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Livro educação escolar libâneo, oliveira e toschi

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As transforma~oestecnico-cientificas,

economicas e politicas

1. Revolu~ao tecnol6gica:impactos e perspectivas

Inicialmente, buscaremos compreender em que con-sistem as transforma<;:6estecnico-cientificas. Os estudio-sos do assunto mencionam essas transforma<;:6es comdiferentes denomina<;:6es, tais como Terceira RevolUl;:aoIndustrial, revolurao cientifica e tecnica, revolurao infor-macional, revolurao informatica, era digital, sociedadetecnico-informacional, sociedade do conhecimento ou, sim-plesmente, revolurao tecnologica.

Boa parte dos auto res levam a crer que as mudan<;:aseconomicas, sociais, politicas, culturais e educacionaisdecorrem, sobretudo, da acelera<;:aodas transforma<;:6estecnico-cientificas. Em outras palavras, os acontecimen-tos do campo da economia e da politica - como a globa-liza<;:aodos mercados, a produ<;:aoflexivel, 0 desempregoestrutural, tambem chamado de desemprego tecno16gico,a necessidade de eleva<;:aoda qualifica<;:aodos trabalha-dores, a centralidade do conhecimento e da educa<;:ao-teriam como elemento desencadeador as transforma<;:6estecnico-cientificas. A ciencia e a tecnica estariam, por-tanto, assumindo 0 papel de for<;:aprodutiva em lugardos trabalhadores, ja que seu usa, cada vez mais inten-so, faria crescer a produ<;:ao e diminuiria significativa-mente 0 trabalho humano.

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Verifica-se, nessa compreensao, urn determinismo tec-nologico que nao corresponde inteiramente a realidade.E preciso considerar que as transforma<;:6estecnico-cien-tificas resultam da a<;:aohuman a concreta, ou seja, deinteresses economicos conflitantes que se manifestamno Estado e no mercado, polos complementares do jogocapitalista. Essas transforma<;:6es refletem a diversidadee os contrastes da sociedade e, em decorrencia, 0 em-preendimento do capital em controlar e explorar as capa-cidades materia is e human as de produ<;:ao da riqueza,para sua autovaloriza<;:ao.

Todavia, embora existam algumas diferen<;:asna com-preensao do fenomeno da acelerada transforma<;:ao tec-nico-cientifica, percebe-se que todos os termos utilizadospara definir a realidade atual apontam para 0 fato de estarem curso uma radical revolu<;:aoda tecnica e da cienciae de essa revolu<;:aoser responsavel par amplas modifi-ca<;:6esda produ<;:ao,dos servi<;:ose das rela<;:6essociais.

Vma triade revolucionaria: a energia termonuclear,a microbiologia e a microeletronica

Para compreendermos mais concretamente as trans-forma<;:6estecnico-cientificas, e preciso considerarmosos aspectos ou pilares fundamentais da revolu<;:aotecno-logica. Tal revolu<;:aoesta assentada em uma triade revolu-cionaria: a microeletronica, a microbiologia e a energiatermonuclear (Shaff, 1990). Essa triade aponta, em grandeparte, os caminhos do conhecimento e as perspectivas dodesenvolvimento da humanidade.

A revolw;:iio tecnologica ou Terceira Revolu~iio Industriale marcada, entre outras, pela energia termonuclear, assimcomo a Primeira Revoluyao Industrial resultou da des-coberta e utilizayao da energia a vapor e a SegundaRevoluyao Industrial, da energia eletrica, como mostra 0

quadro "Revoluyoes cientificas e tecnologicas da moder-nidade", a seguir. A energia termonuc1ear e responsavel

pelos avan<;:osda conquista espacial, alem de constituirpotencialmente impartante fonte alternativa de energia.Seu uso no seculo XX,no entanto, esteve em grande partea servi<;:oda moderna tecnica de guerra, trazendo gravesconseqiiencias e grandes riscos para a vida humana e doplaneta.

REVOLU~6ES CIENTiFICAS E TECNOLOGICAS DA MODERNIDADE(do seculo XVIIIao inicio do seculo XXI)

PRIMEIRA REVOLU<;:AOC1ENTiFICA E TECNOLOGICA(segunda metade do seculo XVIII)

• Nasce na Inglaterra, vinculada ao processo de industrializac;:ao,substituindo a produc;:ao artesanal pela fabril.

• Caracteriza-se pela evoluc;:ao da tecnologia aplicada a produc;:aode mercadorias, pela utilizac;:ao do ferro como materia-prima, pelainvenc;:ao do tear e pela substituic;:ao da forc;:ahumana pela energia em6quina a vapor, criando as condic;:oes objetivas de passagem deuma sociedade agr6ria para uma sociedade industrial.

• Impoe 0 controle de tempo, a disciplina, a fiscalizac;:ao e a con-centrac;:ao dos trabalhadores no processo de produc;:ao.

• Amplia a divisao do trabalho e faz surgir 0 trabalho assalariado eo proletariado.

• Aumenta a concentrac;:ao do capital e seu dominio sobre 0 trabalho;o trabalho subordina-se formal e concretamente ao capital.

• Demanda qualificac;:ao simples (trabalho simplesL 0 que leva 0 tra-balhador a perder 0 saber mais global sobre 0 trabalho.

SEGUNDA REVOLU<;:AOC1ENTiFICA E TECNOLOGICA(segunda metade do seculo XIX)

• Caracteriza-se pelo surgimento do ac;:o, da energia eletrica, dopetr61eo e da industria quimica e pelo desenvolvimento dos meios detransporte e de comunicac;:ao.

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• Fornece as condic;:oesobjetivas para um sistema de produc;:ooemmassa e para a ampliac;:oodo trabalho assalariado.

• Aumenta a organizac;:oo e a gerencia do trabalho no processo deproduc;:oo,por meio da administrac;:oocientifica do trabalho (propos-ta por Taylor e Ford): racionalizac;:oo do trabalho para aumento daproduc;:oo,eliminac;:oodos desperdicios, controle dos tempos e movi-mentos dos trabalhadores na Iinha de montagem.

• Ocasiona a fragmentac;:oo, a hierarquizac;:oo, a individualizac;:ooea especializac;:oo de tarefas (Iinha de montagem).

• Intensifica ainda mais a divisoo tecnica do trabalho, ao mesmotempo em que promove sua padronizac;:oo e desqualificac;:oo.

• Faz surgir as escolas industriais e profissionalizantes (escolas tecni-cas), bem como 0 operario-padroo.

TERCEIRAREVOLU<;:AOC1ENTIFICAE TECNOLOGICA(segunda metade do seculo XX)

• Tem por base, sobretudo, a microeletronica, a cibernetica, a tec·notronica, a microbiologia, a biotecnologia, a engenharia genetica,as novas formas de energia, a rob6tica, a informatica, a quimicafina, a produc;:oode sinteticos, as fibras 6ticas, os chips.

• Acelera e aperfeic;:oa os meios de transporte e as comunicac;:oes(revoluc;:ooinformacional).

• Aumenta a velocidade e a descontinuidade do processo tecnol6gi-co, da escala de produc;:oo,da organizac;:oo do processo produtivo,da centralizac;:oo do capital, da organizac;:oo do processo de traba-Iho e da qualificac;:oodos trabalhadores.

• Transformaa ciencia e a tecnologia em marerias-primas per excelencia.

• Organiza a produc;:oode forma automatica, autocontrolavel e auto-ajustavel, mediante processos informatizados, robotizados por meiode sistema eletronico.• Torna a gestoo e a organizac;:oo do trabalho mais f1exiveise inte-gradas globalmente.

A revolufao da microbiologia e responsavel, tambem,por gran des avanc;:ose perigos para a vida human a e doplaneta. De urn lado, 0 conhecimento genetico dos seresvivos permite a produc;:ao de plantas e de animais me-lhorados para 0 comb ate a fome e a desnutric;:ao, 0 de-senvolvimento de meios contraceptivos no auxilio aoplanejamento familiar e ao comb ate da explosao demo-grafica e a luta pela eliminac;:ao de doenc;:ascongenitas(mongolismo, esclerose mUltipla, diabetes, doenc;:asmen-tais, etc.). De outro lado, ha 0 risco de produc;:ao artifi-cial de seres humanos encomendados e/ou obedientes,a clonagem, bem como a criac;:aode virus artificiais e apossibilidade de guerras bacteriologicas.

A revolufaO da microeletr6nica, por sua vez, e a quemais facilmente pode ser sentida e percebida. Estamosrodeados de suas manifestac;:oesno cotidiano, mediante:a) objetos de uso pessoal, como agendas eletr6nicas, cal-culadoras, relogios de quartzo, etc.; b) utensilios domes-ticos, como geladeiras, televisores, videos, aparelhos desom, maquinas de lavar roupa e louc;:a,forno microon-das, fax, telefone celular, automoveis, entre outros; c) ser-vic;:osgerais - terminais bancarios de auto-atendimento,jogos eletr6nicos, virtuais ou tridimensionais, balanc;:asdigitais, caixas eletr6nicos e outros. Ja e possivel perceber,tambem, que essas manifestac;:oes,bem como a perma-nente introduc;:ao de artefatos tecnologicos no cotidia-no de vida das pessoas, vem promovendo alterac;:oesnasnecessidades, nos habitos, nos costumes, na formac;:aodehabilidades cognitivas e ate na compreensao da realida-de (realidade virtual).

A vedete dessa revoluc;:aoe, certamente, 0 computador.Para muitos, ele constitui a maior invenc;:aodo seculo, jaque seu fasdnio, seu aperfeic;:oamento e sua utilizac;:ao(diferentemente do automovel, da televisao, do telefone,do aviao) nao parecem ter limites. Sao potencialmenteinfindaveis as aplicac;:oesdo computador em diferentescampos da atividade human a: lazer, educac;:ao, saude,

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agricultura, industria, comercio, pesquisa, transporte, tele-comunica<;:ao, informa<;:ao, etc. Em todos esses camposcome<;:aa fluir uma cultura digital pela qual todos sesentem fascinados ou pressionados a dela participar eadquirir seus produtos, sob pena de tornarem-se obso-letos ou de serem exduidos das atividades que realizam.o computador tern, ainda, em seu favor 0 fato de ter setornado sinonimo de moderniza<;:ao, de eficiencia e deaumento da produtividade em urn mundo cada vez maiscompetitivo e globalizado, fazendo com que exista umacompreensao de que e imperio so informatizar.

Todavia, os campos que foram atingidos com maior in-tensidade pela revolu<;:aoda microeletronica (especialmen-te pela informatiza<;:ao),com grandes reflexos economicos,sociais e culturais, sac tres: a agricultura, a industria eo comercio, com destaque para 0 setor de servi<;:os.

No mundo inteiro, vem decrescendo 0 trabalho hu-mano na agricultura, em razao do processo de "tecnolo-giza<;:ao"e da moderniza<;:ao da produ<;:ao.A agriculturaconta cada vez mais com diferentes formas de energia, demaquinario (tratores, colheitadeiras, etc.), com avioes,telefonia rural, computadores, informa<;:oesmeteoro16gi-cas, estudos do solo e de mercado, sementes selecionadas,acompanhamento tecnico-cientifico da produ<;:ao,entreoutros. Por isso, os trabalhadores do campo tornam-se,em grande parte, desnecessarios ao processo de produ<;:aocapitalista, sendo substituidos pela ciencia e pela tecnica.Assim, enquanto a revolu<;:aotecno16gica cria as condi<;:oespara 0 aumento da produ<;:aode alimentos e para grandediminui<;:ao do trabalho manual-assalariado, agrava-seo problema do desemprego no campo, como demonstrao Movimento dos Sem-Terra (MST) no Brasil.

A libera<;:aodo trabalho humano na agricultura, por-tanto, nao tern servido, em geral, para a melhoria daqualidade de vida dos individuos, ou seja, para a elimi-na<;:aoda fome e para 0 aproveitamento do tempo livreem atividades humanizadoras, e sim para a exclusao e a

expulsao dos trabalhadores do campo. Em muitos casos,ampliam-se os focos de tensao, em razao das ocupa<;:oesde terra (demandas por reforma agraria) e da intensifi-ca<;:aodo processo de marginaliza<;:ao,pelo aviltamentodos salarios e pelas precarias condi<;:oesde trabalho e devida urbana (que tern produzido anomalias no campo,como furtos, suicidio, abandono da familia, prostitui-<;:ao,banaliza<;:aoda violencia, etc.)

No campo da industria, as modifica<;:oesdo processode produ<;:aosac ainda mais intensas. A microeletronicae responsavel pela informatiza<;:aoe automa<;:aodas fabri-cas, especialmente da industria automobilistica. Com asnovas formas e tecnicas de gestao, de produ<;:ao,de vendae de organiza<;:aodo trabalho (como 0 toyotismo, os me-todos just in time e kan ban), a microeletronica permite:a) 0 aumento da produ<;:ao em urn tempo menor; b) aelimina<;:aode postos de trabalho; c) maior flexibilidadee, ao mesmo tempo, maior controle do processo de pro-du<;:aoe do trabalho; d) 0 barateamento e a melhoria daqualidade dos produtos e servi<;:os.Provavelmente, osmaiores efeitos dessa revolu<;:aosejam a crescente elimi-na<;:aodo trabalho humano na produ<;:aoe nos servi<;:ospelo uso da rob6tica e da informatiza<;:ao, 0 qual leva aoaumento do desemprego estrutural, a dualiza<;:aocres-cente do mercado de trabalho (induidos/exduidos) e aintensifica<;:aoda desintegra<;:aosocial e da demanda portalento e por capacidades, para 0 desenvolvimento deatividades que exigem maior qualifica<;:ao.

Por sua vez, 0 impacto da revolu<;:aoda microeletro-nica no setor de servi<;:os(comercio, corretoras de valo-res, hospitais, profissoes liberais e outros) e urn tantosingular. Por meio da informatiza<;:ao e da ado<;:aodenovas tecnologias e formas de gerenciamento, 0 setoresta modernizando-se. Na realidade, esta em curso umatendencia mundial (nos paises desenvolvidos ou em fasede desenvolvimento) de crescimento do setor de servi<;:osou de aumento da gera<;:aode riqueza, em detrimento

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da agricultura e da industria, que passam por urn proces-so de enxugamento e retra<;:ao.

o crescimento do setor de servi<;:osassocia-se: a) atransferencia da riqueza gerada com ganhos de produ-tividade na agricultura e na industria; b) ao aumento doconsumo, especialmente em periodos de estabiliza<;:aodainfla<;:aoe de amplia<;:aodo poder de compra; c) a genera-liza<;:aoda competi<;:ao; d) a terceiriza<;:ao patrocinadapelas empresas, ou melhor, a contrata<;:aode servi<;:osdeterceiros para areas como faxina, vigilancia, advocacia,contabilidade, etc.; e) a diminui<;:aodo emprego na agri-cultura e na industria, 0 que leva muitas pessoas a tentarurn negocio proprio na economia formal ou informal;f) ao aumento da demanda por servi<;:osem areas comolazer e educa<;:ao.

A tendencia mundial de crescimento do setor, noentanto, nao significa uma absor<;:aototal dos desempre-gados da agricultura e da industria. Os postos de trabalhoreorganizados ou criados nesse setor nao conseguematender ao contigente de desempregados gerado pelosoutros setores. E preciso considerar, ainda, que no setorde servi<;:ostambem vem se alterando 0 perfil de quali-fica<;:aodos trabalhadores, em razao das reformula<;:6esdas atividades e da incorpora<;:ao das novas tecnologias,formas e tecnicas de organiza<;:aodo trabalho.

a reduzir 0 tempo, 0 que se deve a multiplica<;:ao dosmeios, dos modos e da velocidade com que sao propa-gadas ou acessadas atualmente.

A internet (a super-rede mundial de computadores)e uma das estrelas principais dessa fase da revolu<;:aoin-formacional, pois interliga milhares de computadores,ou melhor, de usuarios a urn imenso e crescente bancode informa<;:6es,permitindo-lhes navegar pelo mundo pormeio do microcomputador. As informa<;:6esdisponiveisdizem respeito a praticamente todos os tern as de inte-resse, 0 que fascina cada vez mais as pessoas. 0 uso dainternet no Brasil, apesar da permanente expansao, ainda ebastante restrito, 0 que tern gerado ampla exclusao digital.

Com maior ou menor acesso, no entanto, as novastecnologias da informa<;:aoe os diferentes meios de co-munica<;:ao- por exemplo, 0 radio, 0 jornal, a revista,a televisao, 0 computador, 0 telefone, 0 fax e outros -estao presentes nos espa<;:ossociais ou incorporados aocotidiano de vida das pessoas, de maneira que modifi-cam habitos, costumes e necessidades. Os meios de co-munica<;:ao,melhor dizendo, as midias exercem cada vezmais urn papel de media<;:aoe de tradu<;:aoda realidadesocial. A seu modo - urn modo editado e, por vezes,ma-nejado -, elas contam 0 que acontece no mundo, fazen-do com que grande parte da realidade seja percebida deforma virtual.

As midias tambem vem sentindo 0 impacto da revo-lu<;:aoda microeletr6nica e do processo de informa-tiza<;:ao.As alternativas eletr6nicas de comunica<;:aoe asvers6es eletr6nicas dos antigos meios promoveram, nofinal do seculo XX, uma revolu<;:aono interior da revo-lu<;:aodos meios de comunica<;:ao; dito de outro modo,houve verdadeira revolu<;:aoinformacional nas midias.A televisao e, nesse sentido, urn dos veiculos mais ageis.Alem de tratar as noticias e as informac;:6es no momen-to em que se dao, ela conseguiu alargar suas opc;:6esna

Alem da triade revolucionaria apontada, e precisodestacar as mudan<;:as e as implica<;:6es da revolu<;:aoinformacional emergente. Essa revolu<;:aotern por baseurn espantoso e continuo avan<;:odas telecomunica<;:6es,dos meios de comunica<;:ao (midias) e das novas tec-nologias da informa<;:ao.Tais avan<;:ostorn am 0 mundopequeno e interconectado por varios meios, sugerindo-nos a ideia de que vivemos em uma aldeia global. As in-formac;:6es circulam de maneira a encurtar distancias e

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A EDucAt;:Ao ESCOLAR NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAt;:OES DA SOCIEDADE CONTEMPORA.NEA As TRANSFORMAt;:OES TECNICO-CIENTiFICAS, ECONOMICAS E POLiTICAS

area de transmissao a cabo ou por assinatura. Ensaia,ainda, experimentos de interatividade, em que e possivelobter urn feedback dos telespectadores mediante enque-tes, respostas, debates, conversas, registro, recebimento deinforma<;:oesvia computador domestico, telefone, etc.

De maneira geral, os veiculos jornalisticos informati-zam-se e distribuem as informa<;:oespor diferentes meios(telefone, fibras 6ticas, satelites, etc.), criando redes deinforma<;:aoon-line (comunica<;:aoinstantanea) que con-seguem juntar texto, som e imagem.

Dando sequencia aquilo que foi iniciado pela tele-visao a cabo, a informatiza<;:ao das midias ten de a diver-sificar e diferenciar os leitores/usuarios como urn uni-verso segmentado e complexo, em razao das demandasespedficas e da tendencia a individualiza<;:ao, indicati-vas de urn periodo de afirma<;:aodas singularidades e deflorescimento das diferen<;:asou, ainda, de intensifica<;:aodo processo de individualiza<;:ao.

Caracterizam ainda a revolu<;:aoinformacional:

a) 0 surgimento de uma nova linguagem comunica-cional, uma vez que circulam e se tornam comuns ter-mos como realidade virtual, ciberespa<;:o,hipermidia,correio eletronico e outros, expressando as novas reali-dades e possibilidades informacionais. Ja e comum tam-bem a utiliza<;:aode uma linguagem digital, sobretudoentre os jovens, para expressar sentimentos e situa<;:oesde vida;

b) os diferentes mecanismos de informa<;:aodigital (co-munica<;:ao instantanea), de acesso a informa<;:ao e depesquisas e liga<;:oesentre materias sempre atualizadas equalificadas;

c) as novas possibilidades de entretenimento e de educa-<;:ao(TV educativa, educa<;:aoa distancia, videos, softwares,etc.);

d) 0 acumulo de informa<;:oese as infindaveis condi<;:oesde armazenamento.

Uma caracteristica importante da revolu<;:aoinfor-macional diz respeito ao papel central da informa<;:aonasociedade p6s-mercantil ou p6s-industrial e a seu trata-mento (Lojkine, 1995). Essa nova sociedade tern comoaspectos marcantes a organiza<;:aoeficaz da produ<;:aoe 0tratamento da informa<;:ao.Sao caracteristicas ja clara-mente observadas, por exemplo, nos paises desenvolvidos,nos quais e crescente a interpenetra<;:ao entre a informa-<;:aoe 0 mundo da produ<;:aoe do mercado. Novos la<;:osestao sendo tecidos entre produ<;:aomaterial e servi<;:os,saberes e habilidades. A informa<;:ao, do ponto de vistacapitalista, constitui urn bem economico (uma merca-doria). Sua produ<;:ao,seu tratamento, sua circula<;:aooumesmo sua aquisi<;:aotornaram-se fundamentais para aamplia<;:aodo poder e da competitividade no mundoglobalizado. Investir em informa<;:aoou adquirir in for-ma<;:aoqualificada passou a ser, entao, condi<;:aodeter-minante para 0 aumento da eficacia e da eficiencia nomundo dos neg6cios.

A revolu<;:aoinformacional esta, portanto, na base deuma nova forma de divisao social e de exclusao: de urnlado, os que tern 0 monop6lio do pensamento, ou me-lhor, da informa<;:ao;de outro, os excluidos desse exerd-cio. Por isso, 0 acesso ao mundo informacional consistecada vez mais em uma troca entre proprietarios privadosque acessam a informa<;:aoatual, verdadeira e criadora demodo flexivel (Lojkine, 1995), a fim de se capacitarempara a tomada de decisoes. A informa<;:aode livre circu-la<;:ao,isto e, a que circula no espa<;:opublico, e, em geral,tratada e midiatizada pelos mass media, que exercem,em grande parte, urn papel de entretenimento e dedoutrina<;:ao das massas. Essa informa<;:ao de massa e,portanto, dominada pelo mercado capitalista, que a torna

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As TRANSFORMAC;:OES TECNICO-CIENTiFICAS, ECONOMICAS E POLiTICAS

insignificante e pobre de conteudo, mas determinantena crias:ao das condis:6es objetivas atuais de formas:ao deuma cultura de massa mundial e de globalizas:ao do capi-tal, como veremos adiante. A globalizas:ao s6 se tornoupossivel gras:asexatamente a urn sistema global, altamen-te integrado pelas telecomunicas:6es instantaneas.

Desse modo, a evidente utilizas:aoelitista e tecnomiticada informas:ao e das novas tecnologias a ela relacionadasimp6e 0 desafio de perceber as potencialidades contradi-t6rias e libertadoras da revolus:ao informacional, bemcomo as condis:6es e as estrategias de luta pela demo-cratizas:ao da informas:ao no contexto de uma sociedadecada vez mais globalizada, 0 que sup6e tambem demo-cratizar a politica de comunicas:ao, como a concessaode canais de radio e de TV.

CAPITALISMO: aspectos gerais

CONCEITUA<;:AODenomina~ao do modo de produ~ao em que 0 capital, sob suas dife-rentes formas, e 0 principal meio de produ~ao. Tem como principioorganizador a rela~ao trabalho assalariado-capital e como contra-di~ao basica a rela~ao produ~ao social-apropria~ao privada.ORIGEM (do seculo xv ao XVIII)• Difusao das transa~oes monetarias no interior do feudalismo.• Crescimento do capital mercantil e do comercio exterior - mer-cantilismo.CARACTERISTICAS• apropria~ao, per parte do capitalista, do valor produzido pelo traba-Ihador para alem do trabalho necessario a subsistencia (mais-valia);• produ~ao para venda;• existencia de um mercado em que a for~a de trabalho e compradae vendida livremente; explora~ao do trabalho vivo na produ~ao e nomercado (controle do trabalho);• media~ao universal das trocas pelo uso do dinheiro;• controle, por parte do capitalista, do processo de produ~ao e dasdecisoes financeiras;• concorrencia entre capitais (Iuta per mercados), for~ando 0 capitalis-ta a adotar novas tecnicas e praticas cientlfico-tecnol6gicasem busca docrescimento e do lucro. Por isso, 0 capitalismo torna-se tecnol6gica eorganizacionalmente dinamico;• tendencia a concentra~ao de capital nas grandes empresas (mono-p6lios, carteis e conglomerados/corpora~oes).PERIODIZA<;:AODO CAPITALISMOo amadurecimento das contradi~oes internas do capitalismo (comoas que se observam entre for~as produtivas e rela~oes de produ~ao)produz etapas, fases ou estagios de adapta~ao. As diferen~as entreas etapas do capitalismo verificam-se, sobretudo, no grau em que aprodu~ao, em sentido amplo, esta socializada. Grosso modo, apre-sentam-se quatro etapas:

A palavra globalizas:ao esta na moda. No entanto,diferentemente da moda passageira, ela parece ter vindopara ficar. Embora seu significado ainda nao conste damaioria dos dicionarios, tern sido usada para expressaruma gama de fatores econ6micos, sociais, politicos eculturais que expressam 0 espirito e a etapa de desen-volvimento do capitalismo em que 0 mundo se encon-tra atualmente. Trata-se, portanto, de palavra de dificilconceituas:ao, em razao da amplitude e da complexi-dade da realidade que tenta definir. Por isso, nao e pos-sivel discorrer aqui, extensa e profundamente, sobretoda a problematica envolvida; exporemos entao osaspectos mais gerais e significativos do tema. 0 quadroa seguir traz alguns elementos basicos que nos auxilia-rao nessa compreensao.

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oj Capitalismo concorrencial - seculo XVIII e infcio do seculo XIX• etapa chamada tambem de Primeira Revolu~ao Industrial, fase in-dustrial, capitalismo competitivo, fase do capital mercantil;• surge com as m6quinas movidas a energia (a vapor e, depois, ele-trica) e promove r6pido crescimento, que se faz acompanhar de pro-gresso tecnico;• nasce a economia politica (com A. Smith e D. Ricardo) e a ideologiado laissez-faire (concorrencia generalizada com a elimina~ao do Estadona regula~ao e no controle do mercado, do trabalho e do comercio);• divisao do trabalho coordenada ou orientada pelos mercados emque as mercadorias sac vendidas (importa~ao/exporta~ao).bj Capitalismo monopolista - seculo XIX e infcio do seculo XX• etapa chamada tambem de imperialismo, capitalismo dos mono-polios, Segunda Revolu~ao Industrial;• abandona 0 laissez-faire, com a conseqUente interven~ao nas ativi-dades economicas e sua regula~ao;• consolida~ao dos Estados nacionais;• cria~ao de mecanismos de absor~ao do excedente para manuten~aodo crescimento;• inicio da negocia~ao coletiva;• produ~ao/ consumo de massas (fordismo)e elevadas despesas estatais;• dominio da maquinaria no processo de trabalho/ desqualifica~ao dotrabalho;• produ~ao mais socializada e concentra~ao do capital;• trabalhador coletivo/trabalho parcelar e integrado;• substitui~ao da concorrencia entre capitais industriais pelos mono-polios (aumento do lucro das empresas monopolistas);• sistema de credito orientando a divisao social do trabalho. 0 juroe a forma predominante de apropria~ao da mais-valia, sendo a com-pensa~ao para quem detem 0 capital;• fascismo e nazismo resultam em parte da tendencia do capitalismomonopolista/ estatismo conservador. Esses regimes organizam a vida

social de maneira totalit6ria, com 0 apoio da burguesia ou da ciassemedia. Sao regimes militares, nacionalistas e antidemocr6ticos .c) Capitalismo monopolista de Estado - seculo XX (pos-SegundaGuerra Mundial)

• etapa chamada tambem de Estado benfeitor, Estado benefici6rio,Estado de bem-estar social, capitalismo de Estado, neoliberalismosocial-democrata;

• papel do Estado articulado ao sistema de credito e aos mercados,na coordena~ao da divisao social do trabalho;• planejamento macroeconomico (economia planificada) e politicasde distribui~ao de renda e pleno emprego;• maior socializa~ao das for~as produtivas;• Estado empres6rio, regulador e interventor;• produ~ao de bens e servi~os pelo setor publico;• Estado intervem em favor dos monopolios (fusao: Estado-capitalmonopolista).d) Capitalismo concorrencial global - seculo XX (infcio do deca-do de 80)• Etapa chamada tambem de pos-capitalismo, economia de merca-do, capitalismo f1exivel,neoliberalismo de mercado, Terceira Revolu-~ao Industrial;• Estado minimo e economia de mercado; desregulamenta~ao e pri-vatiza~ao;• acumula~ao f1exiveldo capital, da produ~ao, do trabalho e do mer-cado;

• sistema financeiro autonomo dos Estados nacionais;• mudan~as tecnico-cientificas aceleradas;• ordem economica determinada pelas corpora~5es mundiais, pelastransnacionais, pelas institui~5esfinanceiras internacionais e pelos pai-ses centra is;

• globaliza~ao/integra~ao da produ~ao, do capital, dos mercados edo trabalho.

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Acelera~ao,integra~ao e reestrutura~ao capitalista

o capitalismo lan<;:ou-se,no final do seculo XX, emurn acelerado processo de reestrutura<;:ao e integra<;:aoeconomica, que compreende 0 progresso tecnico-cien-tifico em areas como telecomunica<;:6es e informatica, aprivatiza<;:aode amplos setores de bens e servi<;:ospro-duzidos pelo Estado, a busca de eficiencia e de competi-tividade e a desregulamenta<;:aodo comercio entre paises,com a destrui<;:aodas fronteiras nacionais e a procura pelacompleta liberdade de transito para as pessoas, merca-dorias e capitais, em uma especie de mercado universal.Esseprocesso de acelera<;:ao,integra<;:aoe reestrutura<;:aoca-pitalista vem sendo chamado de globaliza<;:ao,ou melhor,de mundializa<;:ao. Dito de outro modo, a globaliza<;:aopode ser entendida como uma estrategia de enfrenta-mento da crise do capitalismo e de constitui<;:aode umanova ordem economica mundial.

Nao e possivel precisar a data em que surgiu a globa-liza<;:ao.Na verdade, 0modo de produ<;:aocapitalista sem-pre experimentou ciclos de internacionaliza<;:aoe de mun-dializa<;:aodo capital. Entretanto, os tra<;:os,os aspectose as caracteristicas principais dessa etapa do capitalismosaD bastante diferenciados e tornaram-se mais visiveis,a partir de 1980, com 0 discurso e 0 projeto neoliberal,que criaram as condi<;:6espara 0 impulso e a efetiva-<;:aoda globaliza<;:ao.

A globaliza<;:aoe visivel, por exemplo, no processo deentrela<;:amentoda economia mundial, por meio de mer-cados comuns ou blocos economicos, como a Uniao Eu-ropeia (UE), 0 Acordo de Livre-Comercio da Americado Norte (Nafta), 0 Mercado Comum do Sul (Mercosul),entre outros, e na deflagra<;:aoda abertura economica ecompeti<;:aointernacional em rela<;:aoa diferentes elemen-tos atuais da cadeia de produ<;:aoe de consumo: capitalde investimento, materia-prima, mao-de-obra qualifi-cada, tecnologia, informa<;:aoe mercado sofisticado. Taiselementos estao cada vez mais globalizados.

As TRANSFORMA~OES TECNICO-CIENTiFICAS. ECONOMICAS E POLiTICAS

A globaliza<;:aopressup6e, por isso, a submissao a umaracionalidade economica baseada no mercado globalcompetitivo e auto-regulavel. Essa racionalidade econo-mica exclui a regula<;:aodo mercado pelo Estado, ja queentende que aquele tende a se equilibrar e se auto-regularem razao da lei natural da oferta e da procura. Com 0

objetivo de adotar essa racionalidade, os paises terceiro-mundistas devem, portanto, promover uma completadesregulamenta<;:aoou desmonte dos mecanismos de pro-te<;:aoe de seguran<;:ada economia nacional, em confor-midade com 0 receituario neoliberal.

Essa batalha competitiva imposta, em parte, pela glo-baliza<;:aonao significa, no entanto, que esteja em cursourn processo de desestrutura<;:ao,desorganiza<;:aoe incoe-saD do capitalismo; ao contrario,

o capitalismo esta se tornando cada vez mais organiza-do atraves da dispersiio, da mobilidade geografica e dasrespostasJlexiveis nos mercados de trabalho, nos proces-50S de trabalho e nos mercados de consumo, tudo acom-panhado por pesadas doses de inova~iio tecnol6gica, deproduto e institucional (Harvey, 1992, p. 150-151).

No ambito politico-institucional, como veremos adian-te, assiste-se a globaliza<;:aodo poder por meio da forma<;:aode urn Estado global que tern por finalidade consolidar esustentar a nova ordem economica e politica mundial.

Todavia, a globaliza<;:aoe mais fortemente sentida epercebida em manifesta<;:6escomo:

a) produtos, capitais e tecnologias sem identidade na-cional;

b) automa<;:ao,informatiza<;:aoe terceiriza<;:aoda produ<;:ao;c) implementa<;:ao de programas de qualidade total e deprodutividade (processos de reengenharia em vista demaior racionalidade econ6mica);

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Globaliza~ao dos mercados: inclusao ou exclusao?

Embora 0 termo globaliza<;:aopossa sugerir a ideia deinclusao de todos os paises, regioes e pessoas que se ade-quarem aos novos padroes de desenvolvimento capitalis-ta, 0 que se percebe, de modo geral, e a logica de exclusaoda maio ria (pessoas, paises e regioes), que ocorre porqueessa etapa do capitalismo e orientada pela ideologia domercado livre. Rompendo fronteiras e enfraquecendogovernos, faz com que os mercados se unifiquem e sedispersem, ao mesmo tempo em que impoe a logica daexclusao, observada no mundo da produyao, do comer-cio, do consumo, da cultura, do trabalho e das finanyas.

A marca mais distintiva dessa transformayao do capi-talismo, no final do seculo XX e inicio do seculo XXI, ea chamada acumularao flexivel do capital, que ocorre emurn sistema integrado. Ela se caracteriza pela flexibilizayaodos processos de trabalho e dos mercados de produtose de consumo, inaugurando novo modo de acumulayao.Evidencia-se, nesse processo, a dispersao da produyao edo trabalho, ao mesmo tempo em que tern lugar a desre-gulamentayao e a monopolizayao da produ<;:ao - ouseja, esta se da em uma pluralidade de lugares, mas comcontrole unico (Harvey, 1992).

Esse processo ocorre, em grande parte, grayas a atua-yao das corporayoes mundiais ou transnacionais, comoMitsubishi, Mitsui, General Motors, Ford, Volkswagen,

Renault, Shell e outras, que atuam, praticamente, em to-dos os paises. Os funcionarios, os predios, as maquinase os laboratorios dessas empresas estao, na maior partedas vezes, em unidades fora do pais de origem, assimcomo 0 faturamento que auferem. Essa dispersao geo-grafica da produyao, no entanto, nao tern impedido amigrayao de trabalhadores qualificados para os paisescentrais ou desenvolvidos, nos quais, em geral, se encon-tram as sedes das corporayoes mundiais.

As corporayoes procuram no mundo (dispersao geo-grafica) as condiyoes para investimento na produ<;:ao ena comercializayao de mercadorias (busca de mercados),em razao do aumento da competitividade e do estreita-mento da margem de lucro. 0 resultado dessas transfe-rencias de operayoes e a perda de identidade nacional dasmercadorias, do capital e das tecnologias, com a conse-quente cria<;:aode urn sistema de produyao global queuniversaliza necessidades, gostos, habitos, desejos e praze-res.Assim, 0 mundo transforma-se cada vez mais em umafabrica e em urn shopping center global (Rattner, 1995).

Como caracteristicas da produyao global flexivel,per-cebe-se, entre outras: a acelerayao do ritmo da inova<;:aodo produto; a explora<;:aodos mercados sofisticados e depequena escala - produ<;:ao de pequenas quantidades;a introdu<;:ao de novas tecnologias e de novas formasorganizacionais; 0 aumento do poder corporativo; asfusoes corporativas; a acelera<;:aodo tempo de giro daprodu<;:aoe a redu<;:aodo tempo de giro no consumo -diminui<;:ao do tempo de uso do produto por causa desua menor durabilidade; a cria<;:aode novas necessida-des de consumo por meio da propaganda; 0 consumoindividualizado e adequado as exigencias do cliente (Har-vey, 1992).

A flexibilidade global da produ<;:ao,ocasionada pelarevolu<;:aotecnologica e pela globaliza<;:ao econ6mica,tambem alcan<;:a0 mercado de trabalho. 0 trabalho des-formaliza -se, dispersa -se, espalha -se, dessindicaliza -se,

d) demissoes, desemprego, subemprego;e) recessao, desemprego estrutural, exclusao e crise social;

f) diminui<;:aodos salarios, diminui<;:aodo poder sindical;elimina<;:ao de direitos trabalhistas e flexibiliza<;:aodoscontratos de trabalho;g) desqualifica<;:aodo Estado (como promotor do desen-volvimento econ6mico e social) e minimiza<;:aodas poli-ticas publicas.

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diversifica-se e torna-se cada vez mais escasso, apesar deseu caniter ainda altamente nacional, criando uma ten-sao basica no novo processo produtivo: de urn lado, asdemandas por eleva<;:ao da qualifica<;:ao do trabalhador,em razao da organiza<;:ao mais horizontal do trabalho, dasmultiplas tarefas, da necessidade de treinamento e deaprendizagem permanente, da enfase na co-responsabi-lidade do trabalhador; de outro, a cria<;:aode regimes e decontratos mais flexiveis (redu<;:ao do emprego regular,trabalho em tempo parcial, temporario ou subcontrata-do, partilha do trabalho), 0 estabelecimento de politicasalarial flexivel, 0 crescimento da economia informal (no-vas estrategias de sobrevivencia), 0 aumento de empregono setor de servi<;:os e de atividades aut6nomas, 0 retro-cesso do poder sindical, 0 desemprego estrutural e/outecno16gico, entre outros (Altvater, 1995). Portanto, essaetapa do capitalismo, especialmente no tocante a flexi-biliza<;:ao e a desregulamenta<;:ao do trabalho, consegueacirrar duas contradi<;:oes basicas: educarao-exploraraono novo processo produtivo e inclusao-exclusao social noprocesso de globalizarao. Essas contradi<;:oes do contextoatual nao deixam antever sua sintese, ou melhor, sua reso-lu<;:aono interior do capitalismo.

Essa situa<;:ao do mercado de trabalho, portanto, e ex-tremamente complexa, especialmente porque ja e fortesua dependencia do movimento do mercado mundial.Segundo Altvater (1995, p. 70), as tendencias em cursoapontam urn retrocesso da l6gica do trabalho em favorda l6gica do mercado; nesta l6gica, "sao experimentadasadequaroes das formas de emprego, dos periodos e horariosde trabalho, da organizarao do trabalho e do sistema e nivelde salarios as restriroes exteriores da concorrencia interna-cional". A globaliza<;:ao da produ<;:ao passa a redefinir ageografia do mercado de trabalho mundial. As corpora-s:oes mundiais buscam lugares, condis:oes de produs:aoe de consumo que sejam favoniveis as elevadas taxas delucro, especialmente mao-de-obra qualificada e barata,

mercado consumidor emergente, pouca ou nenhuma re-gulamenta<;:ao do Estado para as rela<;:oes de trabalho efraca presen<;:a do movimento sindical.

Essas manifesta<;:oes do processo de globaliza<;:ao, bemcomo as transforma<;:oes econ6micas associadas a revo-lu<;:aotecno16gica, levam a crer que 0 homem parece estarcondenado a acabar, em grande parte, com 0 trabalhomanual e assalariado. Por isso, ja se apresenta 0 desafio depensar uma sociedade em que nao prevalecera essa for-ma e rela<;:aode trabalho, ou melhor, em que sera cada vezmais crescente a amplia<;:ao da produtividade, 0 desapa-recimento do trabalho assalariado (sobretudo na indus-tria e na agricultura) e a demanda por qualifica<;:ao novae mais elevada. As questoes que se impoem, entao, sac:que fazer com as pessoas estruturalmente desempregadas(massas human as exduidas e descartaveis para 0 sistemaatual de produ<;:ao)? Como redistribuir renda nacionalem urn tempo-espa<;:o em que se apregoa e se impoe aminimiza<;:ao do Estado (como instrumento de equali-za<;:ao), a perda de substancia real das democracias, aamplia<;:ao do mercado (como instrumento unificador eauto-regulador da sociedade global competitiva) e a ob-sessao com 0 crescimento econ6mico acordado com osinteresses de acumula<;:ao do capital? Eis algo que inte-ressa a todos e deve ser debatido pelo conjunto da socie-dade e, especialmente, pe10s govern os.

A globaliza<;:ao do sistema financeiro e outra das mar-cas tipicas do processo de globaliza<;:ao da economia. Elase expressa na crescente expansao dos fluxos financeirosinternacionais, isto e, na livre circula<;:aodo capital, sobre-tudo nos paises chamados emergentes, perifericos ou emdesenvolvimento. Grandes somas de recursos atualmenteexistentes no mundo encontram-se em posse dos ban-cos, das corporas:oes, das organizas:oes e dos investido-res internacionais, os quais, por sua vez, se tornam ca-da vez mais livres para realizar transas:6es no mercado

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financeiro intemacional, a fim de buscar formas de apli-cac;:oeslucrativas em paises que se abrem ao capital exter-no. Isso acontece porque 0 capital financeiro percorrevirtualmente 0 mundo por meio dos computadores, pro-curando as melhores condic;:oes geopoliticas para suareproduc;:ao, ou melhor, para a gerac;:aode altas taxas delucro, como tambem para se resguardar de desequilibrioseconomicos e fugir dos impostos.

A globalizac;:ao financeira tern ocorrido, em grandeparte, grac;:asao empreendimento dos donos do capitalpara tomar 0 sistema financeiro autonomo dos Estadosnacionais, evidentemente com a ajuda do programa doneoliberalismo de mercado. Tal empreendimento mate-rializa-se atualmente na abertura economica, com a desre-gulamentac;:ao,a nao-intermediac;:ao e 0 desbloqueio (fimdas restric;:oeslegais), os quais permitem ao capital finan-ceiro cruzar as fronteiras e circular livre e desimpedido.

A autonomizac;:ao da esfera financeira facilita a circu-lac;:aodo capital ap<itrida (dinheiro sem Estado). Trata-sede dinheiro gerando dinheiro sem passar pelos proces-sos de produc;:aode mercadorias e de comercializac;:aodasmercadorias produzidas, de uma lucratividade financeiraadvinda puramente da compra e da venda de papeis.Nesse sentido, Assmann (1993) afirma que e absurdo 0

predominio do capital financeiro especulativo sobre 0

produtivo (que e de apenas 7% a 9% do capital total); hadias em que apenas 5% dos bilhoes de d6lares que mu-dam de titularidade nas quatro maiores bolsas do mun-do tern que ver diretamente com a circulac;:aode bens ede servic;:os.

A mobilidade do capital deixa os govemos fragilizadose gera grande instabilidade nas economias dos paisesemergentes. As economias nacionais tomam-se cada vezmais dependentes dos movimentos financeiros intema-cionais, 0 que pode ser percebido nas poHticas moneta-rias e cambiais adotadas e impostas a populac;:ao em

nome do ajuste economico e da reforma d9 Estado. Ainstabilidade economica esta, portanto, associada, entreoutros aspectos, a luta por alocac;:aode recursos intema-cionais, luta essa que tern atraido mais 0 dinheiro volatil(capital especulativo) do que 0 capital para investimento(capital produtivo). Em geral, 0 capital financeiro especu-lativo, sem patria, traz permanente tensao as economiasnacionais dos paises emergentes, que se tomam refensdesse tipo de capital.

Globaliza<;aodo poder: 0 Estado global e a novaordem economica mundial

A globalizac;:aotambem ocorre no ambito do poder.Atualmente, ja e possivel perceber com maior clareza osarranjos e a configurac;:ao da nova ordem economica epolitica mundial. Tal configurac;:aodeve-se, sobretudo, aoavanc;:odo neoliberalismo de mercado, a queda do socia-lismo real, no final da decada de 80, ao desmonte da or-dem economica constituida pelos Estados nacionais, apartir da Segunda Guerra Mundial, e a globalizac;:aodosistema de mercado, mediante a globalizac;:aodo capital.

A abertura economica e a crescente limitac;:ao dospoderes dos Estados nacionais tern como extensao aampliac;:aoda autonomia do mercado mundial, a inter-dependencia economica e 0 aumento do poder trans-nacional. 0 poder decis6rio do capital transnacional naoe desconcentrado e desarticulado, como pode parecerem urn primeiro momento; ao contrario, e cada vez maisarticulado e concentrado.

De urn lado, 0 poder das sociedades neoliberais con-centra-se, crescentemente, nas forc;:asde mercado, ou seja,nos grandes grupos financeiros e industriais (corpora-c;:oes),os quais, em combinac;:ao com 0 Estado, definemas estrategias de desenvolvimento, incluindo as reestru-turac;:6esecon6micas e os ajustes poHtico-financeiros.

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De outro lado, 0 poder de decisao ocorre nas instan-cias mundiais de concentrayao do poder economico, po-litico e militar, como a Organizayao das Nayoes Unidas(ONU),o grupo dos sete paises mais ricos ou poderosos(G-7), a Organizayao do Tratado do Atlantico Norte(Otan),o Fundo Monetirio Internacional (FM!), 0 BancoMundial (Bird), 0 Acordo Geral de Tarifas e Comercio(Gatt), a Organizayao de Cooperayao e DesenvolvimentoEconomico (OCDE) e a Organizayao Mundial do Co-mercio (OMC). Alem dessas instancias, e preciso consi-derar, ainda, 0 papel socioideol6gico desempenhado poroutras organizayoes mundiais, como a Organizayao daONU para a Educayao, Ciencia e Cultura (Unesco), aOrganizayao Mundial de Saude (OMS), a OrganizayaoInternacional do Trabalho (OIT), bem como as organiza-yoes nao-governamentais (ONGs). Ha, em geral, perfeitasimbiose entre os interesses das corporayoes transna-cionais e a tomada de decisao nas instancias superioresde concentrayao do poder mundial, sobretudo naquelasque tratam dos assuntos economicos e militares.

As corporayoes transnacionais e as instancias supe-riores de concentrayao de poder san cada vez mais cons-tituintes, ordenadoras e controladoras da nova ordemmundial. Com poder de deliberayao, em ambito mun-dial, no campo economico, politico e militar, impoem emonitoram as politicas de ajustes do projeto sociopolitico-economico do neoliberalismo de mercado, ou melhor,dos interesses da burguesia mundial.

Os paises ricos ou primeiro-mundistas desempe-nham papel ativo na criayao e na sustentayao dessa so-ciedade politica global, com especial destaque para aposiyao determinante do grupo dos sete paises mais ricosou poderosos do mundo (G-7: Estados Unidos, Canada,Japao, Alemanha, Inglaterra, Franya e Italia) nas instan-cias superiores do poder mundial, como mostra 0 esque-ma proposto por Steffan (1995, p. 518).

o Estado GlobalI

Governo global

IGrupo G-7

IEstrutura executiva

IPolitico

ISociallideol6gico

ONUAssembleia GeralSecretaria Geral

Corte Internacional de Justis;aUnescoOMSOil

IMilitar

BirdFMIOCDEOMCGatt

ONUConselho deSegurans;a

Embora ocorram conflitos por causa de interessesdivergentes, as decisoes do G-7, no tocante a nova ordemeconomica mundial, correspondem a cota de poder decada pais no interior do Estado global. Desse modo, essaspotencias mundiais tern conseguido:a) atender aos interesses do capital transnacional;b) controlar os riscos da sociedade global;c) instalar urn sistema de rapida advertencia aos merca-dos emergentes de paises do terceiro-mundo;d) impor uma hierarquia de poder transnacional;e) implementar as politicas neoliberais nos paises ter-ceiro-mundistas e disseminar a visao de mundo neolibe-ral, isto e, de uma sociedade regida pelo livre mercado.

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3. Neoliberalismo: 0 mercado comoprincipio fundador, unificadore auto-regulador da sociedade

da igualdade. Alternando-se conforme 0 estagio dedesenvolvimento e de adapta~ao, ambos tern impul-sionado e sustentado ideologicamente determinadosprocessos de moderniza~ao. De modo geral, percebe-seque 0 paradigma da liberdade economica, da eficiencia eda qualidade tern prevalecido nos momentos em que 0

capitalismolliberalismo e mais concorrencial, ao passoque 0 paradigma da igualdade tern sido mais hegemoni-co nos momentos em que 0 capitalismolliberalismo emais estatizante-democratico.

Dessa forma, com 0 auxilio dos dois paradigmas, 0 li-beralismo tern demonstrado capacidade de adaptar-se,de incorporar criticas e de mudar de significado em cadamomenta (tempo e espa~o) pr6prio do desenvolvimentodo capitalismo, expressando sempre uma visao de mundoque ordene e mantenha a sociedade capitalista como umarealidade definitiva que se aperfei~oa para 0 bem comum.

Embora pare~am antagonicos em alguns momentoshist6ricos, os dois paradigm as tern basicamente a mesmaorigem e, na essencia, semelhantes germes constitutivos.Os germes constitutivos do paradigma da liberdade eco-nomica, da eficiencia e da qualidade sao percebidos commaior visibilidade no Iluminismo, no liberalismo classico(com J. Locke e A. Smith), no liberalismo conservador eno positivismo, enquanto os constitutivos do paradig-ma da igualdade estao mais presentes no Iluminismo, noliberalismo classico (com J. J. Rousseau) e na Revolu~aoFrancesa.

Ha, no entanto, uma percep~ao mais clara dos doisparadigmas quando se voltam os ollios para as condi~6esobjetivas do mundo ap6s a Segunda Guerra Mundial.Nesse contexto, 0 capitalismo monopolista de Estado,com seu social-liberalismo ou Estado de bem-estar social,tern como dimensao discursiva 0 paradigma da igual-dade, e 0 capitalismo concorrencial global, com seu neoli-beralismo de mercado, tern como discurso 0 paradigm ada liberdade economica, da eficiencia e da qualidade.

E possivel dizer que 0 capitalismolliberalismo vemassumindo duas posi~6es classicas que se revezam: umaconcorrencial e outra estatizante, muito embora sejacomum encontrar classifica~6es que apresentam quatroetapas de desenvolvimento, como vimos na sintese deestudo sobre 0 capitalismo.

As duas posi~6es ou macrotendencias (a concorren-cial e a estatizante) vem orientando historicamente osprojetos de sociedade capitalista-liberal, de educa~ao ede sele~ao dos individuos. A prirrieira delas, a concor-rencial, cuja preocupa~ao central e a liberdade econo-mica (economia de mercado auto-regulavel), define-senas seguintes caracteristicas: a livre concorrencia e 0

fortalecimento da iniciativa privada com a competitivi-dade, a eficiencia e a qualidade de servi~os e produtos;a sociedade aberta e a educa~ao para 0 desenvolvimentoeconomico em atendimento as demandas e as exigenciasdo mercado; a forma~ao das elites intelectuais; a sele~aodos melhores, baseada em criterios naturais de aptid6ese capacidades. A segunda tendencia, a estatizante, apre-senta caracteristicas cuja preocupa~ao central e de con-teudo igualitarista-social, com 0 objetivo de: efetivar umaeconomia de mercado planejada e administrada peloEstado; promover politicas publicas de bem-estar social(capitalismo social); permitir 0 desenvolvimento maisigualitario das aptid6es e das capacidades, sobretudo pormeio da educa~ao e da sele~ao dos individuos baseadaem criterios mais naturais.

o desenvolvimento hist6rico das duas macrotenden-cias leva-nos, ainda, a perceber a existencia de dois para-digmas de condu~ao de projetos diferenciados de moder-niza~ao capitalista-liberal: 0 paradigma da liberdadeeconomica, da eficiencia e da qualidade e 0 paradigma

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No periodo entre as guerras mundiais, em que surgea expressao neoliberalismo, duas tendencias liberais esta-yam presentes: uma que aparece como reas:ao ao libe-ralismo conservador e ao positivismo (e assimila tesessocialistas) e outra fiel ao liberalismo de J. Locke eA.Smith, com pinceladas do conservadorismo, do autorita-rismo e do elitismo (liberalismo conservador/positivis-mo). E possivel notar que essas duas perspectivas seop6em na ados:ao de as:6espoliticas, economicas, sociaise culturais, para obter hegemonia na condus:ao de urnprojeto de modernizas:ao capitalista.

A primeira tendencia, 0 novo liberalismolsocial-liberalismo, que tern J. Dewey (1859-1952) eM. Keynes(1883-1946) como maio res expoentes, assume a hege-monia ideol6gica na sociedade capitalista da SegundaGuerra Mundial ate a primeira metade da decada de 70,quando, entao, comes:aa se esgotar. A segunda, 0 neolibe-ralismo de mercado (conservador e elitista), cujo maiorexpoente e F.A. Hayek, sai de seu estado de hibernas:aopara dar novo folego e solus:6es a crise mundial da deca-da de 70, akans:ando seu ponto mais alto nos governos deRonald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra).

Vale ressaltar, todavia, do is aspectos fundamentais:primeiro, 0 neoliberalismo teorizado por Hayek nao sig-nifica 0 fim do novo liberalismolsocial-liberalismo deKeynes e Dewey ou mesmo uma negas:ao de todos os fun-damentos do liberalismo c1<issico,e sim uma nova, gran-de e complexa rearticulas:ao do liberalismo, impostapela nova ordem economica e politica mundial; segundo,e comum, atualmente, 0 uso da expressao neoliberalis-mo em referencia ao liberalismo de Keynes e Dewey ouao neoliberalismo de Hayek e de organismos interna-cionais como aNU, FMI e Banco Mundial. Pode-se falar,entao, do estabelecimento de uma dicotomia neolibe-ral, sobretudo no campo das ideias, a partir da SegundaGuerra Mundial.

a esquema abaixo seguir sintetiza os aspectos cen-trais considerados.

Macrotendencias do capitalismo/liberalismoI

IParadigma(s)

II

Liberdade economica,efici€lncia e qualidade

I

Tendencias p6s-Segunda Guerra Mundial

I

Reac;:6esafirmadoras doliberalismo conservador

Reac;:6es contrarias aoliberalismo conservador

a quadro seguinte procura, com base em algumascategorias fundamentais (economia, Estado, demo cra-cia, por exemplo), caracterizar os dois paradigmas basicosidentificados em projetos de modernizas:ao do capitalis-mo/liberalismo. E precise ressaltar, no entanto, que hciuma tensao hist6rica permanente entre os dois paradig-mas, ou melhor, entre os dois projetos de moderniza<;:aoliberal-capitalista, 0 que pode nao ficar evidenciadovisualmente.

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Neoliberalismode mercado

Social-liberalismo/ NeoliberalismoNovo liberalismo de mercado

d) Educa<;oo d) Educa<;oo

• enfase na escola unica, publica, • enfase no ensino privado, nagratuita, laica, universal e obrigat6- escola diferenciada/ dual e na for-ria; democra~co-popular; forma<;oo ma<;oo das elites intelectuais; forma-para a cidadania; planifica<;oo dos <;00 para 0 atendimento das de-sistemas de ensino; mandas/exigencias do mercado;

e) Sele<;oo dos individuos e) Sele<;oo dos individuos

• sele<;oodas capacidades, basea- • sele<;oo dos melhores, baseadada em criterios naturais de apti- em criterios naturais de aptidoo edoo e de inteligencia; desenvolvi- de inteligencia; elitismo psicocultu-mento igualitario; ral (seletividade meritocratica);

f) Direito f) Direito

• enfase no direito publico, na jus- • enfase no direito privado, nati<;a social, na propriedade coleti- propriedade privada; na lei comova; a lei como instrumento da igual- instrumento da igualdade formal;dade formal/real;

g) Governo g) Governo• governo democratico, coletivis- • governo limitado;ta, igualitarista;

h) Prindpios h) Prindpios

• enfase na igualdade de oportu- • enfase na liberdade, na pro-nidades, na democracia popular, priedade, na individualidade (direi-na justi<;a social, na etica comu- tos naturais)' na economia de mer-nitaria e na equidade social. cado auto-regulavel e na socieda-

de aberta.

L1BERALISMO/ CAPITALISMOProjetos de moderniza<;ao

Social-liberalismo/Novo liberalismo

Paradigma da igualdade de opor-tunidades.Tendencia capitalista-Iiberal esta-tizante e democratica que imprimeum projeto de moderniza<;oo ca-racterizado por:

a) Economia

• economia de mercado planejadae administrada palo Estado; eco-nomia mais coletivista/ socializada;

b) Estado

• Estado de bem-estar social: inter-venter, regulador, organizador e pla-nejador da economia; provedor dopleno emprego e do cresci mento,da educa<;oo, da saude, da assis-rencia aos desempregados, etc.;

c) Democracia

• ideal de democracia direta (Rous-seau): governo do povo, pelo povoe por intermedio do povo; democra-cia politico-social (participa<;oo politi-ca e democratiza<;ao da sociedade);democracia substancial (refere-se aoconteudo da forma de governo);

Paradigma da liberdade economi-ca, da eficiencia e da qualidade.Tendencia capitalista-liberal concor-rencial e elitista-conservadora queimprime um projeto de moderniza-<;00caracterizado per:

a) Economia

• economia de mercado auto-re-gul6vel: livre concorrencia; fortaleci-mento da iniciativa privada comenfase na competitividade, na efi-ciencia e na qualidade de servi<;ose produtos;

b) Estado

• Estado minimalista, com tresfun<;oes: policiamento, justi<;a edefesa nacional; projeto de deses-tatiza<;oo, desregulamenta<;ao eprivatiza<;ao; desqualifica<;oo dosservi<;os e das politicas publicas;

c) Democracia

• ideal de democracia indireta(Tocqueville: governo representati-yo); enfase na democracia politica:democracia formal (refere-se aforma de governo);

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o paradigma da igualdade

o paradigma da igualdade (na 6tica liberal), ou me-lhor, da igualdade de oportunidade, nao surge de umahora para outra. Nasce com 0 ideal de isonomia dos gre-gos, reaparece com vigor revolucionario no Iluminismo,e assumido como questao central no pensamento deRousseau, como principio basico na corrente demo cra-tica da Revolw;:aoFrancesa e como meta a ser alcan<;:adapela a<;:aogovernamental do novo liberalismo/social-libe-ralismo, ap6s a Segunda Guerra Mundial.

A tradi<;:ao liberal democratica, igualitarista, desdecedo, adotou 0 estatismo como forma de assegurar a exis-ten cia da sociedade livre, mediante certa igualdade nascondi<;:5esmateriais de existencia. Ha a tentativa de conce-der a todos os individuos as mesmas oportunidades e, sepossivel, identicas condi<;:5esde desenvolvimento. Acre-dita-se que a democracia politica s6 seja exeqiiivel comalgum nivel de democracia social, economica e cultural.

o ideal democratico-igualitarista s6 se efetivou maisconcretamente com a fase do capitalismo monopolista deEstado (novo liberalismo/social-liberalismo), sobretudono periodo que vai de 1945 a 1973 (fordismo e keyne-sianismo). Trata-se de periodo embalado por certa fe noparadigma da igualdade.

No ambito da economia, assiste-se ao crescimento eao fortalecimento do Estado, com 0 objetivo de inter-ven<;:ao,de planejamento, de coordena<;:ao e de parti-cipa<;:aona esfera economica. Nesse sentido, 0 Estadodesempenha fun<;:5esmultiplas: regula os monop6lios eintervem, quando preciso; executa 0 planejamento ma-croeconomico em busca da economia planificada; coor-den a a divisao social do trabalho e as politicas de rendae de pleno emprego, para ampliar a socializa<;:aodas for-<;:asprodutivas; e, tambem, participa da esfera economica,com a prodw;:ao de bens e servi<;:os.

A sustenta<;:aopolitica desse modelo economico da-sepor meio do novo liberalismo/social-liberalismo ou Esta-do de bem-estar social. 0 ideal e a constitui<;:aode uma

sociedade democratica, moderna e cientifica que, efeti-vamente, garanta a liberdade, a igualdade de oportuni-dade, 0 desenvolvimento individual e a seguran<;:adoscidadaos e de seus bens. A f6rmula politica e a da demo-cracia da representa<;:ao,em que 0 povo escolhe pelo su-fragio universal os que exercerao 0 poder. Essa f6rmulas6 se sustenta, no entanto, com uma moral solidaria eagregadora entre os cidadaos da democracia e se houvercerta socializa<;:aoda economia que forne<;:aas condi<;:5esmateriais de existencia.

A moderniza<;:ao economica capitalista p6s-SegundaGuerra Mundial, que requer maior socializa<;:aodo con-sumo para 0 desenvolvimento economico, depositoumaior confian<;:ana educa<;:aoem vista das mudan<;:asnaeconomia e no mercado de trabalho. A forma<;:aode sis-temas nacionais de educa<;:aoe a expansao do ensino,nesse periodo, surgiram por decorrencia. A igualdade deacesso tern sido perseguida em todos os graus e moda-lidades de ensino.

as defensores do liberalismo social acreditavam que,por meio da universaliza<;:aodo ensino, seria possivelestabelecer as condi<;:5esde institui<;:aoda sociedade de-mocratica, moderna, cientifica, industrial e plenamentedesenvolvida. A amplia<;:aoquantitativa do acesso a edu-ca<;:aogarantiria a igualdade de oportunidades, 0 maxi-mo do desenvolvimento individual e a adapta<;:aosocialde cada urn conforme sua inteligencia e capacidade.Desse modo, havendo uma base social que tornasse asociedade mais homogenea e democratizasse igualmente~odas as oportunidades, a sele<;:aodos individuos e seuJulgamento social ocorreriam naturalmente.

Embora 0 capitalismo ocorra tardiamente no Brasil- sobretudo a partir da Revolu<;:aode 30, com 0 proces-so de industrializa<;:ao e de urbaniza<;:ao -, e possivelperceber, no contexto da Era Vargas (1930-1945) e depoisCom a ideologia do desenvolvimentismo e do naciona-lismo populista (1945-1964), as marcas do movimento

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mundial do capitalismo monopolista de Estado e dosocial-liberalismo/novo liberalismo. Nesse momenta davida nacional, sucede a tentativa de transformar a socie-dade tradicional e arcaico-rural em uma sociedade mo-derna e urbano-industrial.o Estado brasileiro, no periodo de 1930-1964, expan-

diu-se, a fim de nacionalizar e desenvolver a economiabrasileira, particularmente a industrializa~ao, por meioda substitui~ao das importa~6es. Passou, tambem, a ado-tar programas de educa~ao e de saude publica, de assis-tencia a agricultura, de regula~ao dos pre~os, de segurossociais e outros. Criou ainda uma legisla~ao trabalhistaque fez concess6es ao proletariado, assegurando direi-tos sociais como sahirio minima, ferias remuneradas eaviso previo. De maneira geral, no periodo populista am-pliaram-se os direitos sociais, economicos e politicos doscidadaos, em que pesem os sinuosos caminhos de cons-titui<;:aoda democracia no Pais, nesse periodo.

Atualmente, as profundas mudan<;:asno capitalismornundial- sobretudo nas duas ultimas decadas -, querecriam 0 mercado global sobre novas bases, imp6em 0

paradigma da liberdade economica, da eficiencia e daqualidade como mecanismo balizador da competitivi-dade que deve prevalecer em uma sociedade aberta.Eficiencia e qualidade saG condi~6es para a sobreviven-cia e a lucratividade no mercado competitivo. Por isso,o paradigma em questao vem afirmando-se no mundoda produ<;:ao,do mercado e do consumo, sendo perse-guido por todos os que querem se tornar competitivosem qualquer area.

o paradigma da liberdade economica, da eficiencia eda qualidade vem servindo, tambem, para reordenar aa~ao do Estado, limitando, quase sempre, seu raio de a~aoem termos de politicas publicas. E 0 caso, por exemplo,da educa~ao. Se, ap6s a Segunda Guerra Mundial, 0

objetivo era certa igualdade, com a universaliza~ao doensino em todos os graus, agora se fala em universaliza-~ao do ensino fundamental. Se, na decada de 1950, foiutilizado 0 discurso da igualdade para expansao do ensi-no, em atendimento a determinada moderniza<;:ao eco-nomica, agora se faz uso do discurso da eficiencia e daqualidade para conter a expansao educacional publica egratuita, sobretudo no ensino superior, tendo como fimoutro projeto de moderniza<;:ao economica. Como sejulga 0 Estado falido e incompetente para gerir a edu-ca<;:ao,resolve-se transferi-la para a iniciativa privada,que, naturalmente, busca a eficiencia e a qualidade.

Igualdade de acesso ou universaliza~ao do ensino emtodos os niveis e qualidade de ensino ou universaliza<;:aoda qualidade aparecem como antiteses. Nao e possivelampliar os indices de escolariza~ao e dar condi<;:6esdepermanencia na escola e na universidade com 0 mesmonivel de qUalidade e de eficiencia, em razao da diversidadee das condi<;:6esexistentes no contexto atual' Seria preciso,entao, hierarquizar e nivelar por cima, ou seja, pela ex-ce1encia,tornando 0 sistema de ensino competitivo.

o paradigma da liberdade economica,da eficiencia e da qualidade

o paradigma da liberdade economica, da eficiencia eda qualidade teve sua origem, a rigor, na genese do modode produ<;:aocapitalista e, consequentemente, no modo devida liberal-burgues. 0 processo produtivo capitalista,desde seu inicio, acentuou a relevancia da iniciativa pri-vada no sistema produtor de mercadorias, em contra-posi~ao ao modo de produ<;:ao feudal e as excessivasinterferencia, regulamenta<;:aoe centraliza<;:aoexercitadaspelo Estado absolutista no setor economico. 0 modo deprodu<;:aocapitalista requereu, inicialmente, urn merca-do livre (auto-regulavel), em uma sociedade aberta, emque prevaleceria a livre competi<;:ao.Ja nesse momento,eficiencia e qualidade de produtos e servi<;:oseram indi-cadas como germes ou criterios para reger a concorren-cia do mercado e definir 0 grau de competitividade decada empresa.

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Todavia, a necessidade de criar uma cultura tecnol6-gica para a expansao do capital, alem da requalifica<;:aodos trabalhadores e da amplia<;:ao do mercado de con-sumo, tern real<;:ado a importancia da universaliza<;:ao doensino fundamental com base em tres principios: efi-ciencia, equidade e qualidade. Tais principios aparecemclaramente, por exemplo, no documento Satisfa~iio dasnecessidades basicas de aprendizagem: uma visiio para 0

decenio de 1990 e na Declara~iioMundial sobreEduca~iiopara Todos, realizada em Jontien, Tailandia (de 5 a 9 demar<;:ode 1990), nos documentos da Unesco Transforma-~iioprodutiva com eqiiidade (1990) e Educa~iio e conhe-cimento: eixo da transforma~iio produtiva com eqiiidade(1992) e ainda no Plano Decenal de Educa~iiopara Todos,documento do Ministerio da Educa<;:ao, datado dejunho de 1990. Parece haver uma jun<;:ao entre os doisparadigmas capitalista-liberais no tocante ao ensinofundamental, com 0 fim de atender as demandas e asnecessidades dessa nova fase do projeto de moderniza-<;:aocapitalista.

Organismos multilaterais (por exemplo, Banco Mun-dial, Unesco, Comissao Economica para a America Latina- Cepal) e nacionais (Federa<;:ao das Industrias do Esta-do de Sao Paulo - Fiesp, Confedera<;:ao Nacional daIndustria - CNI, Ministerio da Educa<;:ao - MEC,Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais- Inep, Ministerio do Trabalho - MTB, entre outros)difundiram em seus documentos de orienta<;:ao das poli-ticas de educa<;:ao, especialmente no decorrer da decadade 90, a nova agenda e a nova linguagem da articula<;:aoda educa<;:ao e da produ<;:ao do conhecimento com 0 novoprocesso produtivo. A expansao da educa<;:ao e do conhe-cimento, necessaria ao capital e a sociedade tecnol6gicaglobalizada, ap6ia-se em conceitos como moderniza<;:ao,diversidade, flexibilidade, competitividade, excelencia, de-sempenho, eficiencia, descentraliza<;:ao, integra<;:ao, auto-nomia, equidade, etc. Esses conceitos e valores encontram

fundamenta<;:ao, sobretudo, na 6tica da esfera privada,tendo que ver com a 16gica empresarial e com a novaordem economica mundial.

As mudan<;:as no ambito da produ<;:ao, em razao doavan<;:oda ciencia e da tecnologia, tern gerado uma situa-<;:aode competitividade no mercado mundial. Instalou-se, como vimos anteriormente, urn novo paradigmaprodutivo em nivel mundial, 0 qual implica profundasmudan<;:as na produ<;:ao, na aprendizagem, na difusao doconhecimento e na qualidade dos recursos humanos. Acompetitividade instalada e requerida pelo capital trans-nacional passa, cada vez mais, pelo desenvolvimento doconhecimento e pela forma<;:ao de recursos humanos,atribuindo pape1 central a educa<;:ao. Nesse sentido, aorienta<;:ao do Banco Mundial (1995) tern sido a deeducar para produzir mais e melhor. Para 0 banco, 0investimento em educa<;:ao, em uma sociedade de livremercado, permite 0 aumento da produtividade e do cres-cimento economico, como se evidencia em certos pai-ses do Sudeste Asiatico, como Indonesia, Singapura,Malasia e Tailandia.

Os defensores do neoliberalismo de mercado, no cam-po da educa<;:ao, julgam que a expansao educacionalocorrida a partir da Segunda Guerra Mundial, embaladape10 paradigma da igualdade, conseguiu promover certamobilidade social por algum tempo, mas pouco contribuiupara 0 desenvolvimento economico. Houve, tambem,crescente perda da qualidade de ensino, demonstrada,por exemplo, em altas taxas de reprova<;:ao e de evasao.Outrossim, a capacita<;:ao instituida no p6s-guerra naoacompanhou os avan<;:os do sistema produtor de mer-cadorias, ficando, desse modo, obsoleta e burocratica.Os arautos desse tipo de neoliberalismo afirmam, entao,que 0 sistema de educa<;:ao se encontra isolado, 0 quedificulta 0 avan<;:oda capacita<;:ao e da aquisi<;:aodos novosconhecimentos cientifico- tecno16gicos.

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Neoliberalismo e educa<;:ao:reformase 'politicas educacionais de ajuste

A reorganizayao do capitalismo mundial, para aglobalizayao da economia, assim como 0 discurso doneoliberalismo de mercado e das mudanyas tecnico-cientificas trouxeram novas exigencias, novas agendas,novas ayoes e novo discurso ao setor educacional, so-bretudo a partir da decada de 80. Esse novo momentoevidencia a crise de urn modelo societario capitalista-liberal estatizante e democratico-igualitarista que dire-cionou, de certa forma, 0 projeto de modernizayao apartir da Segunda Guerra Mundial.

Neste t6pico, procuraremos evidenciar e analisar essanova configurayao estrutural e educacional por meio dapercepyao hist6rico-critica de dois paradigmas de mo-dernizayao capitalista-liberal: 0 paradigma da liberdadeeconomica, da eficiencia e da qualidade e 0 paradigmada igualdade. Atualmente, as exigencias impostas pelonovo sistema produtivo ao setor educacional realyam atensao entre esses dois paradigmas, sobretudo no quediz respeito a efetivayao de uma educayao de qualidadepara todos.

Como ja ressaltamos, 0 paradigma da liberdade eco-nomica, da eficiencia e da qualidade explicita-se maisconcretamente no neoliberalismo de mercado. Este, porsua vez, tern como maiores defensores os liberistas, ouseja, os liberais que acreditam que sem a liberdade demercado (economia auto-regulavel) as demais liber-dades nao podem ser asseguradas. Para os liberistas, 0

fim do socialismo real, no final da decada de 80, repre-senta a vit6ria do capitalismo e, conseqiientemente, asupremacia da sociedade aberta regida pelas leis de mer-cado. A economia de mercado auto-regulavel deve, por-tanto, se expandir e se generalizar. 0 mercado deve ser 0principio fundador, unificador e auto-regulador da novaordem economica e politica mundial.

Os elementos de constituiyao dessa nova ordemmundial e desse novo tempo podem ser encontrados noambito da economia, da politica e da educayao. Comoja tratamos das t:ransformayoes economicas anterior-mente, limitar-nos-emos, a seguir, a considerar mais al-guns elementos no ambito da politica e da educayao queinformam sobre 0 neoliberalismo de mercado e sobreseu programa educacional. 0 quadro abaixo antecipa,resumidamente, referencias basicas sobre 0 neolibera-lismo de mercado.

NEOLIBERALISMO DE MERCADOCONCEITUA<;:AODenominac;:oode uma corrente doutrinaria do Iiberalismo que se opeeao social-liberalismo e/ou novo liberalismo (modelo economico key-nesiano) e retoma algumas das posic;:6esdo liberalismo c1assico e doIiberalismo conservador, preconizando a minimizac;:oodo Estado, aeconomia com plena liberac;:oodas forc;:asde mercado e a liberdadede iniciativa economica.ORIGEMo termo neo/ibera/ismo surgiu nas decadas de 30-40, no contexto darecessoo (iniciada com a quebra da Boisa de Nova York, em 1929)e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Reapareceu como pro-grama de governo em meados da decada de 70, na Inglaterra(governo Thatcher), e no inkio da decada de 80, nos Estados Unidos(governo Reagan). Seu ressurgimento deveu-se a crise do modeloeconomico keynesiano de Estado de bem-estar social ou Estado deservic;:os.Tal modelo tornara-se hegemonico, a partir do termino daSegunda Guerra Mundial, defendendo a intervenc;:oodo Estado naeconomia com a finalidade de gerar democracia, soberania, plenoemprego, justic;:asocial, igualdade de oportunidades e a construc;:oode uma etica comunitaria solidaria. Desde os governos de Thatcher eReagan, as ideias e propostas do neoliberalismo de mercado passarama inRuenciara politica economica mundial, em razoo, sobretudo, de suaadoc;:ooe imposic;:oopelos organismos financeiros internacionais, comoo Fundo Monet6rio Internacional e 0 Banco Mundial ou Bird.

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A EDUCA<;AO ESCOLAR NO CONTEXTO DAS TRANSFORMA<;OES DA SOCIEDADE CONTEMPORANEA

PENSADORESLudwigYon Mises; Friedrich Yon Hayek; Milton Frieedman.CARACTERISTICASCritica 0 paternalismo estatal e a crescente estatizac;ao e regulaC;aosocial que atuam sobre as liberdades fundamentais do individuo .pormeio de interferencias arbitrarias (governo i1imitadol, pondo em nscoa liberdade politica, economica e social (Hayek). A liberdade econo-mica e tida como condic;ao para a existencia das demais liberdades,como a politica, a individual, a religiosa, etc. Desse modo, 0 merca-do e tido como principio fundador, auto-unificador e auto-reguladorda sociedade.Defende a economia de mercado dinamizada pela empresa privada,ou melhor, a Iiberdade total do mercado, e ainda 0 governo Iimitado, 0

Estado minimo e a sociedade aberta, concorrencial/competitiva.Op6e·se radicalmente as politicas estatais de universalidade, ~gual-dade e gratuidade dos servic;os sociais, como saude, segundadesocial e educac;ao.Trac;osmais evidentes do projeto politico-economico-social do neoli-beralismo de mercado:• desregulamentac;ao estatal e privatizac;ao de bens e servic;os;• abertura externa;• liberac;ao de prec;os;• prevalencia da iniciativa privada;• reduc;ao das despesas e do deficit publicos;• flexibilizac;ao das relac;6es trabalhistas e desformalizac;ao e infor-malizac;ao nos mercados de trabalho;• cortes dos gastos sociais, eliminando programas e reduzindo beneficios;• supressao dos direitos sociais;• programas de descentralizac;ao com incentivo aos processos de pri-vatizac;ao;• cobranc;a dos servic;ospublicos e remercantilizac;ao dos beneficiossociais;• arrocho salarial/queda do salario real.

No terreno politico, os governos de Reagan (PartidoRepublicano), nos Estados Unidos, e Thatcher (PartidoConservador), na Inglaterra, demarcaram a virada parao neoliberalismo de mercado. Houve, nesse momento,uma rejei<;aodo liberalismo social-democrata de tenden-cia igualitarista e estatizante, promotor do Estado de bem-estar social. 0 papel do Estado foi posta em segundoplano, ao mesmo tempo em que se priorizou 0 livre cursodas leis de mercado por meio da valoriza<;ao da inicia-tiva privada. Na Inglaterra, por exemplo, a revolu<;aoneoliberal privatizou todos os bens e servi<;os e procu-rou banir a heran<;a intervencionista. Para Thatcher, 0

ideal da revolu<;aoneoliberal era 0 de produzir urn capi-talismo popular, ou seja, de fazer de cad a cidadao urnproprietario e, portanto, urn capitalista. A privatiza<;aode estatais na Inglaterra, segundo a "Dama de Ferro", teriasido urn born exemplo de capitalismo popular, poispermitiu que mais da metade dos trabalhadores pudes-sem adquirir a<;6esdas empresas em que trabalhavam,por ocasiao de sua privatiza<;ao.

Essa orienta<;ao exerceu e continua a exercer forteinfluencia sobre os paises do Terceiro Mundo, especial-mente na America Latina, apesar de seu fracasso ter sidodemonstrado, ja ha algum tempo, nos paises em quenasceu. E 0 que se verificou com a queda de Thatcher ecom a altera<;ao que George Bush imprimiu ao progra-ma republicano de Reagan.

o conflito, no entanto, continuou. 0 fracasso dessapolitica neoliberal acentuou-se nos Estados Unidos com aelei<;aode Bill Clinton (mediante urn programa social-democrata) e, na Inglaterra, com a elei<;aode Tony Blair,do Partido Trabalhista. Na America Latina, por sua vez,assimilou-se a ideia de que os paises que conseguiramjuntar liberalismo e democracia representativa sac osdesenvolvidos, pois sofreram transforma<;:6es econo-micas aliadas a transforma<;:6es politicas. A sugestaooferecida, portanto, e a de os paises subdesenvolvidos

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A EDUCAc;:Ao ESCOLAR NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAC;:OES DA SOCIEDADE CONTEMPOAANEA

voltarem as tradiyoes liberais para encontrar 0 propriodesenvolvimento economico. Exemplos da adoyao dessaorientayao multiplicam-se na America Latina: Chile,Mexico, Argentina, Brasil e outros.

a neoliberalismo de mercado, ao menos concei-tualmente, luta contra 0 estatismo, ou seja, contra 0 Esta-do maximo, contra 0 planejamento economico, contraa regulamentayao da economia e contra 0 chamadoprotecionismo, ao mesmo tempo em que se enraiza nomercado mundial, direcionando a construyao da novaordem internacionaL Assim, essa nova ordem postula aliberayao total do mercado e a transferencia de todas asareas e serviyos do Estado para a iniciativa privada.

Aos governos dos paises desenvolvidos (com suasmultinacionais, corporayoes, conglomerados e organi-zayoes) interessa urn mundo sem fronteiras (ao menos,sem as dos paises subdesenvolvidos), mediante a moder-nizayao da economia, a abertura dos mere ados ao capitaltransnacional, a integrayao economica, a nao-intervenyaodos Estados na economia (com sua conseqiiente dimi-nuiyao), a saida dos Estados do setor de produyao (porsua privatizayao), a diminuiyao do deficit publico e adiminuiyao de gastos do fundo publico em politicas pu-blicas e sociais.

a capital parece ter vida propria e globaliza-se deforma natural e espontanea, indicando os caminhos parao progresso e para 0 desenvolvimento de todos os paises.Varios organismos multilaterais (aNU, Banco Mundial,FMI, Unesco, Cepal e outros) e, por conseqiiencia, na-cionais orientam e impoem as politicas governamen-tais para os fins desejados pelo capital transnacionaLDissemina-se 0 discurso de integrayao dos paises sub-desenvolvidos a economia mundial, como forma detornarem-se desenvolvidos e serem salvos de urn futurocatastr6fico nao demarcado pelos estagios do capita-lismo avan<;:ado.

a capital, portanto, quer expandir-se, mas necessitade seguranya e das condiyoes ideais de explorayao, expan-sao e acumulayao. a neoliberalismo requer uma demo-cracia politica (democracia burguesa da representayao),orientada para os objetivos do capital transnacional, quemantenha as condiyoes do livre jogo das foryas do mer-cado, ao mesmo tempo que difunde a ideia de que essetipo de economia tende naturalmente a beneficiar a to-dos sem distinyao, embora esteja ocorrendo exatamenteo contrario.

A crenya na mao invisivel do mercado, no entanto, naoconsegue recriar a natureza revolucionaria que havia noliberalismo nascente (liberalismo classico). Constata-se- em lugar daquela confianya na racionalidade naturaldas leis de mercado, que conduziria todos rumo ao pro-gresso - urn abandono das foryas de mercado, sem sig-nificado e rumo definidos. A democracia e tida, apenas,como metodo, ou melhor, como meio de garantir aliberdade economica. Trata-se, portanto, de democrkciarestrita e sem finalidades coletivas e sociais de constru-yao de uma sociedade mais justa, humana e solidaria.

No tocante a educafao, a orientayao politica do neo-liberalismo de mercado evidencia, ideologicamente, urndiscurso de crise e de fracasso da escola publica, comodecorrencia da incapacidade administrativa e financeirade 0 Estado gerir 0 bem comurn. A necessidade de rees-truturayao da escola publica advoga a primazia da inicia-tiva privada, regida pelas leis de mercado. Desse modo,o papel do Estado e re1egado a segundo plano, ao mesmotempo que se valorizam os metodos e 0 pape1 da iniciati-va privada no desenvolvimento e no progresso individuale sociaL

a Estado, na perspectiva neoliberal de mercado, vemdesobrigando-se paulatinamente da educayao publica.Nessa metamorfose, deixa de demonstrar ate mesmo 0

interesse na implementa<;:ao da escola unica - dife-renciada, liberal-burguesa -, que destaca, mesmo que

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ideologicamente, os principios de universalidade, gra-tuidade, laicidade e obrigatoriedade do ensino.

Contraditoriamente, no entanto, vem-se discutindoo problema da requalifica<;:aodos trabalhadores, a qual sealia a uma forma<;:aoescolar basica, unica, geral, abran-gente e abstrata. Esse tema surge porque a nova ordemcapitalista constitui urn modelo diferente de explora-<;:ao,baseado em novas formas de organizar a produ<;:aoe em novas tecnologias. As rela<;:6esentre capital e tra-balho e entre trabalho e educa<;:aoalteram-se profunda-mente, acirrando a contradi<;:ao educar-explorar, comovimos anteriormente na questao da globaliza<;:aoda pro-du<;:ao,do consumo e do trabalho.omodelo de explora<;:aoanterior, que exigia urn tra-

balhador fragmentado, rotativo - para executar tarefasrepetitivas - e treinado rapidamente pela empresa, cedelugar a urn modelo de explora<;:aoque requer urn novotrabalhador, com habilidades de comunica<;:ao,de abstra-<;:ao,de visao de conjunto, de integra<;:aoe de tlexibilidade,para acompanhar 0 proprio avan<;:ocientifico-tecnolo-gico da empresa, 0 qual se da por for<;:ados padr6es decompetitividade seletivos exigidos no mercado global.Essas novas competencias nao podem ser desenvolvidasa curto praze e nem pela empresa. Por isso, a educa<;:aobasica, ou melhor, a educa<;:aofundamental ganha cen-tralidade nas politicas educacionais, sobretudo nos pai-ses subdesenvolvidos. Ela tern como fun<;:aoprimordialdesenvolver as novas habilidades cognitivas (inteligen-cia instrumentalizadora) e as competencias sociais ne-cessarias a adapta<;:aodo individuo ao novo paradigmaprodutivo, alem de formar 0 consumidor competente,exigente, sofisticado.

As orienta<;:6esdo Banco Mundial para 0 ensino basi-co e superior sac extremamente representativas deste no-vo momento. Elas retletem a tendencia da nova ordemecon6mica mundial, 0 avan<;:odas tecnologias e da glo-baliza<;:ao,as quais requerem individuos com habilidades

intelectuais mais diversificadas e flexiveis, sobretudoquanta a adaptabilidade as fun<;:6esque surgem cons-tantemente. A solu<;:aoconsiste em desenvolver urn ensi-no mais eficiente, de qualidade e capaz de oferecer umaforma<;:aogeral mais sofisticada, em lugar de treinamentopara 0 trabalho. No entanto, 0 banco tambem estimulao aumento da competitividade, a descentraliza<;:aoe a pri-vatiza<;:aodo ensino, eliminando a gratuidade (sobretudonas universidades publicas), e a sele<;:aopautada cada vezmais pelo desempenho (sele<;:aonatural das capacidades).o Banco Mundial requer que a educa<;:aoescolar esteja

articulada ao novo paradigma produtivo, para asseguraro acesso aos novos codigos da modernidade capitalista. Enecessario que a educa<;:ao,a capacita<;:aoe a investiga<;:aoavancem em dire<;:aoa urn enfoque sistemico, como seconstata, por exemplo, nos ultimos relatorios da insti-tui<;:aoe nas recomenda<;:6es do Promedila (V Reuniaodo Comite Regional Intergovernamental do Projeto daEduca<;:ao:America Latina e Caribe - 1990), alem de ou-tros documentos internacionais e nacionais ja citados.

o enfoque sistemico, assim como a administrariio efi-ciente e a tecnologia educacional, esta na base do movi-mento pela qualidade total. A busca da eficiencia (econo-mia de recursos), da eficcicia (adequa<;:aodo produto),enfim, da excelencia e da qualidade total, para levar 0sistema de ensino a corresponder as necessidades domundo atual, apresenta como solu<;:ao0 enfoque siste-mico (que procura otimizar 0 todo). Trata-se de usar 0

procedimento correto-racional, cientifico. A abordagemsistemica permite fazer 0 diagnostico para evidenciar osproblemas, implementar 0 planejamento (consideran-do as condi<;:6esdo ambiente), selecionar os meios, ela-borar os objetivos operacionais, controlar 0 processo,avaliar 0 produto por meio de tecnicas adequadas e re-troalimentar 0 sistema.

A administra<;:ao eficiente e a tecnologia educacionalsac complement ares ao enfoque sistemico. A adminis-tra<;:aoeficiente busca a racionaliza<;:aodo trabalho, bem

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como 0 controle do processo produtivo e 0 aumento daprodutividade, ao passo que a tecnologia educacional-se preocupa com 0 metodo cientifico, para obter eficien-cia, efiGicia e qualidade no processo pedag6gico - todosos componentes educacionais (objetivos, administra<;ao,estrutura, meios de ensino, custos, tecnologias e outros)devem ser considerados. Manifesta-se, desse modo, a ten-tativa de vincular a educa<;ao ao novo paradigma pro-dutivo, na 6tica do que se denomina neotecnicismo. Hauma volta ao discurso do racionalismo economico, dogerenciamento/administra<;ao privado como modelopara 0 setor publico e do discurso do capital humano(forma<;ao de recursos humanos).

Essa nova abordagem da educa<;ao ap6ia-se em urnconceito positivista de ciencia neutra e objetiva. Co-nhecer, nessa perspectiva, significa observar, descrever,medir, explicar e preyer os fatos livre de julgamentos devalor ou ideologias. S6 e verdadeiro 0 que e verificavel.o numero designa a essencia dos objetos, a coisa 'em si;portanto, a ciencia deve ser numerica, precisa e rigoro-sa. Desse modo, enquanto 0 novo paradigma produtivopoe em relevo a questao da qualidade, a abordagem posi-tivista fornece a concep<;ao e 0 instrumental necessariosa avaliai(ao do sistema de ensino e dos individuos. Acerteza, a exatidao e a utilidade do conhecimento sao oscriterios da cientificidade e da racionalidade instrumen-tal positivista postos a disposi<;ao do novo paradigmaprodutivo e da forma sistemica e eficiente de reorgani-zar a educa<;ao, de maneira que apontem 0 ideal de urnprogressivo melhoramento das condi<;oes de vida e daharmoniza<;ao social.

Nesse mesmo contexto, encontram-se as universida-des publicas amea<;adas e em permanente crise. Faltamrecursos de toda ordem para garantir sua funcionali-dade. 0 discurso neoliberal de mercado questiona atemesmo a relevancia social delas, ao mesmo tempo que

vincula sua autonomia a questao do autofinanciamentoe da privatiza<;ao, como unica forma de sair da crise ealcan<;arcompetitividade, racionalidade, qualidade e efi-ciencia. Restaria as universidades, como estrategia desobrevivencia, a op<;aode se atrelarem ao novo processoprodutivo, com 0 objetivo de gerarem conhecimentoscientifico-tecnol6gicos necessarios a competitividade dasempresas no mercado global e formarem individuosmais adaptados as condi<;oesde vida pro fissional presen-tes neste novo tempo.

A adapta<;ao das universidades ao novo paradigmaprodutivo passa, entao, por essa 6tica economicista, pelaado<;ao da filosofia da qualidade total (neotecnicismo)aplicada ao ensino superior. Postulam-se a legitimidadesocial e a eficacia total das universidades, que podem serobtidas com sua inser<;aona busca da qualidade total, jaque se vive na era da excelencia. As universidades devem,entao, agregar novos valores a seus servi<;os,ao mesmotempo que redescobrem sua natureza, sua missao e suaidentidade. Podem ser uteis, se corresponderem aos desa-fios do mundo atual: a satisfa<;aodos clientes, a produti-vidade, a redu<;aodos custos, a otimiza<;aodos resultados,a criatividade, a inova<;ao e a sobrevivencia pela compe-titividade. Pretende-se, portanto, que elas assimilem aOtica de funcionamento, os principios e os objetivos daqualidade total (ja vivenciados na industria e no comer-cio). Essa nova cultura institucionallevaria as univer-sidades a bus car constantemente a qualidade total dosservi<;os,bem como a formar profissionais capazes de cor-responder as sempre novas necessidades do mercado.

Diante do exposto, verifica-se que a atual configura-<;aoestrutural e educacional, no plano mundial, impoenovos desafios e urn novo discurso ao setor educa-cional. A 16gica do capitalismo concorrencial global edo paradigma da liberdade economica, da eficienciil eda qualidade encaminha, de forma avassaladora, 0 novomodelo societario e as novas reformula<;:oesnecessarias

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no setor educacional. A compreensao hist6rica dos ger-mes constitutivos da 16gica capitalista-liberal reve1a,porsua vez, seu carater conservador-elitista. Dai a necessi-dade de considerar a nova onda de forma hist6rico-critica, a fim de apreender a dire~ao politica e as reaispossibilidades de democratiza~ao da sociedade e da edu-ca~ao. Essa tare fa esti associada a urgente necessidadede uma reestrutura~ao educativa capaz de corresponderaos desafios impostos pe1asociedade tecno16gica a escolae ao campo da educa~ao em geral.

Capitulo II

A EDUCA~Ao ESCOLAR PUBLICA

E DEMOCRATICA NO CONTEXTO

ATUAL: UM DESAFIO FUNDAMENTAL

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Programa de educa~ao dogoverno Lula: Uma Escola

do Tamanho do Brasil

Uma Escola do Tamanho do Brasil e 0 nome doprograma para educara.o do governo federal que assumiu

o Pais para um mandato de quatro anos, de 2003 a2006. 0 fato de, pela primeira vez, 0 presidente brasileiro

vir das camadas populares pode sinalizar que 0 Paiscomera a tecer uma nova historia. A educara.o e uma

area que devera con tar com diferenras de tratamento emrelara.o ao passado proximo e distante. 0 titulo do

programa para educara.o expressa a prioridade que 0

governo propoe oferecer it area. "Pensar a educa<;:aocomo uma a<;:aorelevante na transforma<;:ao da

realidade econ6mica e social do povo brasileiro epensar numa Escola do Tamanho do Brasil", e 0 que

diz 0 programa (PT, 2002, p. 7).

Consider.ando que a educa<;:aoe condi<;:aopara a cida-dania, 0 governo Lula mostra-se determinado, segundoas concep<;:6ese as diretrizes do programa de educa<;:aopara 0 Brasil, a reverter 0 processo de municipalizara.opredatoria da escola publica, propondo urn novo marcode solidariedade entre os entes federativos para garantira universaliza<;:aoda educa<;:aobasica, na perspectiva deelevar a media de escolaridade dos brasileiros e resgatara qualidade do ensino em todos os niveis.

Para garantir a educa<;:aocomo direito, 0 projeto deeduca<;:aodo governo Lula obedeceni a tres diretrizes ge-rais: a) democratiza<;:ao do acesso e garantia de perma-nencia; b) qualidade social da educa<;:ao;c) instaura<;:aodo regime de colabora<;:aoe da democratiza<;:aoda gestao.Vejamos cada uma dessas diretrizes.

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1. Democratiza~ao do acessoe garantia de permanencia

repetencia e a evasao. Tambem se fani com que a praticasocial e a experiencia de vida dos alunos sejam incluidas,como elementos fundamentais, na organizac;:aodo conhe-cimento e da cultura.

A valorizac;:aoprofissional dos docentes dar-se-a juntocom a valorizac;:aodo projeto politico das escolas, umavez que 0 projeto da escola passa a ser referencia para aprogressao funcional baseada na experiencia e no desem-penho dos compromissos desse projeto. Sera incenti-vada a criac;:aode centros de formac;:aopermanente e deaperfeic;:oamento dos profissionais da educac;:ao,por esta-dos ou regiao, articulados com as universidades e comos sistemas de educac;:aobasica. Incentivar-se-a tambema publicac;:aode trabalhos, pesquisas, analises e descric;:6esde experiencias pedagogicas bem-sucedidas de autoriados profissionais da educac;:aobasica.

Democratizar nao significa apenas construir novasescolas.Apesar de importante, so isso nao garante 0 aten-dim ento, verdade valida especialmente na zona ruraL Epreciso ampliar 0 atendimento e assegurar a utilizac;:aode todas as alternativas para garantir 0 acesso e a per-manencia, articulando ate mesmo os servic;:osde trans-porte escolar.

Para institucionalizar 0 esforc;:ode todos em prol dademocratizac;:ao do acesso a escola e da garantia de per-manencia nela, buscar-se-a a construc;:ao de urn SistemaNacional Articulado de Educac;:ao,de sorte que Estado esociedade, de maneira organizada, autonoma e perma-nente, possam, por meio de uma gestao democratica eparticipativa, atingir os objetivos propostos.

3. Regime de colabora~aoe gestao democnitica

A qualidade social traduz-se na oferta de educac;:aoes-colar e de outras modalidades de formac;:aopara todos,com padr6es de excelencia e de adequac;:ao aos interes-ses da maio ria da populac;:ao.Tern como conseqiiencia ainclusao social, por meio da qual todos os brasileiros setornam aptos ao questionamento, a problematizac;:ao, atomada de decis6es, buscando soluc;:6escoletivas possiveise necessarias a resoluc;:aodos problemas de cada urn e dacomunidade onde se vive e trabalha (PT, 2002, p. 10).o conceito de qualidade social que procurara per-

mear a politica educacional dos proximos quatro anos- a qual sera definida pela comunidade escolar, pelosespecialistas e estudiosos, pelos trabalhadores, enfim, portodos os que estao envolvidos no processo formativo -e discutido como se segue.

Em sua perspectiva, sera repensada a organizac;:aodostempos e dos espac;:osdas escolas, como a estrutura seria-da, de forma que evite a exclusao, a qual tern levado a

Para cumprir os dispositivos da Lei de Diretrizes e Ba-ses da Educac;:aoNacional em vigor, que estabelece 0 regi-me de colaborac;:ao entre as esferas administrativas, 0

governo Lula encaminhara proposta de lei complemen-tar para regulamentar a cooperac;:ao entre as esferas deadministrac;:ao e instituir as instancias democraticas dearticulac;:ao.Buscara tambem reverter 0 atual processo dem,unicipalizac;:aopredatoria da educac;:ao.

Algumas das propostas nessa direc;:aosao:a) instituir 0 sistema nacional de educac;:ao, normati-vo e deliberativo, para articular as ac;:6eseducacionais daUniao, dos estados e dos municipios;b) criar 0 Forum Nacional da Educac;:aopara prop or, ava-liar e acompanhar a execuc;:aodo Plano Nacional da Edu-cac;:aoe de seus similares em cada esfera administrativa;

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c) fortalecer os foruns, os conselhos e as instancias daeduca<;:ao,buscando, sempre que possivel, a<;:oesintegra-das que evitem a fragmenta<;:ao e a dispersao de recur-sos e de esfor<;:os;

d) estimular a instala<;:ao de processos constituintesescolares, bem como do or<;:amento participativo, nasesferas do governo e nas unidades escolares;

e) estabelecer normas de aplica<;:aodos recursos fede-rais, estaduais e municipais, com base na defini<;:aode urncusto-qualidade por aluno;

f) instituir 0 Fundo de Manuten<;:ao e Desenvolvimentoda Educa<;:aoBasica (Fundeb).

o Fazer valer padroes de qualidade no funcionamento dasinstitui<;:oespublicas e privadas, com adequado e efeti-vo atendimento.o Alcan<;:ar,em quatro anos, a universaliza<;:ao da edu-ca<;:aoinfantil para crian<;:ade 4 a 6 anos.o Promover a<;:oes,com parcerias, para assegurar acessoa creches para todos os filhos de maes trabalhadoras.o Criar mecanismos para que, em todas as faculdades deEduca<;:ao,seja oferecida a habilita<;:aoem educa<;:aoinfantil.o Criar a Camara da Infancia e da Adolescencia, a sercomposta pelos Ministerios da Educa<;:ao,da Cultura,da Saude e de Desenvolvimento Social e da Justi<;:a,como objetivo de estabelecer uma politica integrada para ainfancia e a juventude.

b) Ensina fundamental

o Pensar esta etapa da educa<;:aobasica articulada com aeduca<;:aoinfantil e 0 ensino medio.o Orientar os sistemas de ensino para que adotem proje-tos politico-pedagogicos compromissados com a inclu-sao, com a aprendizagem e com 0 sucesso escolar. (Essesaspectos do projeto da escola constituem os ciclos deforma<;:ao,que nada tern que ver com algumas experien-cias de ciclos desenvolvidas, cujo objetivo prioritario ea promo<;:aoautomatica.)

o 0 programa Bolsa-Escola deve ser implementadocomo parte integrante do projeto politico-pedagogico.Assim, exigira acompanhamento da vida escolar do alunoe a intera<;:aocom a comunidade do ensino fundamen-tal e medio. A bolsa sera paga por familia, e nao porcrian<;:a,e a freqiiencia dos alunos as aulas sera fiscaliza-da de forma rigorosa.c) Ensina media

Alem da precariedade de oferta, 0 ensino medio carecede professores bem formados, bem como de laboratorios,

4. Proposta para os diferentes niveise modalidades da educa~ao

Educa<;:aobasica

A Lei de Diretrizes e Bases da Educa<;:aoNacionalestabelece que a educa<;:aobasica e formada pela educa<;:aoinfantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino medio.Por ser basica, 0 Pais nao pode prescindir de cada umade suas etapas, e torna-se necessario investir maiores re-cursos, especialmente para as 13 milhoes de crian<;:asate6 anos sem espa<;:opara matricula na educa<;:aoinfantile para os 2,1 milhoes de jovens sem atendimento noensino medio. A seguir as propostas para cada uma dasetapas da educa<;:aobasica.

a) Educar;:aa infantil

o Estabelecer uma politica de financiamento que consi-dere a expansao do atendimento, a defini<;:aode urn valorcusto-aluno-qualidade, a supera<;:ao das desigualdadesregionais de atendimento, a a<;:aointegrada entre as esfe-ras administrativas para compartilhar responsabilidades.

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de equipamentos, de bibliotecas, de condier6es fisicas ede ambiente de estudo. Diante desse quadro, 0 governoLula prop5e-se a:• Estabelecer, em comunhao com os estados, uma politi-ca de ampliaerao de vagas, incluindo a construerao denovas escolas.• Formar professores com estrategias de atuaerao no pe-riodo noturno, para alcaneraruma nova qualidade, segun-do a conceperao da escola unitaria.•Universalizar gradativamente 0 ensino medio para todosos portadores de certificaerao do ensino fundamental.•Articular governo federal e governos estaduais, para ga-rantir ensino medio de qualidade, que proporcione urnefetivo dominio das bases cientificas, com aer6esefetivassobre predios, sobre equipamentos, sobre a formaerao deprofessores, sobre livros, sobre a participaerao da comu-nidade na discussao do processo de avaliaeraoda escola,do trabalho pedag6gico e de seus resultados, bem comoda gestao da escola.Educaerao superior

o Pais tern urn dos men ores indices de matrkulas naeducaerao superior na America Latina (7,7% dos jovensna faixa eta ria de 18 a 24 anos). Nos ultimos oito anos,a matrkula nas instituier6es publicas foi de apenas 28%,enquanto nas particulares foi de 86%, em razao da redu-eraodo oreramento para 0 ensino superior, especialmentepara as universidades federais.o crescimento da demanda por ensino superior -

re1acionado ao crescimento de 200%, na decada de 90,de concluintes do ensino medio - nao levou 0 subsis-tema a responder, com a mesma intensidade, a essa pro-cura. 0 governo Lula prop6e-se a ampliar as vagas noensino superior, especialmente nas instituier6es publi-cas. Para isso, pretende, entre outras coisas:• Ampliar as vagas no ensino superior em taxas com-pativeis com 0 Plano Nacional de Educa<;:ao,que preve,

para os pr6ximos dez anos, atingir 30% da faixa etariade 18 a 24 anos.• Promover a substituierao do Programa de Financiamen-to ao Estudante (FIES) por urn novo Programa Social deApoio ao Estudante, cujos recursos nao estejam vincu-lados constitucionalmente a educaerao. A aplicaerao dosrecursos deve obedecer a criterios de renda dos candida-tos e de qualificaerao das instituier6es de ensino superior(IES) e dos cursos envolvidos.• Criar 0 Programa Nacional de Bolsas Universitarias(PNBU), com recursos nao vinculados a educaerao, paraestudantes carentes, os quais, em contrapartida, execu-tarao atividades junto a suas comunidades.• Promover 0 aumento anual do numero de mestres edoutores em pe10 menos 5%, em conformidade commeta estabe1ecida pelo PNE.

• Estabe1ecermecanismos que superem os limites de aces-so ao ensino superior para negros e estudantes egressosda escola publica.

! Implantar, de forma progressiva, uma rede universi-taria nacional de ensino a distancia com exigente padraode qualidade.

• Ampliar programas de iniciaerao cientifica e criar pro-gram as de iniciaerao a docencia e a extensao.

• Revisar as carreiras e matrizes salariais dos docentes edos funcionarios tecnico-administrativos das instituier6esfederais de ensino (IFEs);

• Revisar as atribuier6es e a composierao do ConselhoNacional de Educaerao.

• Estabe1ecernovo marco legal para as fundaer6esde apoioinstitucional criadas nas IES publicas, regulamentandosuas atribuier6es na prestaerao de servieros a essas insti-tuier6es e impedindo sua utiliza<;:aoem prol de interes-ses de individuos ou de grupos.

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• Revisar a legisla<;:aoe 0 estatuto dos hospitais universi-tirios, integrando suas atividades academicas de ensinoe pesquisa com a necessaria qualidade de suas ativida-des assistenciais.

Educa<;:ao profissional

o Decreto 2.208/97, que regulamenta a educa<;:ao pro-fissional no Brasil, precisa ser revisto, de forma que sejagarantida a oferta desse tipo de educa<;:ao, necessaria aoPais. Ha menos de 500 mil matriculas na educa<;:ao profis-sional e sao desconhecidos os dados sobre evasao e apro-va<;:aonessa area. Para evitar isso e super,!r a exclusao edu-cacional, e preciso mobilizar toda a sociedade brasileira.

Faz-se necessaria, nessa empreitada, a implementa<;:aode politica publica nacional de educa<;:ao profissional quepriorize, de forma integrada e/ou articulada, a alfabeti-za<;:ao,a eleva<;:ao da escolaridade e a forma<;:ao profis-sional de 65 milh6es de jovens e adultos, especialmentedesempregados, chefes de familia, mulheres, jovens embusca do primeiro emprego e em situa<;:ao de risco so-cial, portadores de deficiencia e membros de etnias quesofrem discrimina<;:ao social. Para atingir tais objetivos,buscar-se-a:

o Constituir uma rede publica de educa<;:ao profissional,incluindo a cria<;:ao de Centros Publicos de Forma<;:aoPro fissional que sejam op<;:ao de educa<;:ao pro fissionalpara as pessoas na etapa escolar de nivel medio.

o Articular a politica nacional de forma<;:ao pro fissionalcom a politica nacional de gera<;:ao de emprego, traba-lho e renda.

o Mobilizar cons6rciQ de financiamento para a imple-menta<;:ao da politica nacional de educa<;:ao profissional.

• Fortalecer a rede de escolas tecnicas federais e CentrosFederais de Educa<;:ao Tecnol6gica, disponibilizando-Ihesrecursos humanos e materiais adequados.

Educa<;:ao de jovens e adultos

A escolaridade media brasileira - em torno de poucomais de quatro anos - e indicador importante da de-sigualdade, da exclusao, da discrimina<;:ao e da injusti<;:ano Brasil. Entre a popula<;:ao economicamente ativa de80 milh6es de brasileiros, ha cerca de 20 milh6es de anal-fabetos acima de 15 anos (13%).

Esse problema e tratado de forma inconsistente pe1aLDB em vigor, nao apenas pe10 esquema de examessupletivos que inibe a oferta de outras alternativas me-todol6gicas, como pe1a redu<;:ao da idade para participardesses exames, a qual induz 0 estudante a ausentar-se daescola, fortalecendo 0 processo de desescolariza<;:ao queempobrece a forma<;:ao dos jovens com mais de 15 anos edos adultos que nao puderam estudar na idade pr6pria.

Para enfrentar tais problemas, 0 governo Lula dis-p6e-se a:

o Implementar programas, como 0 Mova Brasil, paraerradicar 0 analfabetismo absoluto de jovens e adultosnum praza de quatro anos.

o Adotar plano de atendimento a demanda de ensinofundamental e medio para os trabalhadores que aindanao os completaram, em trabalho conjunto com todasas for<;:aspoliticas e sociais do Pais.

Educa<;:ao especial

A educa<;:ao especial, em todos os niveis, sera tratadano governo Lula como modalidade regular publica, comgarantia de matricula em escola mais pr6xima ou comalternativa de transporte adequado.

Sera fundamental a forma<;:ao de equipes profissio-nais multidisciplinares que comporao redes de apoio asescolas e aos professores, levan do a detec<;:ao de proble-mas que os alunos possam enfrentar em seu cotidiano.Assim, as propostas para essa area inc1uem:

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• Garantia de vagas em estabelecimentos publicos.• Garantia de acesso, provendo transporte e adequa<;:aode predios.• Atendimento em sala regular, com acompanhamentode equipe especializada, e atendimento em salas de edu-ca<;:aoespecial, na escola regular, quando a condi<;:aodeaprendizado se tomar inadequada em salas regulares.•Atendimento em escolas especiais, com equipe de apoioe professores especializados para os alunos que nao sebeneficiem das modalidades em escolas regulares.Educa<;:aono campo

Na concep<;:aoda escola unitaria, a qualidade da edu-ca<;:aobasica nao deve distinguir campo e cidade. E fun-damental, para os 32 milh6es de habitantes das zonasrurais,o aprofundamento da discussao sobre a exigen-cia de ensino rural que leve em conta as vivencias domeio social e a constru<;:aode conhecimentos com basenessa cultura. Prop6e-se para tal:• Estabelecer urn projeto politico-pedagogico para 0

ensino fundamental no campo.• Garantir - quando necessario e esgotadas outras alter-nativas de atendimento - transporte escolar aos alunosdo ensino fundamental e medio residentes na zona rural,por intermedio de urn regime de colabora<;:aoentre osentes federados.• Instituir politica de desenvolvimento rural social-mente justa, capaz de responder as demandas de toda apopula<;:ao,com a participa<;:aodas universidades publi-cas na discussao das multiplas altemativas com a popu-la<;:aodo campo.Educa<;:aoescolar indigena

Uma politica educacional indigena deve pautar-se porprincipios que incluam a afirma<;:aoetnica, linguistica ecultural do povo indigena, com a defesa de sua autono-mia e de seus projetos societarios. A educa<;:aoescolar

bilingue, adequada as peculiaridades culturais dos dife-rentes grupos, deve ser fomecida por professores indios.A forma<;:aodesses professores deve ocorrer em servi<;:o,concomitante a sua propria escolariza<;:ao,com elabora-<;:aode curriculos e de programas especificos.

Para isso, 0 govemo Lula prop6e-se a:• Ampliar gradativamente a oferta de educa<;:aoequi-valente a basica a popula<;:aoindigena, respeitando seusmodos de vida, suas vis6es de mundo e as situa<;:6esso-ciolingiiisticas especificas por eles vivenciadas.• Assegurar autonomia as escolas indigenas, tanto emrela<;:aoao projeto politico-pedagogico quanta ao usodos recursos financeiros publicos.• Criar ou ampliar programas voltados para a produ<;:aoepara a publica<;:aode materiais pedagogicos especificos.• Equipar as escolas indigenas com equipamentos dida-tico- pedagogicos.• Construir coletivamente a politica para a educa<;:aoes-colar indigena.Educa<;:aoa distancia

A educa<;:aoa distancia (EAD) e altemativa indispen-savel em urn pais amplo e de enormes desigualdades,desde que seja garantido padrao elevado de qualidadenos cursos e programas, com profissionais de alta compe-tencia. A EAD nao deve ser instaurada em programas iso-lados, mas precisa interagir com outras a<;:6esexistentes.

Para atender tal inten to, prop6e-se:• Criar uma Coordena<;:ao Nacional de Educa<;:ao aDistancia do MEC, com or<;:amentoproprio e articula-da com 0 ensino fundamental, medio e superior.• Estudar a viabilidade de implementa<;:ao de programasde forma<;:aode professores para 0 ensino fundamentale medio, incluindo a EAD entre suas estrategias.• Redefinir 0 papel da Unirede (Universidade VirtualPublica do Brasil) na politica nacional de EAD.

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5. 0 financiamento publicoda educas;ao no Brasil

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Uma das a<;:6esprioritarias do governo Lula sera ree-xaminar os vetos do ex-presidente Fernando HenriqueCardoso ao Plano Nacional de Educa<;:ao,criando, pormeio do esfor<;:oconjunto das diferentes esferas admi-nistrativas, as condi<;:6esde eleva<;:aodo percentual dosgastos publicos em educa<;:aopara 0 minimo de 7% doPIE no periodo de dez anos.

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220

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Parte

A estrutura e a organizafaodo ensino no Brasil: aspectos

legais e organizacionais

Nesta parte abordamos a estrutura do sistema de ensino nos ambitos federal,estadual e municipal. Buscamos trabalhar com osprincipios da organizariio,

conforme a LDB de 1996. A organizariio administrativa, pedag6gica ecurricular do sistema de ensino e aqui analisada e siio apresentados os niveis eas modalidades de educariio e de ensino. Examinamos tambem 0 papel dos

profissionais do magisterio e dos movimentos associativ:osna organizariio dosistema de ensino e na organizariio escolar.

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Nlveis e modalidadesde educa~ao e de ensino

A educariio brasileira, tal como estabelece a ConstituiriioFederal de 1988, nos artigos 205 e 206, visa ao pleno

desenvolvimento da pessoa, a seu preparo para 0

exercicio da cidadania e a sua qualificariio para 0

trabalho. Para atendimento desses objetivos, 0 ensinodeve ser ministrado com base nosseguintes principios (art. 206):

I - igualdade de condi<;:oespara 0 acesso e permanenciana escola;

II -liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divul-gar 0 pensamento, a arte e 0 saber;

III - pluralismo de ideias e de concep<;:oes pedag6gicas,e coexistencia de institui<;:oes publicas e privadas deensino;

IV - gratuidade do ensino publico em estabe1ecimentosoficiais;

V - valoriza<;:ao dos profissionais do ensino, garantin-do, na forma da lei, pIanos de carreira para 0 ma-gisterio publico, com piso salarial profissional e in-gresso exclusivamente por concurso publico de pro-vas e titulos, assegurando regime juridico unicopara todas as institui<;:oes mantidas pe1a Uniao;

VI - gestao democnitica do ensino publico, na formada lei;

VII - garantia de padrao de qualidade.A LDB/96 regulamenta pontos do capitulo sobre edu-

ca<;:iioda CF, ocupando-se da educa<;:iio escolar, emboraapresente uma visiio ampliada de educayiio. A educayiio

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escolar brasileira, em seu titulo V (0 maior deles), com-p6e-se de dois niveis: educa<;:aobasica, formada pelaeduca<;:aoinfantil, pelo ensino fundamental e pelo ensi-no medio, e educa<;:aosuperior.

A educa<;:aobasica tern inicio na educa<;:aoinfantil eprolonga-se ate 0 ensino medio. A seguir, vamos apre-sentar a estrutura do sistema educacional do Pais, comos dois niveis e suas caracteristicas, com as series e comas idades pr6prias de cada urn.

A educa<;:aobasica tern por finalidade desenvolver 0

educando, assegurando-Ihe a forma<;:aocomum indis-pensavel para 0 exerdcio da cidadania e fornecendo-Ihemeios para progredir no trabalho e em estudos posterio-res. Suas etapas sao educa<;:ao infantil, ensino funda-mental e ensino medio.Educa<;:aoinfantil

Como primeira etapa da educa<;:ao basica, a edu-ca<;:aoinfantil tern como finalidade 0 desenvolvimentointegral da crian<;:aate 6 anos de idade em seus aspectosfisico, psicol6gico, intelectual e social, complementan-do a a<;:aoda familia e da comunidade.

Como dever do Estado, a educa<;:aoinfantil e umanovidade da Constitui<;:ao Federal de 1988. Aparece naLDB/96 como incumbencia dos munidpios e deveria,ate 1999 (tres anos ap6s a promulga<;:ao da LDB), estarintegrada ao respectivo sistema de ensino, uma vez que amesma lei concede ao municipio as op<;:6esde criar sis-tema pr6prio, de integrar-se ao sistema estadual ou d~com ele compor urn sistema unico de educa<;:aobasica. Econhecida a dificuldade que os munidpios tern tido emmanter esse nivel de escolaridade, em razao da precarie-dade de recursos financeiros, ja que 0 salario-creche, queapareceu nas vers6es iniciais da LDB e permitiria custeara educa<;:aoinfantil, foi eliminado da versao aprovada.

NivEIS E MODAUDADES DE ED(JCA~Ao E DE ENSINO

A educa<;:aoinfantil deve ser oferecida em creches, ouentidades equivalentes, para crian<;:asate 3 anos de idadee em pre-escolas, para crian<;:asde 4 a 6 anos de idade.

.Nessa etapa nao ha a obrigatoriedade de cumprir acarga horaria minima anual de 800 horas distribuidasnos 200 dias letivos, como nao ha tambem avalia<;:aocomobjetivo de promo<;:ao.A avalia<;:ao,na ed~ca<;:aoinfantil,destina-se ao acompanhamento e ao reglstro do desen-volvimento da crian<;:a.

A titula<;:aoexigida para atuar na educa<;:aoinfantil ea licenciatura ou 0 curso normal superior, sendo admi-tida a forma<;:aoem nivel medio, na modalidade normaLEssa exigencia de escolaridade do professor e benefica,uma vez que tira das creches - estabelecimento em quedeve ser oferecido esse tipo de educa<;:ao- seu caratertutelar de crian<;:as,as quais sao merecedoras de preocu-pa<;:6eseducativas, especialmente em uma sociedade emque as mulheres, cad a dia mais, atuam no mercado pro-dutivo e necessitam de lugar apropriado e educativo pa-ra deixar os filhos pequenos.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para aeduca<;:ao infantil estao disciplinadas na Resolu<;:aoCNE/CEB n2 I, de 7 de abril de 1999. As DCNs visamorientar as institui<;:6esde educa<;:aoinfantil dos sistemasbrasileiros de ensino na organiza<;:ao,na articula<;:ao,nodesenvolvimento e na avalia<;:ao de suas propostaspedag6gicas. As DCNs tern como fundamentos no~-teadores da proposta principios eticos, politicos e estetl-cos, de forma que as institui<;:6es de educa<;:aoinfantilpromovam "prdticas de educaryao e cuidados, possibilitan-do a integraryao entre os aspectos fisicos, emocionais, afe-tivos, cognitivo/lingUisticos e sociais da crianrya, enten-dendo que ela e um ser completo, total e indivisivel" (art.32

, inciso III).Para atuar na educa<;:aoinfantil, a mesma resolu<;:aodo

CNE/CEB faz referencia a exigenciade diplomados em cur-so de forma<;:aode professores, nao especificando, com cla-reza, se 0 curso de forma<;:aoe de nivel medio ou superior.

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Ensino fundamentalo ensino fundamental e a etapa obrigat6ria da educa-

~ao basica. Como dever do Estado, 0 acesso a esse ensinoe direito publico subjetivo, quer dizer, nao exige regula-menta~ao para ser cumprido. Seu nao-oferecimento, ousua oferta irregular, importa responsabilidade da auto-ridade competente.

A oferta do ensino fundamental gratuito estende-sea todos os que a ele nao tiveram acesso na idade pr6-pria, e nao se restringe apenas entre os 7 e 14 anos, comoprevia a lei anterior.

o objetivo desse ensino (art. 32 da LDB) e a for-ma~ao basica do cidadao, mediante:

I - 0 desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-do como meios basicos 0 pleno desenvolvimento daleitura, da escrita e do caleulo;

II - a compreensao do ambiente natural e social, do sis-tema politico, da tecnologia, das artes e dos valoresem que se fundamenta a sociedade;

III - 0 desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,tendo em vista a aquisi~ao de conhecimentos e habi-lidades e a forma~ao de atitudes e valores;

IV - 0 fortalecimento dos vinculos de familia, dos la~osde solidariedade humana e de tolerancia reciprocaem que se assenta a vida social (Brasil, 1996).

o ensino fundamental regular deve ser ministradoem lingua portuguesa, assegurando as comunidades indi-genas a utiliza~ao de suas linguas maternas e os processospr6prios de aprendizagem, como a Constitui~ao tambemexpressa.

A nova lei da educa~ao faculta aos sistemas de ensinodesdobrar 0 ensino fundamental em cidos. Alguns esta-dos, como 0 de Sao Paulo, por exemplo, ja fizeram essaop~ao e passaram 0 primeiro cido, da primeira a quart aserie, para a responsabilidade dos munidpios. Essa me-dida gerou urn modelo que se estendeu a todo 0 Pais.

o ensino fundamental, como tambem toda a educa-~ao basica, pode organizar-se por series anuais; por pe-dodos semestrais, por cielos,-por periodos de estudos,por grupos nao seriados, por idade, por competenciaou por qualquer outra forma que 0 processo de apren-dizagem requerer.

A despeito de sua obrigatoTiedade, a elassifica~ao emqualquer serie ou etapa do ensino fundamental pode-sedar independentemente de escolaridade anterior, pormeio de avalia~ao feita pela escola que defina 0 grau dedesenvolvimento e a experiencia do candidato e permi-ta sua inscri~ao na serie mais adequada.

A jornada escolar noensino fundamental deve serde, ao menos, quatro horas de efetivo trabalho em salade aula, sendo progressivamente ampliada para tempointegral, a criterio dos sistemas de ensino. Vale destacarque essa defini~ao de amplia~ao da carga horaria ~m,pli-ca significativo aumento dos recursos financeiros a serdestinados a manuten~ao e ao desenvolvimento do ensi-no, uma vez que pressupoe a constru~ao de novas esco-las e salas de aulas, a eleva~ao do numero de professorese de outros profissionais, alem de outros custeios, deforma que atendam a demanda por periodo integral. Peloque expressa 0 Plano Nacional de Educa~ao, aprovadopela Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001, para os dezanos seguintes, nao ha previsao de recursos financeiros(Brasil, 2001).

Os currkulos do ensino fundamental e medio in-eluem uma base nacional comum e uma parte diversifi-cada a ser complementada em cada sistema de ensino,levando em conta as Diretrizes Curriculares Nacionaisdefinidas pelo Conselho Nacional de Educa~ao para umae outra etapa da educa~ao basica.

A Resolu~ao CNE/CBE n22/98 (Brasil, MEC, CNE/CEB, 1998a), que fixa as diretrizes curriculares nacio-nais para 0 ensino fundamental, apresenta como prin-dpios norteadores da a<;:aopedag6gica a autonomia, a

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responsabilidade, a solidariedade, 0 respeito ao bem co-mum, os direitos e deveres da cidadania, os exerciciosda criticidade e tambem os principios esteticos, tais co-mo a sensibilidade, a criatividade e a diversidade de mani-festa<;:oesartistic as e culturais.

Segundo a mesma resolu<;:ao,a educa<;:aofundamen-tal deve relacionar a vida cidada as seguintes areas doconhecimento: Lingua Portuguesa, Lingua Materna (in-digena e migrantes), Matem<itica, Ciencias, Geografia,Hist6ria, Lingua Estrangeira, Educa<;:aoArtistica, Edu-ca<;:aoFisica, Educa<;:aoReligiosa.

De acordo com 0 Plano Nacional de Educa<;:ao,queusa dados de 1998, as matriculas no ensino fundamen-tal atingem quase 36 milhoes de alunos, das quais ape-nas 9,5% sao no ensino privado.

Os alunos levam, em media, 10,4 anos para concluiros oito anos de escolaridade obrigat6ria do ensino fun-damental. No entanto, 0 Pais precisa ampliar 0 atendi-mento ao ensino fundamental, uma vez que 2,7 milhoesde crian<;:asde 7 a 14 anos ainda se encontram fora daescola.

Ensino medioo acesso ao ensino medio tern sido ampliado no

Pais, 0 que significa que mais pessoas concluiram 0 ensinofundamental. Em 1991, havia cerca de 4 milhoes de alu-nos matriculados no ensino medio; em 1998, esse mime-ro subiu para quase 7 milhoes, urn crescimento de 84,8%.

Apesar do avan<;:odas matriculas nos ultimos anos, 0ensino medio, segundo 0 PNE (p. 73), atende apenas30,8% da popula<;:aode 15 a 17 anos. 0 PNE pretende,em cinco anos, atingir 50% dos alunos dessa faixaetaria. 0 Pais apresenta indices de 32% de repetencia,5% de evasao e 56% das matriculas no horario noturno- procurado sobretudo por jovens trabalhadores. Ternocorrido, tambem, a diminui<;:ao de matriculas na redeprivada (Brasil, 200 1).

A nova LDB traz muitas novidades para 0 ensinornedio. Como ultima etapa da educa<;:aobasica e comtres anos, no minima, de dura<;:ao,esse nivel de ensinoperdeu a obrigatoriedade de habilitar para 0 trabalho,formando profissionais, algo que passou a ser facultativo.Na nova lei da educa<;:ao, 0 ensino medio tern asseguintes finalidades (art. 35):

I - a consolida<;:aoe 0 aprofundamento dos conhecimen-tos adquiridos no ensino fundamental, possibilitan-do 0 prosseguimento de estudos;

II - a prepara<;:aobasica para 0 trabalho e a cidadania doeducando, para continuar aprendendo, de modo a sercapaz de se adaptar com flexibilidade a novas condi-<;:oesde ocupa<;:aoou aperfei<;:oamento posteriores;

III - 0 aprimoramento do educando como pessoa huma-na, incluindo a forma<;:aoetica e 0 desenvolvimen-to da autonomia intelectual e do pensamento critico;

IV - a compreensao dos fundamentos cientifico-tecnoI6-gicos dos processos produtivos, relacionando a teo-ria com a pratica, no ensino de cad a disciplina.

o nivel medio de ensino comporta diferentes concep-<;:oes:em uma compreensao propedeutica, destina-se apreparar os alunos para 0 prosseguimento dos estudosno curso superior; para a concep<;:aotecnica, no entan-to, esse nivel de ensino prepara a mao-de-obra para 0

mercado de trabalho; na compreensao humanistica ecidada,o ensino medio e entendido no sentido mais am-plo, que nao se esgota nem na dimensao da universidade(como 0 propedeutico) nem na do trabalho (como notecnico), mas compreende as duas - que se constroeme reconstroem pela a<;:aohumana, pela produ<;:aoculturaldo homem cidadao -, de forma integrada e dinamica.Tal concep<;:aoesta expressa em alguns documentos na-cionais oficiais sobre as competencias e as habilidades es-pedficas esperadas do estudante desse nivel de ensino.

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As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), insti-tuidas pela Resolwrao CNE/CEB nll 3, de 26 de junho de1998, referem-se, em seuart. F, a um'''conjunto de defi-nifoes doutrinarias sobre principios, fundamentos, e proce-dimentos a serem observados na organizafClo pedag6gica ecurricular" das escolas que oferecern esse nivel de ensino,a fim de vincular a educa<;:aomedia com 0 mundo dotrabalho e a prcitica social, "consolidando a preparafClo pa-ra 0 exercicio da cidadania epropiciando a preparafClo basi-ca para 0 trabalho" (Brasil, MEC, CNE/CEB, 1998b).

Segundo a Resolu<;:aoCNE/CEB nll 3, a,base nacionalcomum dos curric~os do ensino medip sera organizadaem areas de conhecimento, a saber: a) linguagens, c6digose suas tecnologias; b) ciencia~ da natureza, Matematica esuas tecnologias; c) ciencias humanas e suas tecnologias.

Os principios pedag6gicos estruturantes ~os curri-culos do ensino medio sac: identidade, diversidade eautonomia, interdisciplinaridade e contextualiza<;:ao.

Identidade supoe 0 reconhecimento das escolasque ofe-recem esse nivel de ensino, como institui<;:oesde ensinode adolescentes, jovens e adultos, respeitadas suas condi-<;:oese necessidades de espa<;:oe tempo de aprendizagem.

A diversidade e a autonomia referem-se a diversifica<;:aode programas e tipos de estudos disponiveis, estimulandoalternativas, de acordo com as caracteristicasdo aluna-do e as demandas do meio social.

A interdisciplinaridade relaciona-se ao principio de quetodo conhecimento mantem dialogo permanente comoutros conhecimentos.

, A contextualizafClo significa que a cultura escolar devepermitir a aplica<;:aodos conhecimentos as situa<;:oesdavida cotidiana dos alunos, de forma que relacione teo-ria e pratica, vida de trabalho e exercicio da cidadania.

As estatisticas da decada de 90 demonstram como 0

municipio tern assumido a responsabilidade com a edu-ca<;:aoinfantil (pre-escola e alfabetizac;:ao) e como mais

de 60% das matriculas estao nessa faixa eta ria. Deve-sedar aten<;:aoao item de alfabetiza<;:aoe as series iniciaisdo ensino fundamental de jovens e adultos, para veri-ficar como esta faixa etaria tambem e bastante 'atendidapelos rtmnicipios, os'quais ~ao pO'dem utilizar recurs os Ido Fundef para tal modahdade de educalj:ao, embora

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seja ensino fundamental.Outro dado que chama a aten<;:aonos indicadores e

a queda de matriculas no ensino fundamental e a amplia-, . ,<;:aodas matdculas no nivel medio. Constata-se tambema diminu~<;:aode matricula da educa<;:ao especial, emvirtude do programa de inclusao, que propoe 0 atendi-

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mento a portadores de deficiencia em escolas regulares.~ , I \ ,

2. Educ::a~ao superior

A educa<;:aosuperior esta expressa nos artigos 43 a 57da LDB/96 (Brasil, 1996). Tern por finalidade formarprofissionais nas diferentes areas do sabe'r, promovendoa divulga<;:aode conhecimentos culturais, cientificos etecnicos e,com~micando-as por mei~ do epsino. Objetivaestimular a cria<;:aolcultural e 0 desenvolvimento doespirito cientifico e do pensamento reflexivo, incenti-vando 0 trabalpo de pesquisa e a investiga<;:aocientificae promovend9 a extensao. Visa divulgar a popula<;:ao acria<;:aocultural e a pesquisa cientifica e tecno16gica ge-radas nas institui<;:oesque oferecern a forma<;:aoem ni-vel superior e produzem conhecimento.

A educa<;:aosuperior abrange os seguintes cur'sos eprogramas (art. 44): ' ,

I - cursos seqiienciais por campo de saber, de diferentesniveisde abrangencia, abertos a candidatos que atendamaos requisitos estabelecidospelas institui<;:oesde ensino;

II - cursos de graduac;:ao,abertos a candidatos que tenhamconcluido 0 ensino medio ou equivalente e tenhamsido classificados em processo seletivo;

Sabre este ponto, cf. 2'Parte, Capitulo VI.

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cr. a se~ao sobreavalia~ao da educa~ao basica, '

2' Parte, Capitulo VlI. l

III - cursos de p6s-gradua<;ao, compreendendo progra-mas de mestrado e doutorado, cursos de especiali-za<;ao,aperfei<;oamento e outros; abertos a candida-tos diplomados em cursos de gradua<;ao e que aten-dam as exigencias das institui<;oes de ensino;

IV - cursos de extensao, abertos a candidatos que aten-dam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelasinstitui<;oes de ensino.

A organiza<;ao academic a tambem mudou. Ela tor-nou-se mais diversificada e diferenciada. Os cursos e osprogramas sao oferecidos por universidades e institui-<;oes com outros formatos. 0 Decreto 2.306/97, queregulamenta a LDB no que diz respeito ao sistema deensmo federal, preve a organiza<;aoda educa<;aosuperiorsob a forma de universidades, centros universitarios, fa-culdades integradas, faculdades e institutos superioresou escolas superiores.

Como express am os incisos do art. 44 da LDB/96, 0

acesso ao ensino superior ocone mediante processo sele-tivo, que e diferente dos exames vestibulares, aos quaisa lei nao faz referencia. A men<;ao especifica a processoseletivo possibilita que as institui<;oes de ensino supe-rior usem diferentes modalidades de sele<;ao,tais comoprovas durante 0 ensino medio, uso das notas obtidaspelos alunos durante 0 ensino medio, uso do desempe-nho obtido pelo aluno no Exame Nacional de EnsinoMtdi() (Enem) e outras.

o ana letivo regular nas institui<;oes que oferecern 0

ensino superior e de 200 dias. A presen<;a de professorese alunos e obrigat6ria, e 0 professor deve ministrar urnminimo de oito horas semanais. 0 curio so e que talexigencia contraria 0 discurso dos que defendiam umalei enxuta, sem minucias - os mesmos que inseriramesse dispositivo na lei. Vale lembrar que os detalhes deuma lei sao criticados quando asseguram direitos aosmais desprotegidos da sociedade. Quando 0 projetooriginal determinava 0 numero de alunos por professor

na educa<;ao basica, criticava-se dizendo que esse eraurn detalhe que nao deveria estar em uma LDB. Logi-camente, para os gestores dos sistemas de ensino e osproprietarios de escolas particulares, ter urn mimero ma-ximo de alunos por sala nao e conveniente e, por isso,tal dispositivo nao deveria figurar na lei, mas a referenciaa urn minimo a ser cumprido por urn professor universi-tario nao e mais detalhe. Alem disso ha inconvenientesneste dispositivo, que nao estabelece criterios nem condi-<;oes,pondo em igualdade todos os professores universi-tarios - os que s6 dao aula, os que atuam em pesquisae extensao e os que ocupam cargos administrativos.

Para ser credenciado como universidade, que significaser uma institui<;ao pluridisciplinar de forma<;ao de qua-dros profissionais de nivel superior, de pesquisa, deextensao, 0 estabelecimento de educa<;ao superior devecaracterizar-se por ter "produ~ao intelectual institucionali-zada mediante 0 estudo sistematico dos temas e problemasmais relevantes, tanto do ponto de vista cientifico e cultural,quanta regional e nacional" (LDB/96, art. 52). Deve, ade-mais, ter, ao menos, urn ter<;odo corpo docente com titu-

. 10 de mestrado ou doutorado e em regime de trabalho detempo integral.

A lei faculta ainda a existencia de universidades espe-cializadas por campo do saber, como uma universidadede Medicina, de Direito, de Educa<;ao, etc.

3. Modalidades de educas:ao

A LDB/96 apresenta tres modalidades de educa<;ao:educa<;ao de jovens e adultos, educa<;ao profissional eeduca<;ao especial.Educa<;ao de jovens e adultos

A educa<;ao de jovens e adultos destina-se aos quenao tiveram, na idade pr6pria, acesso ao ensino funda-mental e medio ou continuidade de estudos nesses niveis

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Direito ublico sub' etivoequivale a reconhecer que e

plenamente eficaz e deaplicabilidade imediata, isto

e, nao exige regulamenta~ao.Se nao for prestado de

forma espontfmea, pode serexigido judicialmente.

de ensino. Embora 0 texto legal estimule 0 acesso dotrabalhador a escola e sua permanencia nela, alem dedefinir os sistemas de ensino como os responsaveis porgarantir a gratuidade nessa modalidade de educa<;:ao,ele nao detalha, como fazia 0 original dessa lei, quaissac as a<;:oesque vaG garantir a permanencia dos jovense adultos na institui<;:aoescolar.

Ademais, outra lei posterior a LDB, a Lei do Fundef,nao permite que se utilizem recursos do ensino funda-mental para a modalidade de ensino em questao, embo-ra essa etapa da educa<;:aobasica, constitucionalmente,se apresente como obrigatoria e se configure como di-reito publico subjetivo.

A educa<;:aode jovens e adultos preve cursos e examessupletivos aser realizados no nivel de conclusao do en-sino fundamental, para maiores de is.anos, e no nivelde conclusao do ensino medio, para maiores de 18 anos.

Educa<;:aoprofissionalA educa<;:aopro fissional deve estar integrada as dife-

rentes formas de educa<;:ao,ao trabalho, a ciencia e atecnologia e visa ao permanente desenvolvimento deaptidoes para a vida produtiva.

Deve ser desenvolvida em articula<;:aocom 0 ensinoregular ou por diferentes estrategias de educa<;:aocon-tinuada, em institui<;:oesespecializadas ou no ambientede trabalho. Destina-se ao aluno matriculado no ensinofundamental, medio ou superior ou egresso deles, bemcomo ao trabalhador em geral, jovem ou adulto. Paraisso, apresenta-se em tres niveis: basico, tecnico e tec-nologico. .

A educa~ao profissional no nivel basico, conformeart. 32 do Decreto 2.208, de 17 de abril de 1997, e

destinada a qualifieari:io, requalifieari:io e reprofissiona-lizari:io de trabalhadores, independente de eseolaridadeprevia; tecnieo: destinado a proporeionar habilitari:ioprofissional a alunos matrieulados ou egressos do ensino

medio (...); teenologieo: eorrespQndente a eursos de nivelsuperior na area teen 0logiea, destinados a egressos doensino medio e teenieo.

o nivel basico e a modalidade de educa<;:aonao for-'mal, de dura<;:aovariavel, uma vez que nao esta sujeita aregulc;lmen~a<;:aocu~ricular. 0 nivel' tecnico deve tel"'organiza<;:aocurricular propria e independente do ensi-no medio' e seguir as diretrizes curriculares estabeleci-das pelo Conselho Nacional de Educa<;:ao.As disciplinasdo curriculo do ensino tecnico podem ser ag'rupadas pormodulos, os quais podem ter carater terminativo, dandodireito a ,certificado de qualifica<;:aoprofissional. 0 con-junto de certificados de uma habilita<;:aoprofissional dadireito ao diploma de tecnico de nivel medio. Os cursosde nivel superior conferem diploma de tecnologo.Educa<;:aoespecial

Pode-se afirmar que atitudes com rela<;:aoas crian!j:asexcepcionais progrediram muito no decorrer da histori ada humanidade, especialmente quando se leva em conta.que a sociedade espartana matava bebes'deficientes oudeformados. Sao reconhecidos quatro estagios de desen-volvimento das atitudes da sociedade para com os defi-cientes (Kirk e Gallagher, apud APP, p. 9). 0 primeiro es-tagio corf{~spondea era pre-crista, qual)'do os deficienteseram maltratados ou negligenciados; 0 segundo estagio,aOjcristianismo, ern que havia compadeciIl?-ento e prote-<;:aodeles. Entre os seculos XVIII e XIX (terceiro estagio),foram segregados em institui<;:oes,para receber educa<;:aodiferenciada, e no quarto estagio, iniciado em meadosdo seculo XX, deu-se a aceita<;:aodos deficientes, bus-cando-se integra-los na sociedade.

No Brasil, cerGa de 10% da popula<;:ao tern necessi-dades especiais, e mais da metade dos casas pode serevitada com assistencia medica adequada no pre-natal,no momenta do parto, nas doen<;:asinfantis, em aci-dentes, etc. .

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A oferta de educa~ao especial e dever do Estado -esta expressa na Constitui~ao Federal de 1988 (art. 205e 208) e tambem na LDB de 1996 (art. 58, § 32), tendoinicio na faixa etaria de 0 a 6 anos, durante a educa~aoinfantiL A educa~ao especial e entendida, na LDB, como amodalidade oferecida para educandos portadores de ne-cessidades especiais, preferencialmente na rede regularde ensino. Esse processo tern sido chamado de inclusao.Para a integra~ao desses alunos nas classes comuns, a leirequer capacita~ao dos profess ores e especializa~ao paraatendimento especializado. Se necessario, deve haver ser-vi~os de apoio especializado, na escola regular, para aten-der as peculiaridades da clientela de educa~ao especial.o conceito de necessidades especiais amplia 0 de

deficiencia, uma vez que se refere "a todas as crianfas ejovens cujas necessidades decorrem de sua capacidade oude suas dificuldades de aprendizagem" (Declara~ao deSalamanca, 1994).0 principio fundamental da linha dea~ao da Conferencia Mundial .sobre NecessidadesEducativas Especiais, realizado em Salamanca/Espanha,em 1994, e

que as escolasdevem acolher todas as crian~as, indepen-dentemente de suas condi~{jes fisicas, inteleetuais,sociais, emocionais, lingUisticasou outras. Devem acolhercrian~as com deficiencia e crian~as bem-dotadas; crian-~as que vivem nas ruas e que trabalham; crian~as depopula~{jes distantes ou nomades; crian~as de minoriaslingUisticas,etnicas ou culturais e crian~asde outros gru-pos ou zonas desfavorecidos ou marginalizados (Decla-rayao de Salamanca, 1994, p. 18).

baseia-se no principio de que "todas as diferenfas hu-manas SaD normais e de que a aprendizagem deve, por-tanto, ajustar-se as necessidades de cada crianfa" (p. 18).Prop6e uma pedagogia centrada na crian~a. 0 profes-sor deve mudar sua perspectiva social, valorizando maiso potencial do que a incapacidade dos educandos.

Conforme 0 documento, 0 alto custo das escolasespeciais leva a supor que apenas pequena minoria dealunos de1as se beneficie. Sugere, entao, que os profis-sionais dessas escolas form em os professores das escolascomuns, de modo que estes se tornem mais aptos a atuarna educa~ao integradora. 0 principio fundamental dasescolas integradoras e que as crian~as devem aprenderjuntas, sempre que possive1,independentemente de suasdificuldades e diferen~as. Sobre estas as escolas devemter reconhecimento e atua~ao, assegurando aos alunosurn ensino de qualidade.o processo de inclusao de alunos especiais, no Brasil,

teve inicio antes mesmo da capacita~ao dos professores,o que tern gerado certo desconforto nestes ultimos, por

.se sentirem despreparados para lidar com essas dificul-dades educativas, assim como nos pais de alunos, porlamentarem 0 mho ter perdido atendimento especiali-zado. Tal fragilidade na proposta de inclusao pode gerarmaior preconceito contra esse tipo de aluno. Ja foi anun-ciado pelo governo federal a capacita~ao a distancia des-ses professores por meio de programas da TV Escola, 0que ainda nao ocorreu.

Documento do MEC sobre municipaliza~ao da edu-ca~ao especial, 0 qual segue a proposta de Salamanca,da conta de que 10% da popula~ao de urn pais emer-gente e portadora de alguma deficiencia. Essa infor-ma~ao, aliada ao fato de que e alto 0 custo das escolasespeciais e a necessidade de me1horar 0 custo/beneficiodo sistema educativo, possibilita inferir que a questaoda escola integradora extrapola 0 objetivo de oferecereduca<;:aopara todos e visa baratear 0 custo educacional

Para tal, requer-se uma reforma consideravel da es-cola comum e prop6e-se a escolariza~ao integradora.

Conforme os term os da declara~ao, a escola inte-gradora pode combater atitudes discriminat6rias, "pro-porcionando uma educarao mais efetiva a maioria dascrianras e, certamente ( ..) [melhorandoJ a relarao custo-beneficio de todo 0 sistema educativo" (Declara<;:ao deSalamanca, 1994, p. 10). A linha de a<;:aoda declara<;:ao

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das crian<;:ascom necessidades educativas especi4is. Talsuposi~ao fortalece-se ao se verificar que nao houve preO,-cupa<;:aode capacitar os professores antes de tao impor-tante defini<;:ao,como tambem nao se adequou.a escola,nem mesmo fisicamente, para receber tais alunos.

E notoria a deficientecondi<;:ao de grande parte das es-colas publicas ate mesmo para as crian<;:asditas normais,bem como 0 despreparo que os professores, de modogeral, tern demonstrado noatendimento de quaisquerdificuldades que os alunos apresentem. Fechar os olhosa essas condi<;:6ese querer seguir ao pe da letra a Decla-ra<;:aode Salamanca implica descaso com a real situa<;:aodas escolas, dos alunos e de Seus profeSsores: Ademais,significa tarribem querer atingir objetivos 1 que, previa ~mente, ja se sabe serem muito dificeis de cumprir,anaoser pdo voluntarismo de abnegados professores.

Alem disso, e preciso refletir sobre 0 sentido de escolainclusiva e de todas as d,iferen<;:asque ela deve abaiCar.Quest6es de classe, genero, etnia devem estar na agendada escola que se deseja inclusiva. ' ;

Educa~ao a distancia

A educa<;:aoa'distancia (EAD), embora busque es-tender os espa<;:oseducacionais, reconhece a escola comoespa<;:oprivilegiado da atividade educacional, tepdo cdn-di<;:6esde ofere<;:er-lheurn sistema tecnologico que amplies'eupotencial didatico-pedagogico. A EAD pretende t~m-bem expandir oportunidades de estudo, se os recu~sosforem escassos; e ainda procura familiarizar 0 cidadaocom a tecnologia e oferecer meios de atualiza<;:aopro-fissional permanente e continua.

A Secreta~ia de Educa<;:aoa Distancia (S~ed),do MECfoi criada em 1995 e articula-se com osdemais orgaosdo ministerjo, a fim de in~~itu,cionalizar a EAD no Pais.Entre as principais a~5es da Seed estao a TV Escola e 0

Progra.mil Nacional de Informatica na Educa~ao.

A TV Escola tern como objetivo a forma<;:aode pro-fessores e a melhoria das aulas nas diversas disciplinas.Urn canal proprio de TV transmite, pelo satelite Brasilsat,tres horas de programa<;:ao diaria, que se repete quatrovezes ao dia, para as escolas poderem fazer as grava<;:6esdos programas. Com mais de cinco anos de funciona-mento, a TV Escola ja veiculou mais de 2 mil programaseducativos.o Programa Nacional de Informatica na Educa<;:ao

(Proinfo) visa introduzir a tecnologia de informatica ede telecomunica<;:ao na rede publica de ensino funda-mental e medio. 0 Proinfo pretende auxiliar 0 processode incorpora<;:ao e de planejamento da nova tecnologiae, tambem, servir de suporte tecnico e de capacita<;:aodosprofessores e dos agentes administrativos das escolas.

Cada unidade da Federa<;:aoconta com os Nucleosde Tecnologia Educacional (NTEs), que sao estruturasdescentralizadas de apoio ao programa, mediante a<;:6esparticipativas do MEC e dos governos estaduais e muni-cipais. Alguns munidpios brasileiros contam com NTEs.