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para Jovens Manual de Bioética para Jovens Associação de Defesa e Apoio da Vida

Manual de-bioetica-para-jovens-jmj-2013

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Informação ao jovem

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para JovensManual de Bioética

para Jovens

Associação de Defesa e Apoio da Vida

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Manual de Bioéticapara Jovens

Associação de Defesa e Apoio da Vida

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ue há de mais íntimo à vida que a própria vida, a história dos nossos primeiros momentos e dos nossos últimos instantes? Por vezes, aocontemplarmos a maravilha que somos, arrebata-nos uma vertigem. Esta vida, que recebemos, podemos transmiti-la. Poder imenso. E,depois, esta vida um dia passará. A nossa e a daqueles que amamos. Última ilusão ou única e verdadeira manhã? Transmissores de vida,eis aí uma aventura à altura dos nossos sonhos.

Mas como não nos enganarmos? Até que ponto se pode ir no controlo da vida que começa ou acaba? A ciência é,verdadeiramente, a árvore do conhecimento do bem e do mal. Toda a nossa responsabilidade consiste em tentarcolher os frutos bons e não trincar os frutos maus, nem oferecê-los aos nossos descendentes.

Eis o desafio do Manual de Bioética para Jovens: desmontar as palavras para perspectivar de novo a realidade dos factos biológicos e as suasimplicações éticas. O que queremos dizer, por exemplo, quando se sugere a uma mulher uma redução embrionária ou um diagnóstico pré-implantação? Com uma abordagem científica e factual, o Manual de Bioética para Jovens propõe pistas de reflexão.

Alguns ficarão talvez surpreendidos ao descobrirem o peso da nossa responsabilidade, enquanto homens e mulheres, perante a transmissãoda vida. Há uma coisa que me parece muito importante precisar: o que cada um descobrir deve ajudá-lo a julgar os actos. Em contrapartida,nunca devemos julgar as pessoas que não fizeram as mesmas escolhas. Compete-nos antes esclarecê-las e ajudá-las.

O Manual é também um meio para corrigir um ensino, por vezes desvirtuado nos manuais escolares. O estudo dessas obras mostra queapresentam quantitativamente poucos erros. Mas um só, grave, pode ser suficiente para orientar ─ ou antes desorientar ─ toda a reflexãoética. Ora, nós encontrámos dois erros importantes. O primeiro é um erro de perspectiva: a procriação é ensinada quase exclusivamenteatravés do prisma redutor do seu controlo, desumanizando os momentos mais íntimos da vida humana. O segundo é um erro científico: agravidez é apresentada como se apenas tivesse início com a nidação no útero, isto é, ao sétimo dia.

Estas páginas convidam, portanto, a ter uma atitude de prudência e firmeza, mantendo o rumo e firmando o leme. Ouve-se insistentementedizer que as práticas descritas neste Manual devem ser todas permitidas pela lei, desde que sejam tecnicamente possíveis. Procurem resistira estas ideias estreitas, na aparência liberais, mas, na realidade, totalitárias, pois conduzem à arbitrariedade dos mais fortes.

Ouve-se também falar de escolha. Mas de que se trata? O que significa ter o poder de vida e de morte sobre alguém, só porque a lei opermite? O que é legal não é necessariamente justo. E as leis injustas não são leis.

Que futuro nos promete uma sociedade em que o modelo feminino pretende construir a sua identidade matando o próprio filho e em que amorte programada dos mais velhos e dos mais vulneráveis é apresentada como o cúmulo da compaixão?

Porque a vida é bela e é urgente redescobrir em nós e nos outros um olhar de encantamento, torna-se necessário remover os obstáculosque nos limitam a visão.

INTRODUÇÃO

Q

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Se estas páginas contribuírem para isso, aprofundando osvossos conhecimentos ou, melhor ainda, ajudando-vos adescobrir a vossa própria missão, elas terão atingidoplenamente o seu objectivo.

Esta versão revista e aumentada do Manual de Bioéticapara Jovens não me leva a alterar sequer uma vírgula daintrodução à primeira versão, dado que o alicerce éticofixado em 2006 é aere perennius (‘mais sólido do que obronze’, como no verso de Horácio)… Em contrapartida, atransgressão ética expandiu-se desde então, tanto naprática como no direito, verificando-se que a última lei debioética votada em 2011 (em França) não teve, como decostume, outra consequência senão a de ratificar osdesvios! (Em Portugal temos assistido também àaprovação de legislação – por exemplo, em matéria deaborto – em relação à qual é válida esta crítica).

Razão superlativa para persistir com este Manualactualizado, ao qual desejo que venha a conhecer osucesso da edição precedente, já com uma tiragem de230 000 exemplares (em França) e que até do estrangeironos é solicitada.

Boa leitura!

JEAN-MARIE LE MÉNÉPRÉSIDENT DE LA FONDATION JÉRÔME LEJEUNE

* Breve nota à edição portuguesa: os responsáveis pela edição fran-cesa permitiram a substituição da legislação nos quadros específi-cos constantes da obra. Já nas perguntas e respostas, procedeu-se,em regra, à tradução da versão francesa, tendo-se acrescentado,sempre que possível, dados sobre a situação portuguesa.

ÍNDICE

1 / História do pequeno ser humano

2 / O abortamento

3 / O diagnóstico pré-natal

4 / A procriação medicamente assistida

5 / O diagnóstico pré-implantação

6 / Investigação com embriões

7 / Eutanásia/Dádiva de órgãos

4

10

20

28

38

44

54

Em cada capítuloencontram-se as rubricas:

• O que é...?• Os métodos• A legislação• Perguntas...• Reflexões éticas• Testemunhos

Em determinados capítulos,uma rubrica específica dáresposta aos ensinamentosde alguns manuais escolares.

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A história do ser humanocomeça com a

fecundação

O zigoto recebe a informaçãoe a vida do espermatozóidevivo do pai e do ovócito vivoda mãe.

O embrião começa adividir-se, manifestan-do assim uma nova vida.

>Embriãono 1º estádio dedesenvolvimento

ou zigoto2 células

O zigoto é o primeiro estádio do embrião. Nele seencontram reunidos os 23 cromossomas da mãe e os 23cromossomas do pai. O seu tamanho é de 0,15mm.

Uma nova vida humana começa nomomento em que toda a informaçãotransportada pelo espermatozóidedo pai se junta à que é fornecidapelo ovócito da mãe. Na realidade,desde a fecundação estamosperante um novo ser que começa asua existência.O património genético único de cadapessoa, portanto também o seusexo, fica determinado a partirdeste momento. Não se trata de umser humano teórico, mas do primei-ro estádio de desenvolvimentodaquele que, mais tarde, há-de cha-mar-se Teresa ou Simão.

1/História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.5

O embrião unicelular (zigoto) divide-se em 2, 3, 4, 8 células… Estas célulascomunicam entre si, quimicamente,mostrando que estão organizadas. Dozigoto ao feto, tudo ocorre de um modoorganizado. O processo é contínuo.

2 dias 3 dias 4 dias5 a 7 dias4 células 8 células

10 a 30 células

Mórula

BlastocistoNidação no útero materno

O embrião é um organismo, um ser vivo. O embrião humano éum ser vivo com um património genético humano.É, sem dúvida, um ser humano.

2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.6

A gravidez é o “estado da mulher, da fecundação ao parto”. (Definição dos dicionários)O termo de uma gravidez calcula-se de duas maneiras:• em meses de desenvolvimento do embrião, contados a partir do dia da fecundação;• em semanas de amenorreira (SA, semanas sem menstruação), contadas a partir do 1º dia do último ciclo menstrual.

Quando o ciclo da mulher é de 28 dias, a ovulação ocorre no 14º dia do ciclo.Quando uma mulher deduz que está grávida pelo atraso da menstruação, o bebé já tem pelo menos14 dias.Aos 21 dias o seu coração vai começar a bater.

1º mês

O coração do bebé já bate.Ouve-se e vê-se na ecografia.21º dia

Às 7 semanas(17-22 mm)

Às 8 semanas(35 mm)

Às 11 semanas(6 cm - 20 gr)

O feto às 5 semanas(3-5 mm)

1º dia

Zigoto

2º mês

Formam-se os membros.Distinguem-se os dedos, aboca, o nariz, as orelhas, osolhos e até as pálpebras.

3º mês

Já mexe as mãos e ospés. O seu sexo podereconhecer-se.A partir da 8ª semana, o

embrião passa a chamar-sefeto. O cérebro e os outrosórgãos já estão individualiza-dos.

1/História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.7

4º mês

O bebé chucha no polegar,engole líquido amniótico.As mãos estãocompletamente formadas.

A mãe apercebe-se dosmovimentos do bebé.

6º mês

O bebé mexe-se muito.Começa a reagir aos sonsexteriores.

8º mês

Assume a posiçãoque, em princípio,manterá até ao parto.

Às 20 semanas(30 cm - 650 gr)Às 16 semanas

(20 cm - 250 gr)

Já mexe as mãos e ospés. O seu sexo podereconhecer-se.

Às 24 semanas(37 cm - 1000 gr)

5º mês

“O pequeno filhodo homem é um homem

em pequeno.”Jérôme Lejeune

O EMBRIÃOÉ HUMANO!

2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.8

O embrião não éapenas um amontoadode células?

Alguns falam de “amontoado” poroposição a “organismo”. Ora, desdeo início, o embrião é um ser vivo,organizado de modo a desenvolver-se por si próprio de forma contínua.O local de penetração do esperma-tozóide no ovócito orienta, desdelogo e a partir do ovo, a posiçãofutura do embrião (cabeça, pés…).Desde a fecundação que o embriãodá origem a uma cadeia de activi-dades (expressão do código genéti-co, síntese de proteínas), com vistaao seu desenvolvimento. Produzhormonas que interrompem ociclo menstrual da mãe, começa apreparar os seus seios para a futu-ra amamentação, etc. O embriãonão é, portanto, um mero amon-toado de células.

O embrião é um serhumano desde afecundação?

Sim, porque um homem e umamulher só podem conceber umpequeno ser humano. Sim, vistoque o património genéticoúnico de cada pessoa fica defi-nido nesse preciso momento.Se o ser humano não começana fecundação, então nãocomeça nunca, pois de onde lheviria uma nova informação? Aexpressão “bebé-proveta” mos-tra que isto é reconhecido.

Reconhecer o embriãocomo um ser humano, éuma questão de opinião?

Aceitar que a fecundação marcao início de um novo ser humanonão é uma questão de gosto oude opinião, é reconhecer umarealidade biológica. Todas asevidências científicas vão nessesentido e nada prova ocontrário. Ninguém duvidarádisto sinceramente.

O embrião em perguntas‘‘

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O embrião é um serhumano, mas seráuma pessoa?

Já se cruzou com seres huma-nos que não fossem pessoas?Os únicos homens na históriaque não foram consideradoscomo pessoas eram escravos.Se alguns seres humanos nãosão pessoas, em que sociedadeestamos nós?

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1/História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.9

O que é que faz comque um embrião sejaum ser humano?

Não é graças às suasqualidades, às suascapacidades ou aos seusdesempenhos que um ser éhumano. É-o unicamente emvirtude da sua natureza.Ele pertence à espécie humana,à família dos homens, de todosos homens e mulheres, talcomo cada um de nós. É,portanto, um ser humano.

O embrião ou fetosentem dor?

Hoje sabe-se que o feto sentedor, desde o segundo trimestreda gravidez, e até mesmo antes(Assises Fond. Prem. Up, juin2010)

O embrião está completa-mente dependente damãe. Será ele um serhumano por inteiro?Como qualquer ser vivo, oembrião tem necessidade deum ambiente adequado para sedesenvolver.Na realidade, somos todosdependentes (de alimentação,de oxigénio), em todos os está-dios da vida humana. Qual denós resistiria nu no Antárctico?Mas, nem por isso, somos maisou menos humanos. A depen-dência, por mais profunda queseja, em nada altera a nossanatureza. O facto de se abrigar ede se alimentar no corpo damãe não faz da criança in uteroum elemento do corpo materno.Distingue-se dele em todas assuas células.

Se o embrião não temforma humana, seráverdadeiramente umser humano?Não é somente pela aparênciaque se reconhece um serhumano. Aliás, o mesmo indiví-duo apresenta ao longo da vidadiferentes aparências: embrião,bebé, criança, adulto e velho. Oembrião tem a aparência huma-na da sua idade. Todos passá-mos por essas formas embrio-nárias em que tudo já estavainscrito, até a cor dos nossosolhos!

Contrariamente ao que se pode ler em certosmanuais escolares, a gravidez não começa quando oembrião se aloja na parede do útero (nidação), massim na fecundação (mesmo que a mulher não se dêconta disso senão depois da nidação). A vida do novoser humano começa desde a fecundação.

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O que é o abortamento?O abortamento (na lei, aborto) é a morte prematura do embrião ou do feto, nodecurso do seu desenvolvimento.

Fala-se de aborto espontâneo desde que se trate de uma morte não provocada.Fala-se de aborto provocado quando se põe, voluntariamente, fim à vida doembrião ou do feto.

Na lei, as palavras “interrupção da gravidez” substituem por vezes a palavra“aborto”. A expressão “interrupção da gravidez” mascara a realidade,ocultando a morte da principal interessada, a criança.

Podem distinguir-se:� a interrupção voluntária da gravidez (IVG) “por opção” da mulher;� a interrupção voluntária da gravidez por motivos médicos: perigo para a vidaou para a saúde da mãe;� a interrupção voluntária da gravidez por forte probabilidade do feto sofrerde doença ou malformação grave e incurável;� a interrupção voluntária da gravidez por esta ter resultado de um crimesexual, por exemplo violação.

No mundo inteiro, em cada ano, provocam-se cerca de 50.000.000 abortos.Em Portugal, de acordo com os números da Direcção-Geral de Saúde, no quadroda Lei 16/2007, só no ano de 2008, foram provocados 18.607 abortamentos; noano seguinte (2009) o número de abortos provocados foi ainda maior, 19.848; em2010, o número subiu para 20.137; em 2011, voltou a aumentar para 20.290. Entre2007 e 2011 realizaram-se mais de oitenta e cinco mil abortos. Mais de oitenta ecinco mil crianças únicas e insubstituíveis deixaram de nascer.

Aviso ao leitor:Este capítulo pode ferir certas sensibilidades.

Sendo o aborto uma realidade violenta, evocá-lo, mesmodiscretamente, pode ser sentido como uma agressão. Noentanto, é necessário falar dele para compreender o que estáem jogo. Tentámos apresentar sem disfarce esta realidade,decidindo, ao mesmo tempo, não mostrar fetos abortados.

2/O abortamento1 / História do pequeno ser humano 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.11

O que é o abortamento? Métodos abortivosAbortopor raspagem

Destruição do embrião comuma cureta e extracção dosseus fragmentos e daplacenta que ficam no útero.

Aborto poraspiração

Aspiração do feto, des-membrando-o. É o métodoutilizado com algumafrequência nas IVG.

Aborto por injecção

• Injecção de cloreto de potássio no coraçãodo feto. Este método causa a morte do feto eprovoca um parto muito prematuro.

• Injecção de uma solução hipertónica nolíquido amniótico, que mata o feto empoucas horas. 24h mais tarde, a mãe dá àluz um nado-morto. Este tipo de aborto éutilizado pelas interrupções voluntárias dagravidez até aos 9 meses.

Aborto pornascimento parcial

O método é demasiado terrívelpara ser aqui descrito. Estatécnica permite até colhercélulas nervosas vivas do feto.

Pílula abortiva que torna amucosa uterina imprópriapara a sobrevivência doembrião já implantado.Provoca um aborto.

Pílula RU 486

Segundo o momento do ciclo feminino emque é tomada, ora impede a fecundação etem efeito contraceptivo, ora, como algunspensam, impede a nidação do embrião jáconcebido e tem assim um efeito abortivo.

Pílula do dia seguinte ou “con-tracepção” de urgência

O dispositivo intra-uterino e a pílula dodia seguinte podem provocar abortosquando impedem a nidação do embrião.

Dispositivointra-uterino (DIU)

Dispositivo colocado nacavidade uterina, para impediras gravidezes. Tem um efeitocontraceptivo na medida emque é um obstáculo mecânico equímico para os esperma-tozóides e pode impedi-los(embora nem sempre) dealcançar o ovócito. Possuitambém um efeito abortivoprecoce quando um esperma-tozóide consegue, mesmoassim, atingir o ovócito efecundá-lo: nesse caso,impede o embrião de seimplantar no útero e condena-o a morrer (altera a cavidadedo útero impedindo a nidaçãodo embrião).

1 / História do pequeno ser humano 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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10 semanasInterrupção

por opção da mulher

ZIGOTO 1º MÊS 2º MÊS 3º MÊS4º MÊS

5º MÊS

Até ao início dotrabalho de parto, seestivermos perante:a) Indicação tera-pêutica em sentidoestrito (v. na legislação o

art. 142º/1/a do Código Penal);

b) fetos inviáveis

9º MÊS

3 - 5 mm35 mm

20 cm - 250 gr30 cm – 650 gr

6 cm - 20 gr

PÁG.12

Prazos para o abortamento em Portugal

12 semanasIndicação

terapêutica,nos termos referi-dos na legislação:

art. 142.º/1/b

16 semanasEm caso de

crime sexual(ex.: violação)

24 semanasindicação embriopática

ou fetopática(com excepção dosfetos inviáveis)

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Legislação

A Constituição da República Portuguesa reconhece que “a vida humanaé inviolável” (art. 24.º/1), mas tem vindo a assistir-se a umenfraquecimento da tutela da vida intra-uterina. Em matéria de aborto,o legislador afirma o direito à objecção de consciência dos profissionaisde saúde.

Legislação em vigor• Artigo 3.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948:“Todo o indivíduo tem direito à vida”.

• Artigo 2.º/1 da Convenção Europeia para a Protecção dos Direitosdo Homem e das Liberdades Fundamentais (mais conhecida porConvenção Europeia dos Direitos do Homem), de 1950: “O direito dequalquer pessoa à vida é protegido pela lei”.

� Código Penal

Em 1984, foi aprovada a Lei n.º 6/84, de 11 de Maio, que alterou o CódigoPenal, permitindo a realização do aborto (interrupção voluntária dagravidez) quando se verificassem as seguintes indicações: terapêutica(saúde, física ou psíquica, da mãe), embriopática ou fetopática (problemasgraves e incuráveis da saúde do feto) e criminológica (na altura, cobrindoapenas a hipótese de gravidez resultante de violação).

Actualmente, na sequência das alterações introduzidas pela Lei n.º16/2007, de 17 de Abril (“Exclusão da Ilicitude nos Casos de InterrupçãoVoluntária da Gravidez”), o artigo 142.º do Código Penal passou a dispor oseguinte: “1. Não é punível a interrupção da gravidez efectuada por médico,ou sob a sua direção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmentereconhecido e com o consentimento da mulher grávida, quando:

• a) Constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave eirreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica damulher grávida;

• b) Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave eduradoura lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulhergrávida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez;

• c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, deforma incurável, de grave doença ou malformação congénita, e forrealizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, excepcionando-se assituações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá serpraticada a todo o tempo;

• d) A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade eautodeterminação sexual e a interrupção for realizada nas primeiras 16semanas;

• e) For realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.”

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O aborto em perguntasGravidez e solidão:como ultrapassar a situação?

Uma mulher grávida, sobretudo se está sozinha,pode angustiar-se e sentir que os acontecimen-tos a ultrapassam. Tem necessidade de ser ouvi-da, ajudada e, por vezes, socorrida materialmen-te. Se a IVG lhe pode parecer a solução menosmá, ela tem o direito de saber que muitasmulheres, depois, lamentam dolorosamente asua IVG e lamentam não ter feito a escolha davida e do amor desta criança. Ela deve saber que,para se libertar do medo e da solidão, podeencontrar pessoas que estão disponíveis para aescutar, a ajudar e a acompanhar.

O abortamento tem consequên-cias psicológicas na mulher?

Observa-se em muitas mulheres que abortaramum estado depressivo e outras perturbações:culpabilidade, perda da auto-estima, depressão,intenções suicidas, ansiedade, insónias,irritabilidade, perturbações sexuais, pesadelosem que o seu bebé a odeia, a chama… Aaceitação do aborto nem sempre foi feita. Estasconsequências, que podem aparecer logo oumais tarde, são hoje bem conhecidas eidentificadas como “síndrome pós-aborto”.Estes sintomas amplificam-se sempre que estamulher encontra uma grávida, vê um bebé numcarrinho, passa perto de uma maternidade oupensa no aniversário do seu filho…A síndrome “pós-aborto” não se limita a atingira mãe. Pode também afectar as pessoas que lhesão próximas: o pai, os irmãos e irmãs…Existem no mundo mulheres que começam adar o seu testemunho: “Se eu tivesse sabido…”

www.silentnomoreawareness.org

Abortamento: uma mulherpode pedir ajuda?

Uma mulher que equaciona fazer um aborta-mento tem necessidade de ser escutada.Depois de um abortamento, uma mulherdeve pedir ajuda, porque pode encontrar-senuma grande solidão e ter um sentimento deculpabilidade. É necessário que ela possaconstruir o seu futuro, aceitando incluir neleeste acontecimento.

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Para pedir ajuda, antes e depois de um aborto, existe um portal na Webwww.federacao-vida.com.pt • Dr.ª Ana Barquinha • 91 735 46 02www.rachelsvineyard.org • [email protected] Grávida • 21 386 20 20 • 808 20 11 39 • [email protected]ção Famílias • [email protected] • ADAV Coimbra • [email protected]

As mulheres em dificuldades podem encontrar ajuda junto de psicólogos ou de associaçõesespecializadas no acolhimento e na escuta.

2/O abortamento1 / História do pequeno ser humano 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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PÁG.15

Législation

Em França, provocam-se mais de 220.000abortos por ano e já se contabilizam mais de8 milhões de abortos desde 1975. Foramimpedidas de nascer 8 milhões de criançasúnicas, insubstituíveis (sobre o casoportuguês, vide os números indicadosanteriormente, pág. 10).

Os números do abortamento em França sãofáceis de fixar: 1, 2, 3, 4:•1 abortamento por cada 2 mulheres;•1 abortamento por cada 3 nascimentos;•1 abortamento por cada 4 crianças concebidas;•1 IVG por cada 2 nascimentos em mulherescom menos de 25 anos.

O abortamento em França Número fáceis de fixarSerá que existe direitoao aborto?

‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘Com dois meses de idade, eumeço, da cabeça à ponta dasnádegas, três centímetros.Com um microscópio, podemver-se as minhas impressõesdigitais!

Em França, em 1975, o legislador quis fazerpreceder as disposições relativas ao aborto doseguinte princípio de ordem pública (isto é, quese impõe a todos) e convencional (isto é, inscri-to também na Convenção Europeia dos Direitosdo Homem): o direito ao respeito do ser huma-no desde o início da sua vida. Este direito à vidaé conferido a todo o ser humano. A lei Veil, queabriu as portas ao aborto no caso francês, veiointroduzir derrogações e excepções ao referidoprincípio. Em Portugal, a partir de 2007, aoadmitir-se o chamado “aborto a pedido”, isto é,por simples opção da mulher, independente-mente da existência de qualquer indicação (porexemplo, violação), procedeu-se a uma mudan-ça qualitativa do sistema. Assim, nas primeiras10 semanas de gravidez, a vida intra-uterinaficou desprotegida e sujeita à arbitrariedade damulher. Estabeleceu-se ainda que o abortoseria integralmente pago pelo Estado, mesmono caso de prática reiterada.

1 / História do pequeno ser humano 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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O aborto é uma libertaçãoda mulher?

PÁG.16

O aborto foi reivindicado por feministas como o“direito da mulher a dispor do seu corpo”.Porém, biologicamente, o filho não é uma partedo corpo da mãe: é um outro corpo que no delase abriga. A mãe não pode, portanto, dispor dele«livremente».

Além disso, o abortamento é um atentado àprópria natureza da mulher, em que se inscreveo ser mãe. O imenso sofrimento da esterilidademostra bem como a maternidade é constitutivada identidade feminina.

Daí que o direito de matar o próprio filho nãopossa ser fonte de liberdade nem de realizaçãopessoal.

Reflexões éticasMulher/criança:amigo/inimigo?

E no caso de violação?

Por que é que o direito da mulher a eliminar oseu filho deverá ser mais forte do que o direitoda criança à vida? O filho pode ser consideradocomo um agressor injusto? Mesmo que estateoria tenha sido, infelizmente, desenvolvidapor alguns filósofos, o filho é sempre inocente.O próprio símbolo do amor e da paz - os laçosque unem a mãe ao seu bebé - é posto emcausa por uma lei que autoriza o aborto.

Pode compreender-se que a mulher nãodeseje o fruto de uma violação. A mãe tem deser muito bem acompanhada depois de um taltraumatismo, mas matar a criança não anulao drama. É juntar um drama a outro drama. Ocriminoso deve ser punido, mas por que é quea criança inocente deverá, ela, sofrer a penade morte que o criminoso não sofre?© Nikita Vishneveckiy

2/O abortamento1 / História do pequeno ser humano 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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E o pai?O abortamento:pode falar-se de escolha?

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Os problemas materiais...

Abortamento ou adopção?

Em certos casos de aflição extrema, podeacontecer que uma mãe não consiga educar oseu filho. Pode então confiar o seu bebé a paisadoptivos. Contrariamente ao abortamentoem que a criança perde tudo, a adopção ofere-ce-lhe uma alternativa: perde a mãe, masconserva a vida e encontra novos pais.Muitospais estão predispostos a acolher uma criançapor adopção.

“Uma sociedadeque mata os seus filhos

perde ao mesmo tempo a suaalma e a sua esperança.”

Jérôme Lejeune

…de uma mulher são razão suficiente paraabortar, em comparação com o valor da vida deum filho? A melhor maneira de ajudar umamulher em dificuldades não é ajudá-la a eliminaruma vida, mas ajudá-la a resolver as suasdificuldades. Se a mãe não tem possibilidadespara educar o filho, a adopção poderá ser sempreum recurso para ele.

Abortando o meu filho, eu escolho a mortepara ele, como se eu tivesse legitimidade,enquanto ser humano, para matar um dosmeus semelhantes. A lei que me concede estedireito parece tornar esta escolha possível. E,no entanto, cometo um acto de morte. Apesarde, desde 1984, tal não ser sancionado pelajustiça portuguesa, a minha consciência lem-bra-me este princípio fundador: “não mata-rás”. O que é legal não é forçosamente moral.

Não é raro que as jovens grávidas se sintamobrigadas a abortar, porque o pai não querassumir a responsabilidade daquele filho.

Por vezes sucede o contrário: as mulheresabortam contra a vontade do pai. Nesse caso,para proteger o seu filho, o pai não pode opor-se à vontade da mãe. Mas não será ele filhodos dois? Ele é «carne da carne» de cada umdeles, na procriação.

Um jovem pai de 22 anos contou-nos queesteve quase a atirar-se da janela, ao saberque a namorada tinha abortado o filho deambos.

A lei (a francesa, mas também a portuguesa)ignora o pai.

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A contracepção previne oabortamento?

A mentalidade contraceptiva (recusa da crian-ça) conduz a aceitar mais facilmente o aborta-mento como uma solução para o problema deuma gravidez “não desejada”.O Inpes1 faz notar que «uma gravidez não pre-vista é cada vez menos bem aceite» e que«60% das gravidezes não desejadas terminamem abortamento, contra os 40% de há algunsanos».O Ined2 constata igualmente que «a propensãopara recorrer ao abortamento em caso de gra-videz não prevista se acentuou à medida quemelhorou o controlo da natalidade».

1 - Les Français et la contraception, Institut national deprévention et d'éducation pour la santé (Inpes), 5 juin 2007.

2 - La loi Neuwirth quarante ans après : une révolution ina-chevée?, Etude de l'INED : Population et Sociétés, N°439,27 novembre 2007.

Diz-se muitas vezes que a contracepção é oremédio mais eficaz contra o aborto. Será ver-dade?Não é assim, e por 3 razões:•Todas as pílulas contraceptivas produzemuma percentagem de abortamentos precoces;•A mentalidade contraceptiva (recusa da crian-ça) conduz a aceitar mais facilmente o aborta-mento em caso de gravidez “não desejada”;•A contracepção favorece relações sexuaiscom parceiros múltiplos, no quadro de rela-ções instáveis, o que multiplica de facto asocasiões de gravidezes não assumidas.As estatísticas confirmam que o aumento dacontracepção não diminui o número de abortos.A França tem uma das taxas de contracepçãodas mais elevadas da Europa e continua a reali-zar 220.000 abortos por ano.

Todas as pílulas contraceptivas provocamtambém certa percentagem de abortos preco-ces. Com efeito, as pílulas clássicas (combina-das ou estroprogestativas) agem como contra-ceptivos quando bloqueiam a ovulação e modi-ficam o muco cervical para ser hostil aosespermatozóides.Mas quando um destes mecanismos não ésuficiente (1 vez em 10 a ovulação não é blo-queada), actua um terceiro efeito: a modifica-ção da mucosa uterina para impedir a nidaçãodo embrião. Existe então um efeito abortivo,visto que o embrião morre. As pílulas micro-doseadas e os contraceptivos progestativos[“mini-pílula”, “pílula do dia seguinte” (contra-cepção de urgência), injecções contraceptivase implantes de contraceptivos subcutâneos]têm idêntico efeito, mas de modo muito maisforte. Neste caso, produz-se o abortamentosem que a mulher tenha consciência disso.

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Abortamento e contracepçãoMentalidadecontraceptiva e IVG

Pílula contraceptiva eabortamento

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Testemunho de uma mãeTinha eu, então, 22 anos. Mantinha uma relação com um estudante daminha escola havia três anos. Numa noite em que me tinha esquecido dapílula, colocámos um preservativo que, infelizmente, se rompeu. Duassemanas depois, toda a minha vida se desequilibrou: estava grávida… Apartir daí, a solidão que senti e a pressão do pai da criança para que abor-tasse foram imensas: ele não queria esta criança. Confrontámo-nos vio-lentamente durante seis dias, depois cedi, demasiado sozinha, sem cora-gem suficiente e sem apoio da minha família. Ao acordar não havia nadamais: o mundo estava vazio. Dez dias mais tarde, vivi dois dias de hemor-ragias.

Desde há vinte anos que, na data do ‘aniversário’, revivo a angústia e a soli-dão desse momento e sinto horríveis dores de barriga. Em cada nasci-mento dos meus filhos, vivo meses de depressão e tenho pesadelos terrí-veis: mato o meu bebé com as minhas próprias mãos. Hoje, com 40 anos,nem um só dia passa sem que eu pense naquela criança e na parte demim mesma que eu matei ao abortar.

Ema

O aborto e a paz

Se aceitamos que se matem os mais fracos nasnossas próprias famílias, como podemos pediraos povos inimigos que se não matem uns aosoutros?

O aborto restabelece o direito do mais forte.Aceitar o aborto é contrário à paz.

«Eu sinto que o maior destruidor da paz, nomundo de hoje, é o abortamento, porque é umaguerra declarada contra a criança, a morte purae simples da criança inocente, a eliminação dacriança pela própria mãe. Se nós aceitamos quea mãe tenha o direito de matar o seu própriofilho, como poderemos dizer aos outros para senão matarem entre si?»

Madre Teresa

1 / História do pequeno ser humano 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

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1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

O que é o diagnóstico pré-natal?Chama-se diagnóstico pré-natal ou DPN ao conjunto dosexames realizados para a detecção precoce de doenças oude malformações do feto no útero materno. Esta práticafoi regulamentada pela primeira vez, em Portugal, em1997.

O diagnóstico pré-natal inscreve-se na lógica da vigilânciadesejável das gravidezes o mais cedo possível, porque éútil para prever certas anomalias da criança acessíveis aum tratamento precoce.

No entanto, hoje o DPN ultrapassa a política de protecçãoda saúde da mãe e da criança, porque serve, na maiorparte das vezes, para detectar anomalias como atrissomia 21, cujo diagnóstico conduz quase sempre a umadecisão de abortar.

Operação in utero, tendo Samuel, com espinha bífida,21 semanas. Hoje, Samuel tem 10 anos.

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3/O diagnóstico pré-natal

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1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

Como vimos, a lei em Portugal, permite, desde 1984, a realização dainterrupção da gravidez se “houver seguros motivos para prever que onascituro [o embrião ou feto] venha a sofrer de doença grave ou malfor-mação congénita”. Contudo, a fronteira entre uma doença grave e umadoença menos grave é difícil de estabelecer. A pressão da sociedade levahoje os médicos a utilizar o DPN não tanto para tratar a criança, mas parapropor o abortamento por situações cada vez menos graves. No que dizrespeito aos médicos, nasce neles também o receio de passar ao lado deuma anomalia que lhes apontarão não ter sido detectada. Da conjugaçãodestas duas atitudes resulta uma multiplicação dos abortos.

Actualmente, o DPN é muitíssimas vezes utilizado para seleccionar a“qualidade” do filho (mais até, para eliminá-lo), se não se ajustar àexpectativa dos pais ou da sociedade.

Cariótipo >

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Os métodos de diagnóstico pré-natal

A ecografia

É o principal exame de diagnóstico pré-natal. Permite ver obebé através de imagens obtidas com base em ultra--sons. Este exame é habitualmente realizado três vezes aolongo de cada gravidez, às 12, 21 e 33 semanas deamenorreia. É este exame que é utilizado para medir, entreoutros aspectos, a espessura da nuca, que pode estar alteradana trissomia 21(1).

Amniocentese e coriocentese

A amniocentese realiza-se desde o final do terceiro mêsde amenorreia. Consiste na colheita de células fetaispresentes no líquido amniótico, com o fim de determinaro cariótipo do filho (representação do conjunto de cro-mossomas). Este exame delicado provoca acidentalmen-te a morte do feto em mais de 1% dos casos. A coriocen-tese (ou biópsia do trofoblasto), colhendo um pequenofragmento de placenta, permite determinar o cariótiponum momento mais precoce da gravidez, no 1º trimes-tre. O risco de morte fetal é de 1 a 2%.

A trissomia 21 é alvo de um rastreio generalizado.

Rastreio/Diagnóstico: «O rastreio é uma análise que permite calcular o risco de umamulher grávida ter um feto portador de trissomia 21. Um diagnóstico é então proposto àsmulheres em risco. O diagnóstico consiste na análise de cromossomas do feto a partir deuma colheita invasiva (amniocentese ou coriocentese).» (Atelier de l’Agence de bioméde-cine – décembre 2010)

Como avaliar o risco de trissomia 21?O rastreio de trissomia 21 é baseada na idade da mulher, nas dosagens de marcadoresbioquímicos («marcadores séricos») e no grau de translucência (espessura) da nuca dofeto obtida através de ecografia. Em França, desde 23 de Junho de 2009, estas medidasforam reagrupadas e efectuam-se no 1º trimestre (rastreio combinado e precoce).Estes testes são propostos a todas as grávidas e podem ser realizados em 48h.

• Estão em estudo outros testes de rastreio pré-natal da trissomia 21. Uma simplesanálise de sangue da mãe poderá ser suficiente para diagnosticar a doença.

Com este diagnóstico simplificado vai-se banalizar cada vez mais a detecção destadoença e chegar à quase erradicação dos fetos atingidos pela trissomia 21.

1/ Anomalia cromossómica devida à presença de 3 e não 2 cromossomas 21.

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Legislação

Legislação em vigor� Aborto (Interrupção voluntária da gravidez)

• Art. 142º do Código Penal

“1. Não é punível a interrupção da gravidez efectuada por médico, ousob a sua direcção, em estabelecimento de saúde oficial ouoficialmente reconhecido e com o consentimento da mulher grávida,quando:

c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer,de forma incurável, de grave doença ou malformação congénita, e forrealizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, excepcionando-seas situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá serpraticada a todo o tempo”.

� Diagnóstico Pré-Natal (DPN)

• Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro

Artigo 10º/5, “Consideram-se testes pré-natais todos aquelesexecutados antes ou durante uma gravidez, com a finalidade deobtenção de informação genética sobre o embrião ou o feto,considerando-se assim como caso particular destes o diagnósticopré-implantatório”.

• Despacho n.º 5411/1997, de 6 de Agosto

“2.1 População em risco: para efeitos de DPN, são consideradasgrávidas de risco, quando se verifica uma das seguintes situações:

a) Idade superior a 35 anos;

b) Filho anterior portador de cromossomopatia;

c) Progenitor portador de comossomopatia equilibrada;

d) Suspeita ecográfica de anomalia congénita fetal;

e) Alteração de valores de marcadores serológicos maternos;

f) Risco elevado de recorrência de doença genética nãocromossómica;

g) Risco elevado de efeito teratogénico (infeccioso, medicamentosoou outro)”.

� Um caso de jurisprudênciaRecentemente, o Tribunal da Relação do Porto (Acórdão de 1 Março de2012, Processo 9434/06) decidiu: “não nos parece, assim, que possadefender-se um direito a indemnização por violação de um direito ainexistir ou a não nascer, sem consagração legal. De acordo com adoutrina dominante, pedir essa reparação [seria] pedir ao Direito queconsiderasse a morte preferível à vida deficiente, o que é de todoimpossível, por contrariedade aos pilares de um sistema jurídico civi-lizado, devendo favorecer-se sempre a vida sobre a não existência”.

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As técnicas de DPNsão más?

As técnicas de DPN não são, em si mes-mas, nem boas nem más, tudo depende douso que delas se fizer. São boas se servempara detectar doenças que podem ser logotratadas, ou se ajudam os pais a organi-zar-se para acolher uma criança doente.São nefastas se utilizadas para seleccio-nar os bebés antes do nascimento.

Pode falar-sede eugenismo?

Em França é frequente falar-se de euge-nismo a propósito do DPN, visto que, seassociado a uma “detecção maciça”, fre-quentemente conduz a um abortamento.Isto é particularmente verdadeiro para ascrianças com trissomia 21, que são alvo deaborto em 96% dos casos.Acontece que determinada medicina, coma cumplicidade da lei, passou progressiva-mente da protecção da saúde à eliminaçãode certos seres humanos por causa do seupatrimónio genético.Esta deriva lembra os métodos criminososde certas épocas relativamente a indiví-duos deficientes mentais.

O diagnóstico pré-natal em perguntas

‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ O rastreio de trissomia 21é obrigatório?

‘‘ ‘‘

Em França, desde 2011, os médicos sãoobrigados a informar sobre o rastreio datrissomia 21 (quanto à legislação portu-guesa sobre o DPN, vide pág. 23).Os pais não são obrigados a aceitá-la, têmo direito a recusar a análise de sanguedos marcadores séricos, assim como aamniocentese e a biópsia do trofoblasto.

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Quem é juiz do valor deuma vida?

Cada família deve estar preparada para aco-lher uma criança, mesmo doente. O choque danotícia é mais duro para aqueles que nuncapensaram nisso e que não decidiram, no seucoração, acolher o dom desta criança.

Este preconceito condena as pessoas defi-cientes a provar que são felizes para terem odireito de viver. Ninguém pode medir o graude felicidade dos outros. São muitos os tes-temunhos de pessoas, com uma deficiênciagrave, que exprimiram a sua felicidade deviver. Um estudo1 sistemático, que envolveuum grande número de pessoas deficientes,mostrou claramente que estas não se sen-tiam mais infelizes, apesar do seu estado, doque a média da população.

1 - Les personnes handicapees face au diagnosticprenatal. Eliminer avant la naissance ou accompagner,Danièle Moyse (CNRS - Centre National de la RechercheScientifique/EHESS-École de hautes études en sciencessociales) e Nicole Diederiche (INSERM - Institut Nationalde la Santé et de la Recherche Médicale), Ed. Erès, 2011.

Decidir um aborto por razões de doença oude malformação significa fazer um julga-mento sobre o valor da vida de um serhumano: é entender que este feto, porque éportador de uma doença grave, deveria serimpedido de nascer, é pressupor que a suavida tem menos valor que a minha. Podemosperguntar-nos se, muitas vezes, não é pormera conveniência que os que nos rodeiamconsideram que a vida desta criança nãotem valor.

Reflexões éticasAbortar porque o meufilho deficiente nãoserá feliz?

E se eu estivesse à esperade um filho deficiente?

O DPN da trissomia 21 tornoumortal uma doença que o nãoera. Em França, 96% dosfetos doentes detectados sãoeliminados por aborto

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A compaixão relativamente aos pais é um sen-timento que toda a gente, e em particular todoo médico, deve ter. Mas como poderá pensar-se que se aliviaria o sofrimento de um serhumano matando outro ser humano? É neces-sário fazer tudo para suprimir a doença, semeliminar o doente, porque «a medicina é o ódioà doença e o amor ao doente» (Prof. Lejeune).A perda de uma criança é sempre um drama,ainda que seja por abortamento.

Muitos pais sofrem devido ao olhar acusadorsobre o seu filho e sobre si próprios: «Quise-ram esta criança? Não peçam à sociedade quese encarregue dela!» Todos os anos, emFrança, um orçamento enorme - pelo menos100 milhões de euros (2003) - é consa-grado ao diagnóstico pré-natal da tris-somia 21. Fala-se oficialmente detaxas de insucesso para qualificar osbebés portadores de trissomia 21que não foram detectados. Porém,sublinhe-se que em relação a estadoença não existe nenhuma políti-ca de investigação terapêutica. Anossa sociedade torna-se cadavez mais intolerante perante adeficiência, e “o mito da criançaperfeita” avança...

Um médico foi condenado a indemnizar unspais por erro de diagnóstico in utero, relativoao filho profundamente deficiente, NicolasPerruche. O acórdão do Tribunal de Cassa-

ção (Cour de cassation), em 2000, conde-nou uma segunda vez o médico, obri-gando-o a indemnizar Nicolas Perru-che pelo prejuízo de estar vivo! Elenão tinha sido abortado porque omédico não detectara a sua defi-ciência antes do nascimento...Felizmente, “a lei anti-Perruche”,votada em 2002, pôs fim a esta tris-te jurisprudência. Hoje ninguémpode valer-se do facto de ternascido deficiente para obter

quaisquer contrapartidas.Em Portugal, não há uma lei como areferida, embora a questão seja dis-cutida e objecto de algumas decisõesjudiciais (vide um caso na pág. 23).

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Reflexões éticas

“Eu não souuma anomaliacromossómica,

chamo-me Virginie.”Virginie, portadorade trissomia 21

Existe a fobia dadeficiência?

Um mal-estarsocial?

O sofrimentodos pais

* STOP ao racismo cromossómico!Contra a fobia da deficiência.

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TestemunhoA mãe de Eléonore diz:

Desde o nascimento de Eléonore há 24 anos, perguntaram-me muitasvezes: «Mas porquê? Não sabias que ias ter uma criança trissómica? Nãote fizeram uma amniocentese?» No início, eu respondia «Não, nãosabia». Depois acrescentei: «Não sabia e ainda bem. Se o tivesse sabidodurante a gravidez, ter-me-ia certamente assustado e cometido o maiorerro da minha vida.»Há 24 anos eu nada sabia da trissomia; somente algumas ideias pré-concebidas, na maior parte monstruosas, fonte de angústia, de vergonhae antipatia. Teria provavelmente preferido interromper a gravidez. Umavez passado o choque do anúncio da deficiência, Eléonore fez com que serevelasse em nós, seus pais, uma força e uma capacidade de tolerânciaque desconhecíamos totalmente. Hoje, sabemos quanto Eléonore nosenriqueceu com a sua diferença, quanto ela nos dá pela sua alegriaradiosa e quanto ela é feliz por viver. Hoje, avaliamos a extensão da nossaignorância de há 24 anos e mais do que nunca exclamamos: «Que sortepor não termos sabido que este ser desconhecido, que eu transportavaem mim, era portador de trissomia 21.»

Maryse Laloux, 2009www.lesamisdeleonore.com

Eléonore Laloux, portadora de trissomia 21, é a porta-vozde um colectivo de defesa das pessoas com trissomia.

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1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

O que é a PMA?Chama-se usualmente Procriação Medicamente Assistida(PMA) ao conjunto de técnicas que permitem a procriação forado processo natural.

A PMA utiliza os gâmetas: espermatozóides do homem eovócitos da mulher.

Há principalmente duas técnicas:• a inseminação artificial;• a fecundação in vitro com transferência embrionária (FIV).

Micro-injecção de um espermatozóidenum ovócito com recurso a uma micro-pipeta.

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4/Procriação medicamente assistida

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1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos

Os métodos de PMA

As etapas da Fecundação In VItro (FIV)Inseminaçãoartificial

1 - Recolha do esperma.

2 - O esperma é introduzidodirectamente no colo uterinoda mulher.

3 - Todo o resto da gravidez seprocessa naturalmente. Afecundação tem lugar natrompa.

1 - Recolha do esperma do pai edos ovócitos da mãe.

2 - Numa proveta, cada ovócito éposto em contacto comespermatozóides. A fecunda-ção tem lugar. Desenvolvem-se vários embriões.

3a - Em cerca de 10 embriõescriados, somente 1 a 3embriões são transferidospara o útero da mãe.

A gravidez prossegue normalmen-te, salvo se há complicações, mui-tas vezes ligadas a uma gravidezmúltipla.

3b - Os embriões concebidos, masnão transferidos, são:

• destruídos, se não têm suficien-te qualidade para serem coloca-dos no útero materno (em Portu-gal, prevê-se a possibilidade dasua utilização para efeitos deinvestigação: vide legislação,pág. 31);

• congelados, a fim de serem trans-feridos mais tarde, se os seus paisdesejarem ter um novo filho (emPortugal, a lei prevê a possibilida-de da sua utilização no prazo máxi-mo de três anos. Findo este prazo,os embriões poderão ser doados aoutro casal que sofra de infertilida-de, utilizados para fins de investi-gação ou descongelados, o queimplica a sua destruição).

Ovócito recolhido na mãe

Espermatozóide do pai Fecundação na proveta

Tranferência

Embrião

Útero

4/Procriação medicamente assistida

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Os métodos de PMAFecundação in vitrocom InjecçãoIntracitoplasmáticade Espermatozóides

A Injecção Intracitoplasmática deEspermatozóides, ou microinjec-ção, consiste em introduzir direc-tamente o espermatozóide selec-cionado no ovócito. Esta técnicafoi primeiramente utilizada pararesolver uma infertilidade do pai.Com ela corre-se o risco detransmitir à criança as anomaliasgenéticas responsáveis pelainfertilidade do pai.

A taxa de sucesso, sendo maiordo que a da fecundação in vitroclássica, é utilizada para mais demetade das FIV (dados de 2008),mesmo quando o pai não sofre deinfertilidade.

Fecundação in vitrocom dádiva de gâmetas

A lei portuguesa exige que aPMA seja sempre realizada comgâmetas (células sexuais) de, aomenos, um dos cônjuges.

No caso de um dos cônjugesnão poder produzir gâmetas(ausência de espermatozóides,dificuldades de ovulação), a leipermite recorrer a um dadorexterior ao casal, para obterquer espermatozóides, querovócitos.

Fecundação in vitrocommães de substituição

As mães de substituição (vulgo “bar-rigas de aluguer”) são mulheres quedisponibilizam o seu útero quando amulher do casal não tem condiçõesde levar a gravidez a termo. A mãe desubstituição transporta e traz aomundo o filho do casal, concebido invitro e transferido para o seu útero.No momento do nascimento, elaentrega a criança ao casal, receben-do habitualmente uma remunera-ção. Por vezes, a mulher torna-semãe de substituição por inseminaçãodo esperma do pai: neste caso, ela étambém a mãe biológica da criança.Esta prática é ilegal em França e emPortugal, bem como na maioria dospaíses. No entanto, está em cursoentre nós um procedimento legislati-vo tendo em vista permitir, sob certascondições, a maternidade de substi-tuição a título gratuito.

Um número quelevanta problemas

Quantos embriões morrem paraconseguir 1 nascimento? Emmédia concebem-se 17 embriõespara obter um nado-vivo. Osoutros 16 morrem.

1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos4/Procriação medicamente assistida

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Legislação

Legislação em vigor� Lei da Procriação Medicamente Assistida: admissibilidade e âmbitoA Lei da Procriação Medicamente Assistida (Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho)autoriza a prática da PMA para responder ao pedido de um casal infértil eainda “para tratamento de doença grave ou do risco de transmissão dedoenças de origem genética, infecciosas ou outras” (art. 4.º/2).Dispõe o art. 2.º que a lei se aplica “às seguintes técnicas de PMA: a)Inseminação artificial; b) Fertilização in vitro; c) Injecção intracitoplasmáticade espermatozóides; d) Transferência de embriões, gâmetas ou zigotos; e)Diagnóstico genético pré-implantação; f) Outras técnicas laboratoriais demanipulação gamética ou embrionária equivalentes ou subsidiárias”.� Dádiva de gâmetas e embriõesA lei proíbe a compra ou venda de gâmetas (sémen ou óvulos) e deembriões (artigo 18.º), sendo a dádiva anónima (art. 15.º). O art. 10.º/1 estabelece que “Pode recorrer-se à dádiva de ovócitos, deespermatozóides ou de embriões quando, face aos conhecimentosmédico-científicos objectivamente disponíveis, não possa obter-segravidez através do recurso a qualquer outra técnica que utilize osgâmetas dos beneficiários e desde que sejam asseguradas condiçõeseficazes de garantir a qualidade dos gâmetas”.� Fecundação in vitro: criação e transferência de embriõesArt. 24.º ( Princípio geral): “1 – Na fertilização in vitro apenas deve haverlugar à criação dos embriões em número considerado necessário para

o êxito do processo, de acordo com a boa prática clínica e os princípiosdo consentimento informado. 2 – O número de ovócitos a inseminar emcada processo deve ter em conta a situação clínica do casal e aindicação geral de prevenção da gravidez múltipla”.� A lei e a investigação em embriõesA Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina, assinada em1997, que entrou em vigor em Portugal em 2001, prevê que compete acada país autorizar, ou não, a pesquisa em embriões excedentários. Certospaíses, como a Alemanha e a Itália, proíbem-na, outros, como a Grã--Bretanha, a França e Portugal admitem-na.A lei portuguesa autoriza, desde 2006 (Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho, art.9.º/2), a investigação científica em embriões tendo em vista a “prevenção,diagnóstico ou terapia de embriões, de aperfeiçoamento das técnicas dePMA, de constituição de bancos de células estaminais para programas detransplantação ou com quaisquer outras finalidades terapêuticas”. Poderão ser utilizados, nos termos do art. 9.º/4, os embriões: a)“criopreservados, excedentários, em relação aos quais não existanenhum projecto parental”; b) aqueles “cujo estado não permita atransferência ou a criopreservação com fins de procriação”; c) “quesejam portadores de anomalia genética grave, no quadro dodiagnóstico genético pré-implantação” ; d) “obtidos sem recurso àfecundação por espermatozóide”.A criação de embriões humanos para fins de investigação científica éproibida (art. 9.º/1).

1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões 7 / Eutanásia/Dádiva de orgãos4/Procriação medicamente assistida

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Por fecundação in vitro, concebem-se embriões forado corpo materno. Desde a fecundação, estesembriões são seres humanos como os que sãoconcebidos in vivo, mesmo se não forem transferidospara o útero materno. Destruir estes embriões, in vitroou in vivo, é matá-los.

A congelação provoca danosno embrião?

Em 1995, estudos estatísticos evidenciaramque cobaias retiradas da congelação apre-sentavam alterações genéticas devidas aofrio. A congelação de embriões “excedentá-rios” pode, pois, apresentar riscos.

Pode haver consequênciasfísicas numa criança concebidain vitro?

Para além do risco acrescido de nascimento pre-maturo, os estudos científicos evocam umaumento das malformações em crianças conce-bidas por FIV com Injecção Intracitoplasmáticade Espermatozóides de 25% relativamente àscrianças concebidas naturalmente. Observam-seem particular anomalias do sistema cardiovascu-lar, urogenital ou músculo-esquelético. (BEH juin2011: méta-analyse de 25 études internationa-les).

A PMA em perguntas‘‘ ‘‘ ‘‘

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Pode haver consequências psi-cológicas numa criança conce-bida por dádiva de gâmetas?

As crianças nascidas por FIV com dádiva degâmetas podem sofrer dos mesmos proble-mas que certas crianças adoptadas. As crian-ças que não conhecem os pais biológicospodem ser afectadas por isso. Todos nós gos-tamos de saber de onde vimos, quem são osnossos pais, de quem herdámos a cor dosolhos, dos cabelos, o nosso sorriso… Daí ospedidos de determinadas crianças para queseja levantado o anonimato do seu pai e da suamãe biológicos.

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Pode haver consequên-cias para o casal?

As técnicas de PMA são psicolo-gicamente muito exigentes parao casal, por causa da intromissãomédica na intimidade do casal:interrogatório sobre a vida ínti-ma, fecundação do ovócito,transferência e inseminação damulher pelo médico em vez docônjuge.São-no particularmente para opai quando se sente excluído dafecundação do seu filho, produtoda colaboração da mulher e domédico. Os pais sofrem tambémcom a destruição e congelaçãode uma parte dos embriões. (Lescahiers de l'INED n°161, 2008)

‘‘ ‘‘ Existem riscos físicospara a mãe?

A recolha de ovócitos é um pro-cesso técnico duro que com-porta uma prévia e forte esti-mulação ovárica. Em seguida, épreciso proceder à colheita dosovócitos na cavidade abdomi-nal. A hiperestimulação ováricaexige uma hospitalização damulher em 1,9% dos casos(BEH juin 2011) e, raramente,provoca a morte. Existem tam-bém casos de tromboses arte-riais ou venosas.

‘‘ Nos casos de esterili-dade não existe alter-nativa senão a PMA?

A PMA contorna a infertilidadesem a curar. Ora, a medicina podetratar um determinado número decausas médicas da esterilidade.Existem diversas técnicas que aju-dam os casais que se têm porestéreis a procriar: o métodoBillings que fornece um melhorconhecimento dos ciclos de fecun-didade, a NaProTecnologia, maisrecente, que se serve de todas astecnologias referentes à procria-ção (observação da fecundidade,tratamentos médicos, interven-ções cirúrgicas). Este métodoapresenta taxas de sucesso supe-riores à PMA (www.fertilitycare.fr).Por fim, o casal pode ainda deci-dir-se pela adopção e oferecer oseu lar a uma criança.

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A ligação entre a FIV e ainvestigação emembriões

A investigação em embriõesderiva directamente da FIV. Semesta técnica, seria impossíveldispor de embriões “utilizáveis”para a investigação. Somente66% dos embriões congeladosestão ainda incluídos num pro-jecto parental. O número cres-cente de embriões “excedentá-rios” permite a certos investiga-dores armazenar “matéria-prima”. Este número serviumesmo de principal argumentonos debates sobre a lei de bioéti-ca (França): «Mais do que deixarmorrer ou fazer morrer “sem pro-veito” estes milhares de crianças,dêem-nos o direito de os destruirpara realizarmos as nossas inves-tigações».

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Reflexões éticasUm filho aqualquer preço?

Em nome dos Direitos doHomem, a criança não podeser considerada como umobjecto à disposição deoutrem. A criança não é umdireito.

O médico deveria procurarcurar a esterilidade dos paisem vez de os substituir.

Proteger da manipulação os gâmetase a procriação

Os gâmetas não são células como as outras, não têm nenhuma utili-dade para o corpo que as produz. Têm como única função conceberum novo ser humano, transmitindo-lhe o património genético do paie da mãe. Daí que convenha tratá-las com respeito e reservá-las parao projecto de procriação do casal. Por esta razão são insubstituíveis edeveriam ser indisponíveis.

As técnicas de PMA operaram uma revolução retirando os ovócitos docorpo da mulher. Os gâmetas são agora utilizados para a fecundaçãoin vitro (inclusivamente para um outro casal) e para as manipulaçõesque dela derivam: selecção do esperma, selecção dos embriões,experimentação sobre o embrião, diagnóstico pré-implantação, gra-videz para outrem (maternidade de substituição).

Estas manipulações não são éticas, porque dissociam a procriação dasexualidade e transformam os gâmetas em material de laboratório.

“O projectoparental, álibi

do poder médico”Catherine Labrusse-Riou

(jurista)

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Projecto parentale dignidade

A ligação entre a FIV e aselecção de embriões

A expressão “projecto parental”nasceu durante os debates sobreo aborto.

É uma teoria segundo a qual umacriança só é um ser humano se ospais desejarem o seu nascimento.

Ora, o que faz deste filho um serhumano não é o projecto que setem para ele, mas o facto depertencer à espécie humana…

Mesmo quando os pais deixam deter “projecto parental” para o seufilho, este, quer seja embrião ourecém-nascido, não é por issomenos humano.

Pode falar-se de embrião“excedentário”?

Pode dizer-se que um ser humano está a mais?Alguém conhece adultos “excedentários”? Oembrião sem projecto parental torna-se um“objecto” do qual se dispõe e cujo destino estánas nossas mãos:

• Podemos destruí-lo, o que significa matar um“ser humano em ponto pequeno”;

• Podemos fazer dele um objecto de experiên-cias ou de investigação científica, o que equivalea tratar esse ser humano como material delaboratório.

Em França, por tentativa de fecundação in vitro conce-bem-se cerca de 6 a 10 embriões e transferem-se 1 a3 para o útero materno (sobre o quadro legislativo por-tuguês, vide pág. 31). Como se escolhem estesembriões?

• A equipa médica selecciona os que parecem ser bas-tante fortes para sobreviver. Os que não têm estasqualidades são destruídos. Esta é a 1ª selecção.

• Depois, se mais de 2 embriões se desenvolvem nor-malmente no útero ao longo da gravidez, propõe-se àmãe uma “redução embrionária”, isto é, o aborto de 1ou de 2 embriões, para evitar os riscos de uma gravi-dez múltipla. Esta é a 2ª selecção.

O recurso à fecundação em proveta, realizada noexterior do corpo da mulher, favorece a selecçãoqualitativa dos embriões, o que é uma forma deeugenismo. Não há FIV sem selecção de embriões.Determinadas selecções não são possíveis sem orecurso à FIV. É o caso da técnica do diagnósticopré-implantação (cfr. o capítulo DPI).

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PÁG.36

Reflexões éticas

Eu tenho5 pais e tu?

«Eu nasci de uma FIV efec-tuada com o esperma deum homem, o meu pai bio-lógico, e o óvulo de umadadora, a minha mãe bioló-gica.

Depois cresci no corpo deuma mãe de aluguer.

Agora vivo com os meuspais adoptivos...

Quem são os meus pais?»

Usar embriões paraa investigação?Não é legítimo utilizar embriõeshumanos para a investigação, por-que a investigação instrumentalizae mata estes embriões. Ora, sãoseres humanos e não existe o direi-to de dispor da vida de um serhumano, ainda que seja para salvaruma outra vida. “Age de tal maneiraque trates a humanidade como umfim e nunca simplesmente como ummeio.” (Kant)

Congelarembriõeshumanos?Só em França existem maisde 165.000 embriões conge-lados. São seres humanos.Ocorreria a alguém a ideiade congelar o próprio filho àespera de ter tempo de seocupar dele?

Em 2004, havia emFrança pelo menos120.000 embriõescongelados. Em 2009eram 165.591.

(Agência de Biomedicina 2010)

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PÁG.37

Testemunho

Penso incessantemente nos embriões congelados...

«Mãe de uma menina de três meses concebida por FIV, pensosem cessar nos outros oito embriões congelados. Não tendo jáoutro projecto parental e não conseguindo aceitar a suadestruição, não sei que decisão tomar...

A equipa médica que nos permitiu realizar o nosso desejo estáausente em todas estas questões...

Agradeço a vossa ajuda.»

AnneCitado no blog http://bioethique.catholique.fr

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O que é o diagnóstico pré-implantação?É uma técnica de selecção de embriões, utilizadapor casais férteis portadores de uma doençagenética hereditária. Essa técnica, com afecundação in vitro1, pretende obter onascimento de um bebé não portador dessadoença ou de um bebé que tenha umadeterminada característica genética desejada.Em certos casos, é autorizada, em Portugal, pelaLei da Procriação Medicamente Assistida, de2006.

Depois de concebidos vários embriões,selecciona-se aquele que será implantado noútero materno.

Os embriões portadores da doença ou que nãotenham a característica genética desejada sãodestruídos.

[1] Ver o Capítulo sobre Procriação Medicamente Assistida

PÁG.38

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Os métodos do DPI1 - Fecundação

in vitro

Geram-se por fecundação invitro 6 a 10 embriões que sedeixam desenvolver atéalcançarem o estádio de 8células. Recolhem-se 1 ou 2células de cada um.

2 - Análise 3 - Selecção

Analisam-se estas célulaspara saber se o embrião é por-tador da doença procurada.

Um caso particular de selecção: o bebé-medicamento

Transferem-se para o útero 1 ou2 embriões não portadores daanomalia procurada. Se osoutros embriões são saudáveis,congelam-se. Os restantes sãodestruídos ou utilizados parainvestigação.

Um “bebé-medicamento” (chamado impropriamente bebé “da dupla esperança”) é um bebé seleccionadocom recurso a DPI, num quadro de FIV, para tratar um irmão ou irmã portadores de doença genética grave.Para que o tratamento resulte é preciso que o embrião responda a dois critérios: não deve ser portador dadoença e deve ser compatível com o seu irmão ou irmã doente. O DPI é a técnica que permite esta duplatriagem. É preciso conceber dezenas de embriões para obter o nascimento de um bebé-medicamento. Oprimeiro “bebé-medicamento” foi Adam Nash, nascido nos EUA em 2000. A Lei da Procriação MedicamenteAssistida autoriza esta prática em Portugal.

In vitro (por FIV) ou in vivo (nocorpo feminino), a destrui-ção de um embrião doente ématar uma vida humana.

“O racismo cromossómicoé horrível como todas asoutras formas de racismo”

Jérôme Lejeune

5/O diagnóstico pré-implantação

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PÁG.40

Legislação

Legislação em vigor� Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho, relativa à ProcriaçãoMedicamente Assistida

Art. 28.º (Rastreio de aneuploidias e diagnóstico genéticopré-implantação)

“1 - O diagnóstico genético pré-implantação (DGPI) tem como objectivoa identificação de embriões não portadores de anomalia grave, antesda sua transferência para o útero da mulher, através do recurso atécnicas de PMA, ou para os efeitos previstos no n.º 3 do artigo 7.º

2 - É permitida a aplicação, sob orientação de médico especialistaresponsável, do rastreio genético de aneuploidias nos embriões atransferir com vista a diminuir o risco de alterações cromossómicase assim aumentar as possibilidades de sucesso das técnicas de PMA.

3 - É permitida a aplicação, sob orientação de médico especialistaresponsável, das técnicas de DGPI que tenham reconhecido valorcientífico para diagnóstico, tratamento ou prevenção de doençasgenéticas graves, como tal considerado pelo Conselho Nacional deProcriação medicamente Assistida”.

Art. 29.º (Aplicações)

“1 - O DGPI destina-se a pessoas provenientes de famílias comalterações que causam morte precoce ou doença grave, quandoexista risco elevado de transmissão à sua descendência.

2 - As indicações médicas específicas para possível DGPI sãodeterminadas pelas boas práticas correntes e constam dasrecomendações das organizações profissionais nacionais einternacionais da área, sendo revistas periodicamente”.

Art. 7.º (Finalidades proibidas)

“2 - As técnicas de PMA não podem ser utilizadas para conseguirmelhorar determinadas características não médicas do nascituro,designadamente a escolha do sexo.

3 - Exceptuam-se do disposto no número anterior os casos em quehaja risco elevado de doença genética ligada ao sexo, e para a qualnão seja ainda possível a detecção directa por diagnóstico pré-natalou diagnóstico genético pré-implantação, ou quando seja ponderosaa necessidade de obter grupo HLA (human leukocyte antigen)compatível para efeitos de tratamento de doença grave.

5 - É proibida a aplicação das técnicas de diagnóstico genético pré-implantação em doenças multifactoriais onde o valor preditivo doteste genético seja muito baixo”.

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PÁG.41

O DPI curauma criança?

Em 1999, soube-se que Valentim era o pri-meiro filho nascido em França não portadorde uma doença “graças” ao diagnóstico pré-implantação. Muitas pessoas acreditaramque ele tinha sido curado. É verdade? Não. ODPI não trata nem cura ninguém. A criançaconcebida por DPI nasce saudável, porqueisenta de uma doença que nunca teve. O DPIpermite triar os embriões a fim de transferirum embrião saudável e eliminar osembriões que são doentes. Valentim pôdenascer, porque estava de boa saúde, se nãoteria sido suprimido como os outros.

O DPI evita um aborto?

A prática do DPI favorece o desenvolvimentode uma mentalidade de selecção e de elimina-ção. Neste sentido, não é correcto afirmar queo DPI evita um aborto. Depois de um DPI,quando os embriões transferidos in utero sedesenvolvem, é-lhes feito um diagnóstico pré-natal (DPN) para certificação de que não sãoportadores de nenhuma doença como, porexemplo, a trissomia 21. Caso contrário, sãoabortados. Para além disso, o próprio DPI pre-tende detectar embriões doentes para, deseguida, os destruir. No plano ético, equivale,portanto, a um aborto.

O diagnóstico pré-implantação em perguntas

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Para as crianças doentes detectadas o resul-tado é o mesmo: qualquer que seja a data,são mortas. Não há, pois, hierarquia de valo-res. Para os pais ou para os irmãos, destruirum embrião in vitro é aparentemente menosduro do que fazê-lo mais tarde na gravidez. Éque ainda não estão ligados afectivamente aoembrião como virão a estar a um bebé dealguns meses. Contudo, mesmo não tendoconsciência disso, o significado moral do actoé idêntico. De resto, podem surgir até síndro-mes pós-aborto. Ignorar a verdade do actonão liberta.

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Dezenas de embriõespara 1 nascimento

No plano ético é melhorfazer um DPI do que umaborto tardio?

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O “bebé-medicamento” éuma escolha para os pais?

A caminho da criação deum “super-homem”?

O DPI é uma técnica de detecção precoce dedoenças genéticas. Favorece a eliminação decategorias de sujeitos (embriões), tendo em contao seu código genético. Pode-se, assim, falar deeugenismo. Para o Prof. Jacques Testart1 «o diag-nóstico pré-implantação é uma promessa de euge-nismo discreto, consensual e em grande escala. […]Futuramente o uso do diagnóstico pré-implantaçãoirá expandir-se brutalmente».1- Jacques Testart, biólogo pioneiro francês da fecundação in vitro.

Há muitas pessoas que denunciam que o DPI é aimposição dissimulada de uma norma genética.«Num futuro muito próximo, os pais refugiar-se-ãoprudentemente na procriação artificial para garantiro quociente genético da sua progenitura. Amanhã,na sala de espera dos centros de planeamento fami-liar, produto de uma campanha panfletária para aprevenção das taras genéticas, surgirá afixado estenovo slogan: o sexo para o prazer; a proveta para obebé!» (N.T.: em francês, no original: “Le sexe pourle frisson; l éprouvette pour le nourrisson!”)2»2- Le Chiffre de la Vie,Grégory Bénichou, Ed. Seuil, sept. 2002

Propondo aos pais não estéreis que recorramà FIV para selecionar o seu filho, segundo cri-térios genéticos, o DPI faz o jogo do transuma-nismo (ou pós-humanismo). Nascida nos anos90, nos EUA, a ideologia transumanista afirmaque as ciências e as técnicas podem melhoraras características físicas e mentais do homeme reivindica o aparecimento de uma nova espé-cie.Assim, o “tecnoprofeta” R. Kurzweil recusa«todas as espécies de constrangimentos, limi-tes e interdições» que, em nome da prudênciaou da ética, impediriam o homem de ir “maislonge”. Os que decidirem permanecer huma-nos e recusarem “progredir” constituirão umasubespécie.

Compreende-se o sofrimento dos pais peran-te a doença de um filho. Mas será ético gerarum filho para salvar outro? Quantos embriõesteremos de conceber e depois eliminar paraque só um sobreviva? Mesmo que seja muitoamado pelos pais, o “bebé-medicamento” é,de facto, tratado como um objecto em funçãodo acto pelo qual foi chamado à vida. Foi esco-lhido pelo que vai poder dar a um doente. Como reagirá uma criança quando tomarconsciência de que existe porque foi um medi-camento para um irmão mais velho? E comoreagirá se não tiver sido “capaz” de curar o seuirmão mais velho que, apesar de tudo, morre?Como é que os pais olharão para este filho quenão “soube” salvar o seu irmão, apesar detodos os esforços?Como é que o irmão mais velho viverá aosaber que dezenas de embriões foram des-truídos, porque não lhe serviriam de medica-mento?

Reflexões éticas…O DPI é uma práticaeugénica?

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TestemunhosJacques Testard, “pai” do primeiro bébé proveta francês:«O diagnóstico genético pré-implantação é o meio graças ao qual oeugenismo poderá atingir os seus fins.»

Jaques Cohen, responsável por um laboratório americano,pioneiro em procriação humana:«Nos próximos dez a vinte anos, seremos capazes de passar pelocrivo cada embrião humano para detectar não só todas as anomaliascromossómicas numéricas, como muitas outras doenças genéticas.Num futuro próximo, será possível estabelecer as predisposiçõesindividuais para as doenças cardiovasculares, para todos os tipos decancro e para as doenças infecciosas. Num futuro mais ou menoslongínquo, poderemos certamente identificar diversos traçosgenéticos como a estatura, a calvície, a obesidade, a cor dos cabelosou da pele e mesmo o Q.I. Assim, pouco a pouco, o fim último do DPIpoderia muito bem ser o de normalizar a espécie.»

Citados em Le Monde, a 5 de Junho de 2001

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Pesquisa com células estaminais: que desafios?

Chamamos células estaminais às células imaturas, não diferenciadas,capazes de produzir numerosos tipos de células de diferentes tecidos doorganismo adulto. São “células-mãe”. São recolhidas e cultivadas tendo emvista a pesquisa e o tratamento de algumas doenças.

Distinguimos células estaminais adultas, umbilicais, placentárias, fetais,pluripotentes induzidas e embrionárias.

Estas células permitem obter, em certas doenças, resultados terapêuticosinteressantes.

No entanto, a utilização de uma das categorias referidas, as célulasestaminais embrionárias humanas, é imoral, porque estas são obtidas apartir da destruição de embriões humanos.

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Tipos de células estaminais humanas em funçãodo desenvolvimento do ser humano

Embrião deuma célula

Células estaminaisembrionárias

Embrião de2 a 7 dias

Células estaminaisembrionárias

Fetode 3 meses

Células estaminaisfetais

Adulto

Células estaminaisadultas

Bebé

Células estaminais do sangue docordão umbilical, células estaminaisamnióticas e células estaminais pla-

centárias

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Características e tipos de células estaminais

Três tipos de células estaminais

1 - Células estaminais totipotentes:são capazes de gerar todos os tipos decélulas do organismo (incluindo a placenta):> células embrionárias do zigoto.

2 - Células estaminais pluripotentes:são capazes de gerar, não um novoorganismo, mas todos os tipos de células doorganismo (à excepção da placenta):> células estaminais embrionárias;> células pluripotentes induzidas (inducedpluripotent stemcells).

3 - Células estaminais multipotentes:são capazes de gerar um grande número detipos celulares, mas não todos:> células estaminais adultas;> células estaminais umbilicais;> células estaminais amnióticas, placentárias;> células estaminais fetais.

Donde provêm ascélulas multipotentes?

As células estaminais adultas são extraídasdo corpo (criança ou adulto). Ex: pele, mús-culo, sangue, medula óssea, gordura, etc…

As células estaminais umbilicais são extraí-das do sangue do cordão umbilical.

As células estaminais amnióticas e placentá-rias provêm do líquido amniótico e da pla-centa.

As células estaminais fetais são extraídas defetos abortados.

Donde provêm ascélulas pluripotentes?

As células estaminais embrionárias sãoextraídas de embriões, ditos “excedentários”,concebidos no quadro da procriação medica-mente assistida e depois abandonados àinvestigação. Estes embriões, descongelados,são reanimados durante alguns dias, até aoestádio blastocisto (6 a 7 dias), antes de seremdestruídos para colheita das referidas células.

As células IPS são células retiradas do corpoadulto (ex: pele) que, para se tornarem indife-renciadas, primeiro são desprogramadas e,depois, reprogramadas. Podem, em seguida,transformar-se em numerosos tipos de teci-dos, de onde o seu nome: células estaminaispluripotentes induzidas ou células IPS. Estadescoberta decisiva, feita pelo Prof. Yamanakaem 2006, permite obter células pluripotentessem destruir embriões humanos.

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Utilização das células estaminais

Células estaminais e terapia celular

A terapia celular designa os implantes de células para regenerar as funções de um tecido ou deum órgão quando estas estão alteradas. Estas terapias beneficiaram dos recentes avanços cientí-ficos relativos às células estaminais.

Neste contexto, as células estaminais adultas são já utilizadas no tratamento de doenças do san-gue (leucemias), na regeneração de ferimentos, de queimaduras, de tendões e na engenharia detecidos (reconstituição da traqueia). Certas células, nomeadamente do cordão, permitem regene-rar células das paredes dos vasos. Algumas estão em vias de avaliação no tratamento de criançasque sofrem de paralisia cerebral, da doença de Crabbe…

Se a utilização destas terapias, que beneficiaram dos progressos relativos às células estaminais,permite, por um lado, criar expectativas de regeneração de órgãos (medicina regenerativa), poroutro, não nos deve fazer perder a consciência de que estas células não curarão todas as doenças.

Células estaminais e investigação

Actualmente, as células embrionárias huma-nas e as células IPS não são utilizadas paratratar pacientes. Servem como modelo paraestudar as doenças e seleccionar moléculas,o que se revela útil na pesquisa de medica-mentos.

Porém, trabalhos recentes mostram que ascélulas IPS poderiam também ter resultadosterapêuticos (ex: êxito no tratamento da lesãodo miocárdio, em experiências com ratos).

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Pontos fortes / pontos fracos

Células estaminais embrionárias humanas Células IPS

As mesmas capacidades de proliferação e de diferenciação

Provocam tumores cancerosos

Actualmente não têm aplicação clínica

Interessantes para a selecção de moléculas e para a criação de modelos de doenças

Rejeição imunitária, porque não provêmdo paciente, mas do embrião

Modelos patológicos limitados àsdoenças genéticas

A sua obtenção supõe a destruiçãode embriões humanos

Sem rejeição se provêm dopaciente

Produzem modelos patológicosdirectamente a partir de células dos pacientes

Sem objecções éticas

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Legislação em vigor

� Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho (PMA)

Artigo 9.º (Investigação com recurso a embriões)

“1 - É proibida a criação de embriões através da PMA com o objectivodeliberado da sua utilização na investigação científica.

2 - É, no entanto, lícita a investigação científica em embriões com oobjectivo de prevenção, diagnóstico ou terapia de embriões, deaperfeiçoamento das técnicas da PMA, de constituição de bancos decélulas estaminais para programas de transplantação ou comquaisquer outras finalidades terapêuticas.

3 - O recurso a embriões para investigação científica só pode serpermitido desde que seja razoável esperar que daí possa resultarbenefício para a humanidade, dependendo cada projecto científico deapreciação e decisão do Conselho Nacional de Procriaçãomedicamente Assistida”.

Vide também legislação, pág. 31 (A lei e a investigação em embriões)

� Patentes e embrião humanoCódigo da Propriedade Industrial

Artigo 53.º Limitações quanto à patente

“1 - As invenções cuja exploração comercial seja contrária à lei, àordem pública, à saúde pública e aos bons costumes são excluídasda patenteabilidade, não podendo a exploração ser consideradacomo tal pelo simples facto de ser proibida por disposição legal ouregulamentar.

2 – Nos termos do número anterior não são patenteáveis,nomeadamente:

c) As utilizações de embriões humanos para fins industriais oucomerciais”.

O Tribunal de Justiça da União Europeia, num acórdão de 18 deOutubro de 2011 (Brüstle contra Greenpeace) considerou que a“exclusão da patenteabilidade relativa à utilização de embriõeshumanos para fins industriais ou comerciais abrange também autilização para fins de investigação científica, só podendo ser objectode uma patente a utilização para fins terapêuticos ou de diagnósticoaplicável ao embrião humano e que lhe é útil”.

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Legislação

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Será que mepodem fabricarem milhares deexemplares paraa investigação?

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E o sangue do cordão?

Actualmente, em França, somente 20% dascrianças à espera de transplante de medulaóssea beneficiaram de um transplante.

O sangue do cordão umbilical, rico em célu-las estaminais, é muito útil para substituir ostransplantes de medula óssea sobretudo emcrianças.

Em França, 15.000 cordões umbilicaisseriam suficientes para cobrir as necessida-des hematopoiéticas (patologias do sangue).A França está muito atrasada no que respei-ta à colheita e à conservação de sangue docordão umbilical.

E o embrião animal?

Para estudar o desenvolvimento embrionário, osinvestigadores podem utilizar embriões de ani-mais, o que não coloca nenhum problema ético.

O Prof. Yamanaka fez a descoberta capital dascélulas IPS graças aos seus trabalhos comembriões de rato. A destruição dos embriõeshumanos não é necessária para progredir naciência e melhorar os conhecimentos.

Em foco‘‘ ‘‘ ‘‘

E a clonagem?

A clonagem é uma manipulação destinada areproduzir, assexuadamente, um ser humanogeneticamente idêntico ao original. Substitui-se o núcleo de um óvulo pelo núcleo de umacélula (não sexual) colhida do organismo quese pretende clonar. Teoricamente, a clonagemreprodutiva, que visa reproduzir um ser desti-nado a nascer, distingue-se da clonagem dita«terapêutica» (clonagem útil para a investiga-ção), por meio da qual se interrompe o proces-so de desenvolvimento do embrião ao fim deuma semana, para utilizar as suas célulasestaminais. Neste momento, a clonagemhumana para ter filhos é proibida. Em Portu-gal, para além do Protocolo Adicional à Con-venção sobre os Direitos do Homem e a Bio-medicina, que proíbe a clonagem de sereshumanos, veja-se a Lei da Procriação Medica-mente Assistida, artigos 7.º/1 e 36.º. Infeliz-mente, admite-se a chamada clonagem parafins de investigação (art. 9.º/4).

‘‘ ‘‘‘‘

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Qualquer que seja o modo deconcepção, por fecundação ou porclonagem, o embrião em desen-volvimento é um ser vivo. Se é umembrião humano, é um ser humano.

Objecção de consciência

Devido aos atentados à vida humana provocados pelainvestigação com embriões humanos, “nenhum investi-gador, nenhum engenheiro, técnico ou auxiliar de investiga-ção, nenhum médico ou auxiliar médico é obrigado a parti-cipar, a qualquer título, nas investigações com embriõeshumanos ou células embrionárias”. Conselho da Europa,Resolução 1763 (2010) – O direito à objecção de consciên-cia no quadro dos cuidados médicos garantidos por lei.Em Portugal, o direito à objecção de consciência está pre-visto no art. 41.º/6 da Constituição da República Portu-guesa, conhecendo diferentes concretizações, nomeada-mente na Lei da Procriação Medicamente Assistida.

Reflexões éticasA investigação comembriões é umaatitude ética?

A investigação com embriões humanos écontrária à ética porque destrói sereshumanos. É tanto mais criticável quantoexistem meios alternativos, como a inves-tigação em animais e em células IPS. Alémdisso, está a financiar-se uma pesquisanão terapêutica em detrimento de umaoutra potencialmente terapêutica. A inves-tigação em embriões humanos baseia-seno princípio de que um ser humano podeser destruído para servir de matéria-primaa um outro ser humano ou até mesmoapenas para praticar investigação.Podemos tratar-nos a qualquer preço,“ao preço de um ser humano”, mesmoque este seja muito jovem? Se respon-dermos afirmativamente, será moral-mente tão grave como aceitar utilizarcrianças das favelas para lhes extrairórgãos à peça (rins, olhos, etc).

Novos escravos?

Com a utilização de embriões humanospara a pesquisa está a usar-se uma clas-se de humanos para satisfazer as necessi-dades de outros humanos.

Militantes da Greenpeace manifestam-sediante do parlamento alemão contra a

patenteabilidade da vida humana.

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Todos os países estão de acordo emconsiderar a clonagem reprodutivacomo um crime. Porém, certos paí-ses aceitam a clonagem para efeitosde pesquisa. No entanto, neste caso,cria-se um embrião por clonagempara, em seguida, o destruir e o utili-zar como material de investigação.

Assim, no plano ético, a clonagemreprodutiva que, apesar de tudo, temcomo objectivo dar a vida, é menosgrave do que a clonagem terapêuticacujo objectivo é criar um novo serhumano para dele se servir na inves-tigação como armazém de peçasavulsas.

O embrião não pode ser patenteado

A 18 de Outubro de 2011, o Tribunal Europeu de Justiça proibiu acertificação de um processo que utiliza embriões humanos e osconduz à destruição. Os juízes europeus rejeitaram toda a possibi-lidade de patenteabilidade desde que “o respeito devido à dignida-de do ser humano possa ser afectado”: deste modo, “deve serexcluído da patenteabilidade um processo que, utilizando a extrac-ção de células estaminais obtidas a partir de um embrião humanono estado de blastocisto, conduza à destruição do embrião”. Noque respeita à noção de embrião humano, o Tribunal Europeu deJustiça insiste em que esta seja entendida num sentido lato: “todoo óvulo humano, a partir da fecundação, deve ser consideradocomo um embrião humano”, assim como “o óvulo humano nãofecundado, no qual foi implantado o núcleo de uma célula huma-na amadurecida, e o óvulo não fecundado que foi estimulado paraefeitos de divisão e desenvolvimento por via de partenogénese.Ainda que estes organismos não tenham propriamente sido objec-to de uma fecundação, são, como decorre das observações escri-tas apresentadas no Tribunal de Justiça, por força da técnica utili-zada par os obter, susceptíveis de desencadear o processo dedesenvolvimento de um ser humano como o embrião criado pelafecundação de um óvulo”.

Células adultasou célulasembrionárias?

Porquê esta obstinação nainvestigação com embriões,procedimento que ainda nãoprovou a sua eficácia e que nãoé ético, visto destruir umembrião humano, se as célu-las estaminais adultas sãopromissoras e não apresen-tam nenhum problema ético?

Teremos o direito de retardar adescoberta de tratamentos,estando a financiar uma inves-tigação menos promissora?

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Reflexões éticas

Qual é o problemaético que a clonagemhumana apresenta?

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TestemunhoIan Wilmut foi o primeiro investigador do mundoa conseguir clonar um mamífero, a ovelha Dolly.

Depois da descoberta das células IPS, em 2006, declarouque ia abandonar a clonagem. «Antes da descoberta dascélulas IPS, tentávamos fazes derivar células estaminais deembriões produzidos por clonagem. Nesta fase, ninguém oconseguiu. Mas agora, a desdiferenciação de células somá-ticas (células IPS) demonstrou que o mesmo objectivo podiaser alcançado utilizando directamente as células somáticasdos doentes. Com as células IPS a vantagem terapêutica émaior: são geneticamente idênticas ao paciente, permitemmodelizar patologias e investigar rapidamente medicamen-tos para tratar a montante os sintomas da doença. A técni-ca da clonagem já não é uma técnica de actualidade. Se aciência oferece pistas mais rápidas, interessantes e efica-zes, a minha opinião é que sejam seguidas.»

Genethique.org, Maio de 2009

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Eutanásia: que implicações?

Cada fase da nossa vida tem um valor insubstituível. O final da vida étalvez a fase mais importante.

Este capítulo diz respeito ao final da vida e à questão da eutanásia.Apoiar uma pessoa no final de vida é ocasião de lhe mostrar que elatem valor aos nossos olhos, que ela é digna de estima e atenção. Étambém aliviar a sua dor e o seu desânimo, com cuidados paliativos,se disso tiver necessidade.

> Este capítulo aborda igualmente a dádiva de órgãos recolhidos deum dador morto ou vivo.

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Os cuidados paliativos

Um doente deve sempre ser cuida-do. Os cuidados paliativos não têmcomo finalidade curar, mas pres-tar assistência ao doente emfinal de vida. Para além dos cuida-dos elementares, incluem ainda ostratamentos necessários para ali-viar o sofrimento e reduzir aangústia.

A equipa faz todos os possíveispara ajudar a pessoa doente amanter a sua capacidade de comu-nicar e a sua autonomia. Asseguraacompanhamento psicológico eoferece presença e escuta para irao encontro das expectativas dodoente e da família.

Os cuidados Alívio da dor A eutanásia

A luta contra todo o tipo desofrimento é essencial, deven-do dar-se sempre um lugarprivilegiado à envolvência afec-tiva do doente. Os cuidados ater em casa ou no hospital são:

• cuidados médicos: a lutacontra a dor é uma prioridadee nela se aplicam todos osmeios conhecidos;

• cuidados psicológicos: aten-ção e presença delicada, musi-coterapia, acompanhamentoespiritual…;

• cuidados corporais: massa-gens...;

• cuidados que dão um lugarprivilegiado ao conjunto daspessoas que rodeiam o doente.

O alívio da dor pode necessitarde analgésicos muito fortescomo a morfina e os neurolépti-cos, que por vezes têm comoefeito secundário levar involun-tariamente à morte do paciente.Neste caso, o objectivo não éprovocar a morte, mas aliviar ador (contrariamente à eutanásia,que suprime o paciente em vezde suprimir a dor).

A eutanásia é sempre uma acção ouuma omissão deliberada cujaintenção é dar a morte ao paciente:injectar um produto letal ou parar oscuidados elementares (alimentação,hidratação…).

Em vez de provocar a morte com opretexto de abreviar o sofrimento,como reclamam os defensores daeutanásia, é preciso aliviar a dor até àmorte natural.

Morrer é um verboque faz medo, mas,ese for o derradeiromomento da nossavida para amar?

Cuidados Paliativos/Eutanásia

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LegislaçãoLegislação em vigor� Código PenalEm Portugal, não há normas criminais específicas sobre a eutanásia.No entanto, o artigo 134.º (Homicídio a pedido da vítima) pune aeutanásia a pedido (eutanásia voluntária):

“1. Quem matar outra pessoa determinado por pedido sério, instante eexpresso que ela lhe tenha feito é punido com pena de prisão até 3 anos.

2. A tentativa é punível”.

Já o artigo 133.º do Código Penal criminaliza a eutanásiainvoluntária: “Quem matar outra pessoa dominado porcompreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou motivo derelevante valor social ou moral, que diminuam sensivelmente a suaculpa, é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos”.

� Deontologia médica | Código Deontológico da Ordem dos MédicosArtigo 57.º (Princípio geral)

“1 - O médico deve respeitar a dignidade do doente no momento dofim da vida.

2 - Ao médico é vedada a ajuda ao suicídio, a eutanásia e a distanásia[encarniçamento terapêutico]”.

Artigo 58.º (Cuidados paliativos)

“1. Nas situações de doenças avançadas e progressivas cujos tratamentosnão permitem reverter a sua evolução natural, o médico deve passar a

dirigir a sua acção para o bem-estar dos doentes, evitando utilizar meiosfúteis de diagnóstico e terapêutica que podem por si próprios induzir maissofrimento, sem que daí advenha qualquer benefício.

2. Os cuidados paliativos, com o objectivo de minimizar o sofrimentoe melhorar tanto quanto possível a qualidade de vida dos doentes,constituem o padrão do tratamento nestas situações e a forma maiscondizente com a dignidade do ser humano”.

Artigo 59.º (Morte)

“1 - O uso de meios de suporte artificial de funções vitais deve serinterrompido após o diagnóstico de morte do tronco cerebral, com excepçãodas situações em que se proceda à recolha de órgãos para transplante.

2 - Este diagnóstico e correspondente declaração devem serverificados, processados e assumidos de acordo com os critériosdefinidos pela Ordem.

3 - O uso de meios extraordinários de manutenção de vida deve serinterrompido nos casos irrecuperáveis de prognóstico seguramentefatal e próximo, quando da continuação de tais terapêuticas nãoresulte benefício para o doente.

4 - O uso de meios extraordinários de manutenção da vida não deveser iniciado ou continuado contra a vontade do doente.

5 - Não se consideram meios extraordinários de manutenção da vida,mesmo que administrados por via artificial, a hidratação e aalimentação; nem a administração por meios simples de pequenosdébitos de oxigénio suplementar”.

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Eutanásia/encarniçamentoterapêutico

É essencial fazer a distinção entre a eutanásia e ainterrupção de tratamentos desproporcionados(encarniçamento terapêutico).

O encarniçamento terapêutico consiste em pros-seguir um tratamento que se tornou inútil, dadoo estado do paciente. No entanto, é sempre indis-pensável prosseguir com os cuidados necessá-rios.

O médico deve evitar toda a obstinação insensata,por exemplo, um tratamento que mostrou a suaineficácia ou que tem por única intenção prolon-gar artificialmente a vida do paciente. Pelo con-trário, o médico não deve abandonar os cuidadosque asseguram ao doente a manutenção dassuas necessidades básicas: higiene, alimentação,hidratação, conforto geral e comunicação, etc…

A eutanásia em perguntas

‘‘ ‘‘

Em França, a lei Léonetti mantém a interdi-ção da eutanásia. No entanto, é necessárioprecisar que não considera a alimentação ea hidratação como cuidados naturais devi-dos aos pacientes, mas sim como tratamen-tos que podem ser interrompidos a pedidodo paciente. Ora, a sua supressão condena odoente a morrer de fome e sede.

Em Portugal, para além da proibição daeutanásia, o Código Deontológico da Ordemdos Médicos dispõe que “não se considerammeios extraordinários de manutenção davida, mesmo que administrados por via arti-ficial, a hidratação e a alimentação” (videlegislação, pág. 56).

A lei Léonettievita a eutanásia?

‘‘ ‘‘“Vive mal quemnão sabe morrer”

Séneca

Pode falar-se de eutanásia activae de eutanásia passiva?

A distinção entre eutanásia activa e eutanásiapassiva não tem razão de ser e falseia o debate.

É sempre eutanásia, por acção ou omissão, sehá intenção de pôr fim à vida do paciente (querinjectando um produto letal, quer abstendo-sede administrar um tratamento necessário).

‘‘ ‘‘

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TestemunhosQuanto aos pedidos claros de eutanásia activa, o pessoal médico afirma quase nunca ter sido confron-tado com essa questão. É mais frequente haver pacientes que dizem: “Estou farto, queria que isto aca-basse, Doutor”. Mas, atenção, o Dr. Christophe Tournigand (especialista de oncologia médica no Hos-pital de Saint-Antoine em Paris) afirma que esta frase não significa forçosamente que eles queirammorrer. Também no Instituto de Cancerologia Gustave – Roussy, em Villejuif (Val-de Marne), uma equi-pa de psico-oncólogos prepara enfermeiros e médicos para interpretar estes pedidos, que «raramen-te são pedidos de eutanásia», assegura a psico-oncóloga Sarah Dauchy. « É preciso procurar saber seeste pedido vem do paciente e não da família ou dos cuidadores que atingiram os limites», acrescentaela. «É também necessário interrogarmo-nos se o paciente não estará confuso, como frequentemen-te acontece no final da vida, ou se o seu pedido não estará ligado a um sofrimento físico ou a umaangústia que poderemos aliviar».

Le Monde,Enquête sur les pratiques des médecins face à la fin de vie, Emeline Cazi, 7 septembre 2011.

«O final de vida é muitas vezes um tempo forte da vida: não roubemos estes momentos íntimos, nãonos apropriemos nós deles».

Marie de Hennezel, psicóloga clínica, especialista em questões ligadas ao fim de vida e autora denumerosos livros sobre este assunto. Valeurs actuelles, 1er-7 septembre 2011.

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E se os sofrimentos sãoinsuportáveis?

Os cuidados paliativos bem conduzidos ali-viam a dor e o sofrimento que podemacompanhar o fim de vida. Para isso é pre-ciso uma formação específica.

Não é pois a eutanásia que é preciso favo-recer, mas a formação de médicos, demodo a estarem preparados para aliviar osofrimento e para acompanhar os mori-bundos .

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Reflexões éticasPara que serve viverinconsciente?

Para que serve viver ligadoa uma máquina?

O que se sabe sobre o estado de inconsciência?

Acontece por vezes que pessoas que recupe-ram de um coma contam que ouviam e com-preendiam o que era dito à sua volta, mas quenão podiam comunicar com o exterior…

Que sabemos sobre a vida interior de umapessoa, aparentemente inconsciente, mascujas funções vitais se mantêm?

Que sabemos sobre os últimos momentos davida? Quem somos nós para julgar que elessão inúteis? Temos o direito de os roubar aopaciente? E se fossem os momentos maisimportantes de toda uma vida?

1 - Serve para ultrapassar um obstáculo quepermita ao doente sobreviver a um acidente.

2 - Salva a vida do paciente ao substituir umadas suas funções vitais.

3 - Quando a necessidade da manutenção arti-ficial da vida seja discutível ou não tenhasenão como finalidade prolongar a vida deuma pessoa em fase terminal, podemo-nosinterrogar sobre o carácter proporcionadodeste recurso.

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Reflexões éticas

O impacto da negação damorte pela sociedade

Segundo uma sondagem BVA/Psychologiemagazine, 82% das pessoas interrogadaspreferia morrer sem de tal se dar conta.Deixar de «viver» a sua morte, não a olharde frente e, quase de improviso, deixar-sesurpreender por ela, resume uma opiniãogeneralizada.

Hoje não se quer pensar na morte, pois éconsiderada como um fracasso. Contudo,é libertador e apaziguante olhar a mortede frente e preparar-se para ela.

A aceitação da morte pela sociedade per-mitiria mais vezes ao doente morrer emsua casa, rodeado da afeição e do amor dasua família.

Morrer com dignidadeE o sofrimento moral?

É em nome da noção essencial de «dignida-de» que alguns defendem os cuidados palia-tivos e outros a eutanásia.

A dignidade é o estatuto incondicional do serhumano: cada um tem dignidade, porque éúnico e não pode ser substituído por nadanem por ninguém. Todo o ser humano édigno qualquer que seja o seu estado: jovemou velho, doente ou saudável, deficiente ounão, consciente ou inconsciente… A dignida-de não pode ser posta em causa, porque é aprópria essência do humano. Morrer comdignidade implica, pois, ser respeitado e nãoser vítima da eutanásia.

O sofrimento moral acompanha frequente-mente a dor física e pode levar o doente apedir a eutanásia ou a pensar no suicídio.

Este sofrimento pode ser atenuado comacompanhamento e tratamento médico apro-priado.

«É, de facto, muito raro que os doentes querecebem cuidados e afecto peçam a morte.»(Lucien Israel, Professor de Oncologia, mem-bro do Instituto).

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Testemunho de um homem cuja mulher morreu decancro, beneficiando do apoio dos cuidados paliativos:

«A minha voz embarga-se de emoção quando evoco ahumanidade dos médicos, enfermeiros e enfermeiras, que aacompanharam até ao fim, lhe aliviaram eficazmente asdores com a ajuda de morfina, deixando a natureza seguir oseu curso sem qualquer encarniçamento terapêutico (…).

Sim, ela morreu com dignidade, ajudada por pessoasextraordinárias».

Vincent Chabaud, La Croix, courrier des lecteurs, avril 2003.

PÁG.61

Testemunho

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C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L

Dádiva de órgãosQuando morre alguém que, em vida, não se opôs à dádiva, a equipa médica pode proceder à colheita de órgãos para

transplante. Estes transplantes têm vindo a aumentar, embora coloquem algumas questões éticas.

Existem também colheitas de órgãos em dadores vivos, o que nos traz outras dificuldades éticas.

Porquê transplante de órgãos?

Os transplantes de órgãos permitem progressos médicos importantes. Estamos a falar de órgãos “sólidos”− o rim, o

coração, os pulmões e fígado − , e não do transplante de tecidos ou células. Trata-se de substituir um órgão degradado por

um outro são. A finalidade é melhorar as condições de vida do paciente e, muitas vezes, salvá-lo da morte. Assim, os

frequentes transplantes do rim permitem, aos doentes com insuficiência renal grave, viver muitos mais anos.

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C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L - C A D E R N O E S P E C I A L

O método

A colheita de órgãos

As colheitas de rim e de pelesão as mais frequentes, as decoração e de fígado são raras.Fazem-se igualmente trans-plantes de pulmão, de pân-creas, de córnea e, excepcional-mente, de intestino.

Critérios de morteColheita emdador morto

Colheita emdador vivo

Desde 1968 (Relatório de Har-vard) a certificação da mortebaseia-se não só na perdadefinitiva da actividade espon-tânea do sistema cardiorres-piratório, mas também naparagem das funções encefá-licas. Apenas a destruiçãototal e irreversível do encéfalo(e não só do córtex) autoriza acertificar que a pessoa estáde facto morta.

Colhem-se órgãos de um cadá-ver depois da certificação damorte cerebral do dador eantes da morte biológica dosórgãos. É durante este período,entre a morte do organismo e anecrose dos órgãos, que se dá aintervenção da equipa de trans-plantação. Os órgãos podemser preservados da degradaçãopela manutenção artificial daventilação e da circulação san-guínea durante alguns dias.

A dádiva de órgãos por pessoasvivas diz mais respeito ao rim e aofígado, e mais raramente a umlóbulo pulmonar. Estas colheitasem pessoa viva fazem-se, pormútuo consentimento, no quadrode doações dirigidas, entre umdador e um receptor compatíveis. Acolheita faz-se apenas se não põeem risco a vida do dador.

7/Eutanásia/Dádiva de orgãos1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões

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A dádiva de órgãos em perguntas…São semelhantes oestado vegetativopersistente e a morte?

As pessoas em estado vegetativopersistente não são pessoas mor-tas, pois mantêm actividade dotronco cerebral e de outras áreasencefálicas.Em algumas delas, o sistema respi-ratório pode estar naturalmenteactivo, bem como a deglutição.Portanto, é necessário não confun-dir morte com estado vegetativopersistente.

Os critérios de mortesão válidos?

Ainda que exista um largo consensointernacional sobre os critérios demorte, alguns cientistas interrogam-se hoje sobre a validade dos critériosdefinidos em 1968. No fundo, colocama questão de saber se o “dador deórgãos” está efectivamente mortoquando se lhe retiram os órgãos.Levantam dúvidas sobre a validadedos referidos critérios e pedem que odebate seja reaberto.

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‘‘ ‘‘ Paragem cardíaca:um critério de morte?

O critério de morte cerebral é usado geralmente paraconstatar a morte e permitir a colheita de órgãos. Noentanto, perante o crescente pedido de órgãos,alguns propõem que se usem apenas critériosbaseados no trabalho de reanimação: em caso deparagem cardiorrespiratória, se não há retoma daactividade cardíaca depois de 30 minutos de reanima-ção bem conduzida, a pessoa é considerada morta.Pára-se a reanimação durante 5 minutos, o que tornainelutável a morte cerebral; depois retoma-se a rea-nimação para oxigenar os órgãos até à sua colheita.Esta iniciativa é pertinente? Há médicos que denun-ciam a precipitação que envolve então a morte dopaciente: obrigação de fazer esta colheita nos 120minutos seguintes à paragem do coração e mudan-ça rápida de atitudes do pessoal médico que, empoucos instantes, passa da reanimação à prepara-ção da colheita.

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1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões

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Para que a colheita não se reduza a uma apro-priação do cadáver pela sociedade, é fundamen-tal que ela decorra de uma dádiva verdadeira-mente voluntária. Ora, a lei francesa (lei Cailla-vet, de 22 de Dezembro de 1976), ao instaurar oconsentimento presumido, considera que toda apessoa que não tenha oficialmente recusado acolheita de órgãos seus, aceitou essa hipótese,que, por conseguinte, pode ser concretizadaapós a sua morte. Felizmente, na prática asequipas médicas pedem a opinião da família enão contrariam a sua eventual recusa. Pode,pois, dizer-se que é respeitada a vontade dodefunto e da família.Em Portugal, a Lei n.º 12/1993, de 22 de Abril,criou o RENNDA (Registo Nacional de NãoDadores), ou seja, quem não quiser que os seusórgãos ou tecidos sejam objecto de colheitadepois da morte deve manifestar essa vontade.

Consentimento

Nos casos de dádiva de órgão(s) porparte de pessoa viva, apesar da gene-rosidade do gesto, subsistem certasdificuldades éticas. A colheita deórgão(s) é uma ablação voluntária, quenão se realiza para o bem próprio dodador, o que se afigura contrário querao respeito devido ao seu corpo, querà obrigação do médico de actuar sem-pre em razão do bem do paciente. Noentanto, estas regras podem esbater-se perante um bem superior (salvar avida de outra pessoa), desde que setrate de acto voluntário e se verifique aproporcionalidade entre a vantagemobtida pelo doente receptor e os riscoscorridos pelo dador. Posto isto, tem deficar assegurado o livre e esclarecidoconsentimento do dador.

Respeito pelodador vivo

A colheita de um órgão atinge aintegridade do corpo humano.Ora, o respeito devido a cadapessoa impõe-se igualmenteperante o seu cadáver (o CódigoPenal, quer o francês, quer oportuguês, pune todo o atentadocontra a integridade dum cadá-ver). Então, como conciliar esseimperativo com as necessidadesdos doentes que esperam porórgãos para transplante? Paraque a colheita obedeça a princí-pios éticos, é preciso que o dadorofereça em vida o seu corpo, demodo absolutamente gratuito,para salvar generosamenteoutra vida humana. Só uma taldádiva pode legitimar a colheita.

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Respeito pelocadáver

Transplantee ética

Reflexões éticas

Por um lado, para quea colheita obedeça aprincípios éticos éabsolutamente neces-sário haver consenti-mento informado elivre da parte do dador.Por outro lado, paraque se faça a colheitanum cadáver é precisoter a certeza do óbito;no caso de colheita empessoa viva, é precisoque primeiramentesejam avaliados osriscos em que incorreesse dador.

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7/Eutanásia/Dádiva de orgãos1 / História do pequeno ser humano 2 / O abortamento 3 / O diagnóstico pré-natal 4 / A procriação medicamente assistida 5 / O diagnóstico pré-implantação 6 / Investigação com embriões

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Amniocentese : 22Aborto: cap. 2, cap. 3, cap. 5

“Bebé-medicamento”: 39, 40, 42Biópsia do trofoblasto: 22Blastocisto: 5

Células estaminais (adultas, umbilicais,embrionárias, IPS): cap. 6Colheita de órgãos: ver Dádiva de órgãosCoriocentese: 22Clonagem: 50, 51, 52Concepção: 51Contracepção: 11, 18Critérios de morte: 63, 64Cuidados paliativos: 54, 55, 61

Dádiva de órgãos: 62, 63, 64, 65Detecção pré-natal: cap.3Diagnóstico pré-implantação: cap. 5Diagnóstico pré-natal: cap. 3DPN: ver diagnóstico pré-natalDPI: ver diagnóstico pré-implantaçãoDispositivo intra-uterino: 11

Ecografia: 6, 22Embrião: cap. 1, cap. 2 a 6Encarniçamento terapêutico: 57Espinha bífida: 20Eugenismo: 23, 24, 42Eutanásia: 54 a 61

Fecundação: 4, 6, 8Fecundação in vitro: cap.4,39Fim de vida: 54 a 59FIV: ver Fecundação in vitroFeto: 5, 6, 45

Gâmetas: 30, 31, 32, 34Gravidez: 6, 9, 14, 29

Injecção Intracitoplasmática deEspermatozóides: 30Inseminação artificial: cap. 4Interrupção voluntária da gravidez: cap. 2IPS: ver célulasIVG: ver interrupção voluntária dagravidez

Marcadores séricos: 22Mãe de substituição: 30Mórula: 5Multipotente: 46

Naprotecnologia: 33Nidação: 5, 9, 11

Objecção de consciência: 13, 51

Patenteabilidade: 52Pílula: ver contracepçãoPluripotente: 46PMA: ver Procriação MedicamenteAssistidaPós-humanismo: 42Procriação Medicamente Assistida: cap. 4Projecto parental: 35

Redução embrionária: 35

Síndrome pós-aborto: 14

Totipotente: 46Transumanismo: 42Transplante de órgãos: ver Dádiva deórgãosTrissomia 21: 22 a 27

Zigoto: 4, 6

A

B

C

D

Índice

E

F

G

M

N

O

P

T

Z

I

R

S

Page 69: Manual de-bioetica-para-jovens-jmj-2013

Au fait, qui suis-je?Les embryons humains prennent la parole, Philippe Anthonioz, Ed. Téqui, 2004

La bioéthique, Henri Lafont, Ed. La Nef, 2001

Carta dos Profissionais de Saúde, Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, Ed. Paulinas, 1995

Embryon mon amour, Céline Siorac, Ed. E/dite, 2004

Evangelho da Vida, João Paulo II, 1995

La trisomie 21 est une tragédie grecque, Jean-Marie Le Méné, Ed. Salvator, 2009

Léxico da Família: termos ambíguos e controversos sobre família, vida e aspectos éticos, Conselho Pontifício para a Família, Principia, 2010

Manual de bioética: fundamentos e ética biomédica, Elio Sgreccia, Principia, 2009

Nascituri te salutant: la crise de la conscience bioéthique, Jean-Marie Le Méné, Ed. Salvator, 2009

Bibliografia

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Publicado, em França, pela Fondation Jérôme Lejeune.Publicado, em Portugal, pela Associação Famílias e pela ADAV - Coimbra.Tradução: Alda Maria Dias, Carlos Aguiar Gomes, Maria Leonor Cabral AntunesDireito português: Cristina Líbano Monteiro e João Carlos Loureiro (Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra)Revisão científica: Henrique Vilaça Ramos (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra) e Luís Marques (CHUC)

Concepção gráfica: SevenDesign / Lyon • Paginação versão portuguesa: Design-a-Dois / Coimbra • Ilustrações: Copyright BrunorCréditos das fotografias: Fondation Jérôme Lejeune, Priests for life; Lennart Nilsson, Esprit-photo.com, Michael Clancy, Getty images, Fotolia, E. Laloux, Jeanne BrostAcabou de se imprimir em Julho de 2012, na Empresa Diário do Minho, BragaTodos os direitos reservados • Depósito Legal n.º00000000000 • ISBN:

Tr. José Gabriel Bacelar, nº 9Areal de Cima � S. Víctor4710 – 400 BragaTel. / Fax: 253611609E-mail: [email protected]

IPSS vocacionada para a protecção da vida humana, da concepção à morte natural,e para a promoção da defesa e apoio às famílias.

Rua Lourenço Almeida Azevedo n.º 27 – r./c3000 – 250 CoimbraTel.: 239 820 000/ 913 109 066E-mail: [email protected]

IPSS cujo objectivo é ajudar mulheres grávidas e puérperas a superaremqualquer obstáculo que comprometa o seu legítimo direito a uma maternidadesaudável, feliz e responsável.

Associação de Defesa e Apoio da Vida

A Associação Famílias e a ADAV-Coimbra agradecem à Fondation Jérôme Lejeune a autorização para a edição portuguesa.

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Tr. José Gabriel Bacelar, nº 9Areal de Cima � S. Víctor4710 – 400 BragaTel. / Fax: 253611609E-mail: [email protected]

R. Lourenço Almeida Azevedo, nº 27, r./ch.3000-250 CoimbraTel.: 239 820 000 | 913 109 066E-mail: [email protected]

Associação de Defesa e Apoio da Vida