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Libertação Das mentiras loucas que me envolvem Vou quebrando os liames 1 um a um E da angústia da libertação Nascerá um dia a paz Do ser e do não ser. Das mentiras vãs que me amordaçam 2 Os véus arrancarei a um e um Tristes despojos 3 dum passado velho Que em mim se quis perpetuar 4 . E deixarei um rasto de desilusões; Um caminho de lágrimas choradas; Um pouco do que fui em cada dia. Mas ficarei seguro e afirmado, Com a serenidade 5 dum Buda na floresta, Com a nudez dum Cristo no redil 6 . In, Permanência (1) liames – laços ou ligações /(2) amordaçar - reprimir / (3) –despojos - restos /(4) perpetuar – manter, continuar, eternizar / (5) serenidade - tranquilidade / (6) redil- curral ou estábulo do presépio. Como pode verificar, os poemas de Antero de Abreu revelam uma permanente atenção à vida e ao contexto social e político da sua nação. No doloroso caminho da história de Angola, o poeta faz referências às circunstâncias vividas, como é o caso do tema deste poema – a procura da libertação de tudo aquilo que oprime. Repare nos dois verbos “quebrando”, no verso 2 e “arrancarei” no verso 7, que apontam para o desejo que o sujeito poético tem de se libertar das mentiras que o prendem aos restos, ou lembranças de um “passado velho”, que pode ser o período do colonialismo que quis manter-se, prolongar-se. Na terceira estrofe, o “eu” continua a usar o futuro do indicativo dos verbos, para dizer que desse período da História (da sua história e da do país), ficarão só “desilusões”, “lágrimas choradas” e um pouco de si, do que anteriormente foi e viveu. Finalmente, na última estrofe, o sujeito não desiste e afirma que ficará seguro e tranquilo, porque cumpriu o seu papel e,

Libertação

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Page 1: Libertação

Libertação Das mentiras loucas que me envolvem Vou quebrando os liames1 um a umE da angústia da libertaçãoNascerá um dia a pazDo ser e do não ser.Das mentiras vãs que me amordaçam2

Os véus arrancarei a um e umTristes despojos3 dum passado velhoQue em mim se quis perpetuar4.E deixarei um rasto de desilusões;Um caminho de lágrimas choradas;Um pouco do que fui em cada dia.Mas ficarei seguro e afirmado,Com a serenidade5 dum Buda na floresta,Com a nudez dum Cristo no redil6. In, Permanência

(1) liames – laços ou ligações /(2) amordaçar - reprimir / (3) –despojos - restos /(4) perpetuar – manter, continuar, eternizar / (5) serenidade - tranquilidade / (6) redil- curral ou estábulo do presépio.

Como pode verificar, os poemas de Antero de Abreu revelam uma permanente atenção à vida e ao contexto social e político da sua nação. No doloroso caminho da história de Angola, o poeta faz referências às circunstâncias vividas, como é o caso do tema deste poema – a procura da libertação de tudo aquilo que oprime. Repare nos dois verbos “quebrando”, no verso 2 e “arrancarei” no verso 7, que apontam para o desejo que o sujeito poético tem de se libertar das mentiras que o prendem aos restos, ou lembranças de um “passado velho”, que pode ser o período do colonialismo que quis manter-se, prolongar-se.

Na terceira estrofe, o “eu” continua a usar o futuro do indicativo dos verbos, para dizer que desse período da História (da sua história e da do país), ficarão só “desilusões”, “lágrimas choradas” e um pouco de si, do que anteriormente foi e viveu.

Finalmente, na última estrofe, o sujeito não desiste e afirma que ficará seguro e tranquilo, porque cumpriu o seu papel e, por isso, compara-se a um “buda” sereno e firme, na floresta, ou um menino Jesus inocente.

Naturalmente que o conhecimento do passado, da história do país, da forma como os homens se comportam e agem é fundamental para melhor compreender o que está implícito nas palavras do poeta. Este grito de liberdade ou de libertação e o desejo de encontrar a paz relacionam-se com o que a geração de Antero de Abreu viveu e as ideias e ideais pelos quais lutaram.