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Trabalho de Língua Portuguesa I - O Primo Basílio Índice página Introdução…………………………………………… 2 Resumo……………………………………………….. 3 Análise………………………………………………….5 Personagens: Principais……………………………7 Secundárias………………………….8 Crítica………………………………………………….11 Conclusão…………………………………………….12 Autor: Biografia………………………………………13 Bibliografia……………………………………15 Bibliografia…………………………………………..16 1

O Primo Basílio - Análise

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Trabalho de Língua Portuguesa I - O Primo Basílio

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Introdução…………………………………………… 2Resumo……………………………………………….. 3Análise………………………………………………….5Personagens: Principais……………………………7 Secundárias………………………….8Crítica………………………………………………….11Conclusão…………………………………………….12Autor: Biografia………………………………………13 Bibliografia……………………………………15Bibliografia…………………………………………..16

Trabalho realizado por: Dora Oliveira Sérgio Branco

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Trabalho de Língua Portuguesa I - O Primo Basílio

Introdução

O Primo Basílio, obra de Eça de Queirós publicada em 1878, tem como temática principal o adultério, nomeadamente o praticado pela classe burguesa lisboeta. Esta relação adúltera é representada pelas personagens Luísa e Basílio, sendo a figura feminina quem trai o marido. É à volta deste caso que se desenvolve toda a intriga da história, alimentada pelas acções de personagens que representam diferentes tipos sociais . É, aliás, com base nesta caracterização de uma parte da sociedade portuguesa do século XIX que se mostram os diferentes hábitos e, como afirmou Eça, “os costumes dissolvidos e os carácteres corrompidos” .Ou seja, descreve-se um “episódio doméstico” (subtítulo da obra).

Para além disso, o Primo Basílio possui um estilo irónico e sarcástico (como de resto noutras obras de Eça).

Resumo

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A personagem principal é Luísa, uma jovem de 25 anos casada com um engenheiro - Jorge. Este parte no começo da história de Lisboa para executar uma viagem de trabalho ao Alentejo. Luísa é deixada em casa com a empregada que tanto a criticava, Juliana, tentando os amigos de Jorge que Luísa – a pedido dele- não converse com uma antiga amiga de infância, Leopoldina, muito mal-vista pela sociedade lisboeta por cometer várias relações adúlteras.

Aparece então o seu primo Basílio, por quem se apaixonou quando jovem e que partiu para o Brasil. Depois de recuperar a fortuna perdida, naquele país, retorna a Lisboa, passando a visitar Luísa enquanto Jorge estava em viagem. Basílio declara que ainda está apaixonada por ela . Começa então um reacender do relacionamento, comentado pela empregada, as vizinhas e os amigos do marido. Luísa e Basílio tornam-se amantes, Basílio arranja um local mais discreto que a casa dela e passam a encontrar-se sob o pretexto de que Luísa ia visitar uma amiga (D.Felicidade) no hospital. Luísa escreve-lhe bilhetes e cartas, e ele também. Mas à medida que passa o tempo a relação esfria e Basílio vai ficando desinteressado. Quando num rompante ambos estão prestes a separarem-se, juntam-se novamente. Num dia, quando Luísa chega em casa disposta a despedir Juliana, esta revela-lhe que recolheu as cartas que a patroa mandava ao amante. Luísa desmaia. Juliana começa a planear com a inculcadeira Tia Vitória a chantagem a Luísa e extorquir um conto de réis de Basílio. Luísa fala com Basílio sobre fugirem para que Juliana não os humilhe ao revelar o conteúdo das cartas, mas ele nega dizendo que é questão de dinheiro, não de fuga. Mas Basílio foge para Paris, dizendo a Luísa que voltará em 20, 30 dias o que ela desconfia que é mentira. Juliana passa então a exigir-lhe 600 mil-réis "para a velhice”. Como Luísa não pode pagar, vai arrastando a situação. Jorge volta de viagem, e a situação de chantagem provocada por Juliana agrava-se. Esta última a princípio pede para sair do sótão para um outro quarto. Depois pede roupas, vantagens, comida... . Joana, a cozinheira, fica com inveja e passa a ganhar alguns presentes para se apaziguar. Espalha-se por Lisboa que trabalhar naquela casa é vantagem grande. Desta maneira Luísa fazia boa parte do serviço doméstico. Quando Jorge descobre isto fica irritadíssimo, e tenta demitir Juliana, sendo impedido por Luísa. Jorge cria antipatia por Juliana. Luísa tenta conseguir dinheiro com um milionário que está apaixonada por ela, mas não consegue ao recusar-se a entregar-se a ele, expulsando-o a chicotadas. Aliás, esta foi uma das várias tentativas de Luísa em obter o dinheiro necessário para pagar a Juliana e acabar com aquela chantagem infernal. Após uma briga entre Luísa e Juliana, na qual a cozinheira Joana defende a ama, Luísa despede Joana, em prantos para que não revele o acontecimento. Conta então uma meia verdade (que foi um amor platónico e a empregada tinha cartas) a Sebastião, amigo de Jorge, que começa traçar um plano para recuperar as cartas. O plano tem mais sucesso que o esperado, já que Juliana, após entregar as cartas (intimidada por um polícia que Sebastião levara para a ocasião), descobre que está despedida, cai morta por causa do seu aneurisma. Luísa pede a Joana que volte como se nada tivesse acontecido e cai doente naquele dia. Enquanto isso, chega uma carta de Basílio que Jorge abre, descobrindo tudo. Passa então duas semanas oscilando entre o perdão e a solução final, até que Luísa se recupera quase completamente. Neste dia conta-lhe, pensando em perdoá-la, mesmo tendo afirmado antes de viajar que isto era contra seus princípios, mas ela cai adoece novamente. A sua saúde e aparência tornam-se cada vez mais debilitadas , até que morre. As suas últimas palavras, dirigidas a Jorge, são um pedido de perdão. Mais tarde o Conselheiro Acácio escreve-lhe o necrológio enquanto a sua amiga, Dona Felicidade é recolhida a um hospital (não por causa da morte dela, mas porque, estando apaixonada pelo Conselheiro, adoece ao saber que ele tinha uma amante, tendo sido durante toda a história um modelo de castidade e virtude) e Jorge muda-se para a casa de Sebastião. Basílio volta um pouco depois de Paris e vai até a casa da prima, sem saber da morte. Quando descobre o que aconteceu fica pouco chocado .O amigo que o acompanhava, o Visconde Reinaldo, comenta que ela tinha sido apenas uma amante burguesa, casada com um reles homem, que não tinha classe; que era afinal apenas para aquele verão que Basílio passara em Lisboa.

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Análise

Na obra O Primo Basílio encontramos uma crítica profunda aos padrões da burguesia lisboeta, mais concretamente a relação de um casal e desestabilização que o adultério, propiciado por vários factores, veio provocar.

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A tomada da família lisboeta como principal objecto de crítica é justificada por Eça de Queirós em carta a Teófilo Braga:”…e você vendo-me tomar a família como assunto, pensa que eu não devia atacar essa instituição eterna, e devia voltar o meu instrumento de experimentação social contra os produtos transitórios, que se perpetuam além do momento que os justificou (…).Perfeitamente: mas eu não ataco a família – ataco a família lisboeta (…) produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos…” Destas afirmações se pode depreender que este livro trata da caracterização de um “episódio doméstico”, como afirma Eça, “extremamente familiar para quem conhece a burguesia de Lisboa”.

Relativamente às personagens, a propensão da personagem principal, Luísa, em cometer adultério quando Jorge parte para o Alentejo e o seu companheiro de infância passa a visitá-la regularmente deve-se, em parte, ao facto de ser muito influenciada pelos romances que lê. Espelha bem, assim, as fraquezas criadas pela ociosidade nas burguesas. Luísa (caracterizada por Eça como a “burguesinha da Baixa”), vendo-se aborrecida por não ter o marido consigo, procura uma paixão que lhe preencha o vazio, também por influência de Leopoldina, sua amiga, conhecida pelos seus vários relacionamentos adúlteros. Encontra essa paixão em Basílio, o primo recém-chegado do Brasil. É nele que Luísa tenta materializar as imagens romanescas de que se nutria a sua imaginação, deformada pelo consumo de novelas, atracção propiciada também pelo desejo de fuga ao ambiente medíocre de Lisboa. Embora o amor não fosse completamente correspondido, pois o que procurava Basílio era apenas uma pequena aventura amorosa enquanto estivesse em Lisboa, Luísa deixa-se iludir por ele, buscando um amor como aqueles que encontrava nos seus romances preferidos (os de Walter Scott, “A Dama das Camélias”). Por outro lado, o temperamento e os hábitos de Jorge constituem uma outra motivação para o adultério. Ele é caracterizado como anti-romântico, metódico e de hábitos saudáveis, ou seja, distanciado dos desejos de Luísa.

Porém, é evidente ao longo de todo este romance que Luísa se depara com um dilema, o de escolher entre a segurança e o bem-estar que a sua vida com Jorge lhe proporcionava, mesmo não lhe dando a excitação que desejaria e a paixão por Basílio que lhe dava uma existência superiormente interessante”. Mas este relacionamento poderia ser descoberto por Jorge, o que fazia com que Luísa se sentisse mal consigo mesma ao aperceber-se que traía “o bom marido(…)o marido que a alma me escolheu (cap.I). Luísa é influenciada por Basílio a ponto de que “o adultério aparecia (…) um dever aristocrático. De resto a virtude parecia ser (..)o defeito de um espírito pequeno…”(Cap.III) – a traição parecia uma “actividade” institucionalizada entre a burguesia. Além disso, são várias as oscilações de paixão entre Luísa e o seu primo ao longo do romance, motivadas pelo desinteresse crescente de Basílio, pelo sentimento de culpa por parte de Luísa ou pela ameaça de Juliana. A desilusão de Luísa resulta do confronto dos os seus estereótipos de paixão com a trivialidade grosseira do adultério. São vários os eventos que nesta obra apontam para um desenlace que parece óbvio: o abandono de Luísa por parte de Basílio, depois do começo da chantagem da criada da primeira. É aqui que surge a segunda linha de intriga distinta do adultério.

Em O Primo Basílio, Eça, de acordo com o programa realista, quer apresentar as causas da degeneração das classes burguesas em Portugal. Deste modo a intenção principal não é construir uma narrativa livre, mas uma narrativa ilustradora, para a qual já tinha todos os figurinos mais ou menos prontos – as personagens não surpreendem e muito menos evoluem e quando fazem, só pela força das circunstâncias. Pode referir-se o caso de Basílio, que Eça em carta a Teófilo descreve como tendo sido “um pulha pobre” que “depois, tornou-se apenas um pulha rico”. Encontra-se em O Primo Basílio o programa naturalista proposto por Eça: neste caso, mostra à mulher burguesa que a infidelidade não soluciona, antes agrava carências de ordem cultural e moral –só uma alteração radical das mentalidades pode revitalizar a mulher. Mesmo assim, há uma personagem que surpreende, não pelo seu carácter, mas pelos seus actos dentro da sua condição social : Juliana, a criada injustiçada pelas suas condições de pobreza, que anseia pela vingança contra as “patroas todas”, pois Eça refere que em Portugal «a brandura dos costumes faz dos criados uma espécie de membros da família», ao contrário de outros países onde «a classe servil está sempre em rebelião contra as raças

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dominadoras.» Juliana inclui-se claramente no último grupo, mas caracterizada por um rancor e mesquinhez desmesurados.

Ao encontrar a sua oportunidade para se vingar da patroa (a obtenção de cartas que Luísa escrevera a Basílio e reclamar os seus direitos), Juliana consegue chantagear de tal forma Luísa que os seus papéis na casa se invertem e Luísa é obrigada a fazer todas as tarefas domésticas até à exaustão. Luísa fica nervosa pelo possível facto de Juliana contar a Jorge a verdade quanto à sua relação extra-matrimonial (aquando do relato de Ernestinho sobre a sua obra “Honra e Paixão”, este perguntou o que fazer com a personagem adúltera do seu romance, ao que Jorge respondeu:”Mata-a” e Luísa tem um pesadelo em que Jorge a mata). Ao saber da traição da esposa, por via de uma carta que Basílio enviara quando Luísa já estava doente, Jorge enfurece-se (acabar por ler a carta à frente da mulher).Porém, a mudança de atitude de Jorge e o seu perdão constituem um resultado da moderação da conveniência burguesa que se acaba sempre por impor.

A morte de Luísa também é muito significativa porque diante dos seus vícios e da sociedade que a rodeava, achou-se necessário castigar a heroína e o castigo foi a morte. Já a intriga provocada por Juliana contra a personagem principal, Luísa, possui um carácter punitivo para a ama. Outros indícios no romance nos remetem para um inevitável desfecho infeliz para Luísa como o canto de Luísa (“Di cá lá, per la citá/ Andiami a transnottari”)- prevê o comentário dos vizinhos sobre o seu relacionamento com o primo-, o borrão negro que cai na carta que Luísa escreve a Basílio, o azeite que cai, o caixote onde Juliana virá descobrir as cartas amorosas chamado sarcófago).

Por conseguinte, Eça não é apenas um analista (como propunha o realismo) nem apenas um artista, mas também um moralista. Possuía uma finalidade ética e social a atingir , afirmando que “uma sociedade sobre estas falsas bases (analisadas n’O Primo Basílio), não está na verdade: atacá-las é um dever(…)os Acácios, os Ernestos, os Savedras, os Basílios são formidáveis empecilhos; são (…)causa de anarquia no meio da transformação moderna.

Como em O Crime do Padre Amaro ou Os Maias, na obra de 1878 são relatados os vícios da sociedade, na forma característica do realismo. A minúcia e o humor são particularidades frequentes neste romance. Como o próprio autor escreveu, “os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos”. É esta dissolução que Eça pretende denunciar.

Outras referências a costumes burgueses no século XIX estão presentes em O Primo Basílio: a ida ao Passeio Público constituía um rito social muito em voga na altura, local privilegiado de encontro da burguesia e que ao Domingo todos podiam ter acesso, mas que era um local de abatimento e pasmaceira”;o fluxo emigratório para o Brasil, as viagens de exploração e a Paris, destino lúdico favorecido (todos representados por Basílio); o romance escrito em Portugal, para Eça um autêntico “drama de lupanar”.

Personagens

Principais

Luísa

A personagem principal é uma mulher da alta sociedade, casada há três anos com Jorge e tipifica a “Burguesinha da Baixa”: “sentimental”, “arrasada de romance, lírica, sobreexcitada no temperamento pela ociosidade e pelo mesmo fim do casamento peninsular que é ordinariamente a luxúria, nervosa pela falta de exercício e disciplina

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moral”. Ao longo da história revela-se indecisa em escolher entre o “bom” Jorge ou o “maroto” Basílio, que a atraem por diferentes razões, acabando por se mostrar uma mulher fraca.

O motivo que a leva a entregar-se a Basílio, de acordo com as reflexões de Eça, nem ela sabia. Uma mescla da falta do que fazer com a "curiosidade mórbida em ter um amante, mil vaidadezinhas inflamadas, um certo desejo físico..."

A maioria das personagens surge no romance devido à sua relação, mais ou menos estreita com Luísa.

“…saiu muito boa dona de casa (…) uma passarinha amiga do seu ninho e das carícias do macho…” (em relação a Jorge – pag.14)

”Lia muitos romances.(…) Havia uma semana que se interessara por Margarida Gautier: o seu amor infeliz dava-lhe uma melancolia enevoada…” (pag.18)

“E do fundo da sua natureza de preguiçosa vinha-lhe uma indefinida indignação contra Jorge, contra Basílio, contra os sentimentos, contra os deveres, contra tudo o que a fazia agitar-se e sofrer.” (pag.122)

“Que vida interessante a do primo Basílio! O que ele tinha visto! Se ela pudessse fazer também as suas malas , admirar aspectos novos.(…) Jorge era caseiro, tão ,lisboeta!” pag.70

Basílio

Como refere Eça é “o maroto , sem paixão nem a justificação da sua tirania, que o que pretende é a vaidadezinha de uma aventura, e o amor grátis”. Basílio, que fizera fortuna no Brasil , viera visitar a prima a Lisboa e conquista-a, manipulando os sentimentos da amada a seu bel-prazer. Explorando a sua vaidade fútil, Basílio compara a fidelidade conjugal a uma demonstração de atraso das mulheres de Lisboa frente aos hábitos supostamente liberais e modernos das senhoras de Paris - todas com seus amantes, conforme assegurava o primo. Também Portugal e Lisboa são alvos da sua crítica, principalmente quando comparados com Paris (esta característica é mais acentuada no seu amigo, o Visconde Reinaldo).         Desprovido de charme ou atributos mais sedutores, é o mais cínico dos personagens "conquistadores" de Eça de Queirós. De facto, ao ver que a situação de Luísa se tornara complicada, abandona-a, deixando-a à mercê de Juliana”

“- E eu pedaço de asno estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito melhor! E sozinha em casa, aborrecida talvez !”,“– A ela, como Santiago aos mouros! (pag.69)

“Porque enfim fossem francos: que tinha ela?(…) …a verdade é que não era uma amante chique.” (em relação a Luísa, pag. 451)

Jorge

A sua presença faz-se sentir pelo papel social que representa: é o marido.Calmo, reservado, representa uma classe acomodada. É terno e bom para Luísa,

mas não lhe proporciona a aventura desejada. O se carácter fleumático faz-se notar pelo seu perdão a Luísa, mesmo sabendo da traição que a esposa lhe tinha infligido”

“Fora sempre robusto, de hábitos viris! (…)Não frequentava botequins, nem fazia noitadas .(…) Nunca fora sentimental…” (pag.13, 14)

Juliana

A personagem servil com maior relevo nas obras de Eça de Queirós, apesar da hipotética simpatia que as suas más condições de vida e injustiça de que era alvo

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podiam gerar, surge como uma pessoa física e psicologicamente repugnante. Conduz-se pela revolta (não suporta sua condição de serviçal), pela frustração (fracassou na tentativa de mudar de vida) e pelo ódio rancoroso contra a patroa (ódio, na verdade, contra todas as patroas que a escravizavam há 20 anos). Anseia pelo dia que lhe proporcione uma oportunidade que permita vingar-se da ama que a desprezava (considerava-a uma “pobre de Cristo”). Assim como Basílio, Juliana tentará tirar proveito das circunstâncias, reunindo provas do adultério para fazer chantagem. Mas ela pretende mais do que dinheiro - que exige sem sucesso de Luísa; ela quer a desforra. E os recursos que utiliza levarão o definhamento físico e emocional da patroa.

“Desde que servia, apenas entrava numa casa sentia logo, num relance, a hostilidade, a malquerença…”, “A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar: odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril.(…)É patroa e basta!”, “Com que gosto trazia a conta retardada de um credor impaciente, quando pressentia embaraços na casa”,”Tinha visto morrer criancinhas, e nem a aflição das mães a comovera; encolhia os ombros:”Vai dali, vai fazer outro.Cabras!”” (pag.77,78)

Secundárias

Leopoldina

Amiga de Luísa, é detestada por Jorge . É uma burguesa leviana, conhecida como a “Pão e Queijo”, possuindo a fama de ter um amante a cada semana. Ou seja, é uma praticante de adultério exímia e depravada, conhecida pelos seus atributos físicos, sentindo-se bem com esse comportamento. É para Luísa um modelo a seguir (já que Leopoldina representava para ela um modelo de liberdade e emoção amorosa constante) e raramente reprova os actos da amiga”.

“Não era alta, mas passava por ser a mulher mais bem feita de Lisboa. Usava sempre vestidos muito colados, com uma justeza que acusava, modelava o corpo como uma peliça…”

Conselheiro Acácio

O autor d’ O Primo Basílio refere que Acácio “por si só valia um romance” . De facto ele é uma das personagens representativas de um determinado tipo social mais vincadas nesta obra – simbolizava o “formalismo oficial”, usava o culto das aparências, tentando nunca ser banal ou mal-educado. É o intelectual vazio, conservador, tradicionalista, defensor da monarquia e do governo, exibindo uma cultura supostamente acima da média, mas que não passa de conhecimentos balofos e ultrapassados. Esta característica sua deu origem à expressão “verdades acacianas”. O relacionamento amoroso com a com a sua criada é a única excepção a esta aparente boa postura.

“Fora, outrora, director-geral do Ministério do Reino, e sempre que dizia “El-Rei” erguia-se um pouco na cadeira. Os seus gestos eram medidos, mesmo a tomar rapé. Nunca usava palavras triviais…” (pag.39)

Julião

Médico medíocre, ácido no discurso, utilizador da lógica, não vê no caso de Luísa e Basílio mais que um simples adultério.

“Era um homem seco e nervoso…”, “..entalado na sua vida mesquinha, via os outros , os medíocres, os superficiais (…) a instalar-se à larga, na prosperidade! (pag.35)

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D.Felicidade

Amiga de Luísa, solteirona tolhida pela sociedade, escolhe o Conselheiro como paixão tardia, o que não é correspondido por parte daquele. Ridícula e desequilibrada, a sua estadia no hospital serve a Luísa como “disfarce” das idas desta última ao “Paraíso”, onde se encontrava com Basílio.

“D.Felicidade era espalhafatona, um pouco tonta, mas era uma mulher de idade, íntima de Luísa; tinha mais autoridade, mais habilidade mesmo…” (pag.206)

Sebastião

É uma das poucas personagens d’ O Primo Basílio , senão mesmo a única, por quem se pode nutrir alguma simpatia. Eça chama-o “um pobre bom rapaz”. Tímido, afável e solidário, é amigo de longa data de Jorge. É Sebastião quem avisa Luísa de que se tem reparado no sujeito (Basílio) que lhe começava a entrar em casa regularmente, não o dizendo sem hesitação, pois tinha receio de desequilibrar a amiga. Reveste-se de especial importância da história porque é ele que consegue fazer com que Juliana devolva as cartas e se acabe com a chantagem de que padecia Luísa.

“…não compreendia que ela (Luísa) falasse, sentisse, vivesse que não fosse (…) para maior felicidade de Jorge.”

“Era solitário e acanhado”, “Sebastião, que tinha a força de um ginasta, oferecia a resignação de um mártir.”

Ernestinho Ledesma

É um funcionário público que escreve uma peça de teatro intitulada “Honra e Paixão”. Simboliza a “literatura acéfala” (carta de Eça a Teófilo Braga), o romantismo exacerbado que se concebia na escrita naquela altura, impregnado de um sentimentalismo exagerado.

“Escrevia sobretudo pela Arte – porque era empregado na Alfândega, com um bom vencimento…” (pag.42)

“E o pobre rapaz crê-se realmente um Dumas filho!! (pag.296)

Joana

É a cozinheira de Luísa. Embora seja amiga de Juliana, quando esta ameaça a patroa à sua frente, defende a ama, dando uma bofetada à criada ameaçadora.

“Juliana lisonjeava sempre a cozinheira: dependia dela; dava-lhe caldinhos às horas de debilidade…”

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Crítica

A nossa opinião quanto ao livro O Primo Basílio é muito positiva, uma vez que nos agradou a forma como é desenvolvida a história bem como a caracterização das personagens. O estilo irónico e mordaz do texto e as várias situações foram pontos importantes para percebermos o contexto e os tipos sociais referenciados, para além de serem bastante humorísticos.

Apesar de no inicio da obra a acção passar por poucos desenvolvimentos, à medida que a lemos , esta tornou-se muito motivante. Embora não tenha uma estrutura tão complexo como outras obras de Eça de Queirós (por exemplo Os Maias), pensamos que a acção e o texto estão muito bem construídos.

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Conclusão

O Primo Basílio é um profunda crítica aos valores e hábitos burgueses da época da Regeneração, revelando também os vícios e situações dramáticas de outras classes sociais, nomeadamente a servil, tipificada pela criada Juliana. Porém, mais do que a pequena burguesia fútil, Eça ataca a dama da alta sociedade, dominada pelo romantismo e inércia, resultantes de um complexo de factores e hábitos que moldam um carácter frágil como o de Luísa, que se rende à paixão hipócrita do primo Basílio. O casamento, uma das instituições consideradas mais sólidas, é alvo da sua ironia. Com as características do romance realista (objectividade, crítica com a intenção de gerar melhorias numa sociedade tão defeituosa), O Primo Basílio mostra-mos um retrato fiel dos comportamentos sociais naquela altura.

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AutorBiografia

José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim, a 25 de Novembro de 1845, filho de José Maria Teixeira de Queirós, magistrado judicial, e Carolina Augusta Pereira d'Eça, natural de Viana do Castelo. Por se tratar de uma ligação amorosa irregular, o pequeno José Maria foi registado como filho de "mãe incógnita".

Este facto levou a que fosse separado dos pais, que só viriam a casar quando já tinha quatro anos. Na verdade passou a maior parte da sua vida como filho ilegítimo, pois só foi reconhecido aos quarenta anos de idade, na ocasião em que casou. Até 1851 foi criado por uma ama em Vila do Conde; depois foi entregue aos cuidados dos avós paternos que viviam perto de Aveiro, em Verdemilho.

Por volta dos dez anos foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, onde o pai era juiz. Ramalho Ortigão era filho do director e chegou a ensinar Francês ao jovem Eça.

Em 1861 matriculou-se em Coimbra, no curso de Direito, que concluiu em 1866. Foi aí que conheceu Antero de Quental e Teófilo Braga mas não se envolveu na polémica conhecida por Questão Coimbrã (1865-66). Em Coimbra, cruzavam-se a

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tendência romântica e as novas ideias de raiz positivista e ambas contribuíram para a formação intelectual de Eça e dos seus companheiros.

Após a formatura em 1866, chegou a estabelecer-se como advogado em Lisboa, mas rapidamente desistiu dessa carreira, que lhe parecia pouco promissora.

Em 1867 fundou e redigiu integralmente, durante perto de meio ano, o jornal O Distrito de Évora, com o qual fez oposição política ao governo. Meses depois instalou-se em Lisboa, passando a colaborar com maior regularidade na Gazeta de Portugal, para a qual começara a escrever no ano anterior folhetims intitulados Notas Marginais. Os textos desta época,publicados posteriormente com o título Prosas Bárbaras, reflectem ainda uma acentuada influência romântica.

Em 1869 fez uma viagem ao Egipto e Palestina, tendo na ocasião assistido à inauguração do canal de Suez. As impressões dessa viagem ficaram registadas nos textos que integram o livro O Egipto e forneceram o ambiente para o romance A Relíquia .

Em 1870 escreveu em parceria com Ramalho Ortigão uma série de folhetins no “Diário de Notícias” a que deram o nome de O Mistério da Estrada de Sintra, lançando igualmente com o mesmo autor no ano seguinte uma publicação de crítica política e social - As Farpas. Os textos de Eça de Queirós viriam a ser publicados em livro com o título Uma Campanha Alegre.

Durante a sua estada em Lisboa reencontrou Antero de Quental e outros jovens intelectuais e juntos formaram o grupo do Cenáculo, de onde partiu a ideia das Conferências do Casino. O próprio Eça pronunciou uma das palestras, em 12/6/1871, sobre "O Realismo como nova expressão de arte".

Em 1870 havia sido nomeado administrador do concelho de Leiria. Essa curta estadia forneceu-lhe o material para imaginar o ambiente provinciano e devoto em que decorre a acção de O Crime do Padre Amaro .

Entretanto ingressou na carreira diplomática, tendo sido nomeado cônsul em Havana (Cuba, na altura colónia espanhola), em 1872.. Durante esse período, fez uma longa viagem pelos Estados Unidos e Canadá. Foi nesta fase que redigiu o conto Singularidades de Uma Rapariga Loura e a primeira versão de O Crime do Padre Amaro .

Em Dezembro de 1874 foi transferido para Newcastle, onde escreveu O Primo Basílio, e mais tarde para Bristol (1878). Dez anos depois (1888) foi colocado em Paris, onde permaneceu até à sua morte.

Na sequência das Conferências do Casino, em 1877 Eça projectou uma série de novelas com que faria uma análise crítica da sociedade portuguesa do seu tempo, com a designação genérica de "Cenas Portuguesas". Mesmo sem obedecer com rigor a esse projecto, muitos dos romances escritos por Eça até ao fim da sua vida nasceram dele: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Capital, Os Maias, O Conde de Abranhos e Alves e C.a .

Entre 1889 e 1892 dirige a Revista de Portugal. Ao longo dos anos colaborou em muitas outras publicações, tendo esses textos sido publicados postumamente.

Entretanto, da sua pena vão saindo outras obras de teor diferenciado como O Mandarim (1880) e A Relíquia ( 1884) e alguns comentários sobre a vida política mundial - Cartas de Inglaterra, Cartas de Londres - imbuídos de um tom satírico e sagaz, publicados em jornais portugueses e brasileiros da época.

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Em 1889 é nomeado cônsul de Portugal em Paris. e em plena Belle Époque, envia da cidade das Luzes para Portugal e Brasil, os seus Bilhetes de Paris, Cartas Familiares e Ecos de Paris.

Pouco depois da publicação de Os Maias, que não obteve o sucesso que o autor esperava, nota-se na produção romanesca de Eça de Queirós uma significativa inflexão. Essas últimas obras (A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras e Contos) manifestam um certo desencanto face ao mundo moderno e um vago desejo de retorno às origens, à simplicidade da vida rural.

Eça de Queirós morreu em Paris, a 16 de Agosto de 1900.

Autor

Bibliografia:

Obras Não-Póstumas (publicadas em vida ou completas para publicação)

O Mistério da Estrada de Sintra (1870)O Crime do Padre Amaro (1875); versão definitiva em 1880O Primo Basílio (1878)O Mandarim (1880)A Relíquia (1887)Os Maias (1888)Uma Campanha Alegre (1890-91)A Ilustre Casa de Ramires (1900)A Correspondência de Fradique Mendes (1900)A Cidade e as Serras (1901)Contos (1902)Prosas Bárbaras (1903)Cartas de Inglaterra (1905)Ecos de Paris (1905)Cartas Familiares (1907)Bilhetes de Paris (1907)Notas Contemporâneas (1909)Últimas Páginas (1912)

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Trabalho de Língua Portuguesa I - O Primo Basílio

Obras póstumas:

A Capital (1925)O Conde de Abranhos (1925)Alves e C.ª (1925)Correspondência (1925)O Egipto (1926)Cartas Inéditas de Fradique Mendes (1929)Páginas Esquecidas (1929)Eça de Queirós entre os seus - Cartas íntimas (1949)Folhas Soltas (1966)A Tragédia da Rua das Flores (1980)Dicionário de MilagresLendas de SantosEdições críticas:A Capital (1992)O Mandarim (1993)Alves e C.ª (1994)Textos de Imprensa VI (1995)

Bibliografia: Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, 1985, Vol.I, Publicações Alfa,

pag.200 QUEIRÓS, Eça de, 2003, O Primo Basílio, Lisboa, Livros do Brasil ______________, 2002, O Primo Basílio, Biblioteca Ulisseia de Autores

Portugueses, Editora Ulisseia REIS, Carlos (direcção), História da Literatura Portuguesa, 2001, Vol.5- O

Realismo e o Naturalismo, Publicações Alfa, pag. 167 a 175

Internet:

aliteratura.netropole.com.br/resumo/basilio.html

bnd.bn.pt/ed/eca_queiros/biobibliografia/ pass_especif_primo.html

portrasdasletras.folhadaregiao.com.br/basilio.html ~

pwp.netcabo.pt/0511134301/eca.htm

www.geocities.com/Athens/Styx/2607/portuguesa/eca.html

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Page 16: O Primo Basílio -  Análise

Trabalho de Língua Portuguesa I - O Primo Basílio

www.terravista.pt/nazare/1107/frame.htm

www.unicamp.br/~franchet/primo.htm

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