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Da simplicidade brota a felicidade Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1069 Setembro/2013 Croatá Baixio fica pertinho de Croatá-CE, uns 6km de distância, onde vivem D. Raimunda, mãe de 5 filhos, viúva, 82 anos de idade e sua filha, Fátima, agricultora, casada. A casa simples e alegre, de longe, nos convida a parar e entrar. Tudo é atrativo: Uma simpática varanda na frente, sombreada por uma árvore frondosa e ao lado uma bela rede armada entre dois pés de nim, onde num deles, há um lindo “jardim suspenso” em seus galhos, no chão um pequeno canteiro de plantas medicinais e ao redor do muro baixo, uma variedade de plantas e cores de “encher os olhos”! A terra onde moram é herança de família. O sustento da casa, sempre veio da lida na roça. Fátima já trabalhou na cidade, mas gosta mesmo é do campo. Lembra com saudade do tempo em que, ainda criança, andava pelos matos na companhia de seu pai e de seu irmão, ambos falecidos. “Aprendi a armar arapuca, gostava de comer melancia, que nascia sem ninguém plantar. D. Raimunda também confirma: “Desde moça, nunca gostei do trabalho de casa, gostava mesmo era da roça”. O lugar é lindo e agradável, mas como ninguém vive sem dificuldades, o grande problema dessas duas, bravas mulheres, era a escassez de água. Fátima conta que muitas vezes caminhou à noite, com lanterna, para buscar água. No verão a situação piorava. Como as duas criam muitos animais o sofrimento era maior. Em casa, o papagaio Bilu segue D. Raimunda por onde ela vai, e Fátima parece que se tornou a “mãe adotiva” do carneirinho “Estrela”, que é órfão, mas não lhe falta o carinho e cuidado “maternal”, toma leite na mamadeira em horários regulares. Além desses, ainda tem, porco, periquito, galinha, peru, bovino, ovino, caprino, pombos... Tem amplo espaço para todos no quintal da casa, a comida é farta e os cuidados também.

Da simplicidade brota a felicidade

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O Candeeiro - Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas, nº 1069

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Da simplicidade brota a felicidade

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1069

Setembro/2013

Croatá

Baixio fica pertinho de Croatá-CE, uns 6km de distância, onde vivem D. Raimunda, mãe de 5 filhos, viúva, 82 anos de idade e sua filha, Fátima, agricultora, casada. A casa simples e alegre, de longe, nos convida a parar e entrar. Tudo é atrativo: Uma simpática varanda na frente, sombreada por uma árvore frondosa e ao lado uma bela rede armada entre dois pés de nim, onde num deles, há um lindo “jardim suspenso” em seus galhos, no chão um pequeno canteiro de plantas medicinais e ao redor do muro baixo, uma variedade de plantas e cores de “encher os olhos”!

A terra onde moram é herança de família. O

sustento da casa, sempre veio da lida na roça. Fátima

já trabalhou na cidade, mas gosta mesmo é do campo. Lembra com saudade do tempo em que, ainda criança,

andava pelos matos na companhia de seu pai e de seu irmão, ambos falecidos. “Aprendi a armar arapuca,

gostava de comer melancia, que nascia sem ninguém plantar. D. Raimunda também confirma: “Desde

moça, nunca gostei do trabalho de casa, gostava mesmo era da roça”.

O lugar é lindo e agradável, mas como ninguém vive sem dificuldades, o grande problema dessas

duas, bravas mulheres, era a escassez de água. Fátima conta que muitas vezes caminhou à noite, com

lanterna, para buscar água. No verão a situação piorava.

Como as duas criam muitos animais o sofrimento era

maior. Em casa, o papagaio Bilu segue D. Raimunda por

onde ela vai, e Fátima parece que se tornou a “mãe

adotiva” do carneirinho “Estrela”, que é órfão, mas não

lhe falta o carinho e cuidado “maternal”, toma leite na

mamadeira em horários regulares. Além desses, ainda

tem, porco, periquito, galinha, peru, bovino, ovino,

caprino, pombos... Tem amplo espaço para todos no

quintal da casa, a comida é farta e os cuidados também.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Realização Apoio

As Cisternas de Placas e a Cisterna Calçadão trouxeram a tranqüilidade e o acesso a água que faltava na vida de D. Raimunda, de sua filha Fátima das plantas e animais criados por elas. Agora tem água para o consumo doméstico, para as criações e para o plantio. É uma variedade incrível de cultivos, tanto no quintal produtivo como no espaço ao redor da cisterna calçadão: tem cheiro verde e cebolinha, melancia e jerimum, batata doce e pimentão, laranja, graviola e limão, milho, alface e romã, cenoura, pimentinha, caju e feijão. O capim não foi esquecido, cresce verdejante para saciar a fome dos bichos.

Uma vida simples é admirável! Mãe e filha

cuidando bem uma da outra, repartindo o trabalho da

casa, com os bichos, com a terra, com a água, com a produção. Felizes com o que fazem, satisfeitas com o

que têm, sem grandes expectativas de consumo ou de posse. O aperreio só vem mesmo, quando falta

comida ou água para os bichos. Os gastos com eles superam os da casa. A maioria da produção é para o

consumo, D. Raimunda se orgulha em dizer que gosta de dar parte do excedente para a vizinhança e amigos

que chegam em sua casa. Também já formou sua freguesia para o comércio de ovos, galinhas, verdura...

gente que vai comprar lá mesmo, na porta da casa, às vezes, parte da produção é levada para a cidade.

Fátima diz que não tem o que reclamar da vida que leva. Apesar dos problemas de saúde, na coluna,

trabalha muito e diz “É bom ter o que fazer!”. D. Raimunda, completa: “só quero saúde pra continuar perto

das filhas, do neto Fernando e da neta Tainá. Essa mulher de idade avançada, apesar de hipertensa, tem

muita disposição para o trabalho. Mãe e filha dão verdadeiros exemplos de solidariedade, como diz D.

Raimunda: “Ela me ajuda e eu ajudo ela” “Essa daí é minha vida!” referindo-se à Fátima, que além de

todo o trabalho doméstico, com os animais e da roça é quem resolve tudo fora de casa.

Determinadas, D.

Raimunda e Fátima sabem o

que querem para suas vidas,

convivem bem uma com a

outra, cuidando dos bichos e

do ambiente ao seu redor, de

um jeito como se tudo fosse

um só corpo. Há uma

espiritualidade muito forte

voltada para a gratidão à Deus, por todos os benefícios que têm recebido, seja pelos frutos do trabalho na

terra, seja pela participação de outras pessoas na conquista de seus direitos e do bem viver. Uma vida

simples traz vantagens e quali-dade de vida para todos.