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O Espírito da Intimidade: uma lição de filosofia africana sobre o amor Prof.Dr.Renato Noguera Departamento de Educação e Sociedade Programa de Pós-Graduação em Filosofia Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

O Espírito da Intimidade

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O Espírito da Intimidade: uma lição de filosofia africana sobre o amor

Prof.Dr.Renato Noguera

Departamento de Educação e Sociedade

Programa de Pós-Graduação em Filosofia

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

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Resumo

• O que uma sociedade ancestral africana tem a dizer sobre o amor?

• A cultura dagara através de uma leitura filosófica da pensadora contemporânea Sobonfu Somé –burquinense da etnia dagara com formação ocidental – que nos brinda com o livro “O espírito da intimidade”. O texto é uma aventura filosófica e antropológica que critica algumas perspectivas ocidentais. No idioma dagara não existe uma palavra com o mesmo sentido de “sexo”, amor é um conceito que inclui sexo, intimidade e espiritualidade. Sobonfu Somé adverte que um dos maiores problemas para as relações de conjugalidade é que as pessoas optam por iniciar um relacionamento afetivo baseadas na paixão.

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Sobonfu Somé e o espírito da intimidade

Sobonfu Somé é da etniaDagara e nascida emBurkina Fasso. Umapensadora que tem sededicado ao ensino epesquisa nas áreas defilosofia epsicologia, promovendo opensamento africano.

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1. África

“A África e a Ásia, atualmente na periferia domundo tecnicamente desenvolvido, estavam navanguarda do progresso durante os primeirosquinze mil séculos da história do mundo... aÁfrica foi o cenário principal da emergência dohomem como espécie soberana na terra, assimcomo do aparecimento de uma sociedadepolítica”.

Joseph Ki-Zerbo (1922-2006)

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2. África

“O mito da homogeneização racial domundo negro e das visões de mundodela decorrentes não resiste à análise”diz o filósofo camaronês CeléstinMonga.

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Mapas do continenteNorte da África , África Ocidental, África Central, África Oriental, África Meridional(Austral).

Afroasiáticas, Nilosaarianas, Níger-Congo A, Níger-Congo B (Bantu), Khoisan, Austronesias

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3. África

O historiador, físico, antropólogo e filósofonascido no Senegal Cheikh Anta Diop (1923-1986) fala de uma unidade africana. O conceitode África ultrapassa o significado de continente;mas, se transforma num paradigma cultural.

• Matrifocalidade

• Xenofilia

• Valor da ancestralidade

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4. O nome “África”

• Ki-Zerbo explica que seis teses são plausíveis: 1. Teria vindodo nome de um povo (berbere) situado ao sul de Cartago:os Afrig. Daí, Afrigaou Africapara designar a região dosAfrig. 2. Teria origem e termo fenício, Pharikia- região dasfrutas. 3. Derivaria do latim apricao - ensolarado ou dogrego apriké- isento de frio. 4. Poderia ser a raiz feníciafaraga - separação, diáspora, a mesma raiz encontrada emalgumas línguas africanas, como por exemplo, o bambara.5. Em sânscrito e hindi, a palavra remete a ocidente. 6.Uma tradição histórica retomada por Leão, o Africano, dizque um chefe iemenita chamado Africus teria invadido aÁfrica do norte no segundo milênio antes da Era Cristã efundado uma cidade chamada Afrikyah.

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A Filosofia’ é o rótulo de maior status nohumanismo ocidental. Pretender-se com direito àFilosofia é reinvindicar o que há de maisimportante, mais difícil e mais fundamental natradição do Ocidente (APPIAH, 1997, p.131).

“A Filosofia é a mais branca dentre todas as áreasno campo das Humanidades” (MILLS, (1999, p.13)

.

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Definição sumária de Filosofia Africana

• “Por ‘Filosofia Africana’ refiro-me a umconjunto de textos, especificamente aoconjunto de textos escritos pelos própriosafricanos e descritos como filosóficos porseus próprios autores”(HOUNTONDJI, 1977, p.107).

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O caráter pluriversal da filosofia

O filósofo sul-africano Mogobe Ramose critica aideia de universalidade, advogando a favor doconceito de pluriversalidade. Com isso, acontradição que posta pelo ocidente que aGrécia seria o exclusivo particular-universal dafilosofia fica desnuda. “A contradição precisa sersolucionada através do reconhecimento daparticularidade como um critério válido paratoda ou para nenhuma filosofia”(RAMOSE, 2011, p.11 )

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A filosofia e seus registros O filósofo Joseph Omoregbe faz uma observação muitoimportante, não podemos confundir a filosofia com o seuregistro. Afinal, mesmo que algumas filósofaspermaneçam anônimas, “nós temos fragmentos de suasreflexões filosóficas e suas perspectivas forampreservadas e transmitidas por meio de outros registroscomo mitos, aforismos, máximas desabedoria, provérbios tradicionais, contose, especialmente, através da religião. (...) Além dasmitologias, máximas de sabedoria e visões de mundo, oconhecimento filosófico pode ser preservado ereconhecido na organização político-social elaborada porum povo.

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A filosofia dagara na formulação de Sobnfu Somé

Por filosofia dagara se entende aqui umconjunto de reflexões e inflexões baseadasnuma cosmovisão da África ocidental douniverso linguístico Níger-Congo, um sistemacrítico de pensamento que problematiza edesbanaliza perspectivas sobre a realidade.

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Tradição Dagara: a gestão da comunidade

• A gestão da comunidade é feita por um conselho de anciões.

• Em geral, cinco homens e cinco mulheres

• A cosmovisão dagara entende que o mundo se articula a partir de cinco elementos: terra, água, mineral, fogo e natureza.

• A gestão conta com uma mulher e um homem de cada elemento.

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Conceito de família

A família é extensa, as “mulheres dormem deum lado da casa e os homens, do outro” (SOMÉ,2007, p.24). As crianças podem dormir ondeescolherem até a adolescência. Elas podemdormir com os homens, com as mulheres oucom avós, etc. Importante frisar que os primossão chamados de irmãos, assim como uma tia échamada de mãe e um tio, pai.

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1. Intimidade como Canção do Espírito

• “Intimidade, em termos gerais, é uma cançãodo espírito, que convida duas pessoas acompartilharem seu espírito” (Idem, p.25).

• “(...) existe uma dimensão espiritual em todosos relacionamentos, independentemente desua origem. Duas pessoas unem-se porque oespírito as quer juntas” (Ibidem)

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2. Intimidade como Canção do Espírito

• O papel do espírito é guiar as pessoas em seuspropósitos e na manutenção da sanidade.

• Por espírito devemos entender a força vital, opoder de realização que atravessa e constituitodas as coisas.

• “É muito fácil nos perdermos na nossa vidamundana e esquecermos a conexão com oespírito” (Ibidem, p.28).

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Conexão com o espírito

“Quem vive no Ocidente pode começar afortalecer seus relacionamentos íntimosmantendo sua conexão com o espírito. Pode-sefazer isso por meio de preces e pela conexãocom a terra, com o fogo, minerais e montanhase pela associação com forças naturais, comcaminhadas na natureza, por exemplo.”(Idem, p. 27).

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O amor é espiritual

“Quando um relacionamento íntimo é tirado de seucontexto espiritual, fica exposto a muitos perigos.Uma desconexão profunda é criada, não só noplano espiritual, mas também no plano pessoal.

Pessoas envolvidas em um relacionamentopuramente sexual, por exemplo, carregam dentrode si um gigantesco buraco energético, de mágoasda tenra infância, que as isola completamente deseu verdadeiro ser” (Ibidem, p. 30).

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Ego e controle são entraves para um relacionamento íntimo

“Vejo tantos relacionamentos românticos noOcidente movidos pelo ego e pelo controle. Aspessoas precisam começar a ver que o espíritoestá por trás de sua união e pôr o ego e ocontrole de lado, para trazer saúde aorelacionamento” (Idem, p. 32).

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Da união de dois espíritos nasce o espírito da intimidade

• O povo dagara faz um ritual anualmente paraproteger o espírito da intimidade dadesconexão, do ego, do controle.

• O espírito da intimidade não pode se nutrirsozinho, ele precisa da comunidade.

• Nas sociedades ocidentais, a comunidade tem setornado cada vez mais virtual. Entre os dagara eem grande parte dos povos africanos, acomunidade envolve os ancestrais e os quevirão, além dos que estão presentes em corpo.

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1. A comunidade é indispensável

• Um fator que cria desconexão entrerelacionamentos é que oscasais, principalmente no padrãoocidental, cuidam de si isoladamente.

• A comunidade ajuda uma pessoa a expressarquem ela é. A ausência de comunidade“enfraquece a psique, tornando a pessoavulnerável ao consumismo e todas as coisasque o acompanham” (idem, p. 35).

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2. A comunidade é indispensável

“Um dos princípios do conceitos dagara derelacionamento é que este não é um assuntoprivado. Quando falamos sobre ‘nossorelacionamento’, na aldeia, a palavra ‘nosso’ nãoé limitada a dois. É por isso que achamos difícilviver um relacionamento em uma culturamoderna, que não tem verdadeira comunidade”(Idem, p.36).

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3. A comunidade é indispensável

Uma pessoa não tem capacidade de enxergarcom amplitude o seu propósito, o mesmo ocorrecom um casal, “ou mesmo da família direta, éexigir demais” (Idem, p.37). Todas pessoasprecisam de outras que possam apoiá-las ealimentá-las em suas jornadas.

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4. A comunidade é indispensável

“Em meu próprio casamento, envolvo o máximode pessoas possível no relacionamento (...)Monitoramos o relacionamento constantementee, por meio de rituais, criamos uma comunidadeque nos dá o apoio que precisamos (...) Quandohá desentendimentos em meucasamento, chamo essa comunidade. Sem suaajuda, talvez o fogo de nossa relação já estivesseextinto” (Idem, p. 38).

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5. A comunidade é indispensável

Amigos e familiares também podem ser nocivospara relacionamentos se existem questões malresolvidas no espírito da família, no espírito daamizade. Mas, a benção da comunidade é muitoimportante. “Muitas pessoas divorciam-sesimplesmente por causa da pressão dacomunidade, da família ou dos amigos que nãoapoiavam o casamento ou não tinhamcompreensão espiritual da relação” (Idem, p.39)

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6. A comunidade é indispensável

“Se uma criança cresce achando que sua mãe e seu pai são sua única comunidade, quando tem um problema e os pais não conseguem resolvê-lo, ela não tem ninguém a quem recorrer” (Idem, p. 43). É terrível uma criança “depender” de dois adultos, ou pior de um adulto. A criança deve ter muitas opções dentro da comunidade, essa é maneira de crescer segura e apta a alcançar o seu propósito. Porque

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Os fundamentos da comunidade

1. Espírito

2. Crianças

3. Anciões

4. Responsabilidade

5. Generosidade

6. Confiança

7. Ancestrais

8. Ritual

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1. Nutrição do espírito para homens e mulheres

• “Há coisas que os homens devem fazer paranutrir o seu ser feminino, e há coisas que asmulheres devem fazer para nutrir o seu sermasculino” (Idem, p. 48).

• Homens tendem a vestir a máscara de guerreiromesmo na intimidade; mulheres tendem a nutrirexpectativas equívocas a respeito dos homens.Uma mulher “não deve esperar que seu maridosubstitua suas amigas e cuide delas da mesmaforma” (Ibidem).

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2. Nutrição do espírito para homens e mulheres

• As energias feminina e masculina precisamestar equilibradas.

• Mulheres fazem um ritual que se vestemcomo homens, caçam e assumem funções quesão exercidas com mais frequência peloshomens.

• “Durante o ritual, os homens cuidam uns dosoutros” (Idem, p. 49).

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O que é um ritual?

• Um ritual é uma cerimônia em que o espírito éconvidado para ser guia e orientar nossas ações.

• Um ritual é um evento fora de série, variaconforme o objetivo. Todo ritual tem um objetivoespecífico.

• No ritual o espírito percebe obstáculos que nãoconseguimos enxergar e removê-los para quepossamos alcançar os propósitos de nossas vidas.

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A importância do ritual

“ a mente não sabe como sentir; sua lógica nãopode satisfazer o desejo do coração” (Idem, p.66). Por isso, o ritual é fundamental naresolução da crise. Não se trata de um exercíciológico; mas, uma experiência espiritual. Quandoum relacionamento vai mal, o primeiro passo écomunicar aos ancestrais

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Como um relacionamento se inicia

Padrão ocidental: inicio no topo Padrão dagara: começa na base

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Em que ponto se deve começar o espírito do relacionamento

• O relacionamento deve começar na base e serempurrado lenta e consistentemente pelacomunidade e pelo espírito.

• Um conflito é um aviso de que o propósito doespírito da intimidade está fora do cursoadequado.

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O que somos: seres espirituais com propósitos

• Uma pessoa tem (escolhe) um propósito antes de nascer.

• Um ritual é realizado para que a comunidade descubra qual é o propósito da criança, esta fala através da voz da mãe.

• Ao nascer a criança sabe do seu propósito;mas, por volta dos cinco ou seis anos, esquece.Num ritual durante a adolescência o retoma.

• Cada pessoa nasce num dos cinco gruposelementares dagara.

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Os cinco elementos: vibrações cósmicas fundamentais

• Fogo: sonho, criação e conexão com aancestralidade

• Água: sabedoria, concentração e reconciliação

• Terra: identidade e capacidade de nutrição e suporte da comunidade.

• Mineral: comunicação, história e memória

• Natureza: conhecimento de si, capacidade de atravessar mudanças e desafios

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Os cinco elementos

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Como identificar o elemento de uma pessoa

• Fogo: final do ano de nascimento dois e sete

• Água: final do ano de nascimento um e seis

• Terra: final do ano de nascimento zero e cinco

• Mineral: final do ano de nascimento quatro e nove

• Natureza: final do ano de nascimento três e oito

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Iniciação

• Meninas são iniciadas depois da primeiramenstruação; meninos no inicio dapuberdade.

• Após iniciados e elucidados sobre seuspropósitos, os anciões trabalham paraencontrar o par de cada pessoa.

• “ (...) entre dezesseis e vinte anos -, ocorremos casamentos” (Idem, p. 78)

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A escolha do par

• Os anciões consultam o espírito para verificar se as energias são compatíveis.

• É preciso saber se os propósitos de vida estão alinhados.

• Se o espírito aprovar a união, a noiva e o noivosão comunicados juntamente com acomunidade.

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1. Casamento: o espírito da intimidade em comunhão

• Casamento é uma forma do espírito apoiarduas pessoas para que elas alcancem umaenergia maior, explorem e desenvolvam osseus dons.

• Uma pessoa se casa conhecendo as forças efraquezas do seu par, sem as idealizaçõescomuns no mundo ocidental.

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2. Casamento: o espírito da intimidade em comunhão

• “As pessoas acham, que quando dizem simuma vez, significa para sempre. Mas, para omundo africano, não” (Idem, p.85).

• Os votos devem ser renovados pelo menosuma vez por ano. Ou quando outras pessoasse casam é um momento oportuno pararituais de revitalização.

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3. Casamento: o espírito da intimidade em comunhão

• O povo dagara é matrilinear e patrilocal. Umamulher passa ser membro da família domarido. A família do noivo dá uma vaca queserá sacrificada para que a recém-casada fiquesatisfeita e confortável na nova casa.

• Um casamento que se pauta na busca doprazer tem um espírito da intimidade restritoe de curta duração.

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4. Casamento: o espírito da intimidade em comunhão

• O povo dagara não tem um termo específicopara sexo, o encontro sexual é descrito comouma jornada para um lugar desconhecido queamplifica o poder de ambos na realização deseus propósitos individuais e do espírito daintimidade.

• Uma situação íntima genuína aumenta ohorizonte espiritual.

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5. Casamento: o espírito da intimidade em comunhão

• Pode acontecer que um cônjuge se interesse poruma terceira pessoa, o que é muito perigoso.Porque traz energia estranha para orelacionamento e desequilibra o espírito daintimidade.

• A sexualidade é sagrada, uma dimensão da vidaque faz parte do espírito.

• O “romance”, a “paixão” são empecilhos aoconhecimento do espírito da intimidade eencontro com o sagrado.

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1. Ritual de renovação

Para nos comunicarmos em estados profundosde intimidade, precisamos lidar comdivergências e desagrados do cônjuge. Muitasvezes, uma tensão é soterrada por “gentileza”;mas, o acúmulo de tensões tende a ampliar odesapontamento e as frustrações. No ritual, odesejo destrutivo de agradar o cônjugeirrestritamente pode ser abandonado em prolde um encontro autêntico.

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2. Ritual de renovação

• A mulher se senta voltada para o norte, decostas para o homem, sentada de frente parao sul dentro de um círculo de cinzas.

• Cada um conta suas frustrações para oespírito, o que pode ser feito em sussurros ougritos sem emprestar sua atenção ao que aoutra pessoa diz.

• Após as narrativas cada um derrama águasobre o outro.

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3. Ritual de renovação

• Os conflitos são percebidos comooportunidades para que o casal avance.

• Não se pode viver sem conflito, tampouco emconflito todo o tempo.

• O ritual equilibra os desafios trazidos pelosconflitos.

• É importante fazer rituais de ruptura diante dedivórcio (que não existe na cultura dagara) ede viuvez.

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Ritual de separação

É importante destacar que as pessoas viúvas podemcasar novamente depois de um adequado ritual deseparação. A razão é que o espírito da pessoa queestá sem corpo faz parte de outra dimensãoexistencial, manter as duas pessoas conectadasseria prejudicial e até mesmo perigoso. Ora, após avideira ser cortada e o tempo de luto – que podeenvolver a dissipação de energias como a raiva e atristeza através de choro, sussurros ou gritos – apessoa pode encontrar um novo espírito daintimidade.

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1. Guardiães/Guardiões dos portões

“Na aldeia, a homossexualidade é vistadiferentemente do que no Ocidente, em parteporque toda sexualidade tem base no espírito.Tirada de seu contexto espiritual, torna-se umafonte de controvérsia, passível de exploração.Nunca se vê guardiães nem ninguémdemonstrando ou comentando a sexualidadedos outros” (Idem, p. 142).

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2. Guardiães/Guardiões dos portões

• O povo dagara não tem expressõesequivalentes para gays e lésbicas, existe otermo guardião/guardiã que serve paradesignar pessoas responsáveis por cuidadosespirituais e capacidade de canalizar suaenergia sexual para o espírito.

• Guardiães são percebidos como pessoasdotadas de um poder de fazer conexões com oespírito.

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3. Guardiães do portões

“(...) guardiães estão na divisa entre os doissexos. São mediadores entre os dois. Eles(as)garantem que haja paz e harmonia entremulheres e homens”. Porque agem com o que édenominado espada da verdade sem escolherum lado. Guardiães têm acesso a todos osportões deste mundo para o outro, capazes dese comunicar com os seres mágicos e sábios quepodem apoiar as pessoas neste mundo, oskontombile.

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4. Guardiães do portões

Para Sobonfu Somé, no mundo ocidental a vidaLGBT é resultado de pressões inadequadas queos (as) deslocou de seus verdadeiros papéis.

No povo dagara, um guardião dá suportepara mulheres, assim como uma guardiã éconvidada pelos homens para auxiliá-los emseus círculos. Guardiães têm todas as chaves dosportões e auxiliam conselheiros(as) e anciões.

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Casamento pessoas do mesmo sexo na concepção dagara

Os rituais para fortalecer o espírito daintimidade de pessoas do mesmo sexo nãodiferem dos casamentos heterossexuais – excetoque a presença de guardiães é necessária.Sobonfu Somé diz que no Ocidente é importanteque todos os casais experimentem revitalizar oespírito da intimidade. Mas, na sociedadedagara geralmente guardiães trabalhamexclusivamente para abrir e fechar portões deoutras dimensões espirituais.