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Livro educação do campo e da cidade

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O livro traz algumas discussões sobre a a educação do campo e da cidade, com alguns exemplos de valorização do lugar em sala de aula.

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Gerson Jonas Schirmer

Marisa Dal’ Ongaro (Organizadores)

ABORDAGEM E VALORIZAÇÃO DO LUGAR NA ESCOLA DO CAMPO E NA

ESCOLA DA CIDADE

1ªEdição

Santa Maria-RS, Brasil. 2014

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Organizadores - Gerson Jonas Schirmer Bacharel em Geografia (2010), Mestre em Geografia (2012), Licenciatura Plena em Geografia (2013) e atualmente Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected] - Marisa Dal’ Ongaro Pedagogia (2014) pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected]

Prefixo Editorial: 66301 Número ISBN: 978-85-66301-31-1

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Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 6

CAPÍTULO I

A VALORIZAÇÃO DO LUGAR A PARTIR DO ENSINO DE GEOGRA FIA NA

ESCOLA DO CAMPO E DA CIDADE: O CASO DO MUNICÍPIO DE AGUDO-RS .... 7

Discussão Teórica em Relação a Abordagem do Lugar em Sala de Aula ... 12

O processo de aprendizagem e o estudo do lugar no ensino de geografia ................................ 13

Inserção do estudo do lugar nas diversas temáticas discutidas em sala de aula ....................... 15

O ensino de Geografia na escola do campo e na escola da cidade ........................................... 17

A preocupação ambiental no ensino de geografia .................................................................... 18

Caracterização Geral da Rede de Ensino do Município de Agudo-RS .................................... 20

Caracterização geral de cada escola do município de Agudo-RS ............................................. 25

Resultados Pesquisa .......................................................................................... 34

O caso da realidade da Escola Municipal de Educação fundamental Três de Maio: escola do campo ..................................................................... 34

A visão dos professores e dos alunos quanto a escola e o processo de ensino-aprendizagem 36

As aulas de geografia: o caso da turma do 9º ano do ensino Fundamental ............................. 38

O caso da realidade da Escola de Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos: Escola da cidade de Agudo ..................................................................... 41

Os professores, os alunos, a localização da escola e o processo de ensino-aprendizagem ...... 43

As aulas de geografia: o caso da turma do 2º ano do ensino Médio ........................................ 44

Síntese dos resultados ..................................................................... 50

Considerações Finais ......................................................................................... 52

Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 53

CAPÍTULO II

CONHECENDO AS SÉRIES INICIAIS DA ESCOLA DO CAMPO SA NTO ANTÔNIO

DO MUNICÍPIO DE AGUDO-RS ....................................................................................... 55

Aspectos gerais do município que influenciam nessa pesquisa ..................... 58

Histórico do município ..................................................................... 58

Cultura ..................................................................... 59

População ..................................................................... 60

Caracterização geral da história da criação das escolas em Agudo .......................................... 61

A Relevância do Lugar no Ensino Fundamental do Campo .................................................... 64

Um pouco da História da educação do Campo no Brasil ......................................................... 65

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Aprendizagem na escola do campo .................................................................... 66

O professor crítico reflexivo: o aprender e o ensinar com a prática ......................................... 71

Análise dos Resultados ...................................................................................... 74

Educandos - Observação e questionários .................................................................... 74

Educadores – observação e questionários .................................................................... 74

Reflexões dos resultados .................................................................... 77

Considerações Finais ......................................................................................... 81

Referências ............................................................................................................................... 83

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APRESENTAÇÃO

A construção deste livro resultou do trabalho final de graduação como quesito para formação em geografia licenciatura plena de Gerson Jonas Schirmer e do trabalho final de graduação em pedagogia de Marisa Dal’ Ongaro. O intuito da elaboração deste livro é apresentar uma discussão em relação à educação do campo e da cidade com base na rede municipal de ensino de Agudo-RS. Neste livro tem-se como enfoque os assuntos que envolvem a valorização do lugar através do ensino, ressaltando as características socioambientais e socioeconômicos do espaço geográfico do município de Agudo. Buscou-se abordar também aspectos singulares da educação do campo deste município que possui sua formação a partir da imigração alemã e com o predomínio de uma agricultura familiar com pequenas propriedades sustentadas pela fumicultura.

Este livro poderá ser utilizado como recurso bibliográfico, pois apresenta discussões que relacionam a teoria e prática na abordagem da valorização do lugar na sala de aula. Traz também informações que englobam o cotidiano dos educandos, esperando-se que ao conhecerem esta realidade pode-se também trabalhar em outros locais temáticas que possibilitem os educandos valorizarem seu espaço. Trabalhar com a escala local, ou seja, o lugar percebido e vivenciado pelo educando é fundamental, pois permite despertar no aluno a correlação entre o que se constrói em sala de aula e o seu espaço cotidiano. Além disso, torna-se uma ferramenta didático-pedagógica de grande potencial, tornando – se base para entendimento de dinâmicas que acontecem em outros espaços e escalas.

Com a edição deste livro, temos a convicção de que a população em geral e instituições, cujas ações contribuem para o desenvolvimento do ensino, e que, portanto, se baseiam no conhecimento contarão com um importante e amplo quadro de apoio às suas atividades.

Além dos temas inseridos, torna-se essencial no processo de construção conhecimento proveniente do trabalho conjunto entre professor e aluno, passando assim, a figurar como peça articulada a outros elementos indispensáveis no processo educativo e constituindo-se num instrumento decisivo para a melhoria da qualidade do ensino, tanto na escola da cidade quanto nas escolas do campo.

Espera-se que a publicação deste trabalho cumpra com os seus objetivos e contribua para qualificar a discussão sobre essa temática em sala de aula. Além disso, que transmita informações sobre o município, relevante a comunidade como um todo.

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CAPÍTULO I A VALORIZAÇÃO DO LUGAR A PARTIR DO ENSINO DE

GEOGRAFIA NA ESCOLA DO CAMPO E DA CIDADE: O CASO DO MUNICÍPIO DE AGUDO-RS

O Ensino da Geografia pauta-se em muitas vertentes não só teóricas, mas também metodológicas que permitem enriquecer o processo de Ensino-aprendizagem dos conhecimentos geográficos. Nesse sentido, os materiais didáticos escolhidos devem ser bem planejados, pois são formas de tornar o trabalho pedagógico mais interessante. Antunes (2003. p.14), escreve que o professor deve refletir sobre quais meios utilizar para transformar a aulas de Geografia em instrumentos de aprendizagem significativa tanto para os alunos quanto para a satisfação dos docentes, ou seja, “a aula de Geografia (...) deve percorrer diferentes temas, encadeando-os, contextualizando-os com o aqui e o agora do corpo e do entorno do aluno, (...)”. Ao educador compete resgatar as experiências do educando, auxiliá-lo na identificação de problemas, nas reflexões sobre eles e na concretização dessas reflexões em ações. ... um projeto prova ser bom se for suficientemente completo para exigir

uma variedade de respostas diferentes dos alunos e permitir, a cada um, trazer uma contribuição que lhe seja própria e característica. Essas respostas são resultado de uma aprendizagem significativa de conceitos, adquirida pelo aluno durante o processo de ensino e aprendizagem. (MATOS, 2009 apud GERIR, 2003).

A localização geográfica da escola pode assumir um papel de destaque na formação escolar, sendo esta muitas vezes o elo entre o que o aluno vivencia no seu cotidiano e o que este aprende dentro da sala de aula, tornando- se a janela pela qual o educando passa a observar o mundo a partir do que aprende em sala de aula e começa a refletir sobre a correlação entre o que este presencia no seu dia a dia e os conteúdos trabalhados pelo professor.

Neste sentido, trabalhar com a escala local, ou seja, o lugar percebido e vivenciado pelo educando é fundamental, pois permite despertar no aluno a correlação entre o que se constrói em sala de aula e o seu espaço cotidiano e torna-se uma ferramenta didático-pedagógica de grande potencial, tornando-se a base para entendimento de dinâmicas que acontecem em outros espaços e escalas.

Com a política nacional brasileira de ampliar o ensino fundamental, anunciada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996, tornando obrigatória a matrícula para crianças a partir dos 6 anos, bem como a qualificação dos profissionais da educação com ensino superior, os municípios brasileiros foram forçados a nuclearizar as escolas para qualificar as estruturas físicas e a disponibilidade de professores. Atualmente com um novo documento que ajusta a Lei nº 9.394, à Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, torna obrigatória a oferta gratuita de educação básica a partir dos 4 anos de idade. Para atingir estes objetivos, Agudo tem buscado, através das “escolas núcleo”, concentrar maior número de alunos em determinadas escolas do município. Com isso, busca-se diminuir as diferenças nas práticas de ensino das escolas do meio rural e das escolas do meio urbano com mais acesso a informações, acesso a internet, maior socialização entre os alunos de diferentes áreas. No entanto os alunos da escola do

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campo, podem com isto estar sendo afastados de seu cotidiano, ou seja, tem-se uma “urbanização” do ensino e diminuição do elo existente entre o aluno e o ambiente natural onde vive, o campo, diminuindo também sua relação com o lugar, ou ainda ocorrendo uma mudança nas relações em função dos seus objetos de consumo.

Há uma necessidade de se avaliar as vantagens e desvantagens existentes na prática de ensino-aprendizagem, em virtude da localização geográfica das escolas, bem como verificar a importância do ensino de geografia na valorização do lugar. Assim, este trabalho justifica-se por trazer informações que produzam materiais que retratem a realidade espacial das escolas, de forma que essas informações possam ser utilizadas na gestão do ensino das escolas deste município, tanto urbanas quanto rurais, as quais a disponibilidade poderia ampliar o leque de opções para o trabalho dentro e fora da sala de aula.

Desta forma, a presente proposta justifica-se por buscar uma aproximação do conhecimento científico com a educação formal, ou seja, a formação acadêmica, científica aliada à prática escolar e a produção de conhecimento. Portanto, pela sua aplicação prática é uma investigação que resultará em uma formação acadêmica qualificada e em uma produção de informações que beneficiarão o ensino-aprendizagem nas escolas do município de Agudo valorizando e compreendendo a realidade local de cada aluno dentro do ambiente escolar.

Cabe ressaltar que para o desenvolvimento deste trabalho foram escolhidas uma escola do campo e uma da cidade para obtenção de dados mais aprofundados e para caracterizar o ensino geografia de cada uma dessas realidades. As referidas escolas, respectivamente, são: Escola Municipal de Ensino Fundamental Três de Maio e Escola Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos.

Dessa forma, este trabalho tem como objetivo apresentar e analisar a realidade do ensino de geografia e a valorização do lugar, na rede de ensino do município de Agudo, localizado na Região Central do estado do Rio Grande do Sul.

Diante desta proposta tem-se como objetivos específicos: -Apresentar as diferenças e as semelhanças existentes nas escolas do campo e da cidade no município, quanto à estrutura física e a forma de abordar o ensino de geografia e a valorização do lugar; - Observar as temáticas e as metodologias utilizadas nas salas de aula, abordando a realidade geográfica em que os alunos estão inseridos no cotidiano; -Destacar as vantagens e desvantagens observadas em cada um destes espaços de ensino para o aprendizado do educando; -Verificar como o ensino de geografia vem abordando a valorização do lugar e se essa valorização possui uma preocupação ambiental, aproximando o ensino de geografia como elo para uma relação harmônica entre o homem e a natureza.

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Figura 1: O município de Agudo-RS.

Fonte: SCHIRMER, G.J., 2010.

Este estudo foi realizado através da pesquisa qualitativa, que busca a compreensão detalhada dos significados e características da educação na escola do campo e da cidade na rede de ensino do município de Agudo - RS. Assim, busca-se através desta pesquisa a realização de uma análise destes dois espaços de ensino.

Nesta perspectiva, a pesquisa qualitativa, que apresenta grande valor na avaliação dos dados educacionais, é utilizada neste trabalho. Até mesmo porque incorporam aspectos ideológicos para análise de uma abordagem crítica evitando generalizações impróprias que segundo, Gatti (2006), trata a pesquisa como questionadora da ciência responsável pela

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revolução de paradigmas que repercutem na elaboração de novos conhecimentos, ao mesmo tempo, a saída das informações subsidiadas pelo senso comum revelando a necessidade de se definir uma abordagem, um método, um caminho a ser percorrido.

Dessa forma, primeiramente buscou-se bibliografias sobre educação do campo e educação do urbano. Posteriormente buscou-se junto à secretaria de educação, as escolas existentes no município. Além disso, fez-se uma caracterização geral das demais escolas existentes no município com dados fornecidos pela secretaria de educação do município.

Para espacialização das escolas e realização dos mapas de localização destas e de área de abrangência foi utilizado o programa Arc Gis 10.1. A definição das áreas de abrangência foi delimitada a partir de dados fornecidos pela prefeitura com os extremos de onde os alunos de cada escola moram. Estes extremos normalmente acompanham divisores de águas e também os locais onde o transporte escolar chega. A partir destes dados foi delimitado no Arc Gis, aproximadamente, as áreas de abrangência de cada escola.

O levantamento bibliográfico acompanhou as várias etapas de desenvolvimento do trabalho, sendo realizado através da consulta, leitura e seleção de uma série de bibliografias relacionadas à temática de estudo. Pesquisas complementares, direcionadas no entendimento de cada procedimento executado durante os levantamentos, possivelmente foram efetuadas no decorrer de cada etapa até a finalização da pesquisa.

Foi necessário observar in loco as características das duas realidades do ensino de geografia. Nesse sentido, de acordo com Sidnei (2006) a observação de campo é mais que uma etapa preparatória constitui na realidade. O dinamismo da realidade estabelece o pensamento crítico independente. No caso de pesquisas qualitativas, as observações de campo, segundo Roberto Sidnei (2006), realizam uma verdadeira “garimpagem” de ações, realizações e sentidos.

Escolha das escolas e das séries para a pesquisa Para o desenvolvimento do trabalho foram escolhidas as escolas: Escola Estadual de

Educação Básica Professor Willy Roos e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Três de Maio. A primeira escola foi escolhida por localizar-se na cidade e possuir alunos que vêm da zona rural, vindos do interior do município e alunos que são da cidade e estudando juntos em mesma turma, resultando em turmas heterogêneas. Já a segunda escola foi escolhida por localizar-se na zona rural, com alunos com características semelhantes, todos da zona rural, resultando em turmas homogêneas.

Na escola Willy Roos a série trabalhada foi o segundo ano do ensino médio. Esta turma foi escolhida por ser uma turma do ensino médio heterogênea. Já no caso da escola Três de Maio foi escolhida a turma do 9º ano, por esta ser uma turma que terão que deixar de estudar em uma escola do meio rural para estudar em uma escola da cidade, por não tem ensino médio nesta, pode gerar mudanças ou expectativas a estes alunos.

Aplicação de questionário Entrou-se em contato com as escolas de interesse para entrevistar os professores, os

alunos e observar as aulas e o entorno da escola. Cabe ressaltar que os professores entrevistados foram apenas os que dão aula para as turmas escolhidas para a pesquisa. Assim, foram entrevistados 8 professores da escola Três de Maio, de um total de 29 professores existentes na escola e 10 da escola Willy Roos, de um total de 44 professores.

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Nas entrevistas realizadas com os professores buscou-se abordar a origem dos professores, se são de origem urbana ou rural, se em suas aulas trazem atividades que envolvam o cotidiano dos alunos ou apenas utilizam livros didáticos. O contato com os professores foi realizado, com o intuito de melhorar relação em sala de aula entre educando e educador, investigando quais os temas que merecem mais destaque e qual a melhor forma de tratá-los, visando reforçar que professores recorram a exemplos cotidianos e locais como o intuito de melhor explicarem os mais variados conteúdos de sala de aula.

Questionário para os Professores:

1 - Qual sua origem, urbana ou rural? 2 - O que levou você a dar aula nesta escola? 3 - Como você aborda o estudo do lugar no ensino de geografia?Para o professor de geografia. 4 - Você acredita que a localização da escola é importante para o processo de ensino-aprendizagem? 5 - Como você aborda a valorização do lugar e as questões ambientais em suas aulas? O contato com os alunos do 9º ano do ensino fundamental e do 2º ano do ensino médio, deu-se durante todo terceiro trimestre, além das atividade realizadas em sala de aula, nas aulas de geografia, também foi aplicado um questionário na turma de 21 alunos do 9º ano e 23 alunos do 2º ano.

Questionário aplicado aos alunos

1- Que atividades seus pais realizam? 2 - Você ajuda seus pais?Se sim é por que gosta? 3 - Você gosta de vir na escola?Por quê? 4 - Você pretende continuar estudando? 5 - O estudo tem contribuído para suas atividades? 6 - Específica para aluno do meio rural. Pretende continuar no meio rural? Se sim, fazendo o quê? 7 - Como você vê as questões ambientais? 8 - O que você faz para ter uma boa relação com o meio ambiente? 9 - Específica para aluno do meio rural. O que você acha da cidade e das pessoas que vivem nela? 10 - Específica para aluno do meio urbano. Você tem alguma relação com o meio rural ou com alguém do meio rural? O que você acha do meio rural e das pessoas que vivem nesse espaço?

Atividades Propostas As atividades propostas aos alunos do 9º ano da escola Três de Maio foram realizadas

através dos conteúdos dos programáticos do terceiro trimestre. A partir destes conteúdos foram feitas relações entre as temáticas estudadas e o cotidiano dos alunos, em alguns casos relacionando as temáticas com a economia do lugar e em outros com a paisagem local. As atividades desenvolvidas com os alunos do 2º ano na escola Willy Roos, foi instigado aos alunos realizarem relações dos seus conteúdos com seu cotidiano. Os materiais utilizados no desenvolvimento das atividades foi livro didático, vídeos sobre as temáticas, xérox com atividades, Data show, quadro, giz e o programa Google Earth, este último para visualização da paisagem local e geração de perfil topográfico.

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Por fim foi realizada uma comparação entre as duas realidades de escolas para se analisar as vantagens e desvantagens de se estudar em uma escola do campo ou em uma escola cidade e a relação dessas com a valorização do lugar através do ensino de Geografia. Discussão Teórica em Relação à Abordagem do Lugar em Sala de Aula

O estudo do município a partir do lugar é um excelente laboratório para a inserção do aluno no cotidiano escolar. Para entender como o espaço é produzido, como as pessoas vivem e trabalham, basta dar uma volta pelo entorno da escola com olhos atentos às manifestações e materializações existentes e suas significações. No entanto, se faz necessário fazer relações entre as realidades locais encontradas, com as globais, bem como a partir das realidades globais compreender e inserir as realidade locais.

O estudo da localidade e do município mostra-se relevante para o aluno, na medida em que o senso crítico-analítico deste é relacionado ao seu dia-a-dia, (MENEZES, 2011). O lugar permite análises diversas e complexas que são verificadas através da vivência da realidade. Não são apresentadas informações de acontecimentos distantes onde se procura ligações, mas sim a proximidade dos elementos que expressam o mundo, presentes e perceptíveis na escala local.

“Estudar o local é muito importante para o aluno, pois ali ele “conhece tudo”, ele sabe o que existe, o que falta, como são as pessoas, como são organizadas as atividades, como é o espaço. [...] como trabalhar o local sem considerá-lo como o “único”, sem considerar que as explicações estão todas ali, sem cair no risco de isolá-lo no espaço e no tempo”. (CALLAI e ZARTH, 1988, p.17).

O lugar permite a realização de análises em vários âmbitos abordados no ensino de geografia e podem ser trabalhadas através da vivência da realidade de cada sujeito. A compreensão do lugar onde os educandos vivem e ocorrem as suas mútuas trocas de relações com a sociedade, os auxiliam a entenderem o que ocorre nesse espaço. Conforme destaca Frigotto (2003) é importante salientar que os alunos ao trabalharem a sua realidade próxima, estão conhecendo de modo mais sistemático o lugar onde vivem, construindo conceitos para aprendizagens futuras e para sua própria formação como cidadão. Nesse sentido, o educador e o educando precisam entender primeiramente, como elementos do espaço local é fundamental para o entendimento de como estão sendo articulados os elementos de um espaço maior, seja de uma região, país ou mesmo do mundo, por exemplo, a geologia local e sua relação com a geologia planetária.

Callai (1999, p. 76) resgata que o estudo do lugar, comumente chamado de estudo do meio, só será consistente se estabelecermos estas ligações com outros níveis. É o local onde vivemos que nos oportuniza as bases concretas para encaminharmos a compreensão das relações sociais, do acesso ao espaço para viver e das condições para tanto.

A educação contemporânea, não visa mais formar alunos que tenham apenas a capacidade de decorar e memorizar conteúdos, como seres a par do mundo em que vivem. A educação caminha com o intuito de formar cidadãos, formar indivíduos que tenham capacidade de agir e pensar de forma crítica na sociedade.

Estudar o local é um facilitador para o educador na medida em que o educando se identifica pelo conteúdo, sentindo-se instigado e assim tem mais interesse em participar e

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dialogar com o educador e seus colegas. Entende-se que a troca de experiências é fundamental para entender e compreender o espaço.

Partindo desses pressupostos, deve-se destacar que a localização da escola também pode influenciar no processo de ensino e aprendizagem, pois a escola, em alguns casos, torna-se reflexo da comunidade onde está inserida. Assim, estudar o contexto em que o aluno vive é imprescindível para que haja um bom aprendizado. No entanto, se faz necessário também este aluno conhecer outras realidades, sem ser afastado de seu espaço vivenciado.

Na busca de homogeneização da educação, na escola do campo, tem-se colocado o modo de vida urbana. Esta vem sendo aceita como o modelo a ser vivido, no modo de falar, no modo de se vestir, no modo de consumir. Com isto, em alguns casos, pode-se perde-se valores e conhecimentos culturais locais, como por exemplo, traços linguísticos que identificam determinadas comunidades, conhecimentos de antepassados em relação à forma de lidar com a natureza e com isto formam-se cidadãos completamente afastados do seu próprio cotidiano histórico. Por outro lado a escola urbana muitas vezes não permite nem que o aluno saiba que existe a outra realidade, a do campo, onde são formados cidadãos completamente afastados da natureza, que veem uma floresta como algo sujo e desprezível ou intocada, veem o cidadão do campo como alguém alienado e ignorante, sem saber sequer a origem de seus próprios alimentos do dia-a-dia. Nesse sentido, o educador possui um importante papel de mostrar as diversas realidades existentes, porém sempre remeter-se ao cotidiano real do lugar onde o aluno está inserido.

Sendo assim, esta pesquisa busca investigar as diferenças e semelhanças existentes entre estas duas realidades de escolas no município de Agudo, enfocando a importância do ensino de geografia na valorização do lugar, tanto na escola do campo quanto na escola da cidade. Com esta investigação espera-se produzir informações úteis para a elaboração de políticas educacionais, por parte da secretaria do município, que sejam capazes de favorecer o ensino-aprendizagem tanto dos alunos da escola do meio rural quanto da escola da área urbana. Onde de acordo com Wizniewski (2010), o papel dos educadores do campo, é de possibilitar dinâmicas pedagógicas que resgatem a cultura e o significado de se viver no campo com dignidade e de forma sustentável. Já na escola urbana busca-se o apoio teórico de Henrique Leff (2009) onde destaca o saber ambiental como construção de sentidos coletivos e identidades compartilhadas que formam significações culturais diversas na perspectiva de uma complexidade emergente e de um futuro sustentável, aplicando-se a pedagogia que consiste em aprender com o outro. Isto cabe não apenas para o urbano, mas também para o rural, porém no urbano esta questão torna-se mais complexa envolvendo de forma mais aprofundada os aspectos sociais.

Dessa forma, tanto escola rural quanto escola urbana tornam-se espaços de aprendizagem que levam em consideração o cotidiano dos alunos e também um fortalecimento da relação sociedade natureza.

O processo de aprendizagem e o estudo do lugar no ensino de geografia

A geografia é a ciência que se preocupa com a espacialização dos fenômenos que ocorrem na superfície terrestre. Nesse sentido, sem dúvida o mapa é um instrumento muito requisitado nas aulas devendo o seu uso ser estimulado, tanto para se explicar o Local quanto o Global.

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Neste contexto a cartografia também é fundamental para o ensino da geografia, sendo relevante tanto para o aluno atender as necessidades do seu cotidiano, quanto para compreender o ambiente em que vive. Onde a partir desta, aprende as características, físicas, econômicas, sociais e humanas do ambiente, pode ainda compreender as transformações causadas pela ação do homem e dos fenômenos naturais ao longo do tempo.

No que se refere à categoria de lugar, esta permite ao professor trabalhar em Geografia o espaço cotidiano, cabendo a este estimular os conhecimentos empíricos, meios significativos de aprendizagem na escala local, explorando como subsídio a sua prática cotidiana e o espaço vivido dos educandos. Neste contexto Peres (2007) destaca a relevância de se explorar o cotidiano no ensino de geografia apontando que:

A geografia é um instrumento importante para a compreensão do mundo, portanto, pensar o ensino de geografia em sua função alfabetizadora é tomar as noções de espaço, território, lugar e ambiente como conteúdos alfabetizadores. Nesta perspectiva o cotidiano se constitui no eixo articulador de uma prática alfabetizadora em que a aprendizagem da letra está intimamente vinculada à aprendizagem do espaço e as experiências culturais locais da criança, (PERES, 2007).

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) (1997) do ensino de geografia é um dos objetivos para o educando: “Compreender a cidadania como participação social e política, assim como o exercício dos direitos e deveres políticos, civis e sociais adotando no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo de si mesmo respeito”.

Nesse sentido, segundo os PCNs (1997), a geografia da escolarização deve abordar diferentes relações entre o campo e as cidades em suas dimensões sociais, culturais e ambientais e considerando o papel do trabalho das tecnologias, da informação da comunicação e do transporte.

O estudo do lugar constitui uma alternativa metodológica bastante específica do ensino de Geografia, proporcionando a abordagem das questões ambientais, sociais, econômicas, culturais, em que ganham destaque a observação, a representação, a compreensão, a avaliação e a intervenção em processos físicos da natureza. De acordo com Callai (2005),

(...) estudar e compreender o lugar em Geografia significa entender o que acontece no espaço onde se vive para além de suas condições naturais ou humanas. Muitas vezes as explicações podem estar fora, sendo necessário buscar motivos tanto internos quanto externos para se compreender o que acontece em cada lugar. (CALLAI, 2005, p.84).

O ensino da geografia pode levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva.

Estudar o lugar significa conhecer a realidade em que o aluno vive, identificar o que existe, quais os processos que são desencadeados e como se materializa a vida do conjunto da sociedade no espaço concreto que se vislumbra. Olhar o lugar, entender o que acontece, exige necessariamente que o aluno consiga interagir com esta realidade do lugar, aprendendo a teorizar. Para Callai (2005),

Compreender o lugar em que se vive encaminha-nos a conhecer a história do lugar, e assim, a procurar entender o que ali acontece. Nenhum lugar é neutro, pelo contrário, os lugares são repletos de história e situam-se concretamente em um tempo e em um espaço fisicamente delimitado. As pessoas que vivem em um lugar

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estão historicamente situadas e contextualizadas no mundo. Assim, o lugar não pode ser considerado/entendido isoladamente. O espaço em que vivemos é o resultado da história de nossas vidas. Ao mesmo tempo em que ele é o palco onde se sucedem os fenômenos, ele é também ator/autor, uma vez que oferece condições, põe limites, cria possibilidades. (CALLAI, 2005, p.36).

Isto requer que o aluno abstraia e contextualize os fenômenos, construindo o quadro de referencial mais amplo que lhe permita avançar para uma análise mais crítica, entendendo que o lugar reflete o mundo globalizado. Ainda conforme Callai (2005),

Ao ler o espaço, desencadeia-se o processo de conhecimento da realidade que é vivida cotidianamente. Constrói-se o conceito, que é uma abstração da realidade em si, formada a partir da realidade em si, a partir da compreensão do lugar concreto, de onde se extraem elementos para pensar o mundo (ao construir a nossa história e o nosso espaço). Nesse caminho, ao observar o lugar específico e confrontá-lo com outros lugares, tem início um processo de abstração que se assenta entre o real aparente, visível, perceptível e o concreto pensado na elaboração do que está sendo vivido. (CALLAI, 2005, p.241).

Para aprender a pensar o espaço é necessário aprender a ler o espaço, “que significa criar condições para que a criança leia o espaço vivido” (CASTELAR, 2000, p. 30). Fazer essa leitura demanda uma série de condições, que podem ser resumidas na necessidade de se realizar uma alfabetização cartográfica, e esse “é um processo que se inicia quando a criança reconhece os lugares, conseguindo identificar as paisagens” (idem, ibid.). Para tanto, ela precisa saber olhar, observar, descrever, registrar e analisar. O aluno deve ser capaz de ler, interpretar e representar o espaço por meio de mapas simples. Isso engloba entender os mapas como constituídos de uma linguagem própria a partir de símbolos que tem seu significado, e são concebidos com funções específicas como, orientação, localização, taxação, o que significa que cada um representa o espaço geográfico com características específicas.

Como mostra os PCN’s (1997), já nos primeiros anos escolares, o aluno deve aprender a utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações, observando a necessidade de indicações de direção, distância, orientação e proporção para garantir a legibilidade da informação.

Inserção do estudo do lugar nas diversas temáticas discutidas em sala de aula

Inicialmente para a Geografia o lugar foi ligado à ideia de habitat, associando-o também a localização, e a diferenciação de áreas, porém hoje esse conceito adquiriu outra dimensão e passou a ser definido através dos gêneros de vida e muito potencializado com o cotidiano. O lugar não é o particular, mas sim onde ocorre à produção humana, e as formas de apropriação, é nele que se produz a identidade e materialização das relações sociais. Conforme Damiani,

O lugar foi inicialmente o espaço dos antigos gêneros de vida, a especificidade, singularidade desses gêneros. Hoje em contrapartida com o lugar no mundo se produz o lugar do cotidiano: nivelamento das necessidades, alinhamento dos desejos, um sobre os outros, cotidianidades análogas, senão idênticas. (DAMIANI, 1995, p. 6)

O lugar, como categoria de análise geográfica, por muito tempo foi abordado como a

expressão do espaço geográfico na escala local, posteriormente passou a ocupar uma posição

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de destaque dentro da Geografia Humanística, sendo que esta categoria considera o lugar juntamente com o espaço as categorias de análise mais importantes da Geografia.

A Geografia Humanística busca a valorização da experiência do homem, buscando uma melhor compreensão das maneiras de ser, de agir e de sentir das pessoas em relação aos lugares, preocupa-se em definir o lugar como base fundamental para a existência humana. Desta forma, o lugar é visto como aquele em que o sujeito encontra-se integrado, e ambientado, ou seja, aquele espaço que os indivíduos atribuem valores e significados.

Conhecer o lugar em que a escola do campo esta inserida é indispensável ao professor, para que este possa realizar suas atividades educacionais voltadas à realidade do aluno, desta forma poderá perceber o seu significado, o valor da história, das raízes campesinas, e a cultura desde lugar. É a partir do lugar que nos identificamos no espaço e no mundo. Neste sentido, é essencial que o aluno compreenda a realidade no qual está inserido, para que ele atue como agente transformador de seu meio.

Nidelcoff (1989) acrescenta que o papel do professor juntamente com seus educandos é de ver e compreender a realidade local para posteriormente poder expressar essa realidade, descobrindo-a e principalmente dando aos educandos os instrumentos necessários pra que possam analisar criticamente e promover ações sobre essa realidade a que estão condicionados. Nesse processo de conhecimento e analise do lugar, o processo de alfabetização e o descobrimento do novo, são elementos importantes na vida e de uma criança.

Desta forma, é essencial que os conteúdos e os componentes curriculares sejam capazes de reconhecer a história de cada um dos sujeitos integrantes deste grupo social, bem como a sua história conjunta.

O importante para o docente é poder trabalhar no processo educacional com essa capacidade da criança e da forma que os educandos veem este mundo para que possa daí surgir o processo educacional. O docente tem a responsabilidade de incluir no processo educacional a forma com que os discentes vêm e se relacionam com o mundo que os cerca, considerando de maneira recíproca, o que acontece no dia-a-dia do lugar em que eles vivem e o que passa em outros lugares do mundo.

O espaço em que vivemos resulta de nossas experiências e interação com o meio. Para aprender e compreender o espaço é necessário aprender a ler este espaço, e este é um processo que se inicia quando a criança passa a reconhecer os lugares e consegue identificar as paisagens que fazem parte do seu cotidiano. Para tanto, ela precisa saber olhar, observar, descrever, registrar e analisar o meio que a cerca. Enfim, a Geografia, como disciplina da escolarização, pode, e deve contribuir com o aprendizado da alfabetização, uma vez que auxilia na aprendizagem da leitura do mundo.

Assim, é preciso uma educação que leve em conta as especificidades dos lugares, uma vez que, cada fragmento do espaço possui formas de vida diferenciadas, o que demanda um olhar pedagógico que contemple essas diferenças, respeitando e valorizando o saber social da comunidade que ali produz e reproduz seu espaço de vida. É através da vivencia do educador na comunidade escolar que se constrói os saberes ligados à realidade do lugar no contexto da vida das pessoas, e a forma de produção no espaço tempo, sendo de vital importância que o professor conheça a realidade da comunidade escolar.

Portanto, para que se possa realmente promover e alcançar uma efetiva transformação no processo de ensino-aprendizagem no âmbito das escolas rurais, é de grande importância o entendimento e compreensão das dinâmicas do lugar onde essas escolas estão inseridas e da

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realidade dos educando, devendo-se também conhecer a história e formação do espaço rural, bem como de seus sujeitos sociais.

O ensino de Geografia na escola do campo e na escola da cidade

A educação do campo foi historicamente caracterizada como um espaço de precariedade, de descaso especialmente pela falta de apoio das instituições governamentais e pela ausência de políticas públicas para a população rural. De acordo com Moura (2009, p. 54) “A educação no meio rural, sempre esteve atrelada ao sistema de produção capitalista, que tinha no latifúndio as suas bases. O camponês para trabalhar a terra não necessitava saber ler”. Os problemas enfrentados pela educação não encontram-se apenas no campo, porém é ai que a situação permanece mais critica, pois até então não levava-se em consideração a realidade sócio econômica e ambiental onde cada escola do campo está inserida.

Ao buscar idealizar uma educação a partir do campo e para o campo, é necessário, antes de qualquer coisa, analisar e revisar conceitos adotados pelo senso comum. É necessário desconstruir preconceitos há muito tempo existentes e entranhado na sociedade a fim de promover uma minimização das desigualdades educacionais entre o campo e a cidade. O campo e a cidade possuem formas de vivência diferentes, cada uma de acordo com seu ambiente, com a finalidade de promover o respeito, e a valorização ambos os espaços, cada um com suas peculiaridades, busca-se que as práticas pedagógicas também venham a ser diferenciadas, levando em consideração o cotidiano vivido por cada um.

De acordo com o caderno de Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo, lançado em 2003 pelo Ministério da Educação:

[...] não é preciso destituir a cidade para o campo existir, nem vice-versa. O campo e a cidade são dois espaços que possuem lógicas e tempo próprio de produção cultural, ambos com seus valores. Não existe um espaço melhor ou pior, existem espaços diferentes que coexistem, pois muito do que é produzido na cidade está presente no campo e vice-versa. (Brasil, Ministério da Educação, 2003, p.32).

A educação do campo tem o dever de assumir de fato a identidade do meio rural, trazendo para dentro de si, e de suas praticas pedagógicas a cultura e a história do local onde esta inserida, valorizando os saberes sociais passados de geração a geração. É através da elaboração e aplicação de projetos realmente comprometidos com a realidade do meio rural, que busca-se a aproximação do educando a realidade local, bem como a promover a participação da comunidade no ambiente escolar, objetivando valorizar o conhecimento do sujeito que vive no campo.

A escola tem papel fundamental na criação desta identidade do sujeito do campo, bem como na mudança de paradigmas sociais que se busca construir, porém a escola sozinha não concretiza o desenvolvimento, mas sem ela o desenvolvimento social e cultural dos alunos não seria aprimorado. A escola do campo deve ter caráter de inclusão social, onde o educando, filho de agricultor, se sinta valorizado e projete na sua vivência comunitária um novo caminho para o desenvolvimento do campo, o desenvolvimento sustentável.

Nos últimos anos tem ocorrido um enorme avanço tecnológico tanto no meio rural como no meio urbano. Esses avanços acabam por gerar novos arranjos sociais, que surtem efeitos no modo de interação do homem com o meio natural.

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Para a geografia é de grande relevância estudar estas questões, de modo desvendar como novas tecnologias têm influenciado no ensino e como a escola, tanto do campo quanto da cidade, vem tratando destes avanços tecnológicos, discutindo a importância de se conhecer o e valorizar o lugar, com o uso destas. Diante desta nova realidade gera-se uma integração do meio rural com o meio urbano através dos meios técnico-científico-informacionais. Tem-se um significativo aumento de ideologias e supervalorização do modo de vida urbano, maneira de se vestir, falar, usar as tecnologias de informação, etc, sendo introduzido isto também ao meio rural. Por outro lado o meio urbano tem a oportunidade também de conhecer melhor como é a vida do campo, através destas tecnologias. De acordo com Rua (2000), ocorre uma urbanização do campo através de todas as manifestações do urbano, que vão desde a melhoria da infraestrutura, meios de comunicação até formas de lazer. Assim percebe-se que meio rural não é mais em sua totalidade agrícola, mas adquire novas atividades e opções de renda não agrícolas. Não se pode mais diferenciar estes espaços como no passado por atividades distintas, pois na atualidade desenvolvem atividades comuns. Diante dessas novas abordagens o ensino deve ater-se para atender essas questões com muita cautela, em especial no ensino de geografia. Nesse sentido o professor de geografia, ao trabalhar a dinâmica produtiva do campo deve lembrar que o processo de transformação das atividades produtivas, levando em consideração o desenvolvimento capitalista, gerou grandes problemas. De acordo com De David (2010), o ensino de geografia oportuniza a compreensão dos espaços onde estão as escolas. Nesse sentido, devem-se articular os conteúdos de geografia e seus conceitos fundamentais de acordo com os espaços vividos nos cotidianos dos alunos. Ao mesmo tempo em que a escola é um espaço de socialização ela também deve ser um ambiente de reflexão onde o ensino de geografia traz a tona discussões baseadas no conhecimento do local, valorização do lugar e uma preocupação ambiental, onde se visa à qualidade de vida e igualdade diante dos espaços rurais e urbanos onde estão inseridas as escolas.

A preocupação ambiental no ensino de geografia

Em uma sociedade que visa o atender aos interesses de um sistema econômico, embasado na obtenção do lucro a qualquer custo, a problemática ambiental foi por muito tempo ignorada. A discussão existente sobre a temática ambiental tem nos últimos anos envolvido as diversas áreas do conhecimento em debates buscando a melhor maneira de abordar o tema.

As alterações ambientais, decorrentes dessa relação histórica “sociedade-natureza”, têm gerado intensas discussões em todos os segmentos da sociedade. O marco dessas inquietações do homem moderno com o meio ambiente, incorporando questões sociais, políticas e econômicas, com o uso dos recursos deu-se em 1968, com o chamado Clube de Roma, onde um grupo de grandes empresários capitalistas contratou uma equipe integrada por especialistas de várias áreas para avaliar as condições ambientais do mundo e os limites do crescimento econômico, Dias (2011).

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Nos anos seguintes, os debates foram incentivados através da 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de (1972), com a criação de políticas para gerenciar as atividades de proteção ambiental através do Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Apenas em 1983 foi realizado o segundo grande evento organizado pela ONU, onde foi criado a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) e formada a base para os eventos seguintes, como a 2ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992, que preconizou a crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo. A terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, chamada de Rio+10, ocorreu na África do Sul em 2002, evento que aprovou o Plano de Implementação da Agenda 21, Dias(..).

Dos resultados das conferências sobre meio ambiente, destaca-se o relatório “Nosso futuro comum” (ou Relatório Brundtland) de 1987, que oficializa o termo desenvolvimento sustentável, e a Agenda 21 de 1992, trazendo metas para atender as necessidades do presente, sem comprometer o atendimento das gerações futuras, além de buscar a solução para os problemas ambientais, Dias (...).

No ensino de geografia a questão ambiental começou a ter mais ênfase nas últimas décadas. A temática ambiental deve ser uma prática educativa que vise produzir autonomia e não a dependência, buscando a emancipação de sujeitos, tornando-se um instrumento de transformação, visto que capacita o educador e o educando a intervir na transformação da sociedade. Porém, para consolidar-se como prática, torna-se necessário, primeiramente, ampliarmos o nosso olhar e reconhecer o meio ambiente como um espaço de inter-relações existentes entre fatores químicos, físicos e sócios culturais.

A visão socioambiental orienta-se por uma racionalidade complexa e interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo da natureza intocada, mas como um campo de interações entre a cultura, sociedade e a base física e biológica dos processos vitais, no qual todos os termos dessa relação se modificam dinâmica e mutuamente (CARVALHO, 2006, p. 37).

Em uma abordagem crítica, entende-se que na geografia a questão ambiental como uma prática reflexiva, proporcionando e estimulando uma leitura crítica da realidade e a compreensão dos problemas e conflitos ambientais nela existentes, formando sujeitos capazes de decidir e atuar como agentes transformadores, agindo e organizando-se individual e coletivamente.

A escola nesse contexto ganha grande importância pois de acordo com Sauvé (1997 Apud Layrargues,2002b, p.137), A educação no meio ambiente: faz uso de atividades educativas com ênfase no contato com o ambiente próximo a escola. O ambiente é o meio pelo qual se dão aprendizado.

Assim, a preocupação ambiental no ensino de geografia deve enfatizar os aspectos sociais, históricos e culturais do processo educacional, possui uma abordagem sociopolítica de valorização do indivíduo no âmbito coletivo, de interdisciplinaridade na organização do ensino, articulando o conhecimento com as questões sociais.

Dessa forma, ao cuidar dos temas relacionados ao meio ambiente, no ensino de geografia, o professor poderá dar um tratamento mais aprofundado, abordando o campo da ecologia política, discutindo temas tais como as mudanças ambientais globais, a questão do desenvolvimento sustentável ou das formas de ocorrência e controle da poluição.

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Caracterização Geral da Rede de Ensino do Município de Agudo-RS

A história da formação da rede de ensino no município de Agudo tem início com a chegada dos imigrantes alemães. Não havia recursos públicos, porém as comunidades organizavam-se em torno de um ideal maior, que era da Educação para seus filhos porque já sabiam que educação era a maior herança que um pai podia passar seu filho, ideal este trazido da Europa.

Porém tinha-se dificuldade para se ter escola e também professores. Nesse sentido, segundo relato de pessoas mais velhas, escolhia-se dentre as pessoas da comunidade aquele que possuía mais conhecimento para se tornar professor, sendo que as aulas eram dadas todas no dialeto alemão. Isto prevaleceu até a era Vargas, onde o dialeto alemão foi reprimido na região em virtude da segunda guerra mundial. Já o local da escola normalmente era escolhido a casa do professor ou era construídas muitas vezes com ajuda de toda comunidade interessada.

Porém, com a institucionalização da grande maioria das escolas e com o apoio do governo do estado foram construídas diversas escolas entre a década de 60 e 70, as chamadas “brizoletas”, escolas estas com pequenos número de alunos e de recursos, localizadas sempre próximo aos locais com maior número de população no meio rural. Já a partir de 2000, tem-se a criação de escolas núcleos com maior número de alunos e recursos, onde os alunos em grande maioria são transportados para as escolas.

Nessa ótica, o município de Agudo tem buscado através das “escolas núcleo”, concentrar maior número de alunos em determinadas escolas de uma região do município, com isso, busca-se diminuir as diferenças nas práticas de ensino das escolas deste município. Até o presente momento, o Município conta com 8 escolas municipais, 3 escolas estaduais e 2 escolas particulares, atendendo cerca de 3.209 alunos.São elas: E.M.E.F Alberto Pasqualini, E.M.E.F Olavo Bilac, E.M.E.F 7 de Setembro, E.M.E.F Santos Reis, E.M.E.F Santo Antônio, E.M.E.F Três de Maio, E.M.E.F Santos Dumont, E.M.E.I Paraíso da Criança, E.E.E.B Dom Érico Ferrari, E.E.E.B. Professor Willy Roos, E.E.E.F. Luis Germano Pöetter, E. Dom Pedro II e EEF Kinderwelt, figura 2.

Desse total de 13 escolas, 6 delas estão localizadas no campo, sendo que apenas 1 destas 6, apresenta ensino médio para atender os alunos da zona rural, a Escola de Educação Básica Dom Érico Ferrari, os demais devem se deslocar para a área urbana. Cabe destacar a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Reis que mesmo sendo localizada na área urbana, apresenta alunos provindos da zona rural, figura 2.

Dentre as demais escolas do meio urbano, a Escola Estadual de Educação Básica Willy Roos é a que mais atende alunos do meio rural, por ser esta a escola que disponibiliza o ensino médio.

O número total de alunos das escolas municipais de Agudo, em 2014 é de 1800 alunos. Deste total 368 alunos estão na educação infantil, 790 estão nos anos iniciais do ensino fundamental e 641 estão nos anos finais do ensino fundamental.

Nas escolas estaduais o número de alunos é de 1279 em 2014. Destes 601 são do ensino fundamental e 678 são do ensino médio.

Na escola particular o número de alunos é de 130 alunos que estão desde a educação infantil até o ensino médio.

Quanto ao transporte escolar da rede de ensino, a prefeitura é responsável por transportar os alunos que distanciam-se mais de 2 km da escola. Desta forma 1.448 alunos possuem

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transporte gratuito na zona rural e 29 na área urbana. Cabe ressaltar que na área urbana há alunos que pagam o transporte escolar até as escolas. Para estes alunos seria importante receber transporte público, mesmo distando menos de 2 km, pois é perigoso estes andarem sozinhos pelas ruas e estradas, assim há necessidade de ser transportado, o que deveria ser garantido pela prefeitura.

A área de abrangência das escolas, de um modo geral acompanha além das localidades do município, também porções do relevo que estão entre divisores de águas, além disso, esta área é delimitada de acordo com os pontos extremos de onde o transporte dos alunos de cada escola chega. Ou seja, a escola sempre busca atender a um raio de distância que não aumente o tempo de trajeto dos alunos. No aspecto de área de abrangência das escolas segue-se a hierarquia de acordo com o gráfico 1.

Gráfico com área de abrangência das escolas

Esta área de abrangência não está relacionada com o número de alunos das escolas, pois as escolas localizadas na zona rural, que apresenta uma significativa área de abrangência, não apresentam o maior número de alunos. No entanto as escolas localizadas na área urbana apresentam a menor área de abrangência, porém o maior número de alunos. O número de alunos está ligado a concentração populacional existente em determinada localidade. Já a área de abrangência da escola é determinada pela área espacial em que estão localizados seus alunos, assim se os alunos de uma determinada escola forem filhos de agricultores de médias propriedades a escola poderá ter uma grande área de abrangência, porém baixo número de alunos. Já se dentro da área de abrangência da escola tiver um elevado número de alunos, por exemplo, predominância de pequenos agricultores com varias pessoas compondo as famílias, a escola terá um elevado número de alunos, porém não necessariamente uma grande área de abrangência.

020406080

100120

Área de Abrangência (km²)

Área de Abrangência (km²)

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Número de alunos por escola.

A localização da área de abrangência, pode ser observada na figura 4, onde percebe-se as diferenças de paisagem nas quais estão localizadas as escolas e seus alunos. Sendo que das escolas do campo, 4 estão ao norte da sede do município,onde o relevo apresenta declividades acentuadas, com propriedades que produzem em sua grande maioria o fumo em pequenas propriedades e 2 escolas ao sul da sede do município, onde se tem predominantemente o cultivo do arroz. Sendo que a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santos Reis embora localizada na área urbana, também atende principalmente os alunos de porções arrozícolas.

0200400600800

1000120014001600

Nº de Alunos/escolas

Nº de Alunos/escolas

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Área de abrangência

A região norte onde se encontra a área de abrangência das escolas: Escola Municipal de Ensino Fundamental Olavo Bilac, Escola Municipal de Ensino Fundamental Sete de Setembro e Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio, no que diz respeito às propriedades rurais, apresenta um perfil predominante de pequenos proprietários, em média 16 ha de terra. Devido ao pequeno tamanho dos estabelecimentos, a grande maioria dos produtores é da categoria proprietários, havendo muito poucos exclusivamente arrendatários, posseiros ou ocupantes. As atividades agrícolas desenvolvidas de um modo geral nesta região

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estão ligadas ao cultivo do fumo. O cultivo de fumo desenvolve-se principalmente devido a proximidade com as fumageiras, localizadas em Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, pois dão ao produtor a garantia de compra do seu produto. A predominância de pequenas propriedades neste local estão ligado ao processo histórico de formação e ocupação do município e das características naturais, (Schirmer, 2010). O município de Agudo, de uma forma geral, pode ser dividido em três principais compartimentos: as porções sul e sudeste próximas do rio Jacuí o relevo apresenta extensas planícies, estendendo-se em direção as nascentes dos arroios de maior extensão dentro dos limites do município, onde é realizado o cultivo do arroz (exceto as áreas de interfluvios, onde o relevo torna-se mais elevado); as porções centro e norte do município, onde começa a surgir formas de entalhamento no substrato rochoso, como vales e paredões rochosos; e por fim a porção nordeste caracterizada por colinas suavemente onduladas a onduladas.

Assim, as três escolas da região norte do município atende principalmente aos alunos que vivem nos dois últimos compartimento, o que configura turmas homogêneas nestas escolas no que diz respeito ao modo de vida cotidiana, com conhecimentos empíricos relacionados ao cultivo do fumo.

Cabe destacar que as escolas do sul do município são as escolas: Escola Estadual de Educação Básica Dom Érico Ferrari, localizada em Cerro Chato e Escola Estadual de Ensino Fundamental Alberto Pasqualini, localizada em Pinhal Grande. Nesta porção as atividades agrícolas desenvolvidas estão mais ligadas ao cultivo do arroz devido as condições da geomorfologia do município, a qual está na primeira compartimentação, propiciar esta atividade. Além disso, nas propriedades com plantio de arroz tem-se a produção de morango, realizada principalmente pela mulher da família, essa atividade localiza-se na porção sul do município, próximo da RS287, para realizar a comercialização do produto na beira do asfalto.

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De um modo geral perfil da produção agropecuária do município é marcado pela produção diversificada, principalmente de arroz, fumo, milho, soja, feijão, morango além de outras culturas. A porção norte do município tem uma economia baseada na atividade agrícom o cultivo do fumo como principal produto, com plantio de 6.000 ha. A porção sul baseiase no cultivo do arroz, com plantio de 8.986 ha.

Tal diferenciação relacionacomposto, predominantemente,acentuada. Essa porção é propicia para a fumicultura associada com outras atividades que não utilizem grandes áreas de lavouras, concentrando

Caracterização geral de c

Escola Estadual de Educação Básic

Esta escola está localizada na área urbana do município, na Rua Germano Hentscke, apresenta boa estrutura física com 2 prédios, 23 salas de aula, sala de vídeo einformática. Possui o maior número de alunos dentre as escolas do município, isto ocorre devido atender os alunos da maior parte do município com o ensino médio. O número total de alunos da escola em 2013 foisão do ensino médio e 96 são do EJA.

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Relevo de Agudo partir a Imagem SRTM. Fonte: SCHIRMER, G. J., 2010.

De um modo geral perfil da produção agropecuária do município é marcado pela produção diversificada, principalmente de arroz, fumo, milho, soja, feijão, morango além de outras culturas. A porção norte do município tem uma economia baseada na atividade agrícom o cultivo do fumo como principal produto, com plantio de 6.000 ha. A porção sul baseiase no cultivo do arroz, com plantio de 8.986 ha.

Tal diferenciação relaciona-se, em parte, ao relevo local: o norte do município é composto, predominantemente, por morros e morrotes com vertentes de declividade acentuada. Essa porção é propicia para a fumicultura associada com outras atividades que não utilizem grandes áreas de lavouras, concentrando-se assim uma agricultura familiar.

Caracterização geral de cada escola do município de Agudo-RS

Escola Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos

Esta escola está localizada na área urbana do município, na Rua Germano Hentscke, apresenta boa estrutura física com 2 prédios, 23 salas de aula, sala de vídeo einformática. Possui o maior número de alunos dentre as escolas do município, isto ocorre devido atender os alunos da maior parte do município com o ensino médio. O número total de

unos da escola em 2013 foi de 823 alunos, sendo que 286 são do ensino fundamental, 444 são do ensino médio e 96 são do EJA.

De um modo geral perfil da produção agropecuária do município é marcado pela produção diversificada, principalmente de arroz, fumo, milho, soja, feijão, morango além de outras culturas. A porção norte do município tem uma economia baseada na atividade agrícola com o cultivo do fumo como principal produto, com plantio de 6.000 ha. A porção sul baseia-

se, em parte, ao relevo local: o norte do município é por morros e morrotes com vertentes de declividade

acentuada. Essa porção é propicia para a fumicultura associada com outras atividades que não se assim uma agricultura familiar.

Esta escola está localizada na área urbana do município, na Rua Germano Hentscke, apresenta boa estrutura física com 2 prédios, 23 salas de aula, sala de vídeo e sala de informática. Possui o maior número de alunos dentre as escolas do município, isto ocorre devido atender os alunos da maior parte do município com o ensino médio. O número total de

sino fundamental, 444

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Frente da Escola Estadual de Educação Básica Prof. Willy Roos.

A sua área de abrangência é de todo o município quando se fala em ensino médio, porém no ensino fundamental atende apenas os de alunos vindo meio rural tem-se o convívio de alunos com diferentes características, campo e cidade. Os alunos vindo da zona rural possuem de um modo geral hábitos de linguagem um pouco diferenciadas com caractepalavras com a tonalidade de um “r” só. Muitas vezes, isto, pode causar alguns conflitos com alunos da área que possuem um linguajar mais aceito socialmente.

Escola Municipal de Ensino FundamentalA escola Santos Dumont está localizada na periferia da cidade de Agudo, na rua das

Acácias, mais precisamente na Vila Caiçara. Os alunos desta escola em sua grande maioria são da referida Vila, sendo que as características desta população de pessoas com origens do campo. No entanto as crianças, em sua grande maioria já são nascidas na área urbana. Quanto ao número de alunos da escola em 2013 foi de 287 alunos da educação infantil e do ensino fundamental.

Frente d

Escola de Educação Básica Dom Pedro IIA escola Dom Pedro II é uma das escolas mais antigas da cidade de Agudo. É a única

escola particular com educação Básica completa do município. Está localizada na área urbana

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Frente da Escola Estadual de Educação Básica Prof. Willy Roos.

A sua área de abrangência é de todo o município quando se fala em ensino médio, porém no ensino fundamental atende apenas os alunos da área urbana. Com o grande número

se o convívio de alunos com diferentes características, campo e cidade. Os alunos vindo da zona rural possuem de um modo geral hábitos de linguagem um pouco diferenciadas com características singulares, como por exemplo, falar quase todas as palavras com a tonalidade de um “r” só. Muitas vezes, isto, pode causar alguns conflitos com alunos da área que possuem um linguajar mais aceito socialmente.

Escola Municipal de Ensino Fundamental Santos Dumont A escola Santos Dumont está localizada na periferia da cidade de Agudo, na rua das

Acácias, mais precisamente na Vila Caiçara. Os alunos desta escola em sua grande maioria são da referida Vila, sendo que as características desta população são em sua grande maioria de pessoas com origens do campo. No entanto as crianças, em sua grande maioria já são nascidas na área urbana. Quanto ao número de alunos da escola em 2013 foi de 287 alunos da educação infantil e do ensino fundamental.

Frente da escola Santos Dumont

Escola de Educação Básica Dom Pedro II – A escola Dom Pedro II é uma das escolas mais antigas da cidade de Agudo. É a única

escola particular com educação Básica completa do município. Está localizada na área urbana

Frente da Escola Estadual de Educação Básica Prof. Willy Roos.

A sua área de abrangência é de todo o município quando se fala em ensino médio, Com o grande número

se o convívio de alunos com diferentes características, campo e cidade. Os alunos vindo da zona rural possuem de um modo geral hábitos de linguagem um

rísticas singulares, como por exemplo, falar quase todas as palavras com a tonalidade de um “r” só. Muitas vezes, isto, pode causar alguns conflitos com

A escola Santos Dumont está localizada na periferia da cidade de Agudo, na rua das Acácias, mais precisamente na Vila Caiçara. Os alunos desta escola em sua grande maioria

são em sua grande maioria de pessoas com origens do campo. No entanto as crianças, em sua grande maioria já são nascidas na área urbana. Quanto ao número de alunos da escola em 2013 foi de 287 alunos da

A escola Dom Pedro II é uma das escolas mais antigas da cidade de Agudo. É a única escola particular com educação Básica completa do município. Está localizada na área urbana

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do município, na Rua Rolf Pachaly. É uma escola que atende alunos filhos de pessoas com maior poder aquisitivo. Número de alunos 99, distribuídos na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

Frente da escola Dom Pedro II

Escola Estadual de Ensino Fundamental Luís Germano Pöetter – A escola Luís Germano Pöetter foi uma das últimas escolas particulares do município

a se tornar pública. É a única escola estadual do município que possui apenas o ensino fundamental. Está localizada na área urbana do município, na Avenida Borges de Medeiros. Os alunos dessa escola são provenientes da área urbana do município, principalmente da área central e sul da cidade. O número total de alunos da escola é de 265 alunos na educação infantil e no ensino fundamental.

Frente da escola Luis Germano Pötter

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Escola Municipal de Ensino Fundamental Santos Reis - Esta escola localiza-se na extremidade oeste da área urbana do município, na rua Hugo

Karl Braüning. Das escolas municipais esta é uma das que apresentam maior diversidade de alunos. Atende os alunos vindos do interior e da cidade, sendo que os alunos do interior uma parcela são filhos de arrozeiros e outra de fumicultores. Assim, as turmas são mais heterogêneas o que implica em um conhecimento mais abrangente por parte dos professores para atender cada aluno com suas particularidades trazidas em sua bagagem de conhecimento. O total de alunos da escola na educação infantil e do ensino médio é de 394 alunos.

Frente da escola Santos Reis

Escola Municipal de Ensino Fundamental Três de Maio Esta escola localiza-se á aproximadamente 3 Km da cidade de Agudo na localidade de

Linha Teotônia Sul. Atende a alunos dos filhos de pequenos agricultores (fumicultores) da Linha Teotônia, Linha Branca, Linha Travessão, e Linha Nova. É uma escola relativamente pequena, mas com um nível de desenvolvimento educacional de boa qualidade. No ano de 2013 tornou-se a única escola bicampeã de vôlei do Rio Grande do Sul nos jogos da JERGS (Jogos escolares do Rio Grande do Sul), na 47ª edição. Cabe destacar que todas as atletas são filhas de agricultores, o que valoriza ainda mais o título, pois estas além de estudarem também já auxiliam na atividades da lavoura, embora sejam adolescentes de entre 13 e 16 anos. Além disso, apresenta bom índices de ensino nas avaliações feitas pelo município. A escola possui um total de 197 alunos na educação infantil e ensino médio.

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Entrada da Escola Três de Maio

Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio A escola Santo Antônio está localizada na Linha dos Pomeranos, interior do município

de Agudo. É uma escola localizada na porção mais elevada do município, já pertencente ao início do Planalto Serra Geral. Os alunos dessa escola são filhos de pequenos agricultores (fumicultores). Cabe destacar que esta escola permite que os alunos possam estudar próximos de sua casa, mesmo estando longe da sede 32 Km. Além disso, nesta escola, nas séries iniciais é possível identificar alunos que chegam na escola sem saber falar o português corretamente, apenas o dialeto alemão falado em casa, o que traria dificuldades na aprendizagem se fossem deslocadas de seu ambiente, pois se sentiriam retraídos. A escola possui 185 alunos distribuídos na educação infantil e no ensino fundamental.

Pátio Escola Santo Antônio

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Escola Municipal de Ensino Fundamental Olavo Bilac Esta escola localiza-se na região norte do município, porém ainda na porção de baixa

elevação, próxima ao rio Jacuí. A localidade de Nova Boêmia, onde se encontra a escola Olavo Bilac, é composta por pequenos agricultores (fumicultores) que vivem na porção do rebordo do planalto, cultivando terras com declividades acentuadas. È uma escola que apresenta um grande número de alunos, mesmo localizando-se longe da sede. Este fato se dá não apenas por sua área de abrangência ser grande, mas também pelas características da população local,que de um modo geral possui maior número de filhos por casal, em média 3 a 4 filhos, enquanto no restante do município á média é de 1 ou dois filhos por casal. Assim como a escola Santo Antônio, esta escola é de grande importância para atender os alunos próximos de suas casas, uma vez que o deslocamento até a área urbana se torna cansativo. Porém após os alunos terminarem o ensino fundamental, o deslocamento até a área urbana se torna inevitável, sendo este um fator que causa grande abandono dos estudos por grande maioria dos alunos destas localidades mais distantes. A escola possuía em 2013 um total de 285 alunos na educação infantil e ensino fundamental, cabe ressaltar que a grande maioria está na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, totalizando nestas séries 147 alunos do total de alunos da escola.

Pátio da escola Olavo Bilac

Escola Municipal de Ensino Fundamental Sete de Setembro

Em 07 de março de 1964 foi criada a Escola Rural Isolada de Picada do Rio Central, o número do decreto de criação é 16.501. Em 1968 a escola passou para o município com o nome Escola Rural Picada do Rio Central. A partir de 1972 pela portaria nº 30350 a escola passou a ser estadual com o nome Escola Rural de Picada do Rio Central. A partir de 1983 a escola muda o nome para Escola Estadual de 1º Grau Incompleto 7 de Setembro. A partir de 24/04/2006 a Escola Estadual de Ensino Fundamental 7 de Setembro foi municipalizada passando a denominar-se Escola Municipal de Ensino Fundamental 7 de Setembro. Esta se localiza na localidade de Picada do Rio a 13 Km da sede do município de Agudo.

Esta escola atende os alunos do vale formado pela bacia hidrográfica do arroio Corupá, que abrange as localidades de Picada do Rio, Linha Boêmia, Picada São Pedro e

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Novo São Paulo. Os alunos que estudam nesta escola são em grande maioria filhos de pequenos agricultores fumicultores, os provenientes das porções mais elevadas da área de abrangência, e filhos de pequenos agricultores arrozicultores das porções mais baixas da área de abrangência. Assim a escola possui crianças de diferentes realidades mesmo sendo de origem rural, pois de um modo geral os filhos de fumicultores, a partir dos 10 anos já começas a participar da lida no campo junto com os pais por ser uma atividade mais braçal artesanal. Já os filhos de arrozicultores a participação nas atividades da lavoura é mais tardia em torno dos 15 anos de idade e somente os meninos, isso acontece por esta atividade ser mais mecanizada, não necessitando de tanto trabalho braçal. O total de alunos da escola é de 222 alunos que estão na educação infantil e no ensino fundamental.

Lado oeste da Escola 7 de Setembro

Escola Estadual de Educação Básica Dom Érico Ferrarri

As primeiras aulas tiveram início em 1922, não havia prédio e eram ministradas em residências. Em 1932 constitui-se o 1º prédio particular. Data de 13 de março de 1941 foi sua criação como escola pública. Em 1975 foram implantadas todas as séries do 1º Grau e em 1977 concluiu os estudos a 1ª turma de 1º Grau com festas, pois foi uma grande conquista. A escola passa a contar, a partir de 2001, com a Educação Infantil – antigo anseio da comunidade.

A partir de 18/02/2002 implantou-se a Educação de Jovens e Adultos – EJA Ensino Fundamental – a escola passa a funcionar em 3 turnos. Em 29 de janeiro de 2004 conseguiu-se a transformação em Escola Estadual de Ensino Médio Dom Érico Ferrari, e em 14 de abril do mesmo ano, a autorização de funcionamento do Ensino Médio – 1º ano, com isso a escola passa a contar com todos os níveis da Educação Básica. Aconteceu em 12/07/2006 a autorização para funcionamento da Educação Infantil, realizando assim um sonho antigo da comunidade, de ter regulamento a pré-escola. Encaminhou-se logo após processo de alteração do nome da escola, e em 25/09/2006 a escola passa a se denominar Escola Estadual de Educação Básica Dom Érico Ferrari,

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chegando assim ao que se pode chamar de plenitude, uma vez que passa a oferecer todos os níveis da Educação Básica. Esta escola está localizada na localidade de Cerro Chato, distando em torno de 6 km da cidade. Os alunos desta escola são em grande maioria filhos de pequenos e médios agricultores arrozeiros. Há presença de alguns filhos de fumicultores da localidade de Rincão do Pinhal, onde o relevo é composto por colinas arenosas, com solos bem permeáveis o que dificulta o cultivo de arroz. Está é a única escola da zona rural do município que possibilita aos alunos cursar o ensino médio próximo de suas casas consequentemente de suas realidades. Esta escola possui um total de 202 alunos, dos quais 134 são do ensino fundamental e 68 são do ensino médio.

Frente da escola Dom Érico Ferrari

Escola Municipal de Ensino Fundamental Alberto Pasqualini. Está localizada no sul do município de agudo, na localidade de Rincão do Pinhal,

distando aproximadamente 13 km da cidade de Agudo. Assim como a Escola Dom Érico Ferrari, esta escola apresenta muitos filhos de arrozeiro, porém possui filhos de fumicultores também. Embora tenha uma significativa área de abrangência, possui o mais baixo número de alunos das escolas municipais, com apenas 130 alunos. Isto se dá por esta região a população além de possuir em média 1 filho por família, as propriedades rurais possuem um tamanho maior (50 ha) que as demais do município, o que reduz o número de população localizada nessa região.

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Frente da Escola Aberto Pasqualine.

Escola Municipal de Educação Infantil Paraíso da Criança Localizada na Vila Caiçara, cidade de Agudo possui 85 alunos na educação infantil.

Atende principalmente filhos de trabalhadores da fábrica de calçados Botero. Esta creche possibilita que as mães possam trabalhar enquanto seus filhos são cuidados por educadoras infantil.

Frente da Escola de Educação Infantil Paraíso da Criança.

Escola de Educação Infantil Kinderwelt È uma creche particular localizada na avenida concórdia. Suas vagas são preenchidas

principalmente por filhos de pessoas que possuem maior poder aquisitivo no município, com condições de pagar suas mensalidades.

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Entrada da Escola de Educação Infantil Kinderwelt

Resultados Pesquisa

O estudo do espaço geográfico pressupõe uma série de conhecimentos e informações sobre o lugar, permitindo compreender como as sociedades, em diferentes momentos da história, buscaram superar seus problemas cotidianos, de sobrevivência, transformando a natureza, criando novas formas de organização social, política, econômica e construindo paisagens urbanas e rurais.

É importante promover situações nas quais os alunos percebam e compreendam a tecnologia em seu próprio cotidiano, pela observação e comparação da presença dela em seu meio familiar e em seu dia a dia de forma geral.

Dessa forma, são abordadas as experiências em sala de aula com os alunos das escolas: Escola Municipal de Ensino Fundamental Três de Maio, uma escola do campo e Escola Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos, uma escola da cidade. São abordados exemplos de atividades realizadas em sala de aula de como inserir o estudo do lugar no ensino de geografia trazendo maior valorização deste e da disciplina de geografia nos cotidianos escolares.

O caso da realidade da Escola Municipal de Educação fundamental Três de Maio: escola do campo

A escola fundada em 1925, com o nome de Aula Três de Maio, era particular e mantida pelas famílias que colaboravam com o "Caixa Escolar". Este mantinha o salário da professora e custeava as demais despesas da Escola. Além do “Caixa Escolar”, também eram feitas festas escolares, para angariar fundos para a manutenção do Educandário. Mais tarde a Escola passou a chamar-se Escola Particular Três de Maio. Em 06 de março de 1972, pelo Decreto de Criação 251/78 e pela Lei Municipal N°. 340, a Escola passou a ser Municipal e mantida pela Prefeitura Municipal com a denominação de Escola Municipal Três de Maio e posteriormente Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Três de Maio.

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Com o fechamento das Escolas menores das localidades necessidade da ampliação desta Escola. Com isso foi proposta pelo Poder Público do estado a nuclearização, que se realizou no ano de 2000 com a implantação gradativa das séries finais do Ensino Fundamental e também da Educação Infantichamar-se Escola Municipal de Ensino Fundamental Três de Maio.

A partir de então a escola, agricultores(fumicultores) da Linha Teotônia, Linha Branca, Linha Travessão, e Linha Nova.

Os alunos da E. M. E. F. Três de Maio, caracterizam

que se refere à etnia e credo. As diferenças sóciocaracterizando-se pela presença de crianças e adolescentes oriundos da classe média baixa e da zona rural na sua maioria.

As crianças e os adolescentes apresentam relativa facilidade de integração ao ambiente da Escola. Isso deve-se principalmente por ser ambiente de vivência, uma vez que, além da escoláreas livres com gramados e horta escolar, o que reproduz o cotidiano do educandos. Assim, os alunos sentem-se fazendo parte

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Com o fechamento das Escolas menores das localidades necessidade da ampliação desta Escola. Com isso foi proposta pelo Poder Público do estado a nuclearização, que se realizou no ano de 2000 com a implantação gradativa das séries finais do Ensino Fundamental e também da Educação Infantil. Por isso o educandário passou a

se Escola Municipal de Ensino Fundamental Três de Maio. rtir de então a escola, passou a atender os filhos de pequenos

agricultores(fumicultores) da Linha Teotônia, Linha Branca, Linha Travessão, e Linha Nova.

Corpo docente em frente à escola. Fonte: Secretaria da escola Três de Maio.

Os alunos da E. M. E. F. Três de Maio, caracterizam-se por apresentar diversidade no que se refere à etnia e credo. As diferenças sócio-econômicas são menos acentuadas,

se pela presença de crianças e adolescentes oriundos da classe média baixa e da zona rural na sua maioria.

As crianças e os adolescentes apresentam relativa facilidade de integração ao ambiente se principalmente por ser uma escola que não os desvincula de seu

ambiente de vivência, uma vez que, além da escola estar no meio rural,áreas livres com gramados e horta escolar, o que reproduz o cotidiano do educandos. Assim,

se fazendo parte deste ambiente.

Com o fechamento das Escolas menores das localidades vizinhas, sentiu-se a necessidade da ampliação desta Escola. Com isso foi proposta pelo Poder Público do estado a nuclearização, que se realizou no ano de 2000 com a implantação gradativa das séries finais

l. Por isso o educandário passou a

passou a atender os filhos de pequenos agricultores(fumicultores) da Linha Teotônia, Linha Branca, Linha Travessão, e Linha Nova.

se por apresentar diversidade no econômicas são menos acentuadas,

se pela presença de crianças e adolescentes oriundos da classe média baixa e

As crianças e os adolescentes apresentam relativa facilidade de integração ao ambiente uma escola que não os desvincula de seu

rural, ela também apresenta áreas livres com gramados e horta escolar, o que reproduz o cotidiano do educandos. Assim,

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Localização da E. M.de E. F. Três de Maio, Linha Teotônia, Agudo

Como pode-se perceber na figura anteriora visão, in loco, que os alunos tem da janela de sua escolafumo e vegetação nativa, o que não os desvincula da realidade vivida em suas casas. Nesse sentido, a escola do campo traz uma maior proximidade do aluno com a natureza, mesmo que o aluno viesse da área urbana para estudar eeste contanto mais próximo dos diversos elementos naturais que são abordados no ensino de geografia como: Hidrografia, solo, vegetação, rochas. Para os alunos não terem somente esta mesma visão a escola dispõe dinformática, com internet disponível para os alunos fazerem suas pesquisas, e conhecer outras realidades também. No entanto, nesse aspecto esta escola, bem como as observações feitas nas outras escolas do município, há uma carência tanto de icomo por exemplo, mais tempo para os alunos fazerem uso deste meio de obter comunicação, informação e relações sociais, pois a grande maioria dos alunos das escolas do campo não possuem internet disponível em suas casas, sesta tecnologia. Assim, há um ponto positivo de se ter estas escolas núcleo do campo para não desvincular os alunos de sua relação com a natureza e atividades cotidianas, porém falta incentivo e acesso a novas tecnologias.

A visão dos professores e dos alunos quanto aprendizagem Este subcapítulo aborda as respostas obtidas nas entrevistas realizadas aos professores do 9º ano da escola Três de Maio de acordo como foi descrito acmetodológicos deste trabalho.

Quanto a primeira pergunta, a grande maioria, 7 dos 8 professores que lecionam para o 9º ano na escola Três de Maio, possui origem rural, porém alguns destes residência na área urbana. O quprofessora, é a proximidade com a escola. Por serem de origem do meio rural não é de grande

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Localização da E. M.de E. F. Três de Maio, Linha Teotônia, AgudoFonte: Google Earth.

se perceber na figura anterior, a escola encontra-se no meio rural. Assim,

, que os alunos tem da janela de sua escola são lavouras, principalmente de fumo e vegetação nativa, o que não os desvincula da realidade vivida em suas casas. Nesse sentido, a escola do campo traz uma maior proximidade do aluno com a natureza, mesmo que o aluno viesse da área urbana para estudar em uma escola do campo, desde criança temeste contanto mais próximo dos diversos elementos naturais que são abordados no ensino de geografia como: Hidrografia, solo, vegetação, rochas.

Para os alunos não terem somente esta mesma visão a escola dispõe dinformática, com internet disponível para os alunos fazerem suas pesquisas, e conhecer outras realidades também. No entanto, nesse aspecto esta escola, bem como as observações feitas nas outras escolas do município, há uma carência tanto de incentivo a pesquisa na internet , como por exemplo, mais tempo para os alunos fazerem uso deste meio de obter comunicação, informação e relações sociais, pois a grande maioria dos alunos das escolas do campo não possuem internet disponível em suas casas, sendo a escola o primeiro e único contato com

Assim, há um ponto positivo de se ter estas escolas núcleo do campo para não desvincular os alunos de sua relação com a natureza e atividades cotidianas, porém falta

tecnologias.

A visão dos professores e dos alunos quanto à escola e o processo de ensino

Este subcapítulo aborda as respostas obtidas nas entrevistas realizadas aos professores do 9º ano da escola Três de Maio de acordo como foi descrito acima, nos procedimentos

Quanto a primeira pergunta, a grande maioria, 7 dos 8 professores que lecionam para o 9º ano na escola Três de Maio, possui origem rural, porém alguns destes residência na área urbana. O que os levou lecionar nessa escola, com exceção de uma professora, é a proximidade com a escola. Por serem de origem do meio rural não é de grande

Localização da E. M.de E. F. Três de Maio, Linha Teotônia, Agudo-RS.

se no meio rural. Assim, são lavouras, principalmente de

fumo e vegetação nativa, o que não os desvincula da realidade vivida em suas casas. Nesse sentido, a escola do campo traz uma maior proximidade do aluno com a natureza, mesmo que

m uma escola do campo, desde criança tem-se este contanto mais próximo dos diversos elementos naturais que são abordados no ensino de

Para os alunos não terem somente esta mesma visão a escola dispõe de uma sala de informática, com internet disponível para os alunos fazerem suas pesquisas, e conhecer outras realidades também. No entanto, nesse aspecto esta escola, bem como as observações feitas

ncentivo a pesquisa na internet , como por exemplo, mais tempo para os alunos fazerem uso deste meio de obter comunicação, informação e relações sociais, pois a grande maioria dos alunos das escolas do campo não

endo a escola o primeiro e único contato com

Assim, há um ponto positivo de se ter estas escolas núcleo do campo para não desvincular os alunos de sua relação com a natureza e atividades cotidianas, porém falta

escola e o processo de ensino-

Este subcapítulo aborda as respostas obtidas nas entrevistas realizadas aos professores ima, nos procedimentos

Quanto a primeira pergunta, a grande maioria, 7 dos 8 professores que lecionam para o 9º ano na escola Três de Maio, possui origem rural, porém alguns destes têm sua atual

e os levou lecionar nessa escola, com exceção de uma professora, é a proximidade com a escola. Por serem de origem do meio rural não é de grande

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dificuldade relacionar questões do cotidiano dos alunos. No entanto, um dos professores de geografia desta escola possui formação em história, o professor do 9º ano, o que dificulta trabalhar com os aspetos naturais, como geologia hidrografia e relevo, na disciplina. Esta não é uma realidade apenas desta escola.

Com a nova reforma curricular de ensino professores de sociologia, de história e de geografia podem dar as mesmas disciplinas, porém quando são abordados conteúdos referentes aos aspectos físico-naturais, há uma grande dificuldade dos professores de sociologia de história trabalhar os conteúdos, bem como fazer relações deste com o cotidiano dos alunos. Nesse sentido, o educador fazer parte da realidade do educando auxilia e facilita relacionar os conteúdos com o cotidiano dos alunos.

Os professores entrevistados nesta escola consideram importante a localização da escola próximo das residências dos alunos no meio rural, pois torna-se um ambiente mais tranquilo facilitando o processo de ensino aprendizagem. Assim, a valorização do lugar e as questões ambientais são de grande relevância ser trabalhadas nas aulas de geografia, buscando maior interação com os alunos.

Entrevista com os alunos do 9º ano Dos pais dos 21 alunos do 9º ano, 20 trabalham na lavoura com cultivo do fumo e

apenas de uma aluna o pai é pedreiro. Os alunos, como são de famílias que praticam agricultura familiar, a maioria, 17 dos

21 alunos, ajudam seus pais nas atividades da lavoura desde cedo, desde os 11/12 anos de idade. Os que ajudam a família disseram que normalmente ajudam com entusiasmo, pois há um incentivo para trabalharem, por exemplo, dar uma bicicleta, uma moto ou mesmo dinheiro no final da safra. Por conhecimento empírico, sabe-se que há algumas exceções onde os adolescentes são pressionados a trabalhar sem incentivo no município, porém tem diminuído significativamente nos últimos anos devido à legislação e fiscalização não permitir presença de crianças e adolescentes na lavoura. No entanto, isto também tem ajudado no “desenraizamento” do jovem com a lavoura. Por vezes, também há um desapego dos adolescentes pelas atividades realizadas no campo, visando o trabalho na cidade como mais fácil e mais remunerado. A prática de participar efetivamente nas atividades do campo junto com seus pais, divide a opinião dos alunos quanto ao gostar de ir na escola e estudar. Isso se deve em grande maioria pela falta de relacionar os conteúdos escolares com o seu cotidiano, dando significado prático das matérias para as atividades realizadas em casa, tornando assim necessário estudar para viver no campo com maior conhecimento e maior qualidade de vida. Nesse sentido, percebe-se que os alunos nessa fase de ensino tem dúvida quanto à contribuição do estudo para a realização de suas atividades.

Alguns desses alunos já estão convencidos de que querem continuar no meio rural trabalhando na lavoura, 8 dos 21 alunos questionados, porém tem-se 9 dos 21, que não querem mais ficar neste ambiente, por ser uma vida muito difícil, onde sofrem com o calor do sol e trabalham no pesado e 4 disseram que tanto faz se for na cidade ou no campo para viver.

Quanto às questões ambientais possuem consciência da importância de se ter uma relação harmônica com o meio ambiente, em unanimidade. Todos disseram que cuidam para não soltar lixo no meio ambiente. Nesse sentido, eles procuram discutir a importância de cuidar do meio ambiente para ter uma melhor qualidade de vida.

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Quando se pergunta a eles sua opinião sobre o que acham da cidade a grande maioria gosta, por se ter acesso a mercadorias e maior relação com as pessoas, 19 dos 21 dos alunos questionados. Porém acham as pessoas que vivem na cidade são muito “delicadas” e que seus trabalhos são muito mais “fácil” de ser realizado, sem necessidade de se esforçar, braçalmente. Está intrínseco nesses jovens, que o trabalhar é o braçal e não o intelectual. Essa distinção é difícil de ser compreendida por eles, de que o trabalho intelectual realizado na cidade também é um trabalho e que é necessário para toda a sociedade.

As aulas de geografia: o caso da turma do 9º ano do ensino Fundamental No ano de 2013, os alunos do 9º ano da E. M. E. F. Três de Maio, na qual foi realizada

a pesquisa durante o terceiro trimestre, caracteriza-se por apresentar-se em turma única. Esta, é composta atualmente por 21 educandos, destes, 13 meninas e 8 meninos.A é turma participativa, os alunos fazem perguntas e dão contribuição quando questionados sobre algum tipo de conteúdo. Esta turma de alunos apresenta poucos problemas no que envolve comportamento e aprendizagem, pois é homogênea, por conter educandos provindos da mesma realidade cotidiana, de famílias de agricultores.

No decorrer desta pesquisa, percebeu-se que a turma exige do professor de geografia a problematização dos conteúdos fazendo comparações com sua realidade, despertando mais interesse. Portanto, se faz necessário compreender mais sobre a realidade do trabalho no campo para chamar a atenção e o interesse dos alunos. Ao utilizar-se o método dialógico, a aula se torna interessante e participativa, perante as atividades desenvolvidas. Ao questioná-los, por exemplo, sobre conteúdos que permitem comparar aquilo presente no livro didático com realidades de seu cotidiano, buscam a resposta com mais entusiasmo e facilidade.

Atividades desenvolvidas nas aulas de geografia O primeiro exemplo de atividade aplicada com os alunos refere-se ao conhecimento de sua própria história, através da genealogia articulada a didática pela pesquisa sobre as diversas etnias existentes no Brasil: índios, africanos, Italianos, portugueses e alemães, abordando seus modos de vida, religião, culinária, vestimentas, músicas e danças. Primeiramente a pesquisa foi realizada na internet depois discutida com os grupos. Na discussão os alunos apresentavam os resultados encontrados nas pesquisas da internet, sendo instigados a fazer relações com o seu conhecimento prévio.

Ao se realizar uma pesquisa sobre as diversas etnias existentes percebe-se que os alunos apresentam maior interesse e conhecimento sobre a origem étnica que eles mais se identificam. No entanto, é de grande importância trazer conhecimento sobre as relações históricas e culturais das diversas etnias para que se tenha uma relação harmoniosa, de respeito e de união, necessárias para que haja paz e desenvolvimento em suas comunidades, no município, no país e no mundo inteiro. Dentro do conhecimento prévio sobre as diversas etnias eles demonstraram maior conhecimento sobre os alemães e italianos. Isso se deve a colonização feita por estes na região, sendo vividas experiências no seu, através de meios de comunicação local, através seus familiares e comunidade. Assim, eles demonstraram conhecimento sobre as características desses dois povos, principalmente sobre sua culinária, músicas e religião.

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Ao se trabalhar com outros países, como por exemplode grande importância conhecer melhor este país devido consequentemente com seu cotidiano. Por exemplo,baseada na fumicultura depende diretamente dos contratos feitos nos últimos anos entre Brasil e China, onde o tabaco é exportado para a China e com isso não foi inserido ainda o processo de erradicação do cultivo de fumsuas comunidades e para o município que depende dessa atividade. Assim, conseguiram perceber suas atividades cotidianas possui relação com a economia global, dandomaior importância ao seu lugar. Durante as atividades realizadas sobre a China foram realizadas ainda comparações entre as atividades econômicas existentes lá com o Brasil. Nesse sentido, podecaracterísticas da agricultura da China e fazer comparações com a agrmunicípio de Agudo, principalmente envolvendo o cultivo do arroz, a forma de cultivo da China e a forma de cultivo realizada aqui, apresentando as figuras figuras pode-se destacar para os alunos que enquantambém ser realizada de forma braçal e além de ser cultivado em várzeas, também é cultivado em relevos de encosta através de curvas de nível, aqui somente é cultivada de forma mecanizada e em planícies de inundação, ccomparações os alunos conseguem se familiarizar mais com o conteúdo, pois já tem conhecimento prévio da realidade local, além disso, percebem a importância da agricultura do seu lugar.

Pessoas trabalhando no

Cultivo de arroz de forma mecanizada no Brasil

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Ao se trabalhar com outros países, como por exemplo, a China, podede grande importância conhecer melhor este país devido às relações existente com o Brasil e consequentemente com seu cotidiano. Por exemplo, a realidade da economia local que é baseada na fumicultura depende diretamente dos contratos feitos nos últimos anos entre Brasil e China, onde o tabaco é exportado para a China e com isso não foi inserido ainda o processo de erradicação do cultivo de fumo, o que traria graves problemas para as suas famílias, para suas comunidades e para o município que depende dessa atividade. Assim, conseguiram perceber suas atividades cotidianas possui relação com a economia global, dando

eu lugar. Durante as atividades realizadas sobre a China foram realizadas ainda comparações

entre as atividades econômicas existentes lá com o Brasil. Nesse sentido, podecaracterísticas da agricultura da China e fazer comparações com a agricultura desenvolvida no município de Agudo, principalmente envolvendo o cultivo do arroz, a forma de cultivo da China e a forma de cultivo realizada aqui, apresentando as figuras a seguir

se destacar para os alunos que enquanto na China essa atividade é possível também ser realizada de forma braçal e além de ser cultivado em várzeas, também é cultivado em relevos de encosta através de curvas de nível, aqui somente é cultivada de forma mecanizada e em planícies de inundação, como é o caso do município de Agudo. Nessas comparações os alunos conseguem se familiarizar mais com o conteúdo, pois já tem conhecimento prévio da realidade local, além disso, percebem a importância da agricultura do

Pessoas trabalhando no cultivo do arroz e cultivo d e arroz em curvas de nível na encosta

Fonte: Google Imagens.

Cultivo de arroz de forma mecanizada no Brasil

Fonte: Google Imagens.

a China, pode-se abordar que é relações existente com o Brasil e

a realidade da economia local que é baseada na fumicultura depende diretamente dos contratos feitos nos últimos anos entre Brasil e China, onde o tabaco é exportado para a China e com isso não foi inserido ainda o processo

o, o que traria graves problemas para as suas famílias, para suas comunidades e para o município que depende dessa atividade. Assim, conseguiram perceber suas atividades cotidianas possui relação com a economia global, dando-se assim

Durante as atividades realizadas sobre a China foram realizadas ainda comparações entre as atividades econômicas existentes lá com o Brasil. Nesse sentido, pode-se abordar as

icultura desenvolvida no município de Agudo, principalmente envolvendo o cultivo do arroz, a forma de cultivo da

a seguir. A partir destas to na China essa atividade é possível

também ser realizada de forma braçal e além de ser cultivado em várzeas, também é cultivado em relevos de encosta através de curvas de nível, aqui somente é cultivada de forma

omo é o caso do município de Agudo. Nessas comparações os alunos conseguem se familiarizar mais com o conteúdo, pois já tem conhecimento prévio da realidade local, além disso, percebem a importância da agricultura do

cultivo do arroz e cultivo d e arroz em curvas de nível na encosta.

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Nas atividades em que se estudou sobre o continente Africano buscouprimeiramente relações com as paisagens existentes no Brasil, para trabalhar os aspectos físicos. Foram feitas comparações dos tipos de vegetação existentes na África com os tipovegetação existente no Brasil. Além disso, destacouAfricano e sua separação do continente Sulentre os dois lugares devido já terem sido um só. A partir do relevo loccom mais clareza para os alunos, figuras 12 e 13, obtidas com o Google que as figuras foram captadas em latitudes semelhantes. Os alunos foram questionados sobre o que viam nas imagens, como era o relevo em cada consegue-se ter maior interesse dos alunos pelos conteúdos, pois eles veem outros locais e os comparam com o seu.

Paisagem vista no sudeste África do Sul

Paisagem vista em Agudo no Brasil.

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Nas atividades em que se estudou sobre o continente Africano buscouprimeiramente relações com as paisagens existentes no Brasil, para trabalhar os aspectos físicos. Foram feitas comparações dos tipos de vegetação existentes na África com os tipovegetação existente no Brasil. Além disso, destacou-se o processo de formação do continente Africano e sua separação do continente Sul-Americano, e que existem muitas semelhanças entre os dois lugares devido já terem sido um só. A partir do relevo local pôdecom mais clareza para os alunos, figuras 12 e 13, obtidas com o Google Earthque as figuras foram captadas em latitudes semelhantes. Os alunos foram questionados sobre o que viam nas imagens, como era o relevo em cada lugar, e a cobertura vegetal. Assim,

se ter maior interesse dos alunos pelos conteúdos, pois eles veem outros locais e os

Paisagem vista no sudeste África do Sul Fonte: Google Earth.

Paisagem vista em Agudo no Brasil. Fonte: Google Earth.

Nas atividades em que se estudou sobre o continente Africano buscou-se trazer primeiramente relações com as paisagens existentes no Brasil, para trabalhar os aspectos físicos. Foram feitas comparações dos tipos de vegetação existentes na África com os tipos de

se o processo de formação do continente Americano, e que existem muitas semelhanças

al pôde-se explicar arth. Cabe ressaltar

que as figuras foram captadas em latitudes semelhantes. Os alunos foram questionados sobre lugar, e a cobertura vegetal. Assim,

se ter maior interesse dos alunos pelos conteúdos, pois eles veem outros locais e os

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Os conteúdos de geografia sobre os aspectos culturais e socioeconômicos, pode-se destacar os problemas vividos no lugar e fazer comparações com algumas realidades existentes naquele continente. Por exemplos, costumes trazidos pelos africanos ao Brasil, como as danças de capoeira e o samba. Também destacou-se os problemas sociais que são encontrados aqui e os problemas sociais entrados lá. Quando destacou-se que lá, em algumas regiões, existe pessoas ficam até dias sem comer e aqui na região central do Rio Grande do Sul isso não ocorre, embora em alguns casos não se tenha fartura aqui, mas sempre se tem algo para comer, aprenderam a dar mais valor ao lugar onde vivem. Para isso foi mostrado uma figura da realidade africana para impactá-los, fazendo com que reflitam sobre sua realidade, valorizado não apenas o seu lugar mas também suas condições de vida.

Crianças famintas na África.

Fonte: Google Imagens.

Além disso, pode-se destacar a abertura de campo de trabalhos para esse continente justamente devido aos problemas lá existente, como falta de profissionais técnicos agrícolas, professores, etc. Sendo assim, é de grande importância conhecer melhor aquele continente.

Ao se trabalhar sobre os diversos conteúdos destacou-se também o local e da realidade local se trabalha o global, sempre fazendo trans-relações entre os conteúdos escolares e o cotidiano dos educandos.

O caso da realidade da Escola de Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos: Escola da cidade de Agudo

O patrono da escola é o Professor Willy Roos, escolhido pela sua determinação e

dedicação às causas educacionais e sociais do município de Agudo. Acompanhou a história

deste educandário desde a sua fundação como Ginásio Estadual em 16/03/1962.

A partir de 1978 este ginásio passou a chamar-se Escola estadual Duque de Caxias, e

em 1979 foi criada a Escola Estadual de 2º Grau de Agudo, ambas funcionando no mesmo

prédio. Em 1982 a escola de 2º grau recebeu o nome do Professor Willy Roos (um ano após

seu falecimento), e em 1989 as duas escolas foram unificadas sob a denominação de escola

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Estadual de 1º e 2º Graus Professor Willy Roos, sendo que a partir de 2000, esta passou a

denominar-se Escola Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos.

É um breve resumo que retrata a trajetória da criação e denominação deste

educandário que está inserido na cidade denominada

abrigou cidadãos e cidadãs que fizeram a continuam fazendo acontecer o progresso deste

município em todos os setores. E este, permanece o propósito da escola: oferecer uma

educação participativa e ensino de qualidade refletida na ação e comprometimento diário de

seus docentes, funcionários e alunos desde a pré

Assim, esta escola está localizada na área urbana do município, apresenta boa estrutura física com 2 prédios, 23 salas de aula, sala de vídeo e sala de informática. Possui o maior número de alunos dentre as escolas do município, isto ocorre devido atender os alunos da maior parte do município com o ensino médio.

Embora há um grande números de alunos provindo do meio rural a escola localizana área urbana, figura 15. Está localizada na rua Germano Hentske, Bairro Centro da Cidade de Agudo.

Localização da escola na área

Atualmente a escola dispõe de 17 salas de aula, 1 acervo), 1 sala de leitura, 1 laboratório de ciências, 1 cozinha, 1 despensa, 1 adaptada), 1sala de vice-direção, 1 sala para a direção, 1 secretaria, 7 dependências sanitárias, 1 laboratório de informática (200 computadores), 1almoxarifado, 1 sala de reuniões e sessões de estudo, 1 sala para planejamento dos professores e supervisão escolar, 1 consultório dentário, 1 área para fumantes, 1 sala multiuso (reuniões grêmio estudantil, banco de livros, aulas de reforço), 1sala para depósito de materiais de expediente, 1 depósito para materiais

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Estadual de 1º e 2º Graus Professor Willy Roos, sendo que a partir de 2000, esta passou a

se Escola Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos.

resumo que retrata a trajetória da criação e denominação deste

educandário que está inserido na cidade denominada Agudo, em cujos bancos escolares

abrigou cidadãos e cidadãs que fizeram a continuam fazendo acontecer o progresso deste

setores. E este, permanece o propósito da escola: oferecer uma

educação participativa e ensino de qualidade refletida na ação e comprometimento diário de

seus docentes, funcionários e alunos desde a pré-escola ao 3º ano do ensino médio.

está localizada na área urbana do município, apresenta boa estrutura 23 salas de aula, sala de vídeo e sala de informática. Possui o maior

número de alunos dentre as escolas do município, isto ocorre devido atender os alunos da parte do município com o ensino médio. Embora há um grande números de alunos provindo do meio rural a escola localiza

na área urbana, figura 15. Está localizada na rua Germano Hentske, Bairro Centro da Cidade

Localização da escola na área urbana de Agudo-RS. Fonte: Google Earth.

Atualmente a escola dispõe de 17 salas de aula, 1 biblioteca (10.000 exemplares m seu acervo), 1 sala de leitura, 1 laboratório de ciências, 1 cozinha, 1 despensa, 1

eção, 1 sala para a direção, 1 secretaria, 7 dependências sanitárias, 1 laboratório de informática (200 computadores), 1almoxarifado, 1 sala de reuniões e sessões de estudo, 1 sala para planejamento dos professores e supervisão escolar, 1 consultório

rio, 1 área para fumantes, 1 sala multiuso (reuniões grêmio estudantil, banco de livros, aulas de reforço), 1sala para depósito de materiais de expediente, 1 depósito para materiais

Estadual de 1º e 2º Graus Professor Willy Roos, sendo que a partir de 2000, esta passou a

resumo que retrata a trajetória da criação e denominação deste

Agudo, em cujos bancos escolares

abrigou cidadãos e cidadãs que fizeram a continuam fazendo acontecer o progresso deste

setores. E este, permanece o propósito da escola: oferecer uma

educação participativa e ensino de qualidade refletida na ação e comprometimento diário de

escola ao 3º ano do ensino médio.

está localizada na área urbana do município, apresenta boa estrutura 23 salas de aula, sala de vídeo e sala de informática. Possui o maior

número de alunos dentre as escolas do município, isto ocorre devido atender os alunos da

Embora há um grande números de alunos provindo do meio rural a escola localiza-se na área urbana, figura 15. Está localizada na rua Germano Hentske, Bairro Centro da Cidade

10.000 exemplares m seu acervo), 1 sala de leitura, 1 laboratório de ciências, 1 cozinha, 1 despensa, 1 refeitório (sala

eção, 1 sala para a direção, 1 secretaria, 7 dependências sanitárias, 1 laboratório de informática (200 computadores), 1almoxarifado, 1 sala de reuniões e sessões de estudo, 1 sala para planejamento dos professores e supervisão escolar, 1 consultório

rio, 1 área para fumantes, 1 sala multiuso (reuniões grêmio estudantil, banco de livros, aulas de reforço), 1sala para depósito de materiais de expediente, 1 depósito para materiais

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diversos, 1 quadra poli esportiva coberta, 1 quadra pavimentada ao ar livre, 3 dependências adaptadas para uso exclusivo do Policial Militar residente, 1 área pavimentada coberta, 1 cantina, 1 pracinha, 1 acesso coberto á escola e área livre.

A escola conta com 44 professores e 10 funcionários, sendo destes, 7 professores contratados emergencialmente, e os funcionários, todos nomeados através de concurso público (2 em estágio probatório). Quanto ao grau de escolaridade do corpo docente, apenas dois não possuem o curso de licenciatura plena concluído.

Os professores, os alunos, a localização da escola e o processo de ensino-aprendizagem

Dentre os professores que lecionam no ensino médio, em sua grande maioria são da área urbana, 8 de 10 professores, o que dificulta muitas vezes o entendimento do cotidiano dos educandos provindos do meio rural. Dentre os motivos que os levaram a lecionar nesta escola, o principal, é a proximidade de suas moradias com a escola, 9 de 10 professores, apenas uma foi somente pela oportunidade, sendo que esta professora mora em outro município.

Percebe-se uma grande dificuldade de se trabalhar a valorização do lugar nas aulas de geografia por parte dos professores, principalmente no ensino médio. Dentre os motivos estão: dificuldade de relacionar o cotidiano dos alunos com o conteúdo e a reforma dos parâmetros curriculares nacionais que reduziram as aulas de geografia no ensino médio para apenas 45 min de aula semanais.

Os professores acreditam que com a localização da escola mais próxima dos alunos, consegue-se melhor abordar os conteúdos relacionando com a realidade do cotidiano deles, por esta ser mais visível. Assim, a localização da escola pode influenciar no processo de ensino-aprendizagem, pois se a escola está localizada no meio rural será mais fácil abordar conteúdos sobre agricultura e sobre os aspectos físico-naturais, já se a escola está localizada na cidade torna-se mais fácil abordar as questões da globalização e as problemáticas sociais e econômicas.

Mesmo que, o período das aulas de geografia, no ensino médio tenha sido reduzido, a professora desta disciplina, tem buscado sempre abordar as questões ambientais em suas aulas. Embora por muitas vezes não conhece muito bem a diversas atividades realizadas pelos alunos, sempre busca abordar essas questões levando em consideração a realidade local. Já os demais professores das demais disciplinas muito pouco abordam as questões ambientais.

Resposta do questionário aplicado aos alunos Dentre as atividades realizadas pelos alunos e seus pais no ensino médio, está à

agricultura como a principal, isto ocorre devido a grande maioria dos alunos serem provindos do meio rural, já que esta escola absorve todos os alunos da porção norte do município que seguem estudando para terminar o ensino médio. Estes, normalmente ajudam seus pais na agricultura familiar predominante no município. Dentre os alunos da cidade as principais atividades dos pais é o trabalho de empregado na fábrica de calçado Botero ou no comércio, com exceção dos pais de uma aluna que mora na Vila Caiçara, mas trabalham nas lavouras de fumo próximas da cidade.

De um modo geral os alunos gostam de vir a esta escola, por ser não apenas um local de ensino, mas também de socialização, descontração e fuga da rotina cotidiana da lavoura.

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Porém, os alunos que pretendem continuar estudando, são bem divididos, onde 10 do total de alunos 23, tem ideia de fazer uma graduação. Os alunos que não querem, dizem que não gostam de estudar, dos que moram na zona rural gostam de trabalhar na lavoura, sentem-se livres e argumentam não tem emprego para todos que fizerem graduação. Já os que querem continuar estudando ou buscam uma vida mais fácil na cidade, com menos esforço braçal, sem exposição ao sol em dias quentes e salário garantido no final do mês. No entanto, todos concordam que a educação básica (ensino fundamental e médio) contribui para as suas atividades.

Todos os alunos da turma apresentam preocupação com as questões ambientais, tanto os que moram no meio rural quanto os da área urbana, sendo que os de área urbana apresentam uma visão ambientalista mais radical, considerando muitas vezes a natureza intocável. Isso se deve, principalmente, por não entenderem muitas vezes a necessidade se utilizar a terra para cultivar, pois sem utilizá-la não se pode produzir o alimento consumido na cidade.

Quanto a atitudes para ter uma boa relação com o meio ambiente a grande maioria, 22 dos 23 alunos, acredita que ser importante não jogar lixo em qualquer lugar, já ser o bastante. Uma única aluna destacou uma visão mais complexa da questão ambiental, como por exemplo, cuidar das áreas de preservação permanente ser importante para manter o leito dos rios normal e evitar a erosão das encostas. Porém deve-se destacar que conhecer o ambiente que se vive é crucial para se ter uma convivência harmônica. A partir do momento em que o indivíduo conhece as diversas potencialidades e restrições existentes em cada lugar, tanto naturais quanto sociais, o indivíduo consegue respeitar mais o meio ambiente e o seu o próximo, resultando em um desenvolvimento de uma sociedade consciente e equilibrada economicamente, socialmente e ambientalmente.

De um modo geral todos os alunos em questão possuem relação com alguém (parente ou amigo) do campo ou vivem na zona rural. Nesse sentido, eles sabem que são de grande importância as pessoas que vivem no campo, pois são elas que produzem os alimentos cosumidos por todos. No entanto, há muitas vezes uma visão de ironia em relação à simplicidade das pessoas do campo, percebeu-se isso em 3 alunos da cidade que referiram-se principalmente com relação ao modo de falar, mais coloquial, titulando-os de “grosseiros”. Esta visão vem sendo cada vez mais superada.

As aulas de geografia: o caso da turma do 2º ano do ensino Médio As análises das aulas de geografia no 2º ano do ensino médio foram realizados na

Escola Estadual de Educação Básica Professor Willy Roos com intuito de verificar como estão sendo desenvolvidas as aulas de geografia em uma escola da área urbana. Assim, a pesquisa ocorreu através do desenvolvimento de atividades com a turma, 201 composta por 23 educandos, sendo 14 alunos moradores do meio rural e 9 da área urbana.

Os alunos apresentaram-se bem participativos, fazendo perguntas e contribuindo quando questionados sobre algum tipo de conteúdo. A turma apresentou poucos problemas que envolvem comportamento e aprendizagem, pois é uma turma bastante homogênea, por conter educandos provindos de uma mesma realidade cotidiana, filhos de agricultores.

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Atividades desenvolvidas nas aulas de geografia As atividades foram desenvolvidas durante as aulas de geografia do terceiro trimestre

de 2013, pelo pesquisador. Não foi utilizado o livro didático na escola em virtude da dificuldade de “dar conta” dos conteúdos programáticos e que fazem parte da segunda prova feita pelo ensino médio para o programa de ingresso ao ensino superior da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Assim, tem-se buscado diferentes materiais didáticos: reportagens, fotos, textos, vídeos, data show e Google Earth.

Em busca da valorização do lugar através do ensino geografia buscou-se relacionar os diversos elementos da natureza: clima, solos, geologia, hidrografia, relevo, vegetação, com o cotidiano e a paisagem vista e vivida pelos alunos.

Ao abordar a tectônica de placas e o vulcanismo, foi mostrada primeiramente a realidade mundial, destacando a evolução do relevo a partir do vulcanismo e da hidrografia, conjuntamente foram abordados os fatores que formaram o relevo de Agudo, sempre priorizando a participação dos alunos, com histórias, paisagens e fatos vivenciados, trazendo, sempre que possível, para a realidade local, com exemplos do cotidiano dos alunos. Destacou-se que a formação do Morro Agudo, morro que traz a denominação do município, não se deu por vulcão, mas por longos processos de evolução do relevo. Diante dessa evolução hoje o Morro Agudo é um morro testemunho do recuo da vertente que ocorreu através de processos erosivos.

Para fins didáticos utilizou-se o mapa mundo com as principais placas tectônicas e uma figura com a evolução do relevo para mostrar como se formou o morro agudo.

Mapa mundo com as principais placas tectônicas.

Fonte: Google Imagens

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Evolução do Relevo.

Fonte: Google imagens.

Os alunos demonstraram compreender o conteúdo com facilidade conseguindo destacar seu conhecimento em relação à influência da erosão na formação do relevo.

Sobre a formação das rochas foram abordadas primeiramente as rochas existentes no município, passando-se primeiramente as rochas de origem vulcânica Extrusiva (basalto), posteriormente as rochas de origem sedimentar (fluvial com arenitos da formação caturrita e eólica com arenitos da formação Botucatu) e por fim as de origem metamórficas, sendo que estas últimas não são encontradas no município. Enquanto os alunos pegavam as amostras de rochas, era passado a explicação para origem e formação de cada uma. Nas explicações foram citados exemplos das rochas do município, mas também de outros lugares, como por exemplo, da cordilheira dos Andes. Além dessas explicações, foi mostrada a figura a seguir, onde se tem as formações das rochas.

Evolução e formação das rochas.

Fonte: Google imagens

Os alunos participaram significativamente das atividades pedagógicas, pois como são em grande maioria do meio rural, e os que são da cidade normalmente também tem contato com as rochas do entorno da cidade, lidar com as rochas faz parte do cotidiano deles, uma vez

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que estão presentes nas lavouras, o que se torna mais interessante ainda conhecer a origem importância de cada uma, seja para formação de solo ou valor econômico como é o caso do basalto e do granito. Nesse sentido, ressaltou-se aos alunos que o granito é utilizado em escadarias em cemitérios e em acabamentos de edificações, bem como o mármore, já o basalto além destas mesmas utilizações também é utilizado em calçamento, e como brita para a construção civil.

Porém eles ficaram mais impressionados com a amostra de uma rocha que se formou a partir de erupção vulcânica, apresentando pequenos cristais e podem ser encontrados também em algumas porções mais elevadas do município.

Para destacar a importância de se estudar os diversos elementos naturais, fez-se uma relação e destacou-se a importância destes elementos nas atividades agricultura. Além de relacionar com o campo destacou-se também a importância destes elementos no planejamento urbano.

Ao fazer relações com o seu conhecimento prévio e com seus cotidiano, as aulas ficam mais dinâmicas e ao mesmo tempo tem-se uma valorização do lugar, pois uma vez que seu lugar vivido é utilizado como exemplo ele torna-se importante e assim conhece-se melhor o local e ocorre a valorização do lugar.

Nesse sentido foi demonstrado a eles como se gera um perfil topográfico no Google Earth, bem como a paisagem existente ao longo deste. Este perfil foi gerado ao longo do município de Agudo buscando apresentar as diversas paisagens do município, apresentado na figura a seguir, de sudoeste à nordeste do município, pode-se observar a diversidades do substrato, relevo e uso na área de estudo, que tendem a seguir as restrições impostas pelo meio físico, principalmente com relação ao relevo.

Foi destacado aos alunos que com este perfil, compartimentação geomorfológica do município a partir da integração dos elementos naturais da área e dos processos a eles envolvidos, permite diferenciar cinco principais unidades geomorfológicas: Rampas de Colúvio-Alúvio do Rio Jacuí; Rampas de Alúvio–Colúvio dos Arroios; Colinas Arenosas; Associação de Morros e Morrotes do Rebordo do Planalto e; Colinas Vulcânicas do Planalto Serra Geral, SCHIRMER(2010). Cada unidade definida se caracteriza por diferentes processos superficiais que podem condicionar o uso do solo, com porções onde se tem atividades agrícolas e outras com cobertura vegetal. A atividade apresentou resultado satisfatório, pois os alunos demonstraram grande interesse em aprender o conteúdo e além de abordar a temática da relação da agricultura com os aspectos naturais de uma forma geral também abordou-se como isto ocorre no município. Assim o conhecimento deles tornou-se mais amplo, não apenas um conhecimento geral, mas também específico.

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Perfil geomorfológico de direção Complexo da Serra, Agudo

Por fim destacou-se a importância de se planejar o espaço de acordo com as potencialidades e restrições impostas pelo meio natural. Para isto devecaracterísticas do lugar, como atividades economicamente, ambientalmente e socialmente viáveis, principalmente nas propriedades rurais.

Nesse sentido, coube apresentar um modelo de integração dos diversos elementos naturais e atividades que podem ser desenvolvidas no meio rural, figura 20. Através de uma representação da realidade local o interesse dos educandos teve um significativo interesse em aprenderensino de geografia na sua vida cotidiana.

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Perfil geomorfológico de direção sudoeste-nordeste entre as localidades de Várzea do Agudo e Complexo da Serra, Agudo-RS e imagens representativas das formas de relevo.

Fonte: Schirmer, 2012.

se a importância de se planejar o espaço de acordo com as trições impostas pelo meio natural. Para isto deve-se conhecer as diversas

características do lugar, como atividades economicamente, ambientalmente e socialmente viáveis, principalmente nas propriedades rurais.

Nesse sentido, coube apresentar um modelo de propriedade da região, com a integração dos diversos elementos naturais e atividades que podem ser desenvolvidas no meio rural, figura 20. Através de uma representação da realidade local o interesse dos educandos teve um significativo interesse em aprender mais sobre o conteúdo e sobre a importância do ensino de geografia na sua vida cotidiana.

nordeste entre as localidades de Várzea do Agudo e

RS e imagens representativas das formas de relevo.

se a importância de se planejar o espaço de acordo com as se conhecer as diversas

características do lugar, como atividades economicamente, ambientalmente e socialmente

propriedade da região, com a integração dos diversos elementos naturais e atividades que podem ser desenvolvidas no meio rural, figura 20. Através de uma representação da realidade local o interesse dos educandos

mais sobre o conteúdo e sobre a importância do

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Representação de uma proposta de propriedade ecologicamente sustentável, a partir de uma propriedade real, localizada em Linhintegração dos diversos elementos que compõem a paisagem.

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Representação de uma proposta de propriedade ecologicamente sustentável, a partir de uma propriedade real, localizada em Linhintegração dos diversos elementos que compõem a paisagem.

Fonte: SCHIRMER G.J., 2012.

Representação de uma proposta de propriedade ecologicamente sustentável, a partir de uma propriedade real, localizada em Linha Boêmia, Agudo-RS, com a

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Síntese dos resultados

O processo de aprendizagem, levando em consideração o estudo do lugar no ensino de geografia, tem ganhado cada vez mais espaço nos últimos anos. Isso se deve a importância do estudo do lugar como um facilitador na compreensão do espaço geográfico. Porém, não basta somente conhecer o lugar enquanto questão epistemológica, se faz necessário entender as relações existentes nele, por exemplo, as relações sociais, histórico-culturais, econômicas e estas três com os aspectos naturais.

Além disso, deve-se levar em consideração o cotidiano dos educandos abordando também o contexto global. Assim, buscou-se através das escolas analisadas trazer a valorização do lugar e a preocupação ambiental com ensino de geografia em uma escola da cidade e em uma escola do campo.

Nesse sentido, tem-se a contribuição de VISENTINI (1987, p. 78), “um ensino critico não consiste pura e simplesmente em reproduzir num outro nível o conteúdo da(s) geografia(s) crítica(s) acadêmica(s); pelo contrario, o conhecimento acadêmico ou científico deve ser reatualizado, reelaborado em função da realidade do aluno e do seu meio(...) não se trata nem de partir do nada e nem de simplesmente aplicar no ensino o saber cientifico; deve haver uma relação dialética entre esse saber e a realidade do aluno daí o professor não ser um mero reprodutor, mas um criador.”

Dentro dessa concepção percebe-se que ao tratar de assuntos que possuem uma maior bagagem teórico-conceitual, torna-se mais fácil de trabalhar o conteúdo levando em consideração os conhecimentos prévios dos alunos. Conhecimentos esses que adquirem com seus familiares, vizinhos meios de comunicação e do próprio ambiente onde vivem. Cabe ao educador buscar informações sobre como vivem seus educandos, ou seja, conhecê-los melhor. Assim, quando o professor conhece a realidade dos seus educados consegue fazer relações dos conteúdos estudados com o cotidiano dos alunos tornando as aulas mais atraentes e valorizando o ensino de geografia.

Durante a pesquisa, percebeu-se, através de conversas informais, que os professores tem carência de informação sobre as características socioeconomicas e socioambientais do município de Agudo. Esta carência de informação dificulta o processo de ensino-arendizagem, tanto nas aulas de geografia quanto nas demais disciplinas.

Foi elaborado uma Atlas Geoambiental do município de Agudo por Schirmer(2010), onde se tem informações relevantes para se conhecer a realidade do município, como por exemplo, sobre Formação histórico cultural e ocupação do espaço do município de Agudo-RS, Caracterização dos aspectos sócio-econômicos do município, Caracterização dos aspectos físicos-naturais do espaço geográfico do município de Agudo. Este foi disponibilizado para a prefeitura municipal de Agudo para disponibilizar ás escolas. O material foi reorganizado e transformado em um livro didático para as escolas, sendo que foi entregue em 07/2014, somente começará a sortir efeito a partir de 2015 no ensino-aprendizagem das escolas.

Conhecer o espaço onde a escola está inserida e fazer relações do conteúdo com este é o primeiro passo para que a aula flua com maior dinamicidade. Assim, durante a pesquisa foram realizadas as atividades em sala de aula, sempre mostrando aos alunos a relação do conteúdo com as características do lugar.

O município apresenta uma rede de ensino fundamental com escolas estratégicamente distribuída no seu espaço, de modo a oportunizar a todas as crianças e adolescentes

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estudarem. Porém no ensino médio há um distanciamento dos educandos com a escola, onde alunos que residem no extremo norte do município devem deslocar-se para a cidade para concluir o ensino médio. Este fato acaba por desestimular os jovens a continuar estudando após terminarem o ensino fundamental. Os casos mais críticos são o da Escola Municipal de Ensino Fundamental Olavo Bilac e Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio, localizados nos extremos do município, que apresentam um significativo número de alunos, sendo que poucos seguem estudando no ensino médio, isso ocorre devido a grande distância que tem de percorrer até a escola Estadual de Educação Básica Willy Roos de ensino médio, localizada na cidade. Esta distância, nos casos mais extremos em torno de 45km, faz com que os alunos tenham que acordar muito cedo e almoçar muito tarde. Além desse fato, não conseguem ajudar muito sua famíliar, uma vez que nesta idade(15 anos) já estão inseridos nos trabalhos desenvolvidos na agricultura família. Assim acabam desistindo de estudar no ensino médio.

Outro fato relevente é que há uma preocupação por parte do poder público e da comunidade local em relação ao envelhecimmento da população do meio rural. Nesse sentido, percebece que existe um incentivo, por parte de pais e professores, para que os ilhos de agricultores, principalemnte das escolas mais distante, permaneçam no campo. Porém, é de grande importância que esta permanência seja com qualidade de vida. Dessa forma, seria improntante qualificar a formação desses adolescentes. Uma oção seria a oferta de uma aula semanal ou pelo menos mensal para alunos do nono ano com um engenheiro agrônomo ou um técnico agrícola. Nessa aula o jovem poderia conhecer novas técnicas e práticas agrícolas aplicaveis em em sua propriedade, o que qualificaria a sua vida e formação para viver no campo.

Porém, precisa-se de maior incentivo, esforço e oportunidade para que todos tenham mais possibilidade de terminar o ensino médio. Possivelmente se estas escolas tivessem ensino médio, o municipio teria maior número de alunos concluíntes neste nível de ensino. Assim percebeu-se que a inserção do lugar na análise do ensino-aprendizagem é de grande relevância, não apenas para o ensino de geografia, mas para toda dinâmica escolar.

Através das atividades realizadas durante a percebeu-se que a inserção do lugar e do cotidiano do educando é imprecindível nas diversas temáticas discutidas em sala de aula, seja nas aulas de geografia ou de outras disciplinas. A partir dele pode-se abordar os conteúdos escolares com maior faciliade. Isto percebeu-se ao trabalhar as realidades do ensino de geografia nas escolas Três de Maio, localizada no interior e da escola Willy Roos, localizada na cidade.

A escola três de maio por estar localizada no interior e apresentar homogeneidade dos educandos sendo todos filhos de agricultores, tornou-se mais fácil abordar as questões do lugar nos conteúdo de geografia, os alunos apresentaram bom entendimento do que esta sendo abordado, refletindo em suas notas de geografia, acima da média(6), obtidas nas avaliações realizadas. Porém nesta escola, durante a pesquisa foi possível perceber que nem todos professores conseguiram abordar a realidade dos educandos em suas aulas. O caso que teve maior reprcursão visível durante o conselho de classe, foi da disciplina de português, onde teve-se um grande número de reprovação comparado a disciplina de geografia que não teve nenhum. Isso ocorreu principalmente pelo fato de a professora abordar os conteúdos sem fazer relações com o cotidiano dos alunos. Esta professora teve dificuldade por ser de outro município e da área urbana, com reduzido conhecimento da realidade dos alunos. Assim, os alunos demonstravam pouco interesse em aprender os conteúdos da disciplina. Deste modo

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percebe-se que além da localização da escola também a formação do educador é um elemento fundamental no processo de ensino-aprendindizagem, principalmente em relação ao relacinar os conteúdos de sala de aula com o lugar vivido pelo educando.

Nas aulas de geografia, percebeu-se que foi mais fácil de se trabalhar os aspectos naturais, pois está mais inserida na realidade dos alunos, tanto na escola Três de Maio quanto na escola Willy Roos. Cabe ressaltar que na escola Willy Roos tem-se maior heterogeneidade dos alunos, nesse sentido o significado de lugar teve que ser levado em consideração o cotidiano do campo e também da cidade.

As vantagens e desvantagem encontradas quanto a localização da escola para o ensino aprendizagem de geografia são equivalentes, pois em uma escola do campo os alunos possuem maior facilidade no entendimento dos aspectos físico naturais, porém os aspectos sócioeconômicos e da globalização os educandos das escolas da cidade apresntam maior facilidade de entender. Isto se dá, devido aos alunos da escola do campo, no turno inverso ao das aulas, estarem normalmente envolvidos com as atividades das lavouras junto com seus pais, já os alunos da cidade no turno inversso, normalmente, estão utlizando a internet e outros meios de comunicação que tragam informações sobre economia e aspectos sociais.

Torna-se mais fácil abordar a valorização do lugar quando a escola está mais próxima do cotidiano do educando. Porém o ensino-aprendizagem de geografia, por tratar dos fenômenos existentes no espaço, independe se a escola está localizada no campo ou na cidade, mas sim da homogeinização da turma e conhecimento do educador em relação aos educandos e a realidade do lugar. Porém, há sim agumas facilidades de assimilação a dertminados conteúdos dependo de onde a escola está inserida.

Durante a pequisa e a análise dos resultado percebeu-se que a valorização do lugar vai depender mais enfáticamente da vontade do professor em abordar ou não em suas aula a realidade vivida pelos educados. Assim, apesar do esforço por parte da grande maioria dos professores, percebeu-se que lhes falta maior conhcimento em relação ao lugar da escola, o cotidiano dos alunos e o contexto global em que município está inserido. Isto resulta na formação de cidação com pouca identidade com o lugar onde vivem. Pois conhecer a realidade do educando e relacionar os conteúdos de sala de aula com seu cotidiano é a única forma de trabalhar a valorização do lugar.

Considerações Finais Trabalhar com a escala local, ou seja, o lugar percebido e vivenciado pelo educando é

fundamental, pois permite despertar no aluno a correlação entre o que se constrói em sala de aula e o seu espaço cotidiano e torna-se uma ferramenta didático-pedagógica de grande potencial, tornando – se base para entendimento de dinâmicas que acontecem em outros espaços e escalas.

Ao se trabalhar com escola do campo percebeu-se que para uma escola do campo formar cidadãos críticos e empenhados numa real transformação social, primeiramente, é preciso que ela valorize o espaço existente no seu entorno e, sobretudo, respeite os saberes acumulados historicamente pelos seus indivíduos. O espaço rural pode ser um laboratório para se pensar e aderir a uma nova realidade educacional, buscando o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das habilidades necessárias para a extensão em Educação do Campo, tornando os educadores e educandos capazes de reconhecer a realidade do “lugar” em que estão inseridas as escolas do campo.

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Porém na escola da cidade tem-se a possibilidade de trabalhar as questões sociais vividas cotidianamente com maior auxílio de tecnologias e dinamicidade. Para o educando da cidade torna-se mais difícil compreender as problemáticas ambientais que afetam os aspectos naturais, pois seu contato com a natureza é reduzido por estes muitas vezes não se considerarem fazer parte desta. Esta realidade, nos últimos anos, tem atingido mesmo cidades pequenas como Agudo (16.716 hab.), visto que os adolescentes tem passado mais tempo conectados a alguma rede social, do que observado o que acontece para fora da janela de sua casa, no trajeto da escola ou em seu município. De certa forma possuem uma vida virtual, sendo só existe o que estiver presente na rede social, com raras exceções.

No entanto, cabe ao educador fazer com que os educandos percebam as diferenças e semelhanças existentes entre os conteúdos de sala de aula, seu cotidiano e o lugar vivido, tanto questões socioeconômicas quanto socioambientais. Assim a escola não deve parar no tempo, ela deve adaptar-se as transformações e aos desafios cumprindo o seu papel. Para que isso aconteça precisamos de profissionais de educação preocupados e comprometidos em despertar no aluno o entusiasmo pela busca do conhecimento através da experimentação do aperfeiçoamento de cada fase ou etapa do processo de formação de sua personalidade e cidadania consciente.

Diante dos exemplos acima citados, percebe-se que há possibilidade de trabalhar o cotidiano dos educandos relacionando com diversos conteúdos e dessa forma valorizando o local. Para que isso ocorra é imprescindível que o educador tenha capacidade de fazer diversas relações de transito do local para o global e do global para o local.

Dessa forma, ressaltam-se importantes áreas de pesquisa dentro da temática abordada na rede de ensino deste município, relacionado além da valorização do lugar também os traços culturais ainda existentes e que nos últimos anos vem sendo influenciado pela globalização. Por esse motivo esta pesquisa serviu como um ponto inicial para abrir caminho a outros estudos envolvendo o processo de ensino-aprendizagem de geografia e a valorização do lugar, tanto na rede de ensino do município de Agudo quanto a outros locais, a fim de aprofundar as análises.

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CAPÍTULO II

CONHECENDO AS SÉRIES INICIAIS DA ESCOLA DO CAMPO SA NTO ANTÔNIO DO MUNICÍPIO DE AGUDO-RS

O tipo de sociedade que escolhemos, e o papel que queremos que nossas crianças venham a assumir nela estão diretamente vinculados ao tipo de educação que oferecemos (Beyer, 1999, p.53). Assim, revela-se o grande compromisso do professor em relação às crianças e a comunidade na qual ambos (professor e crianças) estão inseridos. A criança constituirá seu aprendizado em princípio com aquilo que lhe for significante culturalmente, isto é, a elaboração da aprendizagem se dará a partir de sua interação com a cultura e com o meio histórico em que vive. Assim, quanto mais rico (maior diversidade) for este meio, melhores serão as possibilidades de interação para a efetivação do aprendizado desta criança. Desde o nascimento, a criança está apta a aprender. As possibilidades para a efetividade e aprendizado ocorrem nas mais diversas interações. Segundo Vygotsky (1998, p. 27):

Desde o nascimento, as crianças estão em constante interação com os adultos, que ativamente procuram incorporá-las à sua cultura e à reserva de significados e de modos de fazer as coisas que se acumulam historicamente. (VYGOTSKY, 1998, p. 27).

Dessa forma, o educador ao exercer uma prática que incentive o senso crítico das crianças possibilitará que, no futuro, tenhamos cidadãos participativos e autônomos, capazes de efetivamente compreender os fatos que ocorrem tanto em nível local quanto global e qual as consequências destes para sua vida. Assim, de acordo com Warschauer, 1993:

Enfrentamos então o desafio de formar homens criativos, críticos e conscientes, capazes de dialogar com pessoas diferentes, enriquecendo-se com a diversidade, no sentido de criar soluções para os problemas atuais (WARSCHAUER, 1993, p. 24).

O aporte da escola para a expansão da cidadania, da liberdade, da criatividade, do raciocínio e do pensamento crítico está em oportunizar a criança momentos de reflexão sobre o conhecimento construído. Não basta dar as resposta, mas é preciso criar meios para que o educando a descubra.

Ainda em relação à escola, a sua localização geográfica, por vezes, pode assumir um papel de destaque na formação escolar, sendo esta muitas vezes, o elo entre o que o educando vivencia no seu cotidiano e o que este aprende dentro da sala de aula, tornando-se a janela pela qual o educando passa a observar o mundo a partir do que aprende em classe e começa a refletir sobre a relação entre o que este presencia no seu dia a dia e os conteúdos trabalhados pelo professor. Por isso, a verdadeira educação exige uma conversão de valores, onde a educação para a liberdade contribui para a construção e defesa da cidadania (FREIRE, 1986). Ao mesmo tempo em que o educador libertador não manipula os educandos, não nega a responsabilidade que tem diante deles.

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Assim, ao educador compete resgatar as experiências do educando, auxiliá-lo na identificação de problemas, nas reflexões sobre eles e na concretização dessas reflexões em ações. Ele é capaz de assumir o papel diretivo necessário para educar. A posição que toma diante dos educandos não remete ao “faça isso” ou “faça aquilo”, mas em fazer com que os educandos reflitam sobre determinado objeto, sem que haja autoritarismo por parte do educador, e sim, diálogo entre ambas as partes.

Neste sentido, é fundamental que o educador trabalhe o lugar percebido e vivenciado pelo educando, para que ele construa uma correlação entre o que se aprende em sala de aula e o seu espaço cotidiano. Torna-se uma ferramenta didático-pedagógica de grande potencial e base para entendimento de dinâmicas que acontecem em outros espaços.

O estudo da localidade e do município mostra-se relevante para o educando, quando os conteúdos e conceitos são relacionados ao seu dia-a-dia, possibilitando também o desenvolvimento do seu senso crítico-analítico. O espaço local permite análises diversas e complexas que são verificadas através da vivência da realidade. Não são apresentadas informações de acontecimentos distantes onde se procura ligações, mas sim a proximidade dos elementos que expressam o mundo, presentes e perceptíveis na escala local. (CALLAI e ZARTH, 1988).

Assim, este trabalho tem como proposta caracterizar o ensino de uma escola do campo, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antonio, localizada no município de Agudo, situado na Região Central do estado do Rio Grande do Sul, visando observar como a realidade cotidiana dos educandos das séries iniciais é abordada.

Essa proposta justifica-se por trazer informações que resultarão na busca de apresentar materiais que retratem a realidade espacial dessa escola. Dessa forma que essas informações podem ser utilizadas na gestão das escolas do campo deste município, as quais a disponibilidade poderia ampliar um leque de opções para trabalho dentro e fora da sala de aula.

A problemática dessa pesquisa é a atuação do educador frente à realidade da escola do campo, devido à existência de crianças que chegam à escola Santo Antônio apenas falando o dialeto local (alemão). Quando as crianças são recebidas pelos professores, tem-se como tarefa principal ensinar a língua portuguesa, a ler e a escrever como qualquer outra escola. Entretanto o dialeto passa a ser um empecilho (na compreensão dos professores) para o processo de ensino-aprendizagem dessas crianças, devido às trocas de letras ocorridas tanto na fala quanto na escrita, como por exemplo, “p” por “b”. Assim, por falta de informação, talvez, inicialmente os professores trabalham para que esse dialeto seja posto em segundo plano.

Toda essa resistência ao dialeto faz com que, as crianças tenham uma atitude de rejeição, tanto ao dialeto quanto a sua cultura, transformando esses hábitos em motivos de vergonha. O conhecimento prévio do município permitiu verificar que Agudo tem buscado através das “escolas núcleo”, concentrar maior número de alunos em determinadas escolas de uma região do município. Com isso, busca-se diminuir as diferenças nas práticas de ensino das escolas deste município. No entanto, os alunos da escola do campo podem com isto estar sendo afastados de seu cotidiano, ou seja, tem-se uma urbanização do ensino e diminuição do elo existente entre o educando e o ambiente onde vive, afastando-o de sua relação com a natureza. Isto ocorre quando o educador não aborda o cotidiano vivido pelo aluno.

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O objetivo Geral desta pesquisa foi investigar o ensino que está sendo construído nas séries iniciais da Escola municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio, no município de Agudo-RS. Como objetivos específicos tem-se: -Levantar dados referentes ao município de Agudo e a realidade escolar; -Realizar pesquisa bibliográfica referente à educação do campo, aprendizagem, lugar e professor reflexivo; - Observar se as temáticas e metodologias utilizadas nas salas de aula abordam a realidade que os alunos vivenciam no cotidiano do campo.

Nesse sentido, esta pesquisa busca investigar o ensino que está sendo construído na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antonio, do município de Agudo-RS, referente às séries iniciais. Com esta investigação espera-se produzir informações úteis para a elaboração de políticas educacionais, por parte da secretaria do município, que sejam capazes de favorecer o ensino-aprendizagem dos educandos das escolas do campo. Nesse sentido, de acordo com Wizniewski (2010), o papel dos educadores do campo, é de possibilitar dinâmicas pedagógicas que resgatem a cultura e o significado de se viver no campo com dignidade e de forma sustentável.

Assim, a escola do campo torna-se espaço de aprendizagem que leva em consideração o cotidiano dos educandos e também um fortalecimento da relação sociedade natureza.

Este trabalho foi realizado através da pesquisa qualitativa, que busca a compreensão detalhada dos significados e características da educação do campo no município de Agudo - RS.

Nesta perspectiva, a pesquisa qualitativa possui objetos ilimitados, inúmeros significados, mas que apresentam grande valor na avaliação dos dados educacionais. Isto porque incorporam aspectos ideológicos para análise de uma abordagem crítica evitando generalizações impróprias. Segundo Gatti (2006), trata a pesquisa como questionadora da ciência responsável pela revolução de paradigmas, que repercutem na elaboração de novos conhecimentos. Ao mesmo tempo, a saída das informações subsidiadas pelo senso comum revelando a necessidade de se definir uma abordagem, um método, um caminho a ser percorrido.

Assim, primeiramente buscar-se-á bibliografias sobre educação do campo. Entrou-se em contato com a escola para que se possa entrevistar os professores das séries iniciais e observar as suas aulas e o entorno da escola em uma tentativa de conhecer a comunidade na qual a escola está inserida.

O levantamento bibliográfico acompanhou as várias etapas de desenvolvimento do trabalho, sendo realizado através da consulta, leitura e seleção de uma série de bibliografias relacionadas à temática e também trabalhos específicos sobre a área de estudo. Pesquisas complementares, direcionadas no entendimento de cada procedimento executado durante os levantamentos, foram efetuadas no decorrer de cada etapa até a finalização da pesquisa.

Para se atingir o objetivo geral deste estudo, foi necessário observar in loco as características da realidade de ensino de uma escola do campo. Nesse sentido, de acordo com Macedo (2006) a observação de campo é mais que uma etapa preparatória, ela se constitui em um contato com a realidade. O dinamismo da realidade estabelece o pensamento crítico independente. No caso de pesquisas qualitativas, as observações de campo, segundo Macedo (2006), realizam uma verdadeira “garimpagem” de ações, realizações e sentidos.

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Nas entrevistas realizadas com os professores buscou-se abordar a origem dos professores, se são de origem urbana ou do campo, se em suas aulas trazem atividades que envolvam o cotidiano dos educandos ou apenas utilizam livros didáticos. O contato com os educadores da rede municipal que atuam na escola foi realizado, com o intuito de melhorar relação afetiva em sala de aula entre educando e educador, investigando quais os temas que merecem mais destaque e qual a melhor forma de tratá-los, visando reforçar que educadores recorram a exemplos cotidianos e locais como o intuito de melhor explicarem os mais variados conteúdos de sala de aula.

É feita uma reflexão a cerca da importância do lugar para o ensino-aprendizagem do Ensino Fundamental em uma escola do campo. Além disso, traz-se os resultados dessa pesquisa obtida através de questionários, entrevistas e as reflexões obtidas a partir desse resultado. Foram entrevistados professores e alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio através de um questionário. A pesquisa em questão buscou caracterizar a forma de ensino utilizada neste contexto, destacando as dificuldades e facilidades que os educadores têm para desenvolver aulas ligadas ao eixo temático de ensino espaço-temporal e que envolva o cotidiano dos educandos.

Aspectos gerais do município que influenciam nessa pesquisa Neste capitulo iremos fazer uma retrospectiva histórica do município de Agudo. Dessa forma, apresenta-se uma discussão sobre a história do Município, cultura, população e caracterização da criação das escolas em Agudo.

Histórico do município Segundo Werlang (1991), o município que fazia parte da Colônia Santo Ângelo, aos

poucos, foi se estruturando e formou uma sociedade chamada ‘Vila Agudo’, que recebeu este nome devido ao morro pontiagudo conhecido como Morro Agudo.

Morro Agudo.

Fonte: Prefeitura municipal de Agudo. A colônia passa a ser dividida com a finalidade de arrecadar impostos, e dessa forma

no ano de 1957, formou-se uma Comissão de Emancipação do município de Agudo. Assim, surge a delimitação do Município e forma-se uma identidade cultural. Mapa com a localização do município de Agudo dentro do estado do Rio Grande do Sul.

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Localização do município de Agudo.

Fonte: Schirmer, et al, 2014.

Atualmente, é bastante característico nas localidades, a presença de um centro comunitário e uma Igreja, bem como alguns estabelecimentos comerciais que desencadeiam a relação zona rural e urbana.

Cultura Ainda de acordo com Schirmer (et al, 2014) hoje se tenta preservar os costumes

(modo de agir, pensar e vestir, danças típicas, culinária, festas, arquitetura, religião) da cultura alemã, apesar da miscigenação étnica ocorrida com o passar do tempo. Essa cultura está presente em conversas entre amigos e parentes (o idioma alemão não foi abandonado), nas danças, nos corais, na música, nos pratos típicos, em grupos e associações das comunidades.

Dessa forma, em Agudo existe a Associação das Trabalhadoras Rurais que busca mais integração entre as mulheres, oferecendo festas nas escolas, cursos (artesanato, agroindústria), manifestações. Este é um movimento muito atuante dentro e fora das escolas, cuja principal característica é a luta e a organização dos grupos de trabalhadoras.

Devido à presença da agricultura familiar tem-se o MPA (Movimento do Pequeno Agricultor). O MPA atua assessorado o agricultor nos financiamentos com menores tachas de juros para a compra de sementes, implementos agrícolas, entre outros. Este movimento luta também pela valorização no momento de venda dos produtos dos agricultores e incentiva a diversificação da propriedade para criar outras fontes de renda. Esses produtos como: mandioca, abóbora, batata, feijão não possuem conservantes e são destinados as escolas oferecendo uma alimentação de qualidade para os alunos do Município.

No Município há também a Cooperagudo, que oferece apoio técnico aos agricultores rurais, na parte das ferragens é possível comprar insumos, mudas de frutíferas e hortaliças, além de obter financiamentos. Os agricultores, ainda contam com o apoio do sindicato, que também organiza financiamentos e para quem é sócio possui a vantagem de contar com serviços na área da saúde, dando descontos para consultas. O sindicato todos os anos busca negociar com as empresas fumajeiras melhores preços na venda do tabaco, a fim de aumentar a renda que será obtida pelo agricultor no final da safra.

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Neste Município é notável o intuito de preservar essa cultura para isso, são organizadas algumas festividades como: Choculin e o Kerbfest.

O Choculin (chopp, cuca e linguiça) é realizado anualmente, organizado pelo Rotary Clube de Agudo. É um baile que além da música para a animação, há também chopp e degustação de cuca alemã e linguiça.

Cucas de diferentes sabores/ Fonte Prefeitura Agudo.

Outro evento que vem crescendo anualmente é o “Kerbfest”, uma festa tipicamente alemã organizada pela Escola Dom Pedro II.

Danças alemãs

Fonte: Prefeitura Agudo.

População Em agudo, os primeiros vestígios que se tem registro são da presença de populações indígenas. Posteriormente, vieram os caboclos provindos das sesmarias e em 1857 o Município recebeu levas de imigrantes alemães. Os imigrantes alemães oriundos de Pomerânia (Reino da Prússia), se deslocaram de navio pelo rio Jacuí e desembarcaram ao norte do Morro Agudo, na margem esquerda do rio, onde hoje é a localidade de Cerro Chato, no dia 1º de novembro e 1857.

Atualmente (2014), pela projeção do IBGE, o Município conta com uma população de 17.159 habitantes. O maior número de habitantes é encontrado na área rural, onde a base econômica está alicerçada na agricultura.

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Este gráfico também demonstra que a população de Agudo, que mora na cidade, é

quase tão grande quanto a que mora no campo. Contudo cabe ressaltar que muitos habitantes urbanos são oriundos do campo. Isso acontece pela dificuldade da lida do campo e devido à idade, pois algumas pessoas não se adaptam ao ambiente do campo com suas especifie quando atingem a aposentadoria procuram ficar mais próximos do comercio, transporte e saúde.

Caracterização geral da história da criação das escolas em Agudo

Para Schirmer (et al, 2014), a história da formação da Rede de Ensino no município de Agudo tem início com a chegada dos imigrantes alemães. Como havia recursos públicos, as comunidades organizavam

Naquela época, segundo relatos de pessoas mais velhas, escolhiacomunidade que possuíam mais conhecimento para se tornar professores, logo as aulas eram ministradas em dialeto alemão. Isto prevaleceu até a era Vargas, onde o dialeto alemão foi reprimido na região em virtude da 2ª Guerra Mundial.

As primeiras escolas foram construídas com ajtarde com o apoio do governo e com a institucionalização foi aumentando o número de escolas criando-se as chamadas “Brizoletas”. A partir de 2000, objetivavaescolas, dando assim início a criação de esprofessores e com melhores condições físicas.

Com a política nacional brasileira de ampliar o ensino fundamental, anunciada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 1996, tornando obrigatória a matrícula para crianças a partir dos 6 anos, bem como a qualificação dos profissionais da educação com ensino superior, os municípios brasileiros foram forçados a nuclearizar as escolas para qualificar as estruturas físicas de professores. Atualmente com Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, torna obrigatória a oferta gratuita de educação básica a partir dos 4 anos de idade.

Nessa ótica, o município de Agudo tem buscado através das “escolas núcleo”, concentrar maior número de alunos em determinadas escolas de uma região do município, com isso, busca-se diminuir as diferenças nas práticas de ensino das escolas deste município. Até o presente momento, o Município conta com 8 escolas municipais, 3 escolas estaduais e 2

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Gráfico 1: População Agudense.

Fonte: Schirmer et al, 2014.

Este gráfico também demonstra que a população de Agudo, que mora na cidade, é tão grande quanto a que mora no campo. Contudo cabe ressaltar que muitos habitantes

urbanos são oriundos do campo. Isso acontece pela dificuldade da lida do campo e devido à idade, pois algumas pessoas não se adaptam ao ambiente do campo com suas especifie quando atingem a aposentadoria procuram ficar mais próximos do comercio, transporte e

Caracterização geral da história da criação das escolas em Agudo

Para Schirmer (et al, 2014), a história da formação da Rede de Ensino no município Agudo tem início com a chegada dos imigrantes alemães. Como havia recursos públicos,

as comunidades organizavam-se para oportunizar o estudo aos filhos. Naquela época, segundo relatos de pessoas mais velhas, escolhia

m mais conhecimento para se tornar professores, logo as aulas eram ministradas em dialeto alemão. Isto prevaleceu até a era Vargas, onde o dialeto alemão foi reprimido na região em virtude da 2ª Guerra Mundial.

As primeiras escolas foram construídas com ajuda da comunidade interessada, mais tarde com o apoio do governo e com a institucionalização foi aumentando o número de

se as chamadas “Brizoletas”. A partir de 2000, objetivavaescolas, dando assim início a criação de escolas núcleos com maior número de alunos, professores e com melhores condições físicas.

Com a política nacional brasileira de ampliar o ensino fundamental, anunciada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro 1996, tornando obrigatória a matrícula para crianças a partir dos 6 anos, bem como a qualificação dos profissionais da educação com ensino superior, os municípios brasileiros foram forçados a nuclearizar as escolas para qualificar as estruturas físicas de professores. Atualmente com um novo documento que ajusta a Lei nº 9.394, à Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, torna obrigatória a oferta gratuita de educação básica a partir dos 4 anos de idade.

Nessa ótica, o município de Agudo tem buscado através das “escolas núcleo”, concentrar maior número de alunos em determinadas escolas de uma região do município,

se diminuir as diferenças nas práticas de ensino das escolas deste município. Até o presente momento, o Município conta com 8 escolas municipais, 3 escolas estaduais e 2

Este gráfico também demonstra que a população de Agudo, que mora na cidade, é tão grande quanto a que mora no campo. Contudo cabe ressaltar que muitos habitantes

urbanos são oriundos do campo. Isso acontece pela dificuldade da lida do campo e devido à idade, pois algumas pessoas não se adaptam ao ambiente do campo com suas especificidades e quando atingem a aposentadoria procuram ficar mais próximos do comercio, transporte e

Para Schirmer (et al, 2014), a história da formação da Rede de Ensino no município Agudo tem início com a chegada dos imigrantes alemães. Como havia recursos públicos,

Naquela época, segundo relatos de pessoas mais velhas, escolhia-se uma pessoa da m mais conhecimento para se tornar professores, logo as aulas eram

ministradas em dialeto alemão. Isto prevaleceu até a era Vargas, onde o dialeto alemão foi

uda da comunidade interessada, mais tarde com o apoio do governo e com a institucionalização foi aumentando o número de

se as chamadas “Brizoletas”. A partir de 2000, objetivava-se o fechamento de colas núcleos com maior número de alunos,

Com a política nacional brasileira de ampliar o ensino fundamental, anunciada na Lei Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de

1996, tornando obrigatória a matrícula para crianças a partir dos 6 anos, bem como a qualificação dos profissionais da educação com ensino superior, os municípios brasileiros foram forçados a nuclearizar as escolas para qualificar as estruturas físicas e a disponibilidade

um novo documento que ajusta a Lei nº 9.394, à Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, torna obrigatória a oferta gratuita de

Nessa ótica, o município de Agudo tem buscado através das “escolas núcleo”, concentrar maior número de alunos em determinadas escolas de uma região do município,

se diminuir as diferenças nas práticas de ensino das escolas deste município. Até o presente momento, o Município conta com 8 escolas municipais, 3 escolas estaduais e 2

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escolas particulares, atendendo cerca de 3.209 alunos.São elas: E.M.E.F Alberto Pasqualini, E.M.E.F Olavo Bilac, E.M.E.F 7 de Setembro, E.M.E.F Santos Reis, E.M.E.F Santo Antônio, E.M.E.F Três de Maio, E.M.E.F Santos Dumont, E.M.E.I Paraíso da Criança, E.E.E.B Dom Érico Ferrari, E.E.E.B. Professor Willy Roos, E.E.E.F. Luis Germano Pöetter, E. Dom Pedro II e EEF Kinderwelt.

Localização das escolas do município de Agudo.

De acordo com o mapa, o município possui seis escolas localizadas no campo e sete

localizadas na cidade. Porém apenas uma escola localizada no campo (Escola Dom Érico

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Ferrari), apresenta Ensino Médio, os educandos das demais escolas localizadas no campo precisam se deslocar para a área urbana a fim de cursar o Ensino Médio na (Escola Willy Roos). No quadro a seguir há o número de alunos e as instituições de ensino localizadas no município de Agudo:

Escolas Municipais Nº de Alunos/2014

Ed. Infantil Ens. Fundamental Total

EMEF Alberto Pasqualini 35 116 151

EMEF Santos Reis 88 339 427

EMEF Santos Dumont 54 248 302

EMEF 7 de Setembro 29 174 203

EMEF Olavo Bilac 40 244 284

EMEF Três de Maio 24 173 197

EMEF Santo Antônio 28 125 153

EMEI Paraíso da Criança 85 85

Escolas Particulares

EEF Kinderwelt 45 - 45

E Dom Pedro II 53 30 83

Total 1.930

Escolas Estaduais

Nº de Alunos/2014

Ed.

Infantil

Ens.

Fundamental

Ens.

Médio

EJA Total

EEEB Willy Roos - 260 487 103 850

EEEF Luiz Germano Pöetter - 149 EF-71 220

EEEB Dom Érico Ferrari - 91 96 EF-22 213

Total 1.279

Tabela1: Relação de alunos por escolas Fonte: Prefeitura municipal de Agudo

O município de Agudo tem alguns casos de crianças que chegam até a escola somente sabendo falar o dialeto local, originado pelos primeiros imigrantes alemães. A escola em que se tem mais casos é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antonio , localizada na Linha dos Pomeranos, foco desta pesquisa.

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Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio.

Esta escola está distante 32 km da sede do municipio, essa distância tem sido um dos principais motivos para a manutenção da cultura local e de seu saberes históricos. Contudo, essa distância também se torna um obstáculo, pois dificulta o acesso a necessidades básicas como saúde, transporte, comunicação e comércio.

A Relevância do Lugar no Ensino Fundamental do Campo

Estudar o lugar facilita para o educador, pois o educando se identifica com o tema, sente-se instigado e assim tem mais interesse em participar e dialogar com o educador e seus colegas. Entende-se, que a troca de experiências entre os saberes cotidianos dos educandos e o saber do educador, são fundamentais para compreender o espaço.

A compreensão do lugar, onde os educandos vivem e onde ocorrem as suas mútuas trocas de relações com a sociedade, poderá auxiliá-los a entenderem o que ocorre nesse espaço. Acredita-se que é importante estudar o lugar, pois além de tornar o conteúdo mais significativo, também contextualiza a aprendizagem. Logo, facilita o processo ensino aprendizagem dos educandos, fazendo com que eles valorizem o lugar onde vivem e tenham a oportunidade de escolher se realmente querem continuar no campo. Porém, com informações que possibilitam realizar esta escolha consciente e não apenas motivados a uma imposição da escola urbana, como sendo a melhor e modelo, a única possibilidade visível.

Callai (1999, p. 76), resgata que o estudo do lugar, comumente chamado de estudo do meio, só será consistente se estabelecermos estas ligações com outros níveis espaciais. É o lugar onde vivemos que nos oportuniza as bases concretas para encaminharmos a compreensão das relações sociais, do acesso ao espaço para viver e das condições para tanto.

Para Freire (1987), educação contemporânea, não visa mais formar alunos que tenham apenas a capacidade de decorar e memorizar conteúdos, como seres a par do mundo em que vivem, a educação caminha com o intuito de formar cidadãos, formar indivíduos que tenham capacidade de agir positivamente na sociedade, pensando e agindo de forma crítica.

Ainda, estudar o lugar, significa conhecer a realidade em que o educando vive, identificar o que existe, quais os processos que são desencadeados e como se materializa a

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vida do conjunto da sociedade no espaço concreto que se vislumbra. Olhar o lugar, entender o que acontece, exige necessariamente que o educando consiga interagir com esta realidade do lugar, aprendendo a teorizar.

Partindo desses pressupostos, deve-se destacar que o lugar onde a escola situa-se, também pode influenciar no processo de ensino-aprendizagem, pois a escola é reflexo da comunidade onde está inserida. Estudar o contexto em que o educando vive é imprescindível para que haja um bom aprendizado. No entanto, faz-se necessário também este educando conhecer outras realidades, sem ser afastado de seu espaço vivenciado, pois nos últimos anos tem ocorrido um enorme avanço tecnológico. Esses avanços acabam por gerar novos arranjos sociais, que surtem efeitos no modo de interação do homem com o meio natural, pois tem-se a introdução de maquinários mais sofisticados, novas técnicas agrícolas com utilização de agrotóxicos, entre outros. De acordo com Rua (2000), ocorre uma urbanização do campo através de todas as manifestações do urbano, que vão desde a melhoria da infraestrutura e meios de comunicação, até formas de lazer. Assim, percebe-se que o campo não é mais em sua totalidade agrícola, mas adquire novas atividades e opções de renda não-agrícolas. Não se pode mais diferenciar estes espaços como no passado por atividade distinta, pois na atualidade desenvolvem atividades comuns.

As alterações ambientais, decorrentes dessa relação histórica “sociedade-natureza”, têm gerado intensas discussões em todos os segmentos da sociedade. Porém, na busca de homogeneização da educação, na escola do campo, coloca-se a cultura urbana sendo aceito como o modelo a ser vivido, no modo de falar, no modo de se vestir, no modo de consumir, com isto, tem-se um significativo aumento de ideologias e supervalorização do urbano pela escola do campo e as pessoas que ali vivem. Além disso, há uma perda de valores e conhecimentos culturais locais, como por exemplo, traços linguísticos que identificam determinadas comunidades, conhecimentos de antepassados em relação à maneira de lidar com a natureza harmonicamente e formam-se cidadãos completamente afastados de seu próprio cotidiano.

Um pouco da História da educação do Campo no Brasil No Brasil, vivemos um tempo em que o ruralismo pedagógico apresentava-se como

um projeto hegemônico. A cerca deste assunto, Ribeiro (2012) analisa a questão do ruralismo pedagógico relacionando o tema a corrente de pensamento que surgiu, no Brasil entre 1930 e 1940. Esta não possuía nenhum vinculo nem com a comunidade e nem com os trabalhadores que pertenciam à comunidade. Entendendo que o agricultor é um ser arcaico, dessa maneira o ruralismo pedagógico possui uma relação de preconceito em relação as famílias que vive no campo servindo apenas a interesses e necessidades da hegemonia (principalmente políticos envolvidos com as questões da cidade, intelectuais e estudiosos da educação rural). De acordo com Mennucci, sobre a maneira que os governos cuidavam da cidade:

[...] dedicando-lhes todo o carinho de que eram capazes e todas as verbas orçamentárias, como se não existisse a interminável campanha brasileira, como se os oito e meio milhões de quilômetros quadrados do território nacional fossem cobertos inteiramente de casas e de ruas e de largos e praças, ou como se a nossa roça continuasse a ser habitada unicamente pelos escravos, que dela haviam fugido vinte anos antes. (MENNUCCI, 1935, p.21)

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Ainda de acordo com Sud Mennucci, o ruralismo pedagógico tinha, “na ignorância do professor” a respeito do universo rural, seu maior problema, pois a formação urbana e seus propósitos profissionais distanciavam o agricultor da sua realidade. Além disso, o profissional não tinha a oportunidade de adquirir os conhecimentos de um ensino essencialmente rural:

Onde é que os professores iam aprender as coisas novas que o governo lhes estava a exigir? Sim, para ensinar nossas culturas, criação de animais úteis, conhecimento dos animais e vegetais nocivos, moléstias dos animais e vegetais, noções práticas de arboricultora, horticultura e jardinagem, é preciso saber agricultura geral e especial, zootecnia, veterinária. E, para ensinar utilmente um pouco − é axioma velho em pedagogia − é preciso saber muito. Onde iam os professores aprender essas novidades? Nas Escolas Normais Urbanas de onde tinham provindo, de nada disso se cuidara. Nas Normais Urbanas não só é proibido, mas motivo de ridículo falar em agricultura e em zootecnia. (MENNUCCI, 1935, p.39)

Ao contrário do que se pretendia, o ruralismo pedagógico estava voltado mais para economia do que para o sentimento humanista e cultural. Assim, o ruralismo impõe um saber e possuía um método de ensino que se aproxima da escola urbana uma vez que ela contribuir para o afastamento da realidade das pessoas que vivem no campo. De acordo com Totti:

O grande equívoco do Ruralismo Pedagógico estava em supor que a educação seria um instrumento poderoso para manter o homem no campo, considerando-o como incapaz de optar em residir na zona rural ou na zona urbana (TOTTI,2013, p.120).

Desde essa época, preconiza-se uma pedagogia diferenciada que fosse associada aos trabalhos agrícolas e adaptada as demandas das pessoas que ali vivem. A escola devia preparar os filhos de agricultores para se manterem na terra. Porém o ruralismo pedagógico surge para Impor um modelo que desprezava o conhecimento dos agricultores e preconizava o uso de modelos externos, formas de manejar a terra, as sementes, uso de defensivos e compra de novos equipamentos agrícolas. Surge então o pensamento “Se plantando tudo dá”.

Além disso, forma-se mão de obra disciplinada para o trabalho assalariado rural e consumidores de novos produtos agropecuários importados. Logo, propõe-se a organizar um exército de reserva, que quando os trabalhadores da cidade não corresponderem a expectativa do mercado, serão os do campo que serão procurados para ocupar esses postos.

Deste modo, criou-se um programa para formar consumidores de tecnologias importadas que pressupusessem a aceitação de modelos externos, tendo inicio um modelo de educação rural associado a projetos de modernização do campo e que desprezavam os saberes dos agricultores. Apesar de não concordar com esse projeto, pode-se dizer que ele teve sucesso, muito embora nossa perspectiva de educação do campo não compactue com ele. Nosso projeto associa-se ao dialogo de saberes e a valorização dos modos de lidar com a terra, com os sujeitos envolvidos, etc.

Aprendizagem na escola do campo Acredita-se que o processo de alfabetização deveria ocorrer a partir de “movimentos

amplos” que no meu entendimento é o processo de entender o passado para compreender o presente e planejar o futuro. Somente através desse movimento passa-se a participar política e

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pedagogicamente da comunidade e consequentemente da escola. O projeto de educação não inicia nem acaba na escolarização.

É fundamental que o educador, o pedagogo, o alfabetizador produza movimentos amplos. Esse movimento é do educador consigo mesmo, com os demais educadores, com a comunidade, com os educandos, com o lugar, com o espaço produzindo novos saberes a partir dessas trocas. Isso poderá gerar uma emancipação e uma perspectiva crítica e responsável de encaminhar a ação pedagógica.

Para CALDART (2009), realmente as pessoas que moram no campo são diferentes. Essa diferença é encontrada em relação a gênero, etnia, religião, modos de produzir e viver, um diferente modo de olhar o mundo e de absorver os problemas. Porém tem-se uma identidade comum: “somos um só povo; somos a parte do povo brasileiro que vive no campo e que historicamente tem sido vitima da opressão e da discriminação, que é econômica, política e cultural.”

As pessoas que vivem no campo não são atrasadas ou submissas contudo, possuem um jeito de viver peculiar e na sua concepção de escola destacasse a apropriação do conhecimento histórico da humanidade. Para isso os conteúdos devem ser selecionados de acordo com o seu significado para a comunidade onde a escola está inserida. De acordo com Brasil (2010):

O processo de escolarização e qualificação social e profissional tem na agricultura familiar um paradigma de educação voltado para o aprendizado de conceitos, princípios e fazeres necessários a construção de um país que tenha satisfatória qualidade de vida, educação e trabalho para os povos do campo (BRASIL, 2010, p.27).

Ainda, a diferença que existe em relação às pessoas que morram no campo é uma riqueza sócio cultural que a comunidade possui. Para Grzybowski o complexo cultural:

Trata-se do saber parcial que serve para identificar e unificar um a classe social, lhe dar elementos para se inserir numa estrutura de relações sociais de produção e para avaliar a qualidade de tais relações, e, enfim, trata-se de um saber que serve de instrumento de organização e luta (GRZYBOWSKI,1986, p.50)

Na educação é importante ter consciência de que tipo de cidadão se pretende construir e localizar a criança dentro da sociedade a qual ela pertence, de modo que ela possa entender a estrutura político-produtiva do lugar.

A apresentação dos aspectos sociais e ambientais da localidade e do município são um excelente laboratório para a inserção do educando no cotidiano escolar. Para entender como o espaço é produzido, como as pessoas vivem e trabalham, basta dar uma volta pelo entorno da escola com olhos atentos às manifestações e materializações, ao existente e suas significações.

A escola do campo é uma escola que esta inserida na realidade da comunidade a qual pertence, que fortalece o povo que é sujeito social, possuindo sua própria história, sua cultura, porém mobiliza uma atuação em prol da luta de um coletivo. Apesar disso Caldart (2001) afirma que:

Sair do campo para estudar, ou estudar para sair do campo não é uma realidade inevitável, assim como não são imutáveis as características marcadamente alheias à cultura do campo (CALDART,2001, p.44).

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O ambiente da escola do campo é um lugar onde deve-se conhecer, problematizar, criticar e valorizar os conhecimentos próprios da agricultura, além dos conteúdos de uma formação que integra a qualificação social e profissional, nesse sentido Caldart acredita em:

O aprendizado da paciência de semear e colher no tempo certo, o exercício da persistência diante dos entraves das intempéries e dos que se julgam senhores do tempo. Mas não fará isso apenas com discurso; terá que se desafiar e envolver os educandos e as educadoras em atividades diretamente ligadas a terra (CALDART, 2001, p. 35).

É através do trabalho ligado a terra que os educandos passam a entender como é o

processo de plantio, e desenvolvem valores como a paciência, esperança, persistência que são necessários para esse processo. A partir disso, também valoriza-se mais as pessoas que sobrevivem da lida com a terra. Nesse sentido, há uma humanização através do trabalho e dessa forma essa humanização invade também a escola e aprimora-se nas relações sociais, nos erros e no enfrentamento de dificuldades.

Com isso, tem-se a construção de uma formação que prepara as crianças para serem críticas, autônomas e também que respeitem as regras e direitos tanto dos colegas como das demais pessoas que as rodeiam, para isso é necessária uma construção de uma rotina. De acordo com Caldart:

Somos um ser de escolhas permanentes e delas depende o rumo de nossa vida e do processo histórico em que estamos inseridos. E as escolhas nem são apenas individuais nem podem ser apenas de um coletivo. Cada escolha é feita pela pessoa, movida por valores que são uma construção coletiva (CALDART, 2001, p. 37). .

Assim como a tomada de escolhas é necessária, assumir a responsabilidade por elas passa a ser um desafio. É necessário trabalharmos os valores humanos, pois eles possibilitam a coletividade e permitem que as pessoas tenham dignidade, porém esses valores precisam se transformar em ações. Segundo Caldart:

Quando os educadores se assumem como trabalhadores do humano, formadores de sujeitos, muito mais que apenas professores de conteúdo de alguma disciplina, compreendem a importância de discutir sobre suas opções pedagógicas e sobre que ser humano estão ajudando a produzir e cultivar (CALDART, 2001, p. 50).

Acredita-se que trabalhar os valores culturais e humanos é essencial, porem não basta, é preciso que o educando busque conhecer a si mesmo e se desenvolver com sua identidade tornando possível uma realização pessoal. Para Vidor (2014), educar é alimentar para a vida, conduzir o ser humano para que ele possa se conduzir-se de forma adequada. De acordo com esses conceitos, a pedagogia, constrói novos sujeitos sociais e conduz a formação humana.

Para Benjamin (2001), a principal característica para o ser humano, em oposição a todas as outras espécies, é exatamente a sua capacidade de imaginar o futuro e agir para construí-lo. De acordo com FERREIRO & TEBEROSKY (1989):

“A criança que procura ativamente compreender a natureza da linguagem que se fala a sua volta, e que, tratando de compreendê-la, formular hipóteses, busca regularidades, coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática (que

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não é simples cópia deformada do modelo do adulto, mas sim criação original)” FERREIRO & TEBEROSKY (1989).

De igual modo, é importante oportunizar um espaço para o lúdico, onde se tem na educação prazer em aprender e em construir conhecimento. Nesse sentido, tem-se o recurso dos jogos que fazem com que a criança explore o mundo sem obrigatoriedade, no momento do “jogar” esta pode inserir-se em diferentes contextos e viver distintas emoções, sem o compromisso de assumir propriamente a realidade.

O meio em que a criança está inserida também interfere em sua personalidade, pois se os adultos são referencia ao qual a criança imita a fala, eles também são referencia de comportamento. Assim a criança além de imitar os adultos em casa ela também imita o educador dentro da sala de aula e nos demais ambientes, então o professor precisa ter cuidado em relação às regras construídas pelo grupo (turma e o professor) e suas demais atitudes.

Cabe aos educadores, oportunizar as crianças atividades que as insiram em um contexto cultural, afim de que esta criança conheça diferenças e qualidades existentes nessas culturas, como é o caso da relação com as pessoas mais velhas, como vivem, no que acreditam, rotina, etc.

A capacidade especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superarem a ação impulsiva, a planejarem a solução para um problema antes de sua execução e a controlarem seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma forma nova e superior de atividades nas crianças distinguindo-as dos animais (Vygotsky 1984, p.31).

Esse acesso ao conhecimento torna as crianças mais seguras e também mais criativas, pois elas acreditam em sua capacidade, por perceberem que podem ir além do que estava sendo realizado no cotidiano.

Na perspectiva construtivista, a partir de Piaget (1976), o começo do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto. Para cada ação é construído um novo conhecimento que precisa ser adaptado aos antigos conhecimentos. Logo, conhecer, consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo.

Tudo que as crianças aprendem elas atribuem um sentido, que é pessoal, uma vez que os interesses, o tempo de entendimento e apreciação se diferencia de uma criança para outra. Assim, a experiência por si só não basta, é preciso que esta experiência seja significativa para elas e essa significação pode e deve acontecer através da ligação com a cultura e consequentemente com o conhecimento.

Nesse contexto, a função do professor e aluno estava associada a executar o processo concebido, planejado, coordenado e controlado por especialistas, supostamente habilitados - neutros, objetivos, imparciais. A organização do processo desejava garantir a eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e expandindo os efeitos de sua intervenção. Portanto, é o processo que define o que professores e alunos devem fazer (SAVIANI, 2000, p.13).

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É através do conhecimento pronto, que é possível criar o novo. Considera-se assim que a criança está sempre aprendendo, mesmo sem perceber ela está permanentemente conhecendo coisas novas e reformulando conceitos prévios.

Assim, o educador tem um papel importante na construção do conhecimento, ele não apenas deve apoiar as ideias e construções feitas pelas crianças, como também precisa estar sempre instigando e desafiando as crianças para que, de forma lúdica, possam ir além.

Por fim, é preciso que o espaço sala de aula esteja estruturado para promover a atividade a ser realizada. Do mesmo modo, que o educador precisa compreender que a criança é capaz de aprender, e esta é a condição para uma prática pedagógica promotora do desenvolvimento.

É importante ressaltar que para Paulo Freire (1986), a aprendizagem precisa estar voltada para a realidade do educando, precisa ter objetos que as crianças trabalham em seu cotidiano na comunidade. Nesse sentido, pode-se construir jogos e realizar brincadeiras, utilizando imagens, objetos traços da cultura local, que possibilite a aprendizagens a partir de novas experiências aos educandos e amenize dificuldades que no cotidiano são observadas. Assim a aprendizagem torna-se mais significativa, pois reflete a realidade vivenciada pelos educandos no campo. A partir de um trabalho que visa respeitar a individualidade de cada educando, tem-se como consequência um melhor resultado na construção do conhecimento.

Outro aspecto relevante é a indissociabilidade entre o cuidar e o educar visando o bem estar, o crescimento e o pleno desenvolvimento da criança. A formação continuada serve como “esteio”, pois faz com que estejamos sempre buscando novos saberes, formas de aprendizagens e estratégias de ensino e ao mesmo tempo remodelando esse saber para que quando chegar ao aluno seja significante para ele.

Na educação, é necessário para uma boa atuação que conheçamos os nossos alunos, isso nos exige constantemente que repensamos nossa prática. Apenas de posse desse conhecimento é possível fazer uma reflexão sobre a realidade em que eles estão inseridos e planejar, atividades que os instiguem ao saber. O educador é um mediador, quem aponta o caminho, mas sem dar as respostas prontas, pois cabe ao educando buscá-las e compreender o mundo que vive. De acordo com Contreras (2002), ao referir-se às praticas cotidianas, reconhece que muitas situações vividas na sala de aula envolvem ações realizadas espontaneamente, sem que haja momento de reflexão nesse processo.

O educador precisa saber qual cidadão ele pretende formar e de que forma isso pode ser feito, ele também precisa ter segurança, pois a todo o instante ele estará sendo avaliado pelas crianças e elas exigem que ele seja um exemplo.

Portanto, a escola do campo se diferencia da escola urbana e essa diferença é positiva, pois demonstra a cultura de um povo que vive e sobrevive com praticas e costumes que os caracteriza. Uma escola inserida nesta realidade não pode oferecer um ensino urbano contrapondo tudo que é vivenciado no seu cotidiano, enfraquecendo a identidade e aprofundando desigualdades. Sendo assim, a educação precisa estar ligada ao contexto do lugar e valorizar o que este lugar possui que o diferencia dos demais. Para isso, o educador é o principal instrumento de transformação, cabe a ele mostrar as vantagens de se viver no campo e trazer para a sala de aula os conhecimentos construídos pela comunidade. Corroboro com Ribas (2014), quando ela afirma que é necessário que os sujeitos do campo participem das construções de políticas públicas, dessa forma é justo que eles façam parte dessa elaboração a fim de que essas políticas não sejam apenas para eles, mas com eles construídas.

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Sabe-se que tornar o ensino significativo e contextualizado é difícil e exige bastante trabalho, principalmente quando este contexto não é o vivido pelo professor ou quando ele simplesmente não o conhece. Para isso, é necessária uma reflexão diária a cerca do conteúdo a ser trabalhado e a maneira que a criança, que frequenta a escola, vive.

O professor crítico reflexivo: o aprender e o ensinar com a prática

Alguns educadores que lecionam no campo estão muito enraizados na cultura da cidade, onde na maioria dos casos costumam viver. No campo, é preciso que se oportunize um ensino relacionado com as atividades que as crianças vivenciam no cotidiano. Assim, busca-se uma escola com os ideais que se assemelham com a “Escola Plural” de Arroyo:

Tenho sido perguntado por que o nome Escola Plural. A escolha do nome tenta incorporar a procura pedagógica de uma docência aberta à pluralidade de saberes e de aprendizagens, à pluralidade de dimensões do desenvolvimento humano, da formação dos educandos e dos educadores (ARROYO, 2002, p.71).

Um dos eixos dessa Escola Plural,era a sensibilidade com a totalidade da formação humana, que buscava uma abertura a cerca dos conteúdos da docência. Entende-se que o educador não deve restringir-se apenas a área pela qual é formado, mas deve atuar correlacionando as diferentes realidades dos educandos refletidas em sua cultura. Arroyo desenvolve então uma crítica em relação a esse sistema escolar que tem perdido sua pluralidade de funções sócio-culturais.

Essa critica é fortalecida com a lei nº 9394/96 que tem como contribuição a incorporação de uma concepção ampliada da educação, destacando em seu 1º artigo que:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (LDB 9394/96).

Considerando que a finalidade da educação é desenvolver a plenitude do educando, torna-se papel do educador ampliar as dimensões de seu ensino, de forma que seja possível englobar os saberes do campo e a construção de identidade. A partir disso, Piaget (1967), escreve que o que desenvolve a criança é as dificuldades e os desafios propostos.

O lúdico é uma estratégia essencial principalmente em uma escola do campo, onde há turmas multisseriadas (como é o caso do 1 e 2 anos da escola Santo Antônio) que tornam muito mais desafiante o processo de cativar o educando. Esse desafio existe devido às diferenças entre as crianças da turma a cerca de idade, níveis de conhecimento, necessidades e interesses, sendo que estas, não podem ser tratadas de forma homogênea. Assim, corroboro com Ribas (2014), a cerca do educador:

[...]muitas são as angustias dos professores que trabalham nas escolas do campo, pois no momento de estarem planejando suas atividades para contemplar os múltiplos saberes e ritmos diferenciados das turmas, muitas vezes classes multisseriadas, estas exigem um cuidado no processo de elaboração para atender as especificidades das crianças e da relação escola-comunidade (RIBAS, 2014, p.30).

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Assim, o planejamento é mais um desafio para esses educadores, pois além de atender as especificidades das crianças, necessita também de constantes avaliações orientadas pelas reflexões diárias, a fim de tornar o ensino contextualizado. Outros desafios seriam o isolamento e a falta de formação para lidar com essa realidade, fazendo com que sua atuação seja mecânica (apenas transferência de conteúdo) e crie uma reprodução de um ensino urbano.

É compreensível que existem conteúdos da matriz curricular que precisam ser trabalhados, mas quando estamos apresentando esses conteúdos podemos relacionar com exemplos vividos por essas crianças do campo, tornando assim a aprendizagem mais significativa. Ainda é importante salientar que, os educadores precisam pensar como vão articular os conteúdos (direitos dos educandos) com a sua realidade. Quando o educador respeita a individualidade de cada educando, levando em consideração o sujeito e sua história de vida, tem-se como consequência um melhor resultado na aquisição do conhecimento através da aprendizagem.

Na perspectiva construtivista de Piaget, a capacidade das crianças compreenderem um tema não depende apenas da idade da criança ou da amplitude dele, mas do método utilizado pelo educador para incentivar a criança na busca do saber.

Quando se reflete sobre determinadas situações, constrói-se saberes que possuem a finalidade de melhorar o desenvolvimento da criança. Acredita-se que a reflexão crítica necessita de um momento tranquilo e que o mais indicado seria no conforto de casa, após o trabalho, uma vez que no momento da observação nem sempre tem-se a tranquilidade de aprofundar reflexões e ligá-las com o conhecimento profissional que adquire-se na formação sobre determinadas atos que se observa em algumas crianças.

“(...) a necessidade de reflexão sobre a prática a partir da apropriação de teorias como marco para as melhorias na prática de ensino, em que o professor é ajudado a compreender seu próprio pensamento e a refletir de modo crítico sobre a sua prática e, também, a aprimorar seu modo de agir, seu saber-fazer, internalizando também novos instrumentos de ação” (LIBÂNEO, 2002, p. 70).

A reflexão também possibilita a criação de novas atividades que surgem do interesse da turma ou de uma necessidade da turma observada durante a aplicação da atividade. A atividade não é colocar uma criança sentada e pedir que ela copie temas no quadro, ao contrario, a atividade é um momento de interação entre as crianças que precisa ser prazeroso, sem tempo de duração estipulado e tendo a figura do professor como sujeito mediador que orienta, observa e quando necessário participa.

[...] a cada momento há ocorrência de novos eventos, reconfigurando-se a rede de significações, com novos papéis ou posições sendo atribuídos/assumidos pela pessoa em interação, [...] com emergência de novas emoções e significações (ROSSETI-FERREIRA,2004, p. 17).

O educador quando planeja suas atividades deve levar em consideração a escola em que ele trabalha, a comunidade na qual a escola pertence e por fim as particularidades e diferenças de cada criança, como um conhecimento a ser estimulado. A escola deve se adequar a criança, ela não deve ser modificada ou colocada em um quadrado de vidro em que todas devem ser iguais.

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Um professor crítico-reflexivo do campo procura relacionar o ensino com os saberes do campo. Nesse sentido, ele inicialmente planeja a sua aula e em seguida se questiona a cerca de como esse conteúdo está presente no campo e consequentemente na vida dessa criança. Apesar de que não cabe ao professor escolher quem serão seus futuros alunos, quando há comprometimento com a profissão, sabe-se que durante a sua carreira entrará todo o tipo de aluno e cabe a esse professor se atualizar e estudar para que a sua metodologia seja a mais próxima possível, da realidade do aluno. Assim, de acordo com Pinto (1981):

Refere-se aos professores justificando que eles não recebem uma formação adequada para lidar com a realidade do campesinato, por isso seu desinteresse em estabelecer relações com as comunidades, quando encaminhados a trabalhar nas áreas rurais. Ele registra que os programas de alfabetização – as esporádicas campanhas nacionais de que temos conhecimento – pouca relação têm com a escola rural. Outra característica identificada na educação rural pelo mesmo autor é a sua desvinculação da comunidade dos trabalhadores rurais que enviam seus filhos à escola (PINTO 1981, in CALDART, 2012, p. 296).

A partir desse pressuposto, considera-se que é impossível relacionar o conteúdo com a realidade da criança se não se conhece que realidade é essa, acaba-se construindo um ensino baseado no ruralismo pedagógico, onde a aprendizagem tem como base a realidade do educador que na maioria dos casos advêm do meio urbano. Logo, o educador que não conhece o cotidiano da família e da comunidade onde o aluno esta inserido, precisa conhecer, percorrer nos arredores da escola e conversar com as pessoas que ali vivem a fim de entender como são os seus costumes, princípios e o que fazem para sobreviver. Segundo FREIRE:

A pesquisa do que chamava universo vocabular nos dava assim as palavras do Povo, grávidas de mundo. Elas nos vinham através da leitura do mundo que os grupos populares faziam. Depois, voltavam a eles, inseridas no que chamava e chamo de codificações, que são representações da realidade (FREIRE,1989, p.13).

Após essa inserção na realidade dos educandos, é possível questionar-se sobre quem ele é, o que ele quer, qual sua real necessidade e qual método deve ser utilizado para dialogar com ele e juntos construir o conhecimento. Quando essa reflexão não acontece tem-se como consequência um educador que dialoga sozinho e que se desestimula por não encontrar resultados na sua prática.

Outra característica de um professor crítico-reflexivo é sua postura humana que o permite errar e assumir o erro, dando assim oportunidade ao educando errar e assumir que não sabe ou não entendeu. Uma postura humana também é a que permite sugestões ou críticas a cerca de seu trabalho a fim de repensar e melhorar sua prática.

A partir do momento que o educador se permite refletir sobre sua prática, ele se desenvolve tanto no aspecto pessoal quanto intelectual, porém é necessário que o educador conheça a si mesmo e compreenda suas ações para efetivamente refletir sobre sua prática.

Em seguida, é necessária uma reflexão coletiva desenvolvida através de um processo aberto e contínuo de discussões que abrange toda a escola, analisando como está o desenvolvimento de suas ações, quais os seus objetivos, o que tem favorecido o processo de ensino-aprendizagem, o que tem prejudicado, o que precisa ser revisto ou que alterações são necessárias.

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Dessa forma, é importante a busca insaciável por superação, isso só se dá de maneira satisfatória através da reflexão- ação-reflexão.

O educador é uma junção de saberes pedagógicos adquiridos durante sua formação, de experiências da sua prática e formação continuada, que vão se acumulando e se renovando através de reflexões ao longo da sua careira profissional.

Análise dos Resultados No município de Agudo, as escolas do campo possuem uma distância significativa

do perímetro urbano. A escola Santo Antônio está localizada na Linha dos Pomeranos, interior do município de Agudo. É uma escola localizada na porção mais elevada do município.

Educandos - Observação e questionários O que se compreendeu a partir dos questionários e observações realizadas durante esses meses, foi que os educandos dessa escola investigada são filhos de pequenos agricultores (fumicultores) que moram distancias que vão 5 até 15 km da escola. Ainda assim, cabe destacar que esta escola permite que os alunos possam estudar próximos de sua casa, pois se não tivesse esta escola estes alunos teriam que percorrer diariamente 32 km até chegar à sede onde se localizam mais escolas.

A escola possui 153 alunos distribuídos na educação infantil e no ensino fundamental. Deste total, estão no primeiro ano sete alunos, que aprendem de forma multisseriada juntamente com o segundo ano, que também possui sete alunos. O terceiro ano possui treze alunos.

Dentre os alunos do primeiro ao terceiro ano, seis possuem celular em casa e sete ajudam os pais na lavoura, sendo que apenas nove alunos morram perto da escola. Ainda, dessas duas turmas (primeiro e segundo pertencem a uma turma e o terceiro de outra), apenas dois alunos não gostam de ir para a cidade, sete trocariam o lugar onde moram para viver na cidade e apenas cinco possui cavalo em casa (ter cavalo é uma tradição da região devido à distância entre as casas e até mesmo da cidade). Como forma de laser as crianças costumam pescar ou visitar os amigos e colegas.

A maioria desses alunos quando não estão na escola costumam ajudar os pais em casa, participando ativamente no trabalho com o fumo. Segundo seus relatos, eles costumam classificar, enrolar fumo, prensar e também auxiliam na construção dos canteiros onde serão cultivadas as novas mudas.

Educadores – observação e questionários A única comunicação que poderia ocorrer entre pais e professores, se daria através de celular, porém por se tratar do campo, a maioria dos celulares não funciona por falta de sinal de antena e os que funcionam não são atendidos, pois os pais estão trabalhando longe de casa na lavoura no horário em que as crianças estão na escola. Sendo assim se alguma criança ficar doente, primeiramente os professores tentam ligar para os pais, mas na maioria dos casos ela é atendida no PSF (Programa de Saúde da Família), que atende apenas 2 vezes por semana, ou permanece doente na escola, em casos mais graves a escola leva a criança a um posto localizado na sede do município.

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Além disso, nesta escola, nas séries iniciais é possível identificar alunos que chegam à escola sem saber falar o português corretamente, apenas o dialeto alemão falado em casa. Isso aconteceu em 2010 com dois alunos que falavam somente o dialeto alemão. Em 2014 houve uma menina da turma do jardim que foi matriculada na escola sem saber falar o português. A turma é formada por quatorze educandos com quatro anos de idade.

A escola conta com quinze professores e três funcionários, deste, apenas três professores e um funcionário morram no campo.

Na escola Santo Antônio atualmente não há acesso a internet e os educadores que ali lecionam pesquisam em livros nestas circunstâncias se um educando possuir uma dúvida e o educador não souber responder no momento, não há como pesquisar por que os livros existentes na biblioteca não trazem todos os assuntos relacionados a atualidades. Além disso, os educadores não assinam jornal e nem revistas e não possuem acesso a internet. Um exemplo para ilustrar essa questão é o fato presenciado pela pesquisadora, onde um educador foi questionado sobre o que significa a sigla FIFA e esse questionamento não pode ser respondido no momento e a diretora disse que é uma pena, pois também não poderá ser respondido mais tarde devido à ausência de internet no campo.

O grande problema é que os educadores das escolas do campo não costumam ter formação continuada. Tornando-se assim, resistentes ao novo e desestimulados, tendo que trabalhar sem materiais pedagógicos e se adaptando as estruturas da escola.

Quanto a estrutura das construções, estas são boas, porém o pátio é pequeno, como pode ser visto na figura abaixo.

Pátio da escola Santo Antônio

Fonte: Google Earth.

Essa fotografia representa todo o espaço da escola reservado para as crianças brincarem durante o recreio. Com o intuito de melhorar o espaço tem-se um projeto para a construção de uma nova escola, próximo ao salão comunitário onde existe também um campo de futebol que frequentemente os educadores costumam levar as crianças para praticar esportes.

Uma estratégia para diminuir o desgaste em relação a distancia da escola, foi ajustar os horários de forma que os professores que dão 20 horas semanais venham apenas 2 dias para a escola e nestes dias trabalhem os dois turnos. Ainda são difíceis esses deslocamentos devido à insegurança que os educadores sentem por não conhecerem ninguém da comunidade, porque estão sozinhos e vulneráveis a pequenos imprevistos com furar um pneu do carro e ter de trocar no amanhecer correndo o risco de ser surpreendidos por cachorros.

Essa descontextualização foi percebida, principalmente no trabalho sobre o meio ambiente desenvolvido na turma do jardim com crianças de 4 anos de idade. Na sala de aula

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havia um cartaz onde era considerado errado cortar arvores, porém as famílias dessas crianças precisam cortar árvores para garantir o seu sustento. A grande maioria das famílias cortam árvores de eucalipto (Eucalyptus globulus) para a secagem do fumo Virgínia (tipo do fumo), a principal cultura que sustenta as famílias.

Sabe-se que a problemática do fumo e da silvicultura merecia aprofundamento, o que não é nosso propósito neste momento. No entanto, o que precisamos problematizar é que a escola simplesmente expor um cartaz que proíbe o corte de árvores sem refletir e contextualizar não resolve o problema. Poderá inclusive aprofundar a questão por que os alunos aprenderão que a escola diz uma coisa (não cortar árvores) e as famílias fazem outra (cortam para sobreviver e não cortam somente eucalipto, provavelmente também cortam árvores nativas), contudo esse assunto ainda não ultrapassa os portões da escola.

Os professores sabem da problemática, mas ela não é discutida nas séries iniciais e reuniões pedagógicas. Provavelmente as crianças vivenciam e saibam que os pais fazem um tipo de manejo ilegal com o corte das árvores nativas, mas isso é velado. A criança fica no meio dessa contradição e aprende a agir com princípios éticos duvidosos.

Apresenta-se uma, entre tantas contradições do sistema capitalista, do sistema escolar, da formação de professores e das práticas dos agricultores. Outra contradição é o trabalho infantil em relação à plantação de fumo, pois os pais sabem que é proibido e o representante da empresa que visita as famílias também, mas o representante finge que não vê e os pais fingem que não sabem. As empresas no momento de assinar o contrato com o agricultor colocam em uma das clausulas essa proibição, porém o agricultor frequentemente assina os contratos sem ler, contudo isso não significa que eles não estão cientes da proibição do trabalho infantil.

Quanto à localização da escola, percebe-se também, uma descontextualização, pois foi questionado se a localização da escola era importante, porém a educadora da turma que tinha o cartaz sobre o meio ambiente respondeu:“Na minha área acredito que não”. Sendo assim, é importante diferenciar o tipo de árvore que pode ser cortada ou não pode. É importante discutir que há uma necessidade de plantar para poder cortar e consequentemente sobreviver, pois o corte de árvore é necessário na secagem da folha de fumo que é uma das etapas realizadas pelos agricultores antes da comercialização. Apresenta-se uma desarticulação entre a teoria e a pratica, será que os educadores devem ou não trabalhar com essa perspectiva ambiental? Será que os plantadores de fumo devem abandonar essa cultura? O que os educadores farão diante dessas contradições?

Apesar disso, verificou-se que a professora costuma sair com as crianças para passear e observar o ambiente ao redor da escola. Teve um dia que saíram para observar um córrego de água (como mostra a figura) que há próximo da escola e nesse momento aproveitaram para ouvir o som da água e discutir sobre a poluição.

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As crianças saindo da escola para observar o ambiente.

Nesse sentido, percebe-se que é realmente importante a localização da escola, pois por

se tratar de uma escola localizada no campo há maior facilidade de observar as questões relacionadas ao meio ambiente.

Junto com a turma estava a menina que falava apenas o dialeto alemão, logo quando a educadora tentava realizar uma comunicação com ela era necessário que ela fosse tocada para que percebesse que a professora estava desenvolvendo um diálogo com ela. Sabe-se que ela possui um grau de surdez em um dos ouvidos, mas não se sabe o grau e nem a origem, pois o dialogo com a família é realizado através da agenda da criança e apesar da mãe escrever o português corretamente, este diálogo é limitado uma vez que não informa os detalhes sobre o cotidiano desta menina.

Será que a educadora consegue com o conhecimento que tem dessas famílias, articular uma prática que tenha significado para elas? Será que as famílias forneceram todos os dados necessários para que essa prática seja articulada com os conhecimentos científicos?

Percebe-se a tomada de consciência em relação a importância da construção dos conhecimentos levando em consideração o texto-contexto tão defendido por Freire(1996), pois três professores, sendo que uma é a diretora da escola Santo Antônio, produziram um livro didático sobre o município de Agudo. Este livro contém saberes que envolvem o espaço, tempo, clima, cultura, relevo, entre outros, como por exemplo, a valorização, estimulação, sensibilização e o despertar da própria cidadania de maneira interdisciplinar. Além disso, considera-se importante a valorização do lugar bem como da história por serem contextos que demonstram a realidade de um povo e o que o constitui.

Reflexões dos resultados Acredita-se que, uma vez que a criança possui a habilidade de dialogar em outra

língua que não seja o português, isso deveria ser incentivado nas escolas e reconhecido como um saber que é passado de pai para filho e que pode e deve ser aprimorado na escola. Há algumas escolas do campo no Município que ensinam a língua alemã, porem isso só acontece a partir do sexto ano, sendo que seria necessário desde o primeiro ano, no momento em que a criança ingressa na escola. Sobre esse assunto tem-se a contribuição de Benjamin:

O maior patrimônio de um país é o seu próprio povo, e o maior patrimônio de um povo é sua cultura, que lhe permite expressar conceitos e sentimentos, explorar as potencialidades de sua língua, formular idéias mais ricas, reconhecer sua identidade,

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exigir direitos, aumentar sua capacidade de organização, escolher melhor suas lideranças, libertar-se da miséria, comunicar-se melhor consigo mesmo e com outros povos, aprender novas técnicas, ter acesso ao que de melhor a humanidade produziu e produz na ciência e na arte (BENJAMIN, 2000, p.23).

Percebe-se que no município de Agudo há incentivo, principalmente por parte das escolas, que as crianças viagem e conheçam outros lugares. No entanto, antes de conhecer outros municípios e o que eles possuem de atrativo, seria interessante que as crianças conhecessem os principais locais de seu próprio município e a historia da colonização. Assim as crianças podem entender porque ainda há o dialeto alemão em alguns lugares e se orgulhem dos vestígios culturais que ainda restam para que esses não sejam esquecidos e deixem de existir com o tempo.

A distância da escola em relação a sede faz com que a maioria dos professores se recusem a dar aula nesses locais. Ao se deparar com a escola, os educadores encontram educandos que apesar dos meios de comunicação, possuem na fala traços da cultura que vivem, quando não falam apenas o dialeto alemão. Esses educadores muitas vezes deixam a desejar em relação ao conhecimento da realidade, e em alguns casos possuem apenas o magistério, sendo assim imposto a eles as escolas rejeitadas pelos demais. Dessa forma, sem possuir muita informação sobre a importância da manutenção da cultura, esses professores acabam trabalhando a língua portuguesa e rejeitam o dialeto que faz parte da história dessas crianças.

Para as crianças, esse método de ensino é desumano, pois elas passam a se sentir incapazes ao perceber que tudo que haviam aprendido até aquele momento se torna insignificante e errado. De acordo com (Caldart, 2001) as escolas tradicionais:

[...] não costumam ter lugar para outros sujeitos do campo, ou porque sua estrutura formal não permite o seu ingresso, ou porque a sua pedagogia desrespeita ou desconhece sua realidade, seus saberes, suas formas de aprender e de ensinar...é a escola que deve ajustar-se, em sua forma e conteúdo, aos sujeitos que dela necessitam; é a escola que deve ir ao encontro dos educandos, e não o contrario (CALDART, 2001, p.29).

Assim, percebeu-se que seria necessário realizar um levantamento sobre quantos professores do município atuam em escolas do campo, onde eles residem e qual é a formação desses professores. Isso pode ser observado na tabela abaixo:

Formação dos professores da escola Santo Antônio Nome Residência Formação

Sujeito 1 (urbano) Município vizinhos

Pedagogia

Sujeito 2 (campo) Município vizinhos

Magistério e Letras

Sujeito 3 (urbano) Município vizinhos

Magistério

Sujeito 4 campo Magistério e Pedagogia

Sujeito 5 urbano Geografia e Mestrado em Geografia

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Sujeito 6 (urbano)Município

Sujeito 7 campo

Sujeito 8 campo

Sujeito 9 urbano

Sujeito 10 urbano

Sujeito 11 campo

Sujeito 12 urbano

Sujeito13 urbano

Sujeito14 (urbano)Município vizinho

Tabela 2: Relação de professores da Escola Santo Antonio.

Em pesquisa feita na Secretaria Municipal de Educação de Agudo, constatounúmero professores que atuam no município é de 143, sendo que destes 14 trabalham na Escola Santo Antônio. Contudo, tinhaprofessores e quantos residiam na cidade para isso, feztodos os professores municipais (como pode ser visto na tabela do anexo). Essa necessidade surgiu para averiguar se realmente os educadores que atuam no campo (a maioricidade e trazem esta realidade para a sala de aula. Como resultado, constatoudos professores que trabalham no campo realmente moram na cidade, sendo que alguns moram até mesmo em outros Municípios. Para tornar essa realidadeo seguinte gráfico.

Gráfico 2 e 3: Residência dos professores e atuação

33%

67%

Residência dos Professores Municipais de Agudo

campo cidade

79

(urbano) Município vizinho

Musica e Pós-graduação em Metodologia do Ensino de Artes

campo Letras, Especialização em gestão e Pós-graduação em Tics

campo Magistério e Educação Física

urbano Artes Visuais, Pós-graduação em gestão e Mestrado em Artes Visuais

urbano Letras Pós-graduação em prática de língua portuguesa e língua inglesa

campo Magistério, Ciências, Matemática e Especialização em gestão

urbano Magistério, Letras e Pósgraduação em gestão

urbano Magistério e Pedagogia

(urbano) Município vizinho

Magistério e Geografia

Tabela 2: Relação de professores da Escola Santo Antonio.

Em pesquisa feita na Secretaria Municipal de Educação de Agudo, constatounúmero professores que atuam no município é de 143, sendo que destes 14 trabalham na Escola Santo Antônio. Contudo, tinha-se a preocupação de analisar qual a formação dos

ofessores e quantos residiam na cidade para isso, fez-se um levantamento da formação de todos os professores municipais (como pode ser visto na tabela do anexo). Essa necessidade surgiu para averiguar se realmente os educadores que atuam no campo (a maioricidade e trazem esta realidade para a sala de aula. Como resultado, constatoudos professores que trabalham no campo realmente moram na cidade, sendo que alguns moram até mesmo em outros Municípios. Para tornar essa realidade mais visível elaborou

Gráfico 2 e 3: Residência dos professores e atuação

33%

Residência dos Professores Municipais de Agudo

cidade

41%

Atuação dos Professores Municipais de Agudo

campo cidade

graduação em Metodologia do Ensino de Artes

Letras, Especialização em gestão e

Magistério e Educação Física

graduação em gestão e Mestrado em Artes Visuais

graduação em prática de língua portuguesa e língua inglesa

Magistério, Ciências, Matemática e Especialização em gestão

Magistério, Letras e Pós-

Magistério e Pedagogia

Tabela 2: Relação de professores da Escola Santo Antonio.

Em pesquisa feita na Secretaria Municipal de Educação de Agudo, constatou-se que o número professores que atuam no município é de 143, sendo que destes 14 trabalham na

se a preocupação de analisar qual a formação dos se um levantamento da formação de

todos os professores municipais (como pode ser visto na tabela do anexo). Essa necessidade surgiu para averiguar se realmente os educadores que atuam no campo (a maioria) residem na cidade e trazem esta realidade para a sala de aula. Como resultado, constatou-se que a maioria dos professores que trabalham no campo realmente moram na cidade, sendo que alguns

mais visível elaborou-se

59%

Atuação dos Professores Municipais de Agudo

cidade

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Observa-se que a maioria dos professores residem na cidade e em oposição a isso tem a atuação no campo. Isso ocorre devido ao grande número de escolas núcleo. A maioria desses educadores não conhece a realidade vivida no contexto da comunidade do campo, logo não sabem como é a realidade dos seus educandos. Em relação à formação, percebe-se que a maior parte dos educadores possui pós-graduação, apesar disso existe um educador que possui apenas o magistério. Há outros sete educadores que possuem magistério, porém continuaram seus estudos e atualmente também possuem graduação. Sobre está formação foi elaborado os gráficos abaixo.

Formação dos professores municípais e da escola Santo Antônio.

A escola Santo Antônio é considerada uma exceção em relação às demais, pois nela o número de professores com pós-graduação supera os que possuem graduação, contudo o ensino ainda é urbanizado, pois conforme mostra o gráfico a maioria reside na cidade.

No entanto, também revela uma formação que esses educadores tiveram a partir de uma concepção que mais se assenta no ruralismo pedagógico do que numa perspectiva abordada através da educação do campo.

O campo é um espaço que mantém particularidades históricas, sociais, culturais e ecológicas, logo a educação do campo possui identidade própria que deve valorizar o modo de viver e os objetivos a serem alcançados pela comunidade. A população é formada por adultos com baixa escolaridade devido à dificuldade que estes tiveram e que seus filhos ainda têm para o acesso a escola. Apesar de que atualmente há transporte escolar ainda a distância para chegar até a “escola núcleo” e o trabalho desenvolvido na família diminui o interesse pelos estudos.

Como uma forma de preservar o interesse, deve ser trabalhado o saber específico local juntamente com o conteúdo da educação formal. A busca pela sustentabilidade pode ser alcançada quando se trabalha dentro da sala de aula, uma elaboração de um projeto de vida, onde através da organização do campo se consiga melhorar a alimentação e se cogite a possibilidade de venda do excedente. Dessa forma, criam-se subsídios para subsistir e permanecer no campo com qualidade de vida.

Uma escola que respeita a realidade do educando é aquela que assume que em um ambiente de ensino há trocas mutuas de conhecimento, pois o educador ao ensinar também

0

50

100

150

200

Formação dos Professores Mucipais

de Agudo

0

5

10

15

Formação dos Professores da E. M. E. F.

Santo Antônio

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aprende com o educando e o próprio educando aprende com os demais colegas, mudando a visão de mundo desses sendo que não há espaço para o egoísmo.

É notável a grande preocupação que os educadores têm em ensinar valores (ética, respeitar o limite do outro, prevenir o uso de drogas) para as crianças, pois essas tarefas que antes pertencia aos pais acabam sendo transposta a escola que discute e tenta entender os problemas atuais da sociedade. No entanto, o meio ambiente é baseado apenas nas discussões exposta no livro, não é questionada a origem dos alimentos que consumimos e não há um conceito crítico sobre como vivemos e as consequências que causamos ao meio ambiente devido a essa nossa maneira de viver. Os temas poluição e lixo são discutidos, porém não é questionado a sua origem, se realmente precisa ser dessa forma e a importância disso no mundo tanto em relação às consequências dele mas também a economia que depende desse modo de vida e que privilegia o consumismo.

Apesar disso, existem algumas brincadeiras que são comuns no campo, desenvolvendo amplamente a coordenação motora como por exemplo: cabra-cego, bolinha de gude, pega-pega, policia e ladrão, cantigas de roda, está quente ou está frio, ovo choco, queimada, pula corda, boneca.

Em relação a músicas percebe-se que não há diferenças entre crianças do campo e crianças da cidade, pois atualmente as tecnologias (televisor, rádio, jornal, computador) estão presentes também no campo, o único critério que diferencia é do gosto individual de cada criança.

A organização também é um atributo indispensável para o bom andamento das aulas na escola do campo, para a conquista dessa organização tem-se a presença de regras de convivência associados à rotina e levando em consideração o conhecimento que as crianças trazem para a sala de aula. Cabe ao educador estabelecer essa rotina em conjunto com a turma conforme as necessidades percebidas, atuando sobre os espaços e tempos e até mesmo recriando esta rotina.

Considerações Finais Considera-se que no campo toda a comunidade pode aprender. Os educadores que

atuam em uma escola do campo precisam aprender como ligar os conteúdos a ser estudados com a realidade dos educandos. Para isso, é necessário que eles conheçam o cotidiano das pessoas que ali morram. A partir disso, entende-se que há uma necessidade de repensar a metodologia a ser utilizada, além da formação que os educadores possuem e que podem futuramente, ampliar para se adequar as exigências desse ensino diferenciado.

Em relação aos alunos, também é necessário que além dos conteúdos de direito (no caso das séries iniciais, alfabetização e escrita) das crianças, aprendam a valorizar a sua cultura e reconheçam o porquê a vida das pessoas que vivem no campo realmente é diferente, e precisa ser devido aos modos de produzir, viver e ao diferente modo de olhar o mundo. De acordo com a LDB 9.394/96 afirma que deve existir:

Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas as reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar as fases do ciclo agrícola a as condições climáticas e adequação á natureza do trabalho na zona rural (LDB 9.934/96).

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Quem constitui a identidade da escola do campo são os sujeitos que ali residem que ao longo do tempo foram construindo seus saberes históricos, por este motivo é que o ensino deve estar relacionado à realidade dos educandos que trazem consigo essa identidade do campo e uma das maneiras para realizar esta contextualização é socializar esses saberes.

Nesse sentido, esse é um dos motivos para não menosprezar as pessoas vivem no campo, pois elas possuem saberes relacionados ao como trabalhar com a terra e tirar o sustento dela. Esses saberes foram adquiridos com o passar do tempo e para não serem esquecidos precisam ser conhecidos, aplicados e valorizados pelas novas gerações.

Para que possa se entender efetivamente a importância desse saber é necessário que se compreenda o passado desse povo, entendendo assim o que os constitui, torna-se possível então compreender o presente e agir de maneira critica para melhorar o futuro. Logo, esses saberes não são relevantes apenas aos educandos, mas a toda a comunidade, uma vez que passa-se a conhecer melhor a história e as dificuldades que foram enfrentadas para sobreviver no campo, e gera-se energia para superar os problemas atuais que podem ser considerados pequenos perto do que já foi enfrentado.

Não menos importante é a história que os imigrantes construíram quando chegaram nesse Município desbravando mata ainda virgem para construir suas casas e criar roças para que pudessem produzir o seu alimento. Outro ponto relevante é que trabalhava-se muito para obter pouco lucro econômico.

Ao fazer este trabalho de conclusão de curso, aprendi qual a história do município de Agudo, busquei conhecer como vivem as famílias dos agricultores, quais os problemas que eles enfrentam em seu cotidiano, por que entendia que dessa maneira conseguiria fazer uma imersão na realidade dos educando, pois sabe-se que no campo as crianças crescem introduzidas (vendo e atuando) no mundo do trabalho dos pais. Aprendi ainda, que esta realidade precisa ser valorizada dento da sala de aula, pois percebi que há uma tendência de desvalorização dessa cultura. Constatei que se não houver uma modificação em relação a esses valores eles tendem a ser esquecidos, perdendo-se um saber histórico que constantemente é necessário para o camponês.

O município depende da agropecuária, isso porque quando não há produção também não há comércio. Diante disso, gera-se uma integração do campo com a cidade através dos meios técnico-científico-informacionais e também pela complementaridade entre estes dois ambientes, pois o campo depende de serviços prestados na cidade e esta por sua vez precisa de alimentos produzidos no campo. As pessoas que abandonam o campo normalmente passam a morar na periferia da cidade e com a renda menor, pois não há lugar para todos no meio urbano e essa grande oferta de mão de obra acaba gerando uma desvalorização da mesma.

Acredita-se que este percurso todos os educadores devem fazer, independente se for escola do campo ou da cidade, pois conhecendo o contexto das pessoas e entendendo a sua maneira de vida os educadores tornam-se mais solidários capazes de admitir que não sabem tudo, abrindo possibilidade para novas aprendizagens tanto dos educandos quanto de suas famílias. Para tanto é necessário que as famílias dos alunos passem a freqüentar não apenas as reuniões, mas que possam construir uma parceria com o educador em busca de uma aprendizagem significativa.

Diante das contradições que se apresentam na pratica deve-se dialogar com os agricultores para construir junto um saber e não impor um saber que pertence apenas a nossa realidade. É necessário que toda a comunidade pense possibilidades e trabalhe com o

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agricultor para a superação dos problemas enfrentados. Assim, tenta-se encontrar alternativa com eles e não para eles, porque quando um agricultor deixar de plantar fumo, ele deixa de lidar com agrotóxicos que afetam sua saúde, porém também perde sua fonte de renda. Contudo, nesse discurso não tem-se produzido mudanças, uma vez que há uma fragmentação do conhecimento já que esses assuntos não são debatidos dentro da sala de aula, pois o educador possui pouca informação sobre e não interessa-se a cerca da realidade do educando.

Esse processo pedagógico descontextualizado atende a interesses de grandes empresas que dependem da produção de fumo, interessa também ao governo que mantendo o povo sem entender o que acontece com o seu país, tornando-se obediente sem questionar a tomada de decisões. O governo já realizou um levantamento de quantas famílias dependem do fumo para o seu sustento a fim de proibir a produção dessa cultura, porém devido ao grande número de pessoas envolvidas com essa cultura chegou-se a conclusão de que não teria como, pois não encontrou-se outra cultura que dê o mesmo rendimento por hectare e que se adapte ao lugar. Além disso, há empresas multinacionais que possuem grande poder financeiro que compram o fumo e há muitos impostos que são arrecadados com todo o processo que envolve a produção do fumo.

Com toda essa influência e a partir disso, com a prática quer se está construindo dentro da sala de aula, perpetua-se um projeto de educação no campo que possui as características do ruralismo pedagógico. Logo não há uma educação do campo, mas uma educação urbana no campo.

Contudo, acredita-se que a escola não possui poder suficiente para mudar toda essas estruturas que são impostas ao agricultor, deixando-o subordinado por depender desse processo para a venda do seu produto para suprir as suas necessidades básicas e continuar a viver no campo. Apesar disso a escola, através dos educadores, pode fazer a sua parte construindo sujeitos críticos do/no campo, oportunizando à futura geração um entendimento desse processo e talvez juntamente com a comunidade possa criar possibilidades para que o agricultor encontre solução e saída dessa subordinação.

Sabe-se que o ensino precisa ser diferenciado de acordo com a realidade do educando, essa diferença precisa existir também dentro da sala de aula, por este motivo o método de ensinar no campo precisa ser ligado a realidade vivenciada por essas crianças. Os alunos do campo possuem maior facilidade de compreensão de temas ligados a terra, ao meio ambiente, porém atualmente esses temas podem e devem estar associados à localização espaço temporais.

Ao contemplar os objetivos propostos, algumas lacunas acabaram ocorrendo devido à abrangência da análise e das complexas relações que se estabelecem entre o campo e a cidade. Ressaltam-se como sendo importante área de pesquisa o papel do educador diante das contradições existentes do/no campo. Por esse motivo os estudos devem avançar durante o mestrado, a fim de aprofundar as análises.

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