10
Políticas educacionais brasileiras de Fernando Henrique Cardoso (FHC) a Lula: uma reflexão paralela 1 Políticas educativas brasileñas de Fernando Henrique Cardoso (FHC) a Lula: un reflejo paralelo Paulo Fernando Medeiros Epaminondas Resumo O trabalho tem como objetivo refletir sobre as políticas educacionais brasileiras durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, numa perspectiva comparativa das diferenças e similitudes percebidas no período de 1994 a 2010. A reflexão contará com um resgate do período de redemocratização, pelo qual o Brasil passou após o Golpe Militar de 1964, entendendo-se esta análise como fundamental para o entendimento do desenvolvimento que as políticas educacionais brasileiras terão no período mencionado. O desenvolvimento do trabalho segue com a consideração de informações pertinentes a ambos governantes, a partir de uma pesquisa de cunho bibliográfico através de artigos que abordam as políticas educacionais implantadas e implementadas em cada governo, subsídio essencial para a percepção do que os diverge ou aproxima. Palavras-chave: políticas educacionais brasileiras, governo FHC, governo Lula, diferenças, semelhanças. Resumen El estudio tiene como objetivo reflexionar sobre las políticas educativas brasileñas durante los gobiernos de Fernando Henrique Cardoso y Luiz Inácio Lula da Silva, en una perspectiva comparativa de las diferencias y similitudes percibidas en el período de 1994 a 2010. La reflexión tendrá un rescate del período de la nueva democracia per lo cual Brasil pasó después del Golpe Militar de 1964, con la comprensión de este análisis como una clave para entender el desarrollo de las políticas educativas brasileñas en el período mencionado. El desarrollo del trabajo sigue con la consideración de información relevante para ambos gobernantes, de una búsqueda bibliográfica en artículos que se ocupan de las políticas educativas implantadas y mejoradas en cada gobierno, base esencial para la percepción de sus similitudes y diferencias. Palabras clave: políticas educativas brasileñas, gobierno FHC, gobierno Lula, diferencias, similitudes. 1 Atividade desenvolvida visando à composição de desempenho para a 2ª Verificação de Aprendizagem da disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Brasileira, ministrada pelo docente Tasso Brito, no 5º período, turno noturno, da licenciatura em Letras e Espanhol da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no primeiro semestre de 2016.

Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso fhc a lula uma reflexão paralela

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

Políticas educacionais brasileiras de Fernando Henrique Cardoso (FHC) a Lula: uma reflexão

paralela1

Políticas educativas brasileñas de Fernando Henrique Cardoso (FHC) a Lula: un reflejo paralelo

Paulo Fernando Medeiros Epaminondas

Resumo

O trabalho tem como objetivo refletir sobre as políticas educacionais brasileiras durante os governos

de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, numa perspectiva comparativa das

diferenças e similitudes percebidas no período de 1994 a 2010. A reflexão contará com um resgate do

período de redemocratização, pelo qual o Brasil passou após o Golpe Militar de 1964, entendendo-se

esta análise como fundamental para o entendimento do desenvolvimento que as políticas educacionais

brasileiras terão no período mencionado. O desenvolvimento do trabalho segue com a consideração de

informações pertinentes a ambos governantes, a partir de uma pesquisa de cunho bibliográfico através

de artigos que abordam as políticas educacionais implantadas e implementadas em cada governo,

subsídio essencial para a percepção do que os diverge ou aproxima.

Palavras-chave: políticas educacionais brasileiras, governo FHC, governo Lula, diferenças,

semelhanças.

Resumen

El estudio tiene como objetivo reflexionar sobre las políticas educativas brasileñas durante los

gobiernos de Fernando Henrique Cardoso y Luiz Inácio Lula da Silva, en una perspectiva comparativa

de las diferencias y similitudes percibidas en el período de 1994 a 2010. La reflexión tendrá un rescate

del período de la nueva democracia per lo cual Brasil pasó después del Golpe Militar de 1964, con la

comprensión de este análisis como una clave para entender el desarrollo de las políticas educativas

brasileñas en el período mencionado. El desarrollo del trabajo sigue con la consideración de

información relevante para ambos gobernantes, de una búsqueda bibliográfica en artículos que se

ocupan de las políticas educativas implantadas y mejoradas en cada gobierno, base esencial para la

percepción de sus similitudes y diferencias.

Palabras clave: políticas educativas brasileñas, gobierno FHC, gobierno Lula, diferencias,

similitudes.

1 Atividade desenvolvida visando à composição de desempenho para a 2ª Verificação de Aprendizagem da

disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Brasileira, ministrada pelo docente Tasso Brito, no 5º

período, turno noturno, da licenciatura em Letras e Espanhol da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no

primeiro semestre de 2016.

Page 2: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

Introdução

Ao passo em que o Brasil ansiava por novos rumos políticos e econômicos em meio ao

regime ditatorial que chegava ao “seu fim”, os países do sistema capitalista se recuperavam

das crises do petróleo, as crises fiscais nos EUA determinavam o movimento de recessão

mundial capitalista, a URSS agonizava antes do anúncio por Gorbachev da Glasnost e da

Perestroika e o mundo assiste ao fim da Guerra Fria, em meio à nova ordem mundial que se

encontrava em gestação, o neoliberalismo (CAMPOS; MARTINO, 2014, p. 2).

A década de 1980 assim se inicia internamente com os movimentos sociais brasileiros em

polvorosa por mudanças, coexistindo com condicionantes externos mundiais que também

impactariam nas transformações que aguardavam o cenário político, econômico, social e

educacional do Brasil.

Sem considerar o mérito da morte de Tancredo Neves, representante do “triunfo da

democracia brasileira”, é importante ressaltar e é nesse sentido que as aspas deste e do

primeiro parágrafo da presente introdução se justificam (grifo meu), que o seu vice que

assume, José Sarney, era na ocasião recém-dissidente do PSD, novo ingressante do PMDB e,

o mais relevante, um dos líderes da base governista e situacionista durante o regime militar

brasileiro (CAMPOS; MARTINO, 2014, p. 3).

Contraditoriamente, pode-se constatar durante a primeira década do regime militar um

expressivo incentivo ao ensino superior no Brasil (MOTTA, 2014, p. 57) ao passo em que no

início dos anos 80 as verbas destinadas à educação não elencam a pauta de prioridades de

nossas políticas públicas (CAMPOS; MARTINO, 2014, p. 3); na realidade, porque o ensino

secundário e superior esteve voltado aos abastados do contexto social, responsáveis pelo

desenvolvimento de ciência e da transmissão de conhecimentos seguindo um viés do ensino,

da pesquisa e da extensão, numa perspectiva não de formação, mas educacional, ainda vigente

em algum aspecto na atualidade (EPAMINONDAS, 2016, p. 2), justificando assim a

contradição.

Passados pouco mais de 3 anos do início da redemocratização brasileira, a intensificação do

anseio social por direitos tem como resposta a promulgação da Constituição de 1988, que veio

a fortalecer juridicamente os direitos tão sonhados.

Page 3: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

Políticas mundiais, clientelismo e governo FHC

Após a promulgação da Constituição de 1988, que em seu art. 205 discorria e ainda discorre

acerca da educação “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade ao pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”,

esperava-se que a LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, refletisse os anseios de

ideais dos movimentos sociais, políticos e acadêmicos desenvolvidos desde o início da década

anterior; contudo, o que poderia ter se tornado um marco educacional do governo FHC é

percebido com lamento como a invejável oportunidade perdida (ROMANELLI apud

CAMPOS; MARTINO, 2014, p. 4).

Na verdade, quando FHC assume o governo em 1994 controlando a hiperinflação que

massacrava o país, através da implantação do Plano Real, traz consigo ideais neoliberais, nos

quais acreditava, e com eles diretrizes de organismos internacionais financiadores, a exemplo

do FMI, do Banco Mundial e do BIRD, que passam a ditar a organização política mundial da

década com o ideário da Globalização e, consequentemente, descentralização, flexibilidade e

eficiência, pautando as políticas nacionais na perspectiva de redução de gastos e de

privatização das empresas públicas, motivo certo para que a LDB dois anos depois não

estivesse em consonância com os ideais construídos socialmente na década de 1980.

É relevante ressaltar que houve interferência sim de condicionantes mundiais na política

brasileira na década de 1990, mas não acreditar mais na administração pública gerenciada

pelo Estado brasileiro foi uma opção de FHC, que por todas as privatizações operadas no país

em sua gestão, acreditava na eficiência da iniciativa privada na administração de empresas

que antes se encontravam sob a responsabilidade do Estado.

Dentre as políticas públicas em educação do governo FHC, pode-se destacar o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

(FUNDEF), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o Sistema Nacional de Avaliação

da Educação Básica (SAEB), o Exame Nacional de Cursos (ENC) mais conhecido como

“Provão” e a aceleração da expansão das Instituições de Ensino Superior (IES), por meio da

ampliação da cobertura de atendimento via expansão do setor privado e a consequente

institucionalização do mercado universitário com a presença de rankings governamentais

Page 4: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

(CHACON; CALDERÓN, 2014, p. 2), que evidenciaria para a sociedade a eficiência prevista

pelo modelo de governo adotado.

Tabela 1. Evolução do número de instituições de educação superior por dependência administrativa no Brasil durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)

MEC/INEP/SEEC (Brasil, 2012)

Ano Total Federal Estadual Municipal Privada

1995 894 57 76 77 684

2002 1.637 73 65 57 1.442

1995/2002 (%) 83,1 28,1 -14,5 -26,0 110,8

Fonte: (CHACON; CALDERÓN, 2014, p. 6)

Os dados da Tabela 1 demonstram não apenas a expansão de 110,8% do número de IES

privadas, mas também um retraimento de 40,5% do número de IES estaduais e municiais com

um crescimento do número de IES federais de apenas 28,1% em oito anos de governo.

Ao mesmo tempo em que reduzia custos investindo em IES privadas, cumprindo com uma

das diretrizes dos organismos internacionais financiadores, o governo FHC se detém na

ampliação mínima de IES federais que fomenta o atendimento à elite brasileira.

A demanda de massas menos favorecidas, que em função da precariedade da educação básica

não concorreriam em igualdade com estudantes oriundos de escolas particulares, seria

atendida através do investimento em IES privadas e do incentivo ao ensino fundamental por

meio do FUNDEF, estratégia de preparação dos jovens para inserção no mercado de trabalho

(CAMPOS; MARTINO, 2014, p. 7).

Infelizmente o incentivo ao ensino superior clientelista no Brasil não é um fato isolado ao

governo FHC, tendo em vista que a priorização à expansão do ensino superior privado foi

opção do governo militar com o objetivo de atender às massas enquanto o poder público

mantinha as universidades para a elite, por mais que este modelo de universidade estatal

elevasse os custos do ensino público, não possibilitando a sua expansão ou massificação e

possibilitasse o atendimento pelo setor privado da demanda que não era absorvida pelo Estado

(SAMPAIO; CALDERÓN apud CHACON; CALDERÓN, 2014, p. 3).

O abismo social que o clientelismo do governo FHC e de outros que o antecederam fomenta

aproxima-se do antagonismo percebido entre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de

1932 e a Constituição de 1937. Comparativamente, a LDB em sua concepção original,

respondendo aos anseios dos movimentos sociais da década de 1980 estaria para o Manifesto

Page 5: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

de 1932 e o clientelismo do governo FHC estaria para a LDB que foi sancionada e que não

atendeu a interesses gerais da população brasileira nem ao que nos rege em nível máximo, a

Constituição do nosso país, no quesito educação.

Permanências, inversão de prioridades e governo Lula

O governo Lula vem à tona num contexto em que a economia brasileira se encontrava mais

estabilizada, mas o desenvolvimento amplo do país, o atendimento a todos aqueles anseios

frustrados que foram alimentados pelos movimentos sociais na década de 1980, era o que

faltava e pelo que se tomava um novo fôlego frente à perspectiva de um governo que

discursava pelo social e do qual se esperava uma inversão de prioridades.

Uma reflexão sobre os oito anos do governo Lula nos leva a perceber perspectivas diferentes

ao compararmos cada uma de suas gestões. Em seu primeiro mandato, tem-se uma clara

continuidade das políticas públicas operadas desde o governo FHC. Lula precisou fazer o

mesmo dever de casa feito por seu antecessor, em função de compromisso firmado com ele e

com as mesmas instâncias internacionais de financiamento, já mencionadas anteriormente,

através da Carta ao Povo Brasileiro, proferida em 2002, durante a sua campanha (CAMPOS;

MARTINO, 2014, p. 7). Já em seu segundo mandato, com o dever de casa feito e com a

relação de subserviência desfeita frente às instâncias internacionais de financiamento, o

discurso pelo social começa a ser colocado em prática e vão sendo criadas possibilidades para

que as inversões de prioridades sejam operacionalizadas.

Dentre as políticas públicas em educação do governo Lula é possível destacar o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB), o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), o

Plano Nacional de Educação de 2010, considerado como um reflexo do desfazimento da

relação de subserviência do primeiro mandato, exemplo desse maior espaço de manobra

frente às forças neoliberais, a Conferência Nacional de Educação (CONAE) que junto com o

Plano Nacional figuram uma maior participação e debate social frente às questões da

educação, o Programa Universidade para Todos (PROUNI), a Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (REUNI), o Plano de Desenvolvimento de Educação (PDE) de 2007 e

a Universidade Aberta do Brasil (UAB), vinculada à Fundação Capes do Ministério da

Educação (CAMPOS; MARTINO, 2014, p. 8 e 9).

Page 6: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

O governo Lula com as políticas públicas em educação que implementou ou implantou em

seus mandatos demonstra claramente uma aproximação abrangente com o social. O FUNDEB

não financia mais apenas o ensino fundamental, mas sim todas as etapas da educação básica,

desde a educação infantil até o ensino médio. O nível de ensino superior é contemplado em

todas as outras políticas, do SINAES à UAB. Todos os níveis da educação escolar (educação

básica e ensino superior) estão contemplados nas discussões do CONAE, no PDE de 2007 e

no Plano Nacional de Educação de 2010, de forma que a atuação do governo em análise por

meio de suas políticas se mostra sistêmica e geral, além de atender de forma mais abrangente

às recomendações emanadas pela LDB de 1996.

É importante ressaltar a relevância que o PDE de 2007 traz à educação profissional e à

alfabetização, etapas inseridas no nível da educação básica da educação escolar brasileira, na

perspectiva da LDB, quando os apresenta enquanto eixos norteadores do PDE (2007 p. 15),

fortalecendo ainda mais a proposta sistêmica e abrangente de suas políticas educacionais.

O maior impacto de resultados das políticas em educação do governo Lula pode ser

visualizado no ensino superior, competência da União conforme preceitua a LDB, já que

muitas das ações previstas no PDE de 2007, no Plano Nacional de Educação de 2010 e na

própria LDB dependem de ações colaborativas entre estados e municípios nas etapas do nível

da educação básica a que cada um é responsável.

Gráfico 1. Crescimento de universidades federais no Brasil, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010)

MEC/INEP/SEEC (Brasil, 2012)

Fonte: (CHACON; CALDERÓN, 2014, p. 9)

Page 7: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

O crescimento demonstrado no Gráfico 1 sinaliza para o primeiro mandato do governo Lula,

momento em que amarras políticas junto a instâncias de financiamento internacional existiam,

um crescimento de 4% que se amplia no segundo mandato para 41,4% com a implantação do

REUNI, contexto em que a subserviência a condicionantes externos internacionais não existia

mais.

Tabela 2. Evolução do número de instituições de educação superior por dependência administrativa no Brasil, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

(2003-2010) MEC/INEP/SEEC (Brasil, 2012)

Ano Total Federal Estadual Municipal Privada

2003 1.859 83 65 59 1.652

2010 2.378 99 108 71 2.100

2003/2010 (%) 27,9 19,3 66,2 20,3 27,1

Fonte: (CHACON; CALDERÓN, 2014, p. 11)

A evolução demonstrada na Tabela 2 conversa com o crescimento encontrado no Gráfico 1 e

constata o que se pontuou acerca do maior impacto de resultados das políticas em educação

do governo Lula no ensino superior. A ampliação se dá em todas as dependências

administrativas e apesar de o percentual das IES privadas corresponder ao total de IES não

houve retraimento em nenhuma das dependências administrativas.

O atendimento com políticas públicas em educação no governo Lula não se restringiu apenas

ao nível do ensino superior, sua incumbência segundo a LDB de 1996, conforme pontuado

anteriormente, mas ampliou-se às demais etapas do nível da educação básica da educação

escolar brasileira.

Page 8: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

Aproximações e distanciamentos

No quadro comparativo que segue propõe-se apresentar de forma sucinta as semelhanças e

diferenças possíveis entre os governos analisados até então.

Quadro 1. Comparativo entre os governos FHC e Lula no que concerne às políticas em educação (1994-2010)

Governo FHC Governo Lula

� FUNDEF: foco apenas ao ensino fundamental;

� PCCs;

� SAEB;

� ENC: regulatório e voltado ao controle de resultados;

� Aceleração da expansão das instituições de

ensino superior via expansão do setor privado;

� Não houve criação de novas universidades ou institutos técnicos federais.

� FUNDEB: abrangência às demais etapas da educação básica da educação escolar;

� Ampliação de discussão para a Base Nacional Comum;

� Mantém-se;

� SINAES: concepção de avaliação e de educação global e integradora, numa visão emancipatória;

� Expansão das instituições de ensino superior

atendendo a todas as dependências administrativas (federal, estadual, municipal e privada;

� Houve a criação de novas universidade e

institutos técnicos federais;

� Promoção da CONAE;

� Publicação do PDE em 2007;

� Publicação do Plano Nacional de Educação em 2010;

� Implantação do PROUNI;

� Implantação do REUNI;

� Implantação da UAB.

Fonte: referencial bibliográfico do trabalho Elaboração: o próprio autor, 2016

Dentre as aproximações e distanciamentos percebidos, pode-se destacar que ambos os

governos propuseram:

a) Fundos de desenvolvimento, um limitado ao ensino fundamental e o outro

abrangendo às demais etapas da educação básica da educação escolar;

b) Currículos, um sem e o outro com ampliação da discussão;

Page 9: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

c) Sistemas de avaliação, um regulatório e voltado para resultados, o outro com uma

concepção sistêmica do fazer educacional;

d) Incentivo ao ensino superior, um via expansão do setor privado, o outro atendendo a

todas as dependências administrativas.

O distanciamento entre os governos se dá em relação à criação de novas universidades ou

institutos federais, um não criou nenhum, o outro criou novas universidades e institutos

federais.

Ademais, o governo Lula foi mais enfático em políticas públicas em educação ao promover

uma gestão mais democrática com a promoção do CONAE e a publicação do PDE e do Plano

Nacional de Educação, fortalecidos com as implantações do PROUNI, do REUNI e da UAB.

Considerações finais

O governo FHC foi um governo que fez o dever de casa frente às pressões externas que

reverberaram sim em suas políticas, mas numa perspectiva de escolhas e dos ideais da velha

ordem, da escola tradicional, da elite brasileira, do que essencialmente o representava.

O governo Lula reduz significativamente o abismo social do clientelismo proposto pelo

governo FHC, primordialmente em seu segundo mandato, é verdade, mas o fez quando foi

possível.

Trazendo comparativo ilustrado anteriormente para estas considerações finais, diríamos que a

LDB que frustrou os anseios dos movimentos sociais da década de 1980 está para FHC assim

como o Manifesto de 1932 e a DLB em sua versão original estão para Lula, enquanto

governos que observam a dinâmica social de uma forma diferente e consequentemente

governam de forma diferente, um na perspectiva do Estado eficiente e o outro na do Estado

Forte e por que não dizer eficiente também.

Mesmo tendo continuado com algumas vertentes da política econômica de FHC, é notória a

contribuição do governo Lula com a implementação e implantação de políticas públicas em

educação para o estabelecimento de um Estado consolidado, pensando no social, invertendo

prioridades e resgatando tantos anseios sociais que vinham sendo frustrados desde o início do

século XX.

Page 10: Políticas educacionais brasileiras de fernando henrique cardoso  fhc  a lula uma reflexão paralela

Referências

BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado,

1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.

Acesso em: 19 jul 2016.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Desenvolvimento da Educação: razões,

princípios e programas. Brasília, DF: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/

arquivos/livro/livro.pdf>. Acesso em: 19 jul 2016.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação. Brasília, DF: MEC, 2010.

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download

&alias=7116-pl-pne-2011-2020&Itemid=30192>. Acesso em: 19 jul 2016.

CAMPOS, Diego Lopes de; MARTINO, Vânia de Fátima. As políticas em educação e o

desenvolvimento socioeconômico brasileiro: uma análise histórica dos (19)80 até os dias de

hoje. I Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social,

Universidade Estadual Paulista - UNESP/Franca, 2014.

CHACON, José Marcelo Traina Chacon; CALDERÓN, Adolfo Ignacio. A expansão da

educação superior privada no Brasil: do governo de FHC ao governo Lula. RIES: Revista

Iberoamericana de Educación Superior, vol. 6, num. 17, Madrid, España, 2015.

DURHAM, Eunice Ribeiro. A política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso:

uma visão comparada. SciELO: Scientific Eletronic Library Online [on-line], Novos Estudos

- CEBRAP, no.88, São Paulo, Dez 2010, resumo em português | inglês, texto em português.

ISSN 0101-3300.

EPAMINONDAS, Paulo Fernando Medeiros. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

de 1932 e a Constituição de 1937: aproximações e distanciamentos. Atividade complementar

desenvolvida para a disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Brasileira,

Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE/Dois Irmãos, 2016.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A modernização autoritário-conservadora nas universidades e a

influência da cultura política. In: A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe de

1964/organização Daniel Aarão Reis Filho, Marcelo Ridenti, Rodrigo Patto Sá Motta. – 1ª ed.

– Rio de Janeiro: Zahar, 2014.