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C M Y K C M Y K E Ed di it to or ra a: : Ana Sá [email protected] [email protected] Tel: 3214 1182 Trabalho formação profissional CORREIO BRAZILIENSE Brasília, domingo, 13 de maio de 2012 OFERTAS NO CLASSIFICADOS 100 OFERTAS DE CURSOS 894 OFERTAS DE EMPREGOS E MAIS NESTA EDIÇÃO: 64 OFERTAS DE CONCURSOS 694 OFERTAS DE ESTÁGIO 231 OFERTAS DE EMPREGO & & » MARINA MERCANTE A imagem de um superdotado é cercada de mitos. A princípio, vem à mente um aluno nota 10, um adolescente que tem respos- tas para tudo e um adulto com fortes tra- ços de genialidade. Por isso, enfrentar dificulda- des no mercado de trabalho estaria fora de cogita- ção. Não é bem assim. Associar inteligência a su- cesso profissional é natural, mas deve ser feito com ressalvas. O êxito de alguém com alta capaci- dade para determinada área depende de escolhas ao longo da vida. Além disso, o talento pode pas- sar despercebido caso colegas, chefes e o próprio trabalhador não saibam lidar com a situação. O reconhecimento formal e precoce da superdota- ção também é essencial para o bom desempenho no mundo corporativo. Afinal, os números de pes- soas identificadas no Brasil ainda está aquém das estimativas de superdotados existentes. Embora eles encontrem espaço mais favorável no meio acadêmico (leia mais na página 2), usual- mente aberto à criatividade e à inovação, há super- dotados realizados profissionalmente no serviço público, na iniciativa privada ou atuando como em- preendedores. “Ser bem-sucedido tem a ver com fa- zer a escolha certa. Para os superdotados, não é di- ferente. Ou seja, é necessário optar por uma carreira na qual seja possível colocar em prática as habilida- des desenvolvidas desde a infância”, afirma a psicó- loga Cristina Maria Carvalho Delou, que preside o Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd). Foi assim com o brasiliense Jhonathan Divino Ferreira dos Santos, 23 anos, identificado como su- perdotado na área de linguagens ainda na época es- colar, quando frequentava um colégio público em Taguatinga. Hoje, acumula os diplomas de gradua- ção em biblioteconomia e especialização em tecno- logia da informação, ambos pela Universidade de Brasília (UnB). Ele trabalhou durante seis meses na Escola das Nações antes de assumir o cargo de téc- nico de desenvolvimento e administração — espe- cialidade biblioteconomia no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), onde está desde maio de 2009. Bem adaptado, diz que consegue usar seus conhecimentos no dia a dia profissional. Jhonathan tem habilidades em outras áreas. Por is- so, a rotina fora do serviço é agitada: faz dança, é cate- quista, canta em um coral e está concluindo um curso de francês. Já sabe espanhol e inglês. Não quer abrir mão do atual emprego, mas pretende fazer mes- trado e doutorado. E esclarece: não tem pressa para definir o futuro profissional. “Sou novo, com apenas 23 anos, e isso não é uma competição. Tenho outras prioridades além do trabalho. Por exemplo, quero aprender a na- dar”, comenta. Sobre o potencial que possui, avisa: “Não tenho problema em contar, mas também não saio por aí falando. O que conquistei até hoje foi porque me dediquei, estudei”, pondera o rapaz. Cristina De- lou defende que os colegas de trabalho devem sa- ber quando há um superdotado por perto: “Não é questão de se mostrar, mas de facilitar o relacio- namento. Você só fica bem em um meio quando os outros sabem quem você é. Além disso, deve- mos aprender a conviver com nossos talentos e nossas deficiências. Uma pessoa pode ser su- perdotada em uma área e ter dificuldades em outra”, afirma. Justamente por isso, a nomen- clatura para quem tem habili- dades acima da média cos- tuma causar polêmica. Isso porque, para alguns estudiosos, dizer que alguém é superdotado dá a falsa impressão de que se trata de um sabe-tudo. “Quem tem aptidões cognitivas pode ter dificuldades emo- tivas, por exemplo, e quem possui facilidades psico- motoras pode enfrentar problemas de memoriza- ção”, justifica a presidente do Conbrasd. Altas habi- lidades, alta capacidade ou habilidades especiais são sinônimos usados paraa superdotação. Maria Aparecida de Oliveira, professora de língua e literatura que acompanhou Jhonathan na sala de recursos (leia mais na página 3) do Centro Educacio- nal Elefante Branco durante o ensino médio, sabe que diferenciar as aptidões das dificuldades demons- tradas pelo aluno faz a dife- rença no futuro profis- sional. “O mercado de trabalho hoje quer saber de criatividade. Então, trabalhamos isso. Fica natural para o jovem por- que a gente dá ênfase à área de interesse dele”, afirma. Ambiente favorável Para evitar que as deficiências se sobreponham às habilidades, além de escolher a ocupação compatí- vel com a superdotação, é preciso estar em um am- biente profissional favorável — o que é difícil em al- gumas situações. “Ao contrário do que parece à pri- meira vista, superdotados podem apresentar uma dificuldade maior do que o normal para se inserir no mercado. Por possuírem uma visão mais abrangente das coisas, muitas vezes acabam não tendo suas opi- niões aceitas pelo grupo”, opina Cristiane Fabian da Costa Cruz, presidente da Mensa Brasil, sociedade formada por pessoas de alto QI. Além do mais, os processos seletivos nas em- presas dão valor às habilidades de relacionamen- to em detrimento de outras, acredita Cristiane. “Não quero dizer que os superdotados sejam an- tissociais. O que ocorre é que a maioria deles tem pouca paciência para assuntos banais e prefere ficar longe de grupinhos em algumas situações, o que acaba sendo malvisto pelos participantes desses grupos”, analisa. INTELIGÊNCIA À PROVA Ex-aluno da rede pública, Jhonathan descobriu cedo a aptidão em linguagens: hoje, é bibliotecário do Ipea Leia mais sobre esse assunto nas páginas 2 e 3 » Monique Renne/CB/D.A Press A conceituação mais aceita na atualidade é a do pesquisador norte-americano Joseph Renzulli. Segundo ele, o superdotado é quem apresenta um conjunto de três características bem definidas: habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade. O diagnóstico, normalmente, é feito durante o período escolar. Embora o teste de QI seja válido, não é o único instrumento considerado. Também são adotadas a observação em sala de aula e as indicações de professores, de familiares ou do próprio superdotado. Na rede pública de ensino, um psicólogo faz uma avaliação que pode durar até três meses. São usadas ferramentas da psicologia e da pedagogia, sempre com base na teoria de Renzulli. Diagnóstico além do QI Superdotados mostram ser possível aproveitar no mercado a capacidade acima da média, mas a condição não é garantia de sucesso profissional. É importante identificar precocemente as altas habilidades e saber lidar com elas Kleber Sales/CB/D.A Press

Matéria de Jornal Inteligência a Prova

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formação profissionalCORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 13 de maio de 2012

OFERTAS NO CLASSIFICADOS

100 OFERTAS DE CURSOS

894 OFERTAS DE EMPREGOS

E MAIS NESTA EDIÇÃO:

64 OFERTAS DE CONCURSOS

694 OFERTAS DE ESTÁGIO

231 OFERTASDEEMPREGO&&

» MARINA MERCANTE

A imagem de um superdotado é cercada demitos. A princípio, vem à mente um alunonota 10, um adolescente que tem respos-tas para tudo e um adulto com fortes tra-

ços de genialidade. Por isso, enfrentar dificulda-des no mercado de trabalho estaria fora de cogita-ção. Não é bem assim. Associar inteligência a su-cesso profissional é natural, mas deve ser feitocom ressalvas. O êxito de alguém com alta capaci-dade para determinada área depende de escolhasao longo da vida. Além disso, o talento pode pas-sar despercebido caso colegas, chefes e o própriotrabalhador não saibam lidar com a situação. Oreconhecimento formal e precoce da superdota-ção também é essencial para o bom desempenhono mundo corporativo. Afinal, os números de pes-soas identificadas no Brasil ainda está aquém dasestimativas de superdotados existentes.

Embora eles encontrem espaço mais favorávelno meio acadêmico (leia mais na página 2), usual-mente aberto à criatividade e à inovação, há super-dotados realizados profissionalmente no serviçopúblico, na iniciativa privada ou atuando como em-preendedores. “Ser bem-sucedido tem a ver com fa-zer a escolha certa. Para os superdotados, não é di-ferente. Ou seja, é necessário optar por uma carreirana qual seja possível colocar em prática as habilida-des desenvolvidas desde a infância”, afirma a psicó-loga Cristina Maria Carvalho Delou, que preside oConselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd).

Foi assim com o brasiliense Jhonathan DivinoFerreira dos Santos, 23 anos, identificado como su-perdotado na área de linguagens ainda na época es-colar, quando frequentava um colégio público emTaguatinga. Hoje, acumula os diplomas de gradua-ção em biblioteconomia e especialização em tecno-logia da informação, ambos pela Universidade deBrasília (UnB). Ele trabalhou durante seis meses naEscola das Nações antes de assumir o cargo de téc-nico de desenvolvimento e administração — espe-cialidade biblioteconomia no Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (Ipea), onde está desde maiode 2009. Bem adaptado, diz que consegue usar seusconhecimentos no dia a dia profissional.

Jhonathantemhabilidadesemoutrasáreas.Por is-so, a rotina fora do serviço é agitada: faz dança, é cate-quista, cantaemumcoraleestáconcluindoumcursodefrancês. Jásabeespanhole inglês.Nãoquerabrirmão do atual emprego, mas pretende fazer mes-tradoedoutorado.Eesclarece:não tem pressapara definir o futuro

profissional. “Sou novo, com apenas 23 anos, e issonão é uma competição. Tenho outras prioridadesalém do trabalho. Por exemplo, quero aprender a na-dar”, comenta.

Sobre o potencial que possui, avisa: “Não tenhoproblema em contar, mas também não saio por aífalando. O que conquistei até hoje foi porque medediquei, estudei”, pondera o rapaz. Cristina De-lou defende que os colegas de trabalho devem sa-ber quando há um superdotado por perto: “Não équestão de se mostrar, mas de facilitar o relacio-namento. Você só fica bem em um meio quandoos outros sabem quem você é. Além disso, deve-mos aprender a conviver com nossos talentos enossas deficiências. Uma pessoa pode ser su-perdotada em uma área e ter dificuldadesem outra”, afirma.

Justamente por isso, a nomen-clatura para quem tem habili-dades acima da média cos-tuma causar polêmica.Issoporque,paraalguns

estudiosos,dizerquealguémésuperdotado dá a falsaimpressão de que se trata de um sabe-tudo. “Quemtem aptidões cognitivas pode ter dificuldades emo-tivas, por exemplo, e quem possui facilidades psico-motoras pode enfrentar problemas de memoriza-ção”, justifica a presidente do Conbrasd. Altas habi-lidades, alta capacidade ou habilidades especiaissão sinônimos usados paraa superdotação.

Maria Aparecida de Oliveira, professora de línguae literatura que acompanhou Jhonathan na sala derecursos (leiamaisnapágina3) do Centro Educacio-nal Elefante Branco durante o ensino médio, sabequediferenciarasaptidõesdasdificuldadesdemons-

tradas pelo aluno faz a dife-rença no futuro profis-

sional. “O mercadode trabalho hoje

quer saber decriatividade.

Então, trabalhamosisso.Ficanaturalparaojovempor-queagentedáênfaseàáreadeinteressedele”,afirma.

Ambiente favorávelPara evitar que as deficiências se sobreponham às

habilidades, além de escolher a ocupação compatí-vel com a superdotação, é preciso estar em um am-biente profissional favorável — o que é difícil em al-gumas situações. “Ao contrário do que parece à pri-meira vista, superdotados podem apresentar umadificuldade maior do que o normal para se inserir nomercado. Por possuírem uma visão mais abrangentedas coisas, muitas vezes acabam não tendo suas opi-niões aceitas pelo grupo”, opina Cristiane Fabian daCosta Cruz, presidente da Mensa Brasil, sociedadeformada por pessoas de alto QI.

Além do mais, os processos seletivos nas em-presas dão valor às habilidades de relacionamen-to em detrimento de outras, acredita Cristiane.“Não quero dizer que os superdotados sejam an-tissociais. O que ocorre é que a maioria deles tempouca paciência para assuntos banais e prefereficar longe de grupinhos em algumas situações, oque acaba sendo malvisto pelos participantesdesses grupos”, analisa.

INTELIGÊNCIAÀPROVA

Ex-aluno da rede pública, Jhonathandescobriu cedo a aptidão em linguagens: hoje, é bibliotecário do Ipea

Leia mais sobre esse assuntonas páginas 2 e 3

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A conceituação mais aceita na atualidade é a dopesquisador norte-americano Joseph Renzulli.Segundo ele, o superdotado é quem apresenta umconjunto de três características bem definidas:habilidade acima da média, envolvimento com atarefa e criatividade. O diagnóstico, normalmente,é feito durante o período escolar. Embora o teste deQI seja válido, não é o único instrumentoconsiderado. Também são adotadas a observaçãoem sala de aula e as indicações de professores, defamiliares ou do próprio superdotado. Na redepública de ensino, um psicólogo faz uma avaliaçãoque pode durar até três meses. São usadasferramentas da psicologia e da pedagogia, semprecom base na teoria de Renzulli.

DiagnósticoalémdoQI

Superdotadosmostramserpossível aproveitarnomercadoacapacidadeacimadamédia,masacondiçãonãoégarantiade sucessoprofissional. É importante identificar precocementeasaltashabilidades e saber lidar comelas

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