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A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: uma análise de conceitos, limites e possibilidades 1 KOCHHANN, Andréa 2 RESUMO: Falar de interdisciplinaridade em tempos atuais requer um discurso sobre sua história, seus conceitos, seus limites e principalmente, as possibilidades que a mesma tem de aplicação nas práticas pedagógicas, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior. O sonho utópico da transdisciplinaridade se inicia na efetivação da interdisciplinaridade. A prática interdisciplinar não pode ser vista como modismo, mas como imprescindível frente as mudanças paradigmáticas da sociedade contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Utopia transdisciplinar. Possibilidade Interdisciplinar. Discussões. INTRODUÇÃO Interdisciplinaridade pode ser compreendida como um termo epistemológico aliado à ação, ou seja, resultado de uma ação. Tem origem europeia, sendo uma prática complexa. Por isso, surgem vários equívocos quanto seu conceito e formas de praticá-la. Contudo, há teóricos como Fazenda, Japiassú, Gusdorf, Santos e outros, que alegam haver possibilidades de sua compreensão epistêmica e de efetivação. Na verdade, alegam ser uma necessidade perante o processo ensino- aprendizagem. Vislumbrando a compreensão conceitual e a possibilidade de sua aplicação no cenário educativo, se torna interessante um discurso quanto a sua origem no Brasil e para isso é preciso realizar um recorte na sua história mundial. A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: uma discussão histórica O movimento interdisciplinar que objetiva iniciar uma nova visão de universidade e de escola, surge na Europa, por volta da década de 60, momento de muitos movimentos estudantis. Esses movimentos tinham como intuito romper a educação fragmentada, ou seja, acabar com a educação por migalhas, termo esse usado pela estudiosa Ivani Fazenda. A educação por migalhas aparece como sendo a forma que tratavam a educação, ou seja, as ciências humanas. Os estudantes e os professores, tanto de escolas quanto de universidades buscavam um reconhecimento das ciências 1 Artigo elaborado para a conferência de abertura da V Semana de Pesquisa e Extensão da UEG – Morrinhos com o tema Ensino, pesquisa e extensão: os desafios da inter e transdisciplinaridade, em 2013. Teve como base um projeto de pesquisa intitulado “A interdisciplinaridade: o paradigma holístico e a alteridade como alicerce dessa prática”, realizado em 2011. 2 Pedagoga. Mestre em Educação. Pesquisadora. Extensionista. Dedicação Exclusiva da UEG. Gerente de Extensão.

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A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: uma análise de conceitos, limites e possibilidades1

KOCHHANN, Andréa2

RESUMO: Falar de interdisciplinaridade em tempos atuais requer um discurso sobre sua história,

seus conceitos, seus limites e principalmente, as possibilidades que a mesma tem de aplicação nas

práticas pedagógicas, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior. O sonho utópico da

transdisciplinaridade se inicia na efetivação da interdisciplinaridade. A prática interdisciplinar não

pode ser vista como modismo, mas como imprescindível frente as mudanças paradigmáticas da

sociedade contemporânea.

PALAVRAS-CHAVE: Utopia transdisciplinar. Possibilidade Interdisciplinar. Discussões.

INTRODUÇÃO

Interdisciplinaridade pode ser compreendida como um termo epistemológico aliado à ação,

ou seja, resultado de uma ação. Tem origem europeia, sendo uma prática complexa. Por isso,

surgem vários equívocos quanto seu conceito e formas de praticá-la. Contudo, há teóricos como

Fazenda, Japiassú, Gusdorf, Santos e outros, que alegam haver possibilidades de sua compreensão

epistêmica e de efetivação. Na verdade, alegam ser uma necessidade perante o processo ensino-

aprendizagem. Vislumbrando a compreensão conceitual e a possibilidade de sua aplicação no

cenário educativo, se torna interessante um discurso quanto a sua origem no Brasil e para isso é

preciso realizar um recorte na sua história mundial.

A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: uma discussão histórica

O movimento interdisciplinar que objetiva iniciar uma nova visão de universidade e de

escola, surge na Europa, por volta da década de 60, momento de muitos movimentos estudantis.

Esses movimentos tinham como intuito romper a educação fragmentada, ou seja, acabar com a

educação por migalhas, termo esse usado pela estudiosa Ivani Fazenda. A educação por migalhas

aparece como sendo a forma que tratavam a educação, ou seja, as ciências humanas. Os estudantes e

os professores, tanto de escolas quanto de universidades buscavam um reconhecimento das ciências

1 Artigo elaborado para a conferência de abertura da V Semana de Pesquisa e Extensão da UEG – Morrinhos com o tema Ensino, pesquisa e extensão: os desafios da inter e transdisciplinaridade, em 2013. Teve como base um projeto de pesquisa intitulado “A interdisciplinaridade: o paradigma holístico e a alteridade como alicerce dessa prática”, realizado em 2011.

2 Pedagoga. Mestre em Educação. Pesquisadora. Extensionista. Dedicação Exclusiva da UEG. Gerente de Extensão.

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humanas por excelência e não apenas como sobras ou restos teóricos. Por isso Fazenda (1999)

apresenta que na época a educação era trabalhada como, com e por migalhas.

A crítica levantada em relação à educação por migalhas, pode ser identificada com alguns

outros termos idealizados nessa mesma época, em vários lugares do mundo, como a chamada

Educação Bancária, que Paulo Freire criticava, quando dizia que o homem precisa deixar de pensar

fragmentado e ver o mundo dividido e os conhecimentos separados e engavetados, sendo necessário

aprender a ler o mundo em sua totalidade.

Também é possível aliar ao discurso de George Gusdorf sobre a Agonia da Nova

Civilização, quando alega que a civilização atual passa por uma forte agonia intelectual com o

pensamento fragmentado devido práticas fragmentadas de ensino. Alegava também que a

civilização sairia dessa agonia quando reorganizasse a forma de ver e pensar o mundo, fazendo-o de

forma globalizada.

Outro teórico que apresentou discurso criticando a situação da educação enquanto

fragmentada, ultrapassada e desdenhada, foi Hilton Japiassu com A Patologia do saber, pois

alegava que a educação estava doente e que necessitava com urgência de mudanças significativas

quanto aos rumos da educação, já que seguindo os modelos elaborados e impostos à vários anos,

não sanaria a patologia educacional.

Perante esse quadro fatídico de questionamentos sobre a forma como a educação se

apresentava Edgar Morin, lança o discurso sobre a necessidade do Conhecimento Pertinente,

dizendo que o mesmo é condição para a sobrevivência humana e que somente seria alcançado após

transformações na forma de ver e agir na educação. Edgar Morin vai além apresentado que o

conhecimento pertinente é fruto da Teoria da Complexidade, mostrando que o pensamento do ser

humano é complexo e que para tanto precisa ser trabalhado neste viés.

É possível alegar que não somente países europeus, como a França e a Itália, refletiam sobre

a educação, mas também no Chile e no Brasil. Visto que os autores supracitados residiam neste

países e oficializavam suas teorias nos mesmos e que foi aos poucos se espalhando. Como já

afirmado, na década de 1960 ocorreu o movimento da interdisciplinaridade na Europa, que teve

repercussão no Brasil, ainda nesta década, porém de forma bem sutil. Assim, surge a

interdisciplinaridade defendida por Fazenda, num movimento contrário à educação por migalhas e à

educação bancária, como possibilidade de sanar a patologia do saber e a agonia da civilização,

proporcionando um conhecimento pertinente.

Já em 1970, a interdisciplinaridade aparece no cenário educacional brasileiro apresentando

necessidades de compreensão teórica, pois é interpretada como um modismo educacional, pois

muitos educadores passaram a se valer desta palavra sem os cuidados epistemológicos e sem a

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consciência das dificuldades de sua aplicação, segundo Fazenda (1999).

Para tentar esclarecer as controvérsias sobre a interdisciplinaridade e evitar que a mesma se

torne um modismo, Hilton Japiassú publica um livro, composto por duas partes, sendo uma teórica

e outra metodológica. Segundo Fazenda (1999, p. 24) “[...] a primeira na qual apresenta uma síntese

das principais questões que envolvem a interdisciplinaridade, a segunda em que anuncia os

pressupostos fundamentais para uma metodologia interdisciplinar.”.

Seu livro foi lançado em 1976, como reflexo de uma pesquisa de mestrado, com o título de

“Interdisciplinaridade e patologia do saber”, pois para o autor a educação de uma forma geral,

apresentava patologias e que a prática interdisciplinar poderia sanar as doenças que a busca pela

saber apresentava, caso fosse compreendida epistemologicamente e não apenas vista como

modismo. Japiassú foi quem fez a primeira produção teórica sobre interdisciplinaridade, junto a

outros estudos que vinham sendo realizados na Europa.

Embora nessa época a interdisciplinaridade não tivesse uma definição única e restrita de sua

teoria, é necessário um olhar atento da sua evolução nas últimas décadas, que tem como objetivo

explicitar as fases e as contradições do movimento, indicando as principais dicotomias

ciência/existência que emergem do assunto, segundo Fazenda (1999).

Os teóricos pesquisadores sobre o assunto falam na necessidade de superar essa dicotomia,

só assim poder-se-á superar a chamada crise das ciências ou das teorias, de modelo ou de

paradigmas. Na concepção de Fazenda (1999) para haver essa superação necessita do exercício da

interdisciplinaridade, compreendendo a dinâmica que é vivida por essa crise e o reconhecimento da

importância e os impasses a serem superados.

Ivani Fazenda começa a escrever sobre interdisciplinaridade, na década de 1970, como

reflexo de uma pesquisa de mestrado. Essa década foi indicada como a formação da estrutura

conceitual básica, que se preocupava em fundamentar explicação terminológica, pois, a necessidade

de conceituar era presente. A palavra interdisciplinaridade era de difícil decifração e pronunciação,

com isso esquecia a sua intenção maior que era a construção de um novo paradigma, de ciências, de

conhecimento, e a elaboração de um novo projeto de educação, de escola e de vida.

Fazenda (1999) desenvolveu esses estudos como uma pesquisa de mestrado, tratando mais

de aspectos conceituais do que metodológicos. A autora ainda analisou e investigou posições sobre

a interdisciplinaridade na época da Reforma de Ensino no Brasil, constatando um descaso, falta de

critério, de informação e perspectivas que subsidiavam a implementação do projeto reformista da

educação 1970.

Neste momento é relevante um breve recorte na política educacional brasileira. O Brasil tem

sua primeira lei educacional efetivada em 1961, por consequência de lutas vindas da década de 20 e

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30, principalmente como reflexo dos Manifestos dos Pioneiros da Educação de 1932. A lei 4024

criada em 1961, foi reorganizada em 1968 no que tange ao ensino superior. Enquanto que o ensino

de 1º e 2º graus só receberam modificações perante a lei em 1971.

Assim, coincide com os movimentos europeus que reivindicavam mudanças nas escolas e

nas universidades. O que os movimentos europeus solicitavam era uma mudança na conjuntura

prática e metodológica e o que aconteceu no Brasil, na verdade foram mudanças em termos de leis,

pois na prática as metodologias persistiram tradicionais.

Os educadores brasileiros dessa época veem a interdisciplinaridade como algo

desinteressante, não entendendo a grandiosa proposta interdisciplinar, a qual contribuiria muito para

o enriquecimento do conhecimento escolar. Assim, as reformas realizadas levaram ainda mais a um

esfacelamento da escola e das disciplinas, fazendo com que houvesse um reascender das chamas do

modelo tradicional.

Fazenda (1999) ressalta que foi lançado, em 1980, na Europa, um documento sobre a

aproximação das disciplinas, sabendo que a mesma não é somente uma síntese e sim a ação de

perguntar e duvidar para o maior desenvolvimento das disciplinas. Esse documento se intitulava

Interdisciplinaridade e Ciências Humanas que foi elaborado em 1983, por Gusdorf, Apostel,

Battomere, Dufremne, Mommsen, Morim, Palmari, Smimov e Ui.

Esse documento trata da ligação das disciplinas, e a forma que uma exerce sobre a outra

tanto no ponto de vista histórico ou filosófico. Faz-se uma reflexão sabre a dicotomia que

precisavam ser enfrentadas na época como teoria/prática, verdade/erro, certeza/dúvida,

processo/produto, real/simbólico, ciências/arte. Ponto elementar de um paradigma.

Enquanto isso no Brasil, na década de 1980, alguns idealizadores de uma nova proposta

educacional ainda vinham do tempo do silêncio. Termo usado por Ivani Fazenda, para demonstrar

os efeitos do tempo da ditadura militar, que havia acontecido entre a década de 60 e 80. O tempo do

silêncio se caracterizou pelo período em que pouco ou nada era permitido falar, cantar ou escrever.

Motivo qual levou pessoas como Paulo Freire ao exílio.

Depois de tudo isso, em 1990, o Brasil começa uma busca para construir uma teoria de

interdisciplinaridade, mas com caráter brasileiro. O principal objetivo dessa busca, segundo

Fazenda (1999) era levar o professor a perceber que é o sujeito da sua própria ação, relevando

aspectos que eram desconhecidos de si mesmo. Para a efetivação desse processo foi resgatado a

memória das práticas em sala de aula, que foi registrado e analisado, passando a construir uma nova

proposta, uma proposta interdisciplinar.

Ivani Fazenda junto com o seu grupo de estudo, pesquisava nesta época as mais variadas

formas de temática, como a alfabetização, pré-escola, formação de professores, para o 1º, 2º e 3º

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graus, a questão de conteúdos específicos, a arte, a estética, a ética, a educação do corpo, dos

sentidos e outros. Estudos esses ligados as práticas interdisciplinares que eram discutidos e

socializados de norte a sul do país. Buscando um projeto antropológico de educação.

A década de 2000, inicia-se a busca pela consolidação da interdisciplinaridade, no campo

conceitual, epistemológica ou até mesmo nas práticas pedagógicas. Para que haja essa consolidação

é necessário um rompimento paradigmática, ou seja, novas reformas, que não necessita ser

estruturais e sim reformas pessoais.

Não adianta novos prédios e novas leis, bem fundamentadas teoricamente, é necessário uma

nova postura, sendo essa holística e interdisciplinar. Por isso há a necessidade de uma mudança

continua na educação diante da necessidade interdisciplinar. Portanto, as quatro últimas décadas são

marcadas pela busca de uma nova visão da educação, que durante anos vem sendo cada vez mais

fragmentada. Fazenda (1999) junto com outros estudiosos sobre o assunto, vem levantando dados

sobre a interdisciplinaridade.

O discurso sobre os conceitos e as práticas da interdisciplinaridade, pode ser visto como um

fato recente. Pode-se dizer então que em 1960 foi a gestação da interdisciplinaridade, através de

movimentos que surgiram não só aqui mas por todo o mundo. Em 1970, marcado pelo o tempo de

silêncio, a interdisciplinaridade começa a ser explicado e acaba visando o modismo. A década 80, a

interdisciplinaridade veio com o intuito maior de explicação filosófica e sociológica. Já em 1990

expande as ideias sobre a interdisciplinaridade e finalmente em 2000 ainda há a luta para consolidar

a sua luta.

A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: uma discussão conceitual

Discutir a interdisciplinaridade perante a educação atual se torna algo necessário levando em

consideração às mudanças neste cenário. Por muito tempo as práticas dominantes foram de

conteúdos disciplinares isolados favorecendo a especialização cada vez mais. Assim, vislumbrando

uma ação interdisciplinar é preciso a priori conhecê-la para então praticá-la.

Existe alguns equívocos quanto a sua definição e que pode ser interpretada por alguns

estudiosos do assunto como multi, pluri e transdisciplinar. Outros estão preocupados com a forma

que ela se desenvolve, fazendo com que descaracterize sua concepção que é a do conhecimento

como um todo. Mas, com um aprofundamento teórico poder-se-á sanar os equívocos e perceber as

possibilidades de sua efetivação, pois é uma atitude ou ação emancipatória para futura

transformação, como salienta Fazenda (2001).

Visando compreender a interdisciplinaridade a partir do discurso de seus conceitos para

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esclarecer possíveis equívocos, far-ze-á uma análise inicial do que vem a ser disciplina. Zabala

(1998) alega que a ciência ao longo da história tentando compreender a realidade esfacelou o

conhecimento em disciplinas, especializando-as aponto de criar as gaiolas epistemológicas como

apresenta D’Ambrosio ( 2003 apud FAZENDA, 2008). Para o autor “São verdadeiras gaiolas

epistemológicas [as disciplinas]: quem está dentro da gaiola só voa dentro da gaiola, é não mais que

isso. Somos pássaros tentando voar em gaiolas disciplinares.”( p.115).

É preciso lembrar que a disciplina tem uma história de surgimento e evolução. Que no

século XIX ela surge com a formação das universidades modernas. Já no século XX com o

progresso da pesquisa científica ela se desenvolve. No século XXI, vê-se a necessidade de rever as

organizações disciplinares como um todo, algo que não seja fragmentado.

Pois, a organização disciplinar, segundo Morin (2007, p.40), faz com que ocorra o risco de

hiperespecialização do investigador, que gera um risco de coisificação do objeto estudado e, sendo

necessário uma abertura ou mudança nessa organização, visto que “A fronteira disciplinar, com sua

linguagem e com os conceitos que lhe são próprios, isola a disciplina em relação às outras e em

relação aos problemas que ultrapassam as disciplinas.”. Portanto, para Morin (2007, p.39) “Uma

disciplina pode ser definida como uma categoria que organiza o conhecimento científico e que

institui nesse conhecimento a divisão e a especialização do trabalho respondendo à diversidade de

domínios que as ciências recobrem.”.

O que se percebe é uma fragmentação do saber, onde não havia necessidade de interlocução

entre as disciplinas ou gaiolas. Contudo, é necessário analisar qual o valor de uma disciplina, visto

que a mesma oferece condições de aprendizagem. Pois, para Zabala (1998, p.142) “As disciplinas

têm o valor subsidiário, a relevância dos conteúdos de aprendizagem está em função da

potencialidade formativa e não apenas da importância disciplinar.[...] No caso dos modelos

disciplinares, a prioridade básica são as matérias e sua aprendizagem [...]”.

Isso mostra que a disciplina enquanto um campo restrito ou fechado do saber, por si só não

propicia o conhecimento necessário a realidade atual. Porém, o conhecimento que as disciplinas

oferecem são de extrema relevância para a compreensão do todo. A mudança está na forma de

perceber a relação existente entre os conteúdos de cada disciplina, ou seja, não se propõe anular as

disciplinas mas, deixar a fragmentação das mesmas e lançar rumo à uma visão globalizada.

Uma das formas para se compreender a visão globalizada pode ser vista quando analisado

que historicamente a educação passou por questionamentos quanto ao papel do aluno e das matérias

ou disciplinas. Um exemplo citado por Zabala (1998, p.146) são os centros de interesses de Decroly

e método de projeto de Kilpatrick, alegando que

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Os centros de interesse de Decroly, os quais, partindo de um núcleo temático motivador para o aluno e seguindo o processo de observação, associação e expressão, integram diferentes áreas do conhecimento. O método de projeto de Kilpatrick, que basicamente consiste na elaboração e produção de algum objeto ou montagem (uma máquina, um audiovisual, um viveiro, uma horta escolar, um jornal, etc.).

Concordando com o autor, Vieira (2010) alega que a imposição da disciplina mostrou suas

dificuldades já na primeira metade do século XX, o que propiciou educadores e pesquisadores a

falar da multi, pluri, inter e transdisciplinaridade.

A partir do conceito de disciplina e das relações entre as mesmas é possível dizer que a

multidisciplinaridade é o primeiro degrau para a superação da fragmentação disciplinar. A

multidisciplinaridade segundo Japiassú (1976) é caracterizada pela ação simultânea das disciplinas

em torno de uma temática, mas ainda está muito fragmentada, não havendo nenhuma ligação do

eixo temático com as demais disciplinas. Enquanto para Zabala (1998, p.143)

A multidisciplinaridade é a organização de conteúdos mais tradicionais. Os conteúdos escolares são apresentados por matéria independente uma das outras. O conjunto de matérias por disciplina é proposto simultaneamente, sem que apareçam explicitamente as relações que podem existir entre elas. Trata-se de uma organização somativa. Esta concepção é a adotada no bachillerato atual.

Para Morin (2007) a multidisciplinaridade pode ser conhecida como polidisciplinaridade ou

pluridisciplinaridade, constituído-se pela associação de disciplinas em torno de algo que lhe é

comum. Enquanto que Zabala (2002) alega que a multidisciplinaridade é forma mais tradicional de

organizar os conteúdos, sendo estes apresentados como matérias independentes, vindo então com

uma proposta de manifestar simultaneamente as relações que existem entre elas. Mas, define que a

pluridisciplinaridade é um pouco diferente da multidisciplinaridade, que Morin (2007) alega terem

o mesmo significado.

Para Zabala (2002) a plurisdisciplinaridade é a existência de relações complementares entre

disciplinas que sejam mais ou menos afins. É necessário uma contribuição mútua da história, e das

relações entre as diferentes disciplinas. Já Fourez (2001) descreve a pluridisciplinaridade como uma

prática que consiste em analisar as perspectivas de diferentes disciplinas sobre uma visão geral. Do

qual o seu contexto deve ter como objetivo a construção da representação de uma situação precisa.

Já a interdisciplinaridade se caracteriza pelo nível mais elevado das interações entre as

disciplinas. Zabala (1998) define a interdisciplinaridade como a interação entre duas ou mais

disciplinas, que pode ir desde a simples comunicação de ideias até a integração recíproca dos

conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, originando quase sempre um corpo

interdisciplinar. D’Ambrosio (2005, apud FAZENDA 2008) destaca o sentido da

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interdisciplinaridade como parte integrada e relacionada das diferentes áreas do conhecimento.

Behrens (2008) assevera que a interdisciplinaridade é uma atitude. Provocada por uma

posição de interconexões das disciplinas que devem se interrelacionar e desencadear uma interação

entre duas ou mais disciplinas. Concordando, Fazenda (2000 p.7) argumenta que a

[…] interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão. Exige, portanto, na prática uma profunda imersão no trabalho cotidiano.

Para autora a atitude deve está ligada ao exercício de uma ação, desde que essa tenha uma

intencionalidade conhecida. Pois penso, decido, e parto para agir, caracterizando a atitude. A atitude

está relacionada aos movimentos ocorridos na história de vida, vivências, desejos, conceitos,

crenças, ligados profundamente com a identidade profissional.

Já Fourez (2001) afirma que o conceito de interdisciplinaridade é o “contato

interdisciplinar”, que é a possibilidade de inferir pontos de vistas e métodos de uma disciplina para

outra. Morin (200, p.115) conceitua ressaltando que “[...] pode significar também troca e

cooperação, o que faz com que a interdisciplinaridade possa a vir a ser alguma coisa orgânica”.

Japiassu (2006, apud FAZENDA, 2008) ressalta que a interdisciplinaridade não é uma categoria de

conhecimento, mais deve ser entendida como uma ação, ou seja, uma atitude de ação. Sem ter a

ilusão que basta um contato entre as disciplinas para se ter a interdisciplinaridade.

Fazenda (2008) ainda ressalta que o mundo contemporâneo exige uma postura

interdisciplinar, onde o conhecimento haja junto as transformações contínuas da

contemporaneidade, junto a instituições de ensino, aos professores. E que com isso possa ser

elaboradas novas atitudes, caminhos, pesquisas, saberes, projetos, que busquem dar mais enfoque as

instituições de ensino e ao trabalho do professor. Fazenda (2008, p. 162) define a

interdisciplinaridade como

Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão. [...] a interdisciplinaridade pauta-se numa ação em movimento. Pode-se perceber esse movimento em sua natureza ambígua, tendo como pressuposto a metamorfose, a incerteza.

O movimento entre as disciplinas, deve ir mais além do que um dialogo disciplinar e se sim,

um ato de reciprocidade e troca, integração e vôo , a matéria e o espaço, a realidade e o sonho, o

real e o ideal, a conquista e o fracasso, a verdade e o erro, isso define Fazenda (2008), ainda afirma

que o aluno deve ser o protagonista da história e assim criando um relação de independência com a

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sociedade, ou seja, dando um suporte crítico na cultura dominante da sociedade, que vem de atos

opressores diante de escolhas precisas. E preciso uma libertação para que haja uma transformação

da realidade.

Na interdisciplinaridade há uma conexão, cooperação e diálogo entre disciplinas e

conhecimento. Para Piaget (2000, apud LUZURIAGA, 2001) a interdisciplinaridade é uma forma

de pensar, de se alcançar a transdisciplinaridade, portanto, o conhecimento nesse sentido é ir além

dos bancos da escola e do saber fragmentado. O que pode ser visto como utopia.

Para Zabala (1998) a transdisciplinaridade é o grau máximo de relações entre as disciplina,

ou seja um modo global. Favorecendo a unidade interpretativa, objetivando-se na construção de

uma ciências que explique a realidade sem parcelamento. Behrens (2008) também define a

transdisciplinaridade como uma atitude, que apresenta o grau máximo da relação e integração das

disciplinas, auxiliando assim, a junção de todos os conhecimentos para uma melhor compreensão da

realidade.

A partir de todas as definições e distinções sobre a multi, pluri, inter e transdisciplinaridade,

nota-se a fragmentação do conhecimento. O ideal para a educação nos dias atuais seria a

transdisciplinaridade. Não há como chegar ao ideal, a prática transdisciplinar, sem antes ter

incorporado no cotidiano uma postura interdisciplinar. A utopia do ideal passa pelo real.

LIMITES E POSSIBILIDADES DE PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES

Como não há uma definição precisa, a interdisciplinaridade deve ser compreendida, o que

caracteriza a prática interdisciplinar e o intencional que ela carrega conforme alega Fazenda (2001).

Paviani (2008), afirma que a interdisciplinaridade significa uma estratégia de flexibilização e

integração das disciplinas, quando integrada a produção de novos conhecimentos e no domínio do

ensino.

Da mesma forma que existem os objetivos da interdisciplinaridade também existem os

limites na execução da mesma. Portanto, existem vários limites mas, várias possibilidades de

execução da interdisciplinaridade. Pela concepção de Paviani (2008) podem ser apresentados oito

quesitos com o intuito de entender essa contradição, sendo eles: conhecimento epistemológico,

formação de professor, modalidade disciplinar, complexidade e emergência, ação e condição,

diálogo e troca, novas tecnologias e pesquisa.

No tocante ao conhecimento epistemológico é possível dizer, segundo o autor, que não pode

deixar a interdisciplinaridade como um modismo intelectual, que se vire apenas um arranjo entre as

disciplinas ou uma mera colaboração entre professores, transformando o conhecimento em uma

justaposição de atividades fragmentadas. É preciso ter um conhecimento teórico, a troca é

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necessária entre as disciplinas. O comprometimento das práticas interdisciplinares deve se

concentrar e comunicar ao das questões epistemológicas.

No tocante a formação dos professores, Paviani (2008), ao longo do suas análises afirma que

a prática interdisciplinar se efetivará a partir do domínio do conhecimento, ou seja, da especialidade

e da abertura para o diálogo com outras ciências. Este domínio científico e a dialogicidade acontece

em maior ou menor grau dependendo da formação cartesiana ou holística que o professor receber, e

da sua identificação com o processo metodológico dessas vertentes.

A modalidade disciplinar, segundo Paviani (2008) pode apresentar como limite levando em

consideração a sua rigidez, a superficialidade e uma falsa autonomia de cada disciplina, o que não

favorece a mudanças pedagógicas e contribui para a reprodução de conhecimentos. Assim, é preciso

que cada disciplina se interaja às outras, sendo flexível mas com rigor teórico e autonomia de

relacionamento com as demais áreas. Dessa forma é necessário analisar a modalidade de cada

disciplina pois se ela é rígida se torna um limite a interdisciplinaridade, se ela é flexível se torna

uma possibilidade.

Pode-se apresentar duas categorias epistemológicas sobre a interdisciplinaridade: a da

complexidade e a emergente, perante as possibilidades de um conhecimento de forma menos linear

e mais flexível entre causa e efeito. Sendo necessária uma organização para os cursos de graduação

e para o funcionamento da escola e das universidades com um caráter sistêmico das ciências.

Determinando ou indeterminando que cada ciência ou disciplina enquanto sistêmica esteja aberta a

produção teórica ao meio ambiente, às necessidades da sociedade e às condições atuais das ciências,

propondo um novo conceito de autonomia às ciências e as disciplinas, rompendo com os limites

disciplinares. Os limites apresentados são que as estruturas pedagógicas tradicionais não conseguem

acompanhar a ciência e a tecnologia atual e se torna cada vez mais emergente as mudanças visando

o desenvolvimento complexo do ser humano.

A ação e condição é outro quesito apresentado por Paviani (2008), como limite onde a

interdisciplinaridade não existe fórmula, nem conceitos que norteiam sua prática. De nada adianta

envolver integração de educadores, de disciplinas, se não existe a essência da interdisciplinaridade,

pois ela não pode ficar apenas no campo da intenção e desejos deve ser trabalhada, vivenciada para

um melhor resultado. As possibilidades é que as atividades interdisciplinares não se limitam e

justaposições e arranjos, que atinge as estruturas lógicas dos programas de ensino e de pesquisa.

Sendo uma categoria de ação não pode apenas se limitar no diálogo do conhecimento é preciso

praticá-la.

Diálogo, trocas e planejamento, segundo Paviani (2008), apresentam possibilidades de que a

interdisciplinaridade esclarece as interações entre conhecimento e realidade, ciências e cultura,

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tradição, tecnologia, manifestações sociais e históricas. Para que a especialização e fragmentação

seja vencida pela busca do saber e conhecer, é preciso um diálogo intelectual, com a tentativa de se

incorporar uma nova mentalidade científica. Uma maneira simples e eficaz de se fazer a

interdisciplinaridade é aplicando conhecimentos de uma disciplina em outra. Os limites

apresentados é a sistematização que limita uma disciplina, não havendo uma interação de uma

disciplina com a outra ou pela pesquisa.

Quanto à pesquisa, Paviani (2008) ressalta que olhar interdisciplinar dos projetos dependem

em grande parte de políticas administrativas e científicas, pois para ser um educador interdisciplinar

necessita-se de tempo, planejamento, dedicação, verba e outros. E, o que mais se percebe é que os

educadores não estão tendo tempo para dedicar aos estudos e posteriormente ao planejamento, e na

maioria das vezes não tem verba para investir em materiais que serão utilizados. Além disso, muitas

vezes pensam que as pesquisas não podem ser interdisciplinares o que é um ledo engano, pois para

Pimenta (1998, apud PAVIANI, 2008) ocorre um defasamento de informações entre os vários

especialistas.

São vários os limites, mas o educador interdisciplinar necessita reconhecer e aceitar que sua

prática já não mais atende as necessidades da sociedade e mudá-la, é imprescindível uma boa

relação entre professor e aluno, havendo reflexão e diálogo na construção do saber. Sua

conceituação segundo Fazenda (2008) não tem que ser a partir de uma forma prática, mais sim de

uma reflexão a respeito de sua atitude, que devem ser interdisciplinares.

PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES COMO UMA UTOPIA POSSÍVEL

Se a interdisciplinaridade exige uma nova visão de mundo, da realidade e sua proposta

maior é o todo, o seu objetivo maior é de dar oportunidade de criar elos entre o conhecimento e a

realidade. Mas não tirando ou diminuindo as especificidades das ciências, mas possibilitar um

envolvimento maior com o conhecimento, como afirma Paviani (2008).

Os objetivos da interdisciplinaridade são a ousadia, sabedoria, humildade, formação

continuada e vários outros. É necessário ter ousadia e sabedoria para executar os conhecimentos,

precisa ser humilde para ouvir e aceitar as ideias e opiniões dos outros e necessita também estar em

constante transformação no que tange a educação, pois um educador para ser interdisciplinar

necessita alçar voos altos, em busca do novo, para que a sua teoria seja sempre aliada a prática e

consequentemente a sua práxis será um sucesso.

A intenção maior da interdisciplinaridade não é de ensinar, nem aprender é o viver, exercer,

envolver as pessoas, as instituições num contínuo fazer. Como a interdisciplinaridade não se resume

apenas em intenção é necessário um debruçar hermenêutico para a consolidação da mesma, pois

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como afirma Fazenda (1999, p.35) “[...] Interdisciplinaridade não fica apenas no campo da intenção,

mas na ação, que precisa ser exercitada”.

Para que ocorra a Interdisciplinaridade como alicerce na produção do conhecimento é

necessário saber que “O aprendiz determina o próprio tempo de aprendizagem, ou seja, não segue

percursos programados pelo professor” (HOFFMANN, 2001, p. 40), com isso percebe-se que para

se tornar interdisciplinar é preciso primeiro, ter coragem, e depois o educador necessita desenvolver

sua curiosidade epistemológica e esta se desenvolvendo através da pesquisa, dedicação, persistência

e tolerância, segundo Japiassú (1976).

Para ser compreendida é preciso que ela seja um ato de troca, de reciprocidade entre todas as

áreas do conhecimento, então é preciso colocá-la em prática junto com seu fundamento sem medo

de errar. A interdisciplinaridade surge com o intuito de enriquecer a construção do conhecimento.

É preciso quebrar barreiras, com o desejo de inovar, de ir além, deixar de lado uma educação

fragmentada e trazer um conceito que envolva o todo, estabelecendo ligações em todas as esferas da

vida. Para quebrar essas barreiras é necessário identificar-se interdisciplinarmente, segundo Japiassú

(apud FAZENDA, 1999). Sendo preciso descobrir, tanto no nível da pesquisa quanto no ensino,

novas estruturas mentais, novos conteúdos e novas metodologias, tudo faz-se formar uma nova

inteligência.

O professor deve acreditar na utopia que cerca a interdisciplinaridade. Santos (2007) esse

termo deve ser compreendido no sentido de esperança, de sonho, e um horizonte possível, uma

educação que se estenda para além dos muros da escola e não se esqueça dos valores que os

currículos direciona a organização escolar.

Santos (2007) diz que há uma exigência de uma nova pedagogia, para atender as novas

expectativas sociais e políticas. E segundo Kochhann (2007) para que isso aconteça requer uma

sensibilidade dos professores ao perceber sua ação interdisciplinar para a elaboração de suas ações.

Ações que tenha um significado tanto para o aluno quanto para o professor, pois o professor é o

mediador da aprendizagem, com isso deve alicerçar sua atitude interdisciplinar em trabalhos

diferenciados.

A interdisciplinaridade vincula-se à atualização pedagógica na sala de aula, na escola, na

universidade e na complementaridade entre as disciplinas que compõem o currículo. E neste

momento, é de suma importância ressaltar que a elaboração de um bom currículo é muito válido,

pois o mesmo necessita superar o cartesianismo, pois a interdisciplinaridade visa romper com os

currículos cartesianos e colocar em prática o holístico.

No curso de formação de professores, onde são formados os profissionais da educação, esse

processo faz-se indispensável. Para que eles tenham uma formação interdisciplinar, é necessário que

se comece pelo planejamento institucional, pela organização curricular e pelo incentivo à pesquisa.

Page 13: Interdisciplinaridade   morrinhos

Fazenda (2008) ressalta que para falar em uma nova postura é necessário uma pesquisa

sobre as potencialidades nas práticas existentes e se os professores têm conhecimentos teóricos

ligados à prática interdisciplinar. Sendo preciso uma mudança e uma nova visão no que se diz

curricular, pedagógica ou didática, que requer uma profunda imersão nos conceitos da escola, ou

seja, da educação.

Quando se fala que a interdisciplinaridade é uma exigência da sociedade contemporânea, é

necessário a explicação desse processo, tanto no que se diz metodológico quanto teórico. Paviani

(2008) afirma que sem esse processo, não é possível haver a superação da dicotomia sociedade e

conhecimento, e tornando assim, um processo não linear da realidade empírica da sociedade, no que

se diz ao processo de investigação cientifica, com isso não é possível ter uma prática

interdisciplinar.

Sendo que a interdisciplinaridade é uma condição básica para a formação de um individuo

flexível e que se adeque ao exercício de novas profissões. Paviani (2008, p.59) afirma que “Uma

área do conhecimento tende a se construir a partir de uma certa autonomia teórica.”, ou seja,

atuação profissional atual tende a se construir a partir de mais de uma área teórica, pela busca de

novos conhecimentos.

Para que a atitude interdisciplinar possa ser internalizada mediante as práticas pedagógicas é

necessária uma nova postura. Não é algo simples e fácil, mas não é complexo à ponto de não ser

alcançada. É preciso que o educador se reconheça interdisciplinar pela angústia do tradicionalismo.

As atitudes interdisciplinares, na concepção de Kochhann (2007) devem se alicerçar na

ousadia da realização de trabalhos diferenciados, nas inovações de métodos diante das situações de

ensino-aprendizagem. O medo de arriscar e errar deve ser substituído pelas tentativas dos novos

saberes e práticas. Para que essas práticas se efetivem é preciso que haja engajamento de todos.

Com tudo isso, fica claro que a intenção do projeto interdisciplinar é de romper com a

fragmentação entre as disciplinas e contribuir para a construção de um conhecimento como um

todo. Portanto, é imprescindível que o professor reflita as suas ações, pois enquanto o ensino

cartesiano forma para o ensino e a técnica, a interdisciplinaridade se alicerça na pesquisa, por isso é

preciso um novo perfil de pedagogo, o que qual possua a interdisciplinaridade como alicerce de sua

práxis, visando assim a produção do saber.

O professor interdisciplinar é aquele que já não é mais cartesiano, e sim um professor que se

baseia na pesquisa, saindo daquela mesmice, instigando seu aluno a querer buscar sempre mais, a

pesquisar, a argumentar e com isso esse professor estará formando um cidadão crítico, reflexivo e

além de tudo um pesquisador, o que significa um cidadão formado por completo.

Por isso é preciso que os educadores tenham uma nova visão sobre a interdisciplinaridade,

colocando o modismo de lado e trazendo para a sua prática em sala de aula uma postura

Page 14: Interdisciplinaridade   morrinhos

interdisciplinar, para isso é preciso que os professores reflitam sobre suas ações. Ações essa que

deixa para traz o modo cartesiano-tecnicista, se alicerça na visão holística, que é a pesquisa, muda

sua postura didática, para uma nova identidade.

Discutir a identidade do professor é necessário analisar vários fatores e um deles são os

cursos de formação e a competência profissional do professor. Segundo Fazenda (1999, p. 31)

O professor interdisciplinar traz em si um gosto especial por conhecer e pesquisar possui um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos, ousa novas técnicas e procedimentos de ensino, porém, antes, analisa-os e dosa-os convenientemente. Competência, envolvimento, compromisso marcam o itinerário desse profissional que luta por uma educação melhor.

Mediante este comprometimento com suas práticas o professor pode ousar e buscar novas

metodologias de caráter interdisciplinar. Geralmente os professores dos últimos anos do Ensino

Fundamental e do Ensino Médio são especialistas em suas áreas de atuação e muitos se isolam no

seu campo teórico. O primeiro passo para uma nova prática é romper com essa concepção e

proporcionar um diálogo entre as disciplinas. Na visão de Fazenda (2003, p.61)

o ensino de história deve procurar cultivar valores, atitudes e hábitos que libertem o indivíduo do isolamento cultural ao qual a civilização ocidental o condenou. Nesse sentido, a história, vista sob perspectiva interdisciplinar, deve ser mais que simples ordenação seqüencial e manuseio de certos materiais para consulta, deve plantar a semente do futuro, enfim, por sua liberdade.

O professor precisa convidar o aluno a mergulhar na história para compreendê-la e perceber-

se agente de sua história para isso pode ser realizados mesas redondas, com debates, grupos de

estudos temáticos, análise de filmes, teatralização, análise de letras de músicas, elaboração de

artigos, rodas de conversas, elaboração de acrósticos e paródias e outras atividades que fogem do

cotidiano da sala de aula tradicional e discute os conteúdos da história obrigatórios no currículo,

porém de uma maneira holística.

A interdisciplinaridade também pode ser utilizada na área da geografia. Para Fazenda (2003,

p.62) “A geografia, vista interdisciplinarmente, ao lado das habilidades de descrever, observar e

localizar pode contribuir também para um processo de comparação que conduza a novas

explicações.”. Não é função da geografia apenas a descrição, como era vista paradigma cartesiano –

newtoniano. Mas, a geografia numa visão interdisciplinar holística, elabora perguntas, pesquisa,

busca respostas e desenvolve comparações entre realidades diferentes, colocando em dúvida as

verdades geograficamente estabelecidas. Para isso, o professor pode planejar viagem para o estudo

de campo, entrevistas, análise de documentários e documentos, construções de maquetes, debates,

análise de filmes, jornais televisivos e entre outros.

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Assim como a história e a geografia podem trabalharem de maneira contextualizada e

buscando apoio na oratória, na língua portuguesa, nas artes, a matemática também. Na verdade, a

matemática é uma forma de linguagem muito utilizada no cotidiano e que o professor precisa deixar

claro para seus alunos essa situação, para Fazenda (2003, p.62) “[...] ensinar matemática é, antes de

mais nada, ensinar a ‘pensar matematicamente’, a fazer uma leitura matemática do mundo e de se

mesmo.”.

Muitas escolas e professores fazem da matemática o terror da vida dos alunos, com listas de

exercícios com o tradicional siga o modelo e, para superar isso Moreira José (1999, apud

FAZENDA, 2008, p.89) alega que a matemática deve trabalhar com “desafios, construções

coletivas de mapas conceituais, escritas coletivas de histórias, projetos e jogos. Materializa-se uma

maneira concreta de aprender, mais dotada de sentido.”. Uma das atividades que podem ser

realizadas são visitas à supermercado para levantamento de preços e comparações entre

supermercados, com elaboração de dados estatísticos, análise de notícias jornalísticas que tenham

conteúdos matemáticos, análise de gráficos entre outras atividades.

A disciplina de ciências também pode ser trabalhada interdisciplinarmente para que as

crianças não percam a curiosidade que é nata delas e que aos poucos a escola acaba matando com as

práticas tradicionais. Segundo Moreira José (1999, apud FAZENDA, 2008 p. 90) “[…] a

interdisciplinaridade propõe a efetivação de um nova dinâmica nas aulas de ciências, desprendida

das seqüências estabelecidas linearmente por grande parte dos livros didáticos.”.

Assim como nas outras disciplinas o aluno deve se transformar em um cientista ou

protagonista das suas investigações e descobertas, fazendo com que a ciência se torne viva e mais

próxima de sua realidade. Portanto pode ser feito feiras de ciências, experimentos em laboratórios,

aulas de campo, estudos de texto com diferentes linguagens e outros.

Para Fazenda (2003, p.60) é emergente um trabalho interdisciplinar como forma de superar o

fazer pedagógico de muitas salas de aulas onde

O ensino da língua é empobrecido, restringindo-se ao formal. Educação artística e educação física não são mais obrigatórios; a comunicação torna-se sem expressão e a expressão sem comunicação; os livros didáticos garantem a memorização e as regras gramáticas “por elas mesmas” reprisadas em exercícios estéreis. O som, as mãos, as formas, as cores, os espaços, os materiais plásticos não fazem programação; as expressões são vazias, a linguagem desordenada, o corpo ausente.

A língua portuguesa é a base de todo processo de comunicação e de aprendizagem, pois para

se entender a história, a geografia, a ciências e a matemática e outras disciplinas, é necessário ter o

domínio da língua, saber produzir textos, ler nas entrelinhas, compreender a intenção do autor e

saber distinguir as concepções de escrita para que se possa além de escrever bem, comunicar-se

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oralmente bem. Assim, os professores independentes das disciplinas precisam dominar e ensinar a

língua portuguesa.

Esta competência deve ser de todos os envolvidos com o processo ensino- aprendizagem e

não apenas do professor de língua portuguesa. Mas este pode trabalhar de maneira contextualizada e

com muita prática oral e escrita, para que o aluno seja além de ator também o autor do seu

conhecimento. Não basta o professor ensinar os verbos, os adjetivos, os substantivos... se não

ensinar onde e como utilizá-los no seu cotidiano. E preciso ler jornais, revistas, gibis e não somente

livros didáticos e entre outras atividades.

Aqui realizou-se um esboço de uma possível realização interdisciplinar onde o pensamento

do aluno é convidado a buscar informações em outras disciplinas para a realização de sua tarefa, ou

seja, a forma mais simples de se fazer interdisciplinaridade na prática, onde o professor realiza um

planejamento e o executa, fazendo com que o seu aluno pense além dos muros da sua disciplina.

É preciso ir além desse fazer simples da interdisciplinaridade, onde dois ou três professores

se unem e elaboram uma atividade para que o aluno a execute, sendo que este necessitará do

conhecimento teórico das disciplinas que os dois ou três professores ministram. Um exemplo pode

ser a análise de um filme como “A História de Vida”, pois as disciplinas de língua portuguesa,

história e ciências podem explorar. Assim, o que é visto como utópico pode ser real.

O intuito deste trabalho é fazer com que as pessoas que tiverem acesso a ele (re)pensem as

suas práticas, e vejam que o simples pode ser feito e que é o começo para a busca do complexo.

Perceber-se interdisciplinar começa pelo (re)pensar das práticas. E esse movimento pode favorecer

a um aprendizado de melhor qualidade, onde os alunos poderão visualizar e contextualizar melhor

os conceitos e seu próprio mundo e quiçá alcançar a transdisciplinaridade.

CONSIDERAÇÕES

Difícil pensar em interdisciplinaridade, quando se foi acostumado durante décadas, pensar a

educação compartimentalizada, produto da escola tecnicista e da prática cartesiana. Fazenda (2001,

p. 22) aponta que a “Interdisciplinaridade é uma atitude, isto é, uma externalização de uma visão de

mundo que, no caso, é holística.”. É possível perceber nos discursos de Fazenda o toque da postura

holística como possibilidade para a efetivação da interdisciplinaridade, que não deve ser vista como

um mero método didático, mas sim como princípio básico para a produção do saber científico que

leva à transdisciplinaridade, que até o momento é algo utópico.

Como assevera Fazenda (1999), não adianta novos prédios, novas leis é necessário uma

nova postura didática e para isso é preciso aceitar as limitações existentes nas práticas, buscando o

conhecimento teórico e planejando para que as práticas possam ser diferenciadas e fugir assim da

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Educação Bancária de Freire (2009), das Gaiolas Epistemológicas de D´Ambrosio (2003 apud

Fazenda 2008), que configuram a Patologia do Saber segundo Japiassu (1976). Paviane (2008)

ressalta que a interdisciplinaridade significa uma estratégia de flexibilização e integração das

disciplinas o que segundo Costa Neto (2003) e Bherens (2008) ocorrerá mediante o paradigma

holísticos.

Conforme o documento elaborado 1983 e intitulado Interdisciplinaridade e Ciências

Humanas, mostra Fazenda (1999) que a interdisciplinaridade é a ação de perguntar e duvidar para o

maior desenvolvimento das disciplinas. Para isso os professores precisam realizar um planejamento

que propicie o aparecimento de dúvida que configure o diálogo, rompendo com fronteiras

disciplinares. Infelizmente, não foi percebido essa práticas pelas observações realizadas.

Muitos autores, inclusive, Fazenda (1999) asseveram que não existe uma fórmula ou receita

para a interdisciplinaridade, mas não pode ser apenas intenção. Sua condição existencial é ação e o

primeiro passo para isso é a reflexão por parte do professor sobre suas ações.

Deve-se criar metodologias interdisciplinares com os professores, do qual é o grande alvo da

interdisciplinaridade, pois os mais interessados deviam ser eles, que formam cidadãos. Finda-se

aqui as reflexões teóricas e metodológicas sobre a efetivação da interdisciplinaridade, mas não

finda-se o desejo de discutir sobre a temática.

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