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Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentáveis na Amazônia Subsídios para debate

Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentáveis na Amazônia

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"As APS priorizadas neste estudo se situam entre aqueles que dependem da floresta e a mantêm em pé (manejo florestal madeireiro e dos produtos da sociobiodiversidade), aquelas que constituem alternativa ao uso predatório dos recursos naturais e aquelas que recuperam áreas degradadas (SFA´s , pesca e aquicultura e pecuária sustentável)."

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  • 1. Oportunidadesde Apoio aAtividadesProdutivasSustentveisna AmazniaSubsdios para debate
  • 2. Documento subsdio elaborado no mbito do Projeto Cooperao com o Fundo Amaznia/BNDES pelaCooperao Alem para o Desenvolvimento Sustentvel, representada pela Deutsche Gesellschaft frInternationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbHCoordenao editorial: Christiane EhringhausAutores: Carlos Valrio Gomes, Christiane Ehringhaus, Claudia Martins Dutra, Eugnio Pantoja, Fabiano Toni,Johannes Schielein, Jorge Hargrave, Katia Carvalheiro, Luciana Rocha, Manuel Amaral Neto, Monika Rper,Viktoria Zipper, Waldemar WirsigReviso: Adriana Ramos, Berend Becker, Claudia Martins Dutra, Jan Brner, Jorge Hargrave, Heike Friedhoff,Katia Carvalheiro, Klaus Albrechtsen, Manuel Amaral Neto, Marcia Gramkow, Margit Gropper, Mauro Pires,Elaborao de mapas: Johannes Schielein, Bernardo Anache e Flvio AltieriEdio: Tereza Moreira : Luiz DarBraslia, dezembro de 2012.Os autores e autoras so responsveis pelasinformaes contidas neste documento,bem como pelas opinies nele expressas,que no so necessariamente as da GIZ.
  • 3. Lista de Siglas ABC Programa para uma Agricultura de Baixo Carbono ABONG Associao Brasileira de Organizaes No Governamentais AIMEX Associao das Indstrias Exportadoras de Madeira do Estado do Par AL Amaznia Legal ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria AP reas Protegidas APA rea de Proteo Ambiental APL Arranjo Produtivo Local APP rea de Preservao Permanente APS Atividade Produtiva Sustentvel ARCAFAR Associao Regional das Casas Familiares Rurais ATEPA Plano Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Pesqueira e Aqucola ATER Assistncia Tcnica e Extenso Rural ATES Assistncia Tcnica, Social e Ambiental BASA Banco da Amaznia BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento, instituio do Banco Mundial BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAR Cadastro Ambiental Rural CBA Centro de Biotecnologia da Amaznia CDRU Concesso Real de Direito de Uso CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina CETICAM Comisso Especial de Transportes, Infraestrutura e Comunicaes da Amaznia CFR Casa Familiar Rural CGEN Conselho de Gesto do Patrimnio Gentico CIGEX CNA Confederao Nacional da Agricultura CNI Confederao Nacional da Indstria CNS Conselho Nacional de Populaes Extrativistas CNUC Cadastro Nacional de Unidades de Conservao COFA Comit Orientador do Fundo Amaznia COIAB Coordenao das Organizaes Indgenas da Amaznia Brasileira CONAB Companhia Nacional de Abastecimento CONAFLOR Comisso Nacional de Florestas CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAPE Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca CONTAG Confederao Nacional de Trabalhadores na Agricultura COOPERFLORESTA Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitrios CPI Comisso Pr-ndio CPT Comisso Pastoral da Terra CREDITAG Sistema Nacional de Cooperativas de Crdito da Agricultura Familiar CTA Centro dos Trabalhadores da Amaznia DETER Sistema de Deteco de Desmatamento em Tempo Real/INPE DLIS Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel DOF Documento de Origem Florestal III
  • 4. DRS Desenvolvimento Rural Sustentvel EFA Escola Famlia Agrcola EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria EPE Empresa de Pesquisa Energtica FA Fundo Amaznia FAE Frum de Manejo Florestal Comunitrio do Esturio do Rio Amazonas FAO Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura FAOR Frum Amaznia Oriental FAS Fundao Amaznia Sustentvel FASE Federao de rgos para Assistncia Social e Educacional FBOMS Frum Brasileiro de Organizaes No Governamentais e Movimentos Sociais para o Meio Am- biente e o Desenvolvimento FENAFRA Feira Nacional da Agricultura Familiar FLONA Floresta Nacional FLOTA Floresta Estadual FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao FNDF Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal FNO Fundo Constitucional do Norte FSC Forest Stewardship Council FUNAI Fundao Nacional do ndio GEE Gases do Efeito Estufa GEF Fundo Mundial para o Meio Ambiente GIZ Deutsche Gesellschaft fr Internationale Zusammenarbeit GmbH, Agncia de Cooperao Alem para o Desenvolvimento Sustentvel GPFC Grupo de Produtores Florestais Comunitrios GTA Grupo de Trabalho Amaznico IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBGE ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade IMAFLORA IMAZON Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amaznia IN Instruo Normativa INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ISA Instituto Socioambiental MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento MCTI Ministrio de Cincia, Tecnologia e Inovao MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDIC Ministrio de Desenvolvimento de Indstria e Comrcio MDS Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome MEB Movimento Empresarial pela Conservao e Uso Sustentvel da Biodiversidade MEC Ministrio da Educao MIN Ministrio da Integrao Nacional MinC Ministrio da Cultura MMA Ministrio do Meio Ambiente MME Ministrio de Minas e EnergiaIV
  • 5. MP Ministrio Pblico MPA Ministrio da Pesca e Aquicultura MPF Ministrio Pblico Federal MTE Ministrio do Trabalho e Emprego OAV Operao Arco Verde OCB Organizao das Cooperativas Brasileiras OELA OEMA rgo Estadual de Meio Ambiente OIMT Organizao Internacional de Madeiras Tropicais ONG Organizao No Governamental PAA Programa de Aquisio de Alimentos da Agricultura Familiar PA Projetos de Assentamentos PAC Programa de Acelerao do Crescimento PAE Projetos de Assentamento Agroextrativista PAE Programa de Apoio Comercializao de Produtos do Extrativismo PAF Projetos de Assentamento Florestal PAS Plano Amaznia Sustentvel PDA Subprograma Projetos Demonstrativos/PPG7 PDPI Programa Demonstrativo dos Povos Indgenas/PPG7 PDS Projeto de Assentamento de Desenvolvimento Sustentvel PDSA Programa Executivo de Desenvolvimento Sustentvel do Agronegcio na Amaznia Legal PFNM Produto Florestal No Madeireiro PGAI Projeto de Gesto Ambiental Integrada PGPM Poltica de Garantia de Preo Mnimo PIA Pesquisa Industrial Anual PIB Produto Interno Bruto PNAE Programa Nacional de Alimentar Escolar PNATER Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural PNGATI Poltica Nacional de Gesto Territorial e Ambiental de Terras Indgenas PNPCT Poltica Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais PNPSB Plano Nacional para Promoo dos Produtos da Sociobiodiversidade PPCDAm Plano de Ao para Preveno e Controle do Desmatamento da Amaznia Legal PPG7 Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil PPTAL Projeto Integrado de Proteo s Populaes e Terras Indgenas da Amaznia Legal PR-BPA Programa Nacional de Fomento s Boas Prticas Agropecurias PRODESPRODUSA Programa de Estmulo Produo Agropecuria SustentvelPROMANEJO Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentvel na Amaznia/PPG7 PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura FamiliarPRONATER Programa Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso RuralPROVRZEA Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Vrzea/PPG7 PRADAM Programa de Recuperao de reas Degradadas na AmazniaPROPASTO Programa de Recuperao, Melhoramento e Manejo de Pastagens na Amaznia Legal PSA Pagamento por Servios Ambientais PTL Programa Terra Legal REBRAF RECA REDD+ Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao Florestal RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentvel V
  • 6. RESEX Reserva Extrativista RL Reserva Legal SAF SEAP Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca SEATER Secretaria Estadual de Assistncia Tcnica e Extenso Rural, do Acre SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SEESCOOP Servio Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo SEMA Secretaria de Meio Ambiente SENAC Servio Nacional de Aprendizagem do Comrcio SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SFB Servio Florestal Brasileiro SINIMA Sistema Nacional de Informao sobre Meio Ambiente SIPAM Sistema de Proteo da Amaznia SISFLORA Sistema de Comercializao e Transporte de Produtos Florestais SOLICRED Cooperativa de Crdito Rural e Economia Solidria SPRN Subprograma de Polticas de Recursos Naturais/PPG7 SPU Secretaria de Patrimnio da Unio SUFRAMA Superintendncia da Zona Franca de Manaus TAC Termo de Ajustamento de Conduta TI Terra Indgena UC Unidade de Conservao UNICAFES Unio Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidria USAID United States Agency for International Development ZEE Zoneamento Ecolgico EconmicoVI
  • 7. Lista de Figuras e Tabelas Figura PginaFigura 1. Opes de apoio a atividades produtivas sustentveis 16Figura 2. rea de abrangncia do Arco do Desmatamento e os 50 municpios priorizados pelo PPCDAm 17 18Figura 1.1. PIB por municpio na Amaznia Legal em 2007 23Figura 1.2. Principais ramos da atividade industrial na Amaznia Legal 24Figura 1.3. Fluxos de mercadorias entre municpios na Amaznia Legal 26Figura 1.4. Participao relativa dos setores no PIB dos municpios prioritrios 27 29Figura 1.6. Obras do PAC previstas e em execuo na Amaznia 29Figura 1.7. Desenvolvimento do rebanho bovino entre 1980 e 2009 30Figura 1.8. a) Aumento da pecuria na Amaznia Legal e b) no Acre 31Figura 1.9. rea destinada aos gros mais produzidos nos municpios prioritrios entre 1990 e 2009 31Figura 1.10. Dinmica de desmatamento na Amaznia Legal entre 2006 e 2009 33Figura 1.11. Polos madeireiros na Amaznia Legal 35Figura 1.12. Usos da madeira nativa na Amaznia em 2009 36 37Figura 1.14. Regionalizao dos municpios prioritrios 38 43Figura 2.2. Crescimento populacional na Amaznia Legal e nos municpios prioritrios 43Figura 2.3. Universo social nos municpios prioritrios 45Figura 2.4. Uso da terra pelos grupos sociais prioritrios 47Figura 2.5. Nvel de desmatamento por categoria de uso da terra nos municpios prioritrios 48 60Figura 2.7. Estratgias de apoio a APS considerando grupos sociais priorizados 62Figura 3.1. reas de atuao das organizaes da sociedade civil 70Figura 3.2. Organizaes da sociedade civil na Amaznia Legal por grau de complexidade 74Figura 3.3. Densidade, por municpio, das organizaes da sociedade civil na Amaznia 81Figura 3.4. Densidades, por municpios, de organizaes que trabalham com o pblico prioritrio 81Figura 3.5. Densidade de projetos produtivos do PPG7: PDA, PDPI, ProManejo e ProVrzea 83Figura 4.1. Estratgias de apoio a APS e cenrios aplicveis 95 96Value Links)Figura 5.1. Iniciativas de Manejo Florestal Madeireiro Comunitrio em pequena escala na Amaznia Legal 130Figura 5.2. Iniciativas de Manejo Florestal No Madeireiro Comunitrio em pequena escala 132na Amaznia LegalFigura 5.3. reas prioritrias do PNMFCF em 2011 134Figura 5.4. Distribuio dos pescadores brasileiros 149Figura 5.5. Localizao dos 60 Territrios de Aquicultura e Pesca do Brasil 150Figura 5.6. Representao da tipologia do acordo comunidade-empresa 171Figura 6.1. Possvel desenho de um programa estruturante e sua relao com projetos e subprojetos 187Figura 6.2. Abordagem territorial ao apoio a APS 189Figura 7.1. Quadro resumo das estratgias de apoio a APS 193 VII
  • 8. Tabela PginaTabela 1.1. Faturamento anual (2008) das principais atividades agropecurias na Amaznia 24Tabela 1.2. Principais atividades agropecurias nos municpios prioritrios e sua participao no faturamento 28setorial da Amaznia LegalTabela 1.3. Faturamento de produtos agropecurios e extrativistas nos municpios prioritrios 28Tabela 1.4. Municpios com maior destinao de terras para atividades agropecurias 32Tabela 1.5. Caracterizao geral do setor madeireiro na Amaznia 34Tabela 1.6. Caracterizao das sub-regies de acordo com a tipologia de desmatamento 39Tabela 2.1. Populao urbana e rural dos municpios prioritrios entre 2000 e 2010 42Tabela 2.2. Correlao entre grupos sociais, uso e ocupao do territrio 46Tabela 2.3. Proporo dos estados da Amaznia Legal ocupada por UCs ou TIs 47Tabela 2.4. Populao, territrio estimado e uso da terra pelos grupos sociais priorizados 50Tabela 2.5. Assassinatos no campo ocorridos no Brasil, nos estados da Amaznia e nos municpios 59prioritrios entre 2001 e 2010 59Tabela 3.1. Organizaes da sociedade civil por tipo e quantidade 69Tabela 3.2. Quantidade de organizaes por grau de complexidade 71Tabela 3.3. Distribuio quantitativa por ramo das cooperativas na Amaznia Legal 76Tabela 3.4. Distribuio das organizaes credenciadas no SIATER em sete estados da Regio Norte 77Tabela 4.1. Gargalos a serem superados nas cadeias de valor 97Tabela 5.1. Tipologias de SAFs na Amaznia 119Tabela 5.2. Iniciativas de manejo comunitrio e familiar (2006 e 2009/2010) 130 131 139Tabela 5.5. Modalidades da piscicultura 148Tabela 5.6 . Sntese das etapas do manejo e riscos associados a acordos que envolvem comunidades locais 170Tabela 5.7. Caractersticas de acordos comunidades-empresas envolvendo PFNM na regio da 171Transamaznica 188 190 VIII
  • 9. SumrioIntroduo ............................................................................ ... ...............111. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento ........ ... ...............172. Grupos Sociais, Territrios e Atividades Produtivas ........... ... ...............373. Anlise da Capacidade Institucional Instalada .................. ... ...............614. Atividades Produtivas Sustentveis: Conceitos Bsicos e Oportunidades para Apoio Estruturante ............. ... ...............895. Atividades Produtivas Sustentveis: .........113 114 ................................................................... 5.2 Manejo Florestal Comunitrio e Familiar ....................................... 124 5.3 Pesca e Aquicultura........................................................................ 142 5.4 Pecuria Sustentvel ...................................................................... 152 5.5 Relaes e Parcerias entre Comunidades e Empresas ..................... 164 5.6 APS em Sistemas Integrados e sua Relevncia para Servios Ambientais ............................................................... 1766. Oportunidades para Arranjos Institucionais para Projetos e Programas de Apoio a APS ..........................................179Consideraes Finais ............................................................................187Referncias ...........................................................................................190 9
  • 10. 10
  • 11. Introduo D esde a dcada de 1980, o clamor, dentro e fora do Brasil, pelo iniciativas voltadas a combat-lo e a assegurar desenvolvimento com sustentabilidade para essa regio do Pas. O Plano de Ao para Preveno e Controle do Desmatamento na Amaznia (PPCDAm) instrumento chave neste contexto, prevendo sua reduo em 80% at 2020. Tais esforos comeam a surtir efeito. Entre 2004 e 2010, por exemplo, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que o desmatamento caiu 74%, passando de 27,4 mil km2 para 6,5 mil km2 por ano1. A atuao do PPCDAm foi mais intensa nos grandes estabelecimentos rurais. Com isso, a contribuio relativa do desmatamento de pequeno porte (reas menores que 25 hectares) para o desmatamento total tem aumentado. Assim, tambm os pequenos produtores passam a ser alvo maior de esforos de preveno e controle de desmatamento, em atual reduzir continuamente essas taxas, o que implica estratgias que em p, gerao de trabalho e renda, justia social e conservao da biodiversidade. O apoio a atividades produtivas sustentveis (APS) constitui uma opo que combina esses elementos. A priori, qualquer atividade produtiva pode ser exercida de forma sustentvel, isto , mantendo a intensidade de extrao dos recursos naturais em nveis sustentveis, sem expandir a rea desmatada ou degradada e assegurando viabilidade econmica. Vale salientar tambm que, para serem sustentveis, essas atividades precisam ser apropriadas s condies sociais e culturais locais. Na mesma lgica, qualquer atividade produtiva, com exceo daquelas que dependem intimamente da De forma geral, as APS priorizadas neste estudo se situam entre pesca e aquicultura), e aquelas que recuperam reas desmatadas ou degradadas aps o seu uso insustentvel (pecuria sustentvel), tal como indica a Figura 1.1 VILA, C. PPCDAm tem seminrio de avaliao. Disponvel em Acesso em outubro de 2011. Introduo 11
  • 12. Figura 1. Opes de apoio a atividades produtivas sustentveis desenvolvido na implementao do PPCDAm. Essa iniciativa do Governo Fe- deral, que envolve 13 ministrios sob a coordenao da Casa Civil da Presi- dncia da Repblica, tem como objetivo dar mais coerncia poltica s aes governamentais na Amaznia, atuando nas frentes de ordenamento territorial, monitoramento e controle ambiental, alm do fomento de APS. O PPCDAm estabelece interfaces em mbito estadual que possibilitam a ope- o Plano reforar o Eixo 3 (fomento a APS). Estimular as cadeias de valor com maior potencial de gerao de renda, como as associadas ao extrativismo e sociobiodiversidade, ou que visam maior produtividade das reas j abertas. As fragilidades apontadas pelo PPCDAm no desenvolvimento das APS so: (1) o baixo nvel de implementao dos programas existentes de apoio s APS. Nesse contexto surge o atual estudo, que se prope fornecer ao Fundo Ama- znia e a outros programas de apoio existentes na regio elementos para a preveno do desmatamento e a transformao dos sistemas produtivos rumo e suas instituies na Amaznia; mapear oportunidades e opes de investimento; estimular o debate sobre oportunidades de apoio a APS. Escopo territorial Embora o estudo enfatize opes para a regio do chamado Arco do Desma- tamento, em especial os 50 municpios priorizados pelo PPCDAm, suas concluses abrangem localidades amaznicas que estejam sob presso do desmatamento ou que possam se beneficiar com projetos voltados 12 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 13. implementao das APS estudadas. O Ministrio do Meio Ambiente (MMA)publica anualmente uma lista de municpios prioritrios a serem atendidos2, -planos, programas e projetos de desenvolvimento sustentvel.de diversos programas no mbito do PPCDAm, inclusive do Fundo Amaznia.A maioria situa-se no chamado Arco do Desmatamento, uma faixa territorialque se estende do centro-oeste do Maranho ao leste do Acre, conforme indi-ca a Figura 2.Figura 2. rea de abrangncia do Arco do Desmatamento e os 50 municpiospriorizados pelo PPCDAmFonte: Elaborado pelos autores com a base de dados do IBGE e do MMA. Distintas denominaes para uma rea crtica A expresso Arco do Desmatamento surgiu na dcada de 1990 com a divulgao dos mapas do INPE, mostrando a concentrao do desmatamento na faixa sul e sudeste da Amaznia. Ao longo dos ltimos anos, o conceito e as expresses associadas a essa regio passaram por sucessivas mudanas. Surgiram outras denominaes, tais como Arco do Fogo ou Arco do Povoamento Adensado. Visando criar uma conotao mais positiva para as aes desenvolvidas nessa regio, em 2002 o Museu Paraense Emlio Goeldi e a Conservation International do Brasil propuseram renome- -la como Arco do Desenvolvimento Sustentvel. De forma similar, sugeriu-se o nome Operao Arco Verde para o programa de aes dirigidas aos municpios prioritrios, iniciado em 2009 no mbito do PPCDAm. Todas essas expresses so atualmente utilizadas, na maioria das vezes como sinnimas, mas seu emprego deve ser revestido de cautela, levando em conta as interpretaes divergentes e as2 Os municpios prioritrios so todos os listados nas portarias do MMA que dispem sobre as aes de preveno e controle do des-matamento: Portaria n 28, de 24 de janeiro de 2008, Portaria n 102, de 24 de maro de 2009, e Portaria n 175, de 24 de maio de2011. Introduo 13
  • 14. associaes atribudas a alguns desses termos. Uma referncia espacial adotada para este estudo constituda pelos 50 municpios que integram a lista do MMA e constituem prioridade geogr- Contexto deste estudo Este estudo foi realizado com base em uma viso integrada de polticas p- Fundo Amaznia/BNDES e tem como marco orientador as diretrizes do COFA, a abordagem do PPCDAm e as demais polticas pblicas e programas governa- mentais voltadas ao desenvolvimento sustentvel na Amaznia. - mento Sustentvel, representada pela Deutsche Gesellschaft fr Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, reuniu uma equipe de tcnicos e consultores especialistas, que elaborou os textos apresentados a seguir com base em an- lises e estudos tcnicos, em documentos de projetos e polticas pblicas, bem como em dados do IBGE, INPE e MMA. Tal estudo ensejou um levantamento sobre a cobertura institucional das organizaes da sociedade civil instaladas na Amaznia, visando implementao de projetos de APS, e um banco de dados de projetos produtivos implementados na Amaznia. estudo agrega elementos da avaliao do PPCDAm apresentada em outubro de 2011. Contribuindo para a discusso mais aprofundada das APS e de seu impacto na mudana de orientao do desenvolvimento regional, o estudo busca PPCDAm, em especial do eixo 3 de apoio a atividades produtivas sustent- veis. As anlises do estudo foram feitas em 2011, com processos de reviso ao longo de 2012.14 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 15. Como a publicao est organizadaConstitudo de duas partes, este estudo aborda, na primeira, os aspectos con-o apoio a APS.Oparticularidades do Arco do Desmatamento, em que a expanso do agroneg-cio, a instalao de grandes obras de infraestrutura e o uso do solo sem plane-jamento adequado ditam tendncias e dinmicas prprias de desmatamento,condicionando distintas realidades nas sub-regies estudadas.O analisa os fatores que condicionam a dinmica populacional daprojetos apoiados pelo Fundo Amaznia, como tambm de outros programasde apoio em mbitos estadual e federal. Mostra como a interao dessas popu-pelo uso da terra e condicionado prticas insustentveis do ponto de vistasocial, econmico e ambiental.O traa um panorama institucional das organizaes da sociedadecivil e dos rgos pblicos atuantes na Amaznia. Analisa suas principais ca-ractersticas, reas temticas, localizao, bem como a capacidade de gesto,de articulao e de atuao em parceria com setores estratgicos da socieda-de, no sentido de favorecer o desenvolvimento de APS.Oestratgias de preveno e controle do desmatamento, aborda outros elemen-tos utilizados para caracterizar essas atividades no mbito dos sistemas produ-tivos. Seguindo a lgica das cadeias de valor e dos servios necessrios paraoportunidades para aes estruturantes de carter universal para APS.O -restal comunitrio e familiar, pesca e aquicultura e pecuria sustentvel. Essasatividades so analisadas a partir das suas principais caractersticas, bem comodas polticas e programas correlacionados, iniciativas, experincias e apren-Nesse captulo tambm so abordadas as parcerias entre comunidade e em-presas, importncia e impactos no apoio s APS. O captulo tambm destacaincorpora atividades produtivas realizadas simultaneamente ou no mesmo ter-ritrio. Assim, procura manter uma abordagem sistmica e um olhar compa-rativo entre as diversas opes apresentadas, sobretudo considerando sistemasintegrados de pagamento por servios ambientais.Considerando o elenco de APS selecionadas, no so debatidasas formas como se pode conceber e organizar um apoio vinculado aos pro-cessos de desenvolvimento local e capaz de gerar impactos duradouros. Ocaptulo analisa quais arranjos institucionais podem contribuir para o de-senvolvimento das cadeias de valor na Amaznia, tendo em vista as limi-taes e potencialidades institucionais das organizaes da sociedade civil Introduo 15
  • 16. e do setor pblico na regio. So analisadas as opes de apoio, seja em m- bito de projetos, seja mediante programas estruturantes e polticas pblicas. O captulo tambm aborda possveis desenhos e arranjos institucionais, bem a se obter maior foco nas estratgias de interveno. apoio, que receberam destaques no texto conforme seu grau de importncia e aplicabilidade regional. Os cones a seguir foram usados para indicar o seu nvel de relevncia: Altamente relevantes. Concluses e oportunidades de mdia relevncia. Indicaes de aplicao regional. Pretende-se, com isso, facilitar a leitura e orientar os debates em torno do complexo universo das APS, considerando o enfoque adotado neste estudo. Boa leitura!16 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 17. 1 Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento O desmatamento alcanou ndices alarmantes na Amaznia nas ltimas dcadas do sculo XX e incio deste sculo. Para auxiliar no entendimento desse complexo fenmeno, o presente captulo aponta as principais atividades produtivas, com suas condicionantes internas e externas regio, madeireira, agricultura em larga escala e instalao de grandes obras de infraestrutura sem planejamento adequado so alguns dos elementos regio. chamada modernizao econmica atual. Embora tenha apresentado taxas de crescimento superiores mdia brasileira nos ltimos anos, ainda persistem grandes desigualdades na distribuio da renda per capita, bem como pobreza e precariedade para muitos segmentos da sociedade. Isso revela que, em alguns casos, as riquezas geradas no tm revertido em melhoria da qualidade de vida da populao. Grande parte dos municpios prioritrios para o controle do desmatamento se encontra em zonas sob presso de grandes e realidades muito distintas na situao econmica desses municpios, o que deve ser levado em considerao para o desenho de estratgias de apoio a APS mais adequadas s particularidades locais.1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 17
  • 18. Amaznia Historicamente, a Amaznia constitui territrio em disputa pela explorao de recursos naturais. Essa caracterstica remonta ao perodo colonial, quando Portugal e Espanha empreenderam expedies em busca de riquezas minerais das terras originalmente pertencentes ao domnio espanhol. Ao longo dos sculos, a regio experimentou surtos de crescimento, especial- mente durante o ciclo da borracha. Mas foi nas dcadas de 1960 e 70, durante econmica, impactos o regime militar, que a modernizao econmica colocou a Amaznia no cen- socioambientais e tro do debate nacional sobre ocupao territorial e explorao de riquezas. disputas territoriais. Com o slogan nacionalista integrar para no entregar, os governos militares lanaram projetos de infraestrutura e programas para ocupar e controlar a re- gio. Houve grande estmulo migrao, sobretudo do Nordeste, para atender necessidade de mo de obra em projetos mineradores, agropecurios e ma- deireiros que se instalavam na Amaznia mediante incentivos governamentais. Com exceo da Zona Franca de Manaus, tais polticas de ocupao, inte- grao econmica e controle estratgico, implementadas especialmente nas bordas meridionais e orientais, causaram impactos que so visveis at hoje. - tais com os habitantes tradicionais do territrio, como indgenas, extrativistas e ribeirinhos, foram alguns efeitos indesejveis do crescimento econmico. A partir dos anos 1980, os efeitos do modelo de ocupao j se faziam sentir. A violncia no meio rural, devido ao caos fundirio instalado, bem como os alarmantes ndices de desmatamento, provocaram forte mobilizao no Brasil Como forma de resistncia situao instalada, nas ltimas dcadas emergi- ram movimentos dos setores afetados pelo crescimento insustentvel, dispos- tos a impulsionar novas polticas e institucionalidades na regio. A demar- cao de terras indgenas (TIs), a criao de reas protegidas, as polticas de combate ao desmatamento, regularizao fundiria, ordenamento territorial e incentivo a APS tm sido medidas adotadas para responder a esses anseios. - nia Legal, propiciada pelo crescimento da agropecuria, da atividade madei- reira e, pontualmente, do polo industrial de Manaus. Em especial, a agrope- curia expandiu-se em termos da rea ocupada, do volume de produo e da alta de preos, principalmente da carne, nos mercados internacionais. PIB regional cresce Entre 2000 e 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) da regio cresceu 6,2% ao mais do que o nacional. ano, enquanto o PIB nacional se expandiu, em mdia, 3,6%. Em 2008, o PIB amaznico, de R$ 246 bilhes, correspondia a 8% do PIB brasileiro. Os esta- dos do Par (24%), Mato Grosso (22%), Amazonas (19%) e Maranho (16%) foram os que mais contriburam com o sucesso econmico da regio3.3 CELENTANO, D.; SANTOS, D.; VERSSIMO, A. A Amaznia e os Objetivos do Milnio 2010. Srie O Estado da Amaznia: indicadores.Belm: IMAZON, 2010. 18 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 19. A Figura 1.1 apresenta o PIB por municpio amaznico em 2007 e revela que Prosperidade maleste se encontra mal distribudo em termos regionais, concentrando-se nas ci- distribuda e concentra-dades mais industrializadas. Nos municpios do Arco do Desmatamento, com se em municpiosexceo de Porto Velho, o PIB no necessariamente mais alto. O apoio a ati- industrializados.vidades produtivas sustentveis constitui opo interessante nesses municpiosjustamente por representar uma oportunidade de gerao de trabalho e renda.Figura 1.1. PIB por municpio na Amaznia Legal em 2007Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais, 2007.conseguido custa de atividades geradoras de impactos ambientais e nemsempre reverteu em benefcios para a populao amaznica. O PIB per capitaregional era de R$ 11,2 mil em 2008, quase 30% inferior ao PIB per capitaper capita de R$ 6,1 mil, e Par, com R$ 7,9 mil, que esto entre os quatro commelhor desempenho econmico, so considerados os estados com populaomais pobre, enquanto Mato Grosso, com R$ 17,9 mil, tem a populao maisprspera da Amaznia Legal4.Os servios participam com quase metade (49%) do PIB da regio, segui-dos pela indstria, com 21%, administrao pblica com 17% e agropecuriacom apenas 13%. Vale notar que um quarto da produo industrial relaciona--se com o setor de alimentos. A Figura 1.2 mostra os principais ramos da ativi-dade industrial na Amaznia Legal.A atividade industrial, a segunda em importncia, concentra-se em poucosmunicpios, como Manaus, que responde por 25% do PIB industrial da regio.Refazendo a distribuio do PIB por setor, sem os cinco maiores municpios4 CELENTANO, D.; SANTOS, D.; VERSSIMO, A. A Amaznia e os Objetivos do Milnio 2010. Srie O Estado da Amaznia: indicadores.Belm: IMAZON, 2010. 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 19
  • 20. Figura 1.2. Principais ramos da atividade industrial na Amaznia Legal 30% 24 18 12 6 0 Fonte: Pesquisa Industrial Anual (PIA) Empresa, 2008. IBGE, 2009. caracterizados como produtores industriais, a participao da indstria dimi- nui sete pontos percentuais, enquanto que a agropecuria sobe quatro pontos. Em 2008, o PIB regional do setor agropecurio totalizou R$ 33,4 bilhes, o quase 70% do PIB setorial regional. Na agropecuria e na silvicultura desta- cam-se a produo da soja, com participao de 4,5% no PIB regional, alm Setor madeireiro tem de lavouras temporrias, como mandioca e milho (4,2%), e da pecuria (2%). As lavouras permanentes (0,7%) e o setor madeireiro (0,5%) tm participao no PIB regional. relao com o PIB da regio. A soja tem se expandido especialmente em Mato Grosso. O faturamento dessa commodity passou de R$ 2,3 bilhes em 2000 para R$ 11,4 bilhes em 2008 (IBGE 2010). Nesse estado foram gerados aproximadamente 10 bilhes de reais Tal expanso deve-se ao desenvolvimento de variedades adaptadas s condies amaznicas, bem como demanda crescente dos mercados europeus e asiticos. Tabela 1.1. Faturamento anual (2008) das principais atividades agropecurias na Amaznia Faturamento Participao no Participao (R$ bilhes) PIB da AL Principais setores agropecurios 30,5 100% 12,0% Soja 11,4 37% 4,5% Lavoura temporria no soja 10,7 35% 4,2% Pecuria (2006) 5,1 17% 2,0% Lavoura permanente 1,8 6% 0,7% Madeira 1,5 5% 0,6% Fonte: IBGE, 2009.20 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 21. A pecuria tambm foi dinamizada graas ao melhoramento do rebanho e aaprimoramentos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria(EMBRAPA), que tornaram a atividade mais rentvel. O maior poder aquisitivoda populao asitica, bem como a erradicao da febre aftosa possibilitarammaior acesso dos pecuaristas amaznicos aos mercados internacionais. NoBrasil, 38% da produo bovina tm origem na Amaznia legal (IBGE 2009)e, em 2009, 24% das exportaes de carne bovina provinham desta regio(MDIC 2011). a extenso das pastagens, no entanto, que chama ateno, abrangendo qua-se metade da rea total dos estabelecimentos agropecurios da Amaznia Le-gal (534.292 km2). As lavouras ocupam somente 11% (119.351 km2), segundodados do IBGE de 2006. No mesmo ano, o valor agregado pela pecuria economia amaznica foi de R$ 5,1 bilhes, ao mesmo tempo em que a agri-cultura gerou mais que o dobro (R$ 11,9 bilhes). Como resultado, o valor Valor agregado daagregado da pecuria em relao rea desmatada foi de 9.387 R$/km2 en-quanto que o da lavoura chegou a 99.705 R$/km, sendo, portanto, dez vezes pecuria na Amazniamaior. Essas diferenas notveis se explicam em parte devido ao carter exten- dez vezes maior.sivo da criao de gado na Amaznia.Considerando o universo deste estudo, outra importante atividade econmicana Amaznia a pesca extrativa e comercial, bem como a aquicultura, queapresenta notvel crescimento. Essas atividades se concentram nos estados doAmazonas, Par, Maranho e Mato Grosso, com destaque, nos trs primeirospara a pesca extrativa e, em Mato Grosso, para a aquicultura. A produo depeixes de gua doce ultrapassa as 70 mil toneladas no Amazonas, 40 mil to-neladas no Par e cerca de 30 mil toneladas no Maranho. Em relao aqui-cultura, o Estado de Mato Grosso responde por mais de 30 mil toneladas/ano. As dinmicas econmicas regionais na Amaznia caracterizam-se por forte heterogeneidade. Dados de 2003 a 2006, revelam os seguintes padres: . Neste grupo, composto por Roraima, Amap e Acre, a participao do setor pblico no valor adicionado bruto supera o dobro da mdia nacional. Tradicionalmente, esses estados baseiam suas economias em produtos extrativistas (com destaque recente, no Acre, para a pecuria). Carecem, no entanto, de estruturas de intermediao comercial e agroindustrial - co resulta de um fraco desempenho das atividades produtivas em geral. . Caracterstica presente em Rondnia, Maranho e Tocantins. Rondnia destaca-se com alta participao do setor pblico, acompanhada de tam- bm alta presena do setor primrio e do processamento industrial de produtos animais e vege- tais, sobretudo dos oriundos da agricultura familiar. Tocantins baseia o setor primrio na produ- o de carne e, em menor proporo, na de gros. Maranho possui estrutura econmica mais complexa, na qual o setor primrio composto por agricultura familiar tradicional, pecuria . Nesta categoria situa-se Mato Grosso, onde o setor pblico apresen- ta participao abaixo da mdia nacional. Observa-se tambm a expanso do comrcio e de5 Extrado e adaptado de BRASIL. Ministrio da Integrao Nacional. Plano Regional de Desenvolvimento da Amaznia (verso preliminarpara discusso). Braslia: MI/SUDAM, 2010. p. 17-22. 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 21
  • 22. servios voltados s demandas do agronegcio e das classes mdia e alta que o promovem. No entanto, esse modelo vulnervel instabilidade dos preos das commodities agrcolas. Centrada na indstria. Caracterstica do Par e do Amazonas, que representam as principais economias da regio. No Par, a indstria de transformao e extrao mineral voltada expor- tao responsvel pela expanso no PIB. Observa-se tambm crescimento de setores industriais urbanos, orientados para os mercados locais. O Amazonas impulsionado pela Zona de Franca de Manaus, cujo modelo industrial baseia-se na montagem de insumos importados para o abas- tecimento do mercado nacional com eletroeletrnicos, veculos sobre duas rodas, etc. As economias dos estados da Amaznia consolidam, portanto, um modelo primrio exportador, modo, a participao dos estados no PIB nacional manteve-se estvel no perodo observado. Interconexes urbanas Embora grande parte da Amaznia apresente baixa interconexo entre centros urbanos e comerciais, os municpios prioritrios se destacam, estabelecendo mercadorias ocorre - com centros urbanos nos e com o sul do Pas. Manaus, Boa Vista e Belm, por exemplo, exportam do sul do Pas. centro e as regies mais prximas. municpios prioritrios, o maior e mais integrado regionalmente Marab, se- guido por Paragominas, Alta Floresta, Juna e Altamira. A interconexo ocorre de maneira mais intensa na regio norte e meio norte de Mato Grosso (Juna, Alta Floresta), como mostra a Figura 1.3. Fonte: MMA, IBGE, 2011.22 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 23. Os 50 municpios prioritrios congregam aproximadamente metade do des-matamento atual de toda Amaznia Legal6. Assim, importante analisar a suaeconomia para entender os fatores econmicos associados ao desmatamento.O PIB desses municpios totalizou, em 2008, R$ 39,7 bilhes. Isso correspon-de a 15,6% do PIB de toda a Amaznia Legal. No mesmo perodo, a rendaper capita era de R$ 13 mil, superior mdia regional. O setor de servioscontinua a ser a atividade econmica mais importante (49%), seguido poragropecuria (19%), indstria (18%) e administrao pblica (14%).Em termos de participao no PIB, destacam-se Nova Ubirat (6,6%) e PortoVelho (5,4%) no setor agropecurio, e Marab (39%) e Porto Velho (15%) no Soja, pecuria esetor industrial. Em relao aos principais setores agropecurios, a Figura 1.4mostra que, embora a soja seja atividade produtiva predominante, esses tm maior presenamunicpios contam com maior participao relativa da pecuria e do seto- econmica nosmadeireiro. municpios prioritrios. Mu icpi Municpio Prioritri Municpios Prioritrios Municpios Prioritrios u c io rio itri io r Amazn Legal Amaznia Legal Amaznia Legal Amaznia eg m maznA Tabela 1.2 mostra o faturamento das atividades agropecurias nos munic-pios prioritrios e a participao destas no faturamento setorial da Amaznia,assim como a relao com o PIB agregado dos municpios priorizados. Valenotar que a atividade madeireira nos municpios prioritrios concentra quasemetade do faturamento para o setor de toda a Amaznia Legal. Embora te-nha grande importncia para a regio, essa atividade produz apenas um terodo faturamento gerado pela soja. Os cultivos temporrios, especialmente delavoura mecanizada, que se concentra em alguns municpios. Outras ativida-des agropecurias e extrativistas que se destacam nos municpios prioritriose que tm relevncia para o estudo das atividades produtivas sustentveis se-guem na Tabela 1.3.A Tabela 1.3 evidencia que o faturamento mais alto relaciona-se s lavouras possuem pequenatemporrias, especialmente de milho, mandioca e arroz. Os produtos extrati-vistas tm uma participao pequena nos municpios prioritrios. nos municpios prioritrios.6 De acordo com dados do PPCDAM de 2009. 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 23
  • 24. Tabela 1.2. Principais atividades agropecurias nos municpios prioritrios Faturamento Participao Participao (mil Reais) no setor no faturamento setorial da AL Principais setores agropecurios R$ 4.866.977 100% 16% Soja R$ 1.751.709 36% 15% Lavoura temporria no soja R$ 1.147.831 24% 11% Pecuria (2006) R$ 959.402 20% 19% Lavoura permanente R$ 336.067 7% 18% Madeira R$ 671.968 14% 46% municpios prioritrios Faturamento em Categoria Produto R$ 1.000,00 (2009) Milho (em gro) 364.291 Mandioca 348.150 Lavouras temporrias Arroz (em casca) 287.595 Cana-de-acar 50.400 Feijo (em gro) 41.124 Banana (cacho) 79.810 Dend (cacho de coco) 74.158 Cacau (em amndoa) 72.296 Lavouras permanentes Caf (em gro) 40.996 Pimenta-do-reino 37.947 Borracha (ltex coagulado) 10.508 Castanha-do-Brasil 10.697 Extrativismo Borracha 2.060 Aa (fruto) 1.032 O desmatamento na Amaznia e, em especial, nos municpios prioritrios, agentes e do tipo de atividade econmica que o ocasiona. Existem diferentes vetores, fortemente interligados, que contribuem para a sua ocorrncia, dentre os quais se destacam: Vetor: obras de infraestrutura Estas constituem um dos principais vetores Empreendimentos de desmatamento quando no h planejamento adequado. A abertura e a pa- atraem novos vimentao de estradas integram um ciclo de atividades que favorece o uso migrantes, que se insustentvel da terra. Entre 1978 e 1994, cerca de 75% do desmatamento ocorreram em uma faixa de 50 km de cada lado de rodovias pavimentadas. A em torno de rodovias existncia de estradas relaciona-se com a especulao fundiria e a grilagem pavimentadas. de terras, que constituem importantes vetores do desmatamento. A construo24 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 25. - -torno. A Figura 1.5 revela, por meio de imagens de sensoriamento remoto,a intensidade da atividade antrpica nas proximidades das minas de Carajsentre 1980 e 2006. A Figura 1.6 mostra as obras do Programa de Aceleraodo Crescimento (PAC) previstas e em execuo na Amaznia. Na lgica da grilagem, A especulao estimula terras desmatadasa ocupao ilegal de reas pblicas em um mercado no qual terras desma- valem mais do quevinculado falta de estrutura institucional para a regularizao fundiria e falta de transparncia nas aes de agentes da administrao pblica.Fonte: ANEEL, IBGE, INPE, MME, Ministrio dos Transportes. 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 25
  • 26. - mais e da ocupao das terras em torno das estradas principais para o comr- cio de madeira, geralmente ilegal. H casos em que essas empresas chegam a promover a abertura de ramais, facilitando a extrao de toras e a ocupao desordenada de invasores. Esse fato explica a participao relativamente alta da madeira no PIB da regio com o maior desmatamento atual (a uma taxa de 14% nos municpios prioritrios versus 5% na Amaznia Legal). O recente estudo TerraClass constatou que 62% das reas Estudo TerraClass o desmatamento na Amaznia foi responsvel por aproximadamente 43% de reas desmatadas at todas as emisses brasileiras de gases do efeito estufa (GEE), causado princi- - em pastagens. znia saltou de 47,1 milhes de cabeas em 2000 para 74,1 milhes em 2009. Isso representou 76% do crescimento do rebanho nacional. A Figura 1.7 demonstra que a expanso da pecuria brasileira se relaciona ao avano sobre a Amaznia. Sendo originariamente realizada em grandes e mdias propriedades, essa atividade conta cada vez mais com a adeso dos - do internacional e pelo crescimento da demanda interna no Pas. Figura 1.7. Desenvolvimento do rebanho bovino entre 1980 e 2009 Efetivo dos rebanhos (cabeas) Estudos recentes mostram que a melhoria nas tcnicas de produo e o bem- sucedido combate aftosa, juntamente com a abertura de mercados de ex- portao, tm gerado aumento expressivo do rebanho bovino na Amaznia. Os estudos tambm apontam que o crescimento da pecuria na regio foi decisivo para que o Brasil se tornasse, a partir de 2004, o segundo maior pro- dutor e o maior exportador mundial de carne bovina. Sob tais circunstncias tornam a pecuria favorveis, os bancos ampliaram o crdito para a atividade, algo que tambm atraente tambm para exerceu atrao para os pequenos produtores rurais e extrativistas. De 1985 a 2009, o rebanho bovino na Amaznia Legal teve um aumento de 300%, chegando a 74 milhes de cabeas (veja Figura 1.8a). Os estados26 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 27. mais importantes para a pecuria so Mato Grosso, Par e Rondnia, que con-centram 75% dos rebanhos da Amaznia Legal. No entanto, a maior taxa decrescimento dos ltimos anos tem ocorrido no Acre (Figura 1.8b). Embora hajacrescente tendncia de recuperao de reas degradadas, o avano da pecu-ria extensiva continua a ocorrer em reas recm desmatadas.Figura 1.8. a) Aumento da pecuria na Amaznia Legal e b) no Acre 70 Amaznia Legal 70 2,0 Acre 2,0 1,8 1,8 60 60 1,6 1,6 50 50 1,4 1,4 Milhes de Cabeas Milhes de Cabeas Milhes de Cabeas Milhes de Cabeas 40 40 1,2 1,2 1,0 1,0 30 30 0,8 0,8 20 20 0,6 0,6 0,4 0,4 10 10 0,2 0,2 0 0 0,0 0,0 1975 1985 1996 2006 1975 1985 1996 2006 Rebanho rea de pastagem Rebanho rea de pastagemFonte: Valentim e Andrade, 2009. rea plantada de gros (em ha) nos 50 municpios prioritrios Essa atividade se relaciona especialmente aoplantio de gros. De forma similar pecuria, realizada por grandes agentes, realizado porde forma direta ou por meio do arrendamento de pequenas propriedades. A grandes agentes, massoja, principal cultura, vem se expandindo nos estados de Mato Grosso, Par cresce tambm entre(Santarm e Paragominas) e Amazonas (Humait). A Figura 1.9 mostra a ex- pequenos e mdiospanso das lavouras temporrias nos municpios prioritrios. produtores.Embora seja relevante para o desmatamento, a lavoura no tem o mesmo im-pacto que a pecuria, devido ao uso mais intensivo da terra e produolocalizada. Devem-se considerar, porm, efeitos indiretos, especialmente nocaso da soja. A construo e a pavimentao de estradas para o escoamentoda produo criam novos eixos de desmatamento. Alm disso, a expanso da 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 27
  • 28. A Tabela 1.4 contm os dez municpios com a maior destinao de terras para atividades agropecurias. Todos esto situados nos estados de Mato Grosso e Par. Destacam-se as percentagens das pastagens e o seu uso extensivo, a Tabela 1.4. Municpios com maior destinao de terras para atividades agropecurias Produtividade Desmata- Agropecuria Lavoura Pastagens Bovina mento entre Municpio Estado (em % da rea (em % da rea (em % da rea (cabea por ha municipal) municipal) municipal) de pastagem) em % Confresa MT 2,41 Vila Rica MT 54,87 Paranata MT Alto Boa Vista MT 1,27 14,25 Rondon do PA Par Alta Floresta MT Marab PA 1,51 28,72 15,55 Cludia MT So Flix do MT 1,42 Araguaia Brasil Novo PA 1,71 Fonte: IBGE (Censo Agropecurio 2006, IBGE-SIDRAM (2006) e INPE-PRODES (2006). Vetor: agropecuria familiar A atividade agropecuria realizada em mbito A agropecuria familiar - exercida em reas sada separadamente. Caracteriza-se por atividades produtivas desenvolvidas 7 com tamanho inferior a e com mo de obra prioritariamente familiar. Alm disso, as reas de posse so ocupadas princi- e com mo de obra palmente por famlias agricultoras. familiar. Em mbito nacional, a agricultura familiar responde por sete de cada dez em- pregos no campo8 tabelecimentos de agricultura familiar na Amaznia Legal, que ocupam uma Em mbito regional, a produo familiar detm um papel importante na sub- sistncia e na produo alimentar local, em especial na produo de farinha de mandioca. Com exceo de caf e cacau, a participao da agricultura familiar na produo de commodities continua a ser relativamente pequena. Essa modalidade de agricultura tende a recorrer a prticas de corte e queima, envolvendo desmatamento, ainda que em pequena escala (entre um e quatro hectares/famlia/ano, dos quais trs hectares so legalmente permitidos). No - - tura itinerante tem levado regenerao natural da rea agrcola abandonada.78 28 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 29. No caso da pecuria familiar, a tendncia tem sido aumentar as reas desma-o que equivale a 22% de todas as pastagens estabelecidas na Amaznia Legal. Dinmica do desmatamento Vale frisar que o desmatamento no esttico e depende da interao de mltiplos fatores. A de Kernel. De acordo com essa metodologia, os focos de desmatamento so abordados confor- me a intensidade com que ocorrem. Os mapas indicam mudanas ano aps ano, nem sempre controle, os preos de commodities e a ausncia de polticas pblicas estaduais. A variao anual onde ocorrer o desmatamento futuro. A implementao de polticas pblicas e o apoio para mu- nicpios com alto desmatamento no diminui necessariamente as taxas totais. necessria uma viso integrada para entender a dinmica do desmatamento e criar mecanismos para diminu-lo.Figura 1.10. Dinmica de desmatamento na Amaznia Legal entre 2006 e 2009 Mapa de Kernel - PRODES 2006 Mapa de Kernel - PRODES 2007 Mapa de Kernel - PRODES 2008 Mapa de Kernel - PRODES 2009Fonte: MMA/INPE-PRODES, 2009. 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento
  • 30. O potencial econmico dos recursos naturais e da biodiversidade amazni- nesses recursos. econmico, o setor madeireiro representa elemento importante para a eco- nomia amaznica, embora possua menor peso quando comparado ao fatura- mento do agronegcio. Isso vale especialmente para os estados do Par, Mato Grosso e Rondnia, em que se concentram as atividades do setor madeireiro. A Tabela 1.5 mostra dados sobre este setor. 1998 2004 2009 Nmero de polos madeireiros 75, distribudos por 75 82 (> 100 mil m toras/ano) 192 municpios Nmero de empresas madeireiras 2.570 3.132 2.226 em funcionamento Volume de produo de tora nativa 28,3 milhes m 24,5 milhes m 14,2milhes m Volume de produo de madeira 10,8 milhes de m 10,4 milhes de m 5,8 milhes de m processada Receita bruta gerada R$ 2,9 bilhes R$ 6,7 bilhes RS 4,9 bilhes 203 mil, dos quais Empregos gerados 353 mil 344 mil 66 mil diretos e 137 mil indiretos Fonte: SFB & IMAZON, 2010. p. 7-15. Os dados demonstram diminuio da produo madeireira entre 2004 e 2009. Tal fenmeno deve-se a fatores, como9: Exigncia da comprovao da titularidade fundiria, que teve incio a partir de 2004 por forte presso do Ministrio Pblico Federal. - te depois de 2005. Os municpios outros materiais de construo. prioritrios concentram Em mbito regional, os municpios prioritrios abarcam vrios polos madeirei- os maiores polos ros. A Figura 1.11 mostra que Par, Mato Grosso e Rondnia so campees da madeireiros da produo madeireira. Novas fronteiras tambm esto se abrindo ao longo da Amaznia. BR-163 e no Sul do Amazonas. Agregao de valor e o setor moveleiro Em mdia, somente 41% da madeira na Amaznia so processadas. A maio- ria (72%) dessa produo envolve madeira serrada com baixo valor agregado9 IMAZON & SFB, 2010, p.19. 30 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 31. Figura 1.11. Polos madeireiros na Amaznia LegalFonte: Dados IMAZON, 2009.(ripas, caibros, tbuas e similares). Outros 15% so transformados em madeira A atividade madeireira caracteriza-se poraparelhada, etc.); e o restante (13%), em madeira laminada e compensada.Cerca de oito milhes de metros cbicos de madeira em tora enquadram-se e alto ndice dena categoria de resduo de processamento. Desse total, 1,6 milho de metros desperdcio.cbicos so aproveitados na produo de carvo; outros 2,7 milhes, nagerao de energia; e 2 milhes em usos diversos. Os 2,1 milhes restantesno tm qualquer aproveitamento, tornando-se entulho. evidente que a venda de madeira em toras no acrescenta muito valor aoproduto e no gera grande nmero de empregos. Dessa forma, investir no pro-cessamento e na industrializao de produtos madeireiros essencial para oprodutos madeireiros da regio.A indstria de mveis o ramo com maior valor agregado na Amaznia, masvem perdendo competitividade nos mercados nacional e internacional. As re-gies Sul e Sudeste abrigam 83% dessa indstria, cabendo ao Norte apenas2,4% do total de estabelecimentos e menos de 2% dos postos de trabalho10.As exportaes do setor moveleiro da Regio Norte tambm so reduzidas.Em 2005, o Par tinha uma arrecadao de US$ 3,3 milhes, ou seja, somente0,3% do total nacional.Mesmo com participao restrita no cenrio nacional, esse setor tem potencialpara crescer nos prximos anos11. A instalao e o desenvolvimento de umaindstria moveleira dinmica, sustentvel e competitiva so essenciais para o10 VEDOVETO et al, 2010.11 Idem. 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 31
  • 32. Figura 1.12. Usos da madeira nativa na Amaznia em 2009 11,2% 13% 18,9% 41,1% 15% 72% Madeira serrada com pouco valor 14,1% agregado 5,3% Madeira 9,4% beneficiada com maior valor Produto processado Queima agregado Entulho Diversos Madeira Energia Carvo laminada e compensada Fonte: SFB e IMAZON, 2010. Indstria moveleira tem potencial de - crescimento, mas de, legalidade e sustentabilidade ambiental e socioeconmica requeridas para precisa se adequar qualidade, legalidade e sustentabilidade. O extrativismo no madeireiro na Amaznia extrativistas, englobam grande diversidade de opes. Abrangem alimentos, como frutos e castanhas, produtos de aplicao industrial, farmacutica e cos- mtica, leos, resinas, corantes e diferentes tipos de borrachas, at produtos Alm da grande importncia dos produtos extrativistas na subsistncia de po- - nmica e de ocupao da Amaznia nos ltimos 200 anos. Destacam-se, pela 12 boom . - tiva, porm marcada por ciclos de boom e de colapso econmico. Frequente- mente o colapso tem se dado devido sobre-explorao de recursos em altas de mercado, pela substituio do recurso mediante a domesticao ou pela produo sinttica do produto requerido13. Assim, os benefcios econmicos Historicamente, os - tros atores econmicos. gerados pelo Devido ao grande nmero de produtos e ao alto grau de informalidade nas ca- deias de valor extrativistas, dados estatsticos tendem a gerar vises incompletas e potencialmente distorcidas. Assim, grande parte da economia extrativista torna-se invisvel e o papel econmico de seus produtos mantm-se subestimado.12 WEINSTEIN, B. . Palo Alto, Califrnia (EUA): Stanford University, 1983.13 HOMMA, 1998. 32 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 33. no Brasil, com base em levantamentos realizados pelo IBGE sobre 28 pro-dutos. possvel salientar que a participao do extrativismo no madeireiroindica a Figura 1.13. Os produtos amaznicos com maior destaque nacional -tivamente sua produo desde 2005 (IBGE 2010). Palmito Castanha- Hevea (toneladas) Extrao vegetal do-Par (ltex coagulado) 1% (toneladas) 10% Silvicultura 1% Babau (amndoa) 25% 72% 28% Demais produtos no madeireiros 1% Aa (fruto) 62%Fonte: IBGE, 2010.na subsistncia e na renda da populao mais pobre da regio. No entanto,no so relevantes para a constituio do PIB da regio e geralmente noconseguem competir economicamente com aquelas atividades que favorecemo desmatamento e tampouco internalizam custos ambientais e sociais. Esteconstitui um dilema para a transformao de sistemas produtivos rumo sus-insustentveis.A regio onde se situam os municpios prioritrios para o controle do des-matamento vasta e bastante heterognea, com uma extenso leste-oeste de As causas doaproximadamente 4.500 km e norte-sul entre 400 km e 500 km. Nesse espao desmatamento nos municpios prioritriosdemais municpios localizam-se no Arco do Desmatamento. variam de acordo com atividadesDo ponto de vista poltico e administrativo, os municpios prioritrios distri- econmicas ebuem-se pelos estados do Amazonas, Rondnia, Mato Grosso, Par, Mara- histrico denho, Roraima e Tocantins, ou seja, por sete dos nove estados que compem aAmaznia Legal. O maior nmero deles est em Mato Grosso (24) e Par (17),que historicamente lideram as taxas de desmatamento. Rondnia e Maranho 1. Contexto Econmico e Dinmica do Desmatamento 33
  • 34. contribuem com trs municpios, Amazonas e Maranho com dois, e Roraima com um. Sub-regies Conforme as atividades econmicas e o histrico da ocupao, cada munic- pio apresenta diferentes fatores e condicionantes de desmatamento. Com base nessas diferenas, o presente estudo prope, como primeira aproximao, a regionalizao dos municpios prioritrios representada na Figura 1.14. As diferenciaes e regionalizaes descritas devem ser levadas em conside- rao para o desenho de estratgias de apoio a atividades produtivas sustent- veis. Naqueles municpios amplamente desmatados, por exemplo, propostas e receptividade. Nesses casos, h necessidade de iniciativas que constituam Essa diferenciao, no entanto, no se d necessariamente por meio de arran- jos produtivos macrorregionais. Muitas vezes, mesmo os municpios com altas contnua, seja sob a forma de fragmentos. Alm disso, os municpios apresen- - tido, algumas particularidades das sub-regies esto resumidas na Tabela 1.6. Fonte: IBGE, 2011.34 Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentveis na Amaznia
  • 35. Padres de Intensidade deSub-regio Municpio(s) Populao Economia desmatamento desmatamentoSul do Ama- Lbrea, Boca Nova fronteira, Desmatamento Tradicional- Distante dezonas do Acre com presso re- que ocorre nas mente extrati- mercados; custos sultante da fr- proximidades de transporte gil governana da BR-317 e da madeireiros e devem cair com a entre os estados BR-319, com pecuaristas ao pavimentao das de Rondnia e sul. BR-319 e 317. Ex- Amazonas. no ritmo de sua ploso da pecuria ocorrncia. a partir de 2000. Risco: estradas de madeireiros.Rondnia Porto Velho, Colonizao, Desmatamento Intensa urbani- Cadeias produtivas Machadinho com ocorrncia acumulado de bem estruturadas DOeste, Nova de assen- 12,1% entre migratrios de carne, leite e Mamor, tamentos e 2001 e 2009. localizados e madeira. Pimenta Bueno. predominncia Invases de decorrentes das da agricultura UC. obras do PAC. familiar.Norte de Aripuan, Padres mistos Desmatamen- Migraes d