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I CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE IGUALDADE DE GÉNERO E EMPODERAMENTO DAS MULHERES Contributo das Micro e Pequenas Empresas do sector do turismo no empoderamento sócio- económico das mulheres na província de Inhambane: Caso dos Distritos de Inhassoro, Vilankulo e Município de Inhambane Amélia Saraiva Monguela Rosana da Glória Eduardo Aníbal Amosse de Saúde Lidasse Paulo Machine

Contributo das Micro e Pequenas Empresas do sector do turismo no empoderamento sócio-económico das mulheres na província de Inhambane

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I CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE IGUALDADE DE GÉNERO E EMPODERAMENTO DAS

MULHERES

Contributo das Micro e Pequenas Empresas do sector do turismo no empoderamento sócio-económico das mulheres na província de

Inhambane: Caso dos Distritos de Inhassoro, Vilankulo e Município de Inhambane

Amélia Saraiva MonguelaRosana da Glória EduardoAníbal Amosse de SaúdeLidasse Paulo Machine

ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO 1. Contextualização e justificativa 2. Objectivos da pesquisa3. Metodologia e Grupo alvo4. Resultados 5. Conclusões 6. Recomendações

1. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

• As mulheres estão presentes no mercado do trabalho;

• Enfrentam barreiras sócio-culturais, devido às responsabilidades de gestão familiar e doméstica;

• Torna-se relevante identificar os principais desafios enfrentados pelas mulheres empreendedoras na gestão de seus negócios, pois, além das dificuldades que são impostas às empresas por elas geridas existem as barreiras sócio-culturais, relacionadas à questão que sustenta que o lugar da mulher é em casa a cuidar das tarefas domésticas e criação dos filhos.

2. OBJECTIVOS2.1. Objectivo geral

• Analisar o contributo do empreendedorismo no sector do turismo no empoderamento socioeconómico das mulheres na província de Inhambane.

2.2. Objectivos específicos• Identificar o perfil das mulheres empreendedoras que actuam no sector

do turismo; • Identificar elementos socioeconómicos que interferem nas práticas

empreendedoras das mulheres do sector incluindo as oportunidades e os obstáculos enfrentados no exercício da actividade;

(Cont.)• Perceber a contribuição do crédito formal para a criação e garantia dos

negócios por parte das mulheres empreendedoras;• Avaliar o contributo das empresas identificadas na geração de emprego; • Descrever o contributo dos negócios realizados pelas empreendedoras na

melhoria das condições de vida da família;• Compreender as implicações das práticas empreendedoras no âmbito das

relações de género, no âmbito da família e da comunidade;• Identificar o perfil dos esposos que apoiam as mulheres no

desenvolvimento das actividades empreendedoras no sector do turismo;• Descrever o papel das instituições financeiras na promoção e apoio ao

empreendedorismo feminino no sector do turismo.

3. METODOLOGIA• Técnicas de colecta de dados e Análise de dados • Pesquisa bibliográfica • Questionários – Dados quantitativos: SPSS• Entrevistas semi-estruturadas – Dados qualitativos: análise de

conteúdo.

• Grupo alvo: 42 mulheres proprietárias de Micro e Pequenas Empresas que actuam no sector do turismo; 10 esposos de algumas mulheres empreendedoras; 4 instituições financeiras.

4. RESULTADOS4.1. Perfil das mulheres empreendedoras que

actuam no sector do turismo

• Faixa etária Estado civil

 4.2.2. Factores de impacto no negócio

• Nenhuma empreendedora entrevistada faz parte de alguma associação de negócios seja ela mista ou composta só por mulheres.

• Constatou-se que 48% das empreendedoras fazem parte de grupos de poupança informal (xitique), que são grupos constituídos unicamente por mulheres e 52% das empreendedoras não fazem parte de nenhum grupo de poupança informal.

(Cont.)• Em relação a actividade alternativa, constou-se que 38% das

empreendedoras possuem uma actividade alternativa. Para este grupo de mulheres, a actividade turística é vista como uma actividade de apoio, para suprir as necessidades que não são cobertas pelas actividades principais que elas exercem. • Das mulheres que exercem alguma actividade alternativa, 56% usam

parte do valor obtido como fonte de investimento para o negócio, as restantes 44% usam apenas para as despesas familiares e para reforçar a poupança. • As empreendedoras que não tem nenhuma actividade alternativa (62%),

tem a actividade turística como a principal e são unânimes em afirmar que esta actividade ocupa-lhes muito tempo que não conseguiriam tomar conta de nenhuma outra actividade, mesmo tendo oportunidade.

(Cont.)• Apenas 10% das empreendedoras beneficiaram de uma formação para

melhorar a gestão dos negócios, nas áreas de comércio, empreendedorismo e recepção de clientes.• Apesar de as empreendedoras que beneficiaram de alguma formação

afirmarem ter sido esta importante para o sucesso no negócio, as empreendedoras que não beneficiaram de nenhum tipo de formação também consideram-se bem-sucedidas. Isto leva a perceber que não existe nenhuma relação entre a formação e o sucesso do negócio.  • Aponta-se como principal obstáculo para o sucesso do negócio a

diminuição de turistas causada pela instabilidade política no país.

4.3. Contributo do financiamento formal para o negócio

• Das empreendedoras,76% iniciaram a actividade com fundos próprios, apoiadas pelos esposos ou fruto de uma poupança do salário das actividades alternativas. • As entrevistadas que não recorreram a nenhum financiamento apontam

como principal razão as taxas de juro aplicadas pelos bancos que são muito altas e têm a concepção de que ao aderirem a um financiamento passarão a trabalhar apenas para pagar ao banco e sendo o sector do turismo instável, têm receio que nos momentos baixos tenham os seus bens penhorados. • Em relação as dificuldades para o acesso ao crédito, apenas 5%

das empreendedoras apontam ter enfrentado algum tipo de dificuldade, pela burocracia envolvida no processo. Não foram apontadas dificuldades associadas ao facto de serem mulheres e nem pela filiação partidária.

4.4. Contributo das empresas identificadas na geração de emprego

• Os negócios criados por mulheres geram trabalho para homens e mulheres, sendo 69% para mulheres e 31% para homens.• O papel reprodutivo das mulheres prolonga-se para a esfera pública.

Estas habilidades não conferem a estas mulheres melhores compensações em relação aos homens que não tem as mesmas habilidades, pois não se atribui nenhum valor económico a tais actividades. • As empreendedoras sentem-se mais sensibilizadas pelas dificuldades

que as mulheres enfrentam no seu dia-a-dia, muitas vezes assumindo o papel de “chefes de família” como consequência das relações desiguais de poder.

(Cont.)• Para muitas empreendedoras, é mais confortável trabalhar com

mulheres, pois são mais atenciosas, carinhosas principalmente quando se trata de trabalhos relacionados a cozinha e arrumação de quartos. • Esses atributos conferem às mulheres maior facilidade de

interacção com os clientes e a satisfação destes, que de acordo com as entrevistadas, tem preferências de serem atendidos por mulheres. • Apesar da maioria das empreendedoras terem preferências em

trabalhar com mulheres, existem algumas que optam em trabalhar com homens justificando pelo facto de as mulheres não poderem sair tarde do serviço por serem mães e esposas e porque consideram os homens mais flexíveis e empenhados e alguns serviços requerem mesmo a presença de homens.

4.5. Contributo dos negócios realizados pelas empreendedoras na melhoria das condições de

vida da família• 88% das empreendedoras verificam mudanças na sua vida (os rendimentos

obtidos são suficientes para satisfação das necessidades básicas da família) e 12% dizem ser cedo ainda para verificar mudanças por terem iniciado a actividade a menos de 1 ano (os rendimentos não são satisfatórios). • As principais mudanças que se apontam são: aquisição de viaturas pessoais,

construção e ampliação das suas casas, criação de postos de emprego para membros da família, ampliação do empreendimento e construção de novos empreendimentos (lojas) e sobretudo a independência financeira. • As empreendedoras casadas e em união de facto afirmam que já não

precisam depender dos seus maridos para a satisfação das necessidades básicas e isso implicou posição diferente na família e na sociedade, bem como uma mudança nos padrões de vida da família.

4.6. Implicações das práticas empreendedoras no âmbito das relações de género e no âmbito da

família • 5.6.1. Interferência da actividade na relação com a família

• Das empreendedoras, 86% afirmam não haver nenhuma interferência da actividade empreendedora na relação com a família, apesar de ser esta uma actividade que exige que estejam fora de casa durante todo o dia. As entrevistadas afirmam que por terem filhos crescidos, viverem próximo ou no mesmo espaço com o local de trabalho, terem uma boa planificação garante que superem a interferência que o exercício da actividade podia criar. • 14% das entrevistadas afirmaram sentir uma interferência no exercício da

actividade empreendedora na relação com a família. Para este grupo de mulheres a pressão vem dos filhos que constantemente reclamam da sua ausência e como forma de superar, compensam nas férias dos filhos e auxiliam explicando aos filhos a importância do trabalho que fazem para o futuro destes. • Pelo volume de trabalho que implica ser mulher empreendedora, verifica-se

que 45% tercealizam os trabalhos domésticos, 31% fazem pessoalmente e 24% passam esta tarefa aos filhos.

4.6.2. Tomada de decisões• As entrevistadas solteiras e viúvas, que correspondem a 50% da

amostra controlam os recursos financeiros e têm a responsabilidade de tomar as decisões e fazer a gestão dos recursos que advêm das actividades que exercem. • Entre as mulheres casadas e em união de facto, 48% fazem a gestão

com os esposos, 43% fazem pessoalmente e 9% afirmam que o esposo é que faz a gestão (negócio é conjunto). As empreendedoras afirmam fazer pessoalmente a tomada de decisões quando não tem a necessidade de apresentar ao parceiro os detalhes, mas todas as acções tomadas que impliquem uma aplicação dos lucros deve ser discutida antes com os esposos, o que significa que os esposos não controlam o dinheiro que entra, mas querem ter o controlo sobre os gastos feitos.

(Cont.)• As empreendedoras que afirmam tomar as decisões com os esposos,

não avançam nenhuma acção sem a participação destes e afirmam fazer isso na maioria das vezes para evitar conflitos. • Para as mulheres que gerem o negócio e são os maridos a tomarem as

decisões o fazem por imposição, pois pela vontade delas fariam pessoalmente para ganharem maior autonomia sobre as decisões a serem tomadas no negócio que são elas a controlar.• Os dados dão a indicação de que a prática do empreendedorismo

contribui para o empoderamento das mulheres, ou seja, as empreendedoras estão empoderadas socialmente e psicologicamente, embora ainda parcialmente empoderadas economicamente.

4.7. Perfil dos esposos das mulheres empreendedoras• A faixa etária predominante nos esposos das empreendedoras é a dos

45 a 54 anos com 60%. O nível de escolaridade predominante é o básico completo com 50% e o nível médio completo com 50%.• Os esposos afirmam deixar as esposas sob gestão dos negócios, por

um lado porque elas já faziam algum tipo de negócio quando se conheceram e apoiaram na manutenção para que elas sejam mais autónomas e no caso dos que apoiaram as esposas a iniciarem com o negócio, afirmam terem o feito porque as mulheres são mais pacientes para gerirem esse tipo de negócio e para lidar com os empregados. • Apesar de serem as esposas a dirigirem os negócios, a gestão é feita

pelos dois. Os esposos apontam como uma forma de apoio que prestam às suas esposas quando a gestão é partilhada o que demonstra pouca confiança destes para que elas sejam totalmente autónomas nas decisões a serem tomadas.

4.8. Papel das instituições financeiras no apoio ao empreendedorismo feminino

• As instituições financeiras concedem crédito formal e informal (xitique) a todos interessados desde que cumpram os requisitos exigidos. Os requisitos exigidos para concessão de crédito variam para cada instituição, mas não diferem para homens e para mulheres e são independentes do sector de actividade.• Nas instituições entrevistadas, não existem linhas específicas de crédito para

mulheres com excepção do BCI com a linha BCI Mulher empreendedora e também o cartão BCI Negócios Mulher Empreendedora.• Contudo, não receberam ainda nenhum pedido de financiamento de mulheres

principalmente na área do turismo pelo receio crescente que vem se sentido por parte das beneficiárias em investir neste sector devido a tendência decrescente do seu mercado. • Muitas empreendedoras não recorrem ao Financiamento, pois constatou-se que

apenas uma instituição já trabalhou com uma mulher no sector do turismo o que comprova que realmente as empreendedoras entrevistadas preferem mais trabalhar com fundos próprios.

5. CONCLUSÕES• As empreendedoras que actuam no sector do turismo têm na sua

maioria idade compreendida ente os 35 a 44 anos e são mulheres casadas, em união de facto, solteiras e viúvas e sem nenhuma formação;• A principal motivação para a maioria das mulheres empreenderem é a

necessidade de superar as dificuldades, devido ao desemprego, baixos salários e perda de emprego. • Constatou-se que cerca de metade das empreendedoras fazem parte de

grupos de poupança informal (xitique), que são grupos constituídos unicamente por mulheres e as entradas dos instrumentos de poupança informal são utilizadas para cobrir as despesas domésticas e familiares e também como fonte de investimento para o negócio;• As principais dificuldades encaradas pelas empreendedoras são: a

diminuição de turistas causada pela instabilidade política no país, a falta de supermercados para aquisição dos produtos básicos, a falta de meios para publicitar os serviços e a falta de mão-de-obra qualificada;

(Cont.)• Os serviços financeiros continuam inacessíveis para a maioria das

empreendedoras pela limitação das taxas de juros que são bastante elevadas e pela falta de confiança pelas instituições de financiamento;• Há uma forte tendência das empreendedoras contratarem mulheres para

ocuparem os postos de trabalho que as suas empresas geram, porque dizem ser mais confortável trabalhar com mulheres, pois são mais atenciosas, carinhosas principalmente quando se trata de trabalhos relacionados a cozinha e arrumação de quartos;• A actividade empreendedora afecta negativamente as relações com a

família devido a exigência de tempo que o negócio impõe sobre as mulheres o que muitas vezes dificulta a gestão das responsabilidades familiares.

(Cont.)• Há uma influência positiva na mudança social e económica na vida

das empreendedoras e a principal é a independência financeira que atribui a estas mulheres uma posição diferente diante da família e da sociedade. Sentem-se mais autónomas e mais respeitadas o que lhes confere um empoderamento social;• Os esposos das empreendedoras deixam elas sob gestão dos negócios,

por um lado porque elas já faziam algum tipo de negócio quando se conheceram e por outro, porque as mulheres são mais pacientes para gerirem esse tipo de negócio e para lidar com os empregados;

(Cont.)• A prática da actividade empreendedora por parte das mulheres garante o

acesso aos recursos, sendo o controlo ainda partilhado com os esposos. A autonomia das mulheres ainda não é total, mas estas conseguem espaço para que as suas decisões se façam sentir, mesmo quando o esposo não é a favor, tomando a partilha apenas para respeitar a norma, mas que em alguns casos, no fim as decisões são unicamente tomadas por elas. Esta partilha do poder dessas mulheres com os seus esposos evidencia passos largos a caminho do empoderamento económico das mulheres; • A actividade fortalece a autoconfiança e autonomia das mulheres, pois o

seu trabalho é reconhecido e respeitado pela sociedade o que demonstra a grande contribuição do empreendedorismo para o empoderamento social das mulheres.

6. RECOMENDAÇÕES• Às mulheres empreendedoras e os esposos:• Participação em formações que ajudem na melhoria da gestão do negócio;• Adesão ao crédito formal como forma de garantir o crescimento do negócio;• Aplicação do crédito nos projectos inicialmente propostos.• Inclusão total e justa das mulheres (caso sejam casadas) no processo de

tomada de decisão.• Às Instituições financeiras:• Promoção de campanhas de sensibilização para maior compreensão das

implicações do crédito com vista a quebrar o medo que existe acerca do financiamento bancário;• Criação de linhas específicas de crédito para mulheres com taxas de juro que

favoreçam o reembolso da dívida nos prazos pré-estabelecidos.

Obrigada pela atenção Obrigada pela atenção dispensada!dispensada!