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A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA-MS: uma análise pelos censos agropecuários de 1995/1996 e 2006 Wagner Suzano de Freitas Palavras-chave: Censo agropecuário, Nova Andradina-MS, Modernização CAP. 2: O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS AGRÍCOLAS DO PERÍODO DE 1995 A 2005. Por volta de 1900 a agricultura praticada na região sul-matogrossense era apenas de subsistência, para consumo dos produtores, onde cultivava-se principalmente milho, mandioca, feijão, arroz, amendoim, algodão e algumas frutas. Da mesma forma que na pecuária, a agricultura não possuía infra-estrutura, sendo que o sal, querosene e ferramentas eram trazidos de muito longe por carretas puxadas por juntas de bois, que levavam várias semanas para vir de lugares mais desenvolvidos, por estradas que eram nada menos que “picadas”. Em um aprofundado estudo da região, Gressler (2005) explica que o trabalho na lavoura era manual ou feito com tração animal, exigindo muito tempo e esforço físico; não havia também lugar para armazenar, os produtos agrícolas

Mato Grosso do Sul e as mudanças agrícolas

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Histórico da produção agrícola em Nova Andradina-MS e análise do censo agropecuário

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A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA-

MS: uma análise pelos censos agropecuários de 1995/1996 e 2006

Wagner Suzano de Freitas

Palavras-chave: Censo agropecuário, Nova Andradina-MS, Modernização

CAP. 2: O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS

AGRÍCOLAS DO PERÍODO DE 1995 A 2005.

Por volta de 1900 a agricultura praticada na região sul-matogrossense

era apenas de subsistência, para consumo dos produtores, onde cultivava-se

principalmente milho, mandioca, feijão, arroz, amendoim, algodão e algumas

frutas.

Da mesma forma que na pecuária, a agricultura não possuía infra-

estrutura, sendo que o sal, querosene e ferramentas eram trazidos de muito

longe por carretas puxadas por juntas de bois, que levavam várias semanas

para vir de lugares mais desenvolvidos, por estradas que eram nada menos

que “picadas”.

Em um aprofundado estudo da região, Gressler (2005) explica que o

trabalho na lavoura era manual ou feito com tração animal, exigindo muito

tempo e esforço físico; não havia também lugar para armazenar, os produtos

agrícolas eram colhidos e protegidos em paióis. A vida era muito difícil para as

famílias dos agricultores, não havia escola para os filhos, as moradias eram

feitas de madeira, amarradas com cipó e cobertas com folhas trançadas para

abrigar dos ventos e das chuvas.

Logo após a Independência do Brasil houve um período em que se

podia ocupar terras devolutas, mas em 1850 foi aprovada a Lei Imperial 601

determinando que as terras fossem adquiridas através de compra, proibindo a

doação dessas terras, exceto aquelas situadas nas zonas de 10 léguas (66km)

limítrofes com países estrangeiros, e mesmo com as mudanças da distância a

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lei foi mantida, o que possibilitou que muitas pessoas conseguissem

propriedades no estado de Mato Grosso do Sul, que tem uma grande área de

divisa com as terras do Paraguai e da Bolívia, marcando o início da reforma

agrária no estado.

O período de 1930 foi marcado pela intensa derrubada de mata, com a

distribuição de terras pelos governos federal, estadual, municipal e de grupos

particulares. Foi também um período de chegada de pessoas de várias partes

do Brasil, e de outros países, com o sonho de formar grandes cafezais.

Na década de 1960 a população do sul do estado aumentou muito, por

agricultores vindos do sul do país, atraídos pelos preços das terras e pelas

grandes extensões de terra, introduzindo uma tradição agrícola de alto nível e

técnica esmerada no tratamento do solo, dedicando-se ao cultivo da soja, trigo,

arroz e milho.

Gressler (2005) diz ainda que a cultura da soja foi crescendo, e grandes

áreas de campo limpo foram se transformando, mas o avanço dos produtores

era limitado pela região dos cerrados, que tinham um custo alto para explorá-la.

Foram criados órgãos de pesquisa para desenvolver variedades de soja, trigo e

milho próprias para o cerrado e para o Mato Grosso do Sul.

Foram construídos grandes silos, secadores e armazéns, sistemas de

irrigação e todos os equipamentos necessários para a produção de grãos, até a

implantação do Programa Especial da Grande Dourados – PRODEGRAN,

mudando assim o cenário da agricultura no estado, cuja economia passou a

girar em torno dela.

A construção da ferrovia Noroeste do Brasil possibilitou o aumento das

relações comerciais com o estado de São Paulo, o gado passou a ser

transportado por trem, a população aumentou e as terras foram sendo

valorizadas. Surgiram também novas cidades e outras tiveram grande

desenvolvimento.

Por volta de 1975 o sul do Mato Grosso possuía uma forma de

reprodução do capital muito semelhante à dos estados da Região Sudeste, e a

divisão regional do trabalho evidenciava a parte sul do estado, a utilização de

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terras nos moldes modernos do capitalismo avançado, bem diferente do

modelo “feudal” praticado na parte norte, até então. Como este, muitos fatores

mostravam a premente necessidade de dividir o Estado, para que ambas as

partes se desenvolvessem.

Oliveira (2003) nos diz que

Essa desconfortável situação impedia o pleno desenvolvimento do Sul e uma possível arrancada para o desenvolvimento do Norte. A divisão do Estado passaria a desobstruir as barreiras que seguravam o progresso de ambos os lados: o Sul ficaria – como ficou – com 74% da arrecadação do velho Estado e financiariam, em termos, o seu próprio crescimento; enquanto o Norte seria – como foi – beneficiado pelos programas governamentais de colonização de fronteira e expansão agrícola. Em síntese, na essência, essa foi a gênesis da divisão de Mato Grosso. (OLIVEIRA, 2003, p. 38)

Devido às facilidades encontradas para chegar à região pelos rios

Ivinhema, Brilhante, Vacaria e Dourados, espanhóis e portugueses vinham em

busca do ouro e a captura de indígenas como escravos para as usinas de cana

no litoral. Alguns historiadores dizem que o povoamento não indígena começou

após a guerra com o Paraguai (1864 –1870) por ex‐combatentes; com a

chegada de gaúchos fugitivos da revolução federalista e com os mineiros e

suas criações de gado nas regiões de cerrado.

As primeiras atividades industriais em Mato Grosso do Sul foram de

beneficiamento, como a preparação da erva-mate, do couro, da carne, da

madeira, do café, do arroz e do algodão. Entre as primeiras indústrias estão as

charqueadas, responsáveis por grandes exportações em 1920. Havia também

atividades de extração de ferro e manganês e a fabricação de cimento.

Ainda durante a década de 70, conforme diz Oliveira, a indústria não fez

parte dos investimentos, pois aumentavam de forma insignificante, menos de

30% em 9 anos, sendo que o primeiro ano de existência do novo Estado

registrava pequena atividade no setor:

- 2 matadouros, abatendo menos de 300 mil cabeças/ano; - 1 indústria de cimento em Corumbá; - 2 destilarias em Pedro Gomes e Rio Brilhante; - algumas indústrias extrativas do urucum. (Oliveira 2003, p.44)

A maior parte do maquinário das indústrias foi comprada de “segunda

mão”, de estados do Sudeste, ou trazida de outros estados pelos proprietários;

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o crescimento registrado foi em fábricas que não necessitavam de mão-de-obra

especializada.

As indústrias que se destacaram nessa fase inicial do Estado foram os

frigoríficos e as destilarias, incentivados pelo Programa Nacional do Álcool –

PROÁLCOOL. O PROÁLCOOL foi instituído em 1975 em todo o país,

crescendo notadamente no início dos anos 80 devido ao aumento da produção

de carros a álcool e as facilidades para a aquisição destes, como valor

reduzido e manutenção do motor por mais tempo. Assim, a realidade em 1979,

de apenas 2 destilarias, em 1979 passou a ser de 8 unidades em 1983 e mais

2 em fase de montagem.

Dados da FIPLAN (1985) mostram que a área de plantio e colheita na

safra 79/80 foi de 7.138 há subiu para 49.747 há; já a produção de álcool

passou de 13.718 m³ em 79/80 para mais de 170.000 m³ em 84/85 (MS

Industrial, julho de 1987).

Mesmo apresentando crescimento acelerado, as destilarias enfrentaram

muitos problemas com a mão-de-obra, pois a necessidade aumentava muito

nas épocas de colheita, e a ampliação dos eixos rodoviários empregava muitas

pessoas, sendo necessário incentivar a imigração de bóias frias e de

trabalhadores semi-qualificados.

A atividade pecuária também teve grande expansão, começando pelo

aumento das áreas de pastagens naturais e a diminuição das áreas plantadas,

como mostra a Tabela 04, bem como o crescimento do rebanho.

Tabela 04: Mato Grosso do Sul – Áreas de pastagens e rebanho bovinoPastagens (1.000 ha) 1970 1980 1985

Naturais 18.669 12.266 9.658Plantadas 3.368 9.068 12.144Bovinos (x 1.000 cab.) 7.449 11.904 14.991

Fonte: IBGE, 1996

Ao longo dos tempos a pecuária foi se afirmando como atividade

principal, e fonte de produção e riqueza, nas regiões onde a agropecuária foi a

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principal atividade econômica o controle a terra era sinônimo de riqueza e

poder.

Na ocasião da divisão do Estado, em 1979, funcionavam apenas 2

frigoríficos, com capacidade de abate inferior a 250 mil cabeças/ano. Oliveira

(2003) observa então que o crescimento do rebanho, associado à retração da

demanda da produção industrial na economia brasileira, junto com a

capacidade de atuação no mercado, tanto regional como internacional, levaram

a abertura de mais 5 frigoríficos no Mato Grosso do Sul, até 1985, registrando o

abate de mais de 670 mil cabeças neste ano. A partir dos anos 80 o Estado já

oferecia a manutenção do rebanho nas três fases do processo criatório: cria,

recria e engorda.

Esse panorama de crescimento industrial propiciou e fortaleceu o

nascimento no Estado, o nascimento de centenas de micro-usinas com

pequeno capital investido e a pequena indústria, representando o

fortalecimento da produção social. O progresso na utilização das terras, o

processo de urbanização elevou o padrão de vida da população

economicamente ativa, e ao aumento da renda regional per capita,

diversificando a economia regional.

Oliveira (2003) explica ainda que tal crescimento:

Provocou sintomas de “auto-suficiência” regional mesmo que, dialeticamente, tenha intensificado sua relação com as demais regiões. [...] abriu alas para a mudança de posição do Estado na divisão regional do trabalho, fixando paralelos realísticos na elevação da composição orgânica do capital, em nível estadual – além de disciplinar a população para a vida industrial. (OLIVEIRA, 2003. p.46)

A expansão da fronteira agrícola, com a ampliação dos eixos rodoviários

para o Sul, Nordeste e Sudeste facilitou o transporte de matérias in natura para

o Sudeste, que passou a consumir industrialmente e possibilitou o escoamento

para a exportação. As regiões foram se modernizando, respondendo

favoravelmente às novas técnicas, a Sul, em especial, por ter grandes

extensões de terra de qualidade numa tentativa de expandir os cafezais para

todos os estados, inclusive para o sul do Mato Grosso, mas as condições

climáticas não favoreciam o cultivo, e as geadas causaram grandes perdas.

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2.1 SOJA

Na urgência de crescimento do setor aparece a cultura da soja, iniciando

pelos estados do Sul, quando os granjeiros aproveitaram o crédito fácil

oferecido pelo Governo Federal a fim de diminuir a importação de trigo,

plantando o trigo e fazendo a rotação com a soja. Os grãos colhidos eram

vendidos aos criadores de porcos e aos migrantes japoneses, ou seja, não

havia mercado ainda para a soja no país.

No antigo estado de Mato Grosso teve início em 1918 a empresa Mate

Laranjeira, como uma simples atividade de extração da erva-mate foi ganhando

força econômica através das exportações, tornando-se uma grande geradora

de renda para toda a região, sendo o mercado Argentino seu maior

consumidor, como afirma OLIVEIRA (2003). Esta atividade, porém, entrou em

declínio na década de trinta, por representar um forte monopólio, sendo a única

empresa com direito de exportações, e passou a ser cultivada por pequenos

proprietários, reunidos em cooperativas.

Apareceu assim, a necessidade de se encontrar novas alternativas na

agricultura, uma vez que o solo da região se apresentava muito propício para

diversas outras atividades. Por sua vez, a Companhia Mate Laranjeira,

precisou a vender seus bens para saldar as dividas. Uma grande parte desses

bens vendidos constitui a Fazenda Itamarati, que durante as décadas de 60 a

80, foi a maior fazenda produtora de soja do mundo.

Dessa forma entrou no Estado a cultura de soja, trazida, inicialmente,

por pequemos arrendatários que vieram dos estados do Rio grande Sul e

Paraná, trocando a pecuária e a cultura da erva-mate e investindo em soja. Um

dos fatores que beneficiou muito o sucesso desta cultura foi o grande volume

de terras ociosas a preços baixos, que atraiu para região do Centro-Oeste os

principais investimentos, durante a década de 70. Ainda para o mesmo autor,

também foi de grande relevância as condições de clima e solo do Cerrado

brasileiro, e os primeiros cultivos de soja no então Estado de Mato Grosso

foram realizados na região da Grande Dourados.

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O Estado de Mato Grosso do passou por profundas mudanças no

aspecto de utilização do solo, tendo reduzidas áreas de lavouras para

pastagens naturais, indicando que a atividade pecuária semi-intensiva se

intensificou, sem porém, reduzir as atividades ligada às culturas permanentes.

Com relação à produção de soja, o estado tem apresentado crescimento da

área plantada, da produção e da produtividade. Isso é resultado da evolução

tecnológica que ocorreu, sendo possível que os produtores do Estado

mantivessem um alto grau de competitividade junto aos concorrentes

internacionais, como pode ser analisado na Tabela a seguir, que mostra a

evolução sensível das safras ano a ano no período de 1990 a 2004:

Tabela 05 - Quantidade de produção (ton), área plantada (ha) e rendimento médio da produção (kg por ha) de soja em Mato Grosso do Sul de 1990 a 2004.

Safras Mato Grosso do Sul Área Plantada Produtividade1990 2.038.614 1.286.382 1.6221991 2.017.935 1.971.968 1.8951992 1.871.188 949.058 1.9881993 2.289.171 1.071.694 2.1451994 2.392.506 1.104.449 2.1711995 2.283.546 1.044.779 2.1871996 2.003.904 831.954 2.4091997 2.184.283 885.596 2.4661998 2.319.161 1.117.609 2.0911999 2.799.117 1.073.960 2.6062000 2.486.120 1.106.301 2.2612001 3.115.030 1.065.026 2.9252002 3.267.084 1.195.744 2.7322003 4.090.892 1.412.307 2.8982004 3.282.705 1.812.006 1.827

Fonte: IBGE (2006) - Censo Agropecuário

Segundo análises realizadas pela Seplanct (2004, apud OLIVEIRA,

2003), o Estado de Mato Grosso do Sul demonstra grande potencial agrícola, e

se destaca entre os maiores produtores de grãos do Brasil. Vemos na Tabela

05 que a produção de soja em 2004 contribuiu com 3.282.705 toneladas para a

produção nacional, que em 2004 totalizou 49.549.941 toneladas, apresentando

uma queda de 4,56% em relação à de 2003 (51.919.440 toneladas), e mesmo

assim, o Brasil foi o segundo maior produtor de soja, responsável por 24% do

total mundial. Nacionalmente, cerca de 30% do valor de toda a produção

agrícola derivou da soja, que é hoje a cultura com maior área plantada

(21.601.340 hectares) (IBGE, 2004)

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Estudos feitos em 2004, por Michels (apud ALVES, 2005) apontam que

no estado de Mato Grosso do Sul mais de 80% dos municípios produzem soja,

destacando-se o município de Maracajú como o primeiro produtor

representando 10,03% do total da safra do Estado, seguido por Dourados

(9,92%), São Grabiel d’Oeste (9,78%), Ponta Porã (8,35%), Chapadão do Sul

(6,25%) e Sidrolândia (5,36%) que juntos com Maracajú representam 49,70%

de toda a produção do Estado. (ALVES, 2005)

A produção de soja no Estado pode ser dar por meio de dois sistemas, o

SPC - Sistema de Plantio Convencional, envolvendo o uso de implementos

para o preparo do solo. Tal sistema causa muitas perdas pela erosão, acarreta

problemas de compactação e desagregação dos solos, resultando em graves

conseqüências ambientais e redução da produtividade; e o SPD - Sistema de

Plantio Direto, um sistema preservacionista, pois sua técnica de plantio não

envolve o preparo do solo, a semeadura é realizada na presença de cobertura

morta de cultura anterior ou plantas em desenvolvimento, com rotação de

culturas. Esses cuidados tornam as perdas com erosões bem menores,

melhora os atributos químicos e físicos do solo, reduz custo de produção e

eleva a produtividade (EMBRAPA, 2004).

Por estar ligada a fatores do mercado mundial, a história da soja no

Brasil causou mudanças até nos hábitos alimentares, pois as transformações

na economia, o intenso grau de indústria e urbanização forçaram a agricultura

a mudar suas forças produtivas, onde a soja foi primordial nesse panorama.

Assim, o Brasil começou os anos 90 como o 2º maior produtor de soja do

mundo, o 1º na exportação de farelo e o 2º na exportação de óleo. Na cozinha

brasileira a banha animal, óleo de amendoim e óleo de algodão foi substituído

pelo óleo de soja; as margarinas trocadas pela tradicional manteiga, e assim

por diante.

Os números demonstram claramente o crescimento, a produção que era

de pouco mais de 200 mil toneladas na safra de 59/60 passou para 15 milhões

de toneladas em 79/80, e apresentou crescimento contínuo e ininterrupto,

como pode ser observado na Tabela a seguir.

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Tabela 06 – Produção de Soja no Brasil – 1959 à 1990Safra Área (Mil ha) Produção (Mil ton) Rendimento (Kg/ha)

59/60 171,4 205,7 1.20064/65 431,8 523,2 1.21269/70 1.318,8 1.508,6 1.14472/73 3.615,1 5.011,6 1.38674/75 5.823,7 9.892,3 1.69979/80 8.769,0 15.153,0 1.72884/85 10.153,0 18.278,0 1.80089/90 11.551,0 20.102,0 1.740

Fonte: Abiove apud OLIVEIRA, 2003

Como se pode observar acima, é possível constatar que no intervalo de

30 anos a área plantada aumentou em mais de 50 vezes, e os números da

produção cresceram por volta de 70 vezes. Rapidamente a cultura da soja foi

se expandindo, até mesmo em fazendas com um modelo atrasado de

produção, trocando a lavoura de outros produtos pela soja, mecanizando o

processo e aumentando as áreas plantadas. Com isso foram sendo criadas

indústrias que forneciam insumos modernos, para mais tarde serem

implantadas outras unidades esmagadoras que absorviam toda a produção. A

soja foi sendo produzida onde outrora havia café, milho, trigo e pastagens;

tomou o lugar dos tradicionais pecuaristas e ervateiros.

Com a globalização da economia passa a acontecer um processo de

adaptação e reorganização das normas de produção, tornando necessário e

urgente uma reavaliação das políticas tecnológicas e das estruturas

organizacionais que tornaram o setor mais competitivo. Assim, hoje é possível

perceber a utilização cada vez mais difundida de maquinários com alto grau de

tecnologia e defensivos agrícolas, tudo para tornar a área cultivada mais

produtiva.

Em sua enorme expansão, a plantação de soja possibilitou a construção

de uma agricultura moderna, levando outras culturas à modernização,

aumentando as exportações, e ganhando espaço cenário nacional como a

principal commodity do setor agrícola brasileiro. Conforme dados e pesquisas

da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA o Brasil é o

segundo maior produtor mundial e o segundo maior exportador no mercado

Page 10: Mato Grosso do Sul e as mudanças agrícolas

internacional, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento – MAPA.

O Mato Grosso do Sul tornou-se o estado de maior crescimento

econômico na Região Centro-Oeste, mostrando entre 1990 e 1998 uma taxa

acumulada de crescimento 25% mais acelerado que a taxa do Brasil, conforme

dados do Ipea. O Estado muda também seu perfil econômico com a

industrialização, pois em 1990, a atividade agropecuária correspondia a 24,4%

do PIB estadual, enquanto a indústria era responsável por 13%; já em 1998,

cada um desses setores tem participação de 22%. Os números em 2004

mostram a atividade agropecuária com 31,2% e a indústria com 22,7% e,

outros 46,1% para o setor de serviços.

A partir de 1997 é aprovada uma lei autorizando as empresas a pagar

apenas 25% do ICMS por prazos de até dez anos, fator que contribui para o

crescimento industrial, bem como os incentivos fiscais, que se tornam mais

abrangentes a partir de então. Muitas indústrias de transformação foram

atraídas para o Estado, como as de carne, soja e ração, a fim de reduzir

despesas com fretes na compra da matéria-prima.

Na pecuária, o gado bovino ultrapassa o rebanho mineiro, com 20,9

milhões de cabeças, conforme dados do IBGE, e a agricultura é favorecida pela

proximidade com a agroindústria e com grandes mercados consumidores do

Sul e do Sudeste, bem como pelo solo fértil.

No Estado, as culturas voltadas para os mercados nacional e

internacional estão em constante processo de modernização, empregam

menos mão-de-obra e registram grande crescimento. Tomando como exemplo

a produção de milho, que evoluiu 400%, e a da soja em grão passa a

representar 9% da safra brasileira, com 2,79 milhões de ton. Alguns setores

mais tradicionais, como as lavouras de algodão, arroz, feijão e trigo sofrem e

enfraquecem com problemas climáticos, como a estiagem e as enchentes.

Com o uso de máquinas agrícolas e novas técnicas, faz com que o

cerrado seja uma nova opção de exploração da terra, que na sua maioria são

Page 11: Mato Grosso do Sul e as mudanças agrícolas

compostas de grandes fazendas produtoras de soja, milho e poucos lugares do

estado que tem a fama de grandes cotoniculturas do estado, atualmente.

Analisemos, an passant, a diferença entre área plantada e área colhida

da soja, a perda representa a mesma área total plantada de aveia, como pode

ser observado a seguir. Com o crescimento acentuado da área plantada, as

perdas que são representadas na diferença pela área colhida, quase não

aparecem, entretanto são bastante significativas; o motivo, ou os motivos que

levaram a essa diferença não são mencionados. Ao observar, por exemplo, a

produção do milho, que apresenta uma diferença entre áreas plantada e

colhida de 699 mil hectares, percebe-se que mesmo com as novas técnicas de

plantio e mecanização, as perdas ainda são sensíveis, como descrito na

Tabela 7 a seguir:.

Tabela 07: Área plantada, área colhida, quantidade produzida, rendimento médio e participação da cultura no total da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, em ordem decrescente de quantidade produzida, segundo os principais produtos. Brasil - 2005

Fonte: IBGE, 2006

O crescimento das áreas planta e colhida nas diversas culturas

apresentaram um aumento significativo, perto de 88% na produção,

Page 12: Mato Grosso do Sul e as mudanças agrícolas

alcançando níveis elevados (aproximadamente 40 milhões de toneladas).

Ainda de acordo com o Censo Agropecuário 2006, o Mato Grosso do Sul foi o

segundo maior Estado produtor na região Centro-Oeste do país.

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