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Ética: ciência prática de uma teoria das virtudes Profª Monika Picanço Autora do livro “Redescobrindo o Ser Ético: Sociedade sem Valor é Ser Humano sem Amor”

Ética: Ciência prática de uma teoria das virtudes. Excerto do livro "redescobrindo o ser ético: sociedade sem valor é ser humano sem amor", de Profª Monika Picanço

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Ética: ciência prática de uma teoria das virtudes

Profª Monika PicançoAutora do livro

“Redescobrindo o Ser Ético: Sociedade sem Valor é Ser Humano sem Amor”

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A Humanidade conseguiu inúmeros avanços no século XX. Chegamos ao século XXI, podendo, através dos progressos da cibernética, conversar em tempo real com alguém do outro lado do planeta; ao controle do átomo, realização de transplantes, clonagens, conquistas espaciais com satélites e naves, fibra ótica, robótica etc.

Em contrapartida, não temos respostas para questões relacionadas à fome, à violência, à corrupção, à degradação e exploração do meio ambiente, à falta de respeito com outras formas de vida e para com os semelhantes.

A libertação do homem em decorrência do progresso técnico-científico não ocorreu como se esperava.

Há uma necessidade urgente de um renascimento dos valores éticos e morais para que a sociedade retome seu eixo.

Para isso, é fundamental o entendimento da Ética e sua interrelação com a moral, Direito, cidadania, Filosofia e Teologia.

É preciso que haja um renascimento, um REDESCOBRIR DO SER ÉTICO.

“Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus “. (João 3.3.)

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” (Rui Barbosa)

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Ética e Moral - próximas, mas distintas: conceito de Ética

Ética vem do grego ethico, que se origina em ethos, que significa caráter, forma de ser. Ética significa, pois, as coisas referentes ao caráter. Peter Drucker: “o caráter e a integridade, por si só, nada realizam. Mas sua ausência aniquila tudo o mais”. A palavra moral, originalmente em latim moralist, como adjetivo, e mos, morés,substantivo, nos leva à moralidade, que tem a ver com a ação de seu ego, self ousujeito que relaciona a sua ação com a ação dos outros. A moral é individual,enquanto a ética é a moral pensada, mas na prática. Embora as pessoas, algumas vezes, considerem "ética" e "moral" como sendo virtudes

sinônimas, tecnicamente, há uma diferença entre as duas. Ética é uma disciplina normativa, que procura prescrever obrigações para a humanidade. Ela tem a ver com o que uma pessoa "deve" fazer. Ética é uma questão de autoridade. Moral, por outro lado, descreve o comportamento padrão de indivíduos e sociedades, isto é, o que as pessoas fazem. A ética de alguém deve determinar sua moral.

Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.) afirmava que o homem é um ser feito para aconvivência social e já se preocupava com a Ética, a ciência dos costumes. Para ele, ohomem é ser racional e seu sumo bem não se realiza na vida individual; todos concordamque o fim último é a felicidade, mas discordam quanto à sua essência. Muitos colocam afelicidade ou no prazer ou na honra ou na virtude. Para o filósofo, conquistamos avirtude com o exercitar-nos em atos virtuosos. Para Miguel Reale, “as leis éticas, ou melhor, as normas éticas, não envolvemapenas um juízo de valor sobre os comportamentos humanos, mas culminam na escolhade uma diretriz obrigatória numa coletividade”.

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Certa vez, uma mãe levou seu filho pequeno até Ghandi, dizendo: “Ghandi, meu filho come açúcar demais e isso é ruim para os dentes dele. Por favor, diga-lhe que pare”.

Ghandi pediu gentilmente que a mulher voltasse dali a duas semanas com o menino e quando ela o fez, Ghandi olhou o menino nos olhos e disse: “você não deve comer tanto açúcar, faz mal para os seus dentes”.

A mãe, muito feliz, agradeceu o mestre e já saindo com seu filho, voltou-se e perguntou: “mas, por que o senhor simplesmente não lhe disse isso há duas semanas?”. E Ghandi respondeu: “porque há duas semanas eu ainda comia açúcar”.

Na vida, há uma distinção entre uma resposta e uma reação. A reação é instantânea, repleta de emoção, desprovida de um pensamento direcionado e consciente e a resposta é uma conduta mais ponderada porque é dirigida mais pela razão e pela reflexão e menos pela emoção. A reação não leva em conta as consequências, ao passo que a resposta é determinada pela reflexão sobre as consequências.

Atualmente, nosso País e o mundo precisam mais de respostas e menos de reações.

O conceito de Ética está intimamente ligado ao de moral, a crise da humanidade é uma crise moral. A crise moral é a própria falta de referência de valores básicos de orientação de comportamentos. A Ética é seu remédio. Embora em sua origem, Ética e moral se assemelhem – “ethos”, em grego, e “mos”, em latim, significam “costumes” -, Ética é a ciência dos costumes, a moral é o próprio objeto dessa ciência.

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Ética como ciência: “Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”(Vasquez)

Enquanto ciência tem objeto e leis próprias, racionalidade, método e caráter empírico, pois observa e extrai dos fatos morais os seus princípios.

A Ética leva o Homem à sua finalidade principal: fazer o bem. A humanidade, em sua crise, desvia-se de sua finalidade e a Ética é sua bússola. Esta diferencia o quese pode fazer daquilo que deve ser feito, pois nem tudo que é possível é ético, temvalor ou é para o bem. Segundo Rafael Gomez Peres, “Ética é a parte da filosofia que estuda a

moralidade dos atos humanos, enquanto livres e ordenados a seu fim último” . A Ética impõe normas de conduta, com valor e noção de dever, pois se diferencia de um simples preceito para obtenção de facilidades. Essas normas distinguem-se de leis naturais. A lei natural não deixa ao indivíduo a possibilidade de transgredi-la, de desviar-se dela, enquanto a Ética estabelece normas de dever, dirigindo-se a seres com liberdade para cumpri-las ou não.

Porém, o fato de a norma poder ser violada, não tira sua eficácia, pois há sempre aquele disposto a cumpri-la. E é do individual que se parte para o ambiente social. Para Aristóteles, “o homem é um ser social e o bem é o objeto de todas as aspirações do homem”.

“Comportar-se bem é agir de acordo com o ‘logos’ (retidão da consciência). O uso correto da inteligência conduz ao Bem. E o Bem conduz ao Belo e ao Justo. Todo este mundo é ideal, algo para o que tudo deve se dirigir, mesmo que não alcance. O autêntico sábio é aquele que busca o ideal e se erra, retifica.”(Platão).

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Moral: relativa ou absoluta? A Ética provém da observância da moral. A norma ética estabelece condutas à moralidade. Para a efetiva credibilidade da norma ética, faz-se mister o entendimento: é a moral absoluta (objetiva) ou relativa (subjetiva)? Como nas ciências filosóficas, humanas e sociais, tudo é relativo, há, pelo menos, duas correntes depensamento. Para a posição absoluta e apriorista, “os valores não se criam nem

se transformam; se descobrem ou se ignoram” . A Ética dá, então, condições ao Homem para se afinar com esses valores, descobrindo-os; ele não os cria. Seria moral aquilo que dá ao Homem a sensação de sentir-se bem após determinada ação. Como se tivesse uma bússola natural que o guiasse ao discernimento entre o certo e o errado.

Já a teoria relativista e empirista remete à tese subjetivista, postulando que a criação de valores acontece por vontade dos Homens. As normas são convencionais (estipuladas) e mutáveis, existindo várias normas, ao longo do tempo.

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Classificação da Ética

Adotando-se a classificação de Eduardo Garcia Máynez, a Ética divide-se em: ética

empírica, ética de bens, ética formal e ética valorativa.

Essa classificação é de caráter didático. Haja vista as diversas classificações existentes e

a interpretação entre os vários tipos. Na Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã

(ELWELL, 1992), encontramos quatro tipos de Ética: Ética Bíblica, Ética Sexual, Ética Situacional e

Ética Social. Na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, do Ph.D. R. N. Champlin (2004),

encontramos tópicos, como A Ética Pré-Socrática, A Ética de Platão, A Ética de Aristóteles, Ética

Utilitarista, Ética de Emanuel Kant, A Ética Teísta — incluindo Novo Testamento —, A Ética de Jesus

e Ideias Éticas na História da Filosofia. Ainda há tópicos sobre Ética Babilônica, Ética Católica, Ética

Cristã, Ética da Ação, Ética da Situação, Ética Dialética, Ética Dispensacional, Ética e Ciência, Ética

Existencialista, Ética Médica, Ética Patrística, Pessoal, Profissional, Puritana e Teológica. Vê-se que

Ética é um campo vasto de estudo para as Ciências Humanas. Este trabalho não se propõe a esgotar

assunto inesgotável, mas apenas lançar a semente para um pensar e um reagir ético, perante o caos

antiético que envolve nossa sociedade.

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Classificação da ÉticaÉtica empírica, relativista ou subjetivista: O empirista não defende a verdade (ou a moral) absoluta. Para Kant, a ética empírica

deriva seus princípios da observação dos fatos, indo de encontro à filosofia pura, fundada em

princípios racionais. Como, pelo relativismo/subjetivismo, a moral é mutável e convencional (de acordo com época e lugar), o

bem e o mal são também relativos. Aquilo que é bom para uns, em um determinado tempo e lugar, pode ser mau para outros, em outra época e lugar.

Isso leva a uma descrença absoluta e ao ceticismo (doutrina filosófica dos que duvidam de tudo e afirmam não existir a verdade que, se existisse, seria o Homem incapaz de conhecê-la)

Subdivisões da Ética empírica, relativista ou subjetivista:

Ética Anarquista: repudia toda norma e todo valor. Para os anarquistas, todo convencionalismo é fruto da ignorância, da maldade e do medo. É assim, uma doutrina individualista, pois cada indivíduo tem uma vontade. Prevalece a “lei do mais forte”. O anarquista busca também seu prazer acima de tudo (hedonismo). Até pratica o bem, faz para se sentir confortável consigo mesmo (oposto ao altruísmo). Divide-se em: anarquismo individualista e anarquismo libertário ou comunista. Ambos defendem a liberdade suprema do indivíduo e a extinção de toda organização política da sociedade. Segundo as duas correntes, até a ordem jurídica deve ser combatida. Porém, a liberdade já constitui um direito. Sem normas, como assegurá-la? Toda comunidade necesssita de regras básicas.

Ética Utilitarista: No utilitarismo, é bom o que é útil. A conduta útil, desejável, é aquela que observa a utilidade de determinado instrumento, enquanto esteja de acordo com sua real finalidade. John Stuart Mill (1806-1873), difusor do utilitarismo, tendo como mentor Jeremy Bentham (1748-1832), ensina que o objetivo da ética é a maior felicidade do maior número de pessoas, Mill afirmava que a felicidade é o fim desejável e que todas as outras coisas são desejáveis como meios para atingir essa finalidade.

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Classificação da ÉticaÉtica Ceticista: para José Renato Nalini, citando Eduardo Garcia Máynez: “cético não é

o que nega, nem o que afirma, senão o que se abstém de julgar” . A dúvida do cético

não é a dúvida que leva ao conhecimento, mas a dúvida daquele que não julga porque

não sabe. A dúvida, utilizada como método, é pausa transitória contra o equívoco. Busca

atingir a certeza. Não é a postura cética. É uma dúvida temporária. Os céticos se valem da dúvida

sistemática. Falham em pensar que duvidam de tudo, pois isso já é uma certeza: acreditam que

duvidam de tudo. Não duvidam que têm dúvida! A dúvida acaba por paralisar a ação.

Não se sabendo o que é certo ou errado, nada se faz. Não se toma uma atitude.

Os próprios céticos não pregavam o ceticismo absoluto. Aceitavam algumas regras para alcançar relativa felicidade: seguiam as indicações da natureza; cediam a impulsos passivos como comer, ao se ter fome e beber, quando se sente sede; submetiam-se às leis e costumes de seu País e pregavam a não-inatividade e o cultivo das artes. Portanto, acreditavam em normas de conduta e na necessidade da moral.

Ética Subjetivista (propriamente dita): O individualista parte da premissa de que a verdade não é absoluta: cada indivíduo acredita na sua verdade, pois o que é verdadeiro para um, pode ser falso para outro. Essa teoria conduz ao agnosticismo, “doutrina que afirma a impossibilidade de conhecer a natureza última das coisas”.

Porém, se assim o fosse, não teríamos, na sociedade, condutas reprováveis, pois tudo o que fosse bom, verdadeiro e justo, assim o seria para todos.

Isso leva a uma descrença absoluta e ao ceticismo ("doutrina filosófica dos que duvidam de tudo e afirmam não existir a verdade que, se existisse, seria o Homem incapaz de conhecê-la")

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Classificação da Ética A moral passa a ser estipulada arbitrariamente. Nada é absolutamente bom. Aquilo que

tiver utilidade em determinado momento e lugar será conveniente e benéfico à sociedade e ao

indivíduo. A moral iguala-se ao útil.

Como ensina José Renato Nalini - "a moralidade intrínseca de um ato independe dos juízos estimativos sobre ele. O que é bom é bom em si, seja ou não assim considerado". Portanto, o relativismo absoluto não pode servir de base para relações humanas.

ÉTICA DOS BENS, FILÓSOFOS GREGOS E ÉTICA KANTIANA

O bem supremo para os seres humanos é serem capazes de qualquer coisa para que se tornem os primeiros em todas as suas atividades. O supremo bem da vida consistirá na realização do fim próprio da criatura humana. Quando se defronta com um bem que não pode ser meio de qualquer outro, então esse é o bem supremo.

ÉTICA DOS BENS

Ética, em busca da Felicidade, do Bom e do Belo

Eudemonismo deriva de eudemonia, em grego, felicidade. Para os filósofos gregos da Antiguidade, a felicidade já nasce com o homem. Constitui um fim que não possui caráter de meio. O eudemonismo é um sistema ou teoria filosófica-moral, segundo a qual o fim e o bem supremo da vida humana é a felicidade.

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Classificação da ÉticaJÁ O QUE VEM A NOS IMPORTAR DIRETAMENTE, POIS SE LIGA À ÉTICA E A MORAL

CRISTÃS, É O CHAMADO IDEALISMO, QUE FAZ PARTE DA ÉTICA DOS BENS. Define-se como toda doutrina ou atitude segundo a qual o mais importante nas

ações humanas são as idéias, realizáveis ou não, mas quase sempre imaginadas como

realizáveis. Nesse sentido, contrapõe-se ao realismo, entendido como a doutrina ou atitude

segundo a qual são as realidades e os fatos que devem reger as relações humanas. Esse é o

sentido do idealismo ético e político. Apesar de só ter sido explicitamente elaborado como doutrina filosófica, a partir do fim do

século XVIII, o idealismo remonta a sua origem à filosofia de Platão que, pela primeira vez na história do Ocidente, pensa a realidade através da separação (chórismos) entre matéria e espírito: a matéria corresponde ao que nos é dado através da sensibilidade e o espírito, ao que é proveniente da idéia inteligível do pensamento. A Ética Platônica relaciona-se com conceitos metafísicos epistemológicos, políticos e psicológicos, sobre os quais se apóia. Para Platão, conhecer é recordar o que já se sabia. A alma é imortal. Após a morte, esta liberta-se de todas as impurezas da matéria. Na ética platônica, há relação entre as partes da alma e a doutrina das virtudes. Cada uma das partes da alma tem função especial e virtude própria. A inteligência corresponde à sabedoria; a vontade, ao valor; os apetites, à temperança. São virtudes que atuam em coordenação e cuja harmonia constitui a justiça. A justiça é, para Platão, a harmonização das atividades da alma e de suas respectivas virtudes. A moral não é adquirida e praticada individualmente, mas na coletividade. O estado não é somente organizador de poder, mas cabe a ele a formação espiritual, conduzindo os indivíduos a realizarem o valor do bem, tornando-os felizes.

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Classificação da ÉticaJá o traço fundamental do idealismo é pressupor corno fundamento do conhecimento não

as "coisas do mundo externo", os objetos, mas o que foi caracterizado como o "eu“

"sujeito", a "consciência", isto é, a "Idéia" (também pensada corno espírito ou forma).

Todavia, apesar de o idealismo remontar ao pensamento platônico, é Kant, em sua Crítica da Razão Pura (1781) quem vai definir e, assim, caracterizar o pensamento idealista. Esta caracterização, que o próprio Kant chamou de a revolução copernicana da filosofia, consiste na tese de que só há conhecimento ontológico daquilo que a razão coloca previamente nas coisas. Segundo ele, progride‑se nas tarefas da metafísica, admitindo que os objetos tenham que se regular pelo nosso conhecimento. Assim, das coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocarmos nelas.

Esta tese kantiana, de que só podemos conhecer o próprio pensamento nas coisas, é que vai fundar o mais importante movimento filosófico idealista, conhecido historicamente como o "Idealismo alemão". Pode‑se indicar, em geral, como o elemento característico das grandes doutrinas idealistas, a busca de um sistema unificador da totalidade do real, um pensamento que contenha a própria idéia do ser, o absoluto.

Se, como queria Kant, das coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos nelas, aumenta nossa responsabilidade com a Ética, seja de que maneira esta for encarada. Colocamos, então, nós mesmos os valores em cada objeto, seja ele ideal ou material.

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Classificação da ÉticaPara KANT, a significação moral do comportamento não reside em resultados externos,

mas na pureza da vontade e na retidão dos propósitos do agente considerado.

Afere‑se a moralidade de um ato a partir do foro íntimo da pessoa.

Kant quis provar a falsidade de qualquer doutrina moral de base empírica. Ele se baseava

na Lógica, Física e Ética.

Urna das sugestões do conceito de Kant seria a boa vontade, considerada ética do êxito ou a moral pragmática. A partir de Kant, só se considerava a atitude interior da pessoa.

Outro fator importante é o dos imperativos. Os fenômenos da natureza, que se originam de leis naturais, os fenômenos humanos, derivam de princípios. A determinação da vontade por leis objetivas chama‑se constrição. O que impera é o dever ser e divide‑se em categórico e hipotético. O imperativismo categórico generaliza uma conduta, enquanto o hipotético é uma escolha para que o indivíduo se beneficie.

Kant distinguiu máxima, como princípio subjetivo, a regra de acordo com a procedência do sujeito; e lei moral, como princípio objetivo, uma regra universal, a qual a pessoa deve conduzir‑se.

CHEGANDO A ESTE PONTO, TENDO SEU ÁPICE NA ÉTICA DE KANT, PODEMOS CHEGAR, FINALMENTE, À MORAL E ÉTICA CRISTÃS.

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MORAL CRISTÃ A civilização ocidental é conhecida como civilização cristã. Procede de valores do

cristianismo alicerçados na tradição judaica. Apesar de ser considerado um país laico  

sem religião oficial, segundo sua Constituição Federal de 1988, o Brasil é, sem sua maioria,

cristão. A fonte mais conhecida da moral cristã é a Bíblia, que nos passa uma ética religiosa, não só

nos dez mandamentos da lei mosaica, mas nos ensinamentos de Jesus. Nas questões e indagações

teológicas, destaca-se a mescla da Ética com a Moral, muito mais do que nas discussões

filosóficas. O cristianismo ensina que o amor é a mais importante das virtudes. “E Jesus disse-lhe:

amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu

pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:

amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os

profetas.” (Mt.22:35-38) Nomes significativos, dentro da Teologia e Filosofia, estudaram a Ética e Moral Cristãs, que são até hoje

pesquisadas por cristãos contemporâneos. SANTO AGOSTINHO ( 354 a 430 d. C). Como Tomás de Aquino, se inspira na filosofia de Aristóteles e será o

maior vulto da filosofia metafisica cristã. Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Os problemas que fundamentalmente o preocuparam foram sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação.

Para ele, todo homem busca a felicidade e se não a encontra, não é feliz, porém as coisas

materiais não trazem felicidade, só adorando a Deus encontra-se a verdadeira felicidade. O ponto da moral de Agostinho é o amor e a vontade. Sua tese: ama e faz o que quiser.

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MORAL CRISTÃ Segundo Agostinho, toda sociedade humana procura a paz. Agostinho considera a filosofia de forma prática, platonicamente, como

solucionadora do problema da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução

integral. Todo o seu interesse central está portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os

mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida. Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de conhecimento.

E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física,

do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta

vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus. No Verbo de Deus, existem as verdades

eternas, as idéias, as espécies, os princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres

criados; e conhecemos as verdades eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz

intelectual a nós participada pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação da reminiscência platônica, em sentido teísta e cristão. Permanece, porém,

a característica fundamental que distingue a gnosiologia platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica agostiniana, não bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.

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MORAL CRISTÃ Em sua época, Idade Média ( 476 d.C. a 1453 d.C.), muitos acreditavam que a Igreja

Era salvadora de todos, que viviam distantes da Igreja, ou seja, admitindo os mandamentos

do Estado, seriam pessoas desvalorizadas. Mas Agostinho passou, através de seu

contexto, uma visão diferente da predominante: nem todos os membros da Igreja serão

salvos, nem todos os cidadãos condenados, isso vai depender da moral de cada um. Já Santo Tomás de Aquino redescobriu o pensamento de Aristóteles e Platão, adaptando o à

doutrina cristã. Para Aristóteles, a Ética tem como fim descobrir o bem absoluto, que é o ponto máximo de

chegada. Chama o bem absoluto de felicidade, que tem que ser exercida constantemente pela virtude. A virtude tem que ser um hábito na vida dos homens, não basta praticá-la uma vez ou outra, tem que ser constantemente exercitada.

Para os dois, cada indivíduo tende a cumprir seus princípios, o objetivo de uma vida moral é alcançar a perfeição. A aproximação do homem com seu destino natural é chamado de bem moral.

Santo Tomás afirma que o homem tende a fazer o bem naturalmente, mas como enfrentar a questão da liberdade? Sua resposta é que, tendendo ao bem universal como fim, o homem tem pleno arbítrio para escolher os meios necessários a alcançar esse fim. Os meios necessários são bens particulares e específicos. Existe ainda a questão da verdade moral, que elimina a pluralidade da regra, sabemos que devemos fazer o bem e evitar o mal, que temos obrigações naturais, por exemplo, para com nossos familiares.

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MORAL CRISTÃ / ÉTICA CRISTÃ As relações entre a religião e a moral são postas por Tomás de Aquino da seguinte maneira: Deus é o legislador e os padres são os intérpretes da lei. A lei divina não deve ser considerada

injusta. Deus é o juiz supremo que tudo vê e controla todos os nossos atos. A noção de felicidade,

fundamental na filosofia grega, se transforma em noção de beatitude. À felicidade terrestre se opõe uma felicidade eterna, que deve determinar nossa obediência à lei de Deus.

Deus nos serve de modelo. Um Deus personificado. Deus amor, razão, luta eterna, onisciência. Ele conhece a solução para todos os problemas e devemos procurar esta solução, que é a única absolutamente válida. Diante da verdade divina, não há lugar para a tolerância, nem para o pluralismo.

“Quem segue uma bússola moral que aponta para a direção certa, independentemente de moda ou tendência, descobre harmonia e paz interior”. (Ted Koppel)

Ética CristãVide Rm. 13:8-14 Segundo definição do Dicionário de Ética, de Grenz e Smith, Ética Cristã é o estudo de como os

homens devem viver do modo corno foi informado pela Bíblia, pela tradição cristã e pelas convicções cristãs. A Ética Cristã tenta descrever como as convicções e os ensinamentos cristãos, concernentes aos relacionamentos de Deus com o mundo e, em particular, com os seres humanos, deve informar a concepção da vida moral e influenciar as escolhas morais.

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MORAL CRISTÃ / ÉTICA CRISTÃ Para entendermos a Ética Cristã, precisamos entender: Ética Teleológica. Por teleológica, entende‑se a lógica do telos, que significa 'fim' ou 'propósito, o dever ser, o vir a ser. Logo, como bem define Norman Geisler,

"na aplicação à ética (..) uma abordagem teleológica é aquela que ressalta

o fim ou o resultado da ação“. Em palavras mais coloquiais, "os fins justificam os meios". É uma ética pragmática de resultados. A teleológica ocupa‑se do dever por amor aos

resultados. Ética Deontológica. Por deontológica, entende‑se como a lógica do deon, que significa

'princípios', 'o que é devido', aquilo que é, o ser. Ainda segundo Geisler, a ética deontológica "depende de regras básicas mediante as quais se pode determinar o que é devido em qualquer caso específico, independentemente dos resultados" .

E com isso não afirma que ela não se preocupe com os resultados, absolutamente. A ética deontológica se preocupa "com o dever por amor ao dever". Também tal afirmação não coloca a ética teleológica como uma ética que não se preocupa com as regras.

O que leva um cristão a seguir conceitos pré‑estabelecidos é a Ética Deontológica, é a apropriação do que se sistematizou como hermenêutica bíblica e mesmo pela tradição cristã. O cristão procura seguir aquilo que está estabelecido como dever, como regra de fé e prática. Muitas vezes, o cristão é questionado por conta da rigidez como enxerga as coisas. Mas ele, teoricamente, não poderia aceitar a ética teleológica. Os resultados não podem definir suas ações.

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MORAL CRISTÃ / ÉTICA CRISTÃ Porém, a ética cristã em nossos dias está cada vez mais contextualizada. O que

antes era absolutamente proibido de se fazer, hoje é aceito e até recomendado. O cristão

continua com o sentido pragmático de seus padrões morais, mas já não tão rígido como antes.

Já debate, aceita analisar sua atualidade e com isso, cede espaço para mudanças. É bem verdade

que há ainda muitos pontos considerados intocados, mas quem pode afirmar que não o serão em

alguns anos? Neste período de pós‑modernidade, época de múltiplas informações e questionamentos,

conseguirá o cristão manter intocados seus pontos mais centrais? A resposta aos questionamentos pode ser positiva, nunca se sabe ao certo. No entanto, há questões que

são realmente o âmago de todo o ser cristão. Há questões muito fortes como a sexualidade (só para citar uma). Mas o que nos surpreende é verificar outros pontos que foram tão fortes no início do cristianismo e, ainda por muitos séculos, terem se tornado pontos irrelevantes em termos éticos. A caridade é um deles. É um aspecto dos mais intrigantes. Que a sociedade mudou, todos sabemos, mas o cristianismo também. A sociedade é mais individualista do que nunca, não se questiona, mas como pode o cristianismo ter se tornado tão egoísta, tão individualista e imediatista?

É a Ética Teleológica em profusão, a ética dos resultados, mas para piorar, dos resultados pessoais e individuais. Não foi esta a Igreja que Jesus de Nazaré inaugurou. Estamos longe deste ponto. Nossa ética manteve-se intacta em alguns pontos somente, o que muitas vezes é bom e saudável, mas em pontos que a igreja sequer reconhece que há pecado, o pecado social, erramos repetidamente.

Nestes casos, surgem as teologias como legitimadoras do continuísmo. Segundo o pensamento do autor Márcio Duran, por exemplo, em especial está aí a Teologia da Prosperidade, como “estatuto da insensibilidade, do egoísmo e da idiotice”. (essa é uma opinião do estudioso Márcio Duran).

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MORAL CRISTÃ / ÉTICA CRISTÃ Precisamos, por conta disso, repensar nossa Ética Cristã a partir da realidade

dos que mais sofrem, torná-la deontológica neste ponto, não nos deixando

levar por “canto de sereias”, e teleológica em busca de um resultado positivo

em favor de milhões de vidas, afinal, o valor da vida está acima de todos os valores universais, ou pelo menos deveria estar. Deveríamos agir como o fizeram os discípulos, que enviaram Paulo e Barnabé, mas não sem antes recomendar que ambos se lembrassem dos pobres, o que Paulo afirma que se esforçou por fazê-lo (Gálatas 2.10). (DURAN).

A REGRA DE OURO: AMAR É SEMPRE CERTO! Chegando à Ética Deontológica, do dever ser, chegamos também à Regra de Ouro do

Cristianismo. A atitude "viva e deixe os outros viverem" do mundo em relação aos cristãos e aos seus valores

continuou através dos anos 70 e 80. Mas, na última década do século vinte, caímos a um nível ainda mais baixo. A sociedade americana entrou num período que pode ser chamado de "era anticristã". Não é aquilo em que cremos que perturba os não‑cristãos hoje. Estamos sendo atacados por considerarmos que nossas crenças e valores são universais e por não aceitar os valores e estilos de vida escolhidos por outros, mesmo quando estejam em conflito com a Escritura. O mundo pergunta, cheio de ira, "Quem fez, de, vocês, cristãos, autoridade sobre o que é certo e errado para todos ?

No âmago do conflito estão os absolutos morais, porque os absolutos formam a base do que é certo ou errado. Todavia, nem todos aceitam a existência de absolutos hoje, e alguns que os aceitam não crêem que sejam universalmente aplicáveis.

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A REGRA DE OURO: AMAR É SEMPRE CERTO!

Pode um comportamento que era errado numa ocasião ou numa situação ser

certo em outra? É apropriado usar palavras como nunca e sempre ao discutir certo e

errado? Estas perguntas e as suas respostas são essenciais para a sobrevivência do

Cristão numa cultura cada vez mais anticristã. E elas são vitais para o estabelecimento das

bases da ética do amor cristão. Em épocas mais recentes, duas influências apoiaram a opinião de que vivemos num vácuo

moral, sem absolutos. Os antropólogos concluíram que muito poucos comportamentos humanos, se é que existe algum, são considerados errados por todos em toda parte. Roubar, mentir, enganar e trair são coisas consideradas erradas pela maioria das culturas, mas exceções foram observadas e comunicadas. Até mesmo tabus morais de longa data, tais como assassinato e incesto, são considerados certos por algumas tribos. Dificilmente algo aceito corno errado por um grupo de pessoas não é aceito da mesma forma como certo por outro grupo. Acrescente a este relativismo, aparentemente cultural, a relatividade científica do tempo e do espaço, proposta por Albert Einstein, e é fácil compreender por que as pessoas hoje se opõem à idéia dos absolutos universais.

A negação de que qualquer comportamento é absolutamente certo ou errado por si mesmo também fica evidente na ampla aceitação da Ética Situacionista, popularizada por Joseph Fletcher, nos anos 70. Para Fletcher, a moral não era estática, mas relativa a cada situação. Ele ensinou aos seus discípulos: "Em cada situação moral, faça o que o amor ditar". Parece maravilhoso, não é?

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A REGRA DE OURO: AMAR É SEMPRE CERTO!

Todavia, na mente de Fletcher, agir com amor não era algo absoluto, mas relativo.

Ele explicou que, em certas situações, o adultério é a resposta amorosa e roubar é o bem

maior. Até matar pode ser justificado em certas circunstâncias, segundo Fletcher. Nenhum ato

é intrínseca e absolutamente certo ou errado para todas as pessoas, em todo tempo e em todas

As circunstâncias. A moralidade pessoal é mais semelhante ao barro molhado do que ao

mármore; ela está sujeita a ser moldada e talhada pala ajustar‑se a cada ocasião. Grande parte da sociedade atual, de acordo com as descobertas antropológicas e a ética

situacionista, concorda em que não existem absolutos morais para governar o comportamento

humano Todavia, há uma inconsistência sutil e reveladora em tal negativa . Não é possível

negar os absolutos sem usar um absoluto. É como dizer: "Nunca use a palavra nunca" ou "É

sempre errado dizer sempre". Quando alguém insiste em que os absolutos não existem, essa

pessoa admite involuntariamente pelo menos um deles! Na verdade, não há meios de evitar os

absolutos. Einstein reconheceu que nem todas as coisas podem ser relativas. Ele pressupõe o

Espírito (Deus) absoluto, com respeito ao qual tudo mais é relativo. Afinal de contas, não faz

sentido dizer que A é relativo a B e C é relativo a D, a não ser que haja um padrão com respeito

ao qual A, B, C e D são todos relativos. Até a mudança é impossível, a não ser que exista uma

base imutável em relação à qual essa mudança possa ser medida. Os que negam a existência dos absolutos não podem afirmar que todas as coisas são

relativas a não ser que haja algum ponto imutável sobre o qual sua afirmação possa apoiar‑se.

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A REGRA DE OURO: AMAR É SEMPRE CERTO!

É insensato dizer que tudo é relativo, quando não se permite que até essa posição

seja também relativa. Na verdade, o relativista está firmado no pináculo do seu absoluto,

a fim de declarar que tudo mais é relativo. Se você acredita que tudo é relativo, então a sua crença em que tudo é relativo

também é relativa. Portanto, isso gera o resultado de que os absolutos podem, sim, existir, já que

“tudo é relativo”! É como dizer que “Deus não existe”. Para se crer em algo, esse algo precisa existir,

mesmo que hipoteticamente (em hipótese, em ideia, ao menos), senão porque afirmar “não creio

em Deus?”. Se você afirma isso é porque pensa, crê, que a contraposição “Deus existe” pode ser

verdadeira! A Verdade Absoluta é Universal Não Limitada. As diretrizes morais não podem ser alteradas para ajustar‑se a certas culturas ou lugares geográficos. Pelo

contrário, as pessoas e lugares devem mudar para ajustarem‑se ao que é absolutamente certo e errado. A Verdade Absoluta é Constante, Não Muda. Certo e errado são valores eternos. O que era certo era certo

no passado, é certo no presente e será certo no futuro. Uma regra para Todos Em sua obra Ética é o melhor negócio, John C. Maxwell menciona que educadores, filósofos, teólogos e

juristas, partes diretamente interessadas em Ética, transformaram a Ética em um assunto mais complexo do que é na verdade. Talvez seu pensamento seja um tanto quanto simplista, porém não se pode discordar, quando o autor afirma que acredita poder-se usar apenas uma referência na orientação de todas as decisões éticas que se precise tomar. Ela se baseia na Regra de Ouro, pensamento com o qual concorda este trabalho.

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UMA REGRA PARA TODOS A resposta à pergunta: “Como eu gostaria de ser tratado nesta situação?” é uma

referência de integridade em qualquer circunstância. Desde a antiguidade, a

Regra de Ouro, “Trate os outros do modo que você mesmo gostaria de ser tratado”,

tem sido uma referência moral. Pensadores gregos e judeus, Confúcio, Jesus, professores de

Ética, ensinaram esse princípio como uma regra fundamental da vida. Ainda segundo Maxwell , uma pesquisa demonstra as variações que existem da Regra de Ouro em

algumas religiões: Cristianismo: “Façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam”. Islamismo: “Nenhum de vocês é um fiel até que ame seu vizinho da mesma maneira que ama a si mesmo”. Judaísmo: “Näo faça a seu companheiro o que você considera odioso. Esta é toda a Lei; tudo o mais

é comentário”. Budismo: “Näo ofenda os outros com aquilo que ofende você”. Hinduísmo: “Este é o resumo do dever: näo faça com os outros o que você näo gostaria que lhe fizessem”. Zoroastrismo: “Qualquer coisa que lhe seja desagradável näo a faça com os outros”. Confucionismo: “O que você näo quer que façam a você näo faça com os outros”. Bahai: “E se teus olhos forem voltados para a justica, escolhe fazer por teu próximo o que escolherias fazer

por ti mesmo”. Jainismo: “Um homem deve caminhar tratando todas as criaturas como ele mesmo seria tratado”. Provérbio iorubá (Nigéria): “Aquele que usa um dardo para atingir um filhote de pássaro deveria

primeiro tentar fazer o mesmo consigo para ver como dói”.

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UMA REGRA PARA TODOS Está claro que a Regra de Ouro ultrapassa os limites culturais e religiosos, e é

adotada por pessoas de praticamente todas as partes do mundo. É o que há de mais

próximo a uma referência universal para a Ética que as pessoas podem encontrar. Na verdade, há apenas dois pontos importantes quando se trata de Ética. O primeiro é um padrão a

ser seguido. O segundo é a disposição de fazê-lo. O Instituto Josephson de Ética, organizacäo apartidária e sem fins lucrativos, que existe para incentivar a qualidade ética da sociedade, resume isso muito bem quando afirma:

“Ética está relacionada com o modo que enfrentamos o desafio de fazer a coisa certa quando isto significa pagar um preço maior do que aquele que estaríamos dispostos. Há dois aspectos da Ética. O primeiro envolve a capacidade de discernir o certo do errado, o bem do mal, e a propriedade da impropriedade. O segundo tem a ver com o compromisso de fazer o que é certo, bom e apropriado. Ética acarreta ação; näo é apenas um tema para se debater ou meditar a respeito.”(segundo Maxwell).

Salmo 1 1. Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no

caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2. Antes tem o seu prazer na lei do SENH0R, e na sua lei medita de dia e de noite. AMOR NÃO É UMA COISA QUE DEUS SINTA, AMOR É O QUE ELE É (JOYCE MEYER). “Quem não ama, não conhece a Deus, porque DEUS É AMOR!” (1Jo 4:8) “FALA-SE TANTO DA NECESSIDADE DE DEIXAR UM PLANETA MELHOR PARA OS NOSSOS

FILHOS E ESQUECE-SE DA URGÊNCIA DE DEIXARMOS FILHOS MELHORES PARA O NOSSO PLANETA” (Autoria desconhecida).

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UMA REGRA PARA TODOS “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para

que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas

para que o mundo fosse salvo por ele.Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto

não crê no nome do unigênito Filho de Deus.E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.”(Jo 3:16-21)

Pode haver amor maior? E esse amor, o que será senão a Ética, pela qual nos devemos guiar?

SOCIEDADE SEM VALOR É SOCIEDADE SEM AMOR!

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REFERÊNCIAS E BILIOGRAFIA

CHEUNG, Vincent. Questões últimas. Trad. Marcelo Herberts. Brasília: Editora

Monergismo, 2009. CRAMPTON, W. Gary e BACON, Richard E. Em direção a uma cosmovisão cristã.

Trad. Felipe Sabino de Araújo Neto. Brasília: Publicações Monergismo, 2009. GRENZ, Stanley J.; GURETTZKI, David; NORDLING, Cherith Fee. Dicionário de Teologia.

Edição de bolso. Mais de 300 conceitos teológicos definidos de forma clara e concisa.Trad.

Josué Ribeiro. 5a. reimpressão. São Paulo: Editora Vida, 2005. GRENZ, Stanley J.; SMITH, Jay T. Dicionário de Ética. Edição de bolso. Mais de 300 termos

definidos de forma clara e concisa. Trad.Alípio Correia de Franca Neto et all. São Paulo: Editora

Vida, 2005. MEYER, Joyce. Diga a eles que os amo. Trad. Guilherme Albergaria. Belo Horizonte:

Ministério Joyce Meyer, 2006. PICANÇO, Monika. Redescobrindo o ser ético: sociedade sem valor é ser humano

sem amor. 2. ed. São Paulo: LivroPronto, 2010.

Consultas on-line:

http://www.bibliaonline.com.br

Vários acessos.