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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de Criciúma SIG/MP nº: 06.2013.00006250-3 Portaria nº: 0052/2013/09PJ/CRI O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por seu Promotor de Justiça, titular da 9ª Promotoria de Justiça desta Comarca, considerando suas funções institucionais previstas nos artigos 127 e 129 da Constituição Federal de 1988, na Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e na Lei Complementar Estadual nº 197/00 (Lei Orgânica Estadual do Ministério Público de Santa Catarina), e também: Considerando que segundo o artigo 225 da Constituição da República de 1988 "todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações"; Considerando que a ofensa ao Meio Ambiente é conduta que causa dano à coletividade, devendo ser reprimida por Tutela Coletiva para a qual o Ministério Público está legitimado; Considerando que o Código Florestal instituído pela Lei n. 4.771/1965, com redação dada pela Lei n. 7.803/1989, considerava como áreas de preservação permanente aquelas situadas: "a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;"

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA9ª Promotoria de Justiça da Comarca de Criciúma

SIG/MP nº: 06.2013.00006250-3

Portaria nº: 0052/2013/09PJ/CRI

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA

CATARINA, por seu Promotor de Justiça, titular da 9ª Promotoria de Justiça

desta Comarca, considerando suas funções institucionais previstas nos artigos

127 e 129 da Constituição Federal de 1988, na Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público) e na Lei Complementar Estadual nº 197/00 (Lei

Orgânica Estadual do Ministério Público de Santa Catarina), e também:

Considerando que segundo o artigo 225 da Constituição da

República de 1988 "todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para as presentes e futuras gerações";

Considerando que a ofensa ao Meio Ambiente é conduta que

causa dano à coletividade, devendo ser reprimida por Tutela Coletiva para a qual

o Ministério Público está legitimado;

Considerando que o Código Florestal instituído pela Lei n.

4.771/1965, com redação dada pela Lei n. 7.803/1989, considerava como áreas

de preservação permanente aquelas situadas: "a) ao longo dos rios ou de

qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura

mínima será: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10

(dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que

tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 3 - de 100 (cem) metros

para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de

largura; 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200

(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 5 - de 500 (quinhentos) metros

para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;"

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Considerando que referida legislação perdeu a vigência

somente em 25 de maio de 2012, quando passou a vigorar a nova lei florestal;

Considerando que o Novo Código Florestal, instituído pela Lei

n. 12.651/2012, define como Área de Preservação Permanente a "área protegida,

coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os

recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,

facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar

das populações humanas";

Considerando que as áreas de preservação permanente são

os espaços protegidos nos termos do artigo 4º do Novo Código Florestal,

instituído pela Lei 12.651/2012, o qual manteve as mesmas medidas já

constantes no antigo Código Florestal;

Considerando que a destruição das florestas em áreas de

preservação permanente (matas ciliares) afetam diretamente a quantidade e

qualidade da água e contribuem para o agravamento das conseqüências de

enxurradas e enchentes;

Considerando que a água é um bem de uso comum do povo,

essencial à sadia qualidade de vida, de modo que está diretamente ligada à

manutenção do equilíbrio ecológico do meio ambiente;

Considerando que a Organização das Nações Unidas - ÔNU -

instituiu que o ano de 2013 como sendo o "Ano Internacional de Cooperação pela

Água";

Considerando que tal iniciativa tem o objetivo de aumentar a

conscientização sobre a gestão, acesso, distribuição e serviços relacionados a

este recurso finito, que se encontra em acelerado ritmo de escassez no planeta;

Considerando que a cooperação pela água tem múltiplas

dimensões, incluindo os aspectos culturais, educacionais, científicos, religiosos,

éticos, sociais, políticos, jurídicos, institucionais e econômicos, e uma abordagem

multidisciplinar é essencial para entender as várias facetas implícitas no conceito

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e para misturar essas peças em uma visão holística;

Considerando que, além disso, para ser bem sucedida e

duradoura, a cooperação pela água precisa de um entendimento comum do que

sejam as necessidades e os desafios em torno desse valioso e indispensável

bem, e que construir um consenso sobre as respostas adequadas a estas

questões será o foco principal do Ano Internacional e do Dia Mundial da Água em

20131;

Considerando que a água doce disponível na superfície do

planeta, passível de ser consumida pelo ser humano e aproveitada para fins

econômicos sem causar grandes impactos na natureza corresponde a menos de

1%, o que a torna um recurso vulnerável2;

Considerando que, diante desse quadro, a proteção das

nascentes se mostra determinante, na medida em são elas as responsáveis pela

perenidade e regularidade dos rios;

Considerando o teor do Decreto nº 24.643/34, denominado de

Código das Águas, que dispõe, em seu artigo 89: "Consideram-se "nascentes"

para os efeitos deste Código, as águas que surgem naturalmente ou por indústria

humana, e correm dentro de um só prédio particular, e ainda que o transponham,

quando elas não tenham sido abandonadas pelo proprietário do mesmo."

Considerando o disposto que os artigos 90 e 94 do mesmo

diploma legal dispõem, respectivamente, que o "dono do prédio onde houver

alguma nascente, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir

o curso natural das águas pelos prédios inferiores" e o "proprietário de um

nascente não pode desviar-lhe o curso quando da mesma se abasteça uma

população."

Considerando que o Ministério Público, nos termos do artigo

1 Retirado da página virtual da UNESCO: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/un_international_year_of_water_cooperation_2013/

2 Demoliner, Karine Silva. Água e saneamento básico: regimes jurídicos e marcos regulatórios no ordenamento brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008 - pág. 41.

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129 da Constituição Federal de 1988, possui a função institucional de proteger os

interesses e direitos difusos, coletivos e individuais indisponíveis;

Considerando que o inciso I do artigo 26 da Lei nº 8.625/93

(LONMP) faculta ao órgão de execução do Ministério Público, para o

cumprimento das funções institucionais, a instauração de Inquéritos Civis

Públicos e Procedimentos Administrativos;

Considerando que a Lei Complementar Estadual nº 197/00

(LC nº 197/00), determina em seu artigo 83, inciso I, alínea "a", e inciso III, ser

atribuição do Ministério Público a instauração de inquéritos civis e outras medidas

e procedimentos administrativos pertinentes, bem como a requisição de

informações e documentos a entidades públicas e privadas;

Considerando que os artigos 2º e 4º do Ato nº 81/2008/PGJ

facultam ao Órgão do Ministério Público a instauração de Procedimento

Preparatório para a formação de opinião sobre a efetiva violação dos direitos

tutelados;

Considerando, por fim, que chegou ao conhecimento desta

Promotoria de Justiça denúncia anônima em face da construção do

empreendimento denominado "Parque Shopping Criciúma", situado no Bairro

Nossa Senhora da Salete, nesta Cidade, empreendimento de propriedade do "A.

Angeloni e Cia Ltda.", inscrito no CNPJ nº 83.646.984/0009-67, e situado na

Avenida Centenário, nº 2699, Centro, Criciúma/SC;

Considerando que, segundo a referida denúncia, o novo

empreendimento está em desacordo com a legislação ambiental, ante a

ocorrência de supressão de vegetação em área de preservação permanente,

bem como o aterramento de nascentes;

RESOLVE

Instaurar o presente INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO, com amparo

no inciso III do artigo 129 da Constituição Federal, nos incisos VI, letra b, e, XII do

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artigo 82 e inciso I do artigo 83, ambos da Lei Complementar nº 197/00 (Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público), e o disposto no Ato/PGJ nº

081/2008/PGJ, objetivando a total apuração dos fatos, nos termos da lei,

DETERMINANDO, as seguintes providências iniciais:

1. A autuação da presente portaria e dos documentos que a

acompanham;

2. A nomeação da MP-Residente, Roberta Valvassori

Frasson, para secretariar o presente feito, reduzindo-se a termo seu

compromisso;

3. Remeta-se, por meio eletrônico, ao Centro de Apoio

Operacional do Meio Ambiente (CME), informando-se sobre a instauração destes

autos;

4. Remeta-se, por meio eletrônico, à Secretaria-Geral do

Ministério Público, para a devida divulgação na imprensa oficial, extrato de

instauração de Inquérito Civil Público, de acordo com o modelo constante do

Anexo I do Ato n. 81/2008/PGJ;

5. Considerando o disposto no inciso VI do artigo 4º do Ato

PGJ nº 81/2008, publique-se cópia desta portaria no mural das Promotorias de

Justiça de Criciúma;

6. Fixa-se o prazo de duração do Inquérito Civil Público em 1

(um) ano, devendo ser fixada na capa a data limite, admitindo-se prorrogação

mediante solicitação ao egrégio Conselho Superior do Ministério Público;

7. Determina-se a realização das seguintes diligências iniciais

(inciso IV do art. 2º e § 10 do art. 5º do Ato nº 81/2008/PGJ):

7.1. Notifique-se a empresa Investigada, dando ciência da

instauração do ICP, bem como intimando-a a apresentar, em 10 (dez) dias,

documentos e informações capazes de elucidar o objeto investigado, mormente

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no que pertine às licenças concedidas para implantação do empreendimento,

bem como seu estágio atual de execução;

7.2. Oficie-se à Fundação do Meio Ambiente de Criciúma -

FAMCRI, solicitando vistoria pormenorizada no local, visando identificar, de

acordo com o "Projeto Nascentes", se existiam/existem nascentes na área em

questão, bem como se houve intervenção/supressão de vegetação considerada

de preservação permanente;

7.3. Oficie-se ao Município de Criciúma/SC, solicitando o envio

a esta Promotoria de Justiça de toda a documentação relativa às licenças e

alvarás concedidos pela Municipalidade que autorizaram da construção do

empreendimento.

8. Numere-se o procedimento.

Cumpra-se.

Criciúma, 21 de maio de 2013.

Luiz Fernando Góes Ulysséa

Promotor de Justiça