizades do amado, a
querer o amado s para si, a no querer que ele parea belo ou bom,
justamente porque isso vai atrair a ateno dos outros. E ele acaba
sendo prejudicial ao amado, porque demasiadamente apaixonado por
ele. Scrates ir se contrapor a Lsias. Ele vai dizer que a situao
apaixonada do amante no necessariamente prejudicial e nem todo
mundo que est apaixonado e em delrio, de alguma forma, algum que
age de modo ruim. Ele vai fazer um elogio, no apenas da condio
apaixonada, mas tambm da condio delirante, que em determinadas
situaes faz que os homens pratiquem coisas melhores do que
simplesmente contidos na razo, explica Santoro. A idia do filsofo
ateniense mostrar que a paixo no necessariamente cria a situao do
cime, de um amor doentio. Para Scrates, a paixo pode ser positiva,
alguma coisa que traz bens da ordem do divino, do sobrenatural, do
mais que humano, diz Santoro. O que no quer dizer que Scrates faa
uma apologia ao cime. Pelo contrrio. O cime ali foi descrito como
aes que prejudicam o amado. Scrates, sem dvida, no seria algum que
elogia o cime, diz. Viso de Freud Freud classifica vrios tipos e
graus de cime. o primeiro seria o cime devido concorrncia com o
rival, que inclui uma ferida narcsica. esse tipo se deve mais a uma
questo de narcisismo, de se perder o ser amado, e de uma competio
pessoal com o outro de modo que, num aspecto ou no outro, o que est
em questo mais o amor prprio do que o amor ao outro, explica Andr
Martins, filsofo e psicanalista, doutor em Filosofia e em teoria
Psicanaltica e professor associado da UFRJ, onde coordena o Grupo
de Pesquisas Spinoza & Nietzsche. O segundo tipo seria o cime
originado da projeo no outro de seus prprios desejos de
infidelidade, realizados ou no. Algo como: se desejamos ter outras
relaes, supomos, inconscientemente, por uma projeo paranide, que o
outro deseja o mesmo. J o terceiro tipo, que Freud considera
delirante, descreve Martins, teria como origem uma homossexualidade
negada, como uma forma de se dizer, inconscientemente, que no ele
que ama o rival, mas ela. O que Freud diz do cime, assim como o que
espinosa diz, constituem abordagens preciosas, embora breves, da
questo que, certamente, merece uma
4. reflexo maior. Afinal, um incmodo afeto que causa muito mal
a todos ns em qualquer cultura e poca da histria, diz o filsofo e
psicanalista. Paixes Scrates no condena as paixes e, sim, a
exacerbao do cime uma das paixes. Santoro explica que sempre que a
Filosofia pensou o homem, a constituio do humano, especialmente da
alma humana, as paixes entraram como um lugar de problematizao
importante. Isso desde o incio da Filosofia. Se h uma coisa que
sempre se percebeu e os filsofos sempre atentaram para isso que a
natureza humana constituda tambm das paixes, de como ela afetada
pelo mundo e de como ela responde ao modo como ela afetada,
explica. O conceito de paixo como sofrimento ou como algo que nos
atinge vindo de fora tem sua origem na Grcia antiga. Os gregos
denominavam pathos toda fora ou ao externa ao sujeito que provoca
neste uma reduo de sua capacidade de agir, explica Matheus. Enfim,
pathos o mesmo que dor. E toda dor, admitia-se, tem sempre alguma
origem externa vontade. Referncias s paixes humanas encontram-se
tanto em Plato e Aristteles quanto entre os epicuristas e os
esticos. Epicuro foi um filsofo que se dedicou especialmente ao
tema, por partir do pressuposto de que a vida humana
fundamentalmente marcada pela dor. Para os latinos como Ccero, por
exemplo as paixes so entendidas como afeces (affectio), isto , como
efeitos externos que causam perturbaes ou comoes decorrentes de
condutas contrrias razo. O significado desta palavra s vai ser
alterado no Romantismo assim como a conotao ambivalente e fugidia
que o cime adquire, como mencionamos acima quando se atribui s
paixes o sentido de emoes intensas ou profundas que impulsionam a
vontade em busca de metas visveis ou remotas. Como diz Hegel, sem
paixo no se faz histria. Esta herana romntica permanece no
vocabulrio contemporneo. No perodo atual, paixo conserva um
significado ambguo, como se encontra em Janklvitch e Sponville.
Paixo ficou mais prxima da virtude e mais distante da dor, explica
Matheus. Toda essa discusso sobre o conceito de paixo para falar
sobre o cime se justifica porque vo existir, na histria da
filosofia, dois modelos de pensamento: um vai condenar as paixes,
tentar abolilas estando o cime a includo , e outro, na linha
contrria, ir defender a moderao destas, isto , chegar a uma medida
que no seja excessiva e nem tambm faltosa. Este ltimo o modelo
aristotlico, por exemplo. Ou o modelo do tipo socrtico ou platnico,
em que a razo governa as paixes. Isto , as paixes a servio da razo.
A razo pode tanto determinar o momento de maior paixo quanto de
menor paixo de acordo com o que ela entenda que seja o melhor, o
mais virtuoso. Os esticos, em oposio, acreditam que as paixes
perturbam a alma e que a virtude se alcana por uma excluso,
extirpao do afeto, das paixes. Segundo os esticos, a virtude
consiste em no se deixar atingir por temores ou esperanas externas,
explica Matheus. Na Filosofia moderna e contempornea tem sido
enfatizada a anterioridade e at mesmo a independncia do mundo
emocional em relao razo. O que se diz que os sentimentos positivos,
como o amor, a alegria e o prazer, e tambm os sentimentos
negativos, como o dio, a tristeza e a dor, escapam ao controle da
razo, afirma Matheus.
5. O Cimes em Machado de Assis e Shakespeare Obra do realismo
brasileiro, Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, um dos
clebres exemplos da literatura em que o cime apresenta-se como tema
preponderante. O narrador- personagem, Bentinho, acredita, sem ter
certeza, que a esposa capitu, a mulher com olhos de cigana oblqua e
dissimulada, o teria trado com seu melhor amigo, escobar. Mesmo
depois de morto o amigo, o cime torna-se a obsesso e faz que Bento
odeie o filho, que tem muitas semelhanas com seu amigo, e mande
capitu para a europa, onde tambm morre. Usando de
intertextualidade, Machado de Assis traz como exemplo em sua obra
outros casos de cime na literatura universal, como em Otelo, o
mouro de Veneza, obra de shakespeare. O narrador se coloca no lugar
de otelo, um general ciumento, e compara capitu a Desdmona, a
esposa de otelo, que era suspeita de t-lo trado, mas na verdade no
o traiu. Por causa das tramas de seu alferes, Iago, otelo
desconfiou de um romance entre a esposa e cssio. otelo ento a mata,
mas depois de descobrir a verdade, mata a prprio. Afetos passivos
Andr Martins, filsofo e psicanalista, doutor em Filosofia e em
Teoria Psicanaltica e professor associado da UFRJ, explica que para
a tradio filosfica todos os afetos eram considerados paixes: afetos
passivos, contrrios razo e, portanto, como seu negativo, seu
oposto, no podendo por ela serem pensados. Ele menciona, como
exemplo, Descartes, que considera que as paixes so idias tornadas
obscuras e confusas pela intromisso do corpo junto ao pensamento:
onde o corpo age, a alma padece, e vice-versa, diz ele. Para que a
alma pense com clareza, cr Descartes, preciso pensar de forma
isolada dos afetos.
6. Espinosa concordar com essa idia. Quando pensamos sob o
efeito de afetos passivos nossos pensamentos sero obscuros e
confusos. Contudo, isso no se deve aos afetos em geral, pois buscar
pensar sem eles, ou de uma forma dissociada, buscar pensar de forma
separada da realidade, o que efetivamente impossvel, consistindo em
um erro da mente e gerando idias falsas sobre as coisas. A moral em
geral baseia-se nesse erro, que Nietzsche chamou de uma tentativa
de corrigir a existncia. A idia que no adianta maldizer a natureza
humana, afetiva e passional, mas compreend-la para tirar melhor
proveito dela, explica Martins. No caso do cime, a relao com a razo
s pode se dar tardiamente, aps sua percepo e sua vivncia. claro que
uma postura emocional equilibrada envolve sempre uma disposio da
mente para assumir o controle de suas emoes, justificando ou
superando seus efeitos opressivos, seja por meio de processos de
sublimao como tambm por meio de um ajustamento da vontade ao plano
dos conceitos racionais, tal como Kant os indica, em sua Teoria da
razo prtica. Enfim, a interpretao racional das paixes um trao do
pensamento iluminista que se perdeu com o romantismo, explica o
professor. Superao do cime passa por investigar sua origem sempre
possvel investigar racionalmente ao sentir cime a origem do temor
diante da ameaa de perda. Mais do que possvel, necessrio. Isto
porque preciso saber se o cime envolve algum valor positivo ou
valor negativo. segundo Descartes, o cime tem carter positivo
quando se aproxima da noo de zelo, quando se trata de conservar
algo de grande importncia, como a riqueza ou a honra. ser negativo
quando se aproxima da avareza, do egosmo ou de mera insegurana
pessoal, explica carlos Matheus, doutor em Filosofia e professor
titular do Departamento de Filosofia da Puc-SP. Sendo positivo, o
cime pode justificar uma ao destinada a impedir a perda. sendo
negativo, cria a necessidade de buscar um valor equivalente ao qual
se possa recorrer para substituir o que se est na iminncia de
perder. Quando negativo, o cime pode ser decorrente de uma baixa
auto-estima e, neste caso, a investigao deve comear pelo exame que
o ciumento deve fazer de si mesmo. Ningum est isento do cime como
uma paixo e como sofrimento mas todos podem super-lo buscando
dentro de si algum motivo para atribuir a si prprio um valor
equivalente quele que se v em risco, sob a ameaa da perda, diz
Matheus. Quanto mais seguros nos sentimos a respeito de ns mesmos
ou de quem somos ou do valor que temos, menos corremos o risco do
cime. No entanto, sempre estamos sob o risco de perdas. Assim como
toda perda entristece, viver pressupondo perdas significa uma vida
bastante infeliz, explica o professor do Departamento de Filosofia
da Puc-SP. Do mesmo modo, viver sob a presso do cime viver sem
liberdade ou sob presso. No fundo, todas as perdas so dolorosas e
causam tristeza, mas saber super-las uma das grandes lies da
Filosofia
7. estica. Neste ponto, Matheus lembra as palavras de epiteto:
s somos livres nos ocupando das coisas que s dependem de ns
(Pensamentos, I). o cime, neste caso, ocorre quando sofremos por
causas que no dependem de ns. A Filosofia, mesmo sem pretender ser
edificante, pode indicar o caminho da sabedoria de que fala
Aristteles, mostrando como as paixes podem ser conduzidas pela
sabedoria prtica. Patrcia Pereira