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O pedagogo em instituições estaduais de educacao_desafios enfrentados e possibilidades de mudanca - organiz trab ped

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O PEDAGOGO EM INSTITUIÇÕES ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO:

DESAFIOS ENFRENTADOS E POSSIBILIDADES DE MUDANÇA

ZANLORENZI, Andreia - SEED1 [email protected]

EIXO TEMÁTICO: Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação.

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O pedagogo, enquanto profissional da educação, é aquele que tem como objeto de estudo a ação educativa intencional. Ação esta que depende de vários fatores internos e externos à escola para que se efetive e da constante reflexão sobre a função social desta instituição. Como detentor sistemático das formas e métodos, é papel do pedagogo atuar de forma consciente e competente em todas as relações e processos que fazem parte da educação intencional que acontece especificamente na escola. Considerando esses fatores, a intenção do presente trabalho é discutir brevemente sobre a atuação desse profissional em instituições estaduais de ensino, a partir da análise da prática vivenciada nos anos de 2005 a 2010, tendo como base autores progressistas e apontando aspectos relevantes dessa atuação, desafios enfrentados no interior das escolas e possibilidades de mudança para que todos conheçam realmente quem é esse profissional, sua importância para a educação e principalmente para a escola pública.

Palavras-chave: Educação. Papel do pedagogo. Escolas públicas estaduais.

Introdução

“Formador de homens”, assim define Saviani o pedagogo em seu discurso aos

formandos do curso de Pedagogia, da Universidade Santa Úrsula, em 1984.

De lá para cá, muda-se o currículo do curso, mudam-se habilitações, mudam-se formas

de atuação, muda-se perfil, mas a essência desse profissional não muda, pedagogos são sim

“formadores de homens”, ao passo que, ao organizar e articular as relações educacionais

sejam elas dentro ou fora da escola, deve ter como seu objetivo principal levar o ser humano a

alcançar os níveis mais altos de conhecimento, os níveis mais altos de humanização. “E

1 Pedagoga (UFPR), Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico (UFPR), Pedagoga da Escola Estadual Santo Antonio (Curitiba/PR).

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pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação

cultural. É, pois, aquele que domina as formas, os procedimentos, os métodos através dos

quais se chega ao domínio do patrimônio cultural acumulado pela humanidade” (SAVIANI,

1985, p. 27).

O pedagogo, enquanto profissional da educação, é aquele que tem como objeto de

estudo a ação educativa intencional. Desde seu conceito mais remoto, o pedagogo é aquele

que conduz ao aprendizado. Segundo Saviani (1985), a condução da criança realizada pelos

escravos obtidos através de conquistas bélicas, mais cultos que seus próprios senhores a quem

por muitas vezes foi confiada sua instrução, fez com que pedagogo passasse a “significar o

próprio preceptor, o educador, o professor” (SAVIANI, 1985, p. 27).

Porém, esse conceito de Pedagogo, ao qual se deposita grande responsabilidade,

confiança e importância, nem sempre é o que se tem observado na prática. Muitas vezes esse

papel tão grandioso tem ficado em segundo plano, pois há uma constante luta desse

profissional para ganhar o seu espaço na sociedade e nas próprias escolas, seu principal

campo de atuação.

Analisando a história do curso de Pedagogia no Brasil, podemos perceber que ele

reflete a maneira pela qual a educação como um todo vem sendo tratada em nosso país desde

a colonização. As incertezas da definição de quem é o Pedagogo, qual sua área de atuação e

quais suas funções prejudicaram, em grande parte, a formação de identidade desse

profissional.

E ao se analisar as funções atribuídas ao pedagogo nos quase setenta anos de existência desse curso, pode-se perceber uma incessante busca de definição de quem é esse profissional. Em alguns momentos o pedagogo tem sido definido como técnico ou especialista da educação, em outros momentos também como professor, e ainda em outros como estudioso da educação (ARAÚJO, 2006, p. 2).

Desde a criação do curso, com o Decreto-Lei 1190, no ano de 1939, muitos debates e

embates quanto ao perfil desse profissional aconteceram, porém, apesar dessa carga histórica

de indefinições, atualmente, os indícios são de uma maior valorização do papel do pedagogo

na sociedade e nas instituições de ensino, maior definição de suas funções e de seu campo de

atuação.

Com a promulgação da nova Legislação, Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDBEN) nº 9394/96 e a aprovação da Resolução CNE/CP nº 1/2006 que, instituiu

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as “Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, Licenciatura”

configura-se um novo profissional, que tem ainda a sua formação baseada na docência, mas

com uma área de atuação mais definida agregando diferentes campos tanto na educação

escolar (docência e gestão em Educação Infantil e anos iniciais no Ensino Fundamental,

Habilitações Técnicas, Educação Especial, Educação de Adultos, por exemplo), quanto na

educação não-escolar (em empresas, hospitais e outras).

Diante disso, porém, a que se atentar para o fato dos cursos de Pedagogia não

perderem o caráter científico de análise da educação. Transformar o pedagogo apenas num

executor, separar teoria da prática, conteúdo do método não é a intenção. Pensar nas relações

educacionais, nos processos educativos como um todo e nas relações políticas existentes entre

sociedade e educação é inerente a formação de um bom pedagogo.

A idéia de conceber o curso de Pedagogia como formação de professores, a meu ver, é muito simplista e reducionista, é, digamos, uma idéia de senso comum. A Pedagogia se ocupa, de fato, com a formação escolar de crianças, com processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso, ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa (LIBÂNEO, 2001, p. 6).

Sendo assim, a Pedagogia deve ser vista como ciência da educação, “se constitui um

espaço no qual se estuda intencional e criticamente a educação e suas manifestações na

sociedade, a partir de uma sólida formação no campo teórico, epistemológico e metodológico

da educação e do ensino” (ARAÚJO, 2006, p. 2).

A partir dessa visão de pedagogo, a intenção do presente trabalho é trazer reflexões

sobre a atuação desse profissional em instituições estaduais de ensino, a partir da prática

vivenciada, apontando aspectos relevantes dessa atuação, desafios enfrentados no interior das

escolas e possibilidades de mudança para que todos conheçam realmente quem é esse

profissional e compreendam sua importância para a educação e, principalmente, para que a

escola pública desenvolva seu trabalho com a qualidade que é esperada para a Educação

Básica.

Mas, de fato, quem é/deve ser o pedagogo que atua em instituições públicas de

ensino?

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A transmissão de conhecimentos acontece, nos mais variados locais, das mais variadas

formas. Como vimos, muitos são os campos de atuação desse profissional. Mas é na escola,

local privilegiado de aprendizado que a educação sistematizada e intencional acontece. Por

isso, a figura do pedagogo está intimamente relacionada às relações educativas intra-

escolares.

A escola pública tem suas raízes burguesas, mas hoje se configura como o espaço para

atender as camadas populares, os filhos da classe trabalhadora, que na maioria das vezes, tem

nesse espaço a única via de acesso ao conhecimento produzido historicamente.

Nesse sentido, o pedagogo que atua em escola pública deve ter claro duas principais

dimensões dentre outras que compõem o seu trabalho: a dimensão política e a dimensão

pedagógica.

A dimensão política se traduz na escolha, porque assim como a educação não é neutra,

a atuação que o pedagogo terá no interior da escola também não é, exige posição, escolha,

pela conservação ou transformação social. É uma atuação política, no sentido do

compromisso que se deve ter com a formação do cidadão para a sociedade que se quer

construir. “O ato educativo é essencialmente político. O papel do pedagogo é um papel

político. Sempre que o pedagogo deixou de ‘fazer política’, escondido atrás de uma pseudo-

neutralidade da educação, estava fazendo, com a sua omissão, a política do mais forte, a

política da dominação” (GADOTTI, 2005, p. 57).

Vemos nas escolas muitos pedagogos “em cima do muro”, ou servindo, mesmo que

inconscientemente, a uma sociedade conservadora, que busca manter a divisão de classes e a

desigualdade social. Na prática, a escolha política do pedagogo deve manifestar-se

diariamente quando faz o professor refletir sobre seu trabalho, quando busca igualdade nas

relações interpessoais e prima em todas as suas atitudes pela qualidade de ensino.

No entanto, para assumir essa posição, se faz necessário, primeiramente um estudo

aprofundado sobre as bases nas quais a educação pública foi e pode ser construída. Ter

clareza e solidez teórica é fundamental para sustentar a posição escolhida, principalmente

quando a opção é por uma educação que dê conta das reais necessidades da escola pública, ou

seja, por uma educação progressista que defende a escola como socializadora dos

conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade e vê nela um espaço de

contradição, mas que aponta para a possibilidade de transformação social, pois as posturas

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encontradas no interior das escolas nem sempre são favoráveis a uma educação igualitária,

inclusiva e crítica.

Olhar para o aluno como um sujeito construtor e transformador da realidade exige o

repensar de toda a estrutura escolar e de toda a organização do trabalho pedagógico, tarefa

específica do pedagogo. “O pedagogo fazendo ‘prática social’, está exercendo seu papel

específico na sociedade, que é o de vincular o ato educativo e o ato político, a teoria e a

prática da transformação” (GADOTTI, 2005, p. 54).

Esse repensar da estrutura escolar e da organização do trabalho pedagógico se

concretiza na elaboração coletiva do Projeto Político-Pedagógico (PPP), onde deverão estar

contidas todas as ações realizadas pela escola e os objetivos educacionais que se pretende

atingir. “O Projeto Político-Pedagógico da escola é a expressão da intencionalidade do

conjunto da comunidade escolar a respeito da sociedade que se possa almejar, aquela que não

reproduza as condições históricas de dominação, alienação, expropriação da condição

humana” (BÕNI; CARVALHO; FANK; LEUTZ; TAQUES, 2010, p. 16).

O pedagogo enquanto coordenador da elaboração coletiva do PPP nas escolas

estaduais deve articular e mediar discussões fazendo com que toda a comunidade escolar

repense sobre as dificuldades encontradas pela escola e nas formas de superação dessas

dificuldades. As orientações, definições e decisões tomadas pelos próprios sujeitos da ação

educativa fazem com que estes se apropriem da escola e entendam o compromisso social e

político de todos os envolvidos na educação, pois muitos professores, atualmente, não se

sentem parte da instituição ao qual trabalham nem se sentem valorizados enquanto

protagonistas da educação que são.

Partindo de uma visão progressista de Educação, que prega o trabalho coletivo no interior da escola, nada mais é feito de maneira aleatória na escola, nada mais é improvisado; tudo passa a ter significado, porque cada ação está ligada a fins comuns. As ações individuais ganham um novo sentido, globalizadas na ação coletiva. Surge então um novo saber, não mais a informação propagada, recebida dos órgãos hierarquicamente superiores, mas um conhecimento que nasce da relação orgânica com a realidade concreta, da reflexão sobre a ação, que exige rigor objetivo e comprometimento (PINZAN; MACCARINI; MARTELLI, 2003, p. 26).

A construção do PPP é um momento também de repensar sobre as funções exercidas

por cada segmento da comunidade escolar, inclusive pela Equipe Pedagógica, para que se

estabeleça uma organicidade maior em relação ao real papel de cada um e de todos.

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Nesse sentido, o pedagogo precisa conhecer com clareza a importância política de sua

função no interior da escola, pois assim saberá lutar pelo seu espaço e pelo cumprimento de

seu papel enquanto mediador, articulador e organizador do trabalho pedagógico. Transformar

esse profissional em um tarefeiro é negar o compromisso político e educativo da escola.

Feita a escolha política, há a dimensão pedagógica que se traduz na possibilidade da

efetivação da ação intencional da escola e que também deve estar baseada em fundamentos

teóricos claros e em muita leitura para que se torne uma práxis. Práxis no sentido de

realmente unir teoria e prática, conteúdo e método, dimensão política e dimensão pedagógica,

que ajude o professor a ultrapassar as barreiras da mera competência técnica, realizando a

leitura de mundo, de ser humano, de desenvolvimento humano e consequentemente, nesse

contexto, dando continuidade ao seu próprio percurso de humanização.

Como diz Arroyo (2010, p. 43):

Aprender a ser pedagogo, a reatar com a estação da infância, que é a dos possíveis do ser humano, exige domínio de teorias e, sobretudo, exige uma elaboração pedagógica que não pode ser confundida com a aprendizagem e o domínio de mais uma teoria. É antes um saber sobre o percurso pedagógico, formador, que vai tornando possíveis as possibilidades de sermos humanos.

E para nos tornamos humanos, com certeza, precisamos aprender, pois temos uma

história. Precisamos, como diz Saviani (1992), quando fala sobre a natureza e especificidade

da educação, desenvolver nos homens sua segunda natureza, ou seja, cada indivíduo para se

tornar efetivamente humano, precisa conhecer o que já foi produzido pela humanidade,

precisa ter acesso ao conhecimento elaborado e desenvolver em si as capacidades que são

inerentes aos seres humanos culturais, para depois nela poder atuar. A natureza se efetiva na

produção do trabalho não-material: o trabalho que é produzido todos os dias na escola por

professores e alunos quando os conhecimentos são transmitidos-assimilados (no plano das

ideias, dos conceitos, dos símbolos...). Sua especificidade se traduz na medida em que se

efetiva a ação intencional de socialização do conhecimento elaborado.

Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e,

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de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 1992, p. 21).

Sendo assim, o pedagógico diz respeito à seleção dos conteúdos e as formas mais

adequadas de transmissão desse conteúdo, de maneira que todos se apropriem desse

conhecimento.

Para o professor, é fundamental entender qual a natureza e a especificidade da

educação, pois sua ação terá como essência, na escola, a intencionalidade. Toda ação

intencional exige planejamento. Por isso a importância da realização do Plano de Trabalho

Docente que esteja em consonância com o PPP e com a Proposta Pedagógica Curricular do

estabelecimento de ensino.

Nesse sentido, pode-se dizer que ainda encontra-se nas escolas certa resistência.

Alguns professores não entendem a importância de elaborar seu plano antecipadamente

confiando que “tudo esta na sua cabeça”. Não percebem que ao colocar no papel suas idéias

são pensadas e repensadas e os caminhos intencionais do ensino e aprendizagem são traçados

de forma mais rica e segura.

O Plano de Trabalho Docente é onde se concretiza o projeto de educação pensado pelo

coletivo da escola. É um documento de extrema importância que antecipa a ação intencional

do professor, organizando o processo de ensino e aprendizagem. Nele devem estar descritos

os conteúdos, os objetivos, o encaminhamento metodológico, os recursos didáticos, os

instrumentos e os critérios de avaliação. Sua elaboração deve ser um momento de reflexão,

pois é onde será traçado o caminho a ser seguido para que aconteça a aprendizagem e para

isso também se faz necessário conhecer os alunos, a série, a faixa etária em que se encontram,

enfim, os fatores que exercem influência nesse processo.

Dada sua importância, o Plano de Trabalho Docente não pode ser visto pelo professor

como mais uma exigência burocrática a ser cumprida no interior da escola. Ele deve

representar uma atitude crítica do professor em relação ao seu próprio trabalho. Improvisação

não faz parte do trabalho pedagógico escolar.

A ausência de um processo de planejamento do ensino nas escolas, aliada às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes no exercício do seu trabalho, tem levado a uma contínua improvisação pedagógica nas aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba sendo uma ‘regra’, prejudicando, assim, a aprendizagem dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo (FUSARI, 1998, p. 46).

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Nesse sentido, é tarefa do pedagogo acompanhar o processo de elaboração do Plano de

Trabalho Docente, mediando, articulando, discutindo, questionando e zelando para que ele se

efetive na prática, pois “O pedagogo escolar é aquele que domina sistemática e

intencionalmente as formas de organização do processo de formação cultural que se dá no

interior das escolas” (SAVIANI, 1985, p. 28).

Não é fácil conduzir a organização do trabalho pedagógico da escola. Sabe-se dos

enfrentamentos a que se deparam os pedagogos, e especificamente, o objeto da discussão, os

pedagogos da escola pública estadual. Um dos principais desafios é a grande quantidade de

atribuições vinculadas à figura desse profissional que na prática, muitas vezes, o transformam

em um profissional multitarefa, secundarizando o pedagógico em detrimento de ações

pontuais que aparecem cotidianamente na escola.

A formação unitária realizada pelos cursos atualmente, acontece com a intenção de

que o profissional conheça todos os processos que envolvem a organização do trabalho

pedagógico e saiba como atuar da melhor forma, mas não quer dizer que na prática isso o

transforme em alguém que “faz tudo”. O pedagogo não deve negligenciar atendimentos

pontuais, mas também não deve abarcar para si todas as situações diárias que inviabilizem ou

secundarizem sua atuação enquanto mediador da prática pedagógica.

E mediar a prática pedagógica é trabalhar não só, mas principalmente, com os

professores, pois é no trabalho de sala de aula que se efetiva a ação de intencionalidade

educacional da escola, a relação entre a teoria e a prática. A intenção atual do trabalho do

pedagogo com a equipe docente não é a de supervisionar, mas de dar suporte pedagógico ao

professor, fazendo com que ele sinta confiança no pedagogo e veja nele um aliado para ajudar

na sua atuação em sala de aula.

É papel do pedagogo fazer a articulação entre a teoria e a metodologia, dentro de condições concretas de ensino e aprendizagem, uma vez que, como responsável pela organização do trabalho pedagógico da escola como um todo, deve conhecer as possibilidades e as relações dos diversos contextos que a constituem, sendo-lhe possível prever e prover, de forma sistemática, os recursos e a distribuição do tempo e espaços escolares, para que as atividades planejadas sejam realizadas, além de analisá-las quanto à sua efetividade para promoção da aprendizagem” (BÕNI; CARVALHO; FANK; LEUTZ; TAQUES, 2010, p. 18).

A ação da Equipe Pedagógica também deve ser intencional e direcionada. E apesar do

ranço ainda existente da figura do pedagogo especialista que por muito tempo esteve presente

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na formação e na atuação nas escolas, trazendo a marca do assistencialismo, no Orientador

Educacional; ou da burocratização, no caso do Supervisor Escolar, a visão que se deve ter

hoje é do trabalho em conjunto.

Mas, para que as diversas funções não se percam por falta de definição de papéis, faz-

se necessário a organização de um Plano de Ação da Equipe Pedagógica, designando tarefas e

os responsáveis que as colocarão em prática em determinado período de tempo. Faz-se

necessário também que a Equipe se reúna periodicamente com a Direção da escola para

discussão, análise e encaminhamento das ações pedagógicas. A união entre Equipe

Pedagógica e Direção é fundamental para o sucesso da escola.

Foram relatados, no presente trabalho, alguns desafios enfrentados atualmente pelos

pedagogos das escolas estaduais, no entanto, todos apontam para possibilidades de mudança,

assim como mudanças podem acontecer na educação e na sociedade, por isso, a clareza por

parte do pedagogo de seu papel político e pedagógico é fundamental. É a base para que toda a

organização do trabalho pedagógico aconteça ultrapassando os limites fragmentadores e

burocratizantes de sua função, assim como, o entendimento por todo o coletivo da escola de

seu legítimo papel enquanto profissional da educação.

Considerações finais

O campo de atuação do pedagogo se insere onde houver uma prática pedagógica

intencional que resulte em aprendizagem. Geralmente esse processo acontece dentro da

escola, por isso quando se fala de pedagogo, lembra-se de escola.

A Pedagogia, em particular, estuda a prática educativa em suas várias dimensões,

métodos, sistematizações. Porém, ao estudar as práticas educativas, necessita juntamente

estudar a sociedade, pois reconhecer e analisar criticamente a relação entre educação e

sociedade se faz necessário para entender a dimensão política que permeia a educação.

Também se faz necessário conhecer os sujeitos que participam dessas práticas e como

acontece o aprendizado. Vários são os agentes educativos: a família, a escola, os meios de

comunicação, os movimentos sociais e outros. O que diferencia a escola desses agentes é que

ela oferece o conhecimento formal sistematizado, através de métodos de ensino eficazes

articulados com os interesses das camadas populares. Reside aí a dimensão pedagógica da

escola pública.

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Todavia, em qualquer que seja seu local de atuação, o pedagogo não deve perder sua

identidade enquanto profissional, que é a de estudar as relações educacionais e de construir o

diálogo entre o educador e o educando, fazendo com que o ato educativo converta-se em

efetiva aprendizagem.

Nesse sentido, faz-se necessário viabilizar continuamente discussões coletivas no

interior da escola sobre o papel do pedagogo e de estudos em torno da função desse

profissional e sua prática na escola, apontando possibilidades de superação, com vistas a

melhorias na educação pública do país, pois, como já disse Paulo Freire: “mudar o mundo é

tão difícil quanto possível” (FREIRE, 2000, p. 39)

REFERÊNCIAS

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LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. In: Educar, Curitiba: Editora da UFPR, nº 17, p. 153-176, 2001. PINZAN, L. T. M.; MACCARINI, N.B.B.; MARTELLI, A. C. O pedagogo numa perspectiva de trabalho coletivo na organização escolar. Paraná, v. 4, nº1, p. 19-28, jan/jun., 2003. Disponível em: http://www.unicentro.br. Acesso em: 15/03/2011. SAVIANI, Dermeval. Sentido da pedagogia e o papel do pedagogo. In: Revista ANDE, São Paulo, nº 9, p. 27-28, 1985. _______, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Cortez, 1992.