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Dezembro.2008 Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc Primeira.Pauta 73 Distribuição Gratuita Joinville.SC Dezembro de 2008 Os diferentes modos de viver na terceira idade A proporção da população idosa cresce a cada ano em Joinville. Só nos últi- mos 20 anos o aumento de pessoas acima de 60 anos foi de 151%. Entre experiências de vida e histórias para contar, a última etapa da vida é en- carada de diferentes formas. Enquanto alguns sofrem com o abandono, ou- tros buscam na convivência o conforto para enfrentar os obstáculos impostos pela chamada terceira idade. Páginas 6 e 7 Um olhar sobre a Primeirona Na final do campeonato amador de futebol de Joinville, que ocorreu no domingo (17), na Arena, nos- sos repórteres observaram as pecu- liaridades da partida entre Serrana e Grêmio Krona. Página 11 Apesar da lotação, as detentas fazem de tudo para tornar o ambiente hu- manizado no presídio. Algumas criam os filhos no local, que abriga 95 presas, mas tem capacidade de apenas 35. Página 9 Ala feminina está superlotada Comportamento Foto: Charles França Foto: Patrícia Debortoli Foto: Fabiane Borges

Edição nº 73_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

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Dezembro.2008

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc

Primeira.Pauta73Distribuição Gratuita

Joinville.SCDezembro de 2008

Os diferentes modos de viver na terceira idadeA proporção da população idosa cresce a cada ano em Joinville. Só nos últi-mos 20 anos o aumento de pessoas acima de 60 anos foi de 151%. Entre

experiências de vida e histórias para contar, a última etapa da vida é en-carada de diferentes formas. Enquanto alguns sofrem com o abandono, ou-

tros buscam na convivência o conforto para enfrentar os obstáculos impostos pela chamada terceira idade.

Páginas 6 e 7

Um olhar sobre a Primeirona

Na final do campeonato amador de futebol de Joinville, que ocorreu no domingo (17), na Arena, nos-sos repórteres observaram as pecu-liaridades da partida entre Serrana e Grêmio Krona. Página 11

Apesar da lotação, as detentas fazem de tudo para tornar o ambiente hu-manizado no presídio. Algumas criam os filhos no local, que abriga 95 presas, mas tem capacidade de apenas 35. Página 9

Ala feminina está superlotada

Comportamento

Foto: Charles FrançaFoto: Patrícia Debortoli

Foto: Fabiane Borges

Dezembro.2008

Acordei assustado no meio da noite. Desciam pelo corpo cala-frios transportados por gotas de suor. Foi uma espécie de ânsia protagonizada por eu mesmo. Desorientado e sem nenhuma excitação nervosa exterioriza-da, descansei um pouco mais. Levantei e fui ver o que estava passando na TV — mais um da-queles programas religiosos em que o pastor afirma ter feito mi-lagres e depois passa o número da conta e agência bancária. Desliguei-a. Confesso, estava quase emocionado.

Regressei à cama e me envol-vi entre travesseiros deformados e lençóis perfumados de maro-fa. Mirei para o teto descobri de onde viria uma lendária goteira que escorria entre o vão da pa-rede e o guarda-roupa, que sem-pre fica com as portas abertas para sair um pouco do cheiro de

mofo. Num momento desenha-va todo o teto, confundia-o com as nuvens de algodão — o tom escuro decorrente do teto embo-lorado me dizia que a previsão era para tempo ruim. A janela, na qual eu fixava olhares sobre os pregos enferrujados pela ma-resia, estava estranhamente no-doada. Zangou-se com a limpe-za. A umidade salobra a deixava embaçada.

Levantei vagamente da cama, caminhei até a sala, e sentei no antigo sofá, abrigo caseiro dos cupins, formigas e pequenos co-leópteros. A estante: escudo de minhas idéias. Abriga livros per-furados por traças, edições ama-reladas do Primeira Pauta, CDs riscados e fotografias foscas de uma era sapiens. Há um gran-de amigo escondido naquela es-tante, dentro de alguma página perdida. O conselho certo para a hora certa. Olhos cansados: fechei-os. Imaginei o teto: dife-

rente, tom mais fosco, como se agora estivesse limpo, com algo esculpido a qual não decifrei (poderiam ser as cavidades con-seqüentes do mau reboco). Na estante: somente um livro. Não me contive, fui crê-lo. Sem co-dinome e progenitor, teor nulo. Progredi o processo de osmose cerebral misturado à ressaca da noite passada. Ganharam for-mas as letras, aos poucos.

Minha lupa direcionada trin-cava-se. Li-as. Retornei à cama. Aspirei e transpirei em meu so-nho. Despertei suado. Acendi um cigarro barato e digeri um café adormecido. Tranqüilizei-me pouco mais. De volta ao velho sofá liguei novamente a TV, que insistia em apresentar chuvisco e ruídos. Olhei para a geladeira Cônsul modelo 1984, cor azul desbotado: estavam lá um ca-lendário e a conta de água e luz, empenhadas. Pautaqueoparéu! Novembro! Preciso trabalhar!

Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

Coordenação do Curso de Comunicação Social - Jornalismo Prof. Dr. Samuel Pantoja Lima

Professor responsávelJuciano Lacerda - MTB 1177 JP/PBLuis Fernando Assunção - MTB 7856/RS

DisciplinaProdução e Difusão emMeios Impressos II

Edição 73 Dezembro de 2008

DiagramaçãoAriane Olsen, Cláudio Costa, Pedro H. Leal e Tiago dos Santos

Coordenação de ProduçãoAlexandre Perger e Eva Croll

Edição de TextosCarolina Wanzuita, Guilherme Cardoso, José Eduardo Calcinoni, Jouber Castro e Rayana Borba

Fotografia e Edição de ImagensCharles França, Fabiane Borges, Felipe Silveira e Patrícia Debortolli

ImpressãoJornal A Notícia

Tiragem2 mil exemplares

Contato com a redaçãoCurso de Comunicação Social -Jornalismo. Rua Princesa Isabel, 438, Centro. Caixa Postal: 24 - 89201-270Joinville/SC

Telefone(47) 3026-8000

[email protected]

Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do Primeira Pauta.

Primeira.PautaJornal Laboratório do Curso de Comunicação SocialJornalismo

Dezembro.2008

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc

Primeira.Pauta73Distribuição Gratuita

Joinville.SCDezembro de 2008

Os diferentes modos de viver na terceira idadeA proporção da população idosa cresce a cada ano em Joinville. Só nos últi-mos 20 anos o aumento de pessoas acima de 60 anos foi de 151%. Entre

experiências de vida e histórias para contar, a última etapa da vida é en-carada de diferentes formas. Enquanto alguns sofrem com o abandono, ou-

tros buscam na convivência o conforto para enfrentar os obstáculos impostos pela chamada terceira idade.

Páginas 6 e 7

Um olhar sobre a Primeirona

Na final do campeonato amador de futebol de Joinville, que ocorreu no domingo (17), na Arena, nos-sos repórteres observaram as pecu-liaridades da partida entre Serrana e Grêmio Krona. Página 11

Apesar da lotação, as detentas fazem de tudo para tornar o ambiente hu-manizado no presídio. Algumas criam os filhos no local, que abriga 95 presas, mas tem capacidade de apenas 35. Página 9

Ala feminina está superlotada

Comportamento

Foto: Charles FrançaFoto: Patrícia Debortoli

Foto: Fabiane Borges

EditorialAfinal, quem lê o Primeira

Pauta? Nossos pais, irmãos, pa-rentes e amigos, nós sabemos: lêem pelo menos os títulos e co-mentam as fotos. Contudo, o que fazem com o PP as pessoas que o recebem em suas caixas de cor-reio e no pára-brisa de seus car-ros? Recebemos, ao longo desse semestre, apenas um e-mail: um leitor reclamava da ausência da foto de Darci de Matos na maté-ria sobre os gastos de campanha.

No mais, apenas nossa caixa de spam esteve lotada. Nenhuma reclamação. Nenhuma sugestão. Nenhum processo judicial. Esta-mos cumprindo nosso papel? Es-tamos fazendo valer nosso com-promisso com o jornalismo de conflito, que mostra o que nin-guém quer mostrar e diz o que ninguém fala?

Fazemos um jornal, mas não somos jornalistas em tempo in-tegral. Nossas atividades conso-

mem, em média, oito horas por dia. Pensamos no PP assim que acordamos, na hora do almoço e depois da hora da aula.

Com as férias, podemos pen-sar mais sobre o PP. Podemos pensar em fazer um jornal me-lhor, mais crítico. Podemos pen-sar em sair de nosso marasmo na escolha de pautas e na maneira de executá-las. Podemos tentar fugir da preguiça ou do cansaço. Podemos mudar. Até 2009.

Futilidade do mês de novembroJosé Eduardo Calcinoni

Charge - Lorena

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Cultura

Dezembro.2008

A duras penasPesquisa revela que 14% dos jovens lêem

Uma das heranças mais co-nhecidas no sul do Brasil é as-sociada aos açorianos: a cultu-ra do boi-de-mamão. O boi de brinquedo, de tamanho idênti-co ao animal original, é con-feccionado em madeira e pano e adornado com tecidos colo-ridos. A encenação representa a morte do animal, ressuscita-do depois por um curandeiro. É composta por um bailado contagiante regido ao som de triângulos, caixa clara, surdo, pandeiro e violão.

Em 1748, cerca de seis mil moradores do arquipélago dos Açores desembarcaram no litoral sul do Brasil. Com influência de índios, negros e europeus, sobretudo os aço-rianos, o boi-de-mamão traz em seu contexto uma série de elementos que remetem à his-tória da colonização, as lendas dos antepassados e a religiosi-dade da região. Foram incor-porados, também, outros ele-mentos derivados da cultura

açoriana e de outros costumes do litoral, como o Bernúncia, um boneco de pano que lem-bra um dragão ou uma cobra, e a Maricota, boneca alta e ro-busta que lembra as coloniza-doras alemãs.

Segundo o historiador e museólogo Gelci Coelho, a explicação mais conhecida para o nome boi-de-mamão é a de que, na falta do material para confeccionar a cabeça do boi, os adeptos utilizavam um mamão.

O livro mais lido pelos brasileiros é a Bíblia, seguido de O Sítio do Pica-Pau Amarelo e Chapeuzinho Vermelho

Juliano Reinert

Tolkien, pioneiro da literatura fantástica dizia: “[Criei] um mun-do secundário no qual sua mente pode entrar. Dentro dele, tudo o que se relatar é ‘verdade’”. A fra-se do autor britânico faz referên-cia à sua obra fantasiosa – “O se-nhor dos anéis” –, mas pode ser usada para ilustrar o que é a lite-ratura. Educadores acreditam que a máxima “ler é entrar no mundo da imaginação” é verdadeira. A afirmação condiz com a recente pesquisa sobre o comportamen-to literário no país, “Retratos da Leitura no Brasil”. Na pesquisa, 63% dos brasileiros se afirmam leitores por achar a atividade prazerosa. Parece animador, mas a leitura ocupa somente o 4º lu-gar no ranking dos passatempos. Na frente está a televisão, se-guida da música e do descanso.

Em Joinville, as escolas mu-nicipais participam de atividades do Instituto Ayrton Senna desde 2000. Na escola Pedro Ivo Cam-pos, exercícios de incentivo à leitura são freqüentemente ado-tados pelos professore. Às sex-tas-feiras, por volta das 16h30, a escola pára as aulas para se de-dicar exclusivamente à leitura. O projeto “Mala do Saber” é um ro-dízio entre as turmas da Educação Infantil. Tanto professores quanto alunos usufruem do acervo da

mala para um contato lúdico com os livros. A supervisora Silvana Terezinha Gomes atribui o su-cesso das atividades à mudança na forma de pensar. “Se alguém estivesse lendo em sala, diziam que estava matando aula. Hoje, a prática é incentivada”, conta.

A pesquisa ainda apresen-ta os livros mais importantes na vida dos brasileiros: “Bíblia”, “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Harry Potter” e “O Pequeno Príncipe”.

Público-alvo

Na Midas, a contação de histó-ria atrai as crianças. “É ali que co-meçam a se formar leitores”, diz Rosimeri. E enquanto as crianças ouvem histórias, os pais andam pela loja. “É estratégico”, confes-sa. Já na Livrarias Curitiba, a ven-dedora Neuza Moraes, diz que o alvo são adultos com mais de 30 anos, os maiores compradores. No Sebo, Silvana brinca: “a gen-te atira para todos os lados. Não temos um público específico, até porque não há preconceito com livros. Tem tudo aqui”. Nas três situações há unanimidade: os jovens lêem pouco. “Muitos dos que procuram a loja é por obri-gação”, analisa Silvana. A pes-quisa do Instituto Pró-Livro revela que na faixa etária de 18 a 24 anos, apenas 14% são leitores.

Apresentação do boi-de-mamão diverte público

Foto: Divulgação

Foto: Felipe Silveira

No bairro Rocio Grande, em São Francisco do Sul, o grupo folclórico 25 de Dezembro se dedica a divulgar a cultura açoriana e o boi-de-mamão há mais de 30 anos. Jackson Alves, de 22 anos, participa do grupo desde os 12. Seu pai é um dos coordenadores e, juntamente com a família, organiza as apresentações. O grupo é formado por quarenta pessoas. Entre suas apresenta-ções, se destacam a dança do pau-de-fitas e a encenação do boi-de-mamão.

Jackson conta que a dança do pau-de-fitas teve origem na Ilha dos Açores e é uma come-moração à fertilidade da natu-reza. Como o inverno é muito rigoroso na Europa, as árvores perdem todas as folhas. Com a chegada da primavera, era

escolhida a árvore mais bonita do local e penduradas tranças, laços e fitas, depois dançavam em sua volta. A dança do pau-de-fitas também é conhecida em todo o estado.

Na encenação do boi-de-mamão, o grupo de São Fran-cisco do Sul tenta recontar a história da morte e ressurrei-ção do boi, além de mostrar outros personagens como o Cavalo-Marinho, a Onça e o Barão. A preservação da cul-tura do boi-de-mamão é im-portante para resgatar valores e manter a história de uma comunidade. No final de no-vembro o grupo se apresenta na XVa Açor - Festa da Cultura Açoriana em Santa Catarina, que acontece do dia 28 ao dia 30 no Centro de Eventos Itajaí Tur, em Itajaí.

Apresentação já é tradição de família

Daniela de Tofol

Boi-de-mamãoresgata cultura

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Cultura

Dezembro.2008

Para sair do terminal urbano há ponto certo: catracas determinam o único lugar para escapar do caos

No motor da grande cidadeÉ raro alguém ser percebido em meio a correria nos ônibus e terminais de Joinville

Camila Prochnow

Os pedintes: muitos, de todas as idades, sexos e necessida-des. Desde os bilhetes entregues mão à mão até os produtos que vendem em troca de caridade. Usam de diversas técnicas para atrair aqueles que já não estão atentos ao turbilhão de coisas à sua volta. Num gesto automático retiram da carteira a primei-ra moeda que en-contram e dão àque-le ser que ele mal viu o rosto, achando que assim fez a boa ação do dia. O pedinte também nem sempre sabe agradecer: pega a moeda, o vale transporte, o vale refeição e desaparece, buscando mais alvos para ouvirem, de ouvidos

fechados, seus pedidos.Quando Talese descreve os

motoristas de ônibus, ele fala da-queles que também contribuem para a grande cidade enriquecer. “Apesar de todo esse tormento e

labuta, o motorista de ônibus de Nova Ior-que continua a ser, em grande medida, uma pessoa anônima que passa a vida mostran-do apenas a metade do rosto no retrovisor”. O retrovisor reflete um rosto cansado de um

trabalhador igualmente explora-do, tanto quanto aqueles que ele transporta diariamente.

Os motoristas exaustos e mal pagos, em clima de descontra-ção, reúnem-se nos intervalos

entre a saída de um veículo e outro e falam sobre suas vidas. São poucos minutos de sossego, logo sentarão novamente no as-sento que já é deles por direito. De vez em quando embarca uma senhora que lhes conta sua vida inteira, ou uma moça o faz lar-

gar o volante para lhe dar o tro-co da passagem. Às vezes, esta emperra na máquina e ele pre-cisa levantar-se para resolver o problema. Caras feias são o que não faltam na vida dele. Caras feias é o que mais se vê nas ruas de uma grande cidade.

Uma cidade repleta de vozes anônimas

O caos urbano. Uma cidade tomada pelo barulho, pela fu-maça, pelo stress, pelos apitos e máquinas das indústrias, pe-las pessoas transformadas em máquinas. O ir e vir dos ope-rários nas grandes metrópo-les é tão automatizado quanto sua função no chão de fábrica.

A multidão sem rosto, sem identidade. Com uma só iden-tidade – a identidade do traba-lhador. A vida dos trabalhadores que fazem a grande ci-dade produzir não é tão brilhante e harmoniosa quanto a produção das pu-jantes indústrias que eles mesmos ajudam a enriquecer cada dia mais. Pelo con-trário, a trajetória do funcionário padrão é preenchida por frustra-ções, desânimo e conformismo.

O dia ainda nem amanheceu.

O operário padrão já está de pé. O dia começa a clarear, os olhos do trabalhador ainda não. Vista nebulosa, ele entra na máquina que ainda não pilota, mas com a qual já acostumou-se devido ao seu sacolejar diário. Senta-se e dorme. O corpo-máquina já habituou-se com o trajeto e já sabe a hora de descer. A men-te não precisa mais pensar: o corpo obedece sozinho aos im-pulsos do cérebro trabalhador.

Fragmentos de frases, peque-nas falas, pala-vras soltar no ar. É o velho clichê “estar sozinho no meio da multidão” que se manifes-ta da forma mais abrupta quando se passeia pelo terminal de ôni-bus central da

cidade. É como se você estivesse em uma jaula, cheia de leões fu-riosos prontos para fugir ou para te atacar. Se você quer atravessar

de um lado para o outro do lugar, deve ter imensa cautela — não com os veículos motorizados que podem te atropelar, mas sim com os veículos humanos. Corre-se o grande risco de trombar com um desses seres que fará cair no chão todos os papéis, pastas e sacolas que você carrega, isto quando não é você mesmo que ele derruba.

Mas se quiser escapar de tudo isso não pense que pode mirar em qualquer um dos lados e sair da “jaula”, indo em direção à rua. Não. Há cancelas que determi-nam o lugar de saída e, como se você fosse um gado marcado, terá que sair apenas por aquele local. Diariamente grandes mas-sas humanas passam por ali. Se você tiver a audácia de sair pela entrada dos veículos será prontamente barrado por espé-cies de guardiões da entrada.

“Balinha,. Balinha..” é o que a velha senhorinha grita para tentar arrancar do povo, que passa apressado e de cara feia, alguns poucos trocados.

“‘Peraí’ pai, fala mais um pou-co comigo”. A garota com pelo menos 18 anos não mora mais com os pais. Faz faculdade longe da cidade da família, o que justifi-ca o afastamento precoce. Magra, alta, cabelos castanhos e pele cla-ra. Ela esperava o ônibus chegar enquanto conversava com o pai pelo telefone. Domingo, 17h30, ela contava para o pai que pas-sara o fim de semana na casa de uma amiga, para não precisar fi-car sozinha em casa. “‘Peraí’ pai, fala mais um pouco comigo”. O pai queria desligar o telefone, ela ainda não. Antes do ônibus chegar ela já tinha desligado o telefone. Mas a cabeça parecia estar longe.

Não é só a Nova York de Gay Talese que é recheada de

histórias desconheci-das. Como a grande metrópole, Joinville também não pára

Rostos sisu-dos é o que não falta na vida de quem caminha pelo terminal

central

Foto: Rayana Borba

Comportamento

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Dezembro.2008

Os joinvilenses que ninguém vêNo Centro, eles moram em esquinas, sofrem preconceito e contam suas histórias

Alexandre Perger

Vinte horas. Joinville se prepara para dormir. No Centro, ainda há muita gente, muitos carros. Alguns bares ainda estão abertos e cheios, pessoas bebem, fumam e falam. Mas Joinville quer dormir. Talvez não consiga, porque quer ser ci-dade grande e ficar acordada até mais tarde. Meia hora depois, me-nos carros na rua. No outro lado da rua das Palmeiras, a escuridão é maior. Não há tanta gente, não há tanto carro. Prostitutas, travestis e garotos de pro-grama disputam espaço. Em outros lugares, mendigos escolhem abri-go. Nem todos os seres invisíveis chegaram para ocupar seus luga-res. Mas a noite e a lua, como se esperassem seus companheiros, já trataram de se acomodar. Joinvil-le se prepara para dormir.

Valentine, travesti de 30 anos, também não é visto pelos cidadãos apressados. Começou a se prosti-tuir com 13 anos, época do início

do tratamento com hormônios, que o deixaria com corpo de mu-lher. Um ano depois, já enganava muita gente, até um amigo de seu pai. Este amigo o contratou para cuidar da filha, acreditando que Valentine era uma moça. Quan-do descobriu a farsa, encerrou o contrato e o expulsou de sua casa. “Parecia que um alien estava cui-dando da filha dele”, lembra o tra-vesti. Quando completou 16 anos, depois de alguns programas, de-cidiu procurar emprego. Quando as empresas recebiam sua carteira de identidade e viam o nome de

um homem, diziam que não havia vaga. Foi aí que resolveu entrar de vez para a prostituição.

Desde criança sabia que era gay. “Gostava de brincar de boneca, e acha-va alguns meninos bonitos”. Os pais sempre aceitaram sua condição. A fa-mília, hoje, resume-se a uma irmã e um

sobrinho. Valentine mora, atual-mente, na Alemanha. Voltou para Joinville para resolver problemas de documentação. Como precisa-va de renda, estava trabalhando

por aqui. Até o retorno, no último dia 21 de novembro, morou com a irmã. Ele gosta da Europa – acha que lá a mente das pessoas está “mais evoluída” -, mas quer fa-zer a vida em Joinville. Sonho em comprar um apartamento e ado-tar uma criança. Chama a vida, da qual ainda pretende sair, de estú-pida. “As pessoas tratam a gente

como se fossemos nada”, reclama, “como se fosse um lixo se prosti-tuindo”. Enquanto isso, os carros de família passavam, e os ocu-pantes olhavam com espanto. Pa-reciam não conhecer personagens como Valentine, que não apare-cem nos catálogos de turismo da cidade, nem nos vídeos institucio-nais da Prefeitura.

Valentine, travesti, começou a prestar seus serviços com

13 anos, mas deseja mudar de profissão: “As pessoas tratam a gente como se fosse nada, como se fosse

um lixo se prostituindo”

Nei vive aqui e ali, e cata lixo em todo lugar

Foto: Fabiane Borges

Sem morada fixa e com vida iti-nerante, o homem conhecido como Nei “Coco Roxo” vasculha o lixo atrás de papelão e lata. Mora na rua há dois anos. Possui estatura, cabelos e olhos baixos. É de Join-ville. Já trabalhou em algumas em-presas, mas, hoje, vive do lixo. Reli-gioso, fala em Deus o tempo todo.

Seu espírito pode estar des-tinado ao Reino dos Céus, mas enquanto vive aqui, sofre os pre-conceitos. As pessoas que prova-velmente vão com ele para o céu são as mesmas que o desprezam na rua. Foi casado, mas se sepa-rou. Teve um filho, mas não gosta de falar dele, por medo de lembrar o passado. Não sente vergonha do que faz. Está com 36 anos. Saiu

de casa aos 19. Ele diz que ven-de o que consegue para qualquer pessoa que pagar o preço que ele faz. “Meu sonho é que as pessoas ricas olhem pra gente com outros olhos, que não nos vejam como um nada”, idealiza o catador. Nei afirma que o seu jeito humilde faz com que as pessoas gostem dele. As noites de sono não são cons-tantes. Chega a ficar dois dias acordado. Mas quando pode, fica um dia inteiro dormindo. No fim das contas, reflete: “Cai uma fo-lha seca, o vento leva para onde quiser. A gente, na mão de Deus, é menos que uma folha seca”. As-sim que terminou de falar, virou a esquina da Princesa Isabel e foi embora, rindo da própria vida.

Lutando para sobreviver, eles vagam pelas ruas escuras de Joinville

Comportamento

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Dezembro.2008

As pálpebras gastas revelam um olhar cansado de quem já pre-senciou de quase tudo um pouco e de quem viveu o que os jovens de hoje saberão apenas através dos livros. Os cabelos cada vez mais ralos e esbranquiçados, a pele franzida e o caminhar zelo-so denunciam a chegada à última etapa da vida. Com tantas histó-rias para contar, a vida se reduz a lapsos de memória. Um recor-dar custoso diário num presente que espera apenas um amanhã. A saúde frágil impossibilita muita das atividades que antes eram ro-tineiras. E a expressão de que “no meu tempo era bom” torna-se co-mum, embalada por conversas.

“O envelhecimento é a dimi-nuição das nossas reservas e a morte é o fim delas”, explica o geriatra João Roberto Maia. Espe-cializado há 15 anos na área que trata de idosos, o médico afirma que é no período de maturação do organismo quando as reservas de saúde são perdidas. Esta per-da de saúde está diretamente li-gada aos fatores extrínsecos e in-trínsecos. O fator extrínseco está relacionado com o modo de vida

de uma pessoa, principalmente quando o assunto é trabalho e alimentação. Já o intrínseco é de-terminado geneticamente. “Sem dúvida o envelhecimento é muito mais influenciado pelo fator ex-trínseco. É ele que vai acelerar ou retardar o processo”, garante.

Hadwiga Bandoch, 65 anos, sofre as conseqüências de um acidente na juventude. Moradora do Lar do Idoso Betânia há qua-tro anos, a simpática senhora de grandes olhos azuis e de origem polonesa passa os dias em seu quarto confeccionando chinelos de crochê e lendo livros proféticos religiosos. Aos 26 anos, ela foi atropelada e ficou em estado de coma durante 10 dias. “Fazia 10 novenas por dia para me recupe-rar”, relata.

As seis fraturas nas pernas, ocasionadas pela batida que a deixou um ano e nove meses en-volta em gesso, hoje é o motivo pelo qual Hadwiga se exclui dos demais idosos que passam as tar-des em conversas na sala de estar do prédio que atualmente abriga 36 moradores. As dores não a deixam ficar muito tempo com as pernas baixas, por isso, ela pre-fere permanecer na cama e só se

levanta para fazer as refeições ou, com muita dificuldade, limpar o pequeno cômodo repleto de ima-gens de santos católicos. “Mesmo com os meus problemas de saúde eu não gosto de ficar parada”, re-conhece. Hadwiga conta que sua vida sempre foi marcada pelo tra-balho duro na roça. “Fazia traba-lho de homem”, lembra.

A mulher que até os sete anos de idade não sabia se comuni-car em português, vê consolo nas palavras dos livros católicos. Ha-dwiga não tem filhos e, como a maioria dos que alcançam a sua idade, convive com a ausência de parentes já falecidos. Assim como Hadwiga, muitos idosos que moram no Lar do Idoso Betâ-nia possuem pouco contato com os familiares. Muitas das visitas só acontecem no início do mês. É cobrado R$ 850,00 de cada in-quilino, porém os que só recebem o salário de aposentadoria pre-cisam deixar 70% do valor total. O administrador Acelino Setti, ar-gumenta que os valores cobrados não conseguem cobrir os gastos. Cada hospedagem custa em mé-dia R$ 1.265,00 mensais para o Lar, que é mantido também com a ajuda da Igreja Católica.

Diferentes modos de envelhecerRafaela Mazzaro

A busca da felicidade pela convivênciaPara as dores, Cecíria Carva-

lho do Nascimento, 64 anos, diz ter a solução. “Nessa idade todos nós sentimos dor, mas se ficar pensando nela dói mais ainda. A solução é tentar se distrair com outra coisa”, revela. E é neste tom de otimismo que a presiden-te do Centro de Convivência da Melhor Idade apresenta o local onde 130 idosos se reúnem para fazer atividades em conjunto.

Entre uma e outra jogada de canastra, num piscar de olhos, a conversa nas seis mesas espa-lhadas pelo salão passa da des-contração às reclamações sobre a escassa saúde. Eles se conhe-cem muito bem. Sabem da real condição que vivem e que no dia seguinte poderão não ter a com-panhia do amigo na cadeira ao lado. Naquele espaço, eles se

sentem iguais, mesmo com dife-renças de idade de até 30 anos.

“Os jovens se cansam fácil da gente porque as conversas são outras”, conta a mulher de cabe-los pintados de bronze e maquia-gem definitiva nas sobrancelhas, fazendo com que os seus 64 anos se reduzam para uma aparência de no máximo 50. Mãe de três filhos e avó de nove netos, Ma-ria Emília Miranda explica que ali eles se sentem iguais porque re-cebem carinho uns dos outros.

Quando o assunto é o desca-so dos filhos com os pais velhos, Maria Emília já tem a resposta na ponta da língua. “Se os pais não dão carinho e atenção para os fi-lhos quando eles são novos, por que eles iriam retribuir?”, ques-tiona. Tereza de Jesus Soares, 74 anos, concorda com a amiga. Ela

mora sozinha, mas o filho casa-do vem todos os dias para dormir em sua casa. Para ela, ficar em casa sozinha é muito depressi-vo. Por isso, passa todas as tar-des no Centro para fazer o que mais gosta, o bordado, e só volta quando o sol está se despedindo. “Aqui até errar o ponto do borda-do é motivo para risadas e não de irritação”, comenta.

O Centro de Convivência da Melhor Idade funciona há oito anos. Cada participante contri-bui com R$ 8,00 mensais para as despesas com o aluguel e conta de luz. Além de baralho e domi-nó, os idosos aprendem a fazer trabalhos manuais. Mas o que lota os bancos de madeira são os bingos mensais, promovidos pelo Centro. Os prêmios são o que menos importa. Tereza de Jesus Soares, 74 anos, passa todas as tardes no centro de convivência, fazendo o que mais gosta: bordado, e só pára quando o sol está se despedindo

foto: Fabiane Borges

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Saúde

Dezembro.2008

Diferentes modos de envelhecer

Uma vez por mês, chegam os visitantes para o baile

Uma vez ao mês, quatro ôni-bus vindos de Itajaí, São Bento e outras cidades vizinhas, tra-zem visitantes para o baile que acontece na Sociedade Alvora-da de Joinville. O baile inicia às 14 horas e termina às 17, todas as quartas-feiras. O horário de funcionamento já evidencia qual é o público alvo.

O casal Carmem, 63 anos, e Irineu de Tofol, 66 anos, conta que o baile para idosos é muito melhor do que as “dominguei-ras” de dança do tempo em que eles eram jovens. “Os bai-les do nosso tempo eram feitos em casa mesmo”, afirma Irineu. Como naquela época não havia luz elétrica no sítio onde viviam, a música vinha de uma simples gaita e a luz de um pequeno suporte que armazenava que-

rosene, o qual Seu Irineu ainda guarda como recordação.

Dos tempos de juventude do casal para os dias de hoje muita coisa mudou. Porém, para eles, as mudanças foram para me-lhor. “Agora o baile é bem mais animado porque as bandas são muito boas”, lembra Carmem. O que muda nos bailes que eles freqüentam atualmente é que as pessoas dançam mais devagar e com mais cuidado. “Não dá para ficar muito tem-po sem dançar porque se não a gente fica encarangado e perde o pique”, brinca Irineu. Normalmente os freqüentado-res vão acompanhados, mas os que são solteiros ou viúvos ficam em mesas separadas do sexo oposto a espera de um convite para dançar.

Pelo IBGE, cresce número de idosos com mais de 80

De acordo com progressões realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística), em 2050 a população feminina com mais de 80 anos poderá chegar a oito vezes mais do que a registrada em 2005, que é de um milhão. Já a po-pulação masculina desta faixa etária, que é classificada como a quarta idade, deverá atingir a média de seis vezes o total ve-rificado atualmente, um cresci-mento de cerca de 5,2 milhões de pessoas.

A proporção de idosos vem crescendo mais rapidamente do que a proporção de crianças. Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças. Em 2000, essa relação dobrou, passando para quase 30 idosos. Percebe-se que a pirâmide etá-ria absoluta do Brasil nos anos 80 possuía a base mais larga do que o topo, que era extremamen-te afunilado, o que demonstrava a existência de uma maioria de jovens do que de idosos. Já as pirâmides das décadas seguintes revelam um número de mortali-

dade muito baixo. Desta forma, a progressão aproxima-se de um formato mais semelhante a de um quadrado do que de uma pi-râmide propriamente dita, devi-do ao alto índice de longevidade e ao baixo índice de fecundidade dos brasileiros. Para chegar a es-tas estimativas, o IBGE utiliza o método das componentes, o qual incorpora as informações sobre as tendências observadas de mortalidade, de fecundidade e de migração em nível nacional.

Rio de Janeiro e Porto Alegre se destacam como as capitais com os maiores números de ha-bitantes idosos, representando, respectivamente, 12,8% e 11,8% da população total desses luga-res. Em contrapartida, algumas capitais do Norte do país, como Boa Vista e Palmas, apresenta-ram uma proporção de idosos de apenas 3,8% e 2,7%, respectiva-mente. Já em Joinville, nos últi-mos 20 anos, houve um aumen-to de 151% de população idosa, passando de 11.263 idosos em 1980, para 28.236 idosos no ano 2000.

Tereza de Jesus Soares, 74 anos, passa todas as tardes no centro de convivência, fazendo o que mais gosta: bordado, e só pára quando o sol está se despedindo

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Saúde

Dezembro.2008

O projeto social Casa Brasil, uma iniciativa inter-ministerial do governo federal, oferece ativida-des voltadas para a comunidade, visando a inclusão social, digital e cultural. No total, há 73 casas espalhadas, estrategicamente, pelo território nacional em áreas de baixo Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH). Em Join-ville, duas delas estão com as portas abertas em dois extremos da cidade: uma na zona Norte, a outra na zona Sul.

Cada unidade é estruturada em módulos que propiciam a conexão de múltiplos saberes e obedece a um padrão que vai desde a identidade visual dos laboratórios até o valor da bol-sa daqueles que trabalham no projeto. A unidade Jarivatuba, cujo proponente é o Bom Jesus/Ielusc, possui seis laboratórios em funcionamento: o telecentro, o auditório, a sala de leitura, o laboratório de segurança ali-mentar e nutricional e, por fim, o módulo de comunicação – es-túdio de rádio e multimídia.

Desde a abertura da Casa Brasil Jarivatuba, em dezembro de 2006, até julho deste ano, já

foram realizados 17.749 aten-dimentos. Nos espaços da uni-dade, os cidadãos podem par-ticipar de oficinas de culinária, informática básica, teatro, ca-poeira, aulas de alfabetização e reforço escolar, produção e edição de conteúdo fílmico, ra-diofônico e foto-gráfico, além de eventos temáti-cos, que são or-ganizados em parceria com ou-tras entidades e voluntários.

Evandro Cle-mente Cordeiro, 14 anos, é um dos beneficiados. O garoto fre-qüenta a unidade desde a aber-tura e já participou de várias atividades. Hoje, ele já é volun-tário no reforço escolar e conta o quanto a Casa faz diferença. “Minha vida mudou muito de-pois que eu conheci a CB (Casa Brasil). Parei de ficar na rua, in-comodar os outros, fazer ‘bobi-ças’. Aqui me ensinaram a ser feliz. É minha segunda casa”, conta o garoto.

Cássia Nunes, coordenadora da unidade Sul atuante desde se-tembro de 2006 – antes mesmo

da abertura – , acredita que as atividades devem acontecer com o que a unidade tem disponível e os bolsistas têm em mãos. “Nós trabalhamos com limitações e as coisas acontecem da mesma maneira. É claro que seria muito melhor ter um caixa aqui”, con-

fessa ela e com-pleta: “Não tenho do que reclamar quanto ao Bom Jesus. O que nos falta é uma logís-tica mais ágil e dinâmica entre a unidade e a insti-tuição.”

Uma das maiores dificuldades da Casa é a falta de sustentabilidade fi-nanceira, já que o Bom Jesus é a única fonte reguladora destes recursos, responsável por cus-tear despesas mensais como taxas de água, luz, telefone, e material de expediente, limpe-za e higiene. Além dele, a Casa tem dois co-parceiros: o instituto Consulado da Mulher e o Comitê Fome Zero de Joinville. Porém, as contribuições advindas destes são mais pontuais e, na maioria das vezes, estão ligadas à exe-cução de projetos em conjunto.

A Casa também recebe doações esporádicas de comerciantes, do pessoal engajado no projeto, dos próprios freqüentadores ou apoiadores da unidade.

Assim, uma das alternativas vislumbradas, após a constata-ção dos vários resultados posi-tivos obtidos, foi a captação de recursos junto à prefeitura de Joinville. Em abril de 2008, o proponente encaminhou à Se-cretaria de Assistência Social um plano de trabalho com os respectivos custos da unidade requerendo verba para a conti-nuidade e a intensificação dos serviços prestados. Após tramitar na Comissão de Ética e Justiça da Câmara, o projeto, no valor de 50 mil reais, foi aprovado no último dia 13 de novembro em audiência pública na Câmara de Vereadores.

A expectativa, segundo a co-ordenadora, é de que a verba permita ampliar a oferta de ati-vidades e o desenvolvimento de projetos em parceria, inclusive, com acadêmicos das universida-des da região. Além disso, o di-nheiro deve suprir necessidades emergenciais como, por exem-plo, a compra de insumos para as aulas de culinária.

Projeto estimula inclusão socialAberta desde dezembro de 2006, a Casa Brasil já fez mais de 17.700 atendimentos

“Minha vida mu-dou muito depois que entrei na Casa Brasil. Aqui me ensinaram a ser feliz. É minha

segunda casa”

Ariadna Straliotto

A unidade sul de Joinville, situada no bairro Jarivatuba, tem seis laboratórios em funcionamento. Entre eles a sala de leitura. Com acervo estimado em 1.500 exemplares, os cidadãos podem fazer empréstimo de livros

Foto: Patricia DebortoliCidadania

08 PP

Dezembro.2008

Jonas Alberto Cavanhol, 34 anos, está na direção do Presídio de Joinville há nove meses. Neste período, 30 mulheres foram deti-das. Cavanhol não nega a super-lotação, mas diz que, infelizmente, a ampliação da ala feminina não está ao alcance de sua autoridade. Ele disse que o governo de Santa Catarina pretende construir uma penitenciária industrial feminina em Criciúma, mas ainda não há previsão para o início das obras. Existem no Estado 1500 presas, o número de presidiárias triplicou em seis anos (tempo em que tra-balha no presídio) por mudanças na justiça. “Antes só se prendia o marido. Agora, todos os maiores de uma casa denunciada por tráfi-co, vão presos”, afirma.

A maioria das mulheres foram

detidas por tráfico de drogas. As penas neste tipo de crime são de, no máximo, cinco anos. A maior pena do presídio é de 51 anos, por crime de extorsão (quando se ameaça para conseguir dinheiro). Cavanhol há dois meses não se incomoda com confusões na ala feminina. “Elas estão tão tranqüi-las que até me preocupo”, brinca. Além da escassez dos materiais de higiene pessoal, obtidos por meio das visitas familiares, elas conse-guem arrecadar de R$ 200 a R$ 300 com recicláveis, quantia que ajuda na compra dos produtos de limpeza externa. Segundo ele, há cinco detentas prestes a sair.

Carla Alves, 18 anos, presa há seis meses e condenada ao regime semi-aberto, foi cúmplice em um assalto a mão-armada a uma loté-

rica. No princípio, ficava no “conví-vio”, no regime fechado, mas após a sentença pode ir para a “regalia”. Segundo Carla, as colegas do “con-vívio” tem sofrido com o excesso de detentas, principalmente porque as celas são quentes e abafadas. “Tem muita gente ali com pena vencida. A justiça tinha que ver isso”, lamenta.

Há quase 18 anos, a Pastoral Carcerária visita os presídios fe-minino e masculino e a Penitenci-ária Industrial (só para homens), semanalmente, e de acordo com membros da Pastoral a situação já foi bem melhor. Irecê Donadel, 48 anos, está há 12 como agen-te e critica a forma como a so-ciedade trata os presidiários. “As pessoas não vêem que ali existe uma história e não compreen-dem nosso trabalho”, finaliza.

As detentas das duas galerias do Presídio Feminino de Joinvil-le vivem um momento delicado. A superlotação do espaço vem trazendo dificuldades de acomo-dação. Projetado para alojar 35 mulheres, atualmente abriga 95. São poucos centímetros entre os beliches de madeira – o chão também tem servido como cama. Além das instalações precárias, uma das conseqüências do ex-cesso de presidiárias é a falta de materiais de higiene e limpeza.

O berçário, local onde ficam as gestantes e mães com be-bês, é mais confortável e areja-do. Lá, quatro detentas perma-necerão com seus filhos até que completem seis meses de idade. No quarto onde estão as deten-tas com regime semi-aberto, chamado por elas de “regalia”, dormem oito mulheres. Elas são responsáveis pelo almoço e jan-tar das colegas e podem circular pela área de convivência da ala.

De acordo com Cynthia Maria Pinto da Luz, 49 anos, advogada do Centro de Direitos Humanos de Joinville, na última visita realizada pelo CDH e Conselho Carcerário e Pastoral Carcerária, em 12 de no-vembro, as presidiárias se queixa-ram, principalmente, da escassez de absorventes. O grupo também constatou que as visitas íntimas foram interrompidas e houve ocu-pação de uma pequena bibliote-ca para a instalação de colchões.

Os atendimentos médicos ocor-rem muito raramente e, quando é preciso levá-las até um posto mé-dico ou a um hospital, elas sofrem com o preconceito dos atenden-tes. Há carência de medicamentos de primeira necessidade. “O que mais me preocupa é que a falta dos produtos de limpeza pode resultar no acúmulo de sujeira”, comenta. Para a advogada, a ine-ficiência e o descaso do governo do estado em relação ao sistema prisional fica claro nesta situação. A vagarosidade em julgar os pro-cessos deixa estas pessoas presas por mais tempo. Até agora, não há nenhuma medida em andamen-to para reverter a superlotação.

Ala feminina está superlotadaLorena Trindade

Detentas dormem em colchões no chão e há escassez de material de higiene pessoal

Diretoria não nega superlotação

Detenta brinca com sua filha de nove meses no berçário, que é o espaço mais confortável da ala feminina do Presídio Regional; as outras estão superlotadas

foto: Patrícia Debortoli

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Direito

Dezembro.2008

Renovação em São Bento do Sul

A Câmara Municipal de São Bento do Sul foi totalmente re-novada no último pleito. Dos dez parlamentares que formarão a legislatura 2009-2012, sete são estreantes. Dos vereadores que encerram o mandato em 2008, nove apresentaram seu nome para a disputa e nenhum foi re-eleito.

O mais votado foi Antonio Jo-aquim Tomazini Filho (DEM), com 1.810 votos. O médico lançou-se pela primeira vez a um cargo político e afirma que priorizará a saúde pública. Com 1.003 vo-tos, o ortopedista Eduardo Anto-nio Rodrigues de Moraes (PP) foi eleito vereador. Eduardo lançou-se candidato pela primeira vez em 2004, quando ficou como primeiro suplente, assumindo duas vezes.

Atual secretário municipal de saúde, Luiz Sieves (PMDB), foi o terceiro vereador mais votado, com 1.290 votos. Seguido de Lí-

rio Volpi (PMDB), atual presiden-te da empresa municipal de ha-bitação, eleito com 1.215 votos. É a segunda vez que irá atuar no parlamento são-bentense.

Entre os eleitos estreantes na política são-bentense, Márcio Dreveck (PP), administrador de

empresas, conquistou 940 votos. Josias Terres (DEM), professor, foi eleito com 842 votos e o repre-sentante comercial Marco Auré-lio Viliczinski (PSB) elegeu-se com 911 votos. Já o presidente do PT, Tadeu do Nascimento, concorreu a vereador pela terceira vez, sen-

do eleito com 1.367.Na atual gestão não há repre-

sentantes femininas. Para a pró-xima duas foram eleitas: Nilva Marli Larsen Holz (PP), com 1.053 votos e Adriane Elisa Ruzanowsky (PMDB), com 1.006 votos. Ambas são professoras.

“Crescei e multiplicai-vos”

Pregações fervorosas, com bí-blias nas mãos. Vozes que eco-am améns e aleluias. Na busca pela cura e libertação, milhares de católicos têm migrado para o pentecostalismo. De acordo com o Censo de 2000, 74% da po-pulação brasileira era católica e 15% evangélicos. Na pesquisa Datafolha de 2007, o número de católicos caiu para 64% e o de evangélicos subiu para 22%.

No início, a explosão evangé-lica se deu em silêncio. A primei-ra igreja evangélica no Brasil foi a Batista, criada em 1889. Na década de 1910 veio a Congre-gação Cristã no Brasil e a As-sembléia de Deus. Cinqüenta anos depois surgiu a do Evange-lho Quadrangular, e na década de 70, a Universal do Reino de Deus.

Quase como resposta à revo-lução evangélica, a Renovação Carismática Católica, criada em 1967, divide as celebrações com louvores e pregações. Os pre-gadores são pessoas comuns, que dão testemunho de vida e contam os milagres recebidos. A professora Cheila Pelin, 25 anos, freqüentou igrejas evan-gélicas por quase um ano, e ga-rante que não é preciso mudar de religião para encontrar paz. Hoje, faz parte do grupo caris-mático. Para ela, os migrantes buscam outras religiões porque não encontraram Deus. “Muitos de fato nunca o conheceram”. O pastor da igreja Quadrangular Ari José Vavassori acredita que os crentes que mudaram de re-ligião buscam atenção. “As pes-soas precisam ser alimentadas com carinho para se sentirem importantes”, garante.

Geral

Pela primeira vez, nenhum dos nove candidatos que concorreram à reeleição se elegeu

Linda Tomelin

Pesquisa aponta que número de evangélicos no País cresceu 22% nos últimos 25 anos

Tatiane Martins

Fato inédito: dos dez parlamentares eleitos que formarão a próxima legislatura, sete serão estreantes na Câmara de Vereadores de São Bento do Sul

Número de católicos caiu para 64% e o de evangélicos cresceu para 22% da população brasileira, em 2007

Foto: divulgação

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Dezembro.2008

Esporte

Final difícil no futebol amador

Para dois estudantes de jor-nalismo que estreariam como repórteres esportivos, a final do campeonato amador de futebol da cidade, a Primeirona, já esta-va de bom tamanho. Associação Atlética Serrana, do Jardim Iririú e Grêmio Krona, do Vila Nova, disputariam o caneco às 16 ho-ras do dia 17 de novembro, na Arena Joinville, num típico do-mingo chuvoso. O resultado de 1 a 0 foi suficiente para dar o título inédito à Serrana, num jogo que nem precisava de lances emo-cionantes, já que personagens anônimos roubavam a cena dos gramados.

Diferente das grandes finais, em que torcedores lotam os es-tádios, pouca gente foi à Arena. A maior parte dos cerca de 1,2 mil espectadores estava concen-trada na arquibancada coberta, dando a impressão de estádio vazio a quem olhasse o homem solitário do outro lado do campo que, devido à cor de sua roupa, confundia-se facilmente com a arquibancada.

A partida começou às 16h21 com a troca de passes do Krona,

que em seguida perdeu a bola, e só conseguiu partir para o campo de ataque seis minutos depois. O primeiro tempo foi sem grandes emoções, tanto que o gandu-la atrás do goleiro Bambam, do Serrana, preferiu bater embai-xadinhas enquanto os repórteres dos jornais A Notícia e Notícias do Dia debatiam sobre o futuro do JEC e o comunicador da rádio Globo fumava um cigarro. Quan-do a chuva engrossou, às 16h47, os jornalistas mais experientes foram se abrigar e convidaram os mais jovens a sair do campo. “Não esquenta, a gente já é anfí-bio”, brincou um dos novatos.

O Krona marcava forte, dei-xando o jogo truncado. Na pri-meira partida da final, há três semanas, havia sido goleado por 4 a 0 e, desta vez, não estava disposto a repetir a dose. A Ser-rana tocava melhor a bola, mas o adversário marcava em cima. A cada falta do Krona, os adver-sários rolavam no chão, e todo mundo do banco da Serrana pe-dia cartão. “Já é a quarta falta do cara e ninguém faz nada”, gritou um dos atletas, após mais uma falta no camisa 10 do seu time. O técnico Toninho Gam-

beta se exaltava e reclamava na orelha do bandeirinha, que nada respondia. Ele apenas ges-ticulava com a cabeça, em sinal negativo.

Numa das subidas do Krona, um dos torcedores mais anima-dos gritou da arquibancada: “Volta pra Camboriú, seu cabe-çudo, terra da minha ex-mulher”. As frases ditas por ele, aliás, não pararam por aí. Comentários como “ô seu carne moída” foram repetidos algumas vezes pelo se-nhor de pele morena e bigode branco. “Ah, ele é sempre assim”, comentou um fotógrafo à beira do gramado.

Pouco antes de acabar o pri-meiro tempo, alguns torcedores pareciam incomodados com a partida. “Jogo duro de assistir”, disse um deles. “Deve ser o ven-to sul”, falou outro, bem-humo-rado. Enquanto isso, o árbitro in-dicava um minuto de acréscimo. O auxiliar, no entanto, não sabia usar a placa eletrônica que indi-ca o tempo. Como demorou 50 segundos para erguê-la, o árbi-tro apitou o fim da primeira eta-pa logo que ela foi exibida.

Na volta do intervalo, que teve direito a apresentação de

hip hop, o atacante Lú, da Ser-rana, balançou a rede logo aos dois minutos. A partir daí, o time do Jardim Iririú dominou o jogo, mesmo que sob forte marcação do Krona. Às 18h15, uma falta dura em cima de um atacante alviverde foi a responsável pelo único cartão vermelho da parti-da, que gerou bate-boca entre a torcida e o banco de reservas do time do Vila Nova.

O final do jogo se aproxima-va. Quando o árbitro sinalizou cinco minutos de acréscimo, os reservas já começaram a come-morar. Num dos últimos lances, o Serrana quase ampliou com uma “bimba” de fora da área. Mais bonito que o chute, só a defesa do goleiro Foca. Ao apito final, todos correram para o centro do campo, inclusive a torcida. O atacante Lú jogou a camisa para um amigo da torcida. Rocha, ex-jogador do JEC, negou o mesmo pedido, feito por um torcedor. “Já prometi para o meu filho”, expli-cou. No caminho para o centro do gramado, o técnico Gambeta resumiu o sentimento da equipe: “Um título tão difícil quanto esse a gente tem mais é que comemo-rar mesmo”.

Com time mais experiente, Serrana comemora título inédito da Primeirona de Joinville

Ana Carolina Luz e Felipe Silveira

Time do bairro Jardim Iririú comemora pela primeira vez título do principal campeonato de futebol amador da cidade. Na final contra o Grêmio Krona, do Vila Nova, lances disputados marcaram a partida na Arena

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Foto: Charles França

Dezembro.2008

Mãe, dona-de-casa e professoraProfessora Marilza Elisabete Grando Lazzari, 51 anos, encara tripla jornada de trabalho

“Uma mulher que se desdo-bra”, assegura a professora Ma-rilza Elisabete Grando Lazzari, 51 anos. De fato, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) divulgada em 17 de agosto de 2007, 90,6% das brasileiras despendem tempo, além da profissão ou estudo, para afazeres domésticos.

Em 33 anos de magistério, Marilza chegou a lecionar diaria-mente em três períodos – 61 au-las semanais –, por cerca de 15 anos. Acordava às 6 horas e só parava às 22h20. Há três anos, por excesso de trabalho, precisou tomar remédio para depressão. Quando entrava em sala, esque-cia do problema. “Tinha pique até a última aula”. Agora, apo-sentada pela rede estadual, só leciona para turmas matutinas, de 5ª a 8ª série, na Escola Mu-nicipal Pastor Hans Müller. “Virei madame”, comemora a senhora que passava os finais de semana corrigindo provas. “Tô mais light. Leio e tiro uma sonequinha de-pois do almoço”.

Mesmo com a tripla jornada, a professora deixava o almoço preparado, lavava e passava as roupas, ia ao supermercado e jogava “uma canastrinha” nos fi-nais de semana. “Parece até que sobrava mais tempo”, diz. Marilza também fiscalizava as tarefas dos filhos, com quem sempre teve di-álogo aberto. “Tinha contato com eles, até cheguei a dar aula para os dois”, acrescenta, lembrando do dia em que enviou um bilhete para o próprio marido, requeren-do uma assinatura pelo filho não ter feito a tarefa. O caçula, Stéfa-no, 15 anos, está no primeiro ano do Ensino Médio. Fabrizio, de 22 anos, cursa engenharia de pro-dução na Universidade do Estado de Santa Catarina. Eles passaram parte da infância em escolas ma-ternais e com a empregada. “E não me arrependo”.

Marilza nunca trabalhou em escola particular; nem demons-trou interesse em seguir esse ca-minho. “Me sinto desvalorizada como professora”. Ela lamenta que, nos últimos quatro anos, é mais difícil lidar com os estudan-tes. “Eles não têm mais limites,

não respeitam”. Mas também avalia que, após anos de dedi-cação, é gratificante reencontrar ex-alunos, o que comprova que ensinou várias gerações. Certo dia, uma aluna levantou a mão e disse, baixinho: “Professora, eu acho que a senhora deu aula para a minha avó”. “Abaixa esse dedo”, reagiu brincando, como se quisesse abafar o assunto.

Natural de Veranópolis (RS), adoraria voltar para a cidade natal. Até já comprou um apar-tamento. Os filhos e o marido não querem. Marilza casou vir-gem aos 24 anos com o jornalista Ari Lazzari, dez anos mais velho. Com 25 anos, já lecionava há seis, e então começou a escre-ver uma nova página: mudou-se para Joinville acompanhando o marido, que trabalhava no jornal A Notícia. Após 13 anos pagan-do aluguel, o casal comprou uma casa própria. “Tudo aquilo que nós temos foi com muito sacrifí-cio”. É católica, mas acredita na teoria evolucionista: “Vou contra a minha religião”.

Nas recordações, a infância pobre. “Eu não tinha nem borra-

cha. Apagava com a borrachinha do conta-gotas”. Morava com os pais, já falecidos, que eram agri-cultores, um irmão e três irmãs. O ferro de passar era elétrico, “mas se esquentava em cima do fogão à lenha”. Com o dever de lavar ou secar a louça, a menina, que so-nhava em ser secretária, ia para a “casinha” (a latrina) e ficava lendo. Apanhava muito por cau-sa disso, principalmente da mãe. E como! Na época, só tinha aces-so aos livros da escola e à Bíblia, além dos livrinhos de histórias, presentes da vizinha que os trazia de Porto Alegre.

“Sempre procurei ser capricho-sa, fazer as coisas com perfeição”. Morria de medo que a mãe con-versasse com a professora e ouvis-se alguma queixa. Hoje, pós-gra-duada em zoologia, confessa que odeia História. Nunca gostou. De 5ª a 8ª série, estudou essa disci-plina em um livro grosso, de capa amarela. Nas provas, a professo-ra de Marilza mandava os alunos escreverem as causas e as con-seqüências do assunto. “Mas ela nunca me explicou o que era uma causa e uma conseqüência”.

Rosimeri Back

Perfil

Abnegação: com 33 anos de magistério, professora Marilza chegou a

lecionar diariamente em três períodos

Foto: Patrícia Debortoli

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