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Devaneios sobre “The Catcher in the Rye”

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Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão da disciplina Redação Publicitária II, ministrada no Departamento de Publicidade e Propaganda, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, pelo Prof. Dr. João Anzanello Carrascoza.

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Page 1: Devaneios sobre “The Catcher in the Rye”

Universidade de São Paulo

Escola de Comunicações e Artes

Fernando Carvalho Tabone

Devaneios sobre “The Catcher in the Rye”

Comentários de um estudante de publicidade sobre a obra literária de Jerome David

Salinger, “O Apanhador no Campo de Centeio”.

Trabalho apresentado como requisito

parcial para conclusão da disciplina

Redação Publicitária II, ministrada no

Departamento de Publicidade e

Propaganda, da Escola de Comunicações e

Artes da Universidade de São Paulo.

Prof. Dr. João Anzanello Carrascoza

São Paulo

Novembro/2012

Page 2: Devaneios sobre “The Catcher in the Rye”

- Me diga o que você viu de tão maravilhoso nesse livro?

- Bem, o garoto. A maneira como ele odeia tudo que é falso...muito consciente.

- Você vê? Me parece uma bagunça.

- Mas como ser humano, por todos os seus defeitos...digo, sentiu pena dele, não?

- Não. Eu não gosto da maneira que ele fala.

Diálogo sobre o livro The Catcher in the Rye entre os personagens

Freddie Clegg e Miranda Grey, no filme “O Colecionador (The

Collector)”.

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Introdução // Comentários iniciais

Confesso que não conhecia com propriedade a obra “O Apanhador no Campo do

Centeio”, de Salinger, antes do professor recomendá-la como opção para este

trabalho. Mas, mesmo sem me lembrar muito bem, certamente já tinha ouvido

menções sobre livro – ao menos no filme “Teoria da Conspiração” (Conspiracy Theory,

dirigido por Richard Donner e estrelado por Julia Roberts e Mel Gibson), dei-me conta

somente durante o trabalho.

Antes de adquirir o livro para leitura e mesmo durante a leitura, quando mencionava a

alguém sobre o livro, fui percebendo que se tratava de uma obra amplamente

reconhecida e, aparentemente, muito midiática. E praticamente tudo que ouvi ou li

sobre o livro girava em torno do aspecto “diabólico” do romance.

As minhas percepções na leitura, no entanto, não se centravam somente nesse

aspecto. É claro que o jeito perturbado da narração, feita pela personagem Holden

Caulfield, é muito claro. Mas não foi o ponto que mais me atraiu minha atenção.

Primeiro, pois, particularmente, sempre tenho imenso receio das alterações

proporcionadas pelo tradutor de uma obra estrangeira. Neste caso, como não li a

original, não sei até que ponto o aspecto irritante da linguagem, com diversas

repetições de expressões – por sinal, muito chatas –, não se deve a maneira com a qual

a obra foi traduzia. Por esse motivo fiz questão de deixar no título deste trabalho o

título original do livro, em inglês, “The Catcher in the Rye”. Em Portugal, por exemplo,

segundo a Wikipédia, a obra é encontrada com o título “Uma Agulha num Palheiro”,

ou seja, completamente distinto do original.

Segundo, pois o tempo inteiro relembrava o romance Dom Casmurro, de Machado de

Assis. A metalinguagem, os diálogos constantes com o leitor, os conflitos internos, aos

questionamentos, as desconfianças, etc, faziam-me constantemente associar Holden

ao Bentinho, e Salinger ao Assis. Em certo momento, também, lembrei de Simão

Bacamarte, do conto Alienista, também de Machado de Assis. Imaginei que Holden, ao

ficar achando que todas as pessoas eram falsas, talvez pensasse no final que ele

pudesse ser o grande falso da história, assim como Simão concluiu acerca da loucura.

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Terceiro, foquei também em analisar a obra sob um ponto de vista publicitário,

tentando fazer relações do romance com a profissão. A princípio pareceu difícil, mas

agora, creio que as relações podem ser muitas. Exponho algumas mais a frente, mas a

principal destaco logo: é o efeito midiático do livro.

‘O Apanhador’ e a publicidade // Uma obra midiática

The Catcher in the Rye, foi inicialmente uma publicação periódica em revista, entre os

de 1945 e 1946 (Wikipédia, 2012), e saiu em formato de livro apenas em 1951 (Livraria

da Folha, 2012). O romance foi forjado em um meio periódico. Provavelmente,

Salinger não o concebeu de uma única vez, mas aos poucos, publicação após

publicação na revista, acompanhando a recepção do público e alterando conforme o

necessário. Não podemos afirmar isto com certeza. A informação, inclusive, carece de

fontes seguras. Mas, confirmada a procedência, seria já, logo na concepção da obra, a

primeira forte relação com o mundo publicitário. Tanto no meio, revista, quanto no

modo, que acompanha a recepção do público e sofre influências da audiência.

Mas a característica principal, é, sem dúvida, o efeito midiático do livro. A obra foi

publicada em um período histórico em que novos meios de comunicação hoje

tradicionais, começavam a ganhar as massas, como o cinema e a televisão. E em

função do romance ter adquirido a áurea de despertar e “estimular o comportamento

psicótico nos jovens” (Livraria da Folha, 2012). Muito em função da acusação

infundada de que o assassino do John Lenon teria sido encontrado portando um

exemplar do livro. Este boato, assim os atuais, também se espalhou através da mídia

social, mas a sua maneira. Se hoje a mídia social se expressa mais fortemente através

das redes social digitais, como Facebook, Twitter, etc, no século XX era diferente, a

mídia social, que por essência significa algo próximo de “o ser humano em seu convívio

social como mídia”, expressava-se de outras maneiras. Em relatos pessoais, nas

reuniões sociais, nos jornais, nas músicas, etc. A seguir, no tópico “Curiosidades” do

artigo sobre o livro publicado na Wikipédia, alguns exemplos do efeito que este

primeiro boato gerou.

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“O assassino de John Lennon, Mark David Chapman, carregava este livro

consigo no dia em que cometeu o crime. Segundo testemunho do próprio Chapman,

estava lendo o "Apanhador no Campo de Centeios", minutos antes de tentar o suicídio

e da obra teria tirado inspiração para matar John. Outro fato curioso é que o atirador

que tentou matar Ronald Reagan em 30 de abril de 1981, afirmou a mesma coisa, ou

seja, que teria tirado do livro a inspiração para matar o presidente Reagan, não

obstante, o assassino de Rebecca Schaeffer, Roberto John Bardo, carregava consigo o

livro quando a matou. No filme "Teoria da Conspiração ", Mel Gibson faz o papel de um

motorista de taxi psicótico, que acha que todos estão contra ele, ele possui uma

compulsão, comprar diariamente um mesmo livro, "o Apanhador no Campo de

Centeio", em sua casa existem milhares de exemplares dessa obra, por conta de uma

dessas compras ele é descoberto por seus inimigos e quase acaba morto.

A banda punk-rock californiana Green Day gravou em 1991, no seu segundo

álbum intitulado Kerplunk! a música Who Wrote Holden Caulfield?, baseada no livro. O

vocalista, guitarrista e compositor Billie Joe Armstrong compôs a letra baseada no livro

pois para ele, Holden Caulfield, o personagem principal, era como ele, um cara rebelde,

largado e "invisível". Billie teve que ler esse livro durante o colegial, mas acabou não

lendo. Tempos depois, ele resolveu ler e acabou tornando um dos seus livros favoritos.

O desenho South Park teve o episódio "A Historia de Scrootie Sodomita"

baseado na obra. No CD Chinese Democracy (2008) do Guns N`Roses a sétima faixa se

chama "Catcher In The Rye" a história da letra é que o livro influenciou Mark Chapman

a cometer o assassinato de John Lennon.”

A obra ainda é citada entre dezenas de outras publicações, por exemplo, na citação inicial

deste trabalho, no filme “O Colecionador (The Collector)”, de 1965, do diretor William Wyler.

Juntando o boato sobre o assassino do John Lenon, com a efervescência midiática, o livrou se

propagou largamente e ganhou os mais diversos adjetivo, entre: diabólico, psicopata, rebelde,

polêmico, perturbador, etc. Entrando para história como uma das obras mais lidas da literatura

américa, e também uma das mais vendidas, 60 milhões de cópias ao redor do mundo (Folha

Online, 2010).

Além do mais, o arquétipo adolescente do personagem, é também uma ótima inspiração para

qualquer publicitário que deseja se comunicar com os jovens. Para um publicitário, conseguir

alcançar o cerne das questões mais profundas do seu público pode ser uma boa estratégia de

sucesso, pois dialoga com o consumidor e pode gerar identificação com o produto. Como

exemplo da prática, recentemente a empresa de cosméticos O Boticário fez campanha para

sua marca de hidratantes, Nativa SPA, comunicando basicamente que a linha de produtos

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ajudaria a mulher a se sentir mais linda, a ponto de reconquistar o amor frustrado e,

estimulando o egocentrismo feminino, humilha-lo dispensando-o. O título do filme da campanha

é “A fila anda”, e o mote é “Nativa SPA. Quando você se sente, o mundo percebe.”, ou seja,

busca claramente dialogar com questões do mundo feminino.

Além de retratar os conflitos de um adolescente, o livro também descreve muito bem a cidade

de Nova Iorque nos anos 40. Holden declara seus locais preferidos e mais odiados da cidade e

também expressa os costumes e hábitos dos habitantes. Uma ótima referência para analise da

cidade.

"Este é um dos três livros perfeitos da literatura americana. E nenhum outro

livro conseguiu capturar melhor uma cidade do que 'O Apanhador no Campo de

Centeio' capturou a Nova York dos anos 40." (Adam Gopnik, Livraria da Folha, 2010)

“Quem mora em Nova York sabe que o Bar Wicker funciona no Hotel Seton, um

hotel metido a grã-fino. Eu costumava ir muito lá, mas agora parei de ir. Fui deixando

aos pouquinhos. É um desses lugares considerados muito sofisticados e tudo, e tinha

cretinos aos montes.” (O Apanhador no Campo de Centeio, p. 139)

Uma analogia mais distante e bastante fantasiada, também pode ser feita entre as

diversas identidades que Holden assume no seu dia-dia, com o publicitário, que no seu

dia-dia, como profissional, é a voz de diversas marcas. Em um dia o publicitário se

apresenta, por exemplo, como a marca Ford, no outro, como a marca Coca-cola. E

dependendo do público com o qual vai se comunicar, utiliza-se de diferentes táticas e

linguagens. Quanto melhor o publicitário, maior seu poder de mascarar suas

características, gostos e linguagens pessoais, a fim de comunicar bem para as mais

distintas marcas. Holden assume variados papéis, cada vez com um objetivo

diferentes, tentando se adequar as mais diversas situações, sempre mascarando sua

identidade real.

“- Rudolph Schmidt – respondi. Não estava com a mínima vontade de contar a

ela toda a história da minha vida. Rudolph Schmidt era o nome do zelador do nosso

dormitório.” (O Apanhador no Campo de Centeio, p. 58)

“- Qual a tua idade, chefe? – perguntou o cabineiro.

- Por quê? Vinte e dois.

- Hum, hum. Bom, como é que é? Tá interessado? Cinco pacotes uma bimbada.

(...)

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- Permita que eu me apresente. Meu nome é Jim Steele.

- Você tem um relógio ai?” – ela perguntou. Evidentemente, estava pouco

ligando para o meu nome. – Êi, espera aí, quantos anos você tem?

- Eu? Vinte e dois.” (O Apanhador no Campo de Centeio, p. 94-96.)

Conclusão // E mais comentários

Entre os diversos pensamentos e reflexões sobre a obra, certamente o que chamou

mais atenção foi o fator midiático do livro, que repercutiu muito ao longo dos anos, e

parece ainda repercutir. A intenção inicial era relacionar o romance ao contexto

publicitário. O que parecia impossível aos poucos pareceu fácil, e chego a conclusão de

que são muitas as possibilidades de relação da obra com a publicidade, e mais que

isso, a obra demonstra-se uma excelente referência para qualquer publicitário.

Inclusive pela linguagem - apesar de ser uma obra traduzida – que de modo único,

expõem os modos de expressam de um adolescente, por diversas vezes, bem irritante.

Mas me encantou muito, também, as possíveis relações com as obras de Machado de

Assis. Creio que seja possível se extrair um bom artigo acadêmico relacionando estes

autores, em especial nos seus respectivos romances “O Apanhador no Campo de

Centeio” e “Dom Casmurro.

Abaixo algumas fotocópias do material coletado na pesquisa para o trabalho, são

exemplos da repercussão midiática da obra.

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Bibliografia

Folha Online. Obra-prima de Salinger é "manual do desajustado", diz professor; ouça.

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/podcasts/ult10065u686067.shtml>

28/01/2010.

Folha Online. Morre o escritor J.D. Salinger aos 91 anos. Disponível em <

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u686020.shtml> 28/01/2010.

O Apanhador no Campo de Centeio, Livraria da Folha, disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/podcasts/ult10065u686067.shtml> visualizado

11/11/2012.

O Boticário. Campanha Nativa SPA “A Fila Anda. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=yPKPdUvaZ8w> 15/05/2012.

Radar Cultura. Entrelinhas, J. D. Salinger. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=HB4suoVvnNU> visualizado em 11/11/2012.

Salinger, J. D. O apanhador no Campo de Centeio. 15ª Edição, Rio de Janeiro, Editora do Autor.

Wikipédia. The Catcher in the Rye, disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Catcher_in_the_Rye> visualizado 11/11/2012.