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Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

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Daniel Martins

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Page 1: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

ORIENTAÇÃO DO VOTO DE JOVENS MORADORES DE VILAS E FAVELAS

DA CIDADE DE BELO HORIZONTE

Daniel Martins

Belo Horizonte, fevereiro de 2007.

Comportamento político-eleitoral é um tema já há muito considerado clássico na

ciência política. No Brasil, de forma especial, este tem suscitado muitas investigações

devido à trajetória peculiar da política brasileira desde o fim do Império, no final do

Século XIX: após uma primeira fase marcada por oligarquias estaduais remanescentes

do período imperial, vem ocorrendo uma alternância entre ditaduras e períodos

democráticos. Nas últimas três ou quatro décadas, vem sendo um tema muito estudado

pelos cientistas políticos com o intuito de conhecer as modificações ocorridas no

comportamento político-eleitoral como conseqüência da ditadura militar existente entre

1964-1984.

Muitas destas pesquisas buscam, através do estudo dos motivos que levam à

participação política, compreender melhor a dinâmica deste processo na sociedade

brasileira. E os motivos que levam à participação política são das mais diversas origens:

desde convicções ideológicas a influências familiares, passando por conhecimento das

diferentes plataformas políticas, dentre diversas outras possibilidades. Estas orientações

políticas, segundo alguns autores, variam de acordo com a posição do indivíduo na

estrutura social. Para outros, depende também de aspectos subjetivos que colocam-se

entre a posição social da pessoa e seu comportamento político. Há, ainda, pesquisadores

orientados especialmente pela teoria da escolha racional que admitem como

determinantes principais da orientação do voto e da participação o cálculo racional da

utilização de recursos e da satisfação que possivelmente será obtida, caso o eleitor

escolha ou não participar dos processos políticos. Por fim, podemos citar uma corrente

que se posiciona a favor da influência político-institucional sobre o voto: a forma como

as instituições políticas existem e atuam é fator que serve ou não de estímulo à

participação eleitoral.

Diante deste breve quadro, esta pesquisa pretende verificar quais fatores

influenciam de forma mais decisiva os votos de jovens moradores de vilas e favelas da

cidade de Belo Horizonte. Foram selecionados para a pesquisa o aglomerado do Morro

das Pedras, Pedreira Prado Lopes, Morro do Papagaio, Cabana do Pai Tomás, Alto Vera

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1

Cruz e Taquaril. A escolha destes locais como objeto de estudo dá-se por dois motivos

principais: a) a presença de dados sobre os mesmos disponiblizados pelo CRISP (Centro

de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública). Ligado à Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG), o CRISP é composto por pesquisadores dessa Universidade e de

órgãos públicos envolvidos com o combate à criminalidade. b) a falta de pesquisas

tendo como público alvo estes indivíduos.

Muitos estudos sobre comportamento político vêm sendo realizados no Brasil

nas últimas décadas, seguindo diferentes correntes teóricas. Pode-se numerar em quatro,

de acordo com Castro (1997), as principais orientações deste tipo de estudo: 1) estudos

puramente descritivos; 2) estudos sociológicos, que buscam nos fatores estruturais da

sociedade a explicação para o comportamento eleitoral; 3) estudos psicossociológicos,

que pretendem tratar o tema a partir de categorias subjetivas intervenientes entre a

estrutura social o comportamento político; e 4) estudos que consideram fatores político-

institucionais como mais influentes na direção do voto. Camargos (2001) analisa as

avaliações relativas à economia, a identificação partidária do eleitor e a influência

destes juízos sobre o comportamento político. Kinzo (1992) realizou uma pesquisa

sobre fatores que pesavam na escolha do candidato à presidência em 1989 e afirmou que

a falta de nitidez das instituições democráticas no Brasil faz com que estratégias

eleitorais de conteúdo programático-ideológico nem sempre repercutam entre os

eleitores aos quais se dirigem.

Do ponto de vista teórico e mais geral, Downs (1999) afirma que o eleitor age de

forma racional ao definir seu voto: dispondo de informações suficientes para avaliar as

diferentes candidaturas, calcula os recursos utilizados para participar do pleito e analisa

as diferentes propostas, de forma a concluir se deve votar ou não e, caso decida por

votas, entre qual das plataformas políticas optará. A orientação do voto, entretanto, pode

ser ideológica; onde cabe, aliás, considerar as diferentes atribuições que se dá a este

termo. O significado de ideologia pode ser distinto em dois: a) o eleitor pode votar em

plataformas políticas que partilham, ou que ele julga partilhar, da mesma “visão de

mundo” que ele (Sartori apud Castro, 1997); ou b) em partidos e/ou candidatos que

possuem um conjunto idéias que considera coerentes e que servem de guias para a ação

política (Reis apud Castro, 1997). Entretanto, Castro (1992) chega à conclusão de que

mesmo o voto ideológico pode ser um voto racional, caso a ideologia atue como fator

redutor dos custos da escolha entre as possíveis plataformas políticas disponíveis: para

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evitar o gasto de recursos buscando informações, analisando propostas, calculando a

viabilidade dos projetos políticos apresentados, o eleitor destina seu voto ao candidato.

Isto exposto, elaboramos duas hipóteses para responder a questão: “o que

determina a orientação dos votos dos jovens moradores de vilas e favelas de Belo

Horizonte?”

Hipótese Um: Os jovens moradores de vilas e favelas votam com orientação

ideológica: o mesmo direciona seu voto para partidos/candidatos com os quais se

identifica, em termos de conjunto de idéias que servem como orientação para a ação

política.

Hipótese Dois: Ocorrendo a possibilidade da não-existência de uma plataforma

política com a qual se identifique, direciona seu voto a um partido/candidato que possua

condições de derrotar eleitoralmente o grupo político ao qual ele se opõe.

Diante deste quadro a pesquisa objetivou verificar quais os fatores que

determinam o voto dos jovens moradores de vilas e favelas, observando a composição

do universo dos votos, classificando-os entre diferentes categorias relativas à orientação

dos votos existentes na literatura especializada além de verificar se há voto ideológico e

orientação racional do voto.

Realizou-se uma pesquisa descritiva sobre os fatores que orientam

eleitoralmente o voto dos jovens moradores de vila e favelas de Belo Horizonte.

Pretendeu-se, assim, traçar um quadro com as principais características e determinantes

na orientação do voto da população pesquisada. O conhecimento das motivações

eleitorais desses jovens pode auxiliar no entendimento de suas posições e manifestações

políticas.

Os dados necessários à pesquisa foram colhidos através de entrevista estruturada

com uma amostra destes jovens. Pretendemos trabalhar com uma taxa de confiabilidade

de 95,5% e com um erro de estimação permitido de 5%. Admitindo-se estas taxas de

confiabilidade e de erro de estimação permitido e o tamanho do universo, aplicou-se um

total de 480 questionários, divididos igualmente entre as seis comunidades pesquisadas.

Foram pesquisados apenas jovens que à época do último pleito (eleições realizadas em

2006) já tinham atingido a idade mínima para votar até o limite máximo de 25 anos.

Depois de colhidos, os dados foram analisados e agrupados dentro das categorias

de classificação do determinante de voto e cruzados, de forma a ter-se conhecimento

dos fatores que determinam o voto dos jovens pesquisados, quais os mais importantes e

Page 4: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

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o motivo que os levam a comparecer às eleições. O cruzamento dos dados procurará

apontar o nível de correlação entre as variáveis consideradas.

Em relação à primeira pergunta, referente à participação ou não em partidos

políticos e sua intensidade, obteve-se a seguinte distribuição da resposta:

Partidos políticos: participação e intensidade

Resposta Freqüência Porcentagem

Não 440 91,6

Sim, alta 13 2,7

Sim, média 16 3,3

Sim, baixa 11 2,4

Total 480 100,0

440

13 16 110

50100150200250300350400450500

Não Sim, alta Sim, média Sim, baixa

Já no que se refere à participação ou não em movimentos sociais e sua

intensidade, o resultado foi o seguinte:

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4

Partidos políticos: participação e intensidade

Resposta Freqüência Porcentagem

Não 365 76,0

Sim, alta 36 7,5

Sim, média 40 8,4

Sim, baixa 39 8,1

Total 480 100,0

265

36 40 39

0

50

100

150

200

250

300

Não Sim, alta Sim, média Sim, baixa

A observação destas tabelas e destes gráficos demonstra que tanto a participação

em partidos políticos como a participação em movimentos sociais mostra-se

consideravelmente baixa. Apenas 8,4% dos entrevistados participam, de alguma forma,

de partidos políticos e 14% participam de movimentos sociais. Os índices são ainda

menores se passamos a considerar os que estão mais engajados (os que responderam

que sua participação é alta no que respeita a intensidade), sendo que 36 entrevistados

(7,5%) consideram que participam ativamente de movimentos sociais e apenas 13

(2,7%) responderam que participam intensamente de partidos políticos.

Em seguida, foi perguntado – com intuito de verificar se há fidelidade partidária

no que se refere ao voto – se é a primeira vez que o indivíduo votará e, se já votou

outras vezes, pretende votar no mesmo partido. As respostas distribuíram-se da seguinte

forma:

Page 6: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

5

Vez que vota e fidelidade do voto

Resposta Freqüência Porcentagem

Sim 75 15,6

Não, e pretende votar no mesmo

partido. 244 50,8

Não, e não pretende votar no

mesmo partido. 149 31,2

Não, e não sabe. 12 2,4

Total 480 100,0

75

244

149

120

50

100

150

200

250

300

Sim Não, e pretendevotar

Não, e nãopretende votar

Não, e não sabe

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6

16%

50%

31%

3%

SimNão, e pretende votarNão, e não pretende votarNão, e não sabe

A pergunta está direcionada a partidos e não a candidatos (embora seja de

conhecimento que, no Brasil, boa parte dos votos é determinada por características do

candidato – fato que, de certa forma, verificou-se nesta pesquisa, como veremos a

seguir).

Tendo-se esclarecido isto, verifica-se que há um índice considerável de

fidelidade partidária, uma vez que mais da metade dos entrevistados (244, o que

corresponde a 50,8% das respostas) responderam que já votaram e pretendem votar no

mesmo partido. Outro grande percentual de entrevistados (31,2%), entretanto, já

votaram outras vezes, mas não pretendem votar no mesmo partido em que votaram na

última eleição. 15,6% disseram que votarão pelo primeira vez e 2,4% dos entrevistados,

até o momento da pesquisa, não sabiam ainda se votarão no mesmo partido da última

eleição ou não.

Uma pergunta fundamental para os objetivos da pesquisa foi sobre os motivos

que influenciam na definição do voto do entrevistado. Onze respostas diferentes foram

disponibilizadas aos entrevistados: dez estavam colocadas de forma direta, e havia uma

décima primeira opção (“Outros”), que possibilitava ao entrevistado apontar uma outra

razão que porventura pudesse lhe ocorrer. Esta última opção, entretanto, foi apontada

por menos de 5% dos entrevistados e, na maioria das vezes, não foi apontada nenhuma

outra razão, tendo apenas marcado “Outros”. Por esta razão, não apareceu nenhuma

outra razão, além das dez preexistentes no formulário, que tenha ocorrido com

freqüência relevante. Aliás, interessante notar que nenhuma razão das poucas descritas

em “Outros” apareceu mais de uma vez.

Page 8: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

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A distribuição das respostas nesta questão (que admitia múltiplas respostas e,

portanto, o somatório das respostas poderia extrapolar – como de fato ocorreu – o

número de entrevistados) ocorreu conforme a tabela abaixo. Criamos um gráfico em

barras com o resultado para melhor visualizar as diferenças com que cada resposta

ocorreu.

Motivos que influenciam na decisão do voto

Resposta Freqüência

Identificação partidária 280

Programa de governo 342

Aspectos pessoais do candidato 172

Ideologia 222

Tradição familiar 23

Orientação religiosa 4

Informação 257

Regionalismo 9

Chances de vitória 19

Altruísmo / bem comum 103

Outros 24

280

342

172222

23 4

257

9 19

103

24

050

100150200250300350400

Iden

tific

ação

parti

dária

Asp

ecto

spe

ssoa

is d

oca

ndid

ato

Trad

ição

fam

iliar

Info

rmaç

ão

Cha

nces

de

vitó

ria Out

ros

Page 9: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

8

A pergunta seguinte buscou conhecer as motivações que levam as pessoas a

votarem, a comparecerem às eleições. Essa pergunta, de caráter mais pessoal, foi aberta,

permitindo que o entrevistado expressasse suas motivações como quisesse. Para efeito

de estudo, analisamos as respostas dadas e as reunimos em grupos, de acordo com o teor

das respostas. Ao fim, detectamos seis tipos de resposta que apareceram com freqüência

considerável. As respostas que não se enquadraram em nenhuma destas categorias

(8,4% do total) foram reagrupadas em uma categoria “Outros”. Os entrevistados que

nada responderam (2,7% do total) foram classificados na categoria “Não respondeu”.

As respostas e suas freqüências foram as seguintes:

Motivos que levam à participação nas eleições

Motivo Freqüência Porcentagem

Porque é obrigatório 82 17,1

Para exercer a cidadania / direitos políticos 98 20,4

Para mudar o país / construir um futuro melhor 122 25,5

Para escolher um representante 36 7,5

Para participar da vida política do país 59 12,3

Para contribuir para a consolidação da democracia 29 6,0

Outros 40 8,4

Não respondeu 14 2,7

Total 480 100,0

Após esta descrição prévia dos resultados, passamos agora a um cruzamento de

dados que visa verificar nossas hipóteses: o jovem morador de vila e favela de Belo

Horizonte vota ideologicamente; mas quando torna-lhe claro que sua primeira opção ao

voto não tem chances de se eleger e/ou quando quer evitar a vitória de certo adversário,

vota de forma racional.

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9

8298

122

36

59

2940

14

0

20

40

60

80

100

120

140

Por

que

éob

rigat

ório

Par

a m

udar

opa

ís /

cons

truir

umfu

turo

mel

hor

Par

apa

rtici

par d

avi

da p

olíti

cado

paí

s

Out

ros

Para a verificação do voto ideológico, executamos o cruzamento de três

variáveis: identificação partidária, programa de governo e ideologia. A escolha destas

três variáveis remete à definição de ideologia já citada, onde ideologia é um conjunto

idéias que considera coerentes e que servem de guias para a ação política. Esta escolha é

ainda mais justificada no que concerne às duas primeiras variáveis. A última variável

citada destina-se mais a uma auto-identificação por parte do entrevistado com alguma

ideologia.

As freqüências com que cada variável se apresenta já foram descrita

anteriormente. No quadro que se segue, procuraremos descrever como aparecem nas

respostas obtidas os pares de variáveis: quantas vezes são citados em um mesmo

questionário o par identificação partidária / programa de governo, o par identificação

partidária / ideologia e a combinação programa de governo / ideologia.

Page 11: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

10

Citações simultâneas de variáveis relacionadas ao voto ideológico

Variáveis Ident. partidária Prog. governo Ideologia

Ident. partidária 206 149

Prog. governo 206 158

Ideologia 149 158

Citações simultâneas de variáveis relacionadas ao voto ideológico (%)

Variáveis Ident. partidária Prog. governo Ideologia

Ident. partidária 43% 31%

Prog. governo 43% 33%

Ideologia 31% 33%

149

206

158

0

50

100

150

200

250

Ident. part. X Ideologia Ident. part. X Prog.gov.

Ideologia X Prog. gov.

Verifica-se que todos os três pares de variáveis foram mencionados de forma

considerável, sendo o par identificação partidária / programa de governo 43% das vezes,

o par identificação partidária / ideologia 31% e a combinação programa de governo /

ideologia 33%. Cremos que estas porcentagens revelam uma freqüência relativamente

significante.

Page 12: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

11

Cruzamos também as três variáveis de forma a verificar quantas vezes as três

foram citadas por um mesmo entrevistado, e o resultado obtido foi que 110

entrevistados, o equivalente a 23% da amostra consideram estes três motivos ao definir

seu voto.

Posteriormente, cruzamos estas três variáveis com os motivos que levam à

participação nas eleições, e o resultado foi o seguinte, excluindo-se a opção “Não

respondeu”:

Cruzamento entre fatores que influem no voto e motivação à participação nas

eleições

Ident.

partidária Prog.

governo Ideologia

Porque é obrigatório 32 48 25

Para exercer a cidadania ... 58 70 51

Para mudar o país ... 81 99 68

Para escolher um represent ... 23 25 10

Para participar da vida polít ... 39 47 28

Para contribuir para a cons ... 22 19 17

Outros 23 23 20

Este cruzamento procura encontrar as relações que mais apareceram aos

relacionarmos os motivos que influem no voto e o que motiva os entrevistados a

participarem das eleições. As cinco relações que mais apareceram foram:

“Programa de governo” e “Para mudar o país / construir um futuro melhor”: 99

“Identificação partidária” e “Para mudar o país / construir um futuro melhor”: 81

“Ideologia” e “Para mudar o país / construir um futuro melhor”: 68

“Programa de governo” e “Para exercer a cidadania / direitos políticos”: 70

“Identificação partidária” e “Para exercer a cidadania / direitos políticos”: 58.

No que diz respeito ao voto racional, procedemos da mesma forma que em relação

ao voto ideológico, apenas modificando o trio de variáveis que influem na decisão do

Page 13: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

12

voto, passando a considerar: programa de governo, informação e chances de vitória. A

escolha destas três variáveis está diretamente ligada à definição dada por Anthony

Downs ao que é voto racional.

A freqüência com que cada variável se apresenta já foi descrita anteriormente. No

quadro que se segue, procuraremos descrever como aparecem nas respostas obtidas os

pares de variáveis: quantas vezes são citados em um mesmo questionário o par

informação / programa de governo, o par informação / chances de vitória e a

combinação programa de governo / chance de vitória.

Citações simultâneas de variáveis relacionadas ao voto racional

Variáveis Informação Prog. governo Chances

Informação 192 10

Prog. governo 192 14

Chances 10 14

Citações simultâneas de variáveis relacionadas ao voto racional (%)

Variáveis Informação Prog. governo Chances

Ident. partidária 40% 2%

Prog. governo 40% 3%

Ideologia 2% 3%

Ao contrário do que ocorreu em relação ao voto ideológico, onde todos os pares

de variáveis foram citados de forma relativamente freqüente, sendo que nenhum

apareceu menos de 30% das vezes, no caso do voto ideológico somente o par

informação / programa de governo apareceu de forma significativa, correspondendo a

40% dos questionários.

Verifica-se que as três variáveis não aparecem em nenhum questionário.

Page 14: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

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Cruzamento entre fatores que influem no voto e motivação à participação nas

eleições

Informação Prog.

governo Chances

Porque é obrigatório 47 48 6

Para exercer a cidadania ... 51 70 3

Para mudar o país ... 70 99 4

Para escolher um represent ... 13 25 0

Para participar da vida polít ... 38 47 0

Para contribuir para a cons ... 10 19 0

Outros 20 23 0

Este cruzamento procura encontrar as relações que mais apareceram aos

relacionamos os motivos que influem no voto e o que motiva os entrevistados à

participarem das eleições. As cinco relações que mais apareceram foram:

“Programa de governo” e “Para mudar o país / construir um futuro melhor”: 99

“Informação” e “Para mudar o país / construir um futuro melhor”: 70

“Informação” e “Para exercer a cidadania / direitos políticos”: 51

“Programa de governo” e “Para exercer a cidadania / direitos políticos”: 70

“Programa de governo” e “Porque é obrigatório”: 48.

Como conclusão, pudemos verificar que a hipótese 1 se verifica: de acordo com a

definição de ideologia adotada e com a análise dos dados levantados, um grande número

dos jovens pesquisado votam com orientação ideológica. De acordo com o cruzamento

dos dados, mais de 30% dos entrevistados votam com orientação ideológica, em todos

os três cruzamentos de variáveis destinados a verificar esta hipótese. E não só o

cruzamento destas variáveis autoriza tal conclusão, como também a freqüência com que

cada uma destas variáveis apareceu independentemente.

Concluímos que o voto do jovem morador de vilas e favelas de Belo Horizonte

segue de forma relativamente forte a identificação com um conjunto idéias que

considera coerentes e que servem de guias para a ação política. Estes jovens tendem a

Page 15: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

14

votar em partidos que apresentam um conjunto de idéias deste tipo com que se

identificam.

Verificamos que outras variáveis e correlações das mesmas não são tão freqüentes a

ponto de descaracterizar o voto do referido jovem como ideológico.

No que diz respeito à hipótese 2, em que o jovem morador de vilas e favelas de Belo

Horizonte vota com certa orientação racional, entretanto, não verificou-se de forma tão

clara. Embora as variáveis “Programa de governo” e “Informação” figurem entre as

mais citadas, a variável “Chances de vitória” teve um percentual baixo de citação, e o

baixo índice desta variável tornou pouquíssimo freqüente combinações desta última

variável com as demais.

Entretanto, não se pode dizer que o voto destes jovens não tenha nenhuma base

racional, uma vez que a combinação das variáveis “Programa de governo” e

“Informação” tenha sido citada em 40% dos questionários, figurando com a segunda

combinação de variáveis mais citadas neste estudo, estando apenas atrás da combinação

“Programa de governo” e “Identificação partidária”, mencionado 43% das vezes.

Embora o desempenho da variável “Chances de vitória” tenha minado a

representatividade do voto racional, este tipo de voto não pode ser descartado, uma vez

que as outras duas variáveis relacionadas com o voto racional foram citadas de forma

freqüente.

Portanto, embora sua correlação seja menor que a do voto ideológico, o voto

racional também ocorre com freqüência entre os jovens pesquisados.

É interessante levantar a freqüência com que as variáveis e correlações ligadas ao

voto ideológico foram citadas, uma vez que verificou-se um baixíssimo nível de

participação política (seja em partidos, seja em movimentos sociais) dos jovens

entrevistados. Tal fato pode, de certa forma, apontar em duas direções: o jovem em

questão, embora não ligado à atividade política, acredita em certas idéias políticas e

acredita que através delas é possível mudar a realidade do país (isto se verifica com a

grande freqüência com que a opção “Para mudar o país / construir um futuro melhor”

foi citada entre as motivações para a participação nas eleições; ou então que o universo

pesquisa não vê necessidade da participação direta na política, considerando que a

escolha de um representante pode ser o suficiente (entretanto, esta possibilidade não se

verifica, uma vez que a opção “Escolher um representante” foi poucas vezes citada entre

as motivações para a participação nas eleições).

Page 16: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

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Pode-se encerrar esta conclusão alegando-se que ambas as hipóteses foram

verificadas, embora com intensidades diferentes. O voto ideológico realmente se

verifica entre os jovens moradores de vilas e favelas de Belo Horizonte de forma mais

ampla (uma vez que o leque de variáveis que confirmam esta hipótese engloba todas as

três variáveis analisadas). Já o voto racional verifica-se também e, curiosamente, de

forma forte, embora uma das três variáveis relacionadas a tal hipótese tenha sido pouco

citada. Esta hipótese pode ser verificada devido ao bom desempenho das outras

variáveis relacionadas a tal tipo de voto.

Referências bibliográficas:

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Page 18: Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas

17

Anexo: Modelo do Instrumento de Coleta de Dados

1. [ ] Morro das Pedras 4. [ ] Cabana Sexo: 1. [ ] Masc. 2. [ ] P. Prado Lopes 5. [ ] Alto Vera Cruz 2. [ ] Fem.

Local:

3. [ ] Papagaio 6. [ ] Taquaril Idade: __________ anos

Você participa de algum partido político? Se sim, qual a intensidade?

1. [ ] Não 3. [ ] Sim. Média. 2. [ ] Sim. Alta. 4. [ ] Sim. Baixa.

Você participa de algum movimento social? Se sim, qual a intensidade?

1. [ ] Não 3. [ ] Sim. Média. 2. [ ] Sim. Alta. 4. [ ] Sim. Baixa.

Foi a primeira vez que votou?

1. [ ] Sim 2. [ ] Não

Se não, pretende votar no mesmo partido da última eleição?

1. [ ] Sim 2. [ ] Não

Qual(is) o(s) fator(es) mais lhe influencia(m) a definição do seu voto?

1. [ ] Identificação partidária 7. [ ] Informação 2. [ ] Programa de governo 8. [ ] Regionalismo 3. [ ] Aspectos pessoais do candidato 9. [ ] Chances de vitória 4. [ ] Ideologia 10. [ ] Altruísmo/bem comum 5. [ ] Tradição familiar 77. [ ] Outros 6. [ ] Orientação religiosa ___________________

Por que você vota?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________