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PRINCÍPIO

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Page 1: PRINCÍPIO

PRINCÍPIO

Um princípio é aquilo que vem no princípio!

Não vem depois de alguma coisa e nem é a continuação de algo. É um preceito fundante1 e

não fundado, condicionante [que orienta e conduz] e não é condicionado.

Justamente porque não depende de mais nada, porque vale por si mesmo, é que um

princípio tem que poder ser aplicado universalmente, sem modificações nem atenuantes, a

todos os casos abrangidos no seu enunciado, sem que isso leve a nenhuma contradição

lógica. Sem essa propriedade, nenhum enunciado é um princípio.

“Não matarás”, por exemplo, é um princípio.

O indivíduo que decide a cumprir este preceito até às últimas consequências, abstém-se de

tirar a vida alheia mesmo quando outros possam julgar moralmente justo fazê-lo, e mesmo

que isso não o torne um assassino.

A extensão indefinida das aplicações não modifica o sentido do princípio, que é princípio

justamente por isso: por estar na extremidade inicial de uma série ilimitada de

consequências sobre as quais ele impera com autoridade inabalável, absoluta.

Quando o liberal enfezado exclama: “Nós temos princípios, não somos aqueles amoralistas

que você descreve”, ele mostra, desde logo, sua incapacidade de distinguir entre a visão

limitada pessoal e a ideologia liberal em si. Mostra ainda sua confusão entre “princípios” e

meras regras operacionais.

Regras operacionais não estabelecem o seu próprio campo de aplicação: elas são

demarcadas por um número ilimitado de outras regras operacionais, algumas delas tácitas

ou só descobertas a posteriori, bem como por um número também ilimitado de

conveniências de ordem prática que podem intervir em cada caso. Toda regra operacional é

por isso intrinsecamente deficiente e não pode ser aplicada senão com muitos atenuantes e

modificações.

Exemplo: “Todo mundo faz então eu também posso fazer”.

Um princípio vale por si, sempre, independentemente da variedade das situações. As regras

operacionais, ao contrário, se dispõem em sistemas e hierarquias compostos

essencialmente de limitações mútuas (culminando, idealmente, num princípio que as limita a

todas sem ser limitado por elas). A regra operacional sempre desconsidera os seus limites

internos e externos, busca estender indefinidamente seu campo de aplicação [esperteza], e

acabará se chocando não só contra outras regras e contra conveniências externas, mas

também contra si própria. “Agir no interesse próprio”, por exemplo, é uma regra operacional.

(Olavo de Carvalho – 2007)

1 Que estabelece a fundação, que é a base toda daquela ideia ou criação.