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Os Maias

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OS MAIAS

Professor António FernandesProfessor António Fernandes

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TÍTULO – Os Maias (plural – três gerações da família Maia)

1.ª geração: a de Afonso da Maia (com algumas referências à geração anterior, a de Caetano da Maia) – confronto entre Absolutismo e Liberalismo.

2.ª geração: a de Pedro da Maia, inserida no período político da Regeneração, onde o movimento ultrarromântico se encontra no auge.

3.ª geração: a de Carlos da Maia, inserido na época correspondente à da Geração de 70, que se inscreve ainda no período da Regeneração mas que visa contestá-lo.

SUBTÍTULO – Episódios da vida Romântica

Aponta para a crónica de costumes que nos dá uma visão crítica da época, revelando uma sociedade com os seus costume, vícios e virtudes, representada por personagens que tipificam um grupo, uma profissão, um vício, e o mundo social e político, através de cenas e quadros (atividades sociais, culturais, desportivas, lúdicas) que nos fornecem o espaço social. Destaca-se, ainda, embora não se constituindo como episódio, o epílogo, pela caraterização que aí se traça da sociedade portuguesa, decorridos 10 anos após a partida de Carlos.

Eça de Queirós coloca as duas ações que constituem a obra perfeitamente integradas num ambiente social, articulando, assim, três planos narrativos:

- intriga principal (Carlos da Maia e Maria Eduarda);- intriga secundária (Pedro da Maia e Maria Monforte);- crónica de costumes.Convém realçar que a intriga secundária aparece apenas como suporte da intriga

principal – surge pela necessidade de explicar alguns aspetos desta – e Eça de Queirós, através da analepse, dá-nos os antecedentes de Carlos da Maia, recorrendo ao resumo e à elipse para se poder alongar na narração da intriga principal.

A crítica social em Os Maias

É no espaço lisboeta que Carlos passa a movimentar-se a partir do Outono de 1875. E é o seu ambiente monótono, amolecido, de “clima rico”, que vai fazer submergir todos os seus projetos e qualidades (influências do Naturalismo). É neste envolvimento geral de amolecimento que cabe a crítica social. Essa crítica, em que a ironia desempenha um papel importantíssimo, é corporizada em tipos sociais, ou seja, representantes estereotipados de mentalidades, ideias, costumes, política, conceções do Mundo…

Fator importante na caraterização das várias personagens-tipo é o facto de elas nos serem apresentadas na ótica de Carlos, como é o caso de:

- o conde de Gouvarinho, o espelho da alma política; Palma Cavalão, o representante do jornalismo sem escrúpulos; Tomás de Alencar, o poeta ultrarromântico; Eusebiozinho, o símbolo da educação romântica; Dâmaso Salcede, uma espécie de súmula de todos os vícios; o provincianismo, a cobardia, a gulodice, a deslealdade, etc. Ao longo da ação, Carlos vai contactando com variados ambientes e episódios que ilustram o modo de vida da alta sociedade lisboeta.

O espaço em Os Maias

Espaço físico – Santa Olávia, Coimbra, Lisboa, estrangeiro.Espaço social – caraterizado nos episódios.Espaço psicológico – associado à subjetividade, pouco rigoroso e dependente

das emoções/visões das personagens.

O tempo em Os Maias

Tempo da história – (o tempo cronológico) – ação central 1875-1887. Este é vivido pelas personagens e desdobra-se em dias, meses e anos.

- A ação de Os Maias decorre entre 1820 e 1887; entre 1820 e 1822, temos o Absolutismo intolerante de Caetano da Maia, a juventude de Afonso (período de lutas liberais); o período romântico da Regeneração corresponde à paixão e posterior suicídio de Pedro; em destaque, surge a geração de Carlos da Maia, a partir do Outono de 1875, e prolonga-se até ao início de 1877; 1887 é o ano em que Carlos

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reencontra Ega em Lisboa, após dez anos de ausência.

Tempo histórico – reporta-se aos factos inerentes à história nacional ou universal.

Tempo psicológico – desliga as personagens do tempo real porque corresponde ao tempo do sonho, da ilusão, dos projetos, das emoções. Reflete a parte subjetiva.

- Exemplos: a noite em que Pedro se dá conta da fuga de Maria Monforte e o comunica a seu pai; a reflexão de Carlos sobre o passado do seu pai; arrastamento e monotonia das horas no consultório; no episódio final quando Carlos e Ega visitam o Ramalhete, cerca de dez anos depois do desenlace trágico, onde é nítida a nostalgia com que Ega recorda o tempo perdido.

Tempo do discurso – em qualquer narrativa a representação da história exige a elaboração de um discurso. Se tivermos em conta a arquitetura do romance, vemos que o tempo anterior a 1875, razoavelmente longo, com referências a todo o passado da família, é dado por analepse, e abrange cerca de oitenta e cinco páginas. Já a ação central, que decorre entre o Outono de 1875 e início de 1887 (desde a instalação dos Maias no Ramalhete até à partida de Carlos para Santa Olávia, após a morte do avô), desenvolve-se ao longo de quinhentas e noventa páginas, num ritmo deliberadamente lento.

As alterações de ordem temporal dos factos – anacronias – e as mudanças de ritmo narrativo são frequentes:

A ordem temporal – as analepses- O romance começa no Outono de 1875, ou seja, já no meio do tempo da história (ou cronológico). Segue-se uma longa analepse até 1820, que só termina no capítulo IV, quando se recupera o presente da história: Afonso da Maia e Carlos instalados no Ramalhete.- No capítulo XV surge outra analepse, quando Maria Eduarda explica a Carlos os pormenores da sua vida (educação e atribuições pessoais).- Outra analepse é a que se refere à carta de Maria Monforte encontrada no célebre cofre trazido por Guimarães.A isocronia – a cena dialogadaA isocronia consiste na tentativa de conceder ao tempo do discurso uma

duração semelhante à do tempo da história. O processo mais utilizado por Eça para conseguir a isocronia é a cena dialogada, que consiste em criar uma atmosfera e uma formulação temporal idêntica à da representação teatral, isto é, coincide com a duração dos episódios. Para essas coincidências contribuem:

- a utilização do discurso direto (e, por vezes, do discurso indireto livre);- a cuidadosa descrição dos cenários que enquadram a ação;- a referência pormenorizada à movimentação e ao jogo fisionómico das personagens.Na obra, este processo aparece largamente exemplificado em:- o suicídio de Pedro da Maia; o jantar do Hotel Central; as Corridas de Cavalos; o Sarau no Teatro da Trindade; a visita de Carlos a Rosa; a revelação da identidade de Maria Eduarda a Carlos e ao avô, alguns momentos de monólogo interior em que as principais personagens (Carlos e Ega) revelam as suas inquietações, os seus sonhos, os seus fantasmas, as suas dúvidas ou angústias.

A linguagem e estilo queirosianos

A prosa de Eça de Queirós reflete o modo como vê o mundo e a vida, recorrendo:- ao impressionismo literário, quando o narrador revela para segundo plano o objeto ou o sujeito, realçando em primeiro lugar a cor e a luminosidade (“Uma alvura de saia moveu-se”). A hipálage é um exemplo de impressionismo literário, visto que se verifica a transposição de uma qualidade ou ação de um nome para outro com o qual não tem relação direta (“sempre um vago martelar preguiçoso”).- à adjetivação, simples ou múltipla, com valor animista, como documentam os exemplos: “A pressa esperta e vã dos regatinhos e todas as contorções do arvoredo e o seu resmungar solene e tonto.- ao advérbio, frequentemente com valor expressivo para conferir ritmo e

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musicalidade à frase e com grande poder sugestivo, tal como o adjetivo (“Falou de ti constantemente, irresistivelmente, imoderadamente”).- a tempos verbais como o pretérito imperfeito e o gerúndio, pois exprimem uma ideia de continuidade e de fluir. O imperfeito é o tempo usado no discurso indireto livre, processo que permite libertar a frase de verbos declarativos, aproximando-a da linguagem falada.- aos estrangeirismos que marcam a época, assim como aos neologismos (“lambisgonhice”, “politicote”, “escrevinhador”, “gouvarinhar”, “gordamente”).- à sinestesia (“O som vermelho do clarim”, “luz macia”) e à aliteração (“passos lentos, pesados, pisavam surdamente o tapete”).- ao diminutivo que, ora surge com intenção irónica, sarcástica (“perninhas bambas”), ora a traduzir ternura (“Está-se fazendo tarde, Carlinhos”).- a figuras de estilo como a aliteração, a adjetivação, a comparação, o assíndeto, a ironia, a elipse, a personificação, a hipálage, a sinestesia.

O ponto de vista ou focalização do narrador

- O narrador pode adotar um ponto de vista omnisciente, quando tem um total conhecimento da diegese (história), caraterizando exaustivamente as personagens e os espaços, e manipulando o tempo segundo as suas opções ideológicas.- Pode abdicar da omnisciência e contar a história de acordo coma capacidade de conhecimento de uma ou mais personagens; neste caso estamos perante a focalização interna: a informação é condicionada pela subjetividade e pela limitação de conhecimentos.- Pode ainda optar pela focalização externa, fornecendo apenas dados exteriores.

Tipos de focalização em Os MaiasHá focalização omnisciente quando o narrador perspetiva:- a reconstrução do Ramalhete; - a figura de Afonso da Maia; - os estudos de Carlos em Coimbra; -o retrato de Ega; - o retrato de Eusebiozinho; - o retrato de Dâmaso.

Há focalização interna quando:- Vilaça perspetiva a educação de Carlos;- Carlos perspetiva Maria Eduarda, à entrada do Hotel Central e na rua;- os episódios da crónica de costumes (à exceção do jornal “A Tarde” e do Sarau da Trindade);- a cidade de Lisboa e a sua sociedade, dez anos depois do desenlace;- Ega perspetiva o episódio dos jornais;- o Ramalhete fechado;- a sua própria consciência, em momentos ligados ao espaço psicológico.