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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CURSO DE EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA "O REPROVEITAMENTO DO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO NA ATIVIDADE RURAL, COM ENFASE NA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA" MARCOS MARCELO SOARES BATISTA DE OLIVEIRA Orientadora: Profª Msc. Helena Clara da Silva Paes Ribeiro Monografia apresentada no curso de Especialização em Educação Empreendedora da Universidade Federal de São João Del Rei, Pólo de apoio presencial de Botucatu/SP, para obtenção do título de Especialista em Educação Empreendedora. São João Del Rei/MG 2014

"O REPROVEITAMENTO DO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO NA ATIVIDADE RURAL, COM ENFASE NA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA"

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CURSO DE EDUCAÇÃO

EMPREENDEDORA

"O REPROVEITAMENTO DO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO

BRASILEIRO NA ATIVIDADE RURAL, COM ENFASE NA EDUCAÇÃO

EMPREENDEDORA"

MARCOS MARCELO SOARES BATISTA DE OLIVEIRA

Orientadora: Profª Msc. Helena Clara da Silva Paes Ribeiro

Monografia apresentada no curso de Especialização em Educação Empreendedora da Universidade Federal de São João Del Rei, Pólo de apoio presencial de Botucatu/SP, para obtenção do título de Especialista em Educação Empreendedora.

São João Del Rei/MG

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CURSO DE EDUCAÇÃO

EMPREENDEDORA

"O REPROVEITAMENTO DO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO

BRASILEIRO NA ATIVIDADE RURAL, COM ENFASE NA EDUCAÇÃO

EMPREENDEDORA"

MARCOS MARCELO SOARES BATISTA DE OLIVEIRA

Orientadora: Profª Msc. Helena Clara da Silva Paes Ribeiro

Monografia apresentada no curso de Especialização em Educação Empreendedora da Universidade Federal de São João Del Rei, Pólo de apoio presencial de Botucatu/SP, para obtenção do título de Especialista em Educação Empreendedora.

“As informações contidas nessa monografia são de inteira

responsabilidade do autor.”

São João Del Rei/MG

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA - NEA/UFSJ. Praça Frei Orlando 170, Bairro Centro, Campus Santo Antônio 36 307-352 - São João Del Rei - MG

Tel: (032) 3379 2602, 2608 e 2613 E-mail: [email protected]

MARCOS MARCELO SOARES BATISTA DE OLIVEIRA

Monografia submetida à Banca Examinadora designada pelo

Colegiado do Programa de Pós-Graduação “Lato Sensu“ em Educação

Empreendedora do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Federal de

São João Del Rei, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de

Especialista em Educação Empreendedora.

Monografia aprovada em: 14 de Junho de 2014

Por:

Orientadora: Profa. MSC Helena Clara da Silva Paes Ribeiro

Tutora à Distância: Profa. Ana Carla Maciel

Professor Convidado: Prof. Alexandre Carlos Eduardo

São João Del Rei

2014

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SUMÁRIO

Página

Dedicação:................................................................................................................. 06

Agradecimentos:........................................................................................................ 09

Resumo:..................................................................................................................... 10

Abstract:..................................................................................................................... 12

LISTA DE FOTOS:.................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO................................................................................... 14

1.1 Objetivo:............................................................................................................... 14

1.2Justificativa............................................................................................................ 14

1.3 Metodologia.......................................................................................................... 16

CAPÍTULO 2 - INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE CRIMINOLOGIA:................ 18 2.1 Dos Pressupostos Intrínsecos:............................................................................ 18

2.2 Dos Pressupostos Extrínsecos:........................................................................... 20

2.2.1 Da Infração Penal:............................................................................................ 20

2.2.2 Do Crime Propriamente Dito:............................................................................ 20

2.2.3 Da Condenação, Dosimetria e Arbitragem da Pena até seu Respectivo

Cumprimento:............................................................................................................. 21

CAPÍTULO 3 – RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESOS E EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL8BRASILEIRO8E8SEUS8ASPECTOS8LEGAIS:................................. 23

3.1 Considerações e Aspectos Legais e Jurídicos a Respeito do Trabalho do

Preso.......................................................................................................................... 23

CAPÍTULO 4 - A TRIAGEM, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DO APENADO OU EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO:............................................................... 27

4.1 Vivências:............................................................................................................. 27

4.2 Dinâmicas de Grupo:........................................................................................... 28

CAPÍTULO 5- COMO DESENVOLVER NO DETENTO OU NO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO, O INTERESSE PELA ATIVIDADE RURAL SUSTENTÁVEL?:...................................................................................................... 29

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5.1 Conceito de Agricultura e Agropecuária Sustentável:.......................................... 29

5.2 Conceito de Treinamento:.................................................................................... 30

5.3 Conceito de Desenvolvimento:............................................................................ 31

CAPÍTULO 6 – OS JOVENS EGRESSOS DO SISTEMA CARCERÁRIO, SUA RESSOCIALIZAÇÃO NA ÓTICA DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA:.............. 33

CAPÍTULO 7 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DO APROVEITAMENTO DO

PRESO DO REGIME SEMI-ABERTO NA ATIVIDADE RURAL:............................. 35

7.1 Vantagem Econômicas do Aproveitamento de Ex-presidiários Na Atividade Rural:

................................................................................................................................... 35

7.1.1 Salários e Remunerações de Baixo Custo:...................................................... 35

7.1.2 Dos Benefícios Sociais ao Preso e Egresso do Sistema Carcerário:............... 36

7.1.3 Diminuição do Custo de Produção:................................................................... 36

7.1.4 Comprometimento do Preso Com o Trabalho:................................................. 36

7.2 Desvantagens:..................................................................................................... 36

7.2.1 Alta Rotatividade:.............................................................................................. 36

7.2.2 Apenados em Regime Fechado e Semi-aberto de Prisão, São Proibidos Por

Força de Lei de Realizarem Horas Extras:................................................................ 37

7.2.3 Necessidade de Investimento Em Estrutura Física:......................................... 37

7.2.4 Medidas de Segurança dos Presídios, Dificultam o Aproveitamento do

Tempo:....................................................................................................................... 37

7.2.5 Blitz Surpresa:................................................................................................... 37

7.2.6 Ações Sindicais:................................................................................................ 37

CAPÍTULO 8 - CONCLUSÃO:.................................................................................. 38 BIBLIOGRAFIA:........................................................................................................ 42

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Dedicação:

* 04/02/1994

+ 13/08/2012

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Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso ao meu

filho Biológico único Dennis Willian Soares (Foto) “In

Memorian”.

Que perdeu sua vida, a exatos 21 meses, de forma

covarde aos 18 anos de idade, por Omissão de Socorro

e Negligência Médica do Pronto Socorro Municipal, da

cidade onde nasceu, cresceu, viveu e foi feliz!

Que mesmo nesta vida tão curta, mas ao mesmo tempo

tão profunda, me deixou além da dor; o maior legado

que um Pai, pode receber de seu Filho nesta vida a

saber: seu exemplo de caráter, seriedade e acima de

tudo de uma honestidade excessiva e franqueza

absurda da qual pretendo levar comigo como exemplo a

ser seguido fielmente, propagado e difundido.

Estou tentando, mas confesso: não é fácil ser e viver

como você e principalmente sem você Dennis!

A você Dennis, Filho querido do meu Coração: Minha

dor, minha saudade, meu compromisso com uma luta

por Justiça, que só terminará com a minha própria

morte.

Sim Dennis, a você: “Minha Gratidão, Minha Dor,

Minha Saudade e Acima de Tudo: Minha

Reverência”!!!

Quem passou pela vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu, quem nunca sentiu o frio da desgraça,

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quem passou pela vida e não sofreu; foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida não viveu.

(Francisco Otaviano)

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Agradecimentos:

Agradeço preliminarmente a Deus, por ter me ajudado

no transcorrer deste curso que iniciei e hoje concluo em

pleno luto, em meio há muitas lágrimas e em profunda

depressão.

Sim, O Senhor Jesus me deu forças e tem me sustentado

até o presente momento.

Agradeço também aos Professores, pela demonstração

de carinho e de amizade e concluindo agradeço à minha

família, minha esposa, pela compreensão e estímulo, meu

enteado Heliel, que tem se mostrado um filho de verdade,

nascido do coração, agradeço também aos meus amigos,

enfim agradeço a todos que direta ou indiretamente

contribuíram para com a composição deste trabalho.

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de Oliveira .B.S. M. M. : "O Reaproveitamento do Egresso do Sistema Carcerário

Brasileiro na Atividade Rural, com Ênfase na Educação Empreendedora"

Universidade Federal de São João Del Rei - UFSJ - Núcleo de Ensino a Distância -

NEAD (Trabalho de Conclusão de Curso - TCC)

RESUMO

Este trabalho visa encontrar soluções viáveis de ressocialização para a crescente

demanda de ex-detentos e menores infratores que encontram dificuldades de

reinserção no mercado de trabalho, por conta de antecedentes criminais (muitas

vezes de crimes de baixo poder ofensivo, a saber: pequenos furtos, estelionato,

lesões corporais leves, contrabando, receptação, entre outros...). Estes infratores

são oriundos de penas criminais já cumpridas ou em fase final de cumprimento,

(regime semi aberto), assim, possibilitar à estes, oportunidades de treinamento e de

emprego através de capacitação de “in loco” (Penitenciarias e Fundação Casa), para

indivíduos que ainda cumprem suas penas em regime fechado.

Aplicam-se também aqueles detentos que se encontram em

propriedades rurais, cujas penas estão sendo cumpridas no regime semi-aberto de

prisão e que estejam dispostos a exercer uma atividade rural remunerada

futuramente. Em contrapartida, estes poderão oferecer aos proprietários rurais, mão

de obra tecnicamente qualificada e de baixo custo, e ao mesmo tempo proporcionar

e desenvolver nos detentos ou ex-detentos o espírito de empreendedorismo, a

valorização do trabalho com vistas na educação empreendedora.

Também vem possibilitar a acadêmicos de cursos superiores

de Agronomia, Tecnologia em Gestão do Agronegócio, Pedagogia e mesmo de

outras áreas do conhecimento, em suma despertar nos Docentes e futuros Docentes

de ensino fundamental e médio, interesse em desenvolver habilidades

empreendedoras neste tipo de discentes/indivíduos.

Em síntese é transformar o ensino numa oportunidade de

externar de forma prática o que os discentes aprendem na sala de aula e

proporcionar ao individuo com antecedentes criminais ou que ainda estejam

cumprindo suas penas, uma oportunidade de se reabilitar através do emprego de

técnicas de Educação Empreendedora.

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Palavras-chave: Ressocialização de Presidiários e Ex-presidiários; Educação

Empreendedora; Atividade Rural; Soluções Viáveis.

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de Oliveira. B. S. MM: "The Reuse of Egress Brazilian Prison System in the Rural

Activity with Emphasis on Entrepreneurial Education" Federal University of São João

Del Rei - UFSJ - Center for Distance Education - ADEN (Work Course Conclusion -

TCC)

ABSTRACT

This work aims to find viable solutions to the growing demand

for rehabilitation of ex-prisoners and young offenders who have difficulty re-entering

the labor market, because of a criminal record, (Often crimes low offensive power, to

wit: shoplifting , larceny, minor assaults, contraband, receiving, among others ...),

arising from criminal penalties already completed or in the final stages of compliance,

(semi-open regime), and allow the latter, training opportunities and employment

through training "in loco" (Penitentiaries and Foundation House), to individuals that

still comply with their sentences in a closed and farms for those whose sentences are

being met in the semi-open and willing to engage in an activity remunerated rural

future and in return offer landowners, technically qualified manpower and cost while

providing and developing the detainees or former detainees the spirit of

entrepreneurship appreciation of the work aimed at entrepreneurial education.

And also allow for academic courses in Agronomy,

Agribusiness Management Technology, Pedagogy and even other areas of

knowledge in short awakening in future Teachers and Teachers of elementary and

secondary education, interest in developing entrepreneurial skills in this type of

students / individuals.

In synthesis is to transform teaching into an opportunity to

express in a practical way what students learn in the classroom and provide the

individual with criminal records or who are still serving their sentences, an opportunity

to rehabilitate himself by employing techniques Entrepreneurial Education.

Keywords: Resocialization of Prisoners and Ex-prisoners; Entrepreneurial

Education, Rural Activity; Viable Solutions.

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LISTA DE FOTOS Página

FOTO 1 : Treinamento de Presos em Regime Semi-aberto e Egressos do Sistema

Carcerário (Treinamento “in loco”):........................................................................... 23

FOTO 2 : Treinamento de Presos em Regime Semi-aberto e Egressos do Sistema

FOTO 3: Aula de Oleicultura (“in loco”):.................................................................... 26

FOTO 4: Detentos Recebendo Treinamento (“in loco”):........................................... 29

FOTO 5: Detentos Recebendo Treinamento (“in loco”):........................................... 29

FOTO 6: Detentos Recebendo Treinamento (“in loco”):........................................... 30

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CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO

1.1 Objetivo

Promover a ressocialização integral dos presos em colônias

penais agrícolas e dos egressos do sistema carcerário brasileiro, transformar aquilo

que foi o castigo necessário, na remição social através do trabalho.

Através do treinamento e desenvolvimento de habilidades

profissionais rurais, usando para isso os próprios conhecimentos pessoais dos

mesmos, otimizando e ampliando o leque de conhecimento e crescimento

profissional e ainda promover assistência social ao detento ou egresso dos sistemas

prisionais, através do emprego de técnicas de ensino, com enfoque na Educação

Empreendedora.

Por outro lado oportunizar aos acadêmicos de cursos

superiores correlatos a desenvolver suas habilidades teóricas, colocando-as na

prática através da capacitação de recursos humanos específicos e até mesmo para

desenvolvimento de projetos de iniciação científica.

1.2 Justificativa

A alteração da estrutura populacional de pessoas que antes

viviam e dependiam, unicamente das atividades rurais para sobreviverem e que a

partir do final da década de 1980, devido ao chamado “Êxodo Rural”, somado ao

envelhecimento e conseqüente falecimento da população agrícola, que antes devido

à baixa utilização das tecnologias de ponta que temos hoje, encontravam

motivações endógenas (objetivas, advinda da necessidade de sobrevivência e baixo

índice cultural individual), e exógenas (subjetivas, advindas do gosto da vivência no

campo e na vida rural, cada vez menos desestimulada, devido à influência do

advento da era da informação e tecnologia e da oferta conseqüente de melhores

oportunidades de salário e elevo profissional).

Devido a esta problemática e a marginalização cada vez mais

freqüente, desestimulam os jovens a desenvolverem qualquer perspectiva neste

meio, vezes que, as oportunidades, são cada vez melhores nas áreas urbanas,

especialmente das grandes cidades, fatores que fascinam cada vez mais os jovens,

motivo que tem levado cada vez mais os governantes a investirem na agricultura

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familiar, cuja incidência é bem menor, se traçarmos um comparativo em relação aos

grandes produtores agrícolas e grandes latifundiários brasileiros.

Destarte, resta cada vez mais dificultada e deficiente a

captação e desenvolvimento de trabalhadores rurais provenientes das próprias

zonas rurais e organizações ligadas ao agronegócio, agronegócio que segundo

projeções informadas pelo portal Exame.com, deverá crescer cerca de 35%, até o

ano de 2022.

Razão pela qual se justifica a o investimento em treinamento,

capacitação e contratação de mão de obra egressa dos sistemas prisionais

brasileiros, mesmo porque devido aos seus antecedentes criminais, dificilmente esse

grupo de indivíduos, conseguirá uma boa colocação no cada vez mais concorrido

acesso ao mercado de trabalho.

Por outro lado, a permanência deste tipo de colaboradores no

campo, tende a diminuir também consideravelmente, que esses indivíduos através

do ócio, volte a cometer novos crimes e delitos nas áreas urbanas, vez que fixarão

moradia, muitas vezes também, nas próprias dependências rurais aonde virão a

desempenhar sua nova profissão.

Em conseqüência disso teremos uma diminuição no índice de

evasão de trabalhadores rurais e também poderá ser diminuído consideravelmente a

alta rotatividade de profissionais do setor rural e dependendo é claro da

contrapartida, que os produtores rurais oferecerão aos novos trabalhadores, através

de salários, remunerações, e PLR (Participação os lucros e resultados),

acompanhadas de uma política integrada de recursos humanos compatíveis com a

realidade de mercado, no sentido de promover a retenção deste tipo de colaborador,

bem como a proporção de oferta de boa qualidade de clima organizacional no local

de trabalho, que visam melhorar o desempenho e consequentemente melhorar e

pr5eservar a motivação exógena do indivíduo .

Sim, a formação deste tipo de mão de obra, (como ocorre no

caso de trabalhadores convencionais), ainda que menos, (vez que no treinamento

dos egressos, poderão ser usados educadores, em fase de formação acadêmica),

irá onerar e ter um custo embora baixo, mas real.

Partindo da premissa que uma vez treinado e desenvolvido o

egresso do sistema prisional, passa a formar e constituir o capital técnico e humano

da organização, o que, portanto transformará um simples ex-apenado num

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profissional gabaritado e tecnologicamente preparado, pronto para desempenhar

suas funções, adequadamente na atividade rural, o que cria a geração de valor

agregado ao ex-detento, vez que possuirá habilidades técnicas necessárias para o

desenvolvimento de qualquer atividade rural, que empregue a necessidade de certo

conhecimento e capacidade intelectual, capacidade esta, que será formada no

indivíduo e que fatalmente agregará valor ao mesmo. Daí, portanto a

necessidade do cuidado de se evitar uma rotatividade por conta de uma possível

oferta de emprego numa organização que ofereça melhores condições de

permanência e uma política de recursos humanos mais afirmativa.

No enunciado do portal Carta Capital, versa que: Desigualdades sociais e má distribuição de renda alimentam as altas taxas de delinqüência e criminalidade em nosso país. Por isso, o sistema prisional brasileiro está no limite. Tem capacidade efetiva para abrigar 299 mil presos, mas acolhem, hoje, 470 mil pessoas, (de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional), 45% delas não têm o ensino fundamental completo. Este fato, agregado ao preconceito, torna a continuidade no crime a única “opção” para o ex-detento, por esse motivo, a taxa de reincidência criminal no país chega a 70%, uma das mais altas do mundo. Outro dado impressionante: há 550 mil mandatos de prisão a cumprir, mas não existem unidades prisionais suficientes conforme já explicitado preteritamente. Os governos não avançam em políticas públicas de reinserção porque a sociedade ainda vê com preconceito esta alternativa, considerando-a um “desperdício” de dinheiro público. Mas desperdício é deixar como está. A população carcerária no Brasil é composta fundamentalmente por jovens entre 18 e 29 anos. Vale a pena deixá-los sem futuro?

1.3 Metodologia

A Metodologia utilizada na composição neste trabalho se deu

através de pesquisas bibliográficas, entrevistas pessoais realizadas em instituições

de ensino superior, entrevistas concedidas por professores de Direito, autoridades

policiais e por bacharéis em Direito.

Referente às pesquisas bibliográficas a serem utilizadas na

confecção deste trabalho, cito como principal expert: Idalberto Chiavenato, por seu

esplêndido conhecimento vivencial na área de recursos humanos, cuja produção

bibliográfica é a mais ampla e respeitada no país, tornando o mesmo no maior

especialista brasileiro, em educação voltada para o trabalho e desenvolvimento das

melhores políticas de empreendedorismo, tocante a relação de mercado de trabalho

e gestão de recursos humanos, bem como dos Expert’s: Antonio Garcia, Pablos de

Molina e especialmente do Prof. Dr. Luiz Flávio Gomes, por seu conhecimento

prático, vez que o mesmo foi promotor de justiça por 3 anos, Membro e consultor da

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delegação brasileira no décimo período de sessões da Comissão de Prevenção do

Crime e Justiça Penal da ONU, realizado em Viena (Itália), de 8 a 12 de maio de

2001.

O Expert, também traz no bojo de seu currículo as seguintes

informações que se seguem: Doutorado em Direito Penal pela Faculdade de Direito

da Universidade Complutense de Madri (2001), Mestrado em Direito Penal pela

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (1989). Professor de Direito

Penal e Processo Penal em vários cursos de pós-graduação, dentre eles a Facultad

de Derecho de la Universidad Austral (Buenos Aires, Argentina) e UNISUL, de Santa

Catarina. É professor honorário da Faculdade de Direito da Universidad Católica de

Santa María, em Arequipa, no Peru.

Page 18: "O REPROVEITAMENTO DO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO NA ATIVIDADE RURAL, COM ENFASE NA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA"

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CAPÍTULO 2 - INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE CRIMINOLOGIA 2.1 Dos Pressupostos Intrínsecos

A criminologia é um conjunto de conhecimentos que se

originam do crime, do ócio, da vadiagem e da criminalidade e suas origens

intrínsecas e extrínsecas, a saber: baixa qualidade na oferta de educação pública,

conseqüentemente baixo grau de instrução individual do indivíduo com

personalidade e capacidade criminosa, ou seja, ninguém nasce um criminoso, mas

se torna um criminoso, devido a fatores exógenos que contribuem e muito para o

desenvolvimento de suas capacidades criminosas, ou seja o estado que deveria

velar para que o indivíduo se torne um cidadão, contrariando essa premissa ideal,

transforma os indivíduos em elementos perigosos e muitas vezes sem recuperação

e ainda pior que isso, após um período de custódia pelo estado, devolve-os a

sociedade sem qualquer perspectiva de realocação profissional.

Tocante aos pressupostos intrínsecos, esses elementos,

egressos do setor prisional, muitas vezes por falta de alternativas viáveis, vez que

quando se tem vontade política para tal essa ressocialização de fato acontece, um

bom exemplo disso é a baixa reincidência criminal, em países como a Inglaterra,

Noruega, Holanda, Bélgica, Escandinávia , dentre outros países europeus( Fonte:

Portal Conjur).

Segundo ainda demonstra a estatística do Portal Conjur: A taxa

de reincidência de prisioneiros libertados na Inglaterra, é de 50% (a média europeia

é de 55%). A taxa de reincidência na Noruega é de 20% (16% em uma prisão

apelidada de "ilha paradisíaca" pelos jornais americanos, que abriga assassinos,

estupradores, traficantes e outros criminosos de peso).

Essa taxa é bem menor nos países escandinavos: Suécia (70

presos/100 mil habitantes), Noruega (73/100 mil) e Dinamarca (74/100 mil). Mais ao

Sul, a européia Holanda, tem uma taxa de 87/100 mil, e uma situação peculiar: o

sistema penitenciário do país tem "capacidade ociosa" e celas estão disponíveis

para aluguel. A Bélgica já alugou espaço em uma prisão da Holanda para 500

prisioneiros. Ou seja, o melhor espelho para os interessados de qualquer país em

melhorar seus próprios sistemas, está na Escandinávia e arredores, não nos no

Brasil cuja estatísticas de reincidência criminal é assustadora segundo o Portal R7;

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Números apurados pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) apontam para uma

taxa de reincidência de 70% entre os presidiários brasileiros, alertava, em 2009, o

então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ, ministro Gilmar

Mendes. Seu sucessor, o hoje ex-ministro do STF César Peluso, reforçou o alerta

dois anos depois, ao dizer que sete em cada dez presidiários brasileiros voltam à

cadeia, isso é uma demonstração clara que inatividade de gestão política neste

segmento tão precário que não promove a ressocialização penal do criminoso, mas

do contrário, faz das cadeias e presídios, verdadeiras escolas de pós-graduação

criminal, restando para a sociedade que possui responsabilidade social buscar a

ressocialização de indivíduos, que cumpriram suas penas, mas que são

ressocializáveis e apenas esperam uma oportunidade de trabalho digno para

voltarem a se remirem de seus erros ou ainda, que aguardam ansiosos uma

oportunidade para mudarem de vida, de procedimentos.

Literalmente falando, embora esse numero seja ainda muito

baixo, cerca de apenas 30% dos egressos do sistema carcerário sejam ainda

ressocializáveis e a oferta e a proposta de uma oportunidade de trabalho, para

esses 30% é basicamente e realmente toda e única possibilidade que lhes resta na

vida de se tornarem cidadãos de bem, mas essa oportunidade ainda infelizmente no

Brasil ainda resvala no preconceito e no medo em 30% dos casos sem razão justa

alguma de que essa oportunidade seja uma verdade efetiva, e quando falamos de

30% de ex-detentos, não falamos de poucos mas de uma população carcerária de

cerca de 164.666 detentos com capacidade total de ressocialização, segundo o

Depen (Departamento Penitenciário Nacional), do Ministério da Justiça.

Infelizmente ainda segundo o Depen, esse numero aumenta

cerca de 28% anualmente e nossas prisões, cada vez mais parecidas com depósitos

de seres humanos, sim, temos 164.666 de seres humanos presos atualmente, que

não oferecem qualquer sorte de risco ou perigo à sociedade e poderiam estar

trabalhando e se requalificando, experimentando o espírito empreendedor, que

certamente despertaria-nos mesmos, responsabilidades sociológicas, ambientais e

de quebra traria para os mesmos garantias dispostas em leis constitucionais e leis

federais que promovessem o seu elevo pessoal e social para si próprios e para a

toda a sociedade e conseqüentemente desonerariam os cofres públicos, com

despesas altíssimas de manutenção de apenados no sistema carcerário, cujos

crimes cometidos tem baixíssimo potencial ofensivo, passíveis de aplicação de

Page 20: "O REPROVEITAMENTO DO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO NA ATIVIDADE RURAL, COM ENFASE NA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA"

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penas socioeducativas, através da atividade rural, cujo segmento passa por um

momento sombrio de falta de profissionais dispostos e capacitados para trabalharem

no setor rural, demanda essa que poderia sim, facilmente ser absorvidas pelo setor

rural através da ressocialização empreendedora.

2.2 Dos Pressupostos Extrínsecos

Em que pese o desejo da vítima de algum crime de baixo poder

ofensivo, do controle social do ato criminoso, através do encarceramento dos seus

infratores, contraventores penais, ou mesmo criminosos em alguns casos, a lei faz

distinção entre uns e outros senão vejamos:

2.2.1 Da Infração Penal

É uma infração penal designada como crime menor, Ex: crime

de comunicação falsa ou de contravenção: provocar a ação de autoridade,

comunicando-lhe crime ou de contravenção, que sabe não se ter verificado.

Detenção e 1 a 6 meses ou multa

Infração penal que se comina isolada ou cumulativamente pena

de prisão simples ou de multa. Lei de introdução do Código Penal e art. 43 da lei

8245/91e que ainda na esteira da lei Nº 9.099/95 é passível de aplicação de penas

alternativas, a saber: prestação de serviços comunitários, e ou expropriação/ pena

restritiva de direito, através da entregas de cestas básicas entregues a entidades

assistenciais e de benevolência reconhecida.

Nesse quesito temos e muito a ocorrência da reincidência de

infrações por parte do mesmo indivíduo, cuja pena de prestação de serviços

voluntários e expropriação financeira, poderiam com facilidade serem impostas em

concomitância com processo de ressocialização proposto nesta monografia.

2.2.2 Do Crime Propriamente Dito

Preconizado pelo Expert Gomes (2005), em termos jurídicos, é

o mais grave entre os dois tipos de Infração penal definidos no Brasil.

Os crimes distinguem-se das contravenções por serem

infrações penais as quais a lei comina pena de reclusão ou de detenção, não

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21

importando se isoladamente, alternativamente ou cumulativamente com a pena de

multa .

O crime, assim como toda Infração Penal, caracteriza-se como

a prática de conduta tipificada pela Lei Penal como ilícita. Só se consideram crimes,

as condutas praticadas por humanos dotados de capacidade intelectual integra, ou

seja, cujas faculdades mentais estejam em pleno exercício de suas capacidades

fisiológicas.

Em um sentido vulgar, crime é um ato que viola uma norma

moral. Num sentido formal, crime é uma violação da lei penal incriminadora. No

conceito material, crime é uma ação ou omissão que se proíbe e se procura evitar,

ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano ou perigo) a um bem jurídico

individual ou coletivo.

Como conceito analítico, o crime pode ser dividido em duas

vertentes: a causalista e a finalística. A Teoria causalista da ação ou Teoria Clássica,

observa o Crime como um fato tipificado como tal por lei e ilegal. Tal divisão baseia-

se na premissa de que a culpabilidade é um vínculo subjetivo entre a ação e o

resultado de certa conduta e não é considerada como quesito para caracterizar um

crime, mas apenas dosar sua pena .

Para a Teoria finalista da ação, a mais aceita pelos

doutrinadores, uma conduta só será considerada criminosa se for típica, ilícita e

culpável, uma vez que os motivos e objetivos subjetivos do agente são analisados e

decisivos para a caracterização ou não da Infração . A conduta só será considerada

criminosa se for reconhecido o Dolo na motivação do agente criminoso, ou a Culpa,

quando a Lei Penal expressamente prever esta possibilidade.

2.2.3 Da Condenação, Dosimetria e Arbitragem da Pena até seu Respectivo

Cumprimento

Nesta esteira, cabe salientar que a condenação de um

indivíduo se dá pela prova trazida aos autos, provas testemunhais, sendo garantidas

na forma da lei a ampla defesa do acusado, é importante salientar que todo acusado

mesmo sentado no banco dos réus é considerado inocente, até que reconhecida sua

culpabilidade pelo juízo e conseqüentemente, feita sua leitura condenatória, já

considerada a dosagem da pena de acordo com o crime praticado, bem como da

possibilidade da concursão de crimes, ou seja da somatória de vários crimes,

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infrações e delitos trazidos à baila no mesmo episódio fático, até que todas essas

medidas sejam verificadas e esgoten-se todas as possibilidades de defesa do réu

em primeira instância, o réu será sempre considerado inocente.

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CAPÍTULO 3 – RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESOS E EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS LEGAIS.

FOTOS 1: Treinamento “in loco”, para o trabalho do preso no setor rural.

FOTOS 2: Treinamento “in loco”, para o trabalho do preso no setor rural.

(Crédito das Fotos: Colônia Penal Agrícola de Piraquara/PR)

3.1 Considerações e Aspectos Legais e Jurídicos a Respeito do Trabalho do

Preso

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A Lei de Execuções Penais Brasileira traz em seu art. 1º, duas

ordens de finalidade. A primeira delas é a correta efetivação dos mandamentos

existentes na sentença ou outra decisão criminal, destinados a reprimir e prevenir os

delitos. A segunda é a de “proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado”, instrumentalizada por meio da oferta de meios

pelos quais os apenados e os submetidos às medidas de segurança possam

participar construtivamente da comunhão social.

Já, no artigo 28, em seus incisos 1º e 2º, “in verbis”, informa as

diretrizes a serem aplicadas ao trabalho do preso:

O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva. § 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene. § 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.

Para Mirabete (2004) a penitenciária constitui num momento de

ressocialização do detento. O autor afirma : “Na moderna concepção penitenciária, o momento da execução da pena

contém uma finalidade reabilitadora ou de reinserção social, assinalando-se o sentido pedagógico do trabalho. Entende-se hoje por trabalho penitenciário a atividade dos presos e internados, no estabelecimento penal ou fora dele, com remuneração eqüitativa e equiparado ao das pessoas livres no concernente à segurança, higiene e direitos previdenciários e sociais.”

Desta forma o trabalho “é imprescindível por uma série de

razões: do ponto de vista disciplinar, evita os efeitos corruptores do ócio e contribui

para manter a ordem; do ponto de vista sanitário é necessário que o homem trabalhe

para conservar seu equilíbrio orgânico e psíquico; do ponto de vista; do ponto de

vista educativo o trabalho contribui par a formação da personalidade do indivíduo; do

ponto de vista econômico, permite ao recluso dispor de algum dinheiro para suas

necessidades e para subvencionar sua família; do ponto de vista da ressocialização,

o homem que conhece um ofício tem mais possibilidades de fazer vida honrada ao

sair em liberdade.

Com relação ao trabalho, pode ser este industrial, agrícola ou

intelectual. O objetivo maior é alcançar a reinserção social do condenado e, por isso,

deve ser orientado segundo as aptidões dos presos, evidenciadas no estudo da

personalidade e outros exames, tendo-se em conta, também, a profissão ou ofício

que o preso desempenhava antes de ingressar no estabelecimento penal, no

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25

entanto neste trabalho como vamos direcionar nossas atenções ao mercado agrícola

e agropecuário que compõem o cenário rural e que com o aumento da rejeição de

contratação de ex-detentos pelas organizações urbanas.

Considerando a crescente aversão e rejeição cada vez maior

dos indivíduos residentes nas regiões urbanas, para atuação em atividades rurais,

considerando ainda, a crescente necessidade de mão de obra tecnicamente

qualificada e disponível para a atividade rural, entende-se interessante uma proposta

de educação com vistas ao empreendedorismo, específica para este segmento do

mercado de recursos humanos.

Assim diante da crescente necessidade de pessoas

qualificadas para atuarem no segmento rural, onde os salários e remunerações são

relativamente inferiores e desestimuladores ao individuo sem passagens

policiais/proveniente das áreas urbanas, que possuem níveis culturais, cada vez

mais elevados, diante da recusa destes indivíduos frente às atividades rurais, resta

evidente que o setor rural tende a acolher com maior facilidade os egressos do

sistema carcerário, como opção de baixo custo, uma vez que estes elementos dadas

às circunstâncias de seus erros na vida, não possuem muitas escolhas no mercado

de trabalho cada vez mais competitivo.

Neste contexto, uma vez treinados e capacitados para a

atividade agrícola, através de conhecimento empreendedor específico, é

perfeitamente viável e interessante tanto para os ex-detentos como para presos do

regime semi-aberto, bem como para os docentes ou acadêmicos das mais diversas

áreas, que poderiam adquirir conhecimento colocando em prática aquilo que

aprendem em sala de aula.

Deve-se, contudo levar em conta também o interesse do

apenado em aprender um ofício, ou mesmo, o seu aprimoramento e a administração

penitenciaria, cabe a tarefa de proporcionar ao preso a oportunidade de trabalho e

do aprendizado para o mesmo.

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FOTO 4: Aula de Oleicultura “in loco” – Colônia Penal Agrícola de Piraquara/PR

(Crédito da Foto: Colônia Penal Agrícola de Piraquara/PR)

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CAPÍTULO 4 - A TRIAGEM, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DO APENADO OU EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO

Antes de se promover o início do treinamento, desenvolvimento

e procedimentos de ressocialização do apenado ou egresso do sistema carcerário é

necessário uma analise aprofundada e cirúrgica de seus antecedentes criminais de

sorte a garantir (em tese), que para determinado indivíduo, assiste-lhe bem a

possibilidade de aplicação de medidas socioeducativas, bem como da analise de

personalidade do criminoso e da melhor maneira de abordagem pedagógica sempre

com enfoque na educação empreendedora, para só então iniciar o processo de

ressocialização.

Etimologicamente o termo “Crime” deriva do latim crimino

(crime) e do grego logos (tratado ou estudo), seria portanto o "estudo do crime".

É uma ciência empírica e interdisciplinar. É empírica, pois se

baseia na experiência da observação, nos fatos e na prática, do indivíduo enquanto

da observação de seu comportamento holístico, dentro da instituição penal, mais

que em opiniões e argumentos, a seleção por meio de vivência é de suam

importância, pois nas vivências é possível realizar uma pré-seleção

inconscientemente dos indivíduos e assim filtrá-los quanto à possibilidade ou não de

sua ressocialização.

Deve ser analisado este comportamento do apenado de forma

interdisciplinar e, portanto formada pelo diálogo de uma série de ciências e

disciplinas, tais como, a psicopatologia, a sociologia, a antropologia, o direito, a

criminalística, a filosofia, entre outros.

4.1 Vivências

É o exercício diário da observação individual, quanto suas

aptidões, características humanas, emocionais, psicológicas, opções sexuais, vícios,

valores positivos e negativos, de sorte a estudar qual melhor tática ou abordagem

pedagógica pode e deve ser aplicada a cada indivíduo e ainda se alguma

abordagem que conduza a ressocialização do indivíduo possa ser de fato aplicada,

na vivência é possível observar de forma inconsciente no apenado, se este

preenche os requisitos mínimos de sociabilidade e conseqüentemente de conduta

que possibilitem sua completa ressocialização de sorte a se medir a possibilidade de

que essa ressocialização seja proveitosa para o apenado ou ex-detento, (neste

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ultimo caso a opção de seleção mais indicada são as dinâmicas de grupo, que

trataremos adiante.), e ainda para o empresário do setor rural, que tem interesse sim

na ressocialização do apenado, mas que fará investimentos financeiros

consideráveis e que portanto espera um retorno financeiro igualmente eficiente e

eficaz de seu investimento no ponto de vista produtivo e comportamental do

indivíduo.

4.2 Dinâmicas de Grupo

Dinâmica de Grupo é o tipo de seleção, que se dá através da

analise de determinada atividade lúdica pedagógica, realizada em local específico e

no caso em tela, (dos egressos do sistema carcerário), longe dos ambientes

prisionais.

Esta modalidade de seleção é muito interessante, pois

possibilita a seleção de ex-apenados através de gincanas associadas a práticas

esportivas de esportes de contato, tal qual futebol, basquete, handebol, dentre

outras modalidades esportivas, também através de situações problemas, onde se

podem avaliar características tais quais liderança, espírito de equipe, de organização

e principalmente o ponto mais importante na seleção destes indivíduos que é o nível

de agressividade usado na prática da dinâmica.

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CAPÍTULO 5- COMO DESENVOLVER NO DETENTO OU NO EGRESSO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO, O INTERESSE PELA ATIVIDADE RURAL

SUSTENTÁVEL? 5.1 Conceito de Agricultura e Agropecuária Sustentável

Foto 4: Agricultura Familiar, um exemplo de agricultura sustentável.

(Crédito da Foto: Blog Sustentabilidade Aiesec)

O conceito de agricultura sustentável, origina-se no correto

manejo dos insumos agrícolas e agropecuários, (A chamada “Gestão do

Agronegócio”), e a otimização da relação custo/benefício e os cuidados ambientais

necessários a proteção e conservação dos biomas e ecossistemas.

A agricultura sustentável também visa dinamizar e aumentar a

produtividade, fundamentada na premissa do reaproveitamento de subprodutos do

próprio agronegócio, como por exemplo, a produção agrícola com o máximo

aproveitamento de insumos orgânicos, captação da água da chuva, (Pluviocultura),

diminuir os impactos ambientais através do uso consciente e racional do ar, água e

solo, sempre buscando melhorar a diversidade biológica e a melhoria contínua da

qualidade de vida das pessoas, envolvidas neste processo.

Na busca de um desenvolvimento rural sustentável, temos as

pessoas como principais agentes de interação, assim valorizar de forma adequada o

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desenvolvimento dos recursos humanos, aliados ao desafio cada vez mais

freqüente, do uso de meios tecnológicos na produção agrícola, e diante do

pressuposto de cada vez mais ser necessária a alocação de mão de obra

capacitada a custos baixos, que aumente a margem de lucro real do agro-

negociante.

5.2 Conceito de Treinamento

Segundo Chiavenato (1989), “a educação profissional é a

educação institucionalizada ou não, que visa o preparo do homem para a vida

profissional, onde a educação é contextualizada em três etapas distintas: formação

profissional, treinamento e desenvolvimento”.

FOTO 5: Detentos recebendo Treinamento “in loco”.

(Crédito da Foto: Portal G1)

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FOTO 6: Formação – Aprendendo trabalhando e produzindo. (Crédito da Foto: TV TEM)

O Treinamento dirigido enfoca uma educação profissional

voltada para melhorar o desempenho dos treinandos dentro da organização em que

trabalham, no caso em tela; nas empresas que desenvolvem atividades rurais.

Para Santos (1974), a Formação Profissional ou Educação

Técnica através do treinamento individual ou coletivo é uma metodologia

especialmente utilizada criar habilitações, sempre que possível de forma

permanente, para a produção de bens e serviços.

“Segundo Santos (1974), ainda; o treinamento coloca e

transforma o indivíduo em um ser completo, integrando-o como ente produtor de

alguma coisa, mas, também, transforma o indivíduo em um ser social que julga e

dirige seus atos de trabalho”.

Destarte temos que Treinamento é a educação,

institucionalizada ou não, que tem por objetivo preparar e habilitar indivíduos para o

exercício de determinada função ou para a execução de tarefa específica, em

determinada organização, no caso em analise; ressocializar o preso ou egresso do

sistema carcerário através do trabalho e prepará-lo para a atividade rural, mercado

em ampla expansão e que já encontra dificuldades de oferta de mão de obra

qualificada.

O Treinamento consiste na aplicação de um somatório de

atividades técnicas, provenientes da pedagogia empreendedora e psicologia,

tendencialmente visando à aprendizagem e oportunizar rapidez do aprendizado e

assegurar o feedback através da formação de capital humano e promover novas

respostas a situações específicas.

5.3 Conceito de Desenvolvimento

A melhor definição de desenvolvimento é a capacidade de

mudança, evolução e exteriorização das habilidades naturais individuais, através de

estímulos exógenos, exploração da capacidade natural do ser humanos, visando

aproveitar qualidades naturais do individuo e excluir características negativas dos

traços de personalidade, é promover a melhoria continua do caráter ser humano.

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32

O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do

crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida, ou

seja,deve incluir “as alterações da composição do produto e a alocação de recursos

pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-

estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde,

alimentação, educação e moradia)” (VASCONCELLOS e GARCIA, 1998, p. 205).

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CAPÍTULO 6 – OS JOVENS EGRESSOS DO SISTEMA CARCERÁRIO, SUA RESSOCIALIZAÇÃO NA ÓTICA DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA.

Pouco estudado e difundido no meio acadêmico e científico, os

projetos de desenvolvimento humanos voltados para o desenvolvimento das

potencialidades do egresso do sistema carcerário brasileiro, especialmente quando

esse egresso é de idade jovial, essa faixa etária ainda muito problemática mesmo do

ponto de vista etário, sem levantar em consideração a vida pregressa no mundo do

crime é vertente que precisa ser melhor estuda, analisada e difundida no meio

científico e acadêmico, não há que se falar em ressocialização de jovens ser

oportunizar possibilidade de acesso a educação e treinamento para o trabalho.

Esta problemática vem, aos poucos, chamando a atenção de

muitos produtores rurais, que também vislumbram na utilização deste tipo de mão de

obra, uma forma de diminuir os custos de produção, mas que ainda por ignorância e

mesmo por puro preconceito, ainda muito ruralistas, são consideravelmente

resistentes em contratar um ex-presidiário ou presos do regime semi-aberto, mesmo

embora existam vantagens a serem consideradas.

Neste contexto a juventude rural egressa da criminalidade,

ainda que tenham cometido crimes de pequeno grau penal, compõe a faixa

demográfica que é afetada de maneira mais dramática por essa dinâmica, seja para

conseguirem uma recolocação no mercado de trabalho, seja como forma de

ressocialização, neste diapasão, temos que a atividade rural é uma alternativa a ser

melhor estudada e promovida, excluindo as fronteiras do preconceito e passando a

encarar essa problemática do ponto de vista subjetivo, que é onde ela precisa ser

considerada, vez que aqueles que já pagaram aquilo que deviam para a justiça e

para a sociedade, humanamente falando, têm direito de recomeçar a vida e ser

desenvolvido na assertiva de se tornar num cidadão de bem, (lembrando que

existem certos tipos de criminosos, que jamais se disporiam ao trabalho e mesmo

após sair do sistema carcerário, voltam para lá novamente, pois nestas situações o

crime se transforma o caráter do indivíduo, seguramente em caráter patológico, vez

que as bases que formam a composição do caráter destes indivíduos tornam-os

irressocializáveis, na maioria dos casos, quase que de forma irreversível.

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Portanto a aplicação do ensino profissional através da

educação empreendedora não trariam resultado efetivos para estes elementos, daí a

razão deste trabalho ser direcionado apenas para a ressocialização de indivíduos

com real possibilidade reabilitação.

A ressocilização dos jovens através do aprendizado

empreendedor para o trabalho, mais que um mero remédio jurídico, é a oportunidade

de converter a realidade pessoal do egresso, devolvendo a ele a dignidade, de sorte

a transformá-los em cidadãos do bem e úteis para a sociedade e importante para o

crescimento do pais, para a diminuição da incidência do ócio, da vadiagem e do

retorno desses jovens ao mundo do crime.

Assim, estudos sobre a organização social no campo referem-

se ao jovem apenas na condição de aprendiz de agricultor no interior dos processos

de ressocialização já que passam a ser enxergados unicamente através da ótica do

trabalho não do crime como dantes.

Atualmente, fenômenos caracteristicamente urbanos – como as

“gangs” ou “galeras” e suas práticas simbólicas de identificação normalmente plenas

de comportamentos sociais agressivos – vêm despertando a atenção de cientistas

sociais. No que se refere ao mundo rural, à juventude egressa do sistema

penitenciário brasileiro, permanece na situação de invisibilidade decorrente dessa

visão estereotipada que tem dificultado a compreensão da sua complexa inserção

num mundo culturalmente globalizado (DURSTON, 1994).

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CAPÍTULO 7 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DO APROVEITAMENTO DO PRESO DO REGIME SEMI-ABERTO NA ATIVIDADE RURAL

7.1 Vantagem Econômicas do Aproveitamento de Ex-presidiários Na Atividade Rural 7.1.1 Salários e Remunerações de Baixo Custo

O trabalho do preso, previsto na Lei de Execuções Penais

(LEP), e não cria vinculo trabalhista de nenhuma espécie com o apenado, vez que o

trabalho do preso não está sujeito ao regime da CLT (Consolidação das Leis do

Trabalho), porém não pode ter remuneração inferior a três quartos do salário

mínimo. Normalmente, nos convênios firmados entre empresas e presídios, é

estipulado um salário mínimo como pagamento, Valor, portanto considerado quase

que irrisório, outrossim, a organização rural que optar por este tipo de contratação

não tem despesas extras, como por exemplo encargos trabalhistas, como férias, 13º

Salário, INSS e FGTS. Dependendo do piso salarial, a redução nos custos da mão-

de-obra pode chegar a 50%.

Tanto o Código Penal, em seu art. 35, § 1º, quanto a Lei de

Execuções Penais (Lei nº 7.210/1984), instituem a obrigatoriedade do trabalho para

o preso comum, sendo que esta última, em seu art. 28, § 2º, dispõe que o trabalho

do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.

Segundo comprova parte do teor da lavra do MM. Juiz do

Trabalho: Paulo José Alves Cavalcanti, nos autos do Processo Trabalhista Nº:

00676-2006-122-08-00-9, da Vara do Trabalho de Santarém/PA, “in verbis”:

Justifica-se tal exclusão pelo fato de o trabalho do preso não corresponder a uma prestação de serviços como manifestação de um trabalho livre — o que fatalmente conduziria à sua inclusão no ordenamento jurídico trabalhista — mas apenas e simplesmente a uma atividade laborativa obrigatória instituída com caráter de dever social e condição de dignidade humana, justamente para atender ao conteúdo educativo e produtivo do processo inerente à sua ressocialização. A própria Lei de Execuções Penais (LEP), dispõe que a remuneração do preso, não inferior a ¾ (três quartos) do salário mínimo (art. 29), deverá atender (a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios, (b) à assistência à família, (c) a pequenas despesas pessoais, (d) e ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores (art. 29, § l.°), devendo ser depositada a parte restante

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para constituição do pecúlio, em caderneta de poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade (art. 29, § 2.°), ressaltando-se que as tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas (art. 30).

7.1.2 Dos Benefícios Sociais ao Preso e Egresso do Sistema Carcerário

O trabalho dos detentos também é uma ação de

responsabilidade social. Ajuda na ressocialização assim como na redução da pena -

a cada três dias de trabalho o detento tem um a menos de pena a cumprir.

7.1.3 Diminuição do Custo de Produção

Em alguns estados, como no Espírito Santo, não é cobrada

nenhuma taxa para o uso do espaço e da estrutura física do presídio (água, luz,

alimentação).

7.1.4 Comprometimento do Preso Com o Trabalho

O comprometimento dos presos com o trabalho costuma ser

grande. Pois muitas vezes na busca de diminuir o tempo de cumprimento de suas

penas, não costumam faltar ao trabalho.

7.2 Desvantagens 7.2.1 Alta Rotatividade

A rotatividade (o chamado turnover) de presos dentro das

oficinas de trabalho costuma ser grande. Tem sempre alguém passando para o

regime semi-aberto ou ganhando liberdade e, automaticamente, outro detento

entrando no lugar. Isto exige da empresa gastos constantes com treinamento e

desenvolvimento, porém uma vez utilizado como educadores, acadêmicos de cursos

técnicos e superiores esse custo cai consideravelmente vez que muitas vezes

poderão ser usados neste treinamento estudantes em estágio obrigatório, que

muitas vezes o único custo operacional que se tem é o do auxilio transporte e

alimentação e nada mais, vez que os estágios para conclusão de cursos são

obrigatórios.

Por outro lado, os presos libertados ou do regime semi-aberto,

são o grupo de indivíduos a que se destina este trabalho, podendo, portanto estes

egressos, serem contratados e treinados nos ditames dos enunciados descritos até

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este momento neste trabalho, vez que a tese deste trabalho, prima por exatamente

criar alternativas pela requalificação e ressocialização através do trabalho em

propriedades rurais, aos ex-presidiários.

7.2.2 Apenados em Regime Fechado e Semi-aberto de Prisão, São Proibidos Por Força de Lei de Realizarem Horas Extras

De acordo com a LEP, que regulamenta o trabalho dos presos,

“a jornada normal de trabalho não será inferior a seis, nem superior a oito horas

diárias, com descanso nos domingos e feriados”. As empresas nunca conseguem

fazer hora extra. Para isso seria necessário que os agentes carcerários também

estendessem o horário de trabalho.

7.2.3 Necessidade de Investimento Em Estrutura Física

Os empresários precisam investir para transformar o espaço

cedido pelo presídio em lugar de trabalho. Alguns chegam até a construir novos

pavilhões. Para atrair mais empresas, as colônias penais agrícolas, geralmente já

são dotadas desta estrutura básica.

7.2.4 Medidas de Segurança dos Presídios Dificultam o Aproveitamento do Tempo

Os caminhões que levam e trazem produtos e mercadorias nos

presídios devem respeitar um horário rígido, pré-determinado pela direção da

unidade, para entrar e sair das unidades e são sempre revistados.

7.2.5 Blitz Surpresa

Nos dias de revista geral, as oficinas param de funcionar. Blitz

são realizadas de surpresa, mesmo que a empresa tenha um prazo determinados

para produção, não pode continuar funcionando nestes dias.

7.2.6 Ações Sindicais

As empresas podem sofrer com a ação dos sindicatos, que

exigem um limite na contratação de detentos - até 10% do total de empregados.

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38

CAPÍTULO 8 - CONCLUSÃO

Por todo o conjunto analisado e trazido à baila nesta

monografia, temos que o exercício, oferta e prática de pedagogia empreendedora

nas instituições carcerárias e/ou em fazendas e propriedades rurais, diante do

aumento da evasão de trabalhadores rurais que com a oferta cada vez mais

freqüentes de oportunidades de trabalho nas cidades e trabalho menos penoso nas

propriedades rurais e ao mesmo tempo com o advento da melhoria da tecnologia

rural no mercado, diante deste que já é conhecido como o êxodo rural da era da

nova tecnologia.

Em contrapartida diante da necessidade do setor rural de

encontrar trabalhadores dispostos, até mesmo em razão de seus antecedentes

criminais, que muitas vezes inviabilizam sua recolocação no mercado de trabalho

por puro e simples preconceito, para o empregador rural a alocação de mão de obra

egressa do sistema carcerário brasileiro, acaba sendo uma alternativa barata e

perfeitamente viável, pois os custos gerados pelo recrutamento, seleção e até

mesmo com o treinamento deste tipo de profissional, acaba tendo um custo

operacional infinitamente mais barato se comparado ao mesmo processo em se

contratando profissionais sem antecedentes criminais algum.

Até porque a contratação de um indivíduo sem antecedentes

criminais, em que pese o fato do mesmo não ter passagem criminal, não é um

indicativo, ou uma garantia absoluta, de que o mesmo não venha a cometer atos

ilícitos ou atos criminosos no decorrer do tempo, não há psicólogo ou gestor de

recursos humanos dotado e capaz de garantir uma seleção perfeita, pois estes

profissionais também são imperfeitos e sujeitos a serem induzidos a erro, como

qualquer pessoa comum, ainda que de forma mais rara, mas seleções mal

sucedidas estão sujeitas a ocorrer ocasionalmente.

Já se levarmos em consideração, que sim, existem indivíduos

dispostos a mudar de vida e de não regredir e voltar ao mundo do crime, que podem

aceitar uma proposta de trabalho no setor rural, como uma verdadeira chance e

possibilidade de mudar de vida e de voltar a ser de utilidade para a sociedade.

Até mesmo por que; diante das premissas de recrutamento e

seleção diferenciadas, devido às peculiaridades do caso de cada indivíduo, que

foram amplamente analisadas e abordadas no capítulo 4 desta obra, verifica-se que

o produtor rural já recebe em sua propriedade um indivíduo que já foi devidamente

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39

triado e selecionado, de forma pretérita, e até mesmo podemos parafrasear com a

seguinte assertiva: de que o empreendedor rural, enquanto ocorre o deslinde do

treinamento, poderá selecionar e observar “in loco”, se as características pessoais

do apenado, ou egresso do sistema prisional, é capaz e passível de ser moldado e

aproveitado em sua propriedade.

Em outras palavras; o produtor rural terá a oportunidade de

selecionar pessoalmente o indivíduo e de forma assistida por profissionais ou

acadêmicos de cursos superiores correlatos à atividade rural, que em tese, terão a

responsabilidade de treinar e acompanhar o desenvolvimento do aprendizado do

apenado e do egresso do sistema penal, de sorte a possibilitar e lastrear um melhor

entendimento lógico e técnico e de quebra possibilita que uma seleção patronal,

possa ser realizada de forma mais assertiva, através dos relatórios apresentados

pelos acadêmicos de cursos superiores, técnicos e correlatos das mais diversas

áreas do conhecimento do setor rural, ou pedagógica de atuação, além, de contar

com o acompanhamento e feedback imediato dos docentes que acompanharão o

deslinde do treinamento e avaliação periódica do aprendizado proporcionado ao

apenado ou ex-detento.

Fatores que possibilitam mesmo antes do apenado ou egresso

do sistema penal, ser recebido e alocado/contratado para aproveitamento na

propriedade rural em questão, fator exógeno que por si só já traz certa garantia de

que o apenado, ou egresso do sistema penal, está sim, com condições morais e

psicológicas de ser recebido e aproveitado no mercado de trabalho rural, como um

indivÍduo, dotado de capacidades e até mesmo podemos afirmar de motivos para

não regressar ao sistema penal e podendo assim receber e entender uma proposta

de trabalho no segmento, como uma proposta, uma chance de literalmente mudar de

vida e de se apresentar para a sociedade como um indivíduo recuperado.

Mas para isso necessário consignar que é de fundamental

importância, que o mesmo receba um voto de confiança dos empresários rurais,

para que essa premissa se torne uma realidade lucrativa para ambas as partes

patrão e empregado a saber!

Neste diapasão temos que a educação empreendedora pode

ser vinculada a tecnologias de desenvolvimento rural, sociológico sustentável; por

isto tem como alvo não só o indivíduo, mas uma comunidade, assim por que não

ventilarmos a possibilidade do aproveitamento da população carcerária ou egressa

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do sistema penal como indivíduos dotados de capacidade de reintegração social e

capacidade endógena passível de aprimoramento exógeno, ou seja, que esses

indivíduos possuem a capacidade de se auto ajustar as situações a eles propostas.

Sim, a educação empreendedora tem o condão de estimular a

capacidade de escolha do treinando, seja ele ainda apenado (regime semi-aberto)

ou egresso do sistema penal (aquele indivíduo que já cumpriu com sua pena e que,

portanto é passível de completa ressocialização, isso tudo o empreendedorismo tem

como característica intrínseca, ele oferece a oportunidade ao indivíduo de forma a

propiciar influencia positiva endógena e exógena do elemento tomar de forma mais

assertiva as suas decisões, preparando-o para as suas próprias opções.

Sim, o segmento rural, pode e deve tratar a educação

empreendedora como uma forma de ser e não somente de fazer, transportando o

conceito que nasceu na empresa para todas as áreas da atividade humana no caso

em tela ao setor rural.

Finalizo, vou usar os conceitos e opiniões de Fernando

Dolabela, um dos mais brilhantes expert’s dos últimos tempos, em se tratando de

Pedagogia Empreendedora: A pedagogia Empreendedora, (e nessa conclusão final

e pessoal minha, usarei pessoalmente o termo Educação Empreendedora).

Pois bem para Dolabela (1999), a educação empreendedora

não se trata de uma estratégia pedagógica destinada exclusivamente a preparar os

indivíduos para criar uma empresa ou trabalhar numa empresa, seja esta empresa

de qual for o segmento (Inclusive o rural). Ela desenvolve o potencial dos indivíduos

para serem empreendedores em qualquer atividade que escolherem: empregados

do governo, do terceiro setor, de grandes empresas, de grandes ou pequenos

latifúndios ou propriedades rurais, ou mesmo num contexto acadêmico criar

pesquisadores, artistas, etc..

“In fine” contextualizando a visão de Dolabela (1999),

percebemos que a educação Empreendedora traz em seu seio um condão

humanista, e não visa apenas e tão somente o enriquecimento pessoal, mas atua

também na preparação de outros indivíduos para participar ativamente melhora e da

facilitação do desenvolvimento social, com vistas à melhoria de vida da população e

se baseia na premissa mais digna e magnânima de todas a de diminuir as diferenças

sociais e promover e participar na construção de uma sociedade mais justa, mais

fraterna e atuar de forma eficaz na eliminação do preconceito e promover a

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capacidade dos verdadeiros empreendedores, que são aqueles, que de fato

compreendem o termo “ Empresa com responsabilidade Social” e acima de tudo:

participar ativamente do fim das diferenças e do fim da exclusão social, advinda

meramente do preconceito, que nada mais é que a mola propulsora das

desigualdades sociais que transformam o Brasil, país rico e belo por natureza, mas

ao mesmo tempo tão pobre e ignorante.

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