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Maura Montella Economia para concursos conceitos e exercícios 1ª edição São Paulo Editora Clube de Autores – 2012

Economia

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Maura Montella

Economia para concursos conceitos e exercícios

1ª edição

São Paulo Editora Clube de Autores – 2012

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MONTELLA, MAURA Economia para concursos: conceitos e exercícios. 1ª edição. São Paulo,

Clube de Autores, 2013

1. Economia 2. Microeconomia 3. Macroeconomia 4. Concurso público

www.sage.coppe.ufrj.br/mauramontella São Paulo Editora Clube de Autores - 2012

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PARTE I: O LADO REAL DA ECONOMIA 10

1 DEFINIÇÃO E OBJETO DA ECONOMIA 10

1.1 Conceitos preliminares 10

2 A DEMANDA E A OFERTA 14

2.1 A demanda 14

2.2 Deslocamentos da curva de demanda 18

2.3 A oferta 27

2.4 Deslocamentos da curva de oferta 29

3 O EQUILÍBRIO DE MERCADO 35

3.1 O equilíbrio entre demanda e oferta 35

3.2 Mudanças no equilíbrio 39

3.3 Tabelamento de preços 44

4 O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR E O EXCEDENTE DO PRODUTOR 45

5 AS ELASTICIDADES 47

5.1 Elasticidades da demanda 48 5.1.1 A elasticidade-preço da demanda 48 5.1.2 A elasticidade-renda da demanda 61 5.1.3 A elasticidade-cruzada da demanda 63

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5.2 Elasticidade-preço da oferta 64

6 AS ESTRUTURAS DE MERCADO 70

PARTE II O LADO REAL DA ECONOMIA 76

1 ECONOMIA COM DOIS AGENTES 76

1.1 O conceito de fluxo econômico 76

1.2 O fluxo econômico em uma economia com dois agentes 76

1.3 As identidades contábeis em uma economia com dois agentes 78

1.4 Comportamento das variáveis de uma economia com dois agentes 81 1.4.1 A função consumo 81 1.4.2 A função poupança 85 1.4.3 A função investimento 90 1.4.4 A demanda agregada com dois agentes 92 1.4.5 O equilíbrio com dois agentes 93 1.4.6 Injeções e vazamentos numa economia com dois agentes 98

2 ECONOMIA COM TRÊS AGENTES 100

2.1 O fluxo econômico em uma economia com três agentes 100

2.2 As identidades contábeis em uma economia com três agentes 103

2.3 O comportamento das variáveis de uma economia com três agentes 106 2.3.1 A função consumo e a função investimento 106 2.3.2 A função gastos do governo 106 2.3.3 A função tributos 107 2.3.4 A demanda agregada com três agentes 108

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2.3.5 O equilíbrio com três agentes 109 2.3.6 Injeções e vazamentos numa economia com três agentes 112

3 ECONOMIA COM QUATRO AGENTES 114

3.1 O fluxo econômico em uma economia com quatro agentes 114

3.2 As identidades contábeis em uma economia com quatro agentes 115

3.3 O comportamento das variáveis de uma economia com quatro agentes 118

3.3.1 As funções consumo, investimento, gastos do governo e tributos 118 3.3.2 A função exportação e a função importação 119 3.3.3 A demanda agregada com quatro agentes 119 3.3.4 O equilíbrio com quatro agentes 121 3.3.5 Injeções e vazamentos numa economia com quatro agentes 123

3.4 A teoria keynesiana 125 3.4.1 O multiplicador keynesiano 128

4 A DISTRIBUIÇÃO DA RENDA 130

4.1 Os principais agregados macroeconômicos 130

4.2 A distribuição da renda 137 4.2.1 A curva de Lorenz e o coeficiente de Gini 139

PARTE III: O LADO MONETÁRIO DA ECONOMIA 145

1 OS ATIVOS FINANCEIROS 145

1.1 O título 145

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1.2 A moeda 147 1.2.1 A origem e a evolução da moeda 147 1.2.2 As funções da moeda 150 1.2.3 A demanda por moeda 151 1.2.4 A oferta de moeda 155 1.2.5 O equilíbrio no mercado de moedas 159 1.2.6 Criação e destruição de meios de pagamento 160 1.2.7 Criação de moeda bancária 161

2 POLÍTICA MONETÁRIA 163

2.1 A taxa de juros e o lado real da economia 163

2.2 Políticas expansionista e contracionista 165

2.3 Mecanismos de controle monetário 166 2.3.1 Os depósitos compulsórios 166 2.3.2 A taxa de redesconto 167 2.3.3 As operações de open market 167

PARTE IV: O DESEMPREGO E A INFLAÇÃO 170

1 A QUESTÃO DO DESEMPREGO 170

1.1 A composição da população de um país 170

1.2 A taxa de desemprego e a taxa de atividade 173

1.3 O mercado de trabalho 174 1.3.1 A demanda por trabalho 175 1.3.2 A oferta de trabalho 176 1.3.3 O equilíbrio no mercado de trabalho 176

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1.4 Os tipos de desemprego 179 1.4.1 Desemprego friccional ou natural 180 1.4.2 Desemprego cíclico ou conjuntural 181 1.4.3 Desemprego estrutural ou tecnológico 181 1.4.4 Desemprego sazonal 182 1.4.5 Desemprego forçado ou subemprego 182

1.5 O conceito de pleno emprego 182

2 A QUESTÃO DA INFLAÇÃO 186

2.1 O conceito de inflação 186

2.2 As causas da inflação 187 2.2.1 A inflação de demanda 187 2.2.2 Inflação de custos 190 2.2.3 Inflação inercial 193

3 A RELAÇÃO ENTRE O DESEMPREGO E A INFLAÇÃO: A CURVA DE PHILLIPS 194

PARTE V AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 198

1 O BALANÇO DE PAGAMENTOS 198

1.1 Estrutura geral do Balanço de Pagamentos 198

1.2 Detalhamento das contas do Balanço de Pagamentos 200

1.3 O Balanço de Pagamentos do Brasil 206

2 A TAXA DE CÂMBIO E O MERCADO DE DIVISAS 209

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2.1 O conceito de taxa de câmbio 210

2.2 O mercado de divisas 212 2.2.1 A demanda por divisas 213 2.2.2 A oferta de divisas 215 2.2.3 O equilíbrio no mercado de divisas 216

2.3 As taxas de câmbio fixas e as taxas de câmbio flutuantes 218 2.3.1 O regime de taxas de câmbio flutuantes 218 2.3.2 O regime de taxas de câmbio fixas 219 2.3.3 Vantagens e desvantagens de cada regime cambial 221

3 OUTRAS QUESTÕES RELACIONADAS AO SETOR EXTERNO 223

3.1 As variações cambiais e a inflação 223 3.1.1 A valorização cambial e a inflação 223 3.1.2 A desvalorização cambial e a inflação 225

3.2 A internacionalização da economia 226

3.3 Ajustes no BP por meio de políticas governamentais 227

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PARTE I: O LADO REAL DA ECONOMIA

MICROECONOMIA

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PARTE I: O LADO REAL DA ECONOMIA

1 DEFINIÇÃO E OBJETO DA ECONOMIA

Economia é a ciência social que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços utilizados para satisfazer as necessidades humanas. Os bens (1) são produzidos através da combinação de fatores produtivos (2) e são transacionados entre os agentes econômicos (3). Tanto os bens, quanto os fatores produtivos são oferecidos e adquiridos no mercado (4). Os primeiros são remunerados por seus preços (5), e os últimos, por suas respectivas rendas (6). O problema da Economia é ter que conciliar as necessidades humanas, que são, pela própria natureza do homem, ilimitadas, com os recursos produtivos (ou fatores de produção), que são limitados ou escassos. Como não há como solucionar esse problema, o jeito é contorná-lo, definindo prioridades para todas as alternativas. É por isso que a Economia é muitas vezes definida como a ciência que estuda a escassez ou a ciência que estuda o uso dos recursos escassos na produção de bens alternativos.

1.1 Conceitos preliminares

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Antes de continuarmos vejamos, com mais detalhes, as definições das palavras em destaque. (1) Bens: são ativos reais utilizados na satisfação das necessidades humanas. Nesse sentido, a casa é um bem que satisfaz a necessidade que o homem tem de abrigar-se; o pão satisfaz a necessidade de alimentar-se etc. Até hoje, os bens receberam várias classificações por parte dos economistas, mas a mais frequente é a classificação apresentada na Figura 1.

FIGURA 1: CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS BENS

bens

⎪⎪⎪⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪

⎪⎩

⎪⎨

consumo

capitalfinais

sermediarioint

giveistan

angiveisint

coseconomi

abundantes

Os bens são abundantes, livres ou não econômicos se a eles não se podem atribuir preços, não podendo, portanto, transacioná-los no mercado. É o caso do ar que se respira, da luz solar, das águas dos rios etc.

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Vale ressaltar que ultimamente este conceito vem sendo bastante questionado, porque bens que já foram livres, como a água mineral, não o são mais. Analogamente, os bens econômicos são aqueles que, por terem preço, podem ser transacionados no mercado. Os bens econômicos dividem-se em intangíveis (que não têm corpo físico, como os serviços, as patentes, os pontos comerciais e os números de telefone) e tangíveis (que têm massa, corpo físico, propriamente dito). Os bens tangíveis dividem-se em intermediários e finais. Os primeiros são aqueles que entram na produção de outros bens e serviços. Os bens finais, por sua vez, são aqueles resultantes do processamento dos bens intermediários. Os bens finais ainda se dividem em bens de capital e bens de consumo. Tal como os bens intermediários, os bens de capital também entram na produção de outros bens e serviços. A diferença é que os bens intermediários (insumos e matérias-primas) se consomem totalmente no processo produtivo, ao passo que os bens de capital apenas se desgastam. Os bens de consumo, por fim, são aqueles que se destinam ao atendimento direto das necessidades humanas. Eles se distinguem uns dos outros em função da durabilidade, quer dizer, os bens de consumo podem ser duráveis (como geladeiras, fogões, automóveis) e não duráveis (como produtos alimentícios, de higiene e limpeza etc.). (2) Recursos produtivos (ou fatores de produção): são elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. Classificam-se em terra (terras cultiváveis, florestas, minas, terrenos e edificações), trabalho (mão de obra) e capital (máquinas, equipamentos, instalações e matérias-primas). Os fatores produtivos são limitados e, por isso, devem ser combinados de diferentes formas em função do local e da situação histórica. Em termos locacionais podemos dizer, por exemplo, que a China, dado o tamanho da sua população, deve ser mais intensiva em mão

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de obra, ao passo que o Japão, por suas limitações geográficas, deve ser intensivo em capital. Em termos históricos, sabemos que na época da agricultura escravista ou extensiva, o peso maior dos fatores de produção encontrava-se na terra e no trabalho, já que o emprego de capital (máquinas e adubos) era significativamente inferior ao dos outros dois fatores. Em compensação, na agricultura moderna, o emprego de máquinas e fertilizantes tem diminuído o peso do trabalho e mesmo da terra, enquanto aumenta o peso do capital. (3) Agentes econômicos: são os atores envolvidos nas atividades de produção, circulação, distribuição e consumo dos bens e serviços. Classificam-se em Empresas, Famílias, Governo e Resto do Mundo. As Empresas são pessoas jurídicas encarregadas de produzir os bens e serviços. A produção é realizada através da combinação dos fatores produtivos que pertencem às famílias e que são cedidos por estas mediante uma remuneração. As Famílias são pessoas físicas, donas dos fatores de produção, que utilizam a renda originária da cessão desses fatores para comprar os bens e serviços que as empresas produzem e que satisfazem às suas necessidades. O Governo inclui todas as organizações que estão sob o controle do Estado, nas suas esferas federal, estadual e municipal, e que prestam serviços tais como os de defesa da soberania nacional, de administração da justiça, de educação gratuita etc. O Governo não tem por objetivo auferir lucro com esses serviços e, por isso, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, das quais o Governo seja sócio ou acionista, por visarem lucro, são incluídas entre as Empresas. O Resto do Mundo ou setor externo é composto por todas as pessoas e instituições não residentes com quem os residentes transacionam. Em

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outras palavras, o Resto do Mundo é composto pelas Famílias, Empresas e Governos dos outros países. (4) Mercado: é o contexto (e não o local) em que compradores (do lado da procura) e vendedores (do lado da oferta) realizam transações. Pode-se dizer, alternativamente, que o mercado é a interação entre as forças de oferta e procura. (5) Preço: é a expressão monetária do valor de um bem ou serviço. (6) Rendas: correspondem ao preço pago pela utilização dos serviços dos fatores de produção. As famílias, donas desses fatores, recebem uma renda específica por cada um deles. Assim, na qualidade de trabalhadores, recebem salários; na de proprietários de terra e de seus recursos, recebem aluguéis; na de capitalistas que emprestam dinheiro, juros; e na de capitalistas que gerenciam empresas, lucros.

2 A DEMANDA E A OFERTA

2.1 A demanda A demanda ou procura por um determinado bem x (Dx) é dada pela quantidade deste bem que os compradores desejam adquirir num determinado período de tempo. A demanda é influenciada por uma série de fatores, sendo que os mais relevantes são:

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• o preço do bem x (px): esta é a variável mais importante para que o consumidor decida o quanto comprar do bem; se o preço for considerado baixo, provavelmente ele vai adquirir maiores quantidades do que se for considerado alto;

• a renda do consumidor (Y): se a renda do consumidor aumentar, ele poderá adquirir maiores quantidades do bem x, ao passo que, se sua renda diminuir, ele provavelmente irá adquirir menores quantidades de x, ainda que px permaneça inalterado;

• o preço dos bens substitutos ao bem x (ps): se o consumidor deseja adquirir manteiga, por exemplo, ele não olhará somente o preço desta, mas também o preço de bens substitutos, tais como a margarina ou o requeijão cremoso. O consumidor irá adquirir maiores quantidades do bem x, quanto mais altos forem os preços dos bens substitutos, e menores quantidades de x, quanto mais baixos estiverem os preços daqueles bens que podem substituí-lo;

• o preço dos bens complementares ao bem x (pc): se o consumidor deseja comprar um apartamento, considerará não somente o preço do próprio apartamento, mas também o preço dos móveis e utensílios domésticos, já que o consumo desses bens está frequentemente associado um ao outro. O consumidor irá adquirir maiores quantidades do bem x, quanto mais baixo for o preço do seu complementar, e menores quantidades de x, quanto mais alto estiver o preço daquele bem que complementa x;

• os hábitos e gostos dos consumidores (H): muitas vezes, embora o preço do bem x esteja adequado, o consumidor deixa de adquiri-lo por não estar habituado ou condicionado ao seu consumo.

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Então podemos dizer que a demanda de x é uma função dessas e de outras variáveis, assim:

Dx = f(px , ps , pc, Y, H...) Observando os determinantes da demanda, verifica-se que todos variam simultaneamente, ficando difícil avaliar o efeito que cada um exerce sobre a demanda. Para contornar esse problema, os economistas valem-se da condição coeteris paribus – uma expressão latina que significa “tudo mais permanecendo constante”. A partir dessa condição, pode-se supor, por exemplo, que o preço de um produto se modifique, e que a renda do consumidor, seus hábitos e os preços dos bens afins permaneçam inalterados. Assim procedendo, é possível identificar o efeito que somente as mudanças de preço provocam nas quantidades demandadas do referido produto. Neste caso, diz-se que a demanda dessa mercadoria depende do seu preço, coeteris paribus. Da mesma forma, se se quiser saber como mudanças na renda afetam a demanda, supõe-se que apenas a renda varia enquanto os outros fatores determinantes da demanda são mantidos constantes. Diz-se, então, que a demanda depende da renda, coeteris paribus. Naturalmente, esse procedimento pode ser estendido a todos os outros elementos que influenciam a procura. Assumindo-se a condição coeteris paribus, deixamos de falar de demanda e passamos a falar da quantidade demandada de bem x, apenas em relação a seu preço. Assim:

qx = f(px) Graficamente:

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GRÁFICO 1: A DEMANDA POR UM BEM x

px

Dx 0 qx

A “curva” de demanda é negativamente inclinada evidenciando a lei geral da procura, segundo a qual quando o preço de um bem aumenta, a quantidade demandada desse bem diminui, e quando o seu preço diminui, a quantidade demandada aumenta. Deve-se enfatizar ainda, que variações no preço do bem provocam mudanças na quantidade demandada, com a curva de demanda permanecendo inalterada. Assim, falar em demanda significa referir-se à toda curva, enquanto que quantidade demandada refere-se a um dado ponto dessa mesma curva.

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2.2 Deslocamentos da curva de demanda A curva de demanda se desloca em relação à sua posição original quando uma daquelas variáveis que supusemos constantes (renda do consumidor, preço dos outros bens e hábitos e gostos) muda de valor. Assim, quando a mudança no valor da variável aumentar a demanda, a curva se será deslocada para a direita. Analogamente, quando a alteração no valor da variável diminuir a demanda, a curva será deslocada para a esquerda. Vejamos:

1º CASO: MUDANÇAS NA RENDA DOS CONSUMIDORES

Sob a ótica da renda, os bens são classificados em normais e inferiores. Diz-se que um bem é normal quando o aumento na renda dos consumidores aumenta a demanda por esse bem. Em outras palavras, havendo um aumento na renda Y, x será um bem normal se para um mesmo nível de preço p, os consumidores estiverem dispostos a adquirir quantidades maiores do bem x. No caso de um bem normal, uma variação positiva na renda (ΔY > 0) acarretará um deslocamento para direita da curva de demanda, e uma variação negativa (ΔY < 0), um deslocamento para a esquerda, como mostra o Gráfico 2.

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GRÁFICO 2: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA EM FUNÇÃO DE

MUDANÇAS NA RENDA DOS CONSUMIDORES – O CASO DE UM BEM NORMAL

px

D’’ D D’ 0 qx

Por outro lado, um bem x é dito inferior quando, havendo um aumento na renda, para um mesmo nível de preços p, os consumidores desejam consumir quantidades menores desse bem. Isto é o que acontece, por exemplo, com a demanda por carne de segunda: o consumidor, ao ter sua renda aumentada substitui a carne de segunda pela carne de primeira, que embora seja mais cara, torna-se acessível com o aumento da renda. O fenômeno inverso ocorre quando a renda do consumidor diminui. No nosso exemplo, o consumidor reduz o consumo de carne de primeira e aumenta o da carne de segunda. Outra exemplo de bem inferior é a passagem de ônibus. Quando a renda aumenta, as pessoas passam a andar mais de carro e menos de ônibus. Então, se o bem x for um bem inferior, uma variação positiva na renda (ΔY > 0) acarretará um deslocamento para esquerda da curva de

ΔY < 0

ΔY > 0

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demanda, e uma variação negativa (ΔY < 0), um deslocamento para a direita, como mostra o Gráfico 3.

GRÁFICO 3: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA EM FUNÇÃO DE

MUDANÇAS NA RENDA DOS CONSUMIDORES – O CASO DE UM BEM INFERIOR

px

D’ D D’’ 0 qx

2º CASO: MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENS

Movimentos semelhantes aos provenientes de uma variação na renda dos consumidores podem ocorrer na demanda quando variam os preços de outros bens (pz). A relação entre o bem x e um bem z pode ser de uma dessas três formas:

• x e z são substitutos; • x e z são complementares; • x e z são bens de consumo independente.

ΔY < 0ΔY > 0

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Quando x e z são independentes, o preço de z nada tem a ver com a demanda de x. É o caso, por exemplo, de maçã e automóveis: alterações no preço da maçã não provocam nenhuma modificação na demanda de automóveis e vice-versa. Logo, maçã e automóveis são ditos bens de consumo independente. Existem bens, entretanto, que o consumo de um deles exclui (mesmo que parcialmente) o consumo do outro. São os chamados bens substitutos como, por exemplo, manteiga e margarina, chá e café, carne de porco e carne de vaca etc. Quando x e z são substitutos, o aumento no preço do bem z (Δpz > 0) tornará seu consumo menos atrativo do que o do bem x, fazendo aumentar a demanda por este último. Neste caso, a curva de demanda do bem x deslocar-se-á para a direita. Analogamente, uma diminuição no preço do bem z (Δpz < 0) o tornará mais atrativo, deslocando a curva de demanda do bem x para a esquerda, como mostra o Gráfico 4.

GRÁFICO 4: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENS – O CASO DE BENS SUBSTITUTOS

px

D’’ D D’ 0 qx

Δpz < 0Δpz > 0

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Os bens x e z podem ainda ser complementares, como caderno e caneta, pão e manteiga, cama e colchão etc. Neste caso, o aumento no preço de z provocará uma diminuição no seu consumo; como o consumo de z está associado ao de x, a demanda de x também diminuirá, deslocando sua curva para a esquerda. E, caso o preço de z diminua, a curva de demanda de x se deslocará para a direita, como mostra o Gráfico 5.

GRÁFICO 5: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENS – O CASO DE BENS

COMPLEMENTARES

px

Δpz > 0 Δpz < 0 D’’ D D’ 0 qx

3º CASO: MUDANÇAS NOS HÁBITOS E GOSTOS DOS CONSUMIDORES

Muitas vezes um bem deixa de ser consumido não porque está caro, mas porque não faz parte dos hábitos dos consumidores. Esses hábitos podem ser estimulados ou desestimulados, sobretudo, através de propagandas ou campanhas de publicidade.

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Δ H > 0

ΔH < 0

Sendo assim, um estímulo positivo à compra de determinado bem (ΔH > 0) acarretará um deslocamento para direita da curva de demanda, e um estímulo negativo (ΔH < 0), um deslocamento para a esquerda, como mostra o Gráfico 6.

GRÁFICO 6: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS NOS HÁBITOS E GOSTOS DOS CONSUMIDORES

px

D’’ D D’ 0 qx Uma síntese das causas dos deslocamentos da curva de demanda pode ser vista no Quadro 1.

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QUADRO 1: CAUSAS DOS DESLOCAMENTOS DA DEMANDA – UMA SÍNTESE

AUMENTO DA DEMANDA Aumento na renda do consumidor Aumento no preço dos bens substitutos Diminuição no preço dos bens complementares Mudança favorável nos hábitos e gostos

DIMINUIÇÃO DA DEMANDA Diminuição na renda do consumidor Diminuição no preço dos bens substitutos Aumento no preço dos bens complementares Mudança desfavorável nos hábitos e gostos

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GRÁFICO 7: DEMANDA DE UM BEM QUE ATENDE À LEI DA PROCURA

qx1 qx0 qx

Caso os movimentos do preço e da quantidade de um bem ocorram no mesmo sentido, é porque esse bem é uma exceção à lei da procura. Ele é denominado bem de Giffen, e tem sua curva de demanda positivamente inclinada em relação ao eixo das abscissas, como ilustra o Gráfico 8.

px1

px0

px

0

1

D

Δpx > 0

LEMBRETE: MUDANÇAS NOS PREÇOS DO BEM x Vale lembrar que mudanças no preço de x não provocam deslocamentos da curva de demanda. O deslocamento, no caso, é ao longo da própria curva de demanda, onde variações positivas no preço de x (Δpx > 0) acarretam diminuições na quantidade demandada de x e variações negativas (Δpx < 0), aumentos na quantidade demandada de x, como ilustra o Gráfico 7.

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px

GRÁFICO 8: DEMANDA DE UM BEM QUE NÃO ATENDE À LEI DA PROCURA O BEM DE GIFFEN

qx0 qx1 qx

Os bens de Giffen foram uma homenagem ao economista Robert Giffen que estudou o comportamento de uma pequena comunidade bastante pobre do Reino Unido, cuja base da alimentação era a batata. Ele observou que à medida que o preço da batata subia, curiosamente, os membros dessa comunidade compravam mais. Sua conclusão foi que, dado um orçamento extremamente limitado, se o bem mais significativo da cesta básica ficava mais caro, era melhor abrir mão de todo resto em prol de um pouco mais do item mais importante.

px1

px0 0

1

D

Δpx > 0

Giffen ficou mais conhecido depois que foi citado, da seguinte forma, por Alfred Marshall (1890): “Como assinalou o senhor Giffen, uma elevação no preço do pão altera tanto os recursos das famílias dos trabalhadores pobres, que são forçados a reduzir seu consumo de carne e de outros alimentos mais caros; sendo o pão ainda o alimento mais barato que podem obter, eles consumiriam mais, e não menos do mesmo”.

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2.3 A oferta A oferta de determinado bem x (Sx) é dada pela quantidade desse

bem que os vendedores desejam oferecer num determinado período de

tempo.

Tal como a demanda, a oferta é influenciada por uma série de

fatores, sendo que os mais relevantes são:

• mercado, em primeiro lugar, os vendedores levarão em

consideração o nível de preço do bem x. Quanto mais alto for esse preço,

mais eles vão querer vender, pois assim poderão obter maiores lucros;

• preço dos insumos utilizados na produção (pi): alterações nos

preços das matérias-primas, da energia e de outros insumos alteram a

quantidade de x a ser ofertada no mercado;

• tecnologia (T): inovações tecnológicas que reduzam o custo de

se produzir x ou que propiciem sua produção em maiores quantidades ao

mesmo custo tornam sua oferta mais abundante;

• preço de outros bens (pz): o agricultor, por exemplo, ao

considerar quanto produzirá de milho levará em conta não apenas o preço

do mesmo, mas também o preço de uma cultura alternativa tal como a do

feijão. Se o preço deste estiver maior, a oferta de milho certamente

diminuirá.

Então podemos dizer que a oferta de x é uma função dessas e de

outras variáveis, assim:

Sx = f(px , pi , pz, T...)

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Assumindo-se a condição coeteris paribus, deixamos de falar de

oferta de um bem x e passamos a falar de quantidade ofertada de x,

apenas em relação a seu preço. Assim:

qx = f (px)

Graficamente:

GRÁFICO 9: A OFERTA DE UM BEM x

px Sx

0 qx A curva de oferta é positivamente inclinada evidenciando a lei geral da oferta, segundo a qual quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem aumenta, e quando o seu preço diminui, a quantidade ofertada também diminui. Como no caso da demanda, variações no preço do bem provocam mudanças na quantidade ofertada, com a curva de oferta permanecendo inalterada. Afinal, falar em oferta significa referir-se à toda curva,

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enquanto que quantidade ofertada refere-se a um dado ponto dessa mesma curva. Observe que embora os economistas refiram-se às “curvas” de oferta e de demanda, estas também podem ser expressas linearmente, como foi feito até agora.

2.4 Deslocamentos da curva de oferta Analogamente à curva de demanda, a curva de oferta se desloca em relação à sua posição original quando uma daquelas variáveis que supusemos constantes (preço dos insumos, tecnologia, preço dos outros bens etc.) muda de valor. Assim, quando a mudança no valor da variável aumentar a oferta, a curva se deslocará para a direita. Quando a alteração no valor da variável diminuir a oferta, a curva se deslocará para a esquerda. Vejamos:

1º CASO: MUDANÇAS NO PREÇO DOS INSUMOS

Os preços dos insumos necessários para se produzir x afetam o custo de produção que, por sua vez, afeta a oferta do bem x da seguinte maneira: uma variação positiva no preço dos insumos (Δpi > 0) aumenta os custos, desestimulando a produção, já que o produtor terá seu lucro reduzido. O resultado disso é um deslocamento para esquerda da curva de oferta. Por outro lado, uma variação negativa no preço dos insumos (Δpi < 0), por ser um indicativo de aumento dos lucros do produtor, estimula a produção, deslocando a curva de oferta para a direita, como mostra o Gráfico 10.

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Δpi < 0

Δpi > 0

GRÁFICO 10: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE OFERTA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS NO PREÇO DOS INSUMOS

px

S’ S S’’ 0 qx

2º CASO: MUDANÇAS NA TECNOLOGIA

Inovações tecnológicas que reduzam o custo de se produzir x ou que propiciem sua produção em maiores quantidades ao mesmo custo tornam a oferta mais abundante, fazendo a sua curva se deslocar para a direita. Analogamente, a ausência dessas inovações ou mesmo a obsolescência da tecnologia utilizada fazem a curva de oferta se deslocar para a esquerda, como mostra o Gráfico 11.

GRÁFICO 11: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS TECNOLÓGICAS

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ECONOMIA

31

ΔT > 0

ΔT < 0

px

S’’ S S’ 0 qx

3º CASO: MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENS

A relação entre o bem x e um bem z, na produção, pode ser de uma dessas duas formas:

• x e z são substitutos na produção; • x e z são complementares na produção.

Quando a produção de um deles concorre com a produção do outro, por utilizarem praticamente os mesmo recursos, diz-se que x e z são bens substitutos na produção. Neste caso, o produtor preferirá produzir aquele bem que estiver apresentando um preço mais alto no mercado. Como exemplo, podemos citar o feijão e o milho. Se ocorrer um aumento no preço do feijão, tornando essa cultura mais lucrativa e atraente do que a cultura do milho, agricultores que antes cultivavam milho poderão se interessar em plantar feijão, provocando um aumento da oferta deste em detrimento daquele.

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ECONOMIA

32

Δpz < 0

Δpz > 0

Logo, quando x e z são substitutos, o aumento no preço do bem z (Δpz > 0) tornará sua produção mais atrativa do que a do bem x, fazendo aumentar a sua oferta em detrimento da oferta de x. Como consequência, a curva Sx deslocar-se-á para a esquerda. Analogamente, uma diminuição no preço do bem z (Δpz < 0) o tornará menos atrativo, deslocando a curva de oferta do bem x para a direita, como mostra o Gráfico 12.

GRÁFICO 12: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE OFERTA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENS – O CASO DE BENS SUBSTITUTOS NA

PRODUÇÃO

px

S’ S S’’ 0 qx

Os bens x e z podem ainda ser complementares na produção, como a carne e o couro, por exemplo. Quer dizer, um aumento no preço da carne poderá provocar um aumento no abate e, por decorrência, um aumento da oferta de couro. Em termos gerais, o aumento no preço de z provocará um aumento na sua produção; como a produção de z está associada à de x, a oferta deste também aumentará, deslocando sua curva

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33

Δpz > 0

para a direita. Por esse raciocínio, caso o preço de z diminua, a curva de oferta de x irá se deslocar para a esquerda, como mostra o Gráfico 13.

GRÁFICO 13: DESLOCAMENTOS DA CURVA DE OFERTA EM FUNÇÃO DE MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENS – O CASO DE BENS COMPLEMENTARES NA

PRODUÇÃO

px

S’’ S S’ 0 qx Uma síntese das causas dos deslocamentos da curva de oferta pode ser vista no Quadro 2.

Δpz < 0

LEMBRETE: MUDANÇAS NOS PREÇOS DO BEM x Vale lembrar que mudanças no preço de x não provocam deslocamentos da curva de oferta. O deslocamento, no caso, é ao longo da própria curva de oferta, onde variações positivas no preço de x (Δpx > 0) aumentam a quantidade ofertada de x.

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34

QUADRO 2: CAUSAS DOS DESLOCAMENTOS DA OFERTA – UMA SÍNTESE

AUMENTO DA OFERTA Diminuição no preço dos insumos Diminuição no preço dos bens substitutos na

produção Aumento no preço dos bens complementares

na produção Mudança tecnológica favorável

DIMINUIÇÃO DA OFERTA Aumento no preço dos insumos Aumento no preço dos bens substitutos na

produção Diminuição no preço dos bens

complementares na produção Mudança tecnológica desfavorável

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E

3 O EQUILÍBRIO DE MERCADO

3.1 O equilíbrio entre demanda e oferta O equilíbrio refere-se às condições do mercado, as quais, uma vez atingidas, tendem a persistir. Em Economia, isto ocorre quando a quantidade demandada de um bem se iguala à quantidade ofertada desse mesmo bem. Neste ponto não existe nem excesso nem escassez do bem, de forma que compradores e vendedores encontram-se plenamente satisfeitos. Geometricamente, o equilíbrio ocorre na interseção das curvas de demanda e de oferta. O preço e a quantidade para as quais existe equilíbrio são conhecidos, respectivamente, como preço e quantidade de equilíbrio.

GRÁFICO 14: O EQUILÍBRIO ENTRE DEMANDA E OFERTA

px S

D 0 qx LEGENDA: Em 1: excedente do bem x

Em 2: escassez do bem x Em E: equilíbrio de mercado

1

2

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36

Quando o preço do bem x está acima do preço de equilíbrio de mercado, está havendo um excesso de x, proveniente de uma quantidade ofertada maior do que a quantidade demandada para esse nível de preço. Por outro lado, um nível de preço abaixo do preço de equilíbrio mostra que está havendo uma escassez de x, proveniente de uma quantidade demandada maior do que a quantidade ofertada. Por fim, quando as curvas de oferta e demanda se interceptam, o mercado de bens está em equilíbrio e a quantidade demandada iguala-se à quantidade ofertada. Em um mercado onde prevalece a livre concorrência, isto é, em um mercado em “concorrência perfeita” (cf. Item 6 – Estruturas de mercado), os desequilíbrios entre quantidades ofertadas e demandadas não prevalecem por muito tempo. Isto porque, havendo excesso do bem x, o preço de x tenderá a cair. À medida que o preço vai caindo, os vendedores tendem a ofertar menos e os compradores tendem a comprar mais. Então, não havendo interferência por parte do governo (tabelando preços, por exemplo), o próprio movimento dos preços para baixo faz com que a quantidade ofertada, que estava alta, caia e a quantidade demandada, que estava baixa, aumente. Analogamente, havendo escassez do bem x, o seu preço tenderá a subir. À medida que o preço vai subindo, os vendedores tendem a ofertar mais e os compradores tendem a comprar menos. Não havendo interferência externa, o próprio movimento dos preços para cima faz com que a quantidade ofertada, que estava baixa, aumente e a quantidade demandada, que estava alta, diminua. Graficamente,

GRÁFICO 15: AJUSTE DE UM MERCADO EM CONCORRÊNCIA PERFEITA

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E

px S

D 0 qx

O mecanismo de ajuste descrito no Gráfico 4 também é conhecido como market clearing, e pode ser traduzido como “limpeza de mercado”. Diz-se, pois, que um mercado está “limpo” quando não há nem excesso, nem escassez, isto é, quando as quantidades demandada e ofertada são iguais. Outra forma de se explicar a dinâmica do equilíbrio é utilizando a teoria de M. Ezequiel, mais conhecida como cobweb theorem ou “teorema da teia de aranha”. Esse teorema sustenta a hipótese de que, dadas a oferta e a procura de determinado bem, os preços, ainda que desajustados em determinado momento, evoluem na direção de um ponto de equilíbrio. Observemos pelo Gráfico 16. Se os produtores decidissem, num primeiro momento, ofertar qo

esperando que o preço fosse po, eles se decepcionariam: as quantidades colocadas no mercado só escoariam por um preço bem mais baixo, representado por p1. Essa decepção iria levá-los, no momento seguinte, a oferecer, no mercado, apenas q1 unidades, compatíveis com o nível prevalecente de preços. Todavia, essa nova tentativa traria resultados melhores do que os esperados, pois a reduzida

1

2

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38

pE

quantidade ofertada levaria os consumidores a disputá-la entre si, elevando o preço para p2. A sequência das decisões e ajustamentos teceria uma verdadeira teia de aranha, cujo ponto final seria justamente o ponto de equilíbrio (qE, pE).

GRÁFICO 16: A “TEIA DE ARANHA”

px S

p0 p2 p3 p1 D 0 q1 qE q0 qx

EXERCÍCIO Encontre o preço e a quantidade de equilíbrio para um mercado cujas curvas de demanda e de oferta são dadas por:

qx = 280 – 4px

qx = – 20 + 2px sendo: qx é a quantidade demandada/ofertada do bem x; e px é o preço do bem x.

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O que ocorrerá neste mercado, se o preço do bem x for estipulado em $30? E, o que acontecerá se o preço for tabelado em $60? Resp.: Preço de equilíbrio = 50; quantidade de equilíbrio = 80; escassez de 120 unidades e excedente de 60 unidades.

3.2 Mudanças no equilíbrio Como o equilíbrio é o resultado da interseção das curvas de oferta e demanda, um deslocamento em uma dessas duas curvas certamente provocará uma mudança de posição do equilíbrio. Já vimos os motivos que deslocam as curvas de oferta e de demanda para a direita e para a esquerda. Vejamos, agora, as consequências desses deslocamentos sobre o ponto de equilíbrio.

1º CASO: MUDANÇAS NO EQUILÍBRIO DEVIDO A UM AUMENTO DA

DEMANDA

Suponha um mercado cujo ponto de equilíbrio seja E0. Suponha, em seguida, que tenha havido um aumento da demanda de D para D’. Aparecerá, então, um excesso de demanda ao preço p0 (distância E0A do gráfico), já que os consumidores que compravam q0 passam a desejar q2 unidades, enquanto os produtores continuam querendo ofertar q0. Esse excesso de demanda, entretanto, logo será corrigido pelo próprio mercado, com o aumento automático do preço de p0 para p1. Essa elevação do preço de p0 para p1 aumenta a quantidade ofertada (ao longo da curva de oferta) de q0 para q1 e, ao mesmo tempo, reduz a quantidade demandada (ao

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40

E0

E1

A

longo da nova curva de demanda) de q2 para q1. Ao preço p1, portanto, a quantidade demandada volta a ser igual à quantidade ofertada, formando um novo ponto de equilíbrio E1, como mostra o Gráfico 17.

Como exemplo de um deslocamento positivo da curva de demanda, imagine que algum programa de televisão com grande audiência tenha anunciado que o chá preto reduz o colesterol. Certamente a curva de demanda se deslocará para a direita e o equilíbrio de mercado se restabelecerá a uma quantidade e a um preço mais altos.

GRÁFICO 17: MUDANÇA NO EQUILÍBRIO DEVIDO AO AUMENTO DA DEMANDA

px S

p1 p0 D’ D 0 q0 q1 q2 qx

2º CASO: MUDANÇAS NO EQUILÍBRIO DEVIDO A UMA DIMINUIÇÃO DA

DEMANDA

O efeito de uma diminuição da demanda também pode ser visto a partir do Gráfico 17. É só supor que o preço e a quantidade iniciais são p1 e q1, e supor, em seguida, que, por algum motivo, tenha havido uma diminuição da demanda de D’ para D. Aparecerá, desta vez, um excesso

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de oferta ao preço p1, que será corrigido pelo próprio mercado com uma redução no preço de p1 para p0. Um novo equilíbrio será alcançado em E0, agora, com o preço mais baixo. Para exemplificar este caso de deslocamento negativo da curva de demanda, imagine o resultado de uma forte campanha publicitária contra o cigarro. Certamente a curva de demanda se deslocaria para a esquerda e o equilíbrio seria restaurado a uma quantidade e a um preço mais baixos. 3º CASO: MUDANÇAS NO EQUILÍBRIO DEVIDO A UM AUMENTO DA OFERTA

Suponha um mercado cujo ponto de equilíbrio inicial seja E0. Suponha, agora, um aumento da oferta de S para S’. Como resultado, temos um excesso de oferta ao preço p0 (distância E0A do gráfico), já que os produtores que ofertavam q0 gostariam de ofertar q2 unidades, enquanto os consumidores, por esse preço, só aceitam comprar q0. O excesso de demanda, entretanto, será corrigido pelo próprio mercado, com a diminuição automática do preço de p0 para p1. Essa diminuição no preço aumenta a quantidade demandada (ao longo da curva de demanda) de q0 para q1 e, ao mesmo tempo, reduz a quantidade ofertada (ao longo da curva de demanda) de q2 para q1. Ao preço p1, abaixo do preço inicial, voltam a se igualar quantidade demandada e quantidade ofertada, formando um novo ponto de equilíbrio, como mostra o Gráfico 18. Para ilustrar o deslocamento positivo da curva de oferta, imagine a descoberta de uma semente de feijão que precisasse de muito menos tempo e espaço para ser cultivada. O resultado provavelmente seria o deslocamento da curva de oferta para a

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E0

E1

A

direita e o restabelecimento de um novo ponto de equilíbrio com um preço mais baixo do que o anterior.

GRÁFICO 18: MUDANÇA NO EQUILÍBRIO DEVIDO AO AUMENTO DA OFERTA

px S S’ p0 p1 D

0 q0 q1 q2 qx

4º CASO: MUDANÇAS NO EQUILÍBRIO DEVIDO A UMA DIMINUIÇÃO DA

OFERTA

O movimento do ponto de equilíbrio devido a uma diminuição da oferta também pode ser acompanhado a partir do Gráfico 18. Basta supor que o preço e a quantidade iniciais são p1 e q1, e supor, em seguida, que, por algum motivo, tenha havido uma diminuição da oferta de S’ para S. Aparecerá, então, um excesso de demanda ao preço p1, que será corrigido pelo próprio mercado com o aumento do preço de p1 para p0.

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Com o preço mais alto, a quantidade demandada cai, a quantidade ofertada sobe e é restaurado o equilíbrio, só que com o preço mais alto. Como exemplo de um deslocamento negativo da curva de oferta, suponha uma política eficiente de inibição à entrada de drogas no país. O resultado seria um deslocamento para a esquerda da curva de oferta e um novo preço de equilíbrio mais alto do que o anterior. Uma síntese dos efeitos dos deslocamentos das curvas de oferta e de demanda pode ser vista no Quadro 3.

QUADRO 3: CAUSAS DAS MUDANÇAS NO EQUILÍBRIO – UMA SÍNTESE

DESLOCAMENTO DA DEMANDA • Um aumento da demanda provoca um

aumento no preço e na quantidade de equilíbrio

• Uma diminuição da demanda provoca uma

diminuição no preço e na quantidade de equilíbrio

DESLOCAMENTO DA OFERTA • Um aumento da oferta provoca uma

diminuição no preço e um aumento na quantidade de equilíbrio

• Uma diminuição da oferta provoca um

aumento no preço e uma redução na quantidade de equilíbrio

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pmín

pmáx

p0

p0 E

3.3 Tabelamento de preços Algumas vezes o preço de equilíbrio prejudica os consumidores ou os vendedores. Quando isso acontece, o governo intervém no mercado tabelando preços. Às vezes, o preço de equilíbrio é tão baixo, que o governo tem de tabelar um preço mínimo, ou seja, um preço para garantir que os produtores receberão, pelo menos, aquele valor. O preço mínimo fica acima do preço de equilíbrio visando favorecer o lado da oferta. Outras vezes, o preço de equilíbrio é tão alto, que o governo tem de tabelar um preço máximo, ou seja, um preço para garantir que os consumidores terão de pagar, no máximo, aquele valor. O preço máximo fica abaixo do preço de equilíbrio visando favorecer o lado da demanda. Graficamente:

GRÁFICOS 19a e 19b: PREÇO MÍNIMO E PREÇO MÁXIMO

px S px S

D D 0 qx 0 qx

E

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45

4 O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR E O EXCEDENTE DO PRODUTOR

Há ainda um assunto muito interessante que diz respeito às curvas de oferta e demanda. Trata-se do excedente do consumidor e do excedente do produtor. Para entender o excedente do consumidor imagine que o cantor que você mais gosta acabou de lançar seu último CD. Ávido por adquiri-lo, você vai correndo à loja e toma conhecimento que o CD está sendo vendido por R$40,00 – uma quantia maior do que você dispõe para gastar com este tipo de mercadoria. Sem se dar por vencido, você decide juntar o dinheiro. Passado um tempo, você volta à loja e descobre que, depois da euforia do lançamento, o mesmo CD, que você estava disposto a pagar R$40,00, está sendo vendido por R$30,00. Feliz da vida, você compra o CD que tanto queria e ainda obtém um excedente de R$10,00. O excedente do consumidor, então, pode ser traduzido como a diferença entre o preço que o consumidor estaria disposto a pagar por um bem x e o preço que ele efetivamente paga. Em termos gráficos, o excedente do consumidor corresponde à área abaixo da curva de demanda e acima do preço que efetivamente se paga, como mostra o Gráfico 20.

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E

0

GRÁFICO 20: O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR

NOTA: Os consumidores representados pelo segmento ED estão fora do mercado porque não se dispõem a pagar nem mesmo p’.

Para endenter o excedente do produtor, vamos imaginar outra situação hipotética. Suponha que o proprietário de um posto de gasolina cobre R$8,00 para lavar um carro no seu posto. Suponha, também, que este proprietário saiba que, aos finais de semana, os usuários do serviço de lavagem de automóveis se dispõem a pagar até $12,00 pelo serviço prestado. Neste caso, haverá, aos finais de semana, um excedente do produtor de R$4,00 por carro lavado. O excedente do produtor corresponde à diferença entre o valor que o ofertante recebe e aquele que ele estaria disposto a receber, uma vez cobertos seus custos (inclusive o custo de oportunidade).

p’

px

D

qx

EXCEDENTE DO CONSUMIDOR

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qx

E

0

Graficamente, o excedente do produtor corresponde à área acima da curva de oferta e abaixo do preço pelo qual a mercadoria ou serviço foi vendido, como aparece no Gráfico 21.

GRÁFICO 21: O EXCEDENTE DO PRODUTOR

NOTA: Os vendedores pelo segmento ES estão fora do mercado porque seus custos são tão altos que não lhes permitem vender a um preço menor do que p’.

5 AS ELASTICIDADES

p’

px

S

EXCEDENTE DO PRODUTOR

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Na teoria econômica, o termo “elasticidade” significa “sensibilidade”. Assim, quando se afirma que a demanda ou a oferta de um bem x é elástica (inelástica) em relação a alguma variável, o que se pretende dizer é que os consumidores ou produtores do bem x são sensíveis (insensíveis) a alterações nessa variável.

5.1 Elasticidades da demanda Vejamos, então, como pode ser o comportamento da demanda frente a variações 1) no preço do bem x; 2) na renda do consumidor; e 3) no preço dos bens z.

5.1.1 A elasticidade-preço da demanda

Suponha o seguinte comportamento da demanda por dois bens, a e b:

Demanda de a Demanda de b pa qa pb qb

10

100

20

80

12

60

24

76

Pelas tabelas acima, observa-se que ambos os bens tiveram seus preços majorados em 20%, já que pa passou de 10 para 12 e pb passou de 20 para 24. Entretanto, o comportamento da quantidade demandada foi bem diferente: enquanto qa diminuiu 40% (de 100 para 60), qb diminuiu apenas 5% (passando de 80 para 76).

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Por este exemplo, pode-se afirmar que a demanda de a é elástica ou sensível em relação a variações em seu preço, como são os automóveis e os telefones celulares, enquanto a demanda de b é inelástica ou pouco sensível a tais variações, como são os remédios e a maioria dos alimentos. A medida numérica ou coeficiente da elasticidade-preço da demanda é dada pela razão entre a variação percentual na quantidade demandada de x e a variação percentual no preço de x, ou seja:

Epd = px%qx%

ΔΔ

A variação percentual da quantidade demandada é dada pela relação

0qqΔ

onde Δq representa a variação a variação absoluta da quantidade demandada nos momentos 0 e 1, ou seja:

Δq = q1 - q0

Da mesma forma, a variação percentual do preço é dada pela relação

0ppΔ

onde Δp representa a variação a variação absoluta do preço nos momentos 0 e 1, ou seja:

Δp = p1 - p0

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50

Ao relacionarmos a variação absoluta na quantidade com a quantidade inicialmente demandada, e a variação absoluta no preço com o preço inicial, obtemos, respectivamente, a variação percentual da quantidade demandada e a variação percentual do preço, presentes na fórmula do coeficiente da elasticidade-preço da demanda, assim:

Epd = 0

0

Δp/pΔq/q =

00) 1

00) 1

/pp-(p/qq-(q =

pΔΔ%q

%

Ou ainda,

Epd = ΔpΔq .

qp

Como preço e quantidade demandada caminham em sentidos opostos, o coeficiente da elasticidade-preço será negativo. É por isso que, para fins didáticos, será considerado apenas o número em si, com sinal positivo, ou seja, o módulo da Epd, cujos valores assumem os seguintes significados:

• ⏐Epd⏐> 1 ⇒ demanda elástica • ⏐Epd⏐< 1 ⇒ demanda inelástica • ⏐Epd⏐= 1 ⇒ demanda com elasticidade unitária

Quer dizer, se ⏐Epd⏐ > 1, a demanda será elástica em relação ao preço porque as variações na quantidade demandada serão mais do que proporcionais às variações no preço do bem. Se ⏐Epd⏐ < 1, a demanda será inelástica em relação ao preço, indicando que as variações na quantidade demandada não acompanham, proporcionalmente, as variações no preço do produto. E se ⏐Epd⏐ = 1, então a demanda apresentará

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elasticidade unitária em relação ao preço, com a quantidade demandada variando com a mesma intensidade da variação no preço do produto. Ainda em relação à Epd, sabe-se que os fatores que influenciam uma maior ou menor sensibilidade da demanda de um bem x em relação a variações no seu preço são:

• o grau de utilidade do bem; • o número de substitutos para o bem em questão; • o peso do preço do bem no orçamento do consumidor; e • o período de tempo em análise.

A influência desses fatores sobre a Epd ocorre da seguinte maneira: quanto maior o grau de utilidade de determinados bens – como remédios, por exemplo – mais dependentes tornam-se seus consumidores, de forma que variações nos preços pouco afetam a quantidade demandada. Então, Por outro lado, quanto maior o número de substitutos para certo bem,

mais chances o consumidor tem de escapar de aumentos no seu preço. Então, por exemplo, se o preço do leite com Ômega 3 subir demais, o consumidor pode substituí-lo por outro sem esse componente. Entretanto, bens com poucos substitutos, como é o caso do sal e do açúcar, tornam os consumidores mais vulneráveis a variações nos seus preços. Assim,

Quanto maior o grau de utilidade do bem, mais inelástica será a demanda pelo bem.

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Além disso, quanto maior o peso de um bem no orçamento do consumidor, isto é, quanto maior a parcela da renda destinada ao gasto com determinado bem – como a carne, por exemplo – mais o consumidor será afetado por mudanças no preço deste bem. Por outro lado, quanto menor o peso de um bem no orçamento do consumidor – como caixas de fósforos, por exemplo – menos importância os consumidores darão a variações no seu preço. Assim, se a carne de boi sobe de p para 2p, o consumidor tenderá a substituí-la por frango, peixe ou mesmo ovos, porque este item tem um peso relativamente grande nos seus gastos; entretanto, se a caixinha de fósforo passa de p para 2p, raramente um consumidor vai perder uma noite de sono por causa disso. Então,

Por fim, quanto maior o intervalo de tempo considerado, mais chances o consumidor tem de descobrir bens que substituam aqueles que mudaram de preço. Isso quer dizer que no curto prazo os consumidores são mais vulneráveis a variações no preço do que em um prazo mais dilatado. Ou seja:

Quanto menor o número de bens substitutos, mais inelástica será a demanda pelo bem.

Quanto menor o peso do bem no orçamento do consumidor, mais inelástica será a demanda.

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No caso de uma curva de demanda linear, negativamente inclinada, a

representação gráfica da Epd pode ser vista no Gráfico 22.

Observe que, embora se trate de uma mesma curva de demanda, a

Epd assume diversos valores, que vão do zero ao infinito. Ou seja, a cada

preço, a Epd terá um valor diferente, e à medida que o preço aumenta a

Epd também aumenta. Assim, no ponto A do Gráfico (quando px = 0), a

Epd será zero também. Para preços que vão do ponto A ao ponto E

(correspondente ao ponto médio do segmento AI), a Epd será maior do

que zero, mas menor do que um. No ponto E, será igual a um, e acima de

E, maior do que um. Isso significa que, para um mesmo bem x, os

consumidores mostram-se mais tolerantes a variações no seu preço

enquanto este preço ainda assume valores baixos (isto é, valores menores

do que o preço médio), e menos tolerantes a variações quando os preços

de x assumem patamares mais elevados (isto é, valores acima do preço

médio).

Um exemplo numérico pode ser visto na Tabela 1.

Quanto menor o período de tempo considerado, mais inelástica será a demanda.

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Epd = 0

I

E

GRÁFICO 22: ELASTICIDADE DE UMA CURVA DE DEMANDA LINEAR

qMÉDIA A qx

TABELA 1: ELASTICIDADES DE UMA CURVA DE DEMANDA LINEAR

qx = 8 - px

PONTOS px qx Epd Demanda

A 0 8 0 perfeitamente inelástica

B 1 7 0,14 demanda inelástica

C 2 6 0,33 demanda inelástica

D 3 5 0,60 demanda inelástica

E 4 4 1 elasticidade unitária

F 5 3 1,67 demanda elástica

G 6 2 3 demanda elástica

H 7 1 7 demanda elástica I 8 0 ∞ perfeitamente elástica

pMÉDIO

px

Epd = 1

Epd = ∞

Epd > 1

Epd < 1

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Aproveitando o exemplo da Tabela 1, podemos ainda analisar o comportamento da Receita Total dos produtores e do Dispêndio Total dos consumidores em relação à Epd. Tanto a Receita Total (RT) quanto o Dispêndio Total (DT) são dados pelo preço multiplicado pela quantidade. Ou:

RT = p x q = DT

Intuitivamente acreditamos que um aumento no preço de x aumentará a receita dos produtores e a despesa dos consumidores; mas nem sempre isto acontece. Vejamos. Se a demanda do bem x é elástica, um aumento no seu preço reduzirá mais que proporcionalmente a quantidade demandada, de forma que esse aumento no preço resulte, paradoxalmente, numa diminuição tanto de RT quanto de DT. Simbolicamente, temos:

RT = p x q = DT

Graficamente, temos:

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GRÁFICO 23: A RECEITA TOTAL (DESPESA TOTAL) E A DEMANDA ELÁSTICA

0 q1 q0 q Como a Receita Total é igual a preço multiplicado pela quantidade, graficamente, a RT será representada pela área resultante do produto entre 0q e 0p. Pelo Gráfico 26, em que a curva de demanda é elástica, pode-se notar que a área 0q0Ap0 (anterior ao aumento de preço) é maior do que a área 0q1Bp1 formada depois do aumento do preço de p0 para p1. Por analogia, se a demanda do bem x é inelástica, como no Gráfico 27, um aumento no seu preço reduzirá a quantidade demandada, porém menos que proporcionalmente, de forma que esse aumento no preço resulte num aumento tanto de RT quanto de DT. Simbolicamente, temos:

RT = p x q = DT

p1

p0

px

A

B

D

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D

Graficamente, temos:

GRÁFICO 24: A RECEITA TOTAL (DESPESA TOTAL) E A DEMANDA INELÁSTICA

0 q1 q0 qx Note agora que, quando a demanda é inelástica, a área do 0q0Ap0 (anterior ao aumento de preço) é menor do que a área 0q1Bp1 formada depois do aumento do preço de p0 para p1. Outra forma de ver o movimento da Receita Total é complementando a Tabela 1 e o Gráfico 22, da seguinte maneira:

p1

p0

px

A

B

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TABELA 2: A RECEITA TOTAL (DESPESA TOTAL) E A DEMANDA LINEAR

PONTOS px qx Epd Demanda RT = DT A 0 8 0 inelástica 0

B 1 7 0,14 inelástica 7

C 2 6 0,33 inelástica 12

D 3 5 0,60 inelástica 15

E 4 4 1 unitária 16

F 5 3 1,67 elástica 15

G 6 2 3 elástica 12

H 7 1 7 elástica 7

I 8 0 ∞ elástica 0

Observe na Tabela 2 que os valores da RT vão subindo, enquanto estão no segmento inelástico da curva de demanda, até atingir o ponto máximo, quando a demanda apresenta elasticidade unitária. A partir daí a curva de demanda entra em seu segmento elástico e a RT volta a cair. Isto acontece porque, para níveis mais baixos de preços, os consumidores continuam adquirindo o bem, ainda que ele fique mais caro. Depois de determinado patamar de preço, a curva de demanda entra em seu ramo elástico, e o consumidor busca alternativas mais viáveis em substituição àquele bem. A representação gráfica disso pode ser vista no Gráfico 25.

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Epd = ∞

qx

GRÁFICO 25: A RECEITA TOTAL (DESPESA TOTAL) E A DEMANDA LINEAR

Existem ainda, dois casos especiais em que a Epd é constante ao longo de toda curva de demanda: um, quando a curva de demanda é perfeitamente (ou infinitamente) elástica e outro, quando a curva de demanda é perfeitamente (ou infinitamente) inelástica. Uma curva de demanda é perfeitamente elástica quando os consumidores estão dispostos a comprar tudo o que puderem por determinado preço p*, e absolutamente nada por um preço ligeiramente superior a p*. Neste caso, o coeficiente da Epd é igual a infinito porque o denominador Δ%p é igual a zero, e o gráfico assume a forma de uma reta paralela ao eixo das quantidades, como mostra o Gráfico 26.

pMÉDIO Epd = 1

Epd = 0

RT, px

0 qMÉDIA

RT

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60

GRÁFICO 26: CURVA DE DEMANDA PERFEITAMENTE ELÁSTICA

qx

Uma curva de demanda é perfeitamente inelástica quando a quantidade demandada permanece inalterada à medida que o preço varia. Neste caso, o coeficiente da Epd é igual a zero porque o numerador Δ%q é igual a zero, e o gráfico assume a forma de uma reta paralela ao eixo dos preços, como mostra o Gráfico 27.

p*

px

D

0

LEMBRETE Caso você se esqueça da representação gráfica das curvas de demanda perfeitamente elástica e inelástica, lembre-se que a primeira forma um E de Elástica e a segunda, um I de Inelástica.

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GRÁFICO 27: CURVA DE DEMANDA PERFEITAMENTE INELÁSTICA

q* qx

5.1.2 A elasticidade-renda da demanda

O coeficiente de elasticidade-renda da demanda (ER) mede a sensibilidade da demanda do bem x em relação a variações na renda do consumidor (Y). Em termos numéricos, ER é dado pela variação percentual na quantidade demandada de x dividida pela variação percentual na renda.

ER = Δ%YΔ%qx

Ou ainda,

px D

0

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ER = ΔYΔq .

qY

Os valores de ER têm duas implicações: uma diz respeito à classificação do bem x em relação à renda e a outra diz respeito à sensibilidade da demanda propriamente dita. Quanto à classificação do bem x em relação à renda, temos que:

• se ER > 0 ⇒ o bem é normal • se ER < 0 ⇒ o bem é inferior

Quanto à sensibilidade da demanda de x em relação a variações percentuais na renda R, temos que:

• ⏐ER⏐ > 1 ⇒ a demanda é elástica • ⏐ER⏐ < 1 ⇒ a demanda é inelástica • ⏐ER⏐ = 1 ⇒ a demanda apresenta elasticidade unitária

Para ficar mais claro, suponha uma situação em que a renda dos consumidores passa de 100 para 130, isto é, suponha um Δ%R de 30%:

BENS

R = 100 qx

R’ = 130

qx’ ER

a 20 30 1,67

b 50 60 0,67

c 60 78 1

d 40 36 -0,33

Pelo que foi visto o bem a é um bem normal com demanda elástica em relação à renda. Produtos desse tipo são também chamados bens superiores e geralmente servem para ostentar algum status, como fazem as joias. O bem b é um bem normal, porém com demanda inelástica em

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63

relação à renda. Isto significa quando os consumidores ficam mais ricos, a demanda por esse tipo de bem aumenta, mas não tanto. É o caso da demanda por alimentos: uma pessoa que fica triplamente mais rica não ingere o triplo de comida. O bem c é um bem normal, com elasticidade unitária em relação à renda; e o bem d é um bem inferior, cuja demanda diminui à medida que seus consumidores enriquecem, como no caso da carne de segunda.

5.1.3 A elasticidade-cruzada da demanda

O coeficiente de elasticidade-cruzada da demanda (Exz) mede a sensibilidade da demanda do bem x em relação a variações nos preços dos outros bens (pz). Em termos numéricos, Exz é dado pela variação percentual na quantidade demanda de x dividida pela variação percentual no preço de z.

Exz = Δ%pzΔ%qx

Ou ainda,

Exz = zΔp

Δq .q

pz

Tal como os valores de ER, os valores de Exz também têm dois significados. Neste caso, um diz respeito à relação existente entre x e z e o outro diz respeito à sensibilidade da demanda propriamente dita. Quanto à relação entre x e z , temos que:

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• se Exz > 0 ⇒ x e z são bens substitutos • se Exz < 0 ⇒ x e z são bens complementares • se Exz = 0 ⇒ x e z são bens de consumo independente

Finalmente, quanto à sensibilidade da demanda de x em relação a variações percentuais nos preços de z, temos que:

• se Exz > 1 ⇒ a demanda é elástica • se Exz < 1 ⇒ a demanda é inelástica • se Exz = 1 ⇒ a demanda apresenta elasticidade unitária

5.2 Elasticidade-preço da oferta Uma curva típica de oferta mostra que uma alteração para mais (para menos) no preço provoca uma alteração também para mais (para menos) na quantidade ofertada. Todavia, os diferentes graus de sensibilidade dos produtores frente a variações no preço só podem ser mensurados calculando-se o coeficiente de elasticidade-preço da oferta (Epo). A Epo é dada pela razão entre a variação percentual na quantidade ofertada de x e a variação percentual no preço de x, assim:

Epo = Δ%qx/Δ%px

ou

Epo = ΔpΔq .

qp

E pode assumir os seguintes valores: • Epo > 1 ⇒ oferta elástica • Epo < 1 ⇒ oferta inelástica

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ECONOMIA

65

Epo = 0

• Epo = 1 ⇒ oferta com elasticidade unitária Graficamente, a elasticidade-preço da oferta pode ser assim representada:

GRÁFICO 28: ELASTICIDADE PREÇO DA OFERTA

qx

LEGENDA: Epo > 1 ⇒ oferta elástica (intercepto positivo) Epo < 1 ⇒ oferta inelástica (intercepto negativo) Epo = 1 ⇒ oferta com elasticidade unitária (intercepto na origem)

Observe que, diferente da demanda, em que os valores da elasticidade-preço vão do zero ao infinito ao longo da mesma curva, no caso da oferta, a Epo será só elástica (> 1), só unitária (= 1) ou só inelástica (< 1), conforme a curva de oferta cruzar, respectivamente, o eixo dos preços, a origem dos eixos e o eixo das quantidades. Isto pode ser visto a partir de uma simples demonstração geométrica. Sabendo que a fórmula da Epo é dada por:

px

Epo = 1

Epo > 1

Epo < 1

Epo = ∞

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66

B 0 C

A

pΔp

Epo = ΔpΔq .

qp

e, sabendo que, geometricamente: • Δq corresponde à distância horizontal que vai do intercepto da

curva de oferta ao ponto analisado; • Δp corresponde à distância vertical que vai do intercepto da

curva de oferta ao ponto analisado; • q corresponde à distância horizontal da origem ao ponto

analisado; e • p corresponde à distância vertical da origem ao ponto analisado,

temos: GRÁFICO 29: DEMONSTRAÇÃO GEOMÉTRICA DA Epo > 1

px

qx

q

Δq

Sx

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ECONOMIA

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Partindo da fórmula da Epo e substituindo pelos segmentos expressos no Gráfico 29, vem:

Epo = ΔpΔq .

qp

Epo = ACBC .

OCAC

Epo = 0CBC

Como BC > OC, os valores da Epo serão, sempre que a curva de oferta cortar o eixo dos preços, maiores do que um. Diz-se, neste caso, que a oferta é elástica em relação ao preço. Vejamos agora o caso em que a curva de oferta corta o eixo das quantidades, como no Gráfico 30.

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ECONOMIA

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B

A

pΔp

q

GRÁFICO 30: DEMONSTRAÇÃO GEOMÉTRICA DA Epo < 1

Partindo da fórmula da Epo e substituindo pelos segmentos expressos no Gráfico 30, obtemos:

Epo = ΔpΔq .

qp

Epo = ACBC .

OCAC

Epo = 0CBC

px

0 C qx

Δq

Sx

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C

A

pΔp

q

Mas, neste caso, BC < OC, logo, os valores da Epo serão, sempre que a curva de oferta cortar o eixo das quantidades, menores do que um. Diz-se, aqui, que a oferta é inelástica em relação ao preço. Por fim, observe o Gráfico 31.

GRÁFICO 31: DEMONSTRAÇÃO GEOMÉTRICA DA Epo = 1

Neste último caso, Δq e q têm o mesmo tamanho, e a fórmula da Epo fica assim:

Epo = ΔpΔq .

qp

px

0 qx

Δq

Sx

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Epo = ACOC .

OCAC

Epo = 1

Sempre que a curva de oferta passar pela origem, a Epo será igual a um. Dizemos, então, que a oferta tem elasticidade unitária em relação ao preço.

Os principais fatores que afetam a sensibilidade da oferta de um bem x em relação a variações no seu preço são:

• a disponibilidade dos fatores de produção; • a perecibilidade do produto; e • o tempo exigido no processo produtivo (ou defasagem de

resposta). A influência desses fatores sobre a Epo ocorre da seguinte maneira: quanto menor a disponibilidade de recursos produtivos, e quanto maior o tempo exigido na produção, mais inelástica será a oferta do bem em questão. Além disso, quanto mais perecível for o produto, mais inelástica será sua oferta, quer dizer, se o produto começa a estragar, não dá para ficar negociando um bom preço; tem que vender logo.

6 AS ESTRUTURAS DE MERCADO

Entende-se por “mercado” o conjunto de compradores e vendedores que interagem entre si; e por “estruturas de mercado” as características de

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cada mercado em função do número de compradores e vendedores, da diferenciação ou padronização dos produtos transacionados etc. A Tabela 3 mostra como os economistas têm classificado tais estruturas.

TABELA 3: ESTRUTURAS DE MERCADO

NÚMERO/ TAMANHO

VENDEDORES

NÚMERO/ TAMANHO

COMPRADORES

TIPO DO

PRODUTO

CONTROLE SOBRE PREÇO

BARREIRA À

ENTRADA FLUXO DE

INFORMAÇÃO

CONCORÊNCIAPERFEITA

Muitos pequenos

Muitos pequenos homogêneo nenhum nenhuma transparênci

a

MONOPÓLIO Um

grande Muitos

pequenos único Total do vendedor todas opacidade

MONOPSÔNIO Muitos

pequenos Um

grande único Total do comprador todas opacidade

OLIGOPÓLIO Poucos

grandes Muitos

pequenos semelhante Muito do vendedor muitas visibilidade

limitada

OLIGOPSÔNIO Muitos

pequenos Poucos grandes semelhante Muito do

comprador muitas visibilidade limitada

CONC. MONOPOLÍSTIC

A

Muitos pequenos

Muitos pequenos

diferenciad

o

variável variável

boa visibilidade

A concorrência perfeita é uma situação de mercado em que existem tantos vendedores e compradores, que cada um deles equivale a apenas um átomo diante do todo. Daí o nome de “mercado atomizado”. Além disso, os produtos de todas as empresas são homogêneos (padronizados); há livre entrada e saída de empresas e, dada a transparência do mercado, há pleno conhecimento, tanto pelos compradores quanto pelos vendedores, de tudo o que se refere às fontes supridoras, ao processo de produção aos níveis de oferta etc. O número de compradores e vendedores na concorrência perfeita é tão grande que nenhum deles, agindo individualmente, consegue afetar o

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preço de mercado. De fato, existindo um grande número de outros vendedores e o produto sendo homogêneo, nenhum vendedor conseguirá vender o seu produto por um preço maior do que o preço de mercado, porque, o comprador simplesmente fará a aquisição numa outra empresa concorrente. Analogamente, existindo um grande número de consumidores, nenhum comprador conseguirá comprar o produto por um preço inferior ao de mercado, porque o vendedor tem a consciência que, se não vender para ele, venderá para outro. Embora a concorrência perfeita seja uma construção teórica, servindo apenas como parâmetro para saber o quão imperfeitas são as demais estruturas de mercado, podemos encontrar algumas semelhanças com o mundo real, como no caso dos mercados de produtos agrícolas. O monopólio encontra-se no extremo oposto da concorrência perfeita e tem como principal característica a existência de uma única firma vendendo um produto que não tenha substitutos próximos. Neste caso, o único vendedor tem poder absoluto para fixar o preço que lhe for mais conveniente. Suas decisões são, em geral, sigilosas e garantidas pela falta de transparência desse tipo de mercado. Costuma-se dizer, inclusive, que as firmas monopolistas guardam suas informações em “caixas pretas”, numa analogia às caixas pretas dos aviões, cujos mecanismos internos não são acessíveis à observação. Como exemplo de firma monopolista, temos o caso da Petrobras, que até 1995, tinha, por lei, o monopólio da extração e refino do petróleo no Brasil. O monopsônio é uma estrutura de mercado análoga ao monopólio em que existe apenas um comprador. Suponhamos, por exemplo, uma região em que há um número expressivo de pequenos produtores de leite e apenas uma grande usina onde este leite possa ser pasteurizado. A usina

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será a única opção de venda para os produtores, de modo que ela terá condições de impor os preços de compra que lhe convêm. O oligopólio é a situação de mercado em que existe um pequeno número de vendedores ou em que, apesar de existir um grande número de vendedores, uma pequena parcela destes domina a maior parte do mercado. São exemplos de oligopólios, a indústria automobilística e a indústria de bebidas, entre várias outras. Embora não haja barreiras explícitas, o poderio das grandes firmas é um fator desestimulante à entrada de novas empresas no mercado. Quanto ao controle sobre os preços, os oligopolistas, por serem poucos, podem se unir para evitar a concorrência entre eles e para impor um preço ao mercado. Quanto ao fluxo de informações sobre as fontes supridoras, sobre o processo produtivo, sobre os níveis de oferta etc., os oligopolistas até que gozam de alguma visibilidade, mas cerceada pela rivalidade existente dentro do próprio grupo. O acordo que geralmente as empresas oligopolistas fazem visando aumentar seus lucros é conhecido como conluio, e o grupo dessas empresas que age em comum acordo é chamado de cartel. O oligopsônio é uma estrutura análoga ao oligopólio, sendo que o domínio do mercado está nas mãos de um pequeno número de compradores. A indústria automobilística, por exemplo, que é constituída por um pequeno número de empresas, tem um poder oligopsonista em relação à indústria de autopeças, uma vez que é responsável por um grande volume de compras da produção desta última. A concorrência monopolística, por fim, é uma estrutura que mescla o grande número de vendedores – típico da concorrência perfeita – com a diferenciação do produto – típica do monopólio. Assim, embora existam vários produtores, cada um age como se fosse monopolista do seu produto, já que este é diferenciado dos demais. A diferenciação do

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74

produto se dá por meio de características como qualidade, marca (grife), padrão de acabamento, existência ou não de assistência técnica etc. Neste caso, embora o poder do vendedor em fixar preços seja menor do que no monopólio e no oligopólio em função do grande número de concorrentes, o fato de o seu produto ser diferenciado dos demais lhe confere certa autonomia para determinar o preço. Outra forma de classificar os mercados é através da classificação de Stackelberg, que selecionou um único elemento de diferenciação entre eles: o número de agentes envolvidos. Desse jeito, além da concorrência perfeita, do monopólio, monopsônio, oligopólio e oligopsônio, aparecem as definições intermediárias de oligopólio bilateral, monopólio bilateral, quase monopólio e quase monopsônio, numa tentativa de maior aproximação com a realidade. A classificação de Stackelberg pode ser vista na Tabela 4.

TABELA 4: CLASSIFICAÇÃO DE STACKELBERG PARA AS ESTRUTURAS DE MERCADO

Muitos

vendedores

Poucos

vendedores

Um único vendedor

Muitos compradores

CONCORRÊNCIA PERFEITA OLIGOPÓLIO MONOPÓLIO

Poucos compradores OLIGOPSÔNIO OLIGOPÓLIO

BILATERAL QUASE

MONOPÓLIO

Um único comprador MONOPSÕNIO QUASE

MONOPSÔNIOMONOPÓLIO BILATERAL

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ECONOMIA

75

PARTE II: O LADO REAL DA ECONOMIA

MACROECONOMIA

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PARTE II O LADO REAL DA ECONOMIA

1 ECONOMIA COM DOIS AGENTES

1.1 O conceito de fluxo econômico

O fluxo econômico retrata como a economia como um todo se movimenta, ou seja, mostra como cada agente econômico interage com os seus pares (empresas, famílias, governo, setor externo) e com os mercados (de bens e de fatores) O fluxo econômico segue a lógica tautológica, que é aquela que impossibilita precisar o começo e o fim de uma ação. Por exemplo: o céu é azul porque reflete o azul do mar ou o mar é azul porque reflete o azul do céu? A galinha veio do ovo ou o ovo que veio da galinha? Dada essa complexa linha de raciocínio, em que não conseguimos especificar qual é o agente desencadeador da dinâmica econômica, estudaremos, para facilitar a compreensão, uma economia só com dois agente, de pois com três e só quando o raciocínio estiver bem claro e sedimentado, passaremos ao estudo de uma economia com quatro agentes.

1.2 O fluxo econômico em uma economia com dois agentes

Fazem parte de uma economia com dois tipos de agentes, as empresas (ou unidades produtoras) e as famílias (ou unidades consumidoras). Esse tipo de economia que não envolve nem governo, nem setor externo é usualmente chamado de “economia fechada e sem governo” ou de “economia simples”. Uma economia com dois agentes é

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composta, ainda, por dois mercados: o mercado de bens e o mercado de fatores de produção. A Figura 1 mostra como a oferta e a procura das famílias ajustam-se à oferta e à procura das empresas por intermédio dos mercados de bens e de fatores.

FIGURA 1: FLUXO CIRCULAR DE UMA ECONOMIA COM DOIS AGENTES

OFERTA DE BENS

PGTO. PELOS BENS

empresas famílias PGTO. PELOS FP

OFERTA DE FP

fluxo monetário

fluxo real

O valor de toda a produção (bens e serviços) gerada pelas empresas ao utilizarem os fatores produtivos oferecidos pelas famílias (terra, trabalho e capital), corresponde ao Produto da economia. Somando-se todas as rendas auferidas pelos indivíduos por terem oferecido seus recursos produtivos às empresas (seja na forma de aluguéis, salários, lucros ou juros), obtém-se a Renda dessa sociedade.

MERCADO DE BENS

MERCADO DE FATORES

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Por fim, supondo que a renda dos indivíduos é toda destinada ao consumo, pode-se dizer que esse consumo retrata o total da Despesa efetuada pelos indivíduos na aquisição dos bens e serviços produzidos pelas empresas. Do fluxo econômico depreende-se, portanto, que Produto = Renda = Despesa, cujos valores serão representados, a partir de agora, por Y.

1.3 As identidades contábeis em uma economia com dois agentes Para descrever as identidades contábeis é preciso, primeiro, especificar quais são os agentes envolvidos e quais são as suas respectivas demandas. Uma economia com dois agentes inclui as famílias e as empresas. Suas demandas são, respectivamente, o consumo (C) e o investimento (I). O consumo corresponde ao valor dos bens de consumo adquiridos pelas famílias. O investimento corresponde à aquisição, feita pelas empresas, de bens de capital novos mais a variação de estoques, ou seja, mais os bens não vendidos que ficaram estocados e que representam um acréscimo ao estoque inicial da empresa. Sabendo disso, vejamos quais são as relações que se formam entre produto, renda, consumo e investimento. Identidade-1: Todo produto produzido será vendido.

Y = C + I (1) Os bens vendidos para as famílias serão registrados como consumo (C); os bens vendidos para as empresas serão registrados como

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investimentos (I); e aqueles bens que não forem comprados nem pelas famílias, nem pelas empresas, serão reincorporados ao patrimônio destas últimas na forma de variação de estoques. Identidade-2: Parte da renda disponível será consumida e a parte restante será poupada.

Yd = C + S (2)

Já vimos que a renda corresponde ao somatório das remunerações recebidas pelos proprietários dos fatores produtivos como retribuição pelo uso de seus serviços nas atividades produtivas. A renda, portanto, é auferida pelas famílias, que irão gastá-la de forma a satisfazer suas necessidades. Sendo assim, parte da renda será gasta com consumo imediato (C) e o que sobrar, será destinado à poupança (S). Cabe ressaltar, ainda, dois importantes detalhes: um deles é que as famílias destinam ao consumo e à poupança não a renda total (Y), mas a renda disponível (Yd), quer dizer, a renda da economia (Y) deduzidos os tributos (T). O outro detalhe é que embora nós tenhamos vários exemplos reais de pessoas que não têm dinheiro suficiente para poupar, é certo que na economia como um todo sempre existe alguém com dinheiro suficiente para fazê-lo. Até agora temos que:

Yd = C + S (2) e

Yd = Y – T (3)

Todavia, numa economia com dois agentes não há participação do governo e, portanto, não há arrecadação de tributos. Logo, T = 0 e

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Yd = Y (4)

Substituindo a equação (4) na equação (2), temos: Y = C + S (5)

Identidade-3: O produto de uma economia é igual à renda dessa economia. Quando definimos o fluxo circular da economia, vimos que Produto = Renda = Despesa. Logo, equação (1) = equação (5), ou seja:

C + I = Y = C + S (6) Isso significa que o produto de uma economia com dois agentes destina-se ao consumo e ao investimento e que a renda dessa economia destina-se, em parte, ao consumo e, em parte, à poupança. Identidade-4: O investimento é igual à poupança. Da equação (6), ao deduzirmos o consumo de ambos os lados, encontramos que o investimento é igual à poupança.

I = S (7)

Isso significa que tudo aquilo que foi poupado será revertido para a economia na forma de investimento.

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1.4 Comportamento das variáveis de uma economia com dois agentes Vistas as identidades contábeis em uma economia com dois agentes, passemos, agora, para o comportamento (a relação funcional) de cada uma de suas variáveis.

1.4.1 A função consumo

O consumo das famílias é uma função crescente para os diferentes níveis de renda disponível. Logo, quanto maior a renda disponível (Yd), maior será o consumo (C).

C = f (Yd) (1) Note, porém, que à medida que a renda disponível aumenta, o consumo também aumenta, mas não na mesma proporção. Isto porque, à medida que a renda disponível aumenta, as famílias passam a reservar uma parte dessa renda na forma de poupança. É certo que você conhece ou já ouviu falar de famílias que gastam toda a sua renda com consumo imediato; mas é certo também que você conhece ou deve ter ouvido falar de pessoas que já consomem tudo o que gostariam de consumir, de forma que um aumento em sua renda seria todo destinado à poupança. É por isso que, no todo, à medida que a renda disponível aumenta, uma proporção cada vez menor desta renda será destinada ao consumo e uma proporção cada vez maior será destinada à poupança. Dito assim, supõe-se que o consumo seja uma função linear da renda disponível, ou:

C = C0+ c.Yd (2)

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Onde: C0 é o consumo autônomo, independente da renda disponível; e c é a propensão marginal a consumir. O consumo autônomo (C0) representa a parcela do consumo que não depende da renda disponível no momento, mas de outros fatores como a riqueza (renda passada) ou o crédito (renda futura). Então, quando, por absurdo, ou teoricamente, a sociedade nada produzir em um ano, a renda disponível será igual a zero, e o consumo será do tamanho da renda passada, ou seja, do tamanho do estoque de bens não consumidos em períodos anteriores.

Quando Yd = 0 ⇒ C = C0

A Propensão Marginal a Consumir (c ou PMgC), por sua vez, corresponde ao acréscimo no consumo proveniente do acréscimo de uma unidade monetária na renda disponível. A PMgC indica, portanto, o quanto de cada $1,00 de renda adicional as famílias despendem em gastos com o consumo. Necessariamente c é constante e menor do que um, mostrando que, embora renda disponível e consumo caminhem no mesmo sentido, a variação no consumo é menos do que proporcional à variação na renda disponível.

PMgC = c = YdC

ΔΔ

(3)

A Propensão Média a Consumir (PMeC), ainda que não apareça diretamente na função consumo, mostra o quanto os gastos com consumo representam percentualmente na renda disponível da sociedade. Algebricamente, a PMeC é igual à relação entre consumo e renda disponível, quer dizer:

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PMeC = YdC (4)

Como na fórmula do consumo está incluída a PMgC, que é constante e menor do que um, à medida que a renda disponível se eleva, o consumo passa a representar uma porcentagem cada vez menor dessa renda. Por isso que a PMeC diminui à medida que a renda disponível aumenta. O Gráfico 1 vem representar o que foi dito até agora. No desenho, o consumo autônomo (C0), equivalente ao gasto com consumo quando a renda disponível é igual a zero, corresponde ao coeficiente linear ou intercepto da função; e a Propensão Marginal a Consumir (ou c), corresponde ao coeficiente angular ou declividade da reta.

GRÁFICO 1: A FUNÇÃO CONSUMO

C

C

C0 0 Y

ΔC

ΔYd

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O exemplo a seguir, representado na Tabela 1, facilita a compreensão da função consumo e das Propensões Média e Marginal a Consumir. Suponha que, para determinada sociedade, fosse estimada a seguinte função consumo:

C = 20 + 0,8 Yd Da fórmula extraímos que o consumo autônomo é igual a 20, ou seja, quando a renda disponível para consumo imediato é igual a zero, o gasto com consumo – financiado pela renda passada e/ou pela renda futura – é igual a $20. Temos também que a Propensão Marginal a Consumir é igual a 0,8 para qualquer nível de renda, isto é, de cada $1,00 a mais na renda disponível, $0,80 serão destinados ao consumo, e os $0,20 restantes, à poupança.

TABELA 1: FUNÇÃO CONSUMO – UM EXEMPLO NÚMERICO

(1)

Yd

(2)

C

(3) C/Yd x 100

PMeC em %

(4) ΔC/ΔYd x 100 PMgC em %

75 20 + (0,8 x 75) = 80 106,7% -

100 20 + (0,8 x 100) = 100 100% 20/25 x 100 = 80%

125 20 + (0,8 x 125) = 120 96% 20/25 x 100 = 80%

160 20 + (0,8 x 160) = 148 92,5% 28/35 x 100 = 80%

200 20 + (0,8 x 200) = 180 90% 32/40 x 100 = 80%

285 20 + (0,8 x 285) = 248 87% 68/85 x 100 = 80%

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500 20 + (0,8 x 500) = 420 84% 172/215 x 100 = 80%

Para os níveis de renda disponível expressos na coluna (1), observa-se, pela coluna (2), que o consumo aumenta, mas menos do que proporcionalmente ao aumento da renda. Por isso que na coluna (3) a Propensão Média a Consumir, ou o peso do consumo na renda, é decrescente. Já a Propensão Marginal a Consumir, expressa na coluna (4), é sempre a mesma, mostrando que a inclinação da função consumo não se altera à medida que a renda varia.

1.4.2 A função poupança

A poupança é a parcela da renda disponível não consumida. Pelas identidades contábeis,

Yd = C + S então,

S = Yd – C

Como C = C0+ c.Yd, segue-se que: S = Yd – (C0+ cYd) = Yd – C0 – cYd

ou S = C0 + (1 – c).Yd (5)

onde: - C0 é a poupança autônoma; e (1 – c) é a Propensão Marginal a Poupar.

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A poupança autônoma (- C0) é chamada despoupança da economia, ou, em outras palavras, é o valor da poupança quando a renda disponível é igual a zero.

Quando Yd = 0 ⇒ S = - C0

A Propensão Marginal a Poupar (PMgS ou 1 - c) corresponde ao acréscimo na poupança proveniente do acréscimo de uma unidade monetária na renda disponível. A PMgS indica ainda o quanto de cada $1,00 de renda adicional as famílias não despendem em gastos com consumo, e sim em poupança.

PMgS = (1 – c) = YdS

ΔΔ (6)

Pelo exemplo da Tabela 1 vimos que de cada $1,00 a mais na renda disponível, $0,80 serão destinados ao consumo, e os $0,20 restantes, à poupança. Em termos gerais, podemos dizer que:

PMgS = 1 – PMgC Ou, pelo exemplo:

0,2 = 1 – 0,8

Como a PMgS é igual a (1 – c) e como c é constante e menor do que um, então também a PMgS será constante e menor do que um, mostrando que, embora renda disponível e poupança caminhem no mesmo sentido, a variação na poupança é menos do que proporcional à variação na renda disponível. Muito embora a variação na poupança seja proporcionalmente menor do que a variação na renda, à medida que esta aumenta, a poupança assume uma importância cada vez maior na sua distribuição. Isto se deve

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à Propensão Média a Poupar (PMeS) que, ao contrário da Propensão Média a Consumir, aumenta com os aumentos na renda disponível.

PMeS = YdS (7)

Para melhor visualizar os conceitos relacionados à função poupança, vejamos a Tabela 2, que é uma extensão da Tabela 1.

TABELA 2: A FUNÇÃO POUPANÇA – UM EXEMPLO NUMÉRICO

(1)

Yd

(2)

S

(3) S/Yd x 100

PMeS em %

(4) ΔS/ΔYd x 100 PMgS em %

75 - 20 + (0,2 x 75) = -5 -6,7% -

100 - 20 + (0,2 x 100) = 0 0% 5/25 x 100 = 20%

125 - 20 + (0,2 x 125) = 5 4% 5/25 x 100 = 20%

160 - 20 + (0,2 x 160) = 12 7,5% 12/35 x 100 = 20%

200 - 20 + (0,2 x 200) = 20 10% 8/40 x 100 = 20%

285 - 20 + (0,2 x 285) = 37 13% 17/85 x 100 = 20%

500 - 20 + (0,8 x 500) = 80 16% 43/215 x 100 = 20%

No Gráfico 2, encontramos tanto a função consumo quanto a função poupança. Sobre esta última, cabe ressaltar que a poupança autônoma (-

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Y*

C = C0 + c Yd

C0

- C0

C0) corresponde ao coeficiente linear ou intercepto da função; e que a Propensão Marginal a Poupar (ou 1 - c), corresponde ao coeficiente angular ou declividade da reta.

GRÁFICO 2: A FUNÇÃO CONSUMO E A FUNÇÃO POUPANÇA

C

0 Y

LEGENDA: Y*: nível de renda de equilíbrio das famílias

Deste gráfico ainda podemos destacar os seguintes pontos: • A reta pontilhada tem uma inclinação de 45 graus sendo, portanto,

equidistante dos eixos C e Y. Isto significa que em cada ponto desta reta, os valores de C serão iguais aos de Y. Sabendo de

45º

S = S0 + (1 – c) Yd

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ECONOMIA

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antemão que Y = C + S, ao longo da reta de 45º (onde Y = C), S será igual a zero para qualquer nível de renda;

• A distância que vai da origem ao intercepto da função consumo e a que vai da origem ao intercepto da função poupança são iguais, e seu tamanho é igual ao módulo do consumo autônomo;

• A declividade da função consumo e da função poupança dependerá, respectivamente da PMgC e da PMgS. As retas do consumo e da poupança só serão paralelas quando c for igual a 0,5;

• No nível de renda Y*, a função consumo coincide com a reta de 45º. Logo, em Y*, as famílias estão em equilíbrio: Y = C e S = 0 (a função poupança corta o eixo da renda);

• A distância entre a reta de 45º e a função consumo é igual à distância entre a função poupança e o eixo horizontal, e seu tamanho corresponde ao valor da poupança para aquele nível de renda.

O nível de renda de equilíbrio das famílias (Y*) pode ser obtido da seguinte forma:

Condição de equilíbrio ⇒ Y = C

C = C0 + cYd Então,

Y = C0 + cYd Com dois agentes,

Y = Yd Logo,

Y = C0 + cY

Y - cY = C0

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90

(1-c)Y = C0

Y* = c1

1−

C0

Pelo exemplo, C = 20 + 0,8Yd

Em equilíbrio e sabendo que Y = Yd, temos: Y = C

Y = 20 + 0,8Y

Y – 0,8Y = 20

Y = 1/0,2 x 20

Y* = 100

1.4.3 A função investimento

O investimento das empresas será suposto total ou parcialmente autônomo em relação à renda. Se totalmente autônomo, assumirá a fórmula:

I = I0

Se parcialmente autônomo: I = I0 + bY

Onde: I0 é o investimento autônomo, isto é, o investimento que não depende nem da renda presente (Y), mas de outros fatores como a riqueza ou o crédito; e b é a Propensão Marginal a Investir, isto é, o quanto de um aumento de $1,00 na renda da economia será gasto com despesas de investimento.

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ECONOMIA

91

Na primeira hipótese, assume-se que os empresários tomam suas decisões de investir sem levar em consideração o nível de renda presente. Na segunda – mais realista –, o nível de investimento depende de forma direta do nível de renda da economia, ou seja, quando mais alto este, mais alto aquele. Ainda quanto à função investimento, duas observações devem ser consideradas:

1º) embora a taxa de juros seja imediatamente lembrada quando nos referimos ao investimento, essa variável só entrará em nossa análise quando discutirmos o lado monetário da Economia; e

2º) o investimento, quando parcialmente autônomo, depende da renda total da economia e não da renda disponível. Afinal, a renda disponível é uma variável que diz respeito apenas às famílias.

Assumindo-se, para simplificar, que o investimento é totalmente autônomo em relação à renda, o gráfico da função fica assim:

Page 92: Economia

ECONOMIA

92

I0 I = I0

0

GRÁFICO 3: O INVESTIMENTO AUTÔNOMO

I

Y

1.4.4 A demanda agregada com dois agentes

Com dois agentes, a demanda agregada (DA) será igual à soma da demanda das famílias (C) e a das empresas (I), ou seja:

DA = C + I

Sabendo que a função consumo é positivamente inclinada e supondo uma função investimento integralmente autônoma, a demanda agregada assume a declividade vinda do consumo induzido pela renda (inclinação c), como mostra o desenvolvimento da fórmula a seguir.

DA = C + I DA = C0 + cYd + I0 DA = C0+ I0 + cYd DA = DA0 + cYd

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onde DA0 é a demanda agregada autônoma composta pelas parcelas autônomas do consumo e do investimento; e c é a inclinação da demanda agregada proveniente da função consumo. Graficamente (ver Gráfico 4),

GRÁFICO 4: A DEMANDA AGREGADA COM DOIS AGENTES

DA

C + I = DA C

0 Y

1.4.5 O equilíbrio com dois agentes

Quando vimos, pelas identidades contábeis, que todo produto produzido é vendido, assumimos, automaticamente, que – em equilíbrio – o produto de uma economia (Y) iguala-se à demanda agregada (DA) dessa economia, ou:

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ECONOMIA

94

No equilíbrio ⇒ Y = DA Continuando com aquele exemplo em que C = 20 + 0,8 Yd e supondo um investimento integralmente autônomo igual a 15, chegamos aos valores descritos na Tabela 3.

TABELA 3: A DEMANDA AGREGADA EM UMA ECONOMIA COM DOIS AGENTES

(1)

Y

(2)

C

(3)

S

(4) I

(5)

DA

75 80 -5 15 95

100 100 0 15 115

125 120 5 15 135

160 148 12 15 163

200 180 20 15 195

285 248 37 15 263

500 420 80 15 435

Lembrando que, por convenção, produto e renda são iguais, a demanda agregada e o nível de renda (ou produto) de equilíbrio podem ser representados tais como no Gráfico 5 a seguir.

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ECONOMIA

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C = C0 + cYd

DA = C + I

I0

Y = C

S = 0

S = I I = I0

GRÁFICO 5: A RENDA DE EQUILÍBRIO COM DOIS AGENTES

DA

LEGENDA: Y*: nível de renda de equilíbrio das famílias Y0: nível de renda de equilíbrio de toda a economia

45º

Y* Y0

S = - C0 + (1 – c)Yd DA0

C0

- C0

0

Y = DA

Y

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Algebricamente, o valor de Y0 será dado por:

Condição de equilíbrio ⇒ Y = DA

DA = C + I Então,

Y = C + I Y = C0 + cYd + I0

Com dois agentes, Y = Yd

Logo, Y = C0 + cY + I0

Y - cY = C0 + I0

(1-c)Y = C0 + I0

Y0 = c1

1−

(C0 + I0) ou

Y0 = c1

1−

DA0

Pelo exemplo, C = 20 + 0,8Yd

I = 15 Em equilíbrio e sabendo que Y = Yd, temos:

Y = DA Y = 20 + 0,8Y + 15 Y – 0,8Y = 20 + 15

Y = 35/0,2 Y0 = 175

Page 97: Economia

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97

Do Gráfico 5 ainda podemos destacar os seguintes pontos (além daqueles já mencionados para o Gráfico 2):

• Como o investimento, neste exemplo, é integralmente autônomo, ele é representado por uma reta horizontal que mostra que seu valor é o mesmo para os vários níveis de renda.

• A reta pontilhada, que tem inclinação de 45 graus, mostra que tanto Y = C quanto Y = DA;

• A distância entre a reta de 45º e a função consumo é igual à distância entre a função poupança e o eixo horizontal, e seu tamanho corresponde ao valor da poupança para aquele nível de renda;

• A distância vertical que vai da reta do consumo até a reta da demanda agregada é do tamanho do investimento, por isso, é igual à distância vertical que vai do eixo horizontal até a reta do próprio investimento;

• No nível de renda Y*, a função consumo coincide com a reta de 45º. Logo, em Y*, Y = C e S = 0 (a função poupança corta o eixo da renda). No nível de renda Y0, a função demanda agregada coincide com a reta de 45º. Logo, em Y0, Y = DA e S = I (as retas da poupança e do investimento se cruzam);

• Em Y* temos o equilíbrio das famílias ou ponto de poupanças nulas, e em Y0, temos o equilíbrio da economia ou ponto de interseção entre poupança e investimento;

• Y0 é sempre maior do que Y* mostrando que a atividade econômica aumenta quando se agrega mais um agente, no caso, quando as empresas agregam-se às famílias.

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98

1.4.6 Injeções e vazamentos numa economia com dois agentes

Vimos até agora que o equilíbrio de uma economia com dois agentes corresponde àquele ponto em que a oferta agregada (Y) iguala-se à demanda agregada (DA). Existe, contudo, outra forma de se identificar o ponto de equilíbrio da economia: trata-se do estudo das injeções e vazamentos. Chamam-se vazamentos todos os recursos que saem das famílias e que não seguem para as empresas; e injeções, todos os recursos que não provêm das famílias, mas que se destinam às empresas. A economia estará em equilíbrio quando os vazamentos forem iguais às injeções. Vejamos através da Figura 2.

FIGURA 2: INJEÇÕES E VAZAMENTOS EM UMA ECONOMIA COM DOIS AGENTES

EMPRESAS FAMÍLIAS

INVESTIMENTO (I) POUPANÇA (S)

MERCADO FINANCEIRO

RENDA NACIONAL (Y)

CONSUMO (C)

VAZAMENTOS INJEÇÕES

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99

Na Figura 3temos os mesmos agentes, famílias e empresas, e agora, no lugar do mercado de bens e do mercado de fatores, temos os mercado financeiro. A seta da renda nacional mostra que as empresas pagam rendas às famílias pelo uso dos fatores de produção (terra, trabalho e capital), e a seta do consumo mostra que as famílias utilizam parte da renda para gastar com consumo. O restante da renda vai para o mercado financeiro na forma de poupança, caracterizando um vazamento ao fluxo renda/consumo. Os investimentos das empresas, por sua vez, provêm de empréstimos solicitados por essas empresas ao mercado financeiro, caracterizando injeções ao fluxo renda/consumo. Haverá equilíbrio da economia quando os vazamentos forem compensados pelas injeções, ou neste caso, quando o gasto com poupança for igual ao gasto com investimento.

Vazamentos = Injeções

Poupança (S) = Investimento (I) Pelo exemplo numérico, em que C = 20 + 0,8 Yd e I = 15, temos:

C = 20 + 0,8 Yd ⇒ S = -20 + 0,2 Yd Pela condição de equilíbrio ⇒ S = I Então,

-20 + 0,2 Yd = 15 Como Y = Yd,

-20 + 0,2 Y = 15 0,2Y = 35 Y0 = 175

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100

Obviamente, os valores de Y0 obtidos pela igualdade entre produto e demanda agregada e pela igualdade entre injeções e vazamentos são idênticos.

2 ECONOMIA COM TRÊS AGENTES

2.1 O fluxo econômico em uma economia com três agentes

O fluxo econômico a dois setores pode ser expandido, passando a incluir um terceiro agente: o governo, em todos os seus níveis – federal, estadual e municipal, como mostra a Figura 3.

subsídios transferências

FIGURA 3: FLUXO CIRCULAR DE UMA ECONOMIA COM TRÊS AGENTES

OFERTA DE BENS pagto e oferta e receb. pelos bens demanda de bens PGTO. PELOS BENS empresas bens não incluídos no mercado governo bens não incluídos no mercado famílias tributos indiretos tributos diretos pagto e oferta e receb. pelos FP demanda de FP PGTO. PELOS FP OFERTA DE FP fluxo monetário

fluxo real

MERCADO DE BENS

MERCADO DE FATORES

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101

No fluxo com três agentes, as transações entre famílias e empresas permanecem praticamente as mesmas. Os novos movimentos ficam por conta da entrada do governo. Vejamos. No mercado de fatores, o governo, no papel de comprador, adquire fatores de produção e os utiliza para produzir bens e serviços não negociados no mercado, tais como a defesa nacional, a saúde pública, a proteção policial etc., tornando-os disponíveis às famílias e às empresas. O governo possui, também, alguns recursos, como por exemplo, terras, que vende ou arrenda no mercado de fatores. Já no mercado de bens, o governo atua do lado da oferta quando vende determinados bens e serviços, como os serviços postais, o transporte urbano, as habitações populares e os serviços públicos em geral; e, do lado da demanda, quando compra bens e serviços que vão ser úteis, direta ou indiretamente, à coletividade, tais como equipamentos bélicos, veículos, material de escritório, serviços de manutenção e limpeza etc. Fora do mercado de bens e do mercado de fatores, registram-se os auxílios financeiros, do governo para as empresas, na forma de subsídios e, do governo para as famílias, na forma de transferências. De um modo geral, os subsídios e as transferências visam ao bem-estar da coletividade. Nesse sentido, justificam-se tanto os subsídios destinados ao barateamento de bens e serviços largamente consumidos pelas camadas mais pobres da população, quanto os subsídios destinados ao barateamento do custo de produção de setores vitais para a economia, como, por exemplo, o subsídio aos fertilizantes para a agricultura e ao óleo diesel para o setor de transportes. Quanto aos pagamentos de transferências realizados pelo governo, destacam-se os relacionados à Previdência Social, sobretudo pensões e aposentadorias.

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102

As receitas que financiam as despesas governamentais provêm, em sua maior parte, dos tributos cobrados das famílias e das empresas. Os tributos são divididos em impostos, taxas e contribuições. Um exemplo de imposto é o Imposto de Renda (IR), em que o cidadão repassa ao governo uma parcela da sua renda e do seu patrimônio; um exemplo de taxa é a Taxa de Serviços Urbanos (TSU), em que o contribuinte paga pela iluminação pública, pela coleta de lixo etc.; e um exemplo de contribuição é a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), mais conhecida como “Imposto sobre Cheques”, foi criada para financiar a saúde pública e extinta no ano de 2007. Os impostos, especificamente, classificam-se em Impostos Diretos e Impostos Indiretos. Os Impostos Diretos são aqueles que incidem sobre a renda e o patrimônio de pessoas ou entidades. Dentre os mais conhecidos, encontram-se o Imposto sobre a Renda (IR), o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) e o Imposto Territorial Rural (ITR).Os Impostos Indiretos são aqueles que incidem sobre a produção, a venda e a circulação de bens e serviços. Dentre eles, destacam-se o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS).

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103

2.2 As identidades contábeis em uma economia com três agentes

Uma economia com três agentes ainda é uma economia fechada, embora com participação do governo. Suas identidades contábeis envolvem as famílias, as empresas e o governo, cujas demandas são, o consumo (C), o investimento (I) e os gastos do governo (G), respectivamente. Sabendo que os gastos do governo (G) compreendem as despesas do governo com produtos e serviços adquiridos no mercado de bens, e com recursos produtivos adquiridos no mercado de fatores, vejamos quais são as relações que se formam entre produto, renda, consumo, investimento e esses gastos governamentais. Identidade-1: Todo produto produzido será vendido.

Y = C + I + G (1) Os bens vendidos para as famílias serão registrados como consumo; os bens vendidos para as empresas serão registrados como investimentos; e aqueles vendidos para o governo, como gastos governamentais. Como na economia com dois agentes, os bens que não forem comprados nem pelas famílias, nem pelas empresas, e nem pelo governo serão reincorporados ao patrimônio das empresas na forma de variação de estoque. Identidade-2: Parte da renda disponível será consumida e a parte restante será poupada.

Yd = C + S (2)

Page 104: Economia

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104

Isso significa dizer que a renda auferida pelas famílias, será, depois de deduzidos os tributos, gasta, em parte, com consumo imediato (C) e o que sobrar, será destinado à poupança (S). Até agora temos que:

Yd = C + S (2) e

Yd = Y – T (3)

Substituindo a equação (3) na equação (2), encontramos: Y – T = C + S (4)

ou Y = C + S + T (4’)

A equação (4’) mostra que a renda nacional (Y) –paga às famílias em troca dos serviços de seus fatores de produção – é consumida, poupada ou gasta com impostos.

Identidade-3: O produto de uma economia é igual à renda dessa economia. Quando definimos o fluxo circular da economia, vimos que Produto = Renda = Despesa. Logo, equação (1) = equação (4’), ou seja:

C + I + G= Y = C + S + T (5) Isso significa que o produto (Y) de uma economia com três agentes destina-se ao consumo, ao investimento e ao gasto público, e que a renda

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105

(Y) dessa economia destina-se, em parte ao consumo, em parte à poupança e, em parte ao pagamento de tributos. Identidade-4: O investimento é igual à soma das poupanças.

I = ΣS Da equação (5), ao subtrairmos o consumo de ambos os lados, encontramos:

I + G = S + T

Isolando o investimento, vem: I = S + T – G (6)

Como S é a poupança do setor privado; e (T – G) é a poupança do governo (Sg), então:

I = S + Sg (6’) ou

I = ΣS tal como aparece no enunciado desta Identidade. A equação (6’) mostra que tudo aquilo que foi poupado, seja pelas famílias ou pelo governo, será revertido para a economia na forma de investimento. Rearranjando a equação (6), observa-se, ainda, que:

G – T = S – I (6”) A equação (6”), por sua vez, mostra que o déficit do orçamento do governo, dado por (G – T), em uma economia com três agentes, só poderá

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106

ser financiado pelo excesso de poupança privada (S) sobre o investimento privado (I) ou “poupança interna líquida” (S – I).

2.3 O comportamento das variáveis de uma economia com três agentes

2.3.1 A função consumo e a função investimento

As funções consumo (C = C0 + cYd) e investimento (I = I0 ou I = I0 + bY) de uma economia simples (dois agentes) conservam as mesmas propriedades para uma economia fechada e com governo (três agentes). Contudo, não se pode esquecer de dois detalhes:

1º) que a entrada do agente governo torna a renda nacional (Y) diferente da renda disponível (Yd); e 2º) que os tributos pagos pelas famílias ao governo afetam negativamente o consumo: este cai se aqueles sobem e sobe se aqueles caem.

2.3.2 A função gastos do governo

Os gastos públicos são determinados institucionalmente; eles dependem da política econômica escolhida pelas autoridades (se expansionista ou contracionista). Os gastos do governo são, portanto, independentes da renda, como mostra o Gráfico 6:

G = G0 (7)

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107

2.3.3 A função tributos

Já vimos que os tributos (T) são pagamentos feitos pelas famílias ao governo, que devem ser revertidos à coletividade sob a forma de benefícios de interesse geral: transporte, educação, saúde etc. Sabendo que os tributos (T) são deduzidos da renda recebida pelas famílias como remuneração pelo uso de seus fatores, eles agem negativamente sobre o consumo, quer dizer: se altos, diminuem o consumo; se baixos, o estimulam. Em termos macroeconômicos, os tributos são supostos total ou parcialmente autônomos em relação à renda. Se totalmente autônomos, sua fórmula é:

T = T0

Se em parte autônomos, em parte dependentes da renda, a fórmula passa a ser:

T = T0 + tY Onde:

GRÁFICO 6: OS GASTOS DO GOVERNO

G

G0 G = G0 Y

Page 108: Economia

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108

T0 é a tributação autônoma, cujas bases de cálculo independem da renda (tais como os tributos que vêm embutidos nos produtos, tipo ICMS); e t é a Propensão Marginal a Tributar ou alíquota do imposto que incide sobre a renda.

2.3.4 A demanda agregada com três agentes

A demanda agregada é obtida pela soma das demandas de todos os agentes da economia. No caso de uma economia com três agentes, a demanda agregada será dada por:

DA = C + I + G Desenvolvendo a fórmula, temos:

DA = C + I + G DA = C0 + cYd + I0 + G0 DA = C0+ I0 + G0 + cYd DA = DA0 + c(Y – T)

Onde DA0 é a demanda agregada autônoma com três agentes; e c é a inclinação da demanda agregada, supondo I e T integralmente autônomos em relação à renda. Observe que, sendo a função consumo positivamente inclinada e supondo os investimentos e os tributos integralmente autônomos em relação à renda, a demanda agregada assume a declividade do consumo. Graficamente,

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109

GRÁFICO 7: A DEMANDA AGREGADA COM TRÊS AGENTES

DA

C + I + G = DA C + I C

Y

Pelo Gráfico 7 pode-se notar que a demanda agregada é mais alta do que seria sem o agente governo.

2.3.5 O equilíbrio com três agentes

Se, com base nas identidades contábeis, todo produto produzido é vendido, então, no equilíbrio, o produto de uma economia iguala-se à demanda agregada dessa economia. Com três agentes, isso significa dizer que a renda ou produto (Y) será igual à demanda agregada (DA)

No equilíbrio ⇒ Y = DA No caso,

Y= C + I + G

Page 110: Economia

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110

Pelo Gráfico 8, podemos visualizar o nível de renda de equilíbrio (Y0

3), que corresponde ao ponto onde a reta de 45º intercepta a função demanda agregada com três agentes.

0

GRÁFICO 8: A RENDA DE EQUILÍBRIO COM TRÊS AGENTES

DA

LEGENDA

Y*: nível de renda de equilíbrio das famílias Y0

2: nível de renda de equilíbrio de uma economia com dois agentes Y0

3: nível de renda de equilíbrio de uma economia com três agentes

45º

Y* Y02

C + I + G

C + I

C

Y03 Y

Algebricamente, o valor de Y0

3 será dado por: Condição de equilíbrio ⇒ Y = DA

DA = C + I + G Então,

Y = C + I + G

Page 111: Economia

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111

Y = C0 + cYd + I0 + G0 Com três agentes,

Yd = Y - T Logo,

Y = C0 + c(Y – T) + I0 + G0 Y = C0 + c(Y – T0) + I0 + G0

Y - cY = C0 – cT0+ I0 + G0

(1-c)Y = C0 – cT0+ I0 + G0

Y0 = c1

1−

(C0 – cT0+ I0 + G0) ou

Y0 = c1

1−

DA0

Pelo exemplo numérico onde C = 20 + 0,8Yd e I = 15, admitamos que os gastos do governo sejam autônomos e iguais a 10 e que a os tributos somem 5. Neste caso, o nível de renda de equilíbrio será:

Y0 = c1

1−

(C0 – cT0+ I0 + G0)

ou

Y0 = 8.01

1−

(20 – 0,8.5 + 15 + 10)

Y0 = 8.01

1−

. 41

Y0 = 205 Este valor de Y0

3 = 205 mostra que uma economia com três agentes alcança seu equilíbrio a um nível de renda maior do que se o agente governo não fizesse parte da economia (lembrando que Y0

2 = 175).

Page 112: Economia

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112

2.3.6 Injeções e vazamentos numa economia com três agentes

Já vimos que existem duas maneiras de encontrarmos o nível de renda de equilíbrio: uma é através da igualdade entre oferta agregada (Y) e demanda agregada (DA), e a outra, através da igualdade entre injeções e vazamentos. Lembrando que vazamentos são todos os recursos que deixam de fluir das famílias para as empresas; e que injeções são todos os recursos que não provêm das famílias, mas que se destinam às empresas, vejamos o que acontece numa economia com três agentes.

FIGURA 4: INJEÇÕES E VAZAMENTOS EM UMA ECONOMIA COM TRÊS AGENTES

EMPRESAS FAMÍLIAS

INVESTIMENTO (I) POUPANÇA (S) MERC ADO

FINANCEIRO

RENDA NACIONAL (Y)

CONSUMO (C)

VAZAMENTOS INJEÇÕES

GOVERNO

GASTOS GOV. (G) TRIBUTOS (T)

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113

A Figura 4 apresenta: três agentes (empresas, famílias e governo); um mercado (mercado financeiro) e o fluxo circular renda/consumo. De toda a renda (Y) destinada às famílias como forma de pagamento pelo uso de seus fatores, apenas parte reverte-se diretamente às empresas na forma de consumo (C). O restante da renda destina-se, em parte, ao mercado financeiro e, em parte, ao governo. O montante de renda mantido no mercado financeiro sob a forma de poupança (S) é emprestado às empresas para que estas adquiram bens de investimento (I), como máquinas, equipamentos e até novas instalações. O montante desviado das empresas em direção ao governo sob a forma de tributos (T) equivale à receita pública utilizada pelo governo para financiar seus gastos (G) junto às empresas. Desta forma, diz-se que a poupança (S) e os tributos (T) são vazamentos ao fluxo renda/consumo, e que os investimentos (I) e os gastos governamentais (G) são injeções neste fluxo. Uma economia com três agentes estará em equilíbrio quando os vazamentos (S + T) forem compensados pelas injeções (I + G).

Vazamentos = Injeções S + T = I + G

Pelo exemplo numérico, em que C = 20 + 0,8 Yd, I = 15, G = 10 e T = 5, temos:

C = 20 + 0,8 Yd ⇒ S = -20 + 0,2.(Y – T) Condição de equilíbrio ⇒ S + T = I + G

Então, -20 + 0,2.(Y – 5) + 5 = 15 + 10

-20 + 0,2 Y – 1+ 5 = 25 0,2Y = 41 Y0 = 205

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114

Obviamente, os valores de Y0 obtidos pela igualdade entre produto e demanda agregada e pela igualdade entre injeções e vazamentos são idênticos.

3 ECONOMIA COM QUATRO AGENTES

3.1 O fluxo econômico em uma economia com quatro agentes Consideremos agora o caso de uma economia completa, isto é, de uma economia que, além dos setores privado e público, inclua também o setor externo, ou seja, mantenha relações comerciais com outros países.

FIGURA 5: O FLUXO CIRCULAR EM UMA ECONOMIA COM QUATRO AGENTES

PAGTOS E EXPORTAÇÕES e RECEBIMENTOS IMPORTAÇÕES OFERTA DE BENS pagto e oferta e recebimentos demanda PGTO. PELOS BENS empresas nac bens não incluídos no mercado governos bens não incluídos no mercado famílias nac. e estr ang. tributos indiretos nac. e estrang. tributos diretos e estrang. pagto e oferta e receb. pelos FP demanda de FP PGTO. PELOS FP OFERTA DE FP RENDA ENVIADA e EXPORTAÇÕES e RENDA RECEBIDA IMPORTAÇÕES de FP

fluxo monetário

fluxo real

MERCADO DE CÂMBIO

MERCADO DE BEN S

MERCADO DE FATORES

subsídios transferências

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115

Pela Figura 5 pode-se observar que o fluxo econômico com quatro agentes amplia o fluxo com três agentes ao incluir governos, empresas e famílias não residentes. O mercado de bens e de fatores passam então a registrar, além da oferta e demanda internas, a oferta e demanda externas (exportações e importações) e seus respectivos pagamentos. Por envolver diferentes moedas, todas as transações de uma economia com quatro agentes são permeadas pelo mercado de câmbio e são registradas em lugar próprio, denominado “Balanço de Pagamentos”.

3.2 As identidades contábeis em uma economia com quatro agentes Uma economia que envolve o setor externo (ou Resto do Mundo) deixa de ser uma economia fechada e passa a ser uma economia aberta. Suas identidades contábeis envolvem todos os agentes, isto é, as famílias, as empresas, o governo e o setor externo, cujas demandas são, respectivamente, o consumo (C), o investimento (I), os gastos do governo (G) e as exportações líquidas (X - M). Sabendo que os as exportações líquidas correspondem ao valor das exportações menos o valor das importações, vejamos quais são as relações que se estabelecem entre estas variáveis e as variáveis internas, como consumo, investimento e gastos do governo. Identidade-1: Todo produto produzido será vendido.

Y = C + I + G + X (1)

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116

Os bens vendidos para as famílias são registrados como consumo; os bens vendidos para as empresas (incluindo a variação de estoques) são registrados como investimentos; os vendidos para o governo, são registrados como gastos governamentais; e aqueles vendidos para o exterior correspondem às exportações. Identidade-2: Parte da renda disponível será consumida e a parte restante será poupada. A identidade relativa à renda disponível mantém seu enunciado independente do número de agentes. Há que se observar, entretanto, que, em se tratando de uma economia aberta, a parte da renda disponível que será consumida inclui não só o consumo de bens produzidos internamente (C), mas também o consumo de bens produzidos no exterior, correspondentes às importações (M). Logo,

Yd = C + M + S (2) Como

Yd = Y – T (3)

Substituindo a equação (3) na equação (2), encontramos: Y – T = C + M + S (4)

ou Y = C + M + S + T (4’)

A equação (4’) mostra que a renda nacional (Y) –paga às famílias em troca dos serviços de seus fatores de produção – é consumida, importada, poupada ou gasta com impostos.

Page 117: Economia

ECONOMIA

117

Identidade-3: O produto de uma economia é igual à renda dessa economia. Quando definimos o fluxo circular da economia, vimos que Produto = Renda = Despesa. Logo, equação (1) = equação (4’), ou seja:

C + I + G + X = Y = C + M +S + T (5) Isso significa que o produto (Y) de uma economia aberta com quatro agentes destina-se ao consumo, ao investimento, ao gasto público e às exportações, ao passo que a renda (Y) dessa economia destina-se, em parte, aos consumos interno e externo (importação), em parte, à poupança e, em parte, ao pagamento de tributos. Identidade-4: O investimento é igual à soma das poupanças.

I = ΣS Subtraindo o consumo da equação (5), encontramos:

I + G + X = S + T + M

Isolando o investimento, vem: I = S + T – G + M – X (6)

Vale lembrar que M é uma espécie de receita do setor externo, ao passo que X é uma espécie de despesa para tal agente. Sendo assim, (M – X) corresponde ao saldo das receitas menos as despesas ou, no caso, à poupança do exterior (Sex). Além disso, sabendo que S é a poupança do setor privado, e que (T – G) é a poupança do governo (Sg), então:

I = S + Sg + Sex (6’) ou

I = ΣS

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tal como aparece no enunciado desta Identidade. A equação (6’) mostra que tudo aquilo que foi poupado, seja pelas famílias, pelo governo ou pelo setor externo, será revertido para a economia na forma de investimento. Rearranjando a equação (6), observa-se, ainda, que:

G – T = S – I + M – X (6”)

A equação (6”) mostra que em uma economia com quatro agentes, o déficit nas contas do governo, dado por (G – T), poderá ser financiado pela poupança interna líquida (S – I) e/ou pela poupança externa (M – X). 3.3 O comportamento das variáveis de uma economia com quatro agentes

3.3.1 As funções consumo, investimento, gastos do governo e tributos

As funções consumo, investimento, gastos do governo e tributos de uma economia fechada com três agentes conservam as mesmas propriedades para uma economia aberta com quatro agentes. Logo,

C = C0 + cYd I = I0 ou I = I0 + bY

G = G0 T = T0 ou T = T0 + tY

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3.3.2 A função exportação e a função importação

As exportações ou vendas para o exterior de bens e serviços são consideradas autônomas em relação à renda nacional, ou seja:

X = X0 (1) o que não chega a ser uma hipótese irrealista, dado que o montante exportado depende, de fato, da renda dos outros países e não da renda nacional. As importações ou compras de bens e fatores de origem estrangeira, por sua vez, podem ser total ou parcialmente autônomas. O primeiro caso constitui uma simplificação, cuja fórmula é

M = M0 e o segundo caso constitui uma hipótese mais realista em que as importações dependem do valor da renda nacional. Logo,

M = M0 + mY Onde: M0 é a importação autônoma; e m é a Propensão Marginal a Importar

3.3.3 A demanda agregada com quatro agentes

A demanda agregada é obtida pela soma das demandas de todos os agentes da economia. No caso de uma economia com quatro agentes, a demanda agregada será dada por:

DA = C + I + G + X – M Lembrando que da demanda por bens e fatores produzidos internamente deve-se descontar a demanda por bens e fatores que não foram produzidos aqui.

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Supondo a hipótese simplificadora de I, T G e M integralmente autônomos em relação à renda, desenvolvendo a fórmula da demanda agregada, temos:

DA = C + I + G + X - M DA = C0 + cYd + I0 + G0 + X0 - M0 DA = C0+ I0 + G0 + X0 - M0 + cYd

DA = DA0 + c(Y – T0) Onde DA0 é a demanda agregada autônoma com quatro agentes; e c é a inclinação da demanda agregada Observe que, sendo a função consumo positivamente inclinada e os investimentos, os tributos e as importações integralmente autônomos em relação à renda, a demanda agregada assume a declividade do consumo. Graficamente,

GRÁFICO 9: DEMANDA AGREGADA COM QUATRO AGENTES

DA C + I + G + X – M = DA C + I + G

X – M { C + I G { C I {

Y

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Pelo Gráfico 9 pode-se observar que a demanda agregada com quatro agentes será maior do que a demanda agregada com três agentes sempre que as exportações superarem as importações.

3.3.4 O equilíbrio com quatro agentes

Se, com base nas identidades contábeis, todo produto produzido é vendido, então, no equilíbrio, o produto de uma economia iguala-se à demanda agregada dessa economia. Com quatro agentes, isso significa dizer que a renda ou produto (Y) será igual à demanda agregada (DA), ou:

Y = DA No caso,

Y= C + I + G + X - M Pelo Gráfico 10 podemos visualizar o nível de renda de equilíbrio (Y0

4), que corresponde ao ponto de interseção entre a reta de 45º e a função demanda agregada com quatro agentes.

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I = S + Sg + Sex Y = DA

I = S + Sg Y = DA

I = S Y = DA

S = 0 Y = C

GRÁFICO 10: A RENDA DE EQUILÍBRIO COM QUATRO AGENTES

LEGENDA:

Y*: nível de renda de equilíbrio das famílias

Y02: nível de renda de equilíbrio de uma economia com dois agentes

Y03: nível de renda de equilíbrio de uma economia com três agentes

Y04: nível de renda de equilíbrio de uma economia com quatro agentes

45º

Y* Y02

C + I + G + X - M

C + I C

Y04

C + I + G

Y03 0

DA

Y

Algebricamente, o valor de Y04 será dado por:

Condição de equilíbrio ⇒ Y = DA DA = C + I + G + X - M

Então,

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Y = C + I + G + X - M Y = C0 + cYd + I0 + G0 + X0 - M0

Como, Yd = Y - T

Logo, Y = C0 + c(Y – T) + I0 + G0 + X0 - M0 Y = C0 + c(Y – T0) + I0 + G0 + X0 - M0 Y - cY = C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0 (1-c)Y = C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0

Y0 = c1

1−

(C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0) ou

Y0 = c1

1−

DA0

3.3.5 Injeções e vazamentos numa economia com quatro agentes

Podemos encontrar o nível de renda de equilíbrio através da igualdade entre oferta agregada (Y) e demanda agregada (DA), ou através da igualdade entre injeções e vazamentos.

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FIGURA 6: INJEÇÕES E VAZAMENTOS EM UMA ECONOMIA COM QUATRO AGENTES

EMPRESAS FAMÍLIAS

INVESTIMENTO (I) POUPANÇA (S) MERCADO

FINANCEIRO

RENDA NACIONAL (Y)

CONSUMO (C)

VAZAMENTOS INJEÇÕES

GOVERNO GASTOS GOV. (G) TRIBUTOS (T)

ST. EXTERNO EXPORTAÇÕES (X) IMPORTAÇÕES (M)

A Figura 6 apresenta: quatro agentes (empresas, famílias, governo e setor externo); um mercado (mercado financeiro) e o fluxo circular direto renda/consumo. De toda a renda (Y) destinada às famílias como forma de pagamento pelo uso de seus fatores, apenas parte reverte-se diretamente às empresas na forma de consumo (C). O restante da renda destina-se, em parte, ao mercado financeiro, em parte, ao governo e, em parte, ao setor externo. A parte da renda retida no mercado financeiro sob a forma de poupança (S) será convertida em investimento (I). A parte destinada ao

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governo sob a forma de tributo (T) será usada para cobrir as despesas governamentais (G). E a parte da renda que vai para o setor externo por ocasião das importações (M) retornará financiando as exportações (X). Lembrando que vazamentos são todos os recursos que deixam de fluir das famílias para as empresas; e que injeções são todos os recursos que não provêm das famílias, mas que se destinam às empresas, diz-se que, em uma economia com quatro agentes, a poupança (S), os tributos (T) e as importações (M) são vazamentos ao fluxo renda/consumo, e que os investimentos (I), os gastos governamentais (G) e as exportações (X) são injeções a este fluxo. O equilíbrio virá quando os vazamentos (S + T + M) forem compensados pelas injeções (I + G + X), isto é, quando o produto que é produzido mas não é vendido para as famílias (S + T + M) for igual ao que os outros três agentes desejam comprar (I + G + X).

Vazamentos = Injeções S + T + M = I + G + X

3.4 A teoria keynesiana Embora não tenhamos explicitado, viemos estudando a teoria keynesiana desde a inclusão do agente governo no modelo econômico com dois agentes. Na verdade, a teoria keynesiana surgiu nos anos trinta para explicar e resolver a questão do desemprego que tomou conta dos Estados Unidos. Isto porque, até essa época, não havia praticamente qualquer preocupação por parte dos economistas, com o estudo da economia como um todo, em particular com o estudo do desemprego. O pensamento dominante entre os

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economistas da época – conhecidos como “clássicos” – era de que jamais poderia ocorrer um desemprego significativo na economia que não fosse temporário. Para os clássicos, se houvesse um descompasso entre a oferta e a demanda no mercado de trabalho, o preço nesse mercado cairia, forçando a volta ao equilíbrio. Em outras palavras, o excesso de oferta de trabalho sobre a demanda por trabalho implicaria em uma queda nos salários nominais, que levaria a um aumento na demanda por trabalhadores e a um consequente aumento na produção. Este adicional na produção, por sua vez, seria absorvido com a renda dos trabalhadores recém-empregados. Em suma, para os economistas clássicos, a economia de mercado (ou, como temos chamado, a economia com dois agentes) era autorregulável: não se acreditava em desemprego permanente e nem em crise de superprodução. O papel do governo era apenas político; o governo não figurava como um agente econômico que pudesse ser acionado para corrigir eventuais desajustes no mercado. Entretanto, a crise mundial, vinda com a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, trouxe uma depressão sem precedentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o produto real caiu cerca de 23% entre 1930 e 1933, sendo que nesse último ano o desemprego atingiu a taxa recorde de 25%. A persistência da recessão e do desemprego, mesmo com quedas significativas nos salários nominais, fez com que os economistas da época procurassem explicações alternativas para estes fatos até então imprevistos. Em 1936, John Maynard Keynes publica seu livro A teoria geral do emprego, do juro e da moeda e revoluciona a teoria econômica vigente. Ele sugere que, na impossibilidade de as empresas absorverem todo o excedente de mão de obra, um terceiro agente – o governo – deveria

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intervir na economia suprindo esta falha de mercado. Lança, então seu célebre exemplo das garrafas de vidro, segundo o qual, centenas de trabalhadores deveriam ser empregadas pelo governo apenas para abrir buracos e outras centenas de trabalhadores deveriam ser empregadas, também pelo governo, para jogar garrafas de vidro nos buracos e em seguida tampá-los, de modo que ao final da empreitada não houvesse nem sinal dos buracos, mas houvesse muito menos trabalhadores desempregados. Quanto às críticas relativas ao endividamento do Estado resultante da absorção de tantos trabalhadores desempregados, Keynes argumenta que o consumo proveniente do aumento da massa salarial incrementaria a economia, que incrementaria o volume arrecadado sob a forma de tributos, que, por sua vez, cobriria os gastos do governo. Esse movimento ficou conhecido como efeito multiplicador, que quer dizer que o aumento nos gastos do governo seria mais do que compensados pela multiplicação da atividade econômica. Dessa forma, Keynes consegue derrubar dois dos principais postulados clássicos: a Lei de Say, segundo a qual, “a produção cria a sua própria demanda” e a eficácia da redução dos salários nominais para reduzir o desemprego da economia. Com a sua teoria, conhecida como Princípio da Demanda Efetiva, Keynes coloca a solução dos problemas econômicos na demanda e, com isso, inverte a Lei de Say, afirmando que é a demanda que determina o nível de produção e não o contrário.

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3.4.1 O multiplicador keynesiano

Para entender o multiplicador keynesiano, suponha os mesmos dados da economia em que C = 20 + 0,8Yd, I = 15, G = 10 e T = 5. Pense, agora, no que aconteceria com a renda de equilíbrio caso os gastos do governo passassem de $10 para $12. Vejamos: a renda de equilíbrio que era de $205 com G = 10 passa a ser de $215 com o G = 12. Comparando os resultados, podemos observar que um aumento de $2 (de $10 para $12) nos gastos do governo provocou uma elevação na renda de equilíbrio de $10 (de 205 para 215), ou seja, um aumento nos gastos do governo (ΔG) provocou um aumento cinco vezes maior na renda (ΔY). Este é o efeito do multiplicador keynesiano (α), segundo o qual, toda vez que ocorrer um aumento em uma das parcelas da demanda agregada autônoma haverá um aumento mais do que proporcional na renda da economia. Isto se deve ao fato de o multiplicador – que nada mais é do que a derivada primeira da equação da renda de equilíbrio em relação a um dos componentes da demanda agregada autônoma – ser sempre maior do que 1. Vejamos a fórmula. A equação da renda de equilíbrio é:

Y = C + I + G

ou

Y0 = c1

1−

(C0 – cT0+ I0 + G0)

ou ainda,

Y0 = c1

1−

C0 – c1

1−

. cT0 + c1

1−

.I0 + c1

1−

.G0

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Derivando a equação acima para cada componente da demanda agregada autônoma, obtém-se1:

Multiplicador dos tributos: αT = TY

ΔΔ

= -c.c1

1−

Multiplicador dos investimentos: αI = IY

ΔΔ =

c11−

Multiplicador dos gastos do governo: αG = GY

ΔΔ

= c1

1−

Se estivéssemos tratando de uma economia aberta, apareceria também o multiplicador das exportações líquidas, cuja fórmula é:

Multiplicador das exportações líquidas: αG = )MX(

Y−Δ

Δ = c1

1−

já que a equação da renda de equilíbrio neste caso é dada por: Y = C + I + G + X - M

ou

Y0 = c1

1−

(C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0)

ou ainda,

1 Não é comum falarmos em “multiplicador do consumo”. Quando se quer avaliar o efeito de uma variação no consumo sobre a renda de equilíbrio, estuda-se o multiplicador dos tributos, que afetam diretamente o consumo das famílias.

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Y0 = c1

1−

C0 – c1

1−

. cT0 + c1

1−

.I0 + c1

1−

.G0 + c11−

. (X0 - M0)

4 A DISTRIBUIÇÃO DA RENDA Já foi mostrado, neste capítulo, que o equilíbrio de uma economia ocorre quando o produto dessa economia é igual à soma das demandas de cada agente. Vimos também, através das identidades contábeis, que Produto = Renda = Despesa. Resta agora sermos mais precisos na definição desses indicadores para que possamos, em seguida, entender como que eles se distribuem pela população de um país.

4.1 Os principais agregados macroeconômicos 1) Produto Interno Bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo, dentro do território econômico nacional. Vejamos por partes: “PIB é o valor...” Como o PIB inclui os mais variados bens e serviços ficaria impossível somarmos bananas e serviços médicos, por exemplo, sem que eles fossem reduzidos a um denominador comum, no caso ao seu valor monetário. “...de mercado...”

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Somar o valor de mercado dos diversos bens e serviços significa que tais bens e serviços são computados não por seus preços de custo pura e simplesmente, mas pelos seus preços de custo adicionados de todos os impostos e taxas que incidem sobre eles até chegarem ao mercado. “...de todos os bens e serviços finais...” Vimos anteriormente que os bens classificam-se em intermediários quando entram na produção de outros bens, e finais quando resultam do processamento dos bens intermediários. Então, como o valor dos bens intermediários está incluído no valor dos bens finais, só estes últimos são computados no PIB, para não haver risco de dupla contagem. Os pneus vendidos para as montadoras de automóveis, por exemplo, não são computados diretamente no PIB; seu valor aparece indiretamente no preço dos automóveis que os incluem. É claro que se os pneus forem vendidos direto aos consumidores eles entram no cálculo do PIB porque, neste caso, representam bens finais. “...produzidos em determinado período de tempo...” O PIB expressa o valor dos bens e serviços produzidos em um intervalo de tempo específico, geralmente um ano ou um trimestre. Não entram no cálculo do PIB os bens e serviços produzidos fora do intervalo proposto. Assim, quando uma montadora de automóveis produz e vende um carro novo, o valor do carro é incluído no PIB. Quando uma pessoa vende um carro usado para outra pessoa, o valor do carro usado não é computado no PIB. “...dentro do território econômico nacional.”

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No cálculo do PIB entram todos os bens e serviços produzidos dentro dos limites de um país, independente da nacionalidade do produtor. Assim, quando um sanduíche do McDonald’s é produzido no Brasil, seu valor é parte do PIB do Brasil. Da mesma forma que a produção de uma multinacional brasileira instalada nos Estados Unidos torna-se parte do PIB americano. 2) Produto Nacional Bruto (PNB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo, não necessariamente dentro do território econômico nacional, mas, necessariamente, com capital nacional. “PNB é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo...” A definição do PNB é muito parecida com a do PIB. O que muda é a origem do capital produtor dos bens e serviços nele incluídos. “..., não necessariamente dentro do território econômico nacional, mas, necessariamente, com capital nacional” Para o cálculo do PIB é ignorada a origem do capital produtor dos bens e serviços; o que importa é a territorialidade. Para o cálculo do PNB, ao contrário, não importa a territorialidade, mas a origem do capital, sendo computados apenas aqueles bens e serviços produzidos com capital nacional. Dessa forma, os serviços prestados pela construtora Odebretch, incluindo os serviços prestados pela unidade instalada em Angola, entram no PNB do Brasil.

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Com base nessas definições, podemos afirmar que o PIB se refere à produção no país, enquanto o PNB se refere à produção do país. Assim, a diferença entre PIB e PNB corresponde à Renda Enviada ao Exterior (REEx), renda (salários, juros e lucros) relativa aos bens e serviços que são produzidos internamente com capital estrangeiro, e à Renda Recebida do Exterior (RREx), renda (salários, juros e lucros) relativa aos bens e serviços produzidos externamente com capital nacional. Chamando a diferença entre Renda Enviada ao Exterior (REEx) e Renda Recebida do Exterior (RREx) de Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEEx), temos:

PNB = PIB – RLEEx (1) onde

RLEEx = REEx – RREx (2) 3) Produto Interno Líquido (PIL) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo, dentro do território econômico nacional, deduzida a depreciação do capital. “...deduzida a depreciação do capital.” Dentre os bens e serviços produzidos em uma economia, é sabido que os bens de capital não se extinguem no processo de produção; eles se depreciam. Um caminhão, por exemplo, não se acaba ao ser usado para transporte; ele se deprecia. Por conta disso, uma medida mais acurada do PIB corresponde ao valor dos bens e serviços descontada a depreciação do capital. Ou:

PIL = PIB – depreciação (3)

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4) Produto Nacional Líquido (PNL) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo, não necessariamente dentro do território econômico nacional, mas, necessariamente, com capital nacional, deduzida a depreciação do capital. O PNB também pode ser medido mais acuradamente desde que descontada a depreciação dos bens de capital. Assim, temos:

PNL = PNB – depreciação (4)

5) Produto Nacional Líquido a custo de fatores (PNLcf) é igual ao Produto Nacional Líquido, descontados os impostos indiretos e acrescidos os subsídios. Tanto o PNL quanto os demais agregados macroeconômicos vistos até agora avaliam os bens e serviços a preços de mercado (PNL ou PNLpm). O preço de mercado inclui os impostos indiretos, tais como o IPI e o ICMS, e desconta os subsídios repassados pelo governo às empresas. Excluindo-se do preço de mercado a parcela (impostos indiretos – subsídios), tem-se o Produto Nacional Líquido a custo de fatores (PNLcf), ou seja:

PNLcf = PNLpm – (Ti – sub) (5) 6) Renda Nacional (RN) é o valor agregado de todos os salários, aluguéis, juros e lucros pagos em uma economia, dentro de um intervalo específico de tempo.

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A Renda Nacional (RN), representada até então por Y, corresponde à soma de todos os salários, aluguéis, juros e lucros pagos em determinado período de tempo. Como o Produto Nacional Líquido a custo de fatores (PNLcf) corresponde ao valor realmente recebido pelo uso dos fatores de produção, ele nada mais é do que a própria Renda Nacional. Logo,

PNLcf = RN (6)

7) Renda Pessoal (RP) é a parte da Renda Nacional (RN) que cabe exclusivamente às famílias. Como as famílias são as proprietárias dos fatores de produção, somos levados a crer que elas são as donas de toda a Renda Nacional. Só que a realidade não é bem assim. Da Renda Nacional, uma parcela não chega às famílias porque é “capturada” anteriormente pelo governo e pelas empresas. Então cabe às famílias apenas a Renda Pessoal (RP), ou seja: Renda Nacional (RN) menos Lucros Retidos pelas empresas Impostos Diretos pagos pelas empresas ao governo Contribuições pagas pelas empresas à Previdência mais Transferências do governo para as famílias igual Renda Pessoal (RP) 8) Renda Pessoal Disponível (RPD) é a parte da Renda Pessoal (RP) que as famílias podem usar para consumir bens e serviços.

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Embora toda a Renda Pessoal (RP) pertença às famílias, nem tudo pode ser gasto com consumo. A renda com que as famílias contam para poder consumir bens e serviços e até mesmo poupar para consumir em outra momento, corresponde, de fato, à sua Renda Pessoal Disponível (RPD), até agora representada por Yd. A Renda Pessoal Disponível (RPD) corresponde, então, ao valor da Renda Pessoal (RP) descontados os Impostos Diretos pagos pelas famílias ao governo. Ou seja, Renda Pessoal (RP) menos Impostos Diretos pagos pelas famílias ao governo igual Renda Pessoal Disponível (RPD) ESQUEMA Para encontrarmos o valor de determinado agregado macroeconômico partindo de outro, podemos lançar mão do seguinte esquema:

DE PARA SUBTRAI-SE

Interno Nacional RLEEx

Bruto Líquido depreciação

preço de mercado custo de fatores (Ti – sub)

TAXA DE VARIAÇÃO Se, em vez de analisarmos os valores absolutos, analisarmos as taxas de variação dos agregados macroeconômicos, devemos interpretá-las da seguinte maneira:

valor positivo: a produção (ou renda) no ano foi superior à do anos anterior ⇒ houve crescimento;

valor negativo: a produção (ou renda) no ano foi inferior à do anos anterior ⇒ houve recessão

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4.2 A distribuição da renda Quanto maior o número de famílias com pequena participação na renda, mais concentrada é a distribuição da renda de uma economia. No Brasil, a estrutura de repartição da renda é altamente concentrada, como mostra a Tabela 4 a seguir.

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Classe derendimentos de cada classe

10% mais pobres 1,0 1,010% seguintes 2,1 3,110% 2,5 5,610% 4,3 9,910% 5,6 15,510% 6,4 21,910% 7,9 29,810% 10,2 40,010% 15,4 55,410% mais ricos 44,6 100,05% mais ricos 32,71% mais rico 11,9

% de participação na renda agregadataxas acumuladas

FONTE: IBGE

ESTRUTURA DE REPARTIÇAO DA RENDA NO BRASIL EM 2004

A REPARTIÇAO DA RENDA AGREGADA NO BRASIL EM 1995

20% mais ricos

1% mais rico80% mais pobres

80% mais pobres 40%

20% mais ricos 60%

1% mais rico 11,9%

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Qualquer que seja o ângulo de leitura dos dados, eles revelam uma alta discrepância entre as parcelas da renda apropriadas pelos mais pobres e pelos mais ricos. Na Tabela 4, observam-se, entre outras, as seguintes indicações de alta concentração:

• os 20% mais pobres ficam com 3,1% da renda agregada e os 20% mais ricos, com 60,0%; • o segmento de mais alta renda do país, constituído pelo 1% mais rico, apropria-se de 11,9% da renda agregada. Esta taxa de apropriação é maior do que a dos 40% mais pobres, que ficam com 9,9% da renda agregada; • aos 5% mais ricos destinam-se 32,7% da renda agregada, praticamente igual à participação acumulada dos 70% mais pobres; • mesmo entre os mais ricos, a estrutura distributiva é concentrada: dos 44,6% de renda apropriados pelos 10% mais ricos, em vez de 4,46%, 11,9% destinam-se ao 1% mais rico.

4.2.1 A curva de Lorenz e o coeficiente de Gini

Um dos métodos que evidenciam os diferentes graus de concentração de renda foi proposto em 1905 por Lorenz, um estatístico norte-americano. A curva de Lorenz, como ficou conhecida, assemelhe-se a um ramo de parábola e é definida a partir dos percentuais acumulados da população e de suas participações na renda agregada. A curva de Lorenz toma como referência uma reta de equidistribuiçao ou linha de plena igualdade, que corresponde a uma situação teórica em que a renda é igualmente distribuída por toda população. Entre a curva de Lorenz e a reta de distribuição igualitária,

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define-se uma área de desigualdade. Quanto maior for esta área, maior a concentração da renda. A Tabela 5 a seguir reúne seis estruturas hipotéticas de repartição da renda, de seis países imaginários. Na economia A, a renda é igualmente distribuída. Não há qualquer diferença entre as participações de cada classe de renda no agregado da Renda Nacional. Cada classe apropria-se igualmente de 20%. Trata-se de uma sociedade sem classes já que todas as classes têm renda igual. Nas economias B, C, D e E não há igualdade distributiva e cada uma delas apresenta estruturas mais concentradas de distribuição, quer dizer, em B os 20% mais pobres ficam com 15% da renda; em C, com 10%; em D, com 6% e em E, com apenas 2%. A estrutura do país C assemelha-se à dos países da Europa Central, e a do país E, à dos países da África Ocidental e da América Latina. Por fim, representando uma estrutura extrema, aparece o país F, em que apenas a classe dos 20% mais ricos apropria-se de toda a renda. Nesta economia imaginária, a desigualdade é plena. Transportando cada uma dessas seis estruturas para o diagrama de Lorenz, definimos diferentes áreas de concentração da renda. Note que entre a diagonal de plena igualdade, definida pela economia A, e os traçados das economias B a F, encontramos áreas de concentração proporcionais aos seus graus de desigualdade. No caso extremo da economia F, a área de concentração é dada pelo triângulo cujos lados são as bordas do diagrama e a reta de equidistribuição. A partir das curvas de Lorenz podemos calcular o grau de concentração da renda de um país. Trata-se do coeficiente de Gini, dado pela divisão entre a área compreendida pela curva de Lorenz e o triângulo de plena desigualdade, ou:

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G = área de desigualdade área de plena desigualdade Pela figura da Tabela 5 e pela formula acima, observa-se que G varia dentro do intervalo entre 0 e 1; sendo zero quando não há área de desigualdade, e um, quando tal área é igual à do triângulo de plena desigualdade.

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A B C D E F20% mais pobres 20 15 10 6 2 020% seguintes 20 17 13 10 5 020% 20 20 16 15 10 020% 20 23 20 17 23 020% mais ricos 20 25 41 52 60 100

A B C D E F20% mais pobres 20 15 10 6 2 020% seguintes 40 32 23 16 7 020% 60 52 39 31 17 020% 80 75 59 48 40 020% mais ricos 100 100 100 100 100 100

por classe de rendimentoDistribuiçao acumulada % de participaçao na renda agregada

ESTRUTURAS DE REPARTIÇAO DA RENDA DE SEIS ECONOMIAS IMAGINARIAS

Distribuiçao simples porclasse de rendimento

% de participaçao na renda agregada

CURVA DE LORENZ

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

População (Distribuições Acumuladas)

Ren

da (D

istr

ibui

ções

Acu

mul

adas

)

A

B

C

D

E

F

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No caso das seis economias hipotéticas, o coeficiente de Gini (G) da economia A seria zero; o da economia F seria igual a 1; os das economias B a D ficariam entre zero e um, observando-se que o da economia B estaria mais próximo de zero e o da economia E mais próximo de um. O coeficiente de Gini, além de indicar os graus de desigualdade referentes a diferentes economias, indica também a evolução das estruturas de distribuição de renda de uma mesma economia ao longo do tempo, como mostra a Tabela 6 que retrata o caso do Brasil para diferentes anos.

TABELA 6

ANOS

1960

1970

1980

1990

1995

2000

2005

COEFICIENTE

DE GINI

0,500 0,562 0,582 0,615 0,599 0,592 0,566

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PARTE III: O LADO MONETÁRIO DA ECONOMIA

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PARTE III: O LADO MONETÁRIO DA ECONOMIA

1 OS ATIVOS FINANCEIROS

Os ativos compreendem os bens e os direitos de adquirir bens. Ter um bem significa possuir um ativo real. Ter um ativo financeiro significa ter a possibilidade de adquirir ativos reais. São exemplos de ativos financeiros: os depósitos de poupança, os depósitos a prazo fixo em instituições financeiras, as ações de empresas privadas, os títulos da dívida pública do governo e outros. Os ativos financeiros geralmente rendem juros e, em países de inflação crônica, o seu valor costuma ser atualizado monetariamente. A própria moeda é um ativo financeiro que, ao contrário dos demais, não rende juros, mas pode ser utilizada de imediato para comprar bens e serviços. Esta peculiaridade de pronta utilização é denominada liquidez e é intrínseca à moeda. Os ativos financeiros que não têm a liquidez imediata da moeda, mas que apresentam um alto grau de liquidez, são denominados quase-moedas. É o caso de títulos e ações, que, com um pequeno custo, podem ser vendidos rapidamente. Já a venda de um ativo real, como uma casa ou de uma obra de arte, demanda mais tempo e esforço, evidenciando sua pequena liquidez.

1.1 O título Antes de prosseguirmos falando de moeda, vale a pena entender melhor essa quase-moeda denominada título.

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Quando uma grande empresa deseja ampliar sua produção, ela precisa primeiro se capitalizar. Então, ela faz um empréstimo para financiar seu projeto, ou toma um empréstimo diretamente do público, vendendo títulos (no caso, títulos privados). Da mesma forma, quando o governo deseja pagar suas dívidas e não tem dinheiro, ele pode tomar um empréstimo ou pode emitir e vender títulos (neste caso, títulos públicos). O título – seja público ou privado – é um certificado de endividamento que especifica as obrigações do tomador do empréstimo para com o detentor do título. Em poucas palavras, título é um certificado de dívida. Nele, vem especificado o período em que o empréstimo será reembolsado, chamado de data de vencimento, e a taxa de juros que será paga periodicamente até a data de vencimento. O comprador do título entrega seu dinheiro em troca da promessa de o vendedor pagar juros e devolver o montante emprestado (o principal) ao final do contrato. O comprador pode guardar seu título até seu vencimento ou pode vendê-lo antes a outra pessoa. Embora os títulos sejam diferentes entre si, existem duas características comuns a todos eles: a especificação do prazo e a existência do risco de crédito. A rentabilidade de um título está diretamente relacionada a seu prazo, isto é, ao tempo que decorre até a data do vencimento. Títulos de longo prazo são mais arriscados do que os de curto prazo porque seus detentores têm de esperar mais tempo para o reembolso do principal. Caso o detentor de um título de longo prazo precise do dinheiro antes da data do vencimento, ele terá que vender o título para outra pessoa, provavelmente a um preço menor do que ele pagou. Para compensar o risco de não poder esperar a data de vencimento, os títulos de longo prazo, em geral, pagam taxas de juros mais altas do que os títulos de curto prazo.

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Outra causa de maior ou menor rentabilidade dos títulos é o risco de crédito, isto é, a possibilidade de o tomador do empréstimo deixar de pagar os juros ou o principal. Quando os compradores de títulos percebem que existe uma grande chance de inadimplência, eles exigem uma taxa de juros mais alta para compensar esse risco. Existem até os chamados títulos podres (junk bonds), que são títulos de altíssima rentabilidade, mas também de altíssimo risco, uma vez que são emitidos por empresas em situação difícil. Além da sensibilidade do comprador, este pode contar com as informações de agências especializadas em avaliar os riscos de crédito dos diferentes títulos.

1.2 A moeda A moeda é um ativo financeiro especial: ela não rende juros, mas pode ser usada a qualquer momento para efetuar pagamentos e para comprar bens e serviços. Vejamos sua história e seu mercado.

1.2.1 A origem e a evolução da moeda

Nos primórdios tempos, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava da colheita e da caça para sobreviver. Aos poucos, essas minúsculas comunidades foram crescendo e começaram a se desmembrar em outros núcleos de famílias, cada uma procurando formar a sua própria fronteira, delimitando as suas áreas para a caça e para o plantio de alimentos. Dentro de cada núcleo familiar, entretanto, as pessoas não produziam todas as mesmas coisas. Enquanto uns dedicavam-se à caça, outros dedicavam-se à produção de tubérculos, outros ainda, especializavam-se

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no plantio de grãos, e assim por diante. Iniciava-se, pois, o processo primitivo de divisão do trabalho e de especialização, cujo resultado, o excedente, passou a ser trocado entre os componentes do próprio núcleo e até de outros núcleos. Nas mais primitivas culturas, portanto, a economia funcionava à base do escambo, isto é, da troca direta de mercadorias. Mas, a contínua especialização fez com que o crescente número de produtos disponíveis nos mercados dificultasse a prática rudimentar do escambo, não só pela dificuldade cada vez maior de se estabelecerem relações justas de troca, como também, pela dificuldade de se encontrar parceiros cujos desejos e disponibilidades fossem duplamente coincidentes. Com o passar do tempo, a evolução da sociedade impõe a necessidade de se facilitar as trocas. Os indivíduos, então, passam a eleger um único produto como referencial de trocas: uma mercadoria que fosse rara o bastante, para ter algum valor, e que fosse útil o suficiente, para ser aceita por todos. Essa mercadoria recebeu o nome de moeda. A passagem das trocas diretas de um produto por outro, para as indiretas, intermediadas por algum outro bem aceito por todos, dá início à chamada Era da moeda-mercadoria. Nesse período, vários produtos foram utilizados como referencial nas relações de troca, tais como o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos etc. Hoje ainda vemos resquícios de moeda-mercadoria nas prisões, onde o cigarro muitas vezes desempenha esse papel. De um modo geral, para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, ela deve ter algumas características específicas, dentre as quais: 1) a durabilidade: ninguém aceitaria como moeda algo que fosse perecível; 2) a divisibilidade: a mercadoria eleita como moeda deve poder

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se subdividir em pequenas partes, de forma que tanto as transações de grande porte quanto as de pequeno porte possam realizar-se; 3) a homogeneidade: qualquer unidade da mercadoria eleita como moeda deve ser rigorosamente igual às outras unidades dessa mercadoria; e 4) a facilidade de manuseio e transporte: a utilização do bem escolhido como moeda não pode ser prejudicada em função de dificuldades de manuseio e transporte. No caso das moedas-mercadorias, muitas não tinham algumas dessas características. Então, embora elas tenham facilitado o dia a dia dos indivíduos, a necessidade de se encontrar uma forma mais simples de transacionar deu origem à Era da moeda-metálica. Os metais foram, de fato, as mercadorias cujas características intrínsecas mais se aproximaram das características que se exigem das moedas. Inicialmente, os metais empregados como instrumentos monetários foram o cobre, o bronze e, em especial, o ferro. Esses metais, entretanto, foram logo deixados de lado, pois a sua existência em abundância, associada à descoberta de novas jazidas e ao aperfeiçoamento do processo de fundição, fazia com que perdessem gradativamente seu valor. Por essas razões é que os metais chamados não nobres foram sendo pouco a pouco substituídos pelos metais nobres, como o ouro e a prata, definidos, por suas características, como metais monetários por excelência. Apesar das grandes vantagens vindas com as moedas-metálicas, existia, à época, um inconveniente: o transporte a longas distâncias, em função do peso das moedas e dos riscos de assaltos a que estavam sujeitos os comerciantes durante suas viagens. Para contornar esse problema, iniciou-se a Era da moeda-papel. Com o crescimento dos fluxos comerciais na Europa, especialmente após o século XIV, em vez de partirem carregando a moeda-metálica, os

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comerciantes passaram a levar apenas um pedaço de papel denominado certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como casas de custódia, onde os comerciantes depositavam as suas moedas-metálicas. Estava assim criada a nova moeda, 100% lastreada e com garantia de plena conversibilidade, podendo ser resgatada, a qualquer momento pelo seu proprietário. Com o passar do tempo, os donos das casas de custódia, que recebiam o metal e forneciam os certificados de depósito (ou moeda-papel), começaram a perceber que os detentores desses certificados não faziam a reconversão todos ao mesmo tempo. Além disso, enquanto alguns faziam a troca de moeda-papel pelo metal, outros faziam novos depósitos em ouro e prata, o que permitia novas emissões de certificados. Foi assim que, gradativamente, as casas de custódia passaram a emitir certificados sem lastro em metal, dando origem à Era da moeda fiduciária ou papel-moeda. A emissão de papel-moeda por particulares, entretanto, acabou por conduzir esse sistema à ruína. Devido a isso, o Estado foi levado a assumir as emissões das notas, mas manteve as seguintes características: inexistência de lastro metálico e incoversibilidade absoluta.

1.2.2 As funções da moeda

A moeda tem três funções que, em conjunto, a distinguem dos outros ativos financeiros. São elas:

• meio ou instrumento de troca • medida de valor • reserva de valor

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Ser meio ou instrumento de troca significa que a moeda serve de intermediária nas transações comerciais envolvendo mercadorias das mais diversas formas, tamanhos e demais peculiaridades. Ter a função de medida de valor significa que a moeda serve para medir e comparar o valor dos diferentes bens e serviços. Não fosse esta função, seria praticamente impossível apurar o nível do produto e da renda, o volume do consumo e da poupança, e o valor dos demais agregados macroeconômicos. Ser reserva de valor significa que a moeda pode ser guardada para uso posterior. Em outras palavras, significa que as pessoas podem, através da moeda, transferir poder aquisitivo do presente para o futuro. À medida que a moeda de determinada economia começa a perder a capacidade de cumprir essas funções, ela inicia o processo de perda de seu papel no sistema monetário, levando os governantes à sua substituição. Foi o que aconteceu no Brasil, ao longo das últimas décadas, quando a moeda foi rebatizada diversas vezes, alterando-se sua medida de valor.

1.2.3 A demanda por moeda

Vimos há pouco que a moeda tem plena liquidez mas não rende juros, ao passo que as quase-moedas, como títulos, ações, poupança e certificados de longo prazo, rendem juros mas não tem liquidez imediata. Sabendo disso, vem a pergunta: quanto de moeda e quanto dos demais ativos as pessoas desejam reter? Keynes, em sua Teoria Geral (1936), falou da preferência pela liquidez, quer dizer: entre a liquidez imediata da moeda e a rentabilidade dos demais ativos financeiros, as pessoas prefeririam a liquidez. Vamos ver como isso acontece.

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Existem três motivos que determinam a demanda por moeda: o motivo transação, o motivo precaução e o motivo especulação. Vejamos cada um.

a) Demanda por moeda para transação: decorre do fato de os indivíduos precisarem de moeda para adquirir os bens e serviços que satisfazem suas necessidades. O volume de bens e serviços transacionados depende da renda dos indivíduos. Consequentemente, a demanda transacional por moeda (LT) é uma função direta da renda, quer dizer, quanto maior a renda, mais transações serão realizadas, e maior será a demanda por moeda.

LT = tY onde t é um valor entre 0 e 1, mostrando que LT é apenas uma parcela da renda. b) Demanda por moeda para precaução: decorre do fato de os indivíduos buscarem reter moeda para se precaver de eventuais infortúnios, como o desemprego ou alguma doença. Da mesma forma que a demanda transacional, a demanda precaucional (LP) também é uma função direta da renda, quer dizer, quanto maior a renda, maior será a quantidade de moeda guardada por precaução.

LP = pY onde p é um valor entre 0 e 1, mostrando que LP também é apenas uma parcela da renda. Como LT e LP dependem de Y, podemos juntá-las, representando-as como uma proporção k da renda. Assim:

LT + P= kY onde k = t + p

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c) Demanda por moeda para especulação: decorre da própria condição de liquidez da moeda. De todos os ativos, a moeda é a única que pode ser imediatamente trocada por bens e serviços. Por essa característica, acaba tendo um motivo especulação para possuí-la. Motivo esse, medido pela taxa de juros da seguinte maneira: quando a taxa de juros está alta, o custo de reter moeda torna-se alto; as pessoas preferem desfazer-se dela, comprando outros ativos. Quando a taxa de juros está baixa, o custo de reter moeda torna-se baixo e a rentabilidade dos ativos também fica baixa. Então as pessoas optam por trocar seus ativos pela certeza da liquidez imediata embutida na moeda. Por tudo isso, a demanda por moeda para especulação (LE) é uma função inversa da taxa de juros (i).

LE = L- hi onde L é um componente autônomo; e h é a proporção com que a LE relaciona-se à taxa de juros. O sinal menos é o registro de que a demanda por moeda para fins especulativos e a taxa de juros caminham em sentidos contrários.

Juntando os três motivos para reter moeda, encontramos a demanda total por moeda (L), que é dada por:

L = LT + P + LE ou

L = L + kY - hi

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A representação gráfica da demanda total por moeda pode ser vista no Gráfico 1.

GRÁFICO1: A DEMANDA POR MOEDA

Note que, no eixo horizontal dos três gráficos, é medida a quantidade demandada de moeda, qualquer que seja o motivo da demanda; no eixo vertical, temos o preço da moeda, ou o custo de retê-la, que é dado pela taxa de juros. A demanda por moeda para transação e precaução (LT + P) é representada por uma reta vertical, paralela ao eixo i, mostrando que a LT +

P depende da renda e não da taxa de juros. Assim, tanto para i0, quanto para os demais níveis de i, LT + P será, neste exemplo, igual a 300. A demanda por moeda para especulação (LE) é representada por uma reta negativamente inclinada, mostrando que se o preço da moeda estiver alto, a quantidade demandada de moeda para fins especulativos será baixa

i0 i0 i0

100300 300 +100

i i i

LE

LT+P

(a) (b) (c)

qmoeda qmoeda qmoeda

L=LT+P + LE

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(não vale à pena reter moeda), ao passo que, se o preço estiver baixo a quantidade demandada será alta (todo mundo vai querer usufruir a liquidez imediata oferecida pela moeda). Então para o nível de taxa de juros i0, a LE será, neste exemplo, igual a 100. A demanda total por moeda (L), por sua vez, é representada por uma reta negativamente inclinada, mostrando que, em relação à taxa de juros, a quantidade demandada de moeda e o seu preço caminham em sentidos contrários. Como L é a soma de LT + P e LE, então, para o nível de taxa de juros i0, a demanda total por moeda, neste exemplo, será igual a 300 + 100.

1.2.4 A oferta de moeda

A demanda monetária depende do desejo dos indivíduos de reter moeda. A oferta monetária, por sua vez, depende da política do governo, que a controla através de suas Autoridades Monetárias: o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central (BC). Então, quanto de moeda existe em uma economia? Antes de responder esta pergunta, vejamos algumas definições:

• Papel Moeda Emitido (PME) é o total de moeda legal, autorizada pelo Banco Central e cunhada pela Casa da Moeda;

• Papel Moeda em Circulação (PMC) é a parte do PME que não fica retida no caixa do Banco Central; e

• Papel Moeda em Poder do Público (PMP) é a parte do PMC que não fica retida no caixa dos bancos comerciais.

Ou:

Papel-Moeda Emitido (PME)

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(–) caixa das Autoridades Monetárias (=) Papel-Moeda em Circulação (PMC) (–) caixa dos bancos comerciais (=) Papel-Moeda em Poder do Público (PMP)

Voltemos à pergunta relativa ao estoque de moeda existente em uma economia. O Papel Moeda em Poder do Público ou moeda corrente, por englobar todas as notas de papel (cédulas) e todas as moedas de metal em poder do público, é o primeiro conceito que vem em nossa mente quando tentamos avaliar o tamanho desse estoque. A moeda corrente, contudo, não é o único ativo que pode ser usado para comprar bens e serviços. Muitas lojas e consultórios também aceitam cheques. A riqueza mantida na conta corrente é quase tão usada quanto a riqueza que se carrega na carteira. Logo, para medir o estoque de moeda, deve-se incluir também devem ser incluídos os depósitos a vista ou moeda bancária, que são os saldos em conta corrente aos quais se têm acesso com a emissão de cheques. Somando-se Papel Moeda em Poder do Público com os depósitos a vista tem-se o que se convencionou chamar de M1, que é boa parte, mas não é todo o estoque de moeda. Afinal, uma vez que consideramos os depósitos a vista como parte do estoque de moeda, somos levados a pensar na variedade de outras contas que as pessoas mantêm nos bancos e em outras instituições financeiras, como depósitos em poupança, fundos de aplicação etc. Em geral, é fácil transferir fundos da poupança ou de outras aplicações para a conta corrente. Logo, essas outras contas também devem fazer parte do estoque de moeda de uma economia.

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Para organizar o registro de todo o estoque de moeda considerando seus diferentes componentes, foram criados mais três agregados além do M1, ou seja, o M2, o M3 e o M4, definidos por:

M1 = PMP + depósitos a vista M2 = M1 + depósitos em poupança + títulos emitidos por instituições depositárias M3 = M2 + fundos de renda fixa M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Entendendo por instituições depositárias os bancos comerciais, as caixas econômicas e os bancos múltiplos; e por instituições não depositárias as corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários. É com base nesses conceitos que o Banco Central controla a oferta total de moeda na economia. E é possível observar que, em períodos inflacionários, a relação entre M1 e M4 costuma diminuir, pois as pessoas preferem ficar com pouca moeda que não rende juros (M1) e aumentar suas aplicações financeiras (M4). Isso é chamado desmonetização. Ao contrário, quando a inflação diminui, a relação entre M1 e M4 aumenta, caracterizando uma monetização da economia, como pode ser visto na Figura 1 a seguir.

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Por fim, dado que a moeda é um produto institucional, controlado pelas Autoridades Monetárias, podemos dizer que o gráfico da oferta monetária em relação à taxa de juros será uma reta vertical, paralela ao eixo i, como aparece no Gráfico 2, a seguir.

GRÁFICO 2: A OFERTA DE MOEDA

M

i

M0

M = M0

0

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O Gráfico 2 mostra que, independente do preço da moeda, isto é, independente do nível da taxa de juros, a oferta de moeda será fixa no montante determinado pelo governo, no caso, em M0.

1.2.5 O equilíbrio no mercado de moedas

Haverá equilíbrio no mercado de moeda quando a demanda por moeda (L) for igual à oferta de moeda (M). Quando isto acontecer, estará determinada a taxa de juros de equilíbrio (iE), e não haverá nem excesso nem falta de liquidez. Graficamente, diz-se que o mercado de moedas está em equilíbrio quando a curva de demanda (L) corta a curva de oferta (M), como mostra o Gráfico 3.

GRÁFICO 3: O EQUILÍBRIO NO MERCADO MONETÁRIO

M

i M

L

E iE

0

Algebricamente, o mercado monetário estará em equilíbrio quando a oferta de moeda (M) for igual à demanda (L), ou:

M = L M = L + kY - hi

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1.2.6 Criação e destruição de meios de pagamento

Vimos que os meios de pagamento compreendem a moeda corrente (PMP) e a moeda bancária (depósitos a vista). Logo, os meios de pagamento são o próprio M1. Diz-se que há criação de meios de pagamento quando uma quase-moeda ou um ativo não monetário torna-se uma moeda pelo conceito M1. Analogamente, há destruição de meios de pagamento quando uma moeda pelo conceito M1 transforma-se em uma quase-moeda ou em um ativo não monetário. Vejamos alguns exemplos:

• Quando um indivíduo efetua um depósito a prazo fixo sacando de seus depósitos a vista, há destruição de meios de pagamento, porque ocorre um acréscimo de M4 em detrimento de M1;

• Quando um banco comercial troca dólares de um exportador por reais, há criação, porque ocorre a transformação de um ativo não monetário (no caso, a moeda estrangeira) por M1;

• Quando um banco comercial vende dólares a um importador, há destruição, porque diminui a quantidade de M1 e aumenta a quantidade de ativo não monetário em poder do público (no caso, do importador);

• Quando um indivíduo efetua um depósito à vista em um banco comercial, não há criação nem destruição; ocorre apenas uma transferência dentro do próprio M1.

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EXERCÍCIO Identifique se houve criação ou destruição de meios de pagamento nas operações a seguir:

a) O Banco Central troca dólares dos exportadores por reais: b) O Banco Central vende dólares aos importadores, recebendo

reais em troca: c) Empréstimos dos bancos comerciais ao setor privado: d) Resgate (pagamento) de um empréstimo bancário: e) Depósito à vista: f) Saque através de cheque: g) Depósito a longo prazo:

SOLUÇÃO a) criação de moeda b) destruição c) criação de moeda d) destruição e) nem criação nem destruição de moeda; só transferência de

PMP para depósitos a vista f) só transferência de depósitos a vista para PMP g) destruição de moeda

1.2.7 Criação de moeda bancária

A criação de meios de pagamento, descrita no tópico anterior, implica no aumento do papel moeda em poder do público e/ou dos depósitos a vista. A criação de moeda bancária, por sua vez, diz respeito apenas aos depósitos a vista, como veremos agora.

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A criação de moeda bancária, também chamada moeda escritural, acontece da seguinte maneira: suponha que um indivíduo deposite, em papel moeda, determinado valor na sua conta corrente. O banco comercial que receber esse depósito sabe, por uma questão de probabilidade, que pode emprestar parte tal dinheiro a um tomador de empréstimo. Este, por sua vez, ao receber o dinheiro, irá depositá-lo no mesmo banco ou em qualquer outro banco comercial. O banco que receber tal depósito, da mesma forma que o primeiro, pode emprestar uma parte do montante depositado a outro tomador de empréstimo, e assim sucessivamente. Ao final do processo, verifica-se que o montante inicial depositado de papel-moeda acabou se multiplicando, tornando os meios de pagamento várias vezes superiores à quantia de papel moeda emitido. É o que chamamos de efeito multiplicador, pois o primeiro depósito acaba se transformando em vários outros de menor porte.

1.2.8 Conceitos importantes relacionados ao setor bancário

• Depósitos a vista são saldos confiados a bancos comerciais e utilizados por eles para fins de empréstimo.

• Reservas bancárias são recursos que os bancos comerciais utilizam caso as retiradas de dinheiro do público ultrapassem os depósitos.

• Encaixe bancário é a soma do caixa dos bancos comerciais e das suas reservas bancárias.

• Depósito compulsório é a porcentagem sobre cada empréstimo cedido pelos bancos comerciais que deve ser depositada compulsoriamente junto ao Banco Central. Assim, por exemplo, se um banco empresta $10.000 e a taxa do compulsório é de 15%, ele tem de depositar $1.500 no Banco Central.

• Base Monetária é igual ao Papel Moeda em Circulação (PMC)

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mais as reservas bancárias, ou, o que é o mesmo, é igual ao Papel Moeda em Poder do Público (PMP) mais os encaixes bancários, como se pode verificar no Figura 2 a seguir.

FIGURA 2: CONCEITO DE BASE MONETÁRIA

BASE MONETÁRIA = PMC + RESERVAS BANCÁRIAS

PMP + CAIXA DOS BANCOS COMERCIAIS Então, BASE MONETÁRIA = PMP + CAIXA DOS BANCOS COMERCIAIS + RESERVAS BANCÁRIAS ENCAIXES BANCÁRIOS Portanto,

BASE MONETÁRIA = PMP + ENCAIXES BANCÁRIOS como queríamos demonstrar.

2 POLÍTICA MONETÁRIA

2.1 A taxa de juros e o lado real da economia O mercado monetário compreende a quantidade ofertada e demandada de moeda e o preço da moeda que é a taxa de juros. O lado real da economia estuda, dentre outras variáveis, o nível de atividade econômica, que supusemos, até agora, autônomo em relação à taxa de juros. Só para lembrar, vimos que o nível de atividade econômica pode ser medido pelo nível de renda, o qual, no equilíbrio, iguala-se à demanda agregada. A demanda agregada, para uma economia fechada com três agentes, é composta pelo consumo, pelo investimento e pelos gastos do governo

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DA

45º

Y1 Y0

DA1

DA0

ΔDA < 0 dado Δi > 0

Y 0

(DA = C + I + G). O consumo é em parte autônomo em relação à renda (C0) e em parte induzido por ela (cY). O investimento é total ou parcialmente autônomo em relação à renda. Vimos que essa parte autônoma do consumo e do investimento depende da renda passada (riqueza) e/ou da renda futura (crédito). O crédito, por sua vez, está diretamente relacionado à taxa de juros. Toda vez que a taxa de juros aumenta, a concessão de crédito, tanto para as famílias que consomem quanto para as empresas que investem em bens de capital, fica mais cara. Consequentemente o consumo e o investimento autônomos diminuem, reduzindo a demanda agregada e o nível de renda de equilíbrio da economia, como mostra o Gráfico 4. GRÁFICO 4: DESLOCAMENTO DA DEMANDA AGREGADA DEVIDO À VARIAÇÃO NA

TAXA DE JUROS

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Observe que a variação na demanda agregada (ΔDA) não é sentida ao longo da curva, mas pelo deslocamento da curva de DA0 para DA1, uma vez que a taxa de juros – razão da variação – é uma variável exógena ao plano Y x DA. Por analogia, quando a taxa de juros cai, a obtenção de crédito torna-se mais barata. Consequentemente o consumo e o investimento autônomos aumentam, aumentando a demanda agregada e o nível de renda de equilíbrio da economia. Esse movimento pode ser visto no mesmo Gráfico 4, supondo um deslocamento da demanda agregada de DA1 para DA0.

2.2 Políticas expansionista e contracionista Política monetária é o conjunto de medidas adotadas pelo governo envolvendo a oferta de moeda e a taxa de juros, com o objetivo de controlar o nível de atividade econômica. Uma política monetária expansionista desloca a curva de oferta monetária para a direita, fazendo a taxa de juros cair, como mostra o Gráfico 5. Essa queda na taxa de juros aumenta tanto o consumo quanto o investimento autônomo, provocando, em decorrência, um deslocamento positivo da curva de demanda agregada.

GRÁFICO 5: POLÍTICA MONETÁRIA EXPANSIONISTA

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0

M

i M0

L

E i0

M1

E1 i1

Analogamente, uma política monetária contracionista de redução da oferta monetária, provoca um aumento na taxa de juros e, em consequência, um impacto negativo sobre o consumo, sobre o investimento e, por conseguinte, sobre a demanda agregada e o nível de atividade econômica.

2.3 Mecanismos de controle monetário Além das emissões clássicas de moeda, são três os instrumentos clássicos de controle monetário:

1) os depósitos compulsórios; 2) a taxa de redesconto; e 3) as operações de open market.

2.3.1 Os depósitos compulsórios

Se o governo quiser restringir a oferta monetária, um dos caminhos é aumentar a taxa dos depósitos compulsórios, ou seja, a porcentagem dos depósitos a vista dos bancos comerciais que eles são obrigados a depositar no Banco Central. O aumento dos depósitos compulsórios, reduz os recursos disponíveis que os bancos comerciais têm para emprestar e,

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consequentemente, a oferta de moeda escritural (moeda disponível para empréstimo). Caso o governo deseje aumentar a oferta monetária, ele faz o procedimento inverso, isto é, diminui a taxa do compulsório, aumentando a oferta de moeda escritural.

2.3.2 A taxa de redesconto

Redesconto é o empréstimo cedido pelo Banco Central aos bancos comerciais, quando estes estão com problemas de liquidez. Se o Banco Central elevar a taxa ou restringir as condições de redesconto, desestimulará o sistema bancário a recorrer a este tipo de socorro financeiro. Com isso, o BC está automaticamente restringindo o crédito e limitando a criação de moeda bancária. O contrário ocorrerá caso o BC facilite as condições de redesconto e/ou reduza as taxas cobradas nessa operação.

2.3.3 As operações de open market

As operações de open market (mercado aberto) permitem ao governo regular diretamente o volume dos meios de pagamento. Essas operações consistem na compra e venda, pelo Banco Central, de títulos da dívida pública. Tais títulos são emitidos pelo Governo Federal e adquiridos pelo Banco Central, que os mantém em sua carteira (no seu Ativo). O BC, ao vender esses títulos ao público, retém meios de pagamento e, consequentemente, enxuga a economia. Por outro lado, quando ele resgata (recompra) os títulos que estão em poder do público, ele cria meios de pagamento e aumenta a liquidez da economia.

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Para estimular a venda de títulos, o Banco Central deve aumentar a taxa de juros, tornando-os atrativos para o público. Já para estimular sua compra, o BC deve baixar os juros, reduzindo a rentabilidade dos títulos. Em suma, o aumento ou a redução na oferta monetária será sentido a partir dos seguintes mecanismos:

ΔM > 0 ΔM < 0

Diminuição dos depósitos

compulsórios

Aumento dos depósitos

compulsórios

Diminuição da taxa de redesconto Aumento da taxa de redesconto

Compra de títulos Venda de títulos

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PARTE IV: O DESEMPREGO E A INFLAÇÃO

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FIGURA 1: COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO QUANTO AO EMPREGO

População Total

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪

⎪⎩

⎪⎨

empregados

desempregaPEA

PNEA

PIA

PNIA

PARTE IV: O DESEMPREGO E A INFLAÇÃO

1 A QUESTÃO DO DESEMPREGO

1.1 A composição da população de um país Nem todas as pessoas que não trabalham podem ser consideradas desempregadas. Na verdade, se da População Total (PT) de um país subtrairmos a População em Idade Não Ativa (PNIA), ou seja, aqueles que são muito jovens ou muito idosos, chegaremos ao conceito de População em Idade Ativa (PIA). Se da PIA excluirmos a População Economicamente Não Ativa (PNEA), ou seja, estudantes, inválidos ou indivíduos ocupados em tarefas domésticas não remuneradas encontramos a População Economicamente Ativa (PEA), que corresponde à Força de Trabalho do país. Por fim, se da PEA desconsiderarmos os empregados (E), finalmente, encontramos a parcela de desempregados (D), isto é, das pessoas que não trabalham, embora busquem emprego.

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Os números aproximados do mercado de trabalho brasileiro em 2008 aparecem descritos na Figura 2, a seguir.

FIGURA 2: CONCEITOS E NÚMEROS DO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL –

2008

População em Idade Ativa (PIA)

Compreende as pessoas em idade de trabalho. Ainda que o IBGE só considere como PIA a população entre 15 e 65 anos, aqui estão incluídas todas a pessoas com mais de 10 anos.

160.600.000

População Economicamente Não Ativa (PNEA) ou Inativos

Compreende as pessoas em idade ativa que não estão ocupadas nem desempregadas. É composta de estudantes, aposentados e donas de casa, desde que não trabalhem em atividades geradoras de renda.

61.100.000

População Economicamente Ativa (PEA)

Compreende os trabalhadores ocupados e os desempregados. A PEA representa a oferta de trabalho, ou seja, todos aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho.

99.500.000

Empregados (E) ou Ocupados

Total de pessoas que dispõem de uma ocupação, seja como trabalhadores formais (com carteira assinada), funcionários públicos ou autônomos, seja como trabalhadores informais (sem carteira assinada). Equivale à demanda de trabalho, ou seja, ao total de vagas disponibilizadas pelas empresas públicas e privadas.

92.400.000

Desempregados (D) Compreende as pessoas que procuraram emprego na semana ou no mês anterior à pesquisa amostral, mas que não o conseguiram.

7.100.000

FONTE: Dieese, Seade, Pnad, IBGE

Antes de prosseguir, devemos ressaltar que, muito embora seja do conhecimento de todos a existência de pessoas trabalhando para o tráfico de drogas e outras atividades ilegais, a estrutura ocupacional de um país, como a apresentada na Figura 1, diz respeito apenas à economia aferida, onde são computadas todas as atividades socialmente desejáveis, sejam elas do setor primário (relacionadas à agricultura e à pecuária), do setor

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secundário (relacionadas à indústria) ou do setor terciário (relativas aos serviços e ao comércio). A parte da economia aferida em que todos os empregados têm carteira de trabalho assinada é denominada economia formal. A parte que inclui atividades socialmente desejáveis, mas que absorve trabalhadores não registrados é denominada economia informal, onde são vistos desde vendedores de sanduíche natural nas praias até diaristas sem carteira de trabalho assinada. Em contraposição à economia aferida, existe a economia não aferida ou subterrânea que é aquela indesejável e, por decorrência, não legalizável. Produtos como a maconha, a cocaína e outros alucinógenos incluem-se entre inúmeros outros considerados indesejáveis. A produção de insumos básicos para a produção dessas drogas bem como a sua distribuição são mantidas na clandestinidade, empregando grande número de pessoas e movimentando expressivos volumes de dinheiro. Assim é também com os jogos de azar não legalizados, com o comércio de produtos contrabandeados e com o agenciamento da prostituição, que, por razões óbvias não são atividades oficialmente registradas. A composição do mercado de trabalho, quanto à sua aceitabilidade, pode ser vista na Figura 3.

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FIGURA 3: COMPOSIÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO

economia formal

Economia aferida economia informal

Economia não aferida

1.2 A taxa de desemprego e a taxa de atividade A taxa de desemprego de um país é igual à relação entre o número de desempregados (D) e o total da força de trabalho (PEA), ou seja:

100.PEA

DTd =

Como PEA = D + E, tem-se que:

100.ED

DTd+

=

Analogamente, a taxa de emprego corresponde à relação entre o volume de empregados (E) e o total da força de trabalho (PEA), isto é:

Mercado de trabalho

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100.PEA

ETe =

ou

100.ED

ETe+

=

Existe também a taxa de participação ou taxa de atividade que mede o número de pessoas em idade ativa que participam do mercado de trabalho. Sua fórmula é:

100.PIAPEATa =

Como PIA = PEA + PNEA, tem-se que:

100.PNEAPEA

PEATa+

=

1.3 O mercado de trabalho O mercado de trabalho, tal como os mercados de bens e de moedas vistos nos capítulos anteriores, resulta da interação entre as forças de demanda e oferta de trabalho. Observe que as famílias são as detentoras dos fatores de produção, logo, elas compõem o lado da oferta de trabalho; as empresas, por precisarem de mão de obra para produzir, compõem o lado da demanda. Há que se tomar cuidado para não confundir o mercado de trabalho com o mercado de emprego. Neste caso, as famílias buscam as vagas e, por isso, compõem o lado da demanda; as empresas, ao disponibilizarem

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as vagas, compõem o lado da oferta. Trataremos aqui, do mercado de trabalho, muito embora você possa fazer a “conversão” para o mercado de emprego.

1.3.1 A demanda por trabalho

A demanda por trabalho é a quantidade de mão de obra que as empresas pretendem contratar a determinado salário nominal (W). Quanto maior o salário nominal, que é o preço do trabalho, maior será o custo de produção, e menor será a quantidade demandada. Analogamente, quanto menor o salário nominal, menor a pressão sobre os custos e maior a quantidade demandada de trabalho. O Gráfico 1 mostra a demanda por trabalho (DN) como sendo uma reta negativamente inclinada em relação aos salários nominais.

GRÁFICO 22: A DEMANDA POR TRABALHO

W

DN 0

qtrabalho

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1.3.2 A oferta de trabalho

A oferta de trabalho compreende todas as pessoas economicamente ativas dispostas a oferecer sua força de trabalho a determinado salário nominal (W). Quanto maior for a remuneração do trabalho, isto é, quanto maior for o salário oferecido, mais caro se torna não trabalhar. Consequentemente, maior será o número de pessoas dispostas a trocar horas de lazer por horas de trabalho. Da mesma forma, quando os salários são baixos e pouco atrativos, menos pessoas estarão dispostas a trabalhar. A curva de oferta, então, aparece no Gráfico 2 como sendo uma reta positivamente inclinada em relação aos salários nominais.

GRÁFICO 2: A OFERTA DE TRABALHO

W SN

0

1.3.3 O equilíbrio no mercado de trabalho

Muito embora alguns economistas tratem a oferta de trabalho apenas como resultado do dilema entre o ócio, que dá prazer, e o trabalho, que remunera, o fato é que, hoje em dia, é difícil encontrar alguém em idade

qtrabalho

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0

GRÁFICO 1: O EQUILÍBRIO NO MERCADO DE TRABALHO

LEGENDA: Em 1: excedente de mão de obra = desemprego Em 2: escassez de mão de obra

qtrabalho

E

1

2

SN

W

W1

DN

WE W2

ativa que possa se dar ao luxo de não trabalhar. Por esse motivo, a oferta de trabalho tende a ser maior do que o número de vagas disponíveis, gerando o que chamamos de desemprego. Ainda que a origem do desemprego seja sempre a mesma, isto é, quantidade ofertada de trabalho maior do que a quantidade demandada para um mesmo nível de salário, ele pode ser classificado em quatro cinco tipos que serão vistos com mais detalhes no tópico seguinte. São eles: o desemprego friccional, o estrutural, o conjuntural, o sazonal e o forçado. No Gráfico 3 podemos ver que o salário nominal de equilíbrio (WE) será aquele que igualar a quantidade ofertada e a quantidade demandada de trabalho. Para qualquer valor de W acima do valor de equilíbrio (W1, por exemplo), a quantidade ofertada (SN) será maior do que a quantidade demandada (DN), e o resultado será o excesso de mão de obra ou desemprego. Pode também acontecer de determinado setor econômico só se dispor a pagar um salário W2 menor do que WE. Neste caso, os ofertantes de mão de obra procurarão setores que remunerem melhor, resultando numa escassez de trabalho no referido setor.

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E

W0 E

W mínimo = piso salarial

W máximo = teto salarial

Quando tratamos do mercado de bens, vimos que se prevalecer a livre concorrência, os desequilíbrios entre quantidades ofertadas e demandadas não permanecem por muito tempo. Isto porque, havendo excesso de determinado bem x, o preço de x tenderá a cair, restaurando o equilíbrio, e havendo escassez desse mesmo bem, seu preço tenderá a subir até alcançar o equilíbrio.

No mercado de trabalho o processo seria o mesmo (e é o mesmo) sempre que há livre concorrência. A diferença é que neste mercado raramente impera a concorrência perfeita. Em geral, o governo interfere estipulando o valor do salário (salário máximo e salário mínimo) e os sindicatos interferem estipulando o piso salarial. Vejamos os Gráficos 4a e 4b.

GRÁFICOS 4a e 4b: SALÁRIO MÍNIMO E SALÁRIO MÁXIMO

W S W S D D

0 qtrabalho 0 qtrabalho

W0

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1.4 Os tipos de desemprego O desemprego resulta, em linhas gerais, do excesso de oferta em relação à demanda de mão de obra. Existem várias pesquisas que medem esse descompasso entre a oferta e a demanda no mercado de trabalho. As principais delas são:

• Pesquisa Nacional de Emprego (PME) do IBGE: é realizada mensalmente, em 38 mil domicílios das regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre;

• Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação Seade/Dieese: é realizada mensalmente em três mil domicílios da região metropolitana de São Paulo; e

• Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho: é uma pesquisa mensal sobre o comportamento do mercado formal de trabalho. Os dados da pesquisa são obtidos a partir de informações, enviadas pelas empresas sobre admissões e demissões de funcionários. Como essa pesquisa só mede o emprego com carteira assinada, o Caged exclui as informações sobre o desemprego informal, que aparecem nas demais pesquisas.

Em termos específicos, podemos classificar o desemprego em:

desemprego friccional ou natural, conjuntural ou cíclico, estrutural ou tecnológico, sazonal, e forçado ou subemprego.

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1.4.1 Desemprego friccional ou natural

O desemprego friccional ou natural decorre da imperfeição do mercado de trabalho, que falha quando empregadores com vagas para serem ocupadas desconhecem a existência de mão de obra disponível, e quando trabalhadores desempregados desconhecem as potenciais ofertas de emprego. Vale observar que o termo natural nada tem a ver com a sugestão de que seja desejável. Significa apenas que esse desemprego não desaparece por si só nem no longo prazo. Se representarmos graficamente a taxa natural de desemprego, ela corresponderá a uma porcentagem da Força de Trabalho (PEA), constante ao longo do tempo, como mostra o Gráfico 5.

GRÁFICO 5: A TAXA NATURAL DE DESEMPREGO

0 ANOS

Taxa natural de desemprego

porcentagem da PEA

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porcentagem da PEA

1.4.2 Desemprego cíclico ou conjuntural

O desemprego cíclico ou conjuntural ocorre em fases de depressão econômica, quando as pessoas que desejam trabalhar ao salário vigente não encontram emprego. Graficamente, a taxa de desemprego cíclico é dada pelo desvio do desemprego em relação à sua taxa natural, como mostra o Gráfico 6.

GRÁFICO 6: O DESEMPREGO CÍCLICO

0 ANOS

1.4.3 Desemprego estrutural ou tecnológico

O desemprego estrutural decorre de alterações estruturais da economia, muitas vezes trazidas por mudanças tecnológicas. Dois grupos compõem o desemprego estrutural. O primeiro é formado por desempregados aos quais faltam instrução e capacitação profissional necessárias à exigência do mercado. O segundo grupo consiste de

Taxa natural de desemprego

Taxa de desemprego

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trabalhadores especializados cujos conhecimentos tornaram-se ultrapassados devido às inovações tecnológicas, como é o caso dos datilógrafos.

1.4.4 Desemprego sazonal

O desemprego sazonal ocorre em função da natureza de determinados tipos de atividade econômica, cuja demanda por trabalho não é homogênea em todas as épocas do ano. Esse é um fenômeno que ocorre visivelmente na agricultura, no setor hoteleiro, e no comércio fora da época do Natal.

1.4.5 Desemprego forçado ou subemprego

Existem, ainda, pessoas que embora não estejam desempregadas, recebem salários muito abaixo do estipulado por seus sindicatos ou pelo governo. Geralmente essas pessoas não têm carteira assinada e são consideradas subempregadas.

1.5 O conceito de pleno emprego

Quando falamos de desemprego, geralmente nos referimos ao excesso de mão de obra no mercado de trabalho. Quando falamos de pleno emprego estamos nos referindo ao grau máximo de utilização não só do fator trabalho, mas também dos fatores terra e capital. Toda vez que uma economia produz a pleno emprego, todos os recursos produtivos (terra, trabalho e capital) estão sendo utilizados, restando apenas aquela parte do fator trabalho composta por pessoas que

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estão em processo de mudança de emprego e que compõem a taxa natural de desemprego. O grau de utilização dos fatores de produção está diretamente relacionado ao período de tempo de que se trata. Por isso, vale lembrar que:

• curtíssimo prazo é o período de tempo em que a oferta de todos os fatores de produção é fixa;.

• curto prazo é o período de tempo em que a oferta de alguns fatores é fixa e a de outros é variável; e

• longo prazo é o período de tempo em que a oferta de todos os fatores de produção é variável,

Logo, o grau de utilização dos fatores de produção afetará diretamente o Nível Geral de Preços, sempre que houver alguma oferta fixa, ou seja, no curtíssimo e curto prazos. Isso pode ser visto no Gráfico 7 a seguir.

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GRÁFICO 1: PRODUÇÃO AO NÍVEL DE PLENO EMPREGO

DA

NGP

45º

Y01 Y0

2

DA4

DA2 DA1

Y04

DA3

Y03 Y

barreira do pleno emprego

Y01 Y0

2 Y04 Y0

3 Y

O Gráfico 7 é composto de duas partes. A primeira, representada no plano DA x Y, mostra os vários níveis de renda de equilíbrio (Y0

i) para

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cada ponto em que a curva de demanda agregada corta a reta de 45º. A segunda parte, representada no plano NGP x Y, mostra o Nível Geral de Preços para cada nível de renda de equilíbrio proveniente da plano anterior. O gráfico mostra ainda a barreira do pleno emprego, a partir da qual não é possível produzir no curtíssimo e curto prazos. Dito isso, imaginemos a evolução de uma economia hipotética. Tomemos como ponto de partida o ponto A. Pela primeira parte do gráfico, vemos que a economia está em equilíbrio abaixo do nível de pleno emprego; e, pela segunda parte, vemos que não há inflação, pois o Nível Geral de Preços é constante. Se essa economia decide absorver parte dos fatores de produção que estão ociosos, sua demanda agregada passará de DA1 para DA2, e o nível de renda de equilíbrio aumentará de Y0

1 para Y02. Neste caso, ponto B,

embora o nível de atividade econômica tenha subido, a economia ainda está em equilíbrio abaixo do pleno emprego e sem inflação. O mesmo procedimento se dá quando passamos do ponto B para o ponto C. Mas, à medida que a economia vai se aproximando da plena utilização dos fatores de produção (barreira do pleno emprego), a pressão sobre os preços vai aumentando e o resultado é o desencadeamento da inflação. Isso pode ser observado quando da passagem do ponto C para o D, em que a economia está em equilíbrio abaixo do nível de pleno emprego, mas já com inflação. Chegando no ponto D, não havendo tempo suficiente para a reposição dos fatores de produção, isto é, no curtíssimo e no curto prazos, qualquer aumento na demanda agregada não conseguirá aumentar o nível de renda de equilíbrio e ainda provocará um aumento do Nível Geral de Preços. Temos, então, uma economia operando a pleno emprego e com

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inflação. Observe que essa inflação pode vir tanto pela falta de recursos produtivos para atender à demanda (inflação de demanda) quanto pela pressão dos trabalhadores por maiores salários (inflação de custos). Os dois casos serão vistos com mais detalhes no tópico a seguir. Por ora, queremos apenas registrar o comportamento das variáveis econômicas quando a economia utiliza integralmente seus fatores. Um bom exemplo da plena utilização da capacidade produtiva (dos fatores de produção) e da consequente subida dos preços diz respeito ao Plano Cruzado, implantado em 28 de fevereiro de 1986 para conter a inflação vigente. O Plano, dentre outras medidas, congelou de surpresa os preços dos bens e serviços, provocando instantaneamente um aumento no poder aquisitivo da população. O consumo, que estava reprimido pela alta inflação, explodiu, carregando consigo a demanda agregada. Visando atender a esta nova demanda, as fábricas trataram de ocupar toda a sua capacidade ociosa para aumentar a oferta. Mas tão logo a economia como um todo atingiu o pleno emprego dos fatores produtivos, o resultado foi a retomada da inflação em níveis superiores aos do começo do Plano.

2 A QUESTÃO DA INFLAÇÃO

2.1 O conceito de inflação

A inflação é definida como sendo o aumento contínuo e generalizado dos preços. Se houver um aumento de preços em um mês, por exemplo, e se esse aumento não persistir no mês seguinte, então não se pode dizer que esteja havendo inflação.

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Além disso, se se constata um aumento de preço apenas em um ou em alguns setores, certamente está havendo um desajuste entre a oferta e a demanda desses setores e não o desencadeamento de um processo inflacionário. A queda generalizada dos preços é denominada deflação. No caso de desinflação, os preços continuam subindo, mas em ritmo mais lento.

2.2 As causas da inflação

Para fins de análise, a inflação é classificada de acordo com seus fatores desencadeadores. Nesse sentido, a literatura econômica costuma distinguir a inflação provocada pelo excesso de demanda agregada (inflação de demanda) daquela provocada pela elevação dos custos (inflação de custos).

2.2.1 A inflação de demanda

CONCEITO

A inflação de demanda, considerada o tipo clássico de inflação, diz respeito ao excesso de demanda frente à oferta de bens causado pelo excesso de moeda no mercado. Intuitivamente, ela este tipo de inflação pode ser entendidoa como “dinheiro demais à procura de poucos bens”. Como vimos no item 1.5 O conceito de pleno emprego, a probabilidade de que haja inflação de demanda aumenta quanto mais a economia estiver próxima do pleno emprego de recursos. Se houver desemprego em larga escala, um aumento na demanda agregada terá, como contrapartida, um aumento na produção de bens e serviços, através da maior utilização dos recursos antes desempregados,

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sem que necessariamente ocorra um aumento generalizado dos preços. Entretanto, quanto mais a economia se aproxima do pleno emprego, mais se reduz a possibilidade de expansão rápida da oferta agregada, e a repercussão disso recai sobre os preços. O caso de inflação de demanda, ilustrado no plano Y x NGP do Gráfico 8, mostra que a curva de oferta agregada OA permanece praticamente inalterada, enquanto a curva de demanda agregada DA se desloca de DA1 para DA2.

GRÁFICO 8: A INFLAÇÃO DE DEMANDA

Y0

1 Y02 Y

Observe que, embora o aumento da atividade econômica eleve o nível de renda de equilíbrio de Y0

1 para Y02, isso ocorre a custa de uma

elevação no Nível Geral de Preços de NGP1 para NGP2.

NGP2NGP1

NGP

OA

DA1

DA2

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MEIOS DE SE COMBATER A INFLAÇÃO DE DEMANDA

As políticas que visam combater a inflação de demanda assentam-se em instrumentos ou que reduzam a procura agregada ou que aumentem a oferta agregada de bens e serviços. Os monetaristas (ou neoliberais) entendem que a principal causa da inflação provém da política do governo de financiar seus déficits no orçamento através da emissão de moeda. Eles são contrários à intervenção do Estado na economia, alegando ser esta a causa dos elevados déficits públicos. Preconizam a prevalência do mercado livre, concorrencial, sem interferência do Estado e julgam que o meio mais eficiente de combate da inflação é uma política monetária contracionista (restritiva), que reduza a demanda agregada (ver Gráfico 9).

GRÁFICO 9: POLÍTICA MONETARISTA DE COMBATE À INFLAÇÃO

Y0

1 Y02 Y

NGP2NGP1

NGP

OA

DA1 DA2

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Os fiscalistas (ou estruturalistas) enfatizam que a curto prazo a demanda é mais sensível a alterações na política econômica do que a oferta agregada, cujos ajustes normalmente ocorrem a prazos mais longos. Para eles, o combate mais eficiente à inflação de demanda se dá por meio de uma política fiscal contracionista, como a diminuição dos gastos do governo ou a elevação da carga tributária. No longo prazo, eles defendem a expansão da oferta agregada (ver Gráfico 10).

GRÁFICO 10: POLÍTICA ESTRUTURALISTA DE COMBATE À INFLAÇÃO

Y0

1 Y02 Y0

3 Y

2.2.2 Inflação de custos

CONCEITO

A inflação de custos pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. O nível de demanda permanece o mesmo, mas o custo de

NGP2NGP1

NGP

OA1

DA1 DA2

OA2

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insumos importantes aumenta e é repassado aos preços dos produtos. A consequência disto pode ser vista na Figura 3 e é conhecida como espiral inflacionária.

FIGURA 3: A ESPIRAL INFLACIONÁRIA

Pela Figura 3 vemos que a um nível de salário W1 as pessoas conseguem adquirir os bens que, somados, valem P1. Se houver um aumento nos custos de produção desses bens, seus fabricantes repassam o ônus para os preços, que sobem de P1 para P2. O salário W1, que antes comprava os bens a P1, não consegue comprar os bens ao preço P2. As categorias trabalhistas pressionam as classes patronais para que haja aumento de salário. Obtendo sucesso, os salários passam de W1 para W2. Este aumento nos salários, que também compõem os custos de produção, logo será repassado para os preços, que sobem de P2 para P3. O salário

P1

W1

W2

W3

P2

P3

P4

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vigente W2 não será suficiente para comprar os produtos a P3. Retoma-se o processo de reivindicação salarial e a espiral inflacionária continua. A inflação de custos também pode ser ilustrada pelas curvas de oferta e demanda agregadas no plano Y x NGP do Gráfico 11, onde a demanda agregada DA permanece relativamente estável e a oferta agregada se retrai de OA1 para OA2.

GRÁFICO 11: A INFLAÇÃO DE CUSTOS

Y02 Y0

1 Y

Observe que o aumento nos custos diminui o nível atividade econômica de Y0

1 para Y02 e eleva o Nível Geral de Preços de NGP1 para

NGP2.

NGP2

NGP1

NGP

OA1

OA2

DA

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MEIOS DE SE COMBATER A INFLAÇÃO DE CUSTOS

No caso da inflação de custos, a política recomendada para combatê-la é o controle direto de preços, o que pode ocorrer através de uma política salarial mais rígida, de uma maior fiscalização dos lucros auferidos pelos grupos oligopolistas, ou de um maior controle dos preços dos fatores, sobretudo dos fatores importados.

2.2.3 Inflação inercial

CONCEITO

Além da inflação de demanda e de custos, registra-se ainda a inflação inercial, que, pelo próprio nome, sugere a permanência em um mesmo estado. A principal diferença da inflação inercial para as duas anteriores é que ela não provém de variações na demanda ou na oferta agregadas, mas da expectativa dos agentes econômicos de que nada vai mudar em relação aos preços. Quer dizer, mesmo que todas as causas possíveis de inflação não estejam mais presentes na economia, os agentes econômicos continuam reajustando seus preços com base na inflação passada. Fazendo isso, eles mesmos perpetuam a inflação, ao tornarem os preços inflexíveis para baixo. MEIOS DE SE COMBATER A INFLAÇÃO INERCIAL

Por se tratar de uma inflação com forte cunho psicológico, a inflação inercial é a mais difícil de ser combatida. Um bom começo, entretanto, compreende o fim da indexação – mecanismo de política econômica muito utilizado em economias com inflação crônica.

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A indexação consiste em corrigir, através de um índice de preços (INPC, IGP etc.), tanto as rendas recebidas pelos agentes econômicos (salários, pensões, aluguéis etc.) quanto os seus ativos financeiros (poupança, títulos da dívida pública etc.), de forma a atenuar as distorções provocadas pelo processo inflacionário. Embora a indexação realmente atenue tais distorções, ela tem a desvantagem de perpetuar a inflação passada, tornando-a crônica. Por esta razão, desindexar a economia é o primeiro passo para o fim da inflação inercial.

3 A RELAÇÃO ENTRE O DESEMPREGO E A INFLAÇÃO: A CURVA DE PHILLIPS

Os níveis de desemprego e de inflação há muito fazem parte das preocupações da teoria macroeconômica. Tanto assim, que o economista neozelandês A.W. Phillips, ao estudar a economia do Reino Unido entre 1861 e 1957, observou a existência de uma relação inversa não-linear entre os níveis de emprego e as taxas de inflação, como mostra a curva que levou seu nome, representada no Gráfico 12.

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B

GRÁFICO 12: A CURVA DE PHILLIPS

O eixo horizontal representa a taxa de desemprego (μ) da economia, e o eixo vertical, a taxa de inflação (π). O fato de a curva de Phillips ser negativamente inclinada mostra que, no curto prazo, existe um trade off (dilema) a ser enfrentado pelos formuladores de política econômica. Quer dizer, uma política de redução do desemprego de μ2 para μ1 provoca uma elevação da taxa de inflação de π2 para π1; ao passo que, uma redução na taxa de inflação de π1 para π2 será obtida ao custo de um aumento na taxa de desemprego de μ1 para μ2. Em outras palavras, a curva de Phillips mostra que em períodos de prosperidade, quando a economia está aquecida (ponto A da curva), a demanda por trabalho aumenta e o nível de desemprego diminui, mas o desabastecimento e a consequente pressão sobre dos preços podem levar à inflação. Por outro lado, em épocas de baixa atividade econômica (ponto

π1

0

taxa de inflação

CURVA DE PHILLIPS

A

π2

taxa de desemprego

μ1 μ2

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B), quando as empresas constatam uma redução nas vendas, o quadro de funcionários se reduz e o nível de desemprego aumenta, embora a baixa demanda, que não pressiona os preços, acabe segurando a inflação.

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PARTE V: RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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PARTE V AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1 O BALANÇO DE PAGAMENTOS

A partir do momento que um país começa a comercializar com outros, surge a necessidade de se estabelecer um controle sobre o fluxo de pagamentos e recebimentos provenientes das relações comerciais internacionais. Para efetuar esse controle, existe o Balanço de Pagamentos (BP), que é o registro contábil de todas as transações, ocorridas em certo período de tempo, entre residentes e não residentes de um país. A contabilidade dessas transações segue o método das partidas dobradas, segundo o qual, para cada lançamento a débito corresponde um lançamento a crédito e vice-versa. A entrada de divisas (moedas estrangeiras) é assinalada com sinal positivo, e a saída, com sinal negativo. Os lançamentos são uniformizados em uma só moeda, geralmente, o dólar norte-americano, por sua aceitação internacional.

1.1 Estrutura geral do Balanço de Pagamentos

O Balanço de Pagamentos é composto de duas grandes contas: as Transações Correntes e o Movimento de Capitais. O Movimento de Capitais Compensatórios é apenas uma artifício contábil usado para zerar o Balanço de Pagamentos, satisfazendo a metodologia das partidas dobradas. A estrutura geral do BP pode ser vista na Figura 1.

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FIGURA 1: ESTRUTURA GERAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS

TRANSAÇÕES CORRENTES

1 Balança Comercial

Exportações (FOB)

Importações (FOB)

2 Balança de Serviços

Viagens internacionais

Transportes

Seguros

Juros

Serviços governamentais

Serviços diversos

3 Transferências Unilaterais

4 Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (1 + 2 + 3)

MOVIMENTOS DE CAPITAIS

5 Movimento de capitais autônomos

Investimentos

Financiamentos

Amortizações

Empréstimos a médio e longo prazos

Empréstimos a curto prazo

Outros capitais

6 Erros e omissões

7 Saldo total do Balanço de Pagamentos (4 + 5 + 6)

DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS

8 Movimento de Capitais Compensatórios

Haveres e obrigações no exterior

Empréstimos de regularização

Atrasados

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200

1.2 Detalhamento das contas do Balanço de Pagamentos

1 Balança Comercial Na Balança Comercial são registradas as exportações e as importações de mercadorias. As primeiras são lançadas com sinal positivo, representando entrada de divisas, e as segundas, com sinal negativo, demonstrando saída de divisas. As transações de mercadorias podem ser feitas sob três condições: FOB, C&F e CIF. A condição FOB (Free On Board) significa que, uma vez a bordo do veículo que transportará a mercadoria até o país de destino, o vendedor não tem mais qualquer responsabilidade sobre ela. As despesas com seguro e frete correm por parte do comprador. A condição C&F (Cost & Freight) significa que, ao preço acordado, estão incluídos o valor da mercadoria e o valor do frete. Finalmente, a condição CIF (Cost, Insurance & Freight) indica que, ao preço acordado, estão incluídos o valor da mercadoria, o valor do frete e o valor do seguro. Como o frete e o seguro são serviços, seus valores devem ser computados na Balança de Serviços, registrando-se, na Balança Comercial, apenas o custo da mercadoria, quer dizer, seu valor FOB. 2 Balança de Serviços Na Balança de Serviços são registrados os pagamentos e os recebimentos relativos às transações de bens intangíveis. Os pagamentos, por representarem saída de divisas, são lançados com sinal negativo, e os recebimentos, com sinal positivo. Incluem-se na Balança de Serviços:

• as viagens internacionais, os transportes e os seguros; • os serviços governamentais, que dizem respeito à representação

do país no exterior, como as embaixadas e os consulados;

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• a remuneração dos serviços dos fatores produtivos, ou seja, a remessa ou recebimento de juros2 e lucros (pelo uso do fator capital) e a remessa ou recebimento de salários (relativos ao fator trabalho); e

• os serviços diversos, que incluem pagamentos e recebimentos de royalties, de aluguéis de filmes etc.

3 Transferências Unilaterais Ao contrário das rubricas anteriores, as Transferências Unilaterais não estão relacionadas à compra e venda de bens e serviços. Elas dizem respeito à entrada e à saída de divisas decorrentes de doações, da manutenção de estudantes no exterior e afins. 4 Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (1 + 2 + 3) O saldo do BP em Transações Correntes corresponde à soma dos saldos da Balança Comercial, da Balança de Serviços e das Transferências Unilaterais. Seu resultado é interpretado da seguinte maneira:

• Saldo negativo significa que o país de que se trata comprou mais do que vendeu ao exterior. O Resto do Mundo, então, está com a poupança positiva e pode emprestar ao país que apresentou déficit em Transações Correntes;

• Saldo positivo significa que o país de que se trata vendeu mais do que comprou do exterior, deixando-o com a poupança negativa.

2 Os juros também são chamados de serviços da dívida.

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A poupança externa positiva (saldo negativo em Transações Correntes) é chamada de Passivo Externo Líquido, mostrando que, havendo poupança e, consequentemente, empréstimo vindos do exterior, as obrigações financeiras do país com o Resto do Mundo aumentam. Analogamente, a poupança externa negativa (saldo positivo em Transações Correntes) é chamada Ativo Externo Líquido. 5 Movimento de Capitais Autônomos No Movimento de capitais autônomos são registradas as entradas e saídas de divisas relativas a empréstimos, financiamentos, investimentos e amortizações da dívida. Os empréstimos e financiamentos são também chamados capitais de empréstimo e devem ser devolvidos tão logo expire a data de vencimento. Os investimentos, se estiverem relacionados à instalação de firmas estrangeiras no país ou à instalação de firmas nacionais no exterior são chamados de investimentos diretos; e se estiverem relacionados a capitais especulativos transacionados nas Bolsas de Valores, são chamados capitais de risco. Em suma, um país recebe divisas e as registra no Movimento de Capitais Autônomos com sinal positivo quando:

• toma empréstimos ou financiamentos no exterior; • recebe investimentos diretos; • recebe capitais de risco; • recebe amortizações (pagamentos) de empréstimos que tenham

sido concedidos a outros países do mundo. Analogamente, esse país gasta divisas e as registra no Movimento de Capitais Autônomos com sinal negativo quando:

• concede empréstimos ou financiamentos ao exterior; • realiza investimentos diretos no exterior;

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• realiza investimentos de risco no exterior; • paga empréstimos ou financiamentos ao Resto do Mundo.

6 Erros e omissões Esta rubrica existe para acertar as diferenças nos valores das mercadorias e serviços, a cargo do Departamento de Comércio Exterior (DECEX), e nos valores de caixa, a cargo do Banco Central. Admite-se um valor de no máximo 5% da soma das exportações com as importações. 7 Saldo total do Balanço de Pagamentos (4 + 5 + 6) O saldo total do Balanço de Pagamentos corresponde à soma do saldo em Transações Correntes, do saldo do Movimento de Capitais Autônomo e da rubrica Erros e Omissões. Seu resultado é interpretado da seguinte maneira:

• O saldo negativo corresponde a um déficit no BP, e significa que, naquele período de tempo, saíram mais divisas do que entraram;

• O saldo positivo corresponde a um superávit no BP, e significa que, naquele exercício, entraram mais divisas do que saíram.

8 Movimento de Capitais Compensatórios (- 7) Também chamado de Demonstrativo de Resultados, o Movimento de Capitais Compensatórios indica qual o destino das divisas caso o Balanço de Pagamentos seja superavitário, e qual a origem dos recursos que neutralizam o déficit caso o resultado seja deficitário. As Autoridades Monetárias, que administram o Movimento de Capitais Compensatórios, dispõem de três instrumentos para compensar o saldo do Balanço de Pagamentos. São eles:

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• Reservas de caixa – que são haveres na forma de divisas estrangeiras, títulos externos, ouro monetário e Direitos Especiais de Saque (moeda fiduciária criada pelo FMI);

• Empréstimos de regularização – que são empréstimos tomados junto ao FMI para honrar os compromissos financeiros internacionais; e

• Atrasados – que é um mecanismo contábil usado quando o país não paga um débito no prazo. Nesse caso, debita-se em Amortizações e credita-se nesta conta.

Assim, no caso de um resultado negativo no BP, as autoridades monetárias podem compensá-lo:

• queimando reservas diversas; • vendendo ouro monetário; • vendendo títulos externos; • fazendo pedidos de empréstimo junto ao FMI; e • lançando contas que não foram pagas na rubrica Atrasados, com

sinal positivo. No caso de um saldo positivo no BP, o excesso de divisas pode ser endereçado:

• ao aumento das reservas; • à compra de ouro monetário; • à compra de títulos externos; • ao pagamento de contas que estavam creditadas em Atrasados.

Note que os pagamentos de empréstimos tomados junto ao FMI são lançados em amortizações, como qualquer outro pagamento de empréstimo ou financiamento. O detalhamento das contas do Balanço de Pagamentos aparece resumido na Figura 2, a seguir.

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FIGURA 2: DETALHAMENTO DAS CONTAS DO BALANÇO DE PAGAMENTOSI8)

TRANSAÇÕES CORRENTES 1 Balança Comercial

Exportações (FOB) – crédito Importações (FOB) – débito

2 Balança de Serviços – pode apresentar tanto débitos como créditos Viagens internacionais – turismo Transportes – fretes Seguros Serviços da dívida – juros Serviços governamentais – embaixadas, consulados, representações no exterior Serviços diversos – lucros, royalties, assistência técnica

3 Transferências Unilaterais – doações de mercadorias ou doações monetárias

4 Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (1 + 2 + 3) Saldo negativo: poupança externa positiva – Passivo Externo Líquido Saldo positivo: poupança externa negativa – Ativo Externo Líquido

MOVIMENTOS DE CAPITAIS 5 Movimento de capitais autonômos

Investimentos – instalação de firmas estrangeiras no país Financiamentos Empréstimos a curto prazo Empréstimos a médio e longo prazos Amortizações – amortizações de empréstimos e financiamentos Outros capitais – capitais especulativos, de curto prazo, aplicados no mercado financeiro.

6 Erros e omissões – diferença nas fontes de informação entre os itens de mercadorias e serviços, a cargo do Departamento de Comércio Exterior (DECEX), e de caixa, a cargo do Banco Central. 7 Saldo total do Balanço de Pagamentos (4 + 5 + 6)

Saldo negativo: déficit (saíram mais divisas do que entraram) Saldo positivo: superávit (entraram mais divisas do que saíram)

DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS – ou FINANCIAMENTO DO RESULTADO 8 Movimento de Capitais Compensatórios (-7) – igual ao saldo do Balanço de Pagamentos, com sinal trocado.

Reservas de caixa – divisas, títulos externos, ouro monetário e DES Empréstimos de regularização – empréstimos junto ao FMI para honrar os compromissos financeiros internacionais.

Atrasados – quando o país não paga um débito no prazo, debita-se em “Amortizações” e credita-se nesta conta.

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1.3 O Balanço de Pagamentos do Brasil 1 Balança Comercial O Brasil ficou famoso pelas vultosas exportações de produtos agro-pastoris e de produtos oriundos da extração vegetal e mineral. A partir de 1994, contudo, a implantação do Plano Real e a valorização da moeda nacional provocaram uma reviravolta nas importações levando a constantes déficits na Balança Comercial. Somente em 2001, a Balança Comercial voltou a ser superavitária, contando inclusive com uma maior exportação de produtos manufaturados. 2 Balança de Serviços Historicamente o Brasil é deficitário na Balança de Serviços. Além dos serviços diversos, que são deficitários, o pagamento de juros chega a contribuir com cerca de 40% do valor negativo dessa conta. 3 Transferências Unilaterais As Transferências Unilaterais não têm uma uniformidade no Brasil. Às vezes são superavitárias, às vezes deficitárias e à vezes equilibradas. De qualquer forma é uma conta com saldos relativamente discretos. 4 Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (1 + 2 + 3) Como a Balança de Serviços no Brasil é sempre deficitária, e como as Transferências Unilaterais são pouco significativas, o saldo do BP em Transações Correntes fica diretamente vinculado ao comportamento da Balança Comercial. Em geral, o saldo em Transações Correntes só é

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superavitário quando o saldo da Balança Comercial consegue superar o histórico déficit da Balança de Serviços. 5 Movimento de Capitais Autônomos O Movimento de Capitais Autônomos no Brasil é historicamente superavitário devido, sobretudo, ao volume de empréstimos de médio e longo prazos que o País contrai. O contrapeso aos empréstimos vem do pagamento de amortizações, mas nem de longe esta conta se equipara, em valor, àquela. 6 Erros e omissões Como as Transferências Unilaterais, a conta Erro e Omissões não tem uma uniformidade. Às vezes é superavitária, às vezes deficitária e à vezes equilibrada. De todo modo, é uma conta com saldos relativamente discretos . 7 Saldo total do Balanço de Pagamentos (4 + 5 + 6) O saldo total do BP fica atrelado ao comportamento do saldo em Transações Correntes, já que o saldo do Movimento de Capitais Autônomos é quase sempre superavitário. Seu resultado costuma ser positivo, indicando que mesmo um déficit em Transações Correntes raramente supera o superávit no Movimento de Capitais Autônomos. 8 Movimento de Capitais Compensatórios (- 7) Como o saldo total do BP no Brasil é geralmente superavitário, as Autoridades Monetárias se veem na obrigação de decidir para onde encaminhar esse excesso de divisas. O mais comum é aumentar as

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reservas de caixa, guardando dólares e comprando títulos da dívida externa. Um exemplo numérico do Balanço de Pagamentos do Brasil pode ser visto na Figura 3, com alguns lançamentos do exercício de 2000 a 2007.

FIGURA 3: O BALANÇO DE PAGAMENTOS DO BRASIL – 2000 a 2007

US$ milhões 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

TRANSAÇÕES CORRENTES

1 Balança Comercial -698 2.647 13.121 24.825 33.641 44.757 46.457 40.032

Exportações (FOB) 55.086 58.222 60.362 73.084 96.475 118.308 137.807 118.308

Importações (FOB) -55.783 -55.577 -47.240 -48.260 -62.835 -73.551 -91.351 -120.617

2 Balança de Serviços -25.460 -27.493 -23.229 -23.640 -25.198 -34.115 -37.120 -42.510

Juros -17.965 -19.838 -18.292 -18.661 -20.701 -26.181 -27.657 -29.740

3 Transferências Unilaterais

1.521 1.638 2.390 2.867 3.268 3.558 4.306 4.029

4 Saldo do BP em Transações Correntes (1 + 2 + 3)

-24.637 -23.213 -7.718 4.051 11.711 14.199 13.643 1.551

MOVIMENTOS DE CAPITAIS

5 Movimento de capitais autônomos

19.326 27.925 8.856 5.111 -7.330 -8.808 16.299 89.086

Investimentos diretos 30.498 24.715 14.108 9.894 8.695 12.676 -9.380 27.518

6 Erros e omissões 3.049 -1405 -836 -1.099 -2.137 -1.072 628 -3.152

7 Saldo total do Balanço de Pagamentos (4 + 5 + 6)

-2.262 3.307 302 8.496 2.244 4.319 30.569 87.484

DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS

8 Movimento de Capitais Compensatórios

+2.262 3.307 -302 -8.496 -2.244 -4.319 -30.569 -87.484

FONTE: Boletim do Banco Central do Brasil

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EXERCÍCIO

Suponha que uma economia hipotética efetuou as seguintes transações com o exterior, registradas em milhões de dólares: Exportações de mercadorias (FOB) 1.500 Amortizações pagas 600 Donativos recebidos 100 Lucros remetidos para o exterior 100 Importação de mercadorias (FOB) 1.300 Empréstimos de regularização 150 Fretes e seguros pagos 100 Juros pagos 200 Investimentos feitos por empresas do exterior 500 Venda de ouro monetário 50

1) Estruture o Balanço de Pagamentos dessa economia. 2) Informe se a poupança externa foi positiva ou negativa e explique o seu significado. 3) Informe se o saldo do BP foi deficitário ou superavitário e explique o seu significado. 4) Informe dentre as opções – utilizar reserva de caixa, tomar emprestado ou não honrar seus compromissos – qual (is) foram utilizadas para financiar o resultado do BP.

2 A TAXA DE CÂMBIO E O MERCADO DE DIVISAS Se dois países que possuem moedas diferentes transacionam entre si, é necessário descobrir uma proporção de valor entre as suas moedas. Essa

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proporção ou paridade entre diferentes moedas é denominada “taxa de câmbio” e é determinada no mercado de divisas (moedas estrangeiras).

2.1 O conceito de taxa de câmbio

A taxa de câmbio relaciona o valor de duas moedas diferentes e pode ser expressa pela convenção do certo ou pela convenção do incerto. A convenção do certo, adotada nos Estados Unidos e na Inglaterra, consiste em cotar a moeda nacional em moeda estrangeira. A convenção do incerto, adotada nos demais países, consiste em cotar a moeda estrangeira em moeda nacional. Por isso falamos, no Brasil, que:

US$ 1,00 (moeda norte-americana) = R$ 2,45 (moeda nacional) e não

R$1,00 (moeda nacional) = US$ 0,41 (moeda norte-americana) muito embora os valores sejam os mesmos. Por questões didáticas, a partir de agora, só usaremos a convenção do incerto e iremos nos referir à moeda estrangeira como divisa ou dólar americano.

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FIGURA 4: MOVIMENTO DA TAXA DE CÂMBIO PELA CONVENÇÃO DO INCERTO

R$3,00 = e1 US$1,00

taxa de câmbio alta moeda nacional desvalorizada câmbio desvalorizado

taxa de câmbio baixa moeda nacional valorizada câmbio valorizado

R$1,10 = e2 US$1,00

Antes de prosseguir, vale registrar uma situação que muitas vezes nos engana quando usamos a convenção do incerto: uma taxa de câmbio

alta (e1) significa que o preço da divisa está alto e que a moeda nacional está desvalorizada, ao passo que uma taxa de câmbio baixa (e2), implica preço da divisa baixo e moeda nacional valorizada, como ilustra a Figura 4. No regime de taxas de câmbio fixas, que veremos mais adiante, um aumento no preço da divisa recebe o nome de “desvalorização cambial”, e uma diminuição no preço da moeda estrangeira é denominada “valorização cambial”. No regime de taxas de câmbio flutuantes, um aumento no preço da divisa recebe o nome de “depreciação cambial”, e uma diminuição no preço da moeda estrangeira, “apreciação cambial”. No Brasil, devido ao longo período de tempo em que reinou o regime de câmbio fixo, as pessoas continuam falando “desvalorização” e “valorização” cambial, mesmo com o câmbio flutuante.

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2.2 O mercado de divisas

O mercado de divisas é a interação entre a oferta e a demanda de divisas. Mas, de onde vêm essa oferta e essa demanda? A resposta é: das transações que constam no Balanço de Pagamentos. Vejamos a Figura 5.

FIGURA 5: O MOVIMENTO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS E A CONTRAPARTIDA EM MOEDA NACIONAL E DIVISAS ESTRANGEIRAS

IMPORTADORES

EXPORTADORES

BANCO CENTRAL

e

CASAS DE CÂMBIO

do Brasil

EXPORTADORES e

IMPORTADORES

do Resto do Mundo

BANCO CENTRAL

e

CASAS DE CÂMBIO

do Resto do Mundo

BRASIL

RESTO DO MUNDO

mercadorias

divisas

moeda

local R$

R$

moeda

local

R$

A Figura 5 mostra o seguinte: Quando os importadores brasileiros compram mercadorias e serviços do Resto do Mundo eles devem efetuar o pagamento na moeda do país com quem se transacionou. Mas os importadores brasileiros não têm moedas estrangeiras. Eles têm reais. Para converter esses reais em divisas, os importadores devem entregar a moeda nacional em alguma casa de

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câmbio e trocá-la, pela cotação do dia, por divisas. Essa troca de moeda nacional por divisas é o mesmo que demandar divisas. Essas divisas vão, finalmente seguem, para o país de onde saíram as mercadorias importadas, selando a transação. Por outro lado, quando exportadores brasileiros vendem mercadorias e serviços para o Resto do Mundo, eles recebem divisas como pagamento. Como não se pode transacionar com moeda estrangeira dentro do Brasil, os exportadores deverão ir às casas de câmbio e trocar as divisas que receberam por reais. Essa troca é feita pela cotação do dia e é o mesmo que ofertar divisas. Em suma, importar é demandar divisas e exportar é ofertar divisas. Por extensão, todo movimento de saída de divisas do país implica uma demanda por divisas e todo movimento de entrada, uma oferta de divisas. Vejamos por partes.

2.2.1 A demanda por divisas

A demanda por divisas depende: 1) do volume de importações, uma vez que os importadores

necessitam de moeda estrangeira para pagar sua compras realizadas no exterior; e 2) da saída de capitais, sob a forma de amortizações de

empréstimos, pagamentos de juros etc., que também precisam ser trocados por moeda estrangeira.

Observe o exemplo a seguir:

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TAXA DE CÂMBIO (R$/US$)

PREÇO DO BEM y em US$

PREÇO DO BEM y em R$

TAXA DE CÂMBIO ALTA

3,00

30,00 90,00

TAXA DE CÂMBIO BAIXA

1,10

30,00 33,00

Pelo exemplo anterior, se os pagamentos das mercadorias importadas ou dos juros e dos empréstimos forem efetuados com a taxa de câmbio mais alta (com a moeda nacional desvalorizada), o número de reais trocados por dólares vai ser maior do que se a taxa de câmbio estivesse mais baixa (ou, o que é o mesmo, se a moeda nacional estivesse valorizada). Então, a taxa de câmbio alta (e1) desestimula as importações e as demais saídas de capital, ao passo que a taxa de câmbio baixa (e2) as estimula. Em outras palavras, quanto mais alta a taxa de câmbio, menor será a quantidade demandada de divisas; e quanto mais baixa a taxa de câmbio, maior a quantidade demandada de divisas. Graficamente,

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0

GRÁFICO 1: A DEMANDA POR DIVISAS

e

D

e1

e2

q2 q1 qdivisas

2.2.2 A oferta de divisas

A oferta de divisas depende, por sua vez: 1) do volume de exportações, uma vez que as moedas recebidas

pelas vendas externas têm de ser trocadas por moeda nacional; e

2) da entrada de capitais, que também precisam ser trocados por moeda nacional.

Observe o exemplo a seguir:

TAXA DE CÂMBIO (R$/US$)

PREÇO DO BEM x em US$

PREÇO DO BEM x em R$

TAXA DE CÂMBIO ALTA

3,00

50,00

150,00

TAXA DE CÂMBIO BAIXA

1,10

50,00

55,00

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Pelo exemplo anterior, se as mercadorias e os serviços forem exportados com a taxa de câmbio mais alta, isto é, com a moeda nacional desvalorizada, o número de reais recebido será maior do que se a taxa de câmbio estivesse mais baixa ou, o que é o mesmo, se a moeda nacional estivesse valorizada. Logo, a taxa de câmbio alta (e1) estimula as exportações e as demais entradas de capital, ao passo que a taxa de câmbio baixa (e2) as desestimula. Dito de outra forma, quanto mais alta a taxa de câmbio, maior será a quantidade ofertada de divisas; e quanto mais baixa a taxa de câmbio, menor será a quantidade ofertada de divisas. Graficamente,

GRÁFICO 2: A OFERTA DE DIVISAS

S e

e1

e2

q2 q1 qdivisas

2.2.3 O equilíbrio no mercado de divisas

Já vimos, quando tratamos especificamente do Balanço de Pagamentos, que quando o seu saldo total é superavitário é porque entraram mais divisas no país do que saíram; quando seu saldo é

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deficitário é porque saíram mais divisas do que entraram; e quando seu saldo é nulo é porque entraram tantas divisas quantas saíram. A correspondência entre os saldos do BP e as respectivas situações no mercado de divisas, pode ser acompanhada pelo Gráfico 3.

0

GRÁFICO 3: EQUILÍBRIO NO MERCADO DE DIVISAS

LEGENDA: Em 1: excedente de divisas ⇔ superávit no BP

Em 2: escassez de divisas ⇔ déficit no BP Em E: equilíbrio no BP (saldo = 0)

E

1

2

S (ENTRADA DE DIVISAS: X e entrada de k)

e

e1

e2

q2 q1

D (SAÍDA DE DIVISAS: M e saída de k)

e0

qdivisas

Quando as curvas de oferta e demanda se interceptam, o mercado de divisas está em equilíbrio e o saldo do Balanço de Pagamentos é igual a zero. Quando o preço da divisa (ou taxa de câmbio) está acima do preço de equilíbrio de mercado (e1 > e0), está havendo um excedente de moeda estrangeira, proveniente de um superávit no Balanço de Pagamentos. Por outro lado, uma taxa de câmbio abaixo da taxa de câmbio de equilíbrio (e2 < e0) mostra que está havendo uma escassez de divisas no mercado, proveniente de um déficit no Balanço de Pagamentos.

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218

2.3 As taxas de câmbio fixas e as taxas de câmbio flutuantes

No Brasil, até fevereiro de 1990, o Banco Central controlava a taxa de câmbio através da compra e venda de dólares, conforme o mercado apresentasse excesso ou escassez de divisas, respectivamente. Essa forma de tratar a questão do câmbio é chamada regime de câmbio fixo (ou ajustável). A partir de então, com a implementação do Plano Collor I, o país adotou o regime de taxas de câmbio flutuantes (flexíveis ou livres), que são determinadas pelo mercado de divisas, sem a intervenção do governo.

2.3.1 O regime de taxas de câmbio flutuantes

No caso em que prevalecem as taxas de câmbio flutuantes, é preciso perceber que a tendência do saldo do Balanço de Pagamentos é caminhar para zero. O processo é o seguinte: suponha que exista um superávit (posição 1 do Gráfico 4). Com o excesso de divisas, o preço delas vai cair (e1 vai caindo para e0), e a moeda nacional vai se valorizar, reduzindo o saldo do Balanço de Pagamentos e eliminando o excesso de divisas. Suponha, agora, que exista um déficit (posição 2 do gráfico). Com a falta de divisas, o preço delas vai subir (e2 vai subindo para e0) e a moeda nacional vai se desvalorizar, aumentando a entrada e reduzindo a saída de divisas até que não exista mais falta de divisas. Com o regime de taxas flutuantes (ou livres), portanto, existe um ajuste automático no mercado de câmbio, como mostra o Gráfico 4.

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0

GRÁFICO 4: TAXAS DE CÂMBIO FLUTUANTES

LEGENDA: Em 1: excedente de divisas ⇒ o excesso de divisas faz o preço da divisa (e) cair, restaurando

automaticamente o equilíbrio no mercado de divisas, e, consequentemente, no BP. Em 2: escassez de divisas ⇒ a escassez de divisas faz o preço da divisa (e) subir, restaurando

automaticamente o equilíbrio no mercado de divisas, e, consequentemente, no BP. Em E: equilíbrio no BP (saldo = 0)

E

1

2

S (ENTRADA DE DIVISAS: X e entrada de k)

e

e1

e2

q2 q1

D (SAÍDA DE DIVISAS: M e saída de k)

e0

qdivisas

2.3.2 O regime de taxas de câmbio fixas

Antes de tudo, vale ressaltar que o nome “fixa” nada tem a ver com a ideia de “imóvel”. Na verdade, “fixa” vem de fixada pelo governo, na figura do Banco Central. A taxa fixada pelo governo não coincide com a taxa de câmbio que vigoraria se o mercado estivesse funcionando livremente. Com isso, é possível permanecer longos períodos com excesso ou com falta de divisas, dependendo da política adotada. Se o objetivo do governo for o de manter a taxa de câmbio alta (como o nível e1 do Gráfico 5), o Banco Central deverá intervir sistematicamente no mercado de câmbio comprando divisas. Fazendo isso, o governo diminui a quantidade de divisas no mercado, mantendo seu preço em alta. Essa compra de divisas, entretanto, gera um aumento

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de moeda nacional na economia, o que pode estimular a inflação. Para evitar que isto aconteça, o governo vende títulos públicos, reduzindo novamente a oferta de moeda nacional. Esta operação é chamada “esterilização” e está representada na Figura 6.

FIGURA 6: ETAPAS DA ESTERILIZAÇÃO

Observe que o enxugamento da economia é um processo que começa na etapa (4) da Figura 6, ao passo que a esterilização da economia começa na etapa (2). Logo, todo processo de esterilização compreende um enxugamento. Ainda quanto ao regime de câmbio ajustável (ou fixo), se o objetivo do governo for o de manter a taxa de câmbio abaixo da taxa de câmbio de equilíbrio (como o nível e2 do Gráfico 5), o Banco Central terá que vender continuamente divisas no mercado de câmbio. Com essa venda, o governo aumenta a quantidade de divisas no mercado, evitando a desvalorização da moeda nacional e a consequente elevação do preço da divisa . O alcance desta política é do tamanho das reservas internacionais, que, por sua vez, têm origem nos superávits do Balanço de Pagamentos.

(1)

HÁ UM EXCESSO DE DIVISAS

(2)

GOVERNO COMPRA

DIVISAS E PAGA EM MOEDA NACIONAL

(3)

HÁ UM AUMENTO DE

MOEDA NACIONAL EM CIRCULAÇÃO

(4)

GOVERNO VENDE TÍTULOS PARA

ENXUGAR A ECONOMIA

(5)

DIMINUI A QUANTIDADE DE

MOEDA NACIONAL EM CIRCULAÇÃO

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221

Para concluir o caso das taxas de câmbio fixas, podemos dizer que: 1) se a operação de compra de dólares não estiver sendo suficiente para suprir o excesso de divisas, o governo poderá impor restrições à entrada de mais divisas através, por exemplo, de controles à entrada de capitais especulativos de curto prazo na Bolsa de Valores; e 2) se o volume de reservas internacionais não for suficiente para cobrir a falta de divisas, o governo poderá tomar medidas recessivas, como as restrições quantitativas às importações e/ou o aumento da taxa de juros para evitar a saída de capital e a consequente evasão de divisas.

2.3.3 Vantagens e desvantagens de cada regime cambial

A principal vantagem do regime de taxas de câmbio fixas é a segurança que ele proporciona aos agentes econômicos, facilitando as

0

GRÁFICO 5: TAXAS DE CÂMBIO FIXAS

LEGENDA : Em 1: excedente de divisas⇒ o excesso de divisas faz o preço da divisa (e) cair. Para que isto NÃO

aconteça, o governo intervém no mercado comprando divisas. Em 2: escassez de divisas ⇒ a escassez de divisas faz o preço da divisa (e) subir. Para que isto NÃ O

aconteça, o governo intervém no mercado, vendendo divisas. Em E: equilíbrio no BP (saldo = 0)

E

1

2

S

e

e1

e2

q2 q1

VENDA DE DIVISAS

COMPRA DE DIVISAS

D

qdivisas

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transações internacionais. Sua maior desvantagem é o ônus que recai sobre o Banco Central, por ter que assegurar financeiramente a estabilidade proposta por esse sistema. No que se refere ao câmbio flutuante, sua maior vantagem é ajustar-se automaticamente, desonerando o Banco Central dessa incumbência. Em compensação, o câmbio flutuante tem como desvantagem estar condicionado à movimentação especulativa dos capitais externos, que são, por natureza, muito voláteis. Atualmente, o regime cambial adotado na maioria dos países é o câmbio flutuante, mas monitorado. Esse tipo de regime é uma adaptação do antigo dirty floating (flutuação suja) que compreendia a fixação de bandas, isto é, de intervalos com limites máximos e mínimos e que funcionava assim:. se a taxa se aproxima do limite máximo, o Banco Central entrava no mercado vendendo divisas. Isto aumentava a oferta de divisas e diminuía a taxa de câmbio. Caso a taxa de câmbio se aproximasse do limite mínimo, o Banco Central entrava no mercado comprando divisas, que diminuía a sua oferta e aumentava o seu preço (a taxa de câmbio). Hoje, a taxa de câmbio flutua, de forma monitorada, mas sem a fixação das bandas ilustradas no Gráfico 6.

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0

GRÁFICO 6: DIRTY FLOATING – O REGIME CAMBIAL MISTO

E

S

e

e1

e2

q2 q1

D

qdivisas

3 OUTRAS QUESTÕES RELACIONADAS AO SETOR EXTERNO

3.1 As variações cambiais e a inflação

As mudanças no câmbio são sentidas tanto através da valorização quanto da desvalorização cambial, sendo que a valorização cambial ou diminuição da taxa de câmbio (nível e2 do Gráfico 5) tende a segurar a inflação, ao passo que a desvalorização cambial ou aumento da taxa de câmbio (nível e1) tende a aumentá-la. Vejamos com mais detalhes nos tópicos que se seguem.

3.1.1 A valorização cambial e a inflação

Todas as vezes que ocorre uma valorização cambial, as consequências são:

• a moeda nacional fica mais forte; • o preço da divisa (ou taxa de câmbio) cai;

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• os produtos importados ficam mais baratos; • os similares nacionais ficam mais baratos; • os insumos importados ficam mais baratos; • os produtos exportáveis ficam mais baratos; • a dívida externa em moeda nacional fica menor; e • a inflação tende a cair.

Como mostra o nível e2 do Gráfico 5, quando há uma valorização cambial, a moeda nacional fica mais forte e, em consequência, a taxa de câmbio (que é a relação entre moeda nacional e moeda estrangeira) cai. Isto significa dizer que o preço da divisa (que é a taxa de câmbio) diminui. Segue-se, então, que os produtos importados tornam-se mais baratos; não porque seus preços diminuem, mas porque na hora da conversão, serão necessárias menos unidades de moeda nacional para trocar pela mesma quantidade de moeda estrangeira. O reflexo disso é ter os similares nacionais mais baratos; a. Afinal, se os produtores nacionais não baixarem o preço de suas mercadorias, os consumidores acabarão comprando mercadorias importadas deixando que as nacionais encalhem. Por extensão aos produtos importados, os insumos importados também ficam mais baratos. Portanto, os produtos nacionais que utilizam tais insumos têm seu custo, e, em consequência, seu preço reduzido. Além disso, os produtos exportáveis ficam mais baratos, afinal, na hora da conversão, os exportadores receberão menos unidades de moeda nacional por dólar exportado. Por esse motivo, os exportadores vão preferir vender seus produtos no mercado interno, mas sabem que se os seus preços estiverem acima dos preços dos produtos estrangeiros não conseguirão escoar seus estoques. Daí o fato de os produtos nacionais ficarem mais baratos tanto para consumo externo quanto para o consumo interno. Com tudo isso, o resultado só pode ser o de calmaria nos preços dos insumos,

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dos produtos e, por extensão, do Nível Geral de Preços, que significa dizer queda na inflação.

3.1.2 A desvalorização cambial e a inflação

Por analogia ao caso anterior, todas as vezes que ocorre uma desvalorização cambial, as consequências são:

• a moeda nacional fica mais fraca; • o preço da divisa (ou taxa de câmbio) sobe; • os produtos importados ficam mais caros; • os similares nacionais ficam mais caros; • os insumos importados ficam mais caros; • os produtos exportáveis ficam mais caros; • a dívida externa em moeda nacional fica maior; e • a inflação tende a subir.

Como mostra o nível e1 do Gráfico 5, quando há uma desvalorização cambial, a moeda nacional fica mais fraca e, consequentemente, a taxa de câmbio (moeda nacional/ moeda estrangeira) sobe. Isto significa dizer que o preço da divisa (que é a taxa de câmbio) aumenta. Em consequência, os produtos importados tornam-se mais caros; a. Afinal, na hora da conversão de real para dólar serão necessárias mais unidades de moeda nacional para trocar pela mesma quantidade de moeda estrangeira. Sabendo disso, os produtores nacionais que vendem para o mercado interno, sem temer a concorrência com os produtos importados, acabam vendendo suas mercadorias por preços mais altos do que se a moeda nacional estivesse valorizada. Logo, os similares nacionais ficam mais caros. Além disso, os insumos importados, que também ficam mais caros com a desvalorização, contribuem para aumentar o custo e o preço

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daqueles bens que os utilizam na produção. No mesmo sentido dos produtos e dos insumos importados, os produtos exportáveis também ficam mais caros com a moeda desvalorizada, pois, na hora da conversão, os exportadores recebem mais unidades de moeda nacional por dólar exportado e por esse motivo, os exportadores preferem vender seus produtos no mercado externo a vendê-los internamente. Com tudo isso, o resultado é o aumento do Nível Geral de Preços, que significa dizer aumento na inflação.

3.2 A internacionalização da economia

O mundo está se integrando a uma velocidade muito elevada, sobretudo graças às inovações tecnológicas nas comunicações e no transporte. Os fluxos comerciais são determinados pelo grau de abertura de uma economia. Seu valor – medido pela soma das importações mais as exportações dividida pelo PIB – tem aumentado em quase todos os países. Dentre os países emergentes de grande porte, o Brasil ainda é aquele com a economia mais fechada, já que o grau de abertura da China é de 63%, da Rússia, de 48%, da Índia, de 32% e do Brasil, de 21,5% apenas. Os fluxos financeiros, por sua vez, são afetados por expectativas e por políticas cambiais e monetárias das diferentes economias. Quando a taxa de juros de um país for superior às taxas de juros dos outros países,

O controle da inflação via ajustes na taxa de câmbio, é denominado âncora cambial.

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pode-se esperar um fluxo positivo de recursos em direção ao país com a taxa de juros mais elevada. Todavia, há que se considerar a alta volatilidade dos capitais provenientes dos fluxos financeiros. Esses capitais, também chamados hot money, são capitais especulativos de curto prazo, aplicados em Bolsa de Valores, e que não são controlados pelas instituições federais. Suas características, associadas ao alto grau de informatização, fazem com que sejam transferidos para países que apresentem condições financeiras mais atrativas, de um dia para outro. As consequências disso são: a desvalorização da moeda do país de onde os capitais fugiram e a certeza da perda da sua autonomia nacional em termos financeiros. Em outras palavras, os investidores estrangeiros passam a desconfiar da capacidade do referido país de pagar sua dívida externa, o que acaba dificultando a obtenção de empréstimos e levando o país ao colapso econômico.

3.3 Ajustes no BP por meio de políticas governamentais

Alterações nas contas do Balanço de Pagamentos podem ser rapidamente sentidas sempre que o governo adotar uma medida fiscal, financeira ou cambial. Medidas fiscais são aquelas que estimulam ou desestimulam as exportações e importações através da manipulação de quotas e tarifas. A isenção ou a baixa alíquota sobre os produtos exportados (importados) estimula as exportações (importações). Analogamente, tarifas elevadas tornam os produtos mais caros, desestimulando sua transação. Medidas financeiras dizem respeito ao mercado financeiro e estão diretamente relacionadas à manipulação da taxa de juros. Toda vez que o governo aumenta a taxa de juros interna acima do valor da taxa de juros

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internacional (Prime Rate dos EUA e Libor da Inglaterra) os capitais especulativos de curto prazo migram para as Bolsas de Valores do país. O lado bom disso é que a entrada de capitais é computada com sinal positivo no Balanço de Pagamentos. O lado ruim é que esses capitais são muito voláteis podendo sair a qualquer momento sem muita garantia de retorno ao país. Quando o governo coloca a taxa de juros interna abaixo da taxa de juros internacional, ele o faz sabendo que o resultado é a saída imediata de boa parte dos capitais especulativos. Medidas cambiais estão relacionadas à administração da taxa de câmbio. Quando o governo desvaloriza a moeda nacional, aumentando a taxa de câmbio, são necessárias mais unidades de moeda nacional para equivaler a uma unidade de moeda estrangeira. Os resultados dessa política são:

• aumento das exportações; • diminuição das importações; • proteção do mercado interno contra a competição externa; • aumento dos custos dos produtos que utilizam insumos

importados; e • aumento, em moeda nacional, do valor da dívida externa.

Por outro lado, quando o governo valoriza a moeda nacional, diminuindo a taxa de câmbio, os detentores de divisas passam a receber menos unidades de moeda nacional em troca de cada unidade de moeda estrangeira. Consequentemente, as valorizações causam um impacto contrário ao das desvalorizações no Balanço de Pagamento e na economia de um modo geral.

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EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

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EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

PARTE I O LADO REAL DA ECONOMIA – MICROECONOMIA 1 O problema da humanidade que induziu o homem a formular teorias que originaram a Ciência Econômica foi: a) a escolha dos fatores de produção para maximizar o trabalho humano b) a escassez dos recursos produtivos que limita os desejos e as necessidades do homem c) a abundância de recursos produtivos que torna ilimitados todos os desejos humanos d) a escassez dos recursos produtivos, por um lado, que limita a produção de bens e serviços, e os desejos humanos, por outro lado, que são ilimitados

A resposta correta é a letra d. O problema da humanidade e, por consequência da Economia, é ter que conciliar os recursos produtivos (ou fatores de produção) que são limitados com os desejos e necessidades do homem, que são, por sua própria natureza, ilimitados.

2 Para a teoria econômica os juros são: a) um fator produtivo b) uma imposição do mercado c) a remuneração de um fator produtivo d) uma convenção da sociedade

A resposta correta é a letra c. Os fatores de produção são a terra, o trabalho e o capital, e suas respectivas rendas (ou remunerações) são os aluguéis, os salários, os

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lucros e os juros. Logo os juros são, ao lado dos lucros, a remuneração do fator capital.

3 Os bens que devem sofrer transformação antes que possam atender às necessidades humanas são conhecidos como: a) bens de capital b) bens intermediários c) bens não econômicos d) bens de consumo

A resposta correta é a letra b. Vejamos por eliminação: os bens de capital (letra a) são usados na produção de outros bens, mas não sofrem transformação. Os bens não econômicos (letra c) são bens abundantes, que nem sequer têm preço. Logo, estão fora do escopo da Ciência Econômica. Os bens de consumo (letra d) são, ao lado dos bens de capital, o resultado do processo de transformação dos bens intermediários. Os bens intermediários (letra b) são, portanto, os bens que se transformam no processo produtivo para dar origem aos bens finais.

4 Um bem livre é aquele que: a) é de utilização imediata b) é imaterial c) não é escasso, existindo em abundância d) não atende uma necessidade humana

A resposta certa é a letra c. Na teoria econômica, um bem de utilização imediata (letra a) é denominado bem de consumo. Um bem imaterial (letra b) é denominado bem intangível. Um bem que não atende uma necessidade humana (letra

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d) nem sequer pode ser considerado como um “bem”, já que, por definição, todo bem é útil e satisfaz uma necessidade. Logo, um bem livre é aquele que não é escasso, existindo em abundância, como as águas dos rios e o ar que respiramos.

5 O cimento é geralmente classificado como: a) bem de capital b) bem intermediário c) bem de consumo durável d) bem de consumo não durável

A resposta correta é a letra b. Bem intermediário é aquele que entra na produção de bens finais de consumo e de capital. O cimento é geralmente usado na construção de casas e apartamentos, que são bens de capital. Logo, o cimento pode ser considerado um bem intermediários.

6 O aparelho de ar refrigerado pode ser classificado como: a) bem de consumo durável b) bem de capital c) bem intangível d) A e B estão corretas

A resposta correta é a letra a. Os bens de capital (letra b) entram na produção de outros bens. Os bens intangíveis (letra c) são serviços. O aparelho de ar refrigerado nem é um serviço e nem entra na produção de outro bem. Ele é um bem final de consumo mas com uma durabilidade muito maior do que a de bens de consumo do tipo material de limpeza. Logo, o aparelho de ar refrigerado é um bem de consumo durável (letra a).

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7 A construção de uma curva de demanda individual leva em conta: a) a renda b) a influência dos preços dos bens complementares c) as preferências dos consumidores d) a influência dos preços dos bens substitutos e) todas as respostas acima estão corretas

A resposta correta é a letra e. A demanda por determinado bem x é determinada por uma série de fatores, sendo que os mais relevantes são: o preço do bem x (px), a renda do consumidor (Y), o preço dos bens substitutos ao bem x (ps), o preço dos bens complementares ao bem x (pc), e os hábitos e gostos dos consumidores (H). Logo todas as alternativas acima citadas estão corretas.

8 Para uma dada curva de demanda quando há uma queda acentuada no preço, tudo mais constante, deve-se esperar que: a) haja um deslocamento para a direita da curva de demanda b) haja um aumento da quantidade demandada c) haja uma diminuição da quantidade demandada d) A e B estão corretas e) A e C estão corretas

A resposta correta é a letra b. A curva de demanda é influenciada por fatores tais como o preço do bem x (px), a renda do consumidor (Y), o preço dos bens substitutos ao bem x (ps), o preço dos bens complementares ao bem x (pc), e os hábitos e gostos dos consumidores (H). Então

Dx = f (px, Y, ps, pc, H ...)

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Assumindo-se a condição coeteris paribus (“tudo mais permanecendo constante”), para cada um desses fatores, temos que:

• uma mudança em px altera a quantidade demandada de x é sentida ao longo da curva de demanda; e

• uma mudança em qualquer um dos demais fatores altera a demanda e é sentida pelo deslocamento de toda a curva. Além disso, de acordo com a Lei da Demanda, quando o preço de um bem aumenta, a quantidade demandada desse bem diminui, e quando o seu preço diminui, a quantidade demandada aumenta. Por tudo isso, quando há uma queda no preço de x, o resultado é um aumento da quantidade demandada de x (letra b).

9 Uma curva de demanda por um bem normal desloca-se para a esquerda quando: a) há uma diminuição da renda b) há um aumento da renda c) há uma queda do preço do bem complementar d) há um aumento no preço do bem substituto

A resposta correta é a letra a. Sob a ótica da renda, os bens são classificados em normais e inferiores. Não há relação entre bens normais ou inferiores e bens complementares ou substitutos. Logo as alternativas c e d estão incorretas. Para decidir entre as alternativas a e b, há que se lembrar que um bem é normal quando o aumento (a queda) na renda dos consumidores aumenta (diminui) a demanda por esse bem. Em outras palavras, um bem é normal quando uma variação positiva na renda (ΔY > 0) acarreta um deslocamento para direita da curva de demanda, e quando uma variação negativa (ΔY < 0) acarreta um deslocamento para a esquerda.

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Se houve um deslocamento da curva de demanda para a esquerda e se o bem é normal, então é porque houve uma diminuição da renda (letra a).

10 Suponha dois bens de demanda complementar, gasolina e automóveis. Quando ocorre uma diminuição do preço da gasolina, coeteris paribus, necessariamente ocorrerá: a) uma queda no preço dos automóveis b) um deslocamento para a esquerda da curva de demanda por automóveis c) não haverá nenhuma mudança na demanda por automóveis d) um deslocamento para a direita da curva de demanda por automóveis

A resposta correta é a letra d. Dois bens x e z são complementares quando o aumento no preço de z provocar uma diminuição na demanda por x, deslocando sua curva para a esquerda. Ou, pelo mesmo raciocínio, x e z são complementares quando uma diminuição no preço de z provocar um aumento na demanda por x, deslocando sua curva para a esquerda. Como a gasolina e os automóveis são complementares, uma queda no preço da gasolina aumentará a quantidade demandada de gasolina e aumentará a demanda por automóveis, deslocando a sua curva para a direita.

11 Suponha dois bens de demanda substituta, manteiga e margarina. Quando ocorre uma diminuição substancial no preço da manteiga, tudo o mais constante, deve-se esperar que a curva de demanda de margarina:

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a) desloque-se para a esquerda b) mantenha-se inalterada c) desloque-se para a direita d) mantenha-se inalterada, havendo, entretanto, um aumento no preço da margarina

A resposta correta é a letra a. Dois bens x e z são substitutos na demanda quando o aumento no preço de z provocar um aumento na demanda por x, deslocando sua curva para a direita. Ou, pelo mesmo raciocínio, x e z são substitutos quando uma diminuição no preço de z provocar uma diminuição na demanda por x, deslocando sua curva para a direita. Como a manteiga e a margarina são substitutas na demanda, uma queda no preço da manteiga aumentará a quantidade demandada da própria manteiga e diminuirá a demanda por margarina, deslocando sua curva para a esquerda.

12 Uma curva de demanda desloca-se para a esquerda quando: a) há um aumento da renda, caso o bem seja inferior b) há uma queda no preço de um bem complementar c) há uma queda no preço de um bem substituto d) A e C estão corretas

A resposta correta é a letra d. Há diminuição da demanda ou deslocamento para a esquerda da curva de demanda nas seguintes circunstâncias: diminuição na renda do consumidor, diminuição no preço dos bens substitutos, aumento no preço dos bens complementares e mudança desfavorável nos hábitos e gostos dos consumidores. Logo a letra d é a opção correta.

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13 A construção de uma curva de oferta leva em conta: a) custos b) tecnologia c) condições climáticas d) renda e) todas as alternativas são verdadeiras

A resposta correta é a letra e. A oferta de determinado bem x é determinada por uma série de fatores, sendo que os mais relevantes são: o preço do bem x (px), o preço dos insumos (pi) que afetam os custos de produção, a tecnologia (T) e o preço de outros bens (pz). Outros fatores – menos citados – também influenciam na oferta de determinado bem. É o caso das condições climáticas, que são sempre observadas quando se trata da oferta de sorvetes, de cobertores, dentre outros.

14 Quando a quantidade demandada supera a quantidade ofertada temos: a) excesso de oferta b) escassez de demanda c) escassez de oferta d) equilíbrio

A resposta correta é a letra c. Quando a quantidade demandada (qd) é maior do que a quantidade ofertada (qs) é porque está havendo uma escassez de oferta de x do tamanho (qd – qs).

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E

p

px S

D 0 qx

15 Considere a função de demanda igual a qd = - 4p + 100 e a função oferta igual a qs = 3p – 40. Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio. a) 21, 14 b) 20, 20 c) 19, 16 d) 31, 18

A resposta correta é a letra b. O preço e a quantidade de equilíbrio são aqueles em que a quantidade demandada é igual a quantidade ofertada. Isto é, qd = qs Igualando as duas equações, temos: - 4p + 100 = 3p – 40 100 + 40 = 3p + 4p 140 = 7p

ESCASSEZ

qs qd

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p = 20 Substituindo o preço de equilíbrio (p = 20) em uma das equações temos: qd = - 4 . 20 + 100 qd = - 80 + 100 qd = 20 No equilíbrio, qd = qs. Então 20 é a quantidade de equilíbrio.

16 Com base no exercício anterior, suponha agora que um aumento da renda desloca a curva de demanda de forma que ela passe a ser expressa por p = -0,25qd + 60. Se a função de oferta permanecer inalterada, o novo preço e a nova quantidade de equilíbrio serão: a) 40,80 b) 30,75 c) 45,85 d) 19,90

A resposta correta é a letra a. Com o aumento na renda, certamente a curva de demanda se deslocou para a direita e passou a ser: p = -0,25qd + 60 Ou, rearranjando a equação: qd = - 1/0,25 . (p – 60) qd = -4p + 240 Como a condição de equilíbrio supõe quantidade demandada igual à quantidade ofertada, então temos qd’ = qs Onde qd’ representa a nova curva de demanda. Então: -4p + 240 = 3p – 40

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7p = 280 p’ = 40, que é o novo preço de equilíbrio. Substituindo p’ em uma das equações, temos: qd’ = -4.40 + 240 qd’ = -160 + 240 qd’ = 80 Sabendo que no equilíbrio, qd’ = qs, então 80 é a nova quantidade de equilíbrio.

17 Suponha um bem x, cujo mercado está em equilíbrio. Sabendo-se que x é substituto de outra bem z, se ocorrer uma elevação no preço de z, com tudo mais permanecendo constante, haverá repercussões no mercado de x, levando-o, num primeiro momento, a uma situação de desequilíbrio. Caso haja tempo para que o mercado de x restaure o equilíbrio, deve-se esperar: a) um aumento do preço de x, porque a curva de demanda desse bem irá se deslocar para a direita, mantendo-se fixa a curva de oferta b) uma redução do preço de x porque a curva de demanda desse bem irá se deslocar para a esquerda, mantendo-se fixa a curva de oferta c) uma redução do preço de x, porque a curva de oferta desse bem irá se deslocar para a direita, mantendo-se fixa a posição da curva de demanda d) um aumento do preço de x, porque a curva de oferta desse bem irá se deslocar para a esquerda, mantendo-se fixa a curva de demanda

A resposta correta é a letra a. Se um mercado está em equilíbrio e ocorre um aumento da demanda de D para D’, aparecerá um excesso de demanda ao preço p0 (distância E0A do

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E0

E1

gráfico abaixo), já que os consumidores que compravam q0 passam a desejar q2 unidades, enquanto os produtores continuam querendo ofertar q0. Se houver tempo, entretanto, esse excesso de demanda logo será corrigido pelo próprio mercado, com o aumento automático do preço de p0 para p1. Isto porque a elevação do preço de p0 para p1 aumenta a quantidade ofertada (ao longo da curva de oferta) de q0 para q1 e, ao mesmo tempo, reduz a quantidade demandada (ao longo da nova curva de demanda) de q2 para q1. Ao preço p1, portanto, a quantidade demandada volta a ser igual à quantidade ofertada, formando um novo ponto de equilíbrio E1, só que, agora, a um preço mais alto do que o inicial p0. px S

p1 p0 D’ D 0 q0 q1 q2 qx

18 Para um preço de $30 a quantidade demandada é de 60. Uma redução de $2 no preço faz com que a quantidade demandada aumente em 4 unidades. Logo, podemos afirmar que o coeficiente da elasticidade-preço da demanda, em módulo, é: a) 1,2 b) 1 c) 1,5

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d) 0,5 A resposta correta é a letra b. O coeficiente da elasticidade-preço da demanda (Epd) é a medida numérica da sensibilidade da demanda de um bem x em relação a variações no seu preço. Sua fórmula é dada por:

Epd = 0

0

Δp/pΔq/q =

00 1

00 1

/pp-p/qq-q =

pΔΔ%q

%

cujos valores assumem os seguintes significados: • |Epd > 1| ⇒ demanda elástica • |Epd| < 1 ⇒ demanda inelástica • |Epd| = 1 ⇒ demanda com elasticidade unitária

Pelo enunciado do exercício, temos p0 = 30; p1 = 28; q0 = 60 e q1 = 64. substituindo estes valores na fórmula, encontramos: Δ%q = (64 – 60)/ 60 = 4/60 = 1/15 Δ%p = (28 – 30)/30 = -2/30 = -1/15 Como Epd = Δ%q/Δ%p, então: Epd = 1/15 / -1/15 = -1 Como o preço e a quantidade demandada caminham em sentidos opostos, analisamos o módulo da Epd, que, neste caso, mostra que x é um bem cuja demanda apresenta elasticidade unitária.

19 Supondo que a curva de demanda do exercício anterior é linear, é correto afirmar que: a) os pontos se localizam no ramo elástico da curva b) os pontos se localizam na região de preços baixos c) o coeficiente calculado representa elasticidade unitária d) o coeficiente calculado é constante em toda a curva

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A resposta correta é a letra c. Quando a curva de demanda é linear, a Epd assume diferentes valores ao longo da mesma curva. Logo a letra d está incorreta. Do ponto em que |Epd| é igual a zero até o ponto médio da curva, seus valores vão de zero a um e este é o ramo inelástico da curva (ou ramo de preços baixos). Do ponto médio da curva até o ponto em que |Epd| é igual a infinito, seus valores vão de um a infinito e esse é o ramo elástico da curva. No ponto médio, |Epd| é igual a um e a demanda, neste ponto, apresenta elasticidade unitária.

Epd = 0

qMÉDIA qx

pMÉDIO

px

Epd = 1 ⇒ NO PONTO MÉDIO

Epd = ∞

RAMO ELÁSTICO

RAMO INELÁSTICO

Logo as alternativas b e c também estão incorretas, e a resposta certa é a alternativa c.

20 Sabendo-se que o módulo da elasticidade-preço da demanda por determinado bem é igual a 2,5, com o aumento de preço da ordem de 10%, é correto dizer que:

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a) tanto a receita do produtor quanto o dispêndio do consumidor com o bem se reduzirão b) a receita do produtor se reduzirá e o dispêndio do consumidor permanecerá constante c) o dispêndio do consumidor se reduzirá e a receita do produtor permanecerá constante d) tanto a receita do produtor quanto o dispêndio do consumidor não se alterarão

A resposta correta é a letra a. Tanto a Receita Total (RT) quanto o Dispêndio Total (DT) são dados pelo preço multiplicado pela quantidade, ou RT = p x q = DT. Se a demanda do bem x é elástica, um aumento no seu preço reduzirá mais que proporcionalmente a quantidade demandada, de forma que esse aumento no preço resulte, numa diminuição tanto de RT quanto de DT. Por analogia, se a demanda do bem x é inelástica, um aumento no seu preço reduzirá a quantidade demandada porém menos que proporcionalmente, de forma que tal aumento no preço resulte num aumento tanto de RT quanto de DT. BEM ELÁSTICO BEM INELÁSTICO RT = p x q = DT RT = p x q = DT O exercício em questão, trata de um bem elástico, já que o módulo da Epd é maior do que um (Epd = 2,5). Neste caso, um aumento de 10% no preço provocará uma redução maior do que 10% na quantidade demandada (no

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caso, uma redução de 25%). O resultado é uma redução tanto na RT quanto na DT, já que RT = DT = p x q.

21 O coeficiente da elasticidade-cruzada da demanda entre os bens a e b é -1,3. Logo, podemos afirmar: a) a e b são bens complementares b) a e b são bens substitutos c) a e b são bens de luxo d) a e b são bens inferiores

A resposta correta é a letra a. A elasticidade-cruzada diz respeito à variação na quantidade demandada de um bem dada a variação no preço de outro bem. Logo a elasticidade-cruzada só pode dizer se os bens são complementares (quando Exz < 0), se são substitutos (quando Exz > 0) ou se são de consumo independente ( quando Exz = 0). Sendo assim, as opções (c) e (d) já estão, de início, descartadas. Quanto às opções (a) e (b), a correta será a alternativa (a) porque o coeficiente da elasticidade-cruzada do enunciado é menor do que zero, mostrando que quando o preço de um bem varia, a quantidade demandada do outro bem varia em sentido contrário.

22 Quanto à elasticidade preço da oferta é correto afirmar que: a) é sempre igual a 1 b) é constante em toda a extensão da curva, quando é igual a 1 c) é igual a 1 apenas no ponto médio do segmento d) é sempre maior do que 1

A resposta correta é a letra b. A elasticidade-preço da curva de oferta linear é um pouco diferente da curva de demanda linear. Nesta, temos, ao longo da mesma curva, valores

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da Epd que vão do zero ao infinito, passando pelo valor 1 no ponto médio da curva. A elasticidade-preço da oferta (Epo) será, ao longo da mesma curva, elástica, unitária ou inelástica conforme a curva de oferta cruzar, respectivamente, o eixo dos preços, a origem dos eixos e o eixo das quantidades. Assim:

qx

23 Serviços médicos caracterizam um mercado em: a) concorrência perfeita b) concorrência monopolística c) monopólio d) oligopólio

A resposta correta é a letra b. A concorrência monopolística é uma estrutura que mescla o grande número de vendedores – típico da concorrência perfeita – com a diferenciação do produto – típica do monopólio.

px

Epo = 1

Epo > 1

Epo < 1

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Como existem muitos médicos, é certo que eles compõem um mercado concorrencial. E, como seus serviços são diferenciados (pelo menos é assim que os pacientes entendem!), os serviços médicos são exemplos dessa estrutura de mercado.

PARTE II O LADO REAL DA ECONOMIA – MACROECONOMIA

24 Suponha uma propensão marginal a consumir de 0,85. Isto significa que a cada $100 adicionais de renda disponível as pessoas irão consumir: e) $75 f) $100 g) $85 h) $95

A resposta correta é a letra c. A Propensão Marginal a Consumir indica o quanto de cada $1,00 de renda disponível adicional as famílias estão dispostas a consumir. Neste exercício, se para cada $1,00 de renda disponível adicional as famílias estão dispostas a consumir $0,85, então para $100, elas estarão dispostas a consumir$85.

25 Suponha uma propensão marginal a consumir de 0,75. Isto significa que a cada $100 adicionais de renda disponível as pessoas irão poupar: a) 75 b) 65 c) 25

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d) 45 A resposta correta é a letra c. As pessoas irão poupar o tanto de renda disponível que sobrar depois de consumirem. Assim, se para cada $100 elas vão consumir 75 (já que a PMgC = 0,75), para esses mesmos $100 elas vão poupar $25.

26 Uma redução dos gastos do governo significa: a) um aumento da demanda agregada e, consequentemente, uma queda no Produto Nacional de equilíbrio b) um aumento da demanda agregada e, consequentemente, um aumento no Produto Nacional de equilíbrio c) uma redução da demanda agregada e, consequentemente, uma queda no Produto Nacional de equilíbrio d) uma redução da demanda agregada e, consequentemente, um alta no Produto Nacional de equilíbrio

A resposta correta é a letra c. A demanda agregada numa economia aberta com quatro agentes é DA = C + I + G +X – M. Uma redução em G diminuirá a demanda agregada. Além disso, como em equilíbrio Renda = Produto = Demanda, uma diminuição na demanda agregada diminuirá o Produto Nacional de equilíbrio.

27 Segundo a teoria keynesiana quem determina o nível de produto de equilíbrio é: a) a demanda agregada b) a oferta de mão de obra c) a renda disponível d) a capacidade produtiva da economia

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A resposta correta é a letra a. De acordo com a teoria clássica, mais especificamente, com a Lei de Say, “a produção cria a sua própria demanda”. Com a publicação de sua Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, Keynes derruba a Lei de Say afirmando que é a demanda que determina o nível de produção e não o contrário.

28 A magnitude do multiplicador dos gastos do governo é determinada pela: a) oferta de moeda b) propensão marginal a consumir c) propensão marginal a poupar d) b e c estão corretas

A resposta correta é a letra d. Considerando os tributos integralmente autônomos em relação à renda, o multiplicador dos gastos do governo será dado pela fórmula: ΔY/ΔG = 1/1 – c, sendo c a propensão marginal a consumir e 1- c a propensão marginal a poupar. Logo tanto faz dizer que a magnitude do multiplicador dos gastos do governo é determinada por um ou por outro.

29 Uma diminuição dos impostos irá acarretar: a) aumento da renda disponível e consequentemente expansão da demanda agregada b) queda do consumo e consequentemente expansão da demanda agregada c) aumento do consumo sem afetar i nível de demanda agregada d) diminuição da renda disponível e expansão da demanda agregada

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A resposta correta é a letra a. Os impostos (T) fazem parte da fórmula da renda disponível (Yd) da seguinte maneira: Yd = Y – T. Então todas as vezes que os impostos diminuem a renda disponível aumenta. A renda disponível (Yd) faz parte da função consumo da seguinte maneira: C = C0 + cYd. Então, todas as vezes que a renda disponível aumenta, o consumo aumenta. O consumo, por sua vez, faz parte da demanda agregada da seguinte maneira: DA = C + I + G + X – M. Então, o aumento do consumo aumenta a demanda agregada. Em suma, uma diminuição dos impostos aumenta a renda disponível e consequentemente a demanda agregada. Para determinado país a função consumo é expressa por C = 200 + 0,75Yd. Sabendo que se trata de uma economia fechada e sem governo e que o nível de investimentos e de 1800, responda as três questões a seguir.

30 A renda de equilíbrio será de: a) 7500 b) 8000 c) 8500 d) é impossível calcular pois não foi dado o valor da renda disponível

A resposta correta é a letra b. No equilíbrio, Y = DA Ou seja: Y = C0 + cY + I0 Y – cY = C0 + I0

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Y = c1

1−

(C0 + I0)

No caso, Y = (1/1 – 0,75). (200 + 1800) = 4 x 2000 = 8000 Vale lembrar que em uma economia com dois agentes, como esta, a renda disponível é igual a renda (Yd = Y).

31 O valor do multiplicador dos gastos autônomos será: a) 5 b) 3,5 c) 4 d) 4,5

A resposta correta é a letra c. A fórmula do multiplicador é obtida a partir da fórmula de equilíbrio, ou seja,

Y = c1

1−

(C0 + I0)

Fazendo a derivada primeira da renda Y em relação aos gastos autônomos C0 e I0, teremos:

ΔY = c1

1−

.Δ( C0 + I0)

O multiplicador será 1/1-c = 1/1-0,75 = 4

32 Caso o consumo autônomo diminua para 100: a) a renda de equilíbrio não irá se alterar b) a renda de equilíbrio aumentará em 400

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c) a renda de equilíbrio diminuirá em $100 d) a renda de equilíbrio diminuirá em $400

A resposta correta é a letra d. Pela fórmula do multiplicador, temos:

ΔY = c1

1−

.Δ(C0 + I0)

Como só o consumo está variando, então:

ΔY = c1

1−

. ΔC0

ΔY = (1/1-0,75).(C1-C0)

ΔY = (1/1-0,75).(100-200)

ΔY = 4 x -100 = - 400

33 Sabendo que a função poupança de uma economia fechada e sem governo é expressa por S = -150 + 0,25Y, e que os investimentos são dados pela função I = 500 + 0,15Y, qual será a renda de equilíbrio? a) 650 b) 4500 c) 6500 d) 8500

A resposta correta é a letra c. Se S = -150 + 0,25Y, então C = 150 + 0,75Y.

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Numa economia fechada e com dois agentes, DA = C + I, e no equilíbrio Y = DA. Então Y = C + I No caso, Y = 150 + 0,75Y + 500 + 0,15Y Y – 0,75Y – 0,15Y = 650 (1 – 0,9)Y = 650 Y =650/0,1 = 6500

34 Suponha uma economia fechada e com governo onde a função poupança é expressa por S = -10 + 0,10Yd, e os investimentos são autônomos e iguais a 800. Sabendo que o governo mantém seu orçamento equilibrado, com tributos na ordem de 10, a renda de equilíbrio será: a) 8210 b) 8011 c) 7980 d) 8110

A resposta correta é a letra d. As funções desta economia são: C = 10 + 0,9(Y – 10) I = 800 T = G = 10, porque o governo mantém seu orçamento equilibrado, isto é, as receitas iguais às despesas. A renda de equilíbrio será Y = DA = C + I + G, ou: Y = 10 + 0,9Y – 9 + 800 + 10 0,1Y = 811 Y = 811/0,1 = 8110

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35 Para uma economia fechada são conhecidos os seguintes dados: C = 35 + 0,6Yd; I = 230; G = 180; T = 120 e R = 20. onde C é o consumo; Yd é a renda disponível; I é o investimento; G é o gasto do governo; T são os tributos e R as transferências do governo para as famílias. Com base nestas informações, encontre a renda de equilíbrio. a) 1025 b) 962,5 c) 626,5 d) 926,5

A resposta correta é a letra b. Quando afirmamos que a renda disponível é Yd = Y – T é porque, na verdade, estamos considerando os tributos líquidos das transferências do governo para as famílias. Se quisermos separá-los, a fórmula da renda disponível passa a ser Yd = Y – T + R, onde R são transferências do tipo seguro desemprego ou auxílio natalidade. Sabendo disso e procedendo como das outras vezes, temos que, no equilíbrio Y = DA = C + I + G. Neste caso, Y = 35 + 0,6 (Y – 120 + 20) + 230 + 180 Y – 0,6Y = 445 – 72 + 12 Y = 1/0,4 x 385 = 962,5

36 O multiplicador dos gastos autônomos para a economia descrita acima será: a) 5 b) 1,5 c) 2,5 d) 3

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A resposta correta é a letra c. Como os tributos são autônomos, o multiplicador é igual a 1/1-c. No caso, 1/1-0,6 = 2,5.

37 Numa economia fechada com três agentes ocorre equilíbrio entre vazamentos e injeções quando: a) S + T = I + G b) S + I = T + G c) S – I = T – G d) S – T = I - G

A resposta correta é a letra a. Numa economia com três agentes, diz-se que a poupança (S) e os tributos (T) são vazamentos ao fluxo renda/consumo, e que os investimentos (I) e os gastos governamentais (G) são injeções nesse fluxo. Haverá equilíbrio da economia quando os vazamentos (S + T) forem compensados pelas injeções (I + G), isto é, quando S + T = I + G.

38 Num modelo de economia aberta, os gastos do governo, os investimentos e as exportações são inteiramente autônomas em relação à renda. O consumo é em parte induzido pela renda, assim como a tributação e as importações. Sabendo que c é a propensão marginal a consumir, t é a alíquota do imposto, m é a propensão marginal a importar, e supondo que não haja transferências, a expressão do multiplicador dos gastos autônomos será: a) 1/1 – c(1-t) + m b) 1/1 – c – t + m c) 1/1 – c(1-t) – m d) 1/1-c – t + m

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A resposta correta é a letra a. A expressão do multiplicador dos gastos autônomos vem da derivada primeira da renda em relação aos gastos autônomos (ou demanda agregada autônoma). Então, considerando que as funções dessa economia são: C = C0 + cYd; T = T0 + tY; I = I0; G = G0; X = X0 e M = M0 + mY, a fórmula da renda de equilíbrio será: Y = C + I + G + X - M Y = C0 + cYd + I0 + G0 + X0 – (M0 + mY) Y = C0 + c(Y – T) + I0 + G0 + X0 – (M0+ mY) Y = C0 + c(Y – T0 – tY) + I0 + G0 + X0 - (M0+ mY) Y – cY + ctY + mY = C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0 (1 – c + ct + m)Y = C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0

Y = m)t1(c1

1+−−

(C0 – cT0+ I0 + G0 + X0 - M0) ou

Y = m)t1(c1

1+−−

DA0

Fazendo a derivada primeira, encontramos: ΔY/ΔDA0 = 1/1-c(1-t)+m

39 Suponha uma economia em que C = 350 + 0,75Yd; T = 100 + 0,1Y; G = 100; I = 480; X = 200; M = 180 + 0,175Y. A renda de equilíbrio será igual a: a) 1570 b) 1750 c) 1705 d) 1850

A resposta correta é a letra b.

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Pelo exercício anterior vimos que a fórmula da renda de equilíbrio para uma economia com o consumo, os tributos e as importações parcialmente dependentes da renda é igual a:

Y = m)t1(c1

1+−−

(C0 – cT0 + I0 + G0 + X0 - M0)

Substituindo os valores, temos:

Y = 175,0)1,01(75,01

1+−−

.(350 – 0,75.100 + 480 + 100 + 200 – 180)

Y = 175,09,0x75,01

1+−

.875

Y = 2x875 = 1750

40 O nível do consumo quando a economia estiver em equilíbrio será: a) 1456,25 b) 1465,75 c) 1556,25 d) 1675,75

A resposta correta é a letra a. C = C0 + c(Y – T0 – tY) A renda de equilíbrio é Y = 1750. Então, C = 350 + 0,75(1750 – 100 – 0,1x1750) C = 350 + 0,75(1475) = 350 + 1106,25 = 1456,25

41 Constituem vazamentos numa economia com quatro agentes:

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a) investimentos, gastos do governo e exportações b) poupança, tributos e importações c) investimentos, gastos do governo e importações d) poupança, tributos e exportações

A resposta correta é a letra b. Vazamentos são todos os recursos que deixam de fluir das famílias para as empresas. Numa economia com quatro agentes, esses recursos são: a poupança (S), os tributos (T) e as importações (M).

42 Constituem injeções numa economia com quatro agentes: a) investimentos, gastos do governo e exportações b) poupança, tributos e importações c) investimentos, gastos do governo e importações d) poupança, tributos e exportações

A resposta correta é a letra a. São injeções todos os recursos que não provêm das famílias, mas que se destinam às empresas. Numa economia aberta esses recursos são: os investimentos (I), os gastos do governo (G) e as exportações (X).

43 Para determinado país, a Renda Nacional somou 16.000 em determinado período de tempo. Sabendo-se que a depreciação foi de 2000 e que a Renda Líquida Enviada ao Exterior foi da ordem de 2.850, responda esta e as duas questões a seguir. A Renda Interna Bruta a custo de fatores somou: a) 15.150 b) 20.850 c) 16.850 d) 22.850

A resposta correta é a letra b.

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Por convenção, Renda = Produto = Despesa. Então, RIBcf = PIBcf. Temos o valor da Renda Nacional (RN) que é igual ao PNLcf. No caso, 16.000. Para sair de PNLcf e chegar a PNBcf devemos acrescentar a depreciação. Logo, PNBcf = PNLcf + depreciação. Ou, no caso, PNBcf = 16000 + 2000 = 18000 Como a relação entre PIBcf e PNBcf é: PIBcf = PNBcf + RLEEx, então: RIBcf = PIBcf = 18000 + 2850 = 20850

44 A Renda Interna Líquida a custo de fatores somou: a) 21.150 b) 17.150 c) 22.850 d) 18.850

A resposta correta é a letra d. A RILcf = RIBcf – depreciação Logo, RILcf = 20850 – 2000 = 18850

45 O Produto Interno Bruto a preço de mercado será: a) 22.850 b) 16.850 c) 19.850 d) é impossível calcular por falta de dados

A resposta correta é a letra d.

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PIBpm = PNBcf + (Ti – sub), sendo Ti os tributos indiretos e sub os subsídios Já calculamos o valor do PNBcf e vimos que ele é igual a 18000. Para calcularmos o valor do PIBpm, entretanto, precisamos dos valores dos tributos indiretos e dos subsídios, que não foram disponibilizados.

46 O PILcf não corresponde a: a) PIBcf menos depreciação b) PNLcf mais RLEEx c) PILpm menos impostos indiretos mais subsídios d) PNLcf mais depreciação

A resposta correta é a letra d. Para sairmos de um agregado Nacional e chegarmos a um agregado Interno, devemos somar a RLEEx e não a depreciação.

47 A Renda Nacional difere do Produto Nacional Líquido a custo de fatores devido ao fato a) de que parte da renda é poupada b) da economia produzir bens intermediários c) de que parte dos bens produzidos não são vendidos d) não difere, o PNLcf é igual à RN

A resposta correta é a letra d. Não há diferença entre o Produto Nacional Líquido a custo de fatores e a Renda Nacional de uma economia.

48 O Produto Interno Bruto a preços de mercado equivale a : a) PIBcf + RLEEx b) PILcf + impostos indiretos + depreciação - subsídios

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c) PILpm + amortizações de empréstimos externos d) PNLpm + dívida externa bruta

A resposta correta é a letra b. A alternativa (a) está incorreta porque para sair de um agregado a custo de fatores e chegar a um agregado a preço de mercado, deve-se somar a parcela (tributos indiretos – subsídios), e não somar a RLEEx. As letras (c) e (d) não procedem. A letra (b) é a correta porque para sair de um agregado bruto e chegar a um agregado líquido, deve-se somar a depreciação, e para sair de um agregado a custo de fatores e chegar a um agregado a preço de mercado, deve-se somar a parcela (tributos indiretos – subsídios).

49 Suponha uma economia onde não exista o agente governo nem transações com o exterior, então: a) PIBpm = PIBcf = RNB b) PIBpm > PIBcf > RNB c) PIBpm < PIBcf < RNB d) PIBpm < PIBcf > RNB

A resposta correta é a letra a. Para passar de um agregado a custo de fatores e chegar a um agregado a preço de mercado, devemos somar a parcela (tributos indiretos – subsídios), sendo que os tributos são recolhidos pelo governo e os subsídios são repassados pelo mesmo agente. Como no enunciado do exercício foi suposto que não havia governo, então, não há nem recolhimento de impostos e nem há transferência de subsídios. Em consequência, todos os agregados a custos de fatores e a preços de mercado serão iguais.

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Para passar de um agregado nacional para um agregado bruto, deve-se somar a RLEEx. Como foi suposto que esta economia não transaciona com o exterior, então, todos os agregados brutos e nacionais serão iguais. Por fim, dado que Produto = Renda = Despesa, então, para uma economia com dois agentes, como é o caso, PIBpm = PIBcf = RNB.

PARTE III O LADO MONETÁRIO DA ECONOMIA

50 Assinale a alternativa correta. a) em todas as épocas, todos os grupamentos humanos se utilizaram de alguma forma de moeda, mesmo em sua forma mais primitiva b) qualquer bem podia ser usado como moeda na época em que as sociedades usavam moeda-mercadoria c) as cédulas foram a primeira forma de moeda d) a utilização de algum tipo de moeda se deu a partir da divisão do trabalho

A resposta correta é a letra d. A letra (a) está incorreta, porque no começo de tudo as trocas eram feitas diretamente, sem o auxílio da moeda; era a época do escambo. A letra (b) está incorreta porque a mercadoria eleita com moeda deveria ser rara o bastante, para ter algum valor, e ser útil o suficiente, para que fosse aceita por todos. A letra (c) está incorreta porque a primeira forma de moeda foi a moeda-mercadoria. A letra (d) é a resposta correta, porque foi a partir da divisão do trabalho e do consequente aumento na produção que veio à tona a necessidade de se encontrar um instrumento facilitador das trocas.

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51 Quanto à moeda fiduciária é correto afirmar: a) tem 100% de lastro b) desde seu aparecimento foi emitida exclusivamente pelo governo c) é também chamada de papel-moeda d) no seu primeiro estágio possuía 100% de lastro, mas não se garantia sua conversibilidade

A resposta correta é a letra c. Com o crescimento dos fluxos comerciais na Europa, especialmente após o século XIV, em vez de partirem carregando moeda-metálica, os comerciantes passaram a levar apenas um pedaço de papel denominado certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como casas de custódia, onde os comerciantes depositavam as suas moedas-metálicas. Esses certificados de depósito receberam o nome de moeda-papel, que era 100% lastreada e com garantia de plena conversibilidade, podendo ser resgatada, a qualquer momento, pelo seu proprietário. Com o passar do tempo, os donos das casas de custódia, que recebiam o metal e forneciam os certificados de depósito (ou moeda-papel), começaram a perceber que os detentores desses certificados não faziam a reconversão todos ao mesmo tempo. Além disso, enquanto alguns faziam a troca de moeda-papel pelo metal, outros faziam novos depósitos em ouro e prata, o que permitia novas emissões de certificados. Gradativamente, então, as casas de custódia passaram a emitir certificados sem lastro em metal, dando origem à moeda fiduciária ou papel-moeda. Logo, quem tem 100% de lastro (letra a) é a moeda-papel. A alternativa (b) está incorreta porque as emissões de papel-moeda pelo governo só aconteceram depois que a emissão desenfreada pelas casas de custódia quase levou o sistema financeiro da época à ruína. E, a alternativa (c) não

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procede, já que o lastro integral é garantia de plena conversibilidade, seja qual for o estágio.

52 Chama-se moeda-papel: a) à moeda representativa, emitida por casas de custódia, com 100% de lastro e plena conversibilidade b) à moeda fiduciária, emitida por casas de custódia com plena conversibilidade c) à moeda bancária d) à moeda representativa, com lastro inferior a 100% e plena conversibilidade

A resposta correta é a letra a. A moeda-papel tem origem nos certificados de depósito que representavam os metais preciosos armazenados nas casas de custódia. Logo, a moeda-papel é uma moeda representativa, 100% lastreada e com plena conversibilidade.

53 São funções da moeda: a) durabilidade e facilidade de manuseio e transporte b) instrumento de troca, medida de valor e reserva de valor c) instrumento de troca, medida de valor e homogeneidade d) durabilidade, divisibilidade e homogeneidade

A resposta correta é a letra b. Durabilidade, divisibilidade, homogeneidade e facilidade de manuseio e transporte são características que a moeda deve ter para ser capaz de exercer as funções de instrumento de troca, medida de valor e reserva de valor.

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54 A fórmula Papel Moeda em Poder do Público + depósitos a vista + títulos privados + depósitos de poupança + fundos de renda fixa corresponde ao conceito de: a) M1 b) M2 c) M3 d) M4

A resposta correta é a letra c. O M1 compreende a moeda que tem liquidez total e que não gera rendimento por si só. Por ser a forma mais rápida de pagar contas, diz-se que o M1 corresponde aos meios de pagamentos de uma economia. Para organizar o registro de todo o estoque de moeda considerando seus diferentes componentes, foram criados mais três agregados além do M1, ou seja, o M2, o M3 e o M4, definidos por: M1 = PMP + depósitos a vista M2 = M1 + depósitos em poupança + títulos emitidos por instituições depositárias M3 = M2 + fundos de renda fixa M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez Entendendo por instituições depositárias, os bancos comerciais, as caixas econômicas e os bancos múltiplos. Logo, a alternativa correta é a letra (c).

55 Dentre os instrumentos abaixo, marque aquele que não se caracteriza como instrumento de política monetária. a) fixação da taxa dos depósitos compulsórios b) operações de redesconto c) gastos do governo

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d) operações no mercado aberto A resposta correta é a letra c. O controle dos gastos do governo, assim como o controle da carga tributária, é instrumento de política fiscal e não, monetária.

56 Uma política monetária restritiva (contracionista) consolida-se quando o governo: a) reduz a taxa de compulsório dos bancos comerciais b) reduz a taxa de juros para empréstimos de redesconto c) reduz as alíquotas do imposto de renda d) vende títulos da dívida ao público

A resposta correta é a letra d. Em resumo, a política monetária será expansionista ou contracionista nos seguintes casos;

POLÍTICA MONETÁRIA

EXPANSIONISTA

POLÍTICA MONETÁRIA

CONTRACIONISTA

Diminuição dos depósitos

compulsórios

Aumento dos depósitos

compulsórios

Diminuição da taxa de redesconto Aumento da taxa de redesconto

Compra de títulos

Venda de títulos

Vale ressaltar que a medida exposta na letra (c) sequer representa uma política monetária. Alterar alíquotas de imposto é uma medida fiscal.

57 Quando o governo compra títulos da dívida pública no mercado

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ocorre: a) diminuição dos meios de pagamento em circulação b) aumento da liquidez c) aumento da dívida pública d) aumento da taxa de juros

A resposta correta é a letra b. Quando o governo resgata (compra) os títulos que estão em poder do público, ele cria meios de pagamento e aumenta a liquidez da economia. Sendo conhecidos os seguintes agregados monetários: Papel Moeda Emitido 9250 Caixa-forte do Banco Central 150 Caixa dos bancos comerciais 930 Depósitos a vista do público nos bancos comerciais 16320 Depósitos dos bancos comerciais junto ao BC 3100

58 O Papel Moeda em Circulação será: a) 9250 b) 9100 c) 8170 d) 8950

A resposta correta é a letra b. Por definição, Papel-Moeda Emitido (PME) 9250 (–) caixa das Autoridades Monetárias 150 (=) Papel-Moeda em Circulação (PMC) 9100

59 O Papel Moeda em Poder do Público somou:

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a) 8270 b) 8710 c) 8170 d) 8370

A resposta correta é a letra c. Por definição, (=) Papel-Moeda em Circulação (PMC) 9100 (–) caixa dos bancos comerciais 930 (=) Papel-Moeda em Poder do Público (PMP) 8170

60 A base monetária é: a) 12200 b) 14220 c) 12220 d) 12420

A resposta correta é a letra a. Por definição, Base Monetária = PMC + Reservas Bancárias As reservas bancárias correspondem aos depósitos dos bancos comerciais junto ao BC. Então, Base Monetária = 9100 + 3100 = 12200

61 Os meios de pagamentos somaram: a) 23490 b) 24490 c) 24940 d) 23940

A resposta correta é a letra b.

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Os meios de pagamentos correspondem ao M1. M1 = PMP + depósitos a vista nos bancos comerciais M1 = 8170 + 16320 = 24490

62 Segundo a teoria keynesiana, a demanda agregada por moeda: a) cresce com a renda b) decresce com a taxa de juros c) cresce com a taxa de juros d) a e b estão corretas

A resposta correta é a letra d. A demanda total por moeda (L) é igual a demanda por moeda para transação e precaução (LT + P) mais a demanda por moeda para especulação (LE). Sendo LT + P uma função crescente da renda e LE, uma função decrescente da taxa de juros. Logo as alternativas (a) e (b) estão corretas.

63 Um aumento do encaixe compulsório dos bancos comerciais determinado pelo BC tem como consequência: a) uma diminuição da oferta monetária e uma diminuição dos juros b) um aumento da oferta monetária e uma queda dos juros c) um aumento da oferta monetária e um aumento dos juros d) uma diminuição da oferta monetária e um aumento dos juros

A resposta correta é a letra d. Os depósitos compulsórios são utilizados pelo governo como instrumento de política monetária. Um aumento dos depósitos compulsórios reduz os recursos disponíveis que os bancos comerciais têm para emprestar, reduzindo a oferta de moeda. Em consequência dessa restrição, os bancos

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comerciais se veem obrigados a aumentar a taxa de juros dos empréstimos. Então, um aumento da taxa de depósito compulsório diminui a oferta monetária e aumenta os juros.

64 Quando o Banco Central vende títulos no mercado aberto ocorre: a) uma diminuição da oferta monetária e uma diminuição dos juros b) um aumento da oferta monetária e uma queda dos juros c) um aumento da oferta monetária e um aumento dos juros d) uma diminuição da oferta monetária e um aumento dos juros

A resposta correta é a letra d. Para vender títulos no mercado aberto, o Banco Central aumenta a taxa de juros tornando a venda atrativa. Com isso, ele retém meios de pagamentos e enxuga a economia. Em suma, a venda de títulos públicos diminui a oferta monetária e aumenta os juros.

65 Há criação de meios de pagamentos quando: a) uma Letra do Tesouro Nacional (LTN) é negociada entre pessoas do público b) o Banco Central compra uma LTN do público c) um banco aumenta seu capital vendendo ações ao público d) um banco compra um título federal de outro banco

A resposta correta é a letra b. Há criação de meios de pagamento quando uma quase-moeda ou um ativo não monetário torna-se uma moeda pelo conceito M1. A opção (a) está incorreta, porque a negociação de um título entre o público não cria M1; ocorre apenas a transferência de M4 das mãos de uma pessoa para

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outra. A venda de ações ao público (opção c) destrói M1, porque o público troca moeda pelas ações. A compra de títulos entre bancos (opção d) não aumenta a quantidade de moeda em poder do público (M1); logo, não há criação de moeda. Já quando um banco compra um título de renda fixa (M4) do público ele paga em moeda, aumentando a quantidade de M1. Desta forma (alternativa b) há criação de moeda.

PARTE IV O DESEMPREGO E A INFLAÇÃO 66 Podemos considerar que houve inflação toda vez que: a) o preço de pelo menos um produto aumentou b) o preço das tarifas públicas aumentaram mais de 2% c) o preço de determinado bem se elevou por mais de duas semanas seguidas d) ocorrer uma alta de preços generalizada, persistente e apreciável

A resposta correta é a letra d. O aumento, mesmo que persistente, do preço de um só produto significa que seu mercado está desequilibrado e não que esteja havendo inflação. O processo inflacionário só é sentido quando se observa um aumento contínuo e generalizado dos preços de uma cesta (um conjunto) de bens e serviços.

67 Uma inflação tipicamente de demanda é ocasionada por: a) escassez de moeda no mercado b) excesso de moeda no mercado c) excesso de oferta de bens e serviços sobre a demanda d) superávit nas transações correntes

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A resposta correta é a letra b. A inflação de demanda é ocasionada pelo excesso de demanda em relação à oferta de bens e serviços, proveniente de um excesso de moeda no mercado. Tanto assim que este tipo de inflação também pode ser entendido como “dinheiro demais a procura de poucos bens”.

68 Qual dessas políticas anti-inflacionárias é tipicamente monetarista? a) redução dos meios de pagamentos b) elevação da taxa de juros c) restrições do crédito ao consumidor d) todas as respostas estão corretas

A resposta correta é a letra d. Os monetaristas julgam que o meio mais eficiente de combate da inflação é uma política monetária contracionista, que compreende a redução dos meios de pagamentos, a elevação dos juros (que diminuem o consumo a crédito), as restrições diretas do crédito ao consumidor, dentre outras.

69 A inflação de oferta ocorrerá quando: a) a oferta de bens e serviços for insuficiente para atender à demanda b) a oferta de bens e serviços exceder a demanda c) os trabalhadores conseguirem remunerações acima da produtividade d) toda vez que há aumento de salários

A resposta correta é a letra c. A inflação de oferta, que é outra nome para a inflação de custos, ocorre quando o custo de insumos importantes aumenta e é repassado aos preços

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dos produtos. Esse aumento nos preços desencadeia uma espiral inflacionária, onde os trabalhadores reivindicam recomposição salarial, as empresas novamente repassam seus custos aos preços, a inflação aumenta, os trabalhadores reivindicam novos aumentos de salários e assim por diante. O aumento nos salários só não desencadeia essa espiral se ele for menor do que o aumento na produtividade do trabalho, isto é, se o aumento na produção por homem trabalhando for mais que proporcional ao aumento no custo de mantê-lo.

70 Uma inflação de custos deslocará: a) a curva de demanda agregada para a esquerda b) a curva de oferta agregada para a direita c) a curva de demanda agregada para a direita d) a curva de oferta agregada para a esquerda

A resposta correta é a letra d. O aumento dos preços dos fatores de produção aumenta os custos das empresas fazendo com que estas produzam menos para um mesmo nível de preço do seu produto. Isto pode ser sentido com o deslocamento da curva de oferta agregada para a esquerda.

71 A inflação de oferta, além do aumento de preços, provocará: a) aumento do produto b) redução do produto c) não se pode afirmar, a priori, se haverá redução ou aumento do produto d) nenhuma alteração no produto, pois estamos no pleno emprego

A resposta correta é a letra b.

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A inflação de custos desloca a curva de oferta agregada para a esquerda aumentando o Nível Geral de Preços (NGP) e reduzindo o produto da economia (Y), como mostra o gráfico a seguir.

Y02 Y0

1 Y

72 Uma economia que opera abaixo do pleno emprego e que enfrenta uma inflação de demanda terá: a) aumento no produto b) redução do produto c) o produto ficará inalterado d) redução das importações

A resposta correta é a letra a. Uma economia que opera abaixo do pleno emprego e que enfrenta uma inflação de demanda verá sua curva de demanda agregada deslocando-se para a direita, provocando um aumento no Nível Geral de Preços (NGP) e

NGP2

NGP1

NGP

OA1

OA2

DA

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um aumento no produto (Y), como mostra o gráfico a seguir. Este aumento no produto deve-se ao fato de que parte dos recursos produtivos estão ociosos e que, por isso, podem ser absorvidos ainda no curto prazo.

Y0

1 Y02 Y

73 Segundo a teoria inercialista, o aumento de preços é dado: a) pelo déficit do governo b) pelo processo de indexação c) pelo aumento da oferta monetária d) pelo repasse da inflação passada adicionada às expectativas futuras do comportamento dos preços, via processo de indexação

A resposta correta é a letra d. Segundo a teoria inercialista, a inflação não está ligada nem a causas fiscais (letra a), nem a causas monetárias (letra c). A inflação inercial teria origem nas expectativas dos agentes econômicos de que, no futuro, nada mudaria em relação ao comportamento apresentado pelos preços no passado.

NGP2NGP1

NGP

OA

DA1 DA2

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74 Sobre a inflação inercial é correto afirmar: a) o governo pode eliminá-la, pois os indexadores são necessariamente institucionais b) a indexação é sua causa principal c) a indexação não se caracteriza como causa, mas realimenta o processo inflacionário d) não inclui componentes expectacionais

A inflação inercial é difícil de ser combatida justamente porque inclui componentes expectacionais que são, por natureza, de cunho psicológico. O que o governo pode fazer para tentar combatê-la é acabar com a indexação, que, embora não seja sua causa, a perpetua.

75 A tentativa do governo Collor (anos 90) em proibir a divulgação dos índices de inflação representou uma preocupação do governo quanto ao componente: a) de demanda da inflação b) inercial da inflação c) de custos da inflação d) de oferta da inflação

A resposta correta é a letra b. O maior problema da inflação inercial é a expectativa que ela gera nos agentes econômicos. Evitando divulgar os índices de inflação, o governo Collor supôs que ia atenuar a ansiedade dos agentes.

76 Na hipótese de que um país esteja produzindo com plena utilização dos fatores produtivos, um aumento da oferta monetária provocará:

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a) aumento da renda b) diminuição da renda c) aumento do Nível Geral de Preços d) a e c estão corretas

A resposta correta é a letra c. Em termos gerais, o aumento da oferta monetária desencadeia uma inflação de demanda, que desloca a curva de demanda agregada para direita, aumentando o Nível Geral de Preços e o produto (ou renda) da economia. Caso a economia esteja operando a pleno emprego, só o NGP sobe, permanecendo inalterado o produto (que é igual à renda).

77 Dado o gráfico abaixo,

Y0 Y

a) um aumento nos gastos do governo deslocaria para cima a curva

NGP0

NGP

OA

DA

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de oferta agregada e provocaria inflação de demanda b) um aumento dos gastos do governo deslocaria para cima a curva de oferta agregada e provocaria inflação de custos c) um aumento nos gastos do governo, tudo mais constante, provocaria inflação de demanda d) um aumento nas alíquotas do imposto de renda das pessoas físicas provocaria inflação de demanda

A resposta correta é a letra c. As alternativas (a) e (b) estão incorretas porque um aumento nos gastos do governo desloca para cima a curva de demanda e não a curva de oferta. A alternativa (d) está incorreta porque um aumento nas alíquotas do imposto reduz a renda disponível, que reduz o consumo, podendo, com isso, atenuar e não provocar inflação de demanda. A alternativa (c) está correta porque, operando no limite entre a capacidade ociosa e o pleno emprego, como mostra o gráfico do exercício, um aumento nos gastos do governo deslocará para cima a curva de demanda agregada. Não havendo mais recursos ociosos para serem absorvidos, o resultado será um aumento no Nível Geral de Preços (proveniente do componente de demanda da inflação) sem que o produto se altere.

78 Sobre a classificação econômica da População Total, pode-se dizer que aquelas pessoas que buscam emprego mas não conseguem fazem parte da: a) PNIA b) PIA c) PNEA d) PEA

A resposta correta é a letra d.

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Embora as pessoas que componham a PEA ou força de trabalho de um país estejam desejosas de trabalhar, muitas vezes não conseguem arrumar emprego. É o caso dos chamados desempregados ou População Desocupada de um país.

79 O desemprego no mercado de trabalho ocorre quando: a) há escassez de mão de obra b) há escassez de demanda por mão de obra c) há excesso de oferta de mão de obra d) b e c estão corretas

A resposta correta é a letra d. Há desemprego no mercado de trabalho quando, a determinado salário W1, a quantidade ofertada de mão de obra é maior do que a quantidade demandada, quer dizer, quando há escassez de demanda ou excesso de oferta de mão de obra.

W SN

DN 0 QUANTIDADE DE TRABALHO

DESEMPREGO

W1

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PARTE V AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

80 O Balanço de Pagamentos registra: a) as transações entre residentes e não residentes de um país num determinado período de tempo b) as transações entre o governo de determinado país e o Resto do Mundo c) as transações entre as filiais das empresas estrangeiras de um país e suas matrizes d) as transações de importações e exportações de bens

A resposta correta é a letra a. O Balanço de Pagamentos é o registro das movimentações de uma economia aberta com quatro agentes. Logo, as transações entre governos (letra b) e entre empresas (letra c), bem como as transações das balança comercial (letra d) não estão erradas, apenas, incompletas.

81 O Balanço de Pagamentos está dividido em: a) três grandes grupos: transações correntes, movimento de capitais e serviço da dívida b) dois grandes grupos: transações correntes e movimento de capitais c) dois grandes grupos: transações de bens e transações meramente financeiras d) três grandes grupos: exportações, importações e financiamentos

A resposta correta é a letra b. Por definição, o Balanço de Pagamentos é composto de duas grandes contas: as Transações Correntes e o Movimento de Capitais. O Movimento de Capitais Compensatórios é apenas um artifício contábil

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usado para zerar o Balanço de Pagamentos, satisfazendo a metodologia das partidas dobradas.

82 Não fazem parte das Transações Correntes: a) exportações e importações de bens b) pagamento de juros e dividendos c) pagamento de fretes e seguros d) amortizações

A resposta correta é a letra d. As Transações Correntes são compostas pela Balança Comercial, pela Balança de Serviços e pelas Transferências Unilaterais. As exportações e as importações (letra a) compõem a Balança Comercial, logo fazem parte das Transações Correntes. Os juros e dividendos (letra b) são serviços da dívida, e os fretes e seguros (letra c) são exemplos de outros serviços que compõem a Balança de Serviços. Consequentemente, também fazem parte das Transações Correntes. As amortizações, que correspondem ao pagamento do Principal da dívida externa, são computadas no Movimento de Capitais e, por isso, não fazem parte das Transações Correntes.

83 A remuneração de capitais sob a forma de juros é registrada no Balanço de Pagamentos: a) no Movimento de Capitais Autônomos b) na Balança de Serviços c) no Movimento de Capitais Compensatórios d) na Balança Comercial

A resposta correta é a letra b. A remuneração pelos serviços dos fatores de produção, ou seja, a remessa ou recebimento de juros e lucros (pelo uso do fator capital) e a remessa ou

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recebimento de salários (relativos ao fator trabalho), é, por definição, registrada na Balança de Serviços.

84 Financiamentos e amortizações são exemplos de: a) capitais compensatórios b) serviços governamentais c) capitais autônomos d) serviços diversos

A resposta correta é a letra c. Os financiamentos e amortizações, bem como os empréstimos e os investimentos são todos exemplos de capitais autônomos.

85 Na Balança Comercial são computados: a) somente as exportações de bens e serviços b) somente as importações de bens e serviços c) somente as exportações e importações de bens, incluindo os gastos com fretes e seguros d) somente as exportações e importações de bens, excluindo os gastos com fretes e seguros

A resposta correta é a letra d. As transações de mercadorias com o Resto do Mundo podem ser de três formas: FOB, C&F e CIF. A condição FOB (Free On Board) significa que, uma vez a bordo do veículo que transportará a mercadoria para o país de destino, o vendedor está isento das despesas com seguro e frete. A condição C&F (Cost & Freight) significa que, ao preço acordado, estão incluídos o valor da mercadoria e o valor do frete. A condição CIF (Cost, Insurance & Freight) indica que, ao preço acordado, estão incluídos o valor da mercadoria, o valor do frete e o valor do seguro. Como o frete e o

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seguro são serviços, seus valores são computados na Balança de Serviços, registrando-se, na Balança Comercial, apenas o custo da mercadoria, quer dizer, seu valor FOB.

86 Quanto aos lançamentos dos juros e das amortizações no Balanço de Pagamentos é correto afirmar: a) os juros são lançados na Balança de Serviços e as amortizações em Capitais Autônomos b) os juros são lançados em Capitais Autônomos e as amortizações em Capitais Compensatórios c) os juros e as amortizações são lançados em Capitais Compensatórios d) os juros e as amortizações são lançados em Capitais Autônomos

A resposta correta é a letra a. Os juros são serviços da dívida e, como tais, devem ser lançados na Balança de Serviços e não no Movimento de Capitais Autônomos. As amortizações, por sua vez, são voluntárias (autônomas) devendo, por isso, ser lançadas no Movimento de Capitais Autônomos e não no Movimento de Capitais Compensatórios.

87 Um saldo deficitário no Balanço de Pagamentos em Transações Correntes significa que: a) o país poupa mais do que investe internamente b) há exportações líquidas de capitais c) o país recebe recursos do exterior para compensar o seu déficit corrente d) as importações excederam as exportações

A resposta correta é a letra c.

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Um saldo deficitário em Transações Correntes significa que o país de que se trata comprou mais do que vendeu ao exterior. O Resto do Mundo fica com a poupança positiva e pode emprestar ao país que apresentou déficit em Transações Correntes. Logo, a alternativa (c) é a correta. A opção (d) está certa, mas incompleta. As letras (a) e (b) não procedem.

88 O Movimento de Capitais Compensatórios será: a) igual ao saldo total do Balanço de Pagamentos com sinal inverso b) igual ao Movimento de Capitais Autônomos com sinal inverso c) igual ao saldo das entradas e saídas de capitais voluntários d) igual ao item Erros e Omissões com sinal inverso

A resposta correta é a letra a. O Movimento de Capitais Compensatórios é um artifício contábil para zerar o Balanço de Pagamentos. Logo, ele é igual ao saldo do Balanço de Pagamentos, só que com o sinal trocado. Considere os dados abaixo, supondo nulos Erros e Omissões. Responda as seis questões seguintes.

TRANSAÇÕES PAGAMENTOS RECEBIMENTOS

Exportações (FOB) - 800

Transportes 230 185

Seguros 105 54

Importação (FOB) 540 -

Lucros e dividendos 630 48

Donativos 15 13

Juros 743 92

Amortizações 120 30

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Financiamentos 92 130

Investimentos diretos - 78

Serviços governamentais 132 124

Serviços diversos 151 38

Viagens internacionais 42 31

89 O saldo da Balança Comercial foi: a) 260 deficitário b) 260 superavitário c) 230 superavitário d) 220 deficitário

A resposta correta é a letra b. O saldo da Balança Comercial é igual a exportações (FOB) menos importações (FOB). No caso, 800 – 540 = 260. Este saldo é superavitário porque as exportações são maiores do que as importações.

90 A Balança de Serviços registrou: a) déficit de 1461 b) superávit de 1461 c) déficit de 810 d) superávit de 810

A resposta correta é a letra a. O saldo da Balança de Serviços será dado pela soma dos recebimentos menos os pagamentos de todas os itens registrados nesta rubrica. No caso: Transportes - 45 Seguros -51 Lucros e dividendos - 582 Juros -651

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Serviços governamentais -8 Serviços diversos - 113 Viagens internacionais - 11 SALDO - 1461

91 O saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes foi: a) 1203 b) 552 c) – 1203 d) – 1440

A resposta correta é a letra c. O saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes é dado por: Saldo da Balança Comercial + saldo da Balança de Serviços + saldo das Transferências Unilaterais Lembrando que o saldo das Transferências Unilaterais corresponde à diferença entre os recebimentos e os pagamentos de donativos, então: 260 – 1461 –2 = - 1203

92 O Movimento de Capitais Autônomos registrou: a) entrada líquida de 625 b) saída líquida de 26 c) entrada líquida de 26 d) saída líquida de 625

A resposta correta é a letra c. O saldo do Movimento de Capitais Autônomos será dado pela soma dos recebimentos menos os pagamentos de todas os itens registrados nesta rubrica. No caso:

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Amortizações - 90 Financiamentos 38 Investimentos diretos 78 SALDO 26 O saldo positivo significa que a entrada de capitais autônomos foi maior do que a sua saída.

93 O saldo total do Balanço de Pagamentos contabilizou: a) superávit de 1177 b) déficit de 1177 c) déficit de 1237 d) déficit de 1157

A resposta correta é a letra b. O saldo total do Balanço de Pagamentos corresponde à soma do saldo em Transações Correntes, do saldo do Movimento de Capitais Autônomo e da rubrica erros e omissões. Como esta última é igual a zero, o saldo total do BP fica sendo – 1203 + 26 = - 1177. O saldo negativo significa que a saída de divisas foi maior do que a entrada.

94 O Passivo Externo Líquido aumentou em: a) 1303 b) 1461 c) 1177 d) 1203

A resposta correta é a letra d. A poupança externa positiva é chamada de Passivo Externo Líquido, mostrando que, havendo poupança e, consequentemente, empréstimo

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estrangeiros, aumentam as obrigações financeiras do país analisado com o Resto do Mundo. Logo, o aumento no Passivo Externo Líquido vai ser do tamanho da poupança externa (positiva), ou seja, do tamanho do saldo (negativo) em Transações Correntes.

95 Numa determinada economia o valor das exportações (FOB) é de 18 bilhões e o valor das importações (CIF) é de 19 bilhões, sendo que os fretes e seguros sobre as importações correspondem a, respectivamente, 2 bilhões e 1 bilhão. O saldo da Balança Comercial será: a) superavitário em 2 bilhões b) deficitário em 1 bilhão c) deficitário em 4 bilhões d) nem deficitário, nem superavitário

A resposta correta é a letra a. O valor FOB só inclui o custo da mercadoria transacionada. O valor CIF inclui, além do custo, os gastos com seguro e frete. O saldo da Balança Comercial corresponde às exportações menos as importações em condição FOB. Logo, temos que descontar o valor do seguro e do frete para chegarmos ao valor FOB das importações. Assim: importações CIF 19 - fretes 2 - seguro 1 = importações FOB 16 O saldo da Balança Comercial será exportações FOB (18 bilhões) menos importações FOB (16 bilhões) igual a 2 bilhões superavitário.

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96 Até março de 1990 a taxa de câmbio no Brasil era: a) fixa b) flutuante c) limitadamente flexível d) mista

a resposta correta é a letra a. Até março de 1990 o regime cambial do Brasil era o fixo. De fevereiro em diante, com a implementação do Plano Collor, o governo liberou o câmbio.

97 Uma taxa de câmbio é fixa quando: a) as autoridades monetárias de um país fixam, por um período superior a três meses, a paridade entre a moeda nacional e as moedas estrangeiras b) as autoridades monetárias de um país se comprometem a comprar e vender moedas estrangeiras por um valor preestabelecido, não importando a periodicidade das alterações na taxa c) as autoridades monetárias de um país se comprometem a comprar e vender moedas estrangeiras por um valor preestabelecido, mantendo a taxa fixa pelo menos por três meses d) não varia em hipótese alguma

A resposta correta é letra b. A taxa de câmbio fixa é também chamada de ajustável, mostrando que as autoridades monetárias alteram seu valor de acordo com os interesses do governo. Logo a letra (d) está incorreta. Como não é pela periodicidade que se define o regime cambial, então as letras (a) e (c) também estão incorretas. A alternativa correta é a letra (b).

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98 Dentre as medidas abaixo, marque aquela que visa corrigir um déficit no Balanço de Pagamentos. a) restrições às importações b) valorização cambial c) diminuição das alíquotas sobre as importações d) aumento da demanda interna

A resposta correta é a letra a. Um déficit no Balanço de Pagamentos mostra que saíram mais divisas do que entraram. As restrições às importações (letra a) diminuem as entradas de divisas permitindo uma redução do saldo deficitário do Balanço. Entretanto, se for adotada uma medida de valorização cambial (letra b), serão necessárias menos unidades de moeda nacional para obter a mesma quantidade de moeda estrangeira, o que significa que as importações e as demais entradas de divisas tendem a aumentar, aumentando o déficit no BP. A diminuição das alíquotas sobre as importações (letra c) favorece a entrada de produtos importados aumentando ainda mais o déficit no Balanço de Pagamentos. E, o aumento na demanda interna (letra d) não tem efeito direto sobre o saldo do Balanço.

99 Uma desvalorização cambial provoca: a) aumento das exportações b) aumento das importações c) queda das exportações d) b e c estão corretas

A resposta correta é a letra a. Quando ocorre uma desvalorização cambial ou aumento da taxa de câmbio, as consequências são: os produtos importados ficam mais caros; os similares nacionais ficam mais caros; os insumos importados ficam

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mais caros; e os produtos exportáveis ficam mais caros. Logo, as exportações sobem e as importações descem.

100 A demanda no mercado de divisas provém de: a) exportações de mercadorias b) entrada de capitais de risco c) amortização da dívida externa do país d) financiamento de projetos públicos

A resposta correta é a letra c. A demanda no mercado de divisas provém das importações e de todas as demais saídas de divisas do país. Isto porque em cada país do exterior as transações são feitas em moeda local. Assim, o importador ou o agente responsável por alguma saída de divisa do Brasil, por exemplo, deve entregar seus reais nas casas de câmbio convertendo-os em divisas. Essa conversão é feita pela cotação do dia e corresponde à demanda por divisas. No exercício proposto, a exportação de mercadorias (letra a), a entrada de capitais de risco (letra b) e o financiamento de projetos públicos (letra d) correspondem à entrada de moeda estrangeira e, por extensão, à oferta de divisas. Só a amortização da dívida externa (letra c) corresponde a uma saída e, consequentemente, a uma demanda por divisa.

101 Quanto à política de desvalorização cambial, uma das afirmativas abaixo é falsa. Identifique-a. a) em processos inflacionários sérios as minidesvalorizações em intervalos curtos ajudam a regularizar o fluxo comercial com o exterior b) uma desvalorização cambial tende a estimulara as importações e a dificultar as exportações

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c) uma desvalorização cambial eleva os encargos da dívida externa em moeda nacional d) uma desvalorização cambial implica no aumento dos preços (em moeda nacional) dos produtos importados

A resposta correta é a letra b. Todas as vezes que ocorre uma desvalorização cambial, as consequências são:

• a moeda nacional fica mais fraca; • o preço da divisa (ou taxa de câmbio) sobe; • os produtos importados ficam mais caros, desestimulando as

importações; • os similares nacionais ficam mais caros; • os insumos importados ficam mais caros; • os produtos exportáveis ficam mais caros, estimulando as

exportações; • a dívida externa e seu encargos em moeda nacional ficam

menores; e • a inflação tende a subir.

Logo as alternativas (a), (c) e (d) são verdadeiras e a alternativa (b) é a falsa, já que as desvalorizações cambiais desestimulam as importações e estimulam as exportações.

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