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OBRA DO BERÇO Obra do Berço (Fonte: www.inepac.rj.gov.br, acesso em 28/10/2011) O primeiro projeto individual do arquiteto Oscar Niemeyer a ser construído, em 1937, foi a Obra do Berço, erguido às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Contudo, Niemeyer ainda não era nem sombra do famoso arquiteto que viria a se tornar. Sorte da prima e socialite carioca Lysia Cezar de Andrade que dirigiam a Obra do Berço, uma casa de assistência a crianças carentes e encomendaram a nova sede da entidade onde ganharam o terreno. Grande destaque arquitetônico à construção do prédio em concreto armado, neste edifício nota-se uma aplicação dos cânones defendidos pelo arquiteto suíço Le Corbusier, influência-mor da geração de Niemeyer, como a presença dos elementos que constituem a arquitetura moderna: o pilotis, a planta livre, a fachada livre, possibilitando a abertura total de janelas na fachada, o terraço-jardim e o brise- soleil, pela primeira vez utilizado na vertical, elementos estes que conferem espaço e luz natural ao ambiente. Na Obra do Berço não aparecem ainda as inovações de Niemeyer, como o uso das curvas e as formas diferentes de

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OBRA DO BERÇO

Obra do Berço (Fonte: www.inepac.rj.gov.br, acesso em 28/10/2011)

O primeiro projeto individual do arquiteto Oscar Niemeyer a ser construído, em 1937, foi a Obra do Berço, erguido às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro.Contudo, Niemeyer ainda não era nem sombra do famoso arquiteto que viria a se tornar. Sorte da prima e socialite carioca Lysia Cezar de Andrade que dirigiam a Obra do Berço, uma casa de assistência a crianças carentes e encomendaram a nova sede da entidade onde ganharam o terreno. Grande destaque arquitetônico à construção do prédio em concreto armado, neste edifício nota-se uma aplicação dos cânones defendidos pelo arquiteto suíço Le Corbusier, influência-mor da geração de Niemeyer, como a presença dos elementos que constituem a arquitetura moderna: o pilotis, a planta livre, a fachada livre, possibilitando a abertura total de janelas na fachada, o terraço-jardim e o brise-soleil, pela primeira vez utilizado na vertical, elementos estes que conferem espaço e luz natural ao ambiente. Na Obra do Berço não aparecem ainda as inovações de Niemeyer, como o uso das curvas e as formas diferentes de pilares, mas de todo modo, a fachada com brise-soleil vertical ainda era novidade no Rio e, neste sentido, é historicamente relevante.Tais brises, como também são chamadas as placas de concreto aplicadas do lado externo das janelas para barrar a incidência dos raios solares, foram o único percalço de Niemeyer em sua estréia solo. Elemento de origem árabe, Niemeyer resolveu inovar mais ainda: desenhou um brise móvel vertical ligeiramente inclinado verificando que a solução de proteção fixa não resolveria. A variação da trajetória solar no equinócio anularia qualquer proteção, a menos que a inclinação das placas fosse determinada em função da época do ano mais desfavorável, o que, além de uma inclinação demasiada, traria a perda quase total da vista da Lagoa.

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Equinócios à parte, o fato foi que a ousadia teve seu preço. Como naquele tempo ele e seu mestre Lúcio Costa já estavam imersos no projeto do pavilhão brasileiro da Feira de Nova York, a colocação dos brises não saiu do jeito que havia planejado, pois encontrou o brise instalado de forma inapropriada, sem proteger o interior contra a insolação. Dizem que, na volta dos Estados Unidos, Niemeyer mandou parar a obra e refazer tudo, pagando os custos do próprio bolso pela execução do brise na forma em que havia projetado. A reforma do prédio foi patrocinada pela empresária Silvia Almeida Braga, realizadas em 2001. As mudanças empreendidas no prédio trataram de reorganizar os espaços internos para melhor atender às necessidades práticas do internato. Mantiveram evidentemente intacta a fachada em brise-soleil, tombada pela prefeitura do Rio em 1987.O prédio da Obra do Berço foi inaugurado em 1938 e a instituição ainda o ocupa. Ainda hoje, o pequeno prédio modernista que inaugura o currículo de um dos maiores nomes da arquitetura no século XX é sede da Obra do Berço, e também parada obrigatória para estudantes, profissionais e críticos de todo o planeta.

Ministério da Educação e Saúde

MES (Fonte: www.jvillavisencio.blogspot.com, acesso em 28/10/2011)Em 1934, Gustavo Capanema era então o atual Ministro da Educação e Saúde. Durante o seu mandato se empenhou em construir a sede do Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Gustavo Capanema). Para isto convida Lúcio Costa para montar uma equipe e realizar um projeto, em estilo moderno, para o novo edifício que se tornaria o marco da arquitetura moderna no Brasil.Lucio Costa e sua equipe, conhecedores da revolução que estava ocorrendo, na Europa, no campo da arquitetura e urbanismo, convidou Le Corbusier, pintor e escultor, além de arquiteto e urbanista, que estava entre os expoentes da arquitetura

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moderna que se disseminava nas primeiras décadas do século XX por todo o mundo, à visitar o Brasil e participar do projeto como consultor. Calcado nos princípios modernistas como racionalidade e funcionalidade, o edifício apresenta ainda os cinco pontos: planta livre, construção sobre pilotis, terraço jardim, fachada livre e janela em fita, criados e empregados por Le Corbusier em outras obras.Os princípios centrais do seu método de trabalho e de sua filosofia urbanística como o uso racional dos materiais, métodos econômicos de construção, linguagem formal sem ornamentos e diálogo sistemático com a tecnologia industrial, terão influência na arquitetura moderna brasileira.O projeto realizado para o edifício do Ministério da Educação e Saúde reflete a tentativa do grupo brasileiro de incorporar os preceitos racionais da arquitetura corbusiana: a adoção de formas simples e geométricas, o térreo com pilotis, os terraços-jardim, a fachada envidraçada, as aberturas horizontais, a integração dos espaços interno e externo, o aproveitamento da ventilação e luz naturais por meio do uso de lâminas móveis e o trabalho com volumes puros, a partir do cruzamento de um corpo horizontal e de um vertical. As modificações feitas pelo grupo de Lucio Costa dão origem a um resultado novo, fruto da combinação entre o racionalismo arquitetônico internacional e as experiências até então realizadas pela escola carioca. Dentre as soluções novas formuladas pelo grupo local, estão o dinamismo e a leveza do conjunto, e a forte integração entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas. O projeto tem destaque ainda por ser a primeira realização mundial da fachada envidraçada orientada para a face menos exposta ao sol e a primeira utilização do brise-soleil em larga escala.Situando o edifício no centro do terreno, e separando-o do entorno, o projeto realizado pela equipe de Lucio Costa segue o modelo de implantação de arranhas-céus isolados, contrario as normas de ocupação tradicional da cidade do Rio de Janeiro. A construção se desenvolve em sentido vertical, contrariando a horizontalidade pretendida por Le Corbusier no primeiro esboço. Visando a um melhor aproveitamento da luz, são utilizados caixilhos de vidro na fachada sudeste, para maior iluminação e vista da baía de Guanabara - e, na fachada oposta, mais iluminada, os brise-soleils, com lâminas horizontais móveis. Por sua vez, os três volumes distintos sobre pilotis, projetados por Le Corbusier, se transformam em um bloco principal também sobre pilotis, mais altos do que o previsto, e em dois outros blocos baixos localizados num mesmo eixo, de modo a sugerir continuidade. No térreo, uma esplanada aberta, ajardinada, com espaços livres distribuídos por todos os lados, valoriza a construção, que ganha um novo efeito de monumentalidade, sugerido pelos contrastes entre volumes e vazios.A volumetria geometricamente pura e a sutil articulação no terreno, juntamente com os princípios modernistas tornaram o MES, o primeiro arranha-céu brasileiro em estilo moderno. Tendo em vista a grande importância deste prédio para a arquitetura brasileira, é na análise mais profunda destes pontos, que o presente trabalho se foca, considerando ainda aspectos da inserção no terreno, a brasilidade - no que toca a arquitetura já existente e elementos empregados nos acabamentos.A sede do Ministério da Educação e Cultura é complementada por obras de arte de autoria de Candido Portinari (murais no gabinete do ministro e desenhos de todos os azulejos); esculturas de Celso Antonio; Bruno Giorgi e Jacques Lipchitz , além de

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jardins de Burle Marx. A construção do edifício, iniciada em 1937, conhece um primeiro acabamento exterior em 1942 mas só é inaugurada oficialmente em 1945, por Getúlio Vargas.

Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque

Pavilhão Brasileiro (Fonte: www.vitruvius.com.br, acesso em 28/10/2011)Analisado em detalhe o pavilhão do Brasil e a sua contribuição para o desenvolvimento da arquitetura brasileira, sua originalidade e a intensidade expressiva de uma nova linguagem que identificaria Niemeyer com a estética da Escola Carioca, não foi um fenômeno isolado no contexto da exposição.Em primeiro lugar, o apoio incondicional obtido por Lucio Costa e Oscar Niemeyer em Nova York teve uma fundamentação política. O governo de Roosevelt desejava mudar o bom relacionamento de Getulio Vargas com os regimes nazista e fascista de Hitler e Mussolini. Daí o interesse em valorizar a presença do Brasil na Feira.A escolha dos dois arquitetos brasileiros foi feita através de um concurso promovido pelo Ministério do Trabalho, para projetar o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque, em 1939.O caráter inovador do pavilhão brasileiro, como livre interpretação "regionalista" da rígida linguagem racionalista do Movimento Moderno, indicava uma tendência que tinha certo apoio no debate arquitetônico norte-americano. Como o projeto definitivo do pavilhão foi elaborado em Nova York (foi necessário refazer os dois desenhos diferentes e antagônicos apresentados por Costa e Niemeyer no concurso) sem dúvida esse clima artístico deve ter influenciado a elaboração da nova proposta. Tampouco foi difícil a colaboração entre os projetistas brasileiros e os profissionais norte-americanos que participaram da criação dos desenhos. Um deles foi o paisagista Thomas Price, autor dos jardins (erroneamente creditados a Burle Marx por alguns autores). Havia ainda Paul Lester Wiener, responsável pelo mobiliário e pelo sistema expositivo, que ecoava as estruturas publicitárias e decorativas predominantes em Nova York no final daquela década. Além dos interiores e dos estandes de

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exposição, chegou a desenhar uma fonte própria para o pavilhão: a Brazil Bodoni. A letra foi usada em todo o local para indicações de ambientes e informações aos visitantes. No “Texto Esclarecedor” de Lucio Costa, o mesmo cita a dificuldade em se fazer um pavilhão que rivalize com países mais ricos e “experimentados” e implantá-lo em uma terra industrial e culturalmente desenvolvida como os Estados Unidos, e como o projeto final foi influenciado em seu partido tanto pelo terreno (sinuoso em uma extremidade) como pela “massa pesada, mais alta e muito maior” do pavilhão Francês. O sucesso do pavilhão e os elogios dos críticos determinaram, segundo Lucio Costa, o lançamento mundial de Oscar Niemeyer, ratificado pela difusão das novas obras realizadas no Brasil, contidas no livro Brazil builds e na exposição do MoMA (1943). Logo após a Segunda Guerra, Niemeyer já era uma figura relevante no contexto latino-americano.