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P.antónio v

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António aos PeixesAntónio aos Peixes

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Interações – 11.º Ano

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António Vieira, o “imperador da língua portuguesa”

(Fernando Pessoa)

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O Sermão de Santo António aos Peixes parte da lenda medieval segundo a qual o santo, numa das suas pregações em que não consegue ser ouvido pelos homens, lança a sua palavra aos peixes, na praia deserta, que levantam a cabeça à superfície das águas como sinal da força da sua palavra.

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O sermão desenvolve-se como uma alegoria: também o Padre António Vieira se dirige aos peixes, pretendendo, nas suas considerações, atingir os homens.

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Pronunciado em São Luís do Maranhão, Brasil, no dia 13 de junho de 1654, em louvor de Santo António.

Pretende levar os colonos à reflexão sobre a exploração desumana que exerciam sobre os ameríndios, sem ter em conta a lei que lhes regulava as liberdades e as restrições.

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“As injustiças e tiranias que se têm executado nos naturais desta terra (os índios) excedem em muito às que se fizeram em África. Em espaço de quarenta anos mataram-se e destruíram-se por esta costa e sertões mais de dois milhões de índios e mais de quinhentas povoações como grandes cidades, e disto nunca se viu castigo”.

Excerto de carta ao rei D. Afonso VI, 1657

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“Se as letras do abecedário se repartissem pelos estados de Portugal, que letra tocaria ao nosso Maranhão? Não há dúvida que o M.

M de Maranhão, M de murmurar [lançar rumores, boatos], M de motejar [no sentido de «gracejar»], M de maldizer, M de malsinar, de mexericar e, sobretudo, M de mentir: mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos, que de todos e por todos os modos aqui se mente”.

Sermão da Quinta Dominga da Quaresma

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Por mais conselhos, propostas e recomendações que fizesse, Vieira sentia que nada de relevante se alterava no estatuto real dos índios.

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• Imita Santo António e fala aos peixes, louvando-lhes as virtudes e criticando-lhes os defeitos.

• Sendo os homens piores que os peixes, sobretudo os do Maranhão, pátria em que todos os defeitos e pecados humanos se elevam ao mais alto grau.

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Sermão - definição

• Discurso argumentativo que privilegia a 2ª pessoa, pois tem por fim persuadir e garantir a adesão do público.

• Obedece à seguinte estrutura interna: exórdio, narração, confirmação, epílogo ou peroração.

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• O exórdio e a peroração fazem apelo aos sentimentos do auditório, apresentando o assunto e as conclusões.

• As partes intermédias ocupam-se da exposição dos factos e respetiva argumentação.

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Estrutura

Exórdio

• Exposição do tema – A partir do versículo de S. Mateus “Vós sois o sal da terra”, referente aos pregadores, cuja função é “salgar”, ou seja, ditar a boa doutrina, verificando que a Terra se “não deixa salgar”, porque está corrupta, Vieira vai pregar aos peixes, à maneira de Sto. António.

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Narração (II, III, IV, V):

• Virtudes genéricas dos peixes: ouvem e não falam; foram os primeiros seres criados; são os mais abundantes; é entre eles que se encontram os maiores seres. Mostraram obediência, respeito e devoção: escutaram Sto. António; salvaram Jonas.

• Virtudes naturais: desconfiam dos homens, por isso se salvam. Assim fez Sto. António fugindo para o deserto.

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Atributos específicos dos peixes• Peixe de Tobias: cura a cegueira; afasta os

demónios. Assim fez Santo António nas suas pregações. Apelo aos moradores do Maranhão.

• Rémora (= língua de Santo António) – para refrear as paixões. Alegoria das Naus: Soberba /Cobiça / Sensualidade.

• Torpedo (= língua de Santo António): faz tremer (e emendar os pecados).

• Quatro-olhos: para se livrarem dos inimigos do ar e do mar.

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Reflexão

Também os homens só devem olhar para cima, lembrando-se de que há céu; e para baixo, de que há Inferno.

Os peixes ajudam à salvação: são usados nos jejuns e são alimentos dos pobres.

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Defeitos genéricos dos peixes

• Voracidade: “Comei-vos uns aos outros”. Paralelismo com o homem. Os maiores comem os mais pequenos.

• Ignorância e cegueira: (Pescados pelo anzol, atraídos pelo retalho de pano. Tráfico de panos no Maranhão (Vaidade). Santo António procedeu ao contrário. Abandonou luxos, mas pescou almas com uma corda e um pano de burel.

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Defeitos específicos

• Roncadores (peixes pequenos que roncam muito). Assim os homens: quanto menos valem mais blasonam. S. Pedro; Golias. Santo António, “porque tanto calou, por isso deu tamanho brado”.

• Pegadores (= parasitas, aderentes). Salvam-se os “pegadores de Deus”: David; Santo António. O castigo: Morrem quando morre o grande ao qual se “pegaram”.

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• Voadores (= ambiciosos, megalómanos, vaidosos). Santo António voou para baixo e não para cima.

• Polvo (= hipócrita, traiçoeiro). Santo António, pregador dos peixes: “o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade”).

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Confirmação (final do cap. V)

Apelo final:

Castigo, excomunhão dos que se apropriam dos bens alheios.

Peroração (VI)

Julgamento final dos peixes.

Louvores a Deus.

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Podemos concluir que o Sermão de Santo António aos Peixes se trata de uma sátira bela e audaciosa:

pela variedade de tipos focados,

pelo imprevisto da caricatura e da fantasia construtiva, pela causticidade da ironia,

pela expressividade do discurso,

onde o paralelismo, a gradação, a enumeração, a citação, a antítese, a exclamação, a apóstrofe, revelam todo o esplendor da língua portuguesa.