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Histórico da produção agropecuária, evolução da cana-de-açúcar em Nova Andradina-MS e análise do censo agropecuário
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A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA-MS:
uma análise pelos censos agropecuários de 1995/1996 e 2006
Wagner Suzano de Freitas
Palavras-chave: Censo agropecuário, Nova Andradina-MS, Modernização
INTRODUÇÃO
O presente trabalho, através de pesquisas e análises de dados censitários,
tem por objetivo demonstrar as mudanças ocorridas na produção agropecuária
ocorridas, ao longo do tempo, no Brasil e em especial no Estado de Mato Grosso do
Sul, enfatizando o processo de modernização do setor.
Para a elaboração deste trabalho foi feita larga pesquisa bibliográfica, e uma
detalhada análise dos dados dos censos agropecuários do IBGE, de 1995/96 e de
2005/06.
As mudanças que acarretaram a modernização da agropecuária brasileira
tiveram início por volta de 1960, porém tais ocorrências só tiveram lugar no Estado
de Mato Grosso do Sul, efetivamente, na década de 1970.
O cenário da agricultura e pecuária sul-matogrossense foi drasticamente
alterado, pois as mudanças na forma de produção, a mecanização e a inserção de
tecnologia transformou pastagens naturais em áreas plantadas, entre outros,
trazendo benefícios e crescimento para proprietários e produtores.
Tal crescimento e desenvolvimento foi possível graças aos investimentos
destinados para esse Estado, possibilitando que o Mato Grosso do Sul passasse a
ocupar lugar de destaque no mercado nacional, como responsável por uma grande
parte da produção de grãos e de gado bovino do país.
A degradação da terra, a diminuição do espaço do cerrado, a troca de
produção, a concentração da terra são alguns dos problemas enfrentados pelo
governo atualmente.
O crescimento apresentado no setor agropecuário e da pecuária bovina se
mostrou superior à média nacional.
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CAPÍTULO 1: A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL
A prática da agricultura no Brasil vem desde a exploração inicial pelos
europeus no período de sua colonização. Durante a história do País os agricultores
enfrentaram as dificuldades e foram sempre dependentes da natureza. Só
recentemente foram se aperfeiçoando e buscando novos métodos para aprimorar a
produção.
Em âmbito mundial o processo de modernização da agricultura iniciou-se ao
longo dos séculos XVIII e XIX, e conforme diz Veiga, (1991) as mudanças
econômicas, sociais e tecnológicas em andamento ao longo da Europa, acarretaram
um movimento chamado de Revolução Agrícola, muito importante na época para a
eliminação do feudalismo e surgimento do capitalismo.
No Brasil as atividades agrícolas se iniciaram com a colonização, bem como
os problemas agrários, pois desde o início da ocupação portuguesa eram
concedidas grandes extensões de terra, as “sesmarias”, a particulares que
possuíssem capital suficiente para investir na produção de açúcar, ponto forte da
economia da época, sendo que os produtores de açúcar passaram a ser os
primeiros agricultores brasileiros.
A Coroa Portuguesa foi dividindo as terras e formando as capitanias,
administradas pelos donatários, devendo ocupar e explorar essas áreas. Após a
Independência do País, em 1822 o problema agravou-se, pois a troca de donos das
terras acontecia em meio a grande violência entre proprietários e grileiros. O
Império, numa tentativa de colocar ordem na questão das terras editou Lei das
Terras, porém com a proibição de ocupar áreas públicas e a determinação de que
adquirir terras só mediante pagamento em dinheiro, reforçando ainda mais o poder
dos latifundiários ao tornar ilegais as posses de pequenos produtores (CORDEIRO,
2011).
No período de 13 anos de estadia da corte portuguesa a Capital do país foi
mudando, a população saltou de 43 mil habitantes, em 1799, para 79 mil em 1821,
ou, se contarmos a área rural totalizava 110 mil. A produção de algodão, café e gado
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passou a ocupar mais espaço, como diz Cordeiro (2011), diminuindo assim os
negócios com o açúcar e a mineração. Mas continuava a chegada e a venda de
escravos, mantendo um grande intercâmbio cultural com a África.
No Porto do Rio de Janeiro se concentrava a metade do comércio exterior
nacional, principalmente com o embarque de café, que em 1840 somava
praticamente 50% de toda a exportação brasileira. As importações de produtos
ingleses, de tecidos a lampiões, aqueciam o comércio.
Aconteceram guerras e revoltas no período pós Independência, dividindo os
estados e estrangeiros, modificando a vida nas províncias. O Centro-oeste passou a
se destacar economicamente, com a produção de carne, leite, tecidos e outros itens
que eram vendidos para o Rio de Janeiro, e muitos moradores foram para o campo.
O café e o algodão ganharam espaço na economia do país, com indústrias na
capital, mas a escravidão era uma regra ainda.
No período republicano o problema da concentração fundiária permaneceu e
fez parte dos confrontos sociais, como a guerra de Canudos e do Contestado. Mas
foi apenas no final dos anos 50 e início dos anos 60, com a aceleração do processo
de industrialização do país, que a modernização da agricultura de fato se iniciou.
Nesse período o processo de modernização da agricultura no Brasil se
fortalece, com a implantação de um setor industrial com a finalidade de produzir
equipamentos e insumos para a agricultura.
Com estes avanços esperava-se passar da forma tradicional de agricultura,
que dependia da natureza e era feita através de técnicas rudimentares, para uma
agricultura mecanizada. Esse fato, apesar de se dar de modo desigual, melhorou os
níveis produtivos no país.
A modernização trouxe muitas mudanças, e Soto (2002, p.43) aponta que o
ponto máximo das transformações na agricultura brasileira foi a acentuação do
caráter capitalista das empresas agrárias, com forte tendência de capitalização,
tecnificação e proletarização, pois a partir das modificações e implantação de
tecnologia houve um grande aumento no número de trabalhadores rurais
desempregados.
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Apesar das modificações promovidas na economia brasileira, o crescimento
não se deu de maneira uniforme e com a rapidez esperada. Segundo Gonçalves
Neto (1997), a lentidão se acentuou entre os anos de 1965 e 1967, devido à
reorganização sob o regime militar que se instalara no país.
O setor agrícola passou a ser pressionado pelas indústrias de equipamentos
e insumos, pois queriam aumentar as vendas, mas o grande impulso para a
verdadeira transformação da base técnica da produção agrícola veio do incentivo
governamental, através do chamado crédito rural, viabilizado principalmente a partir
de meados da década de 1960.
Foi no regime militar que se deu o primeiro passo para a realização da
reforma agrária no país com a criação do Estatuto da Terra, a Lei nº 4.504, de 1964,
criado com a finalidade de frear os movimentos campesinos que se multiplicavam
durante o governo anterior. Foram criados o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
(Ibra) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (Inda).
Em novembro de 1966 o Decreto nº 59.456 instituiu o primeiro Plano Nacional
de Reforma Agrária, mas que não saiu do papel, e em 9 de julho de 1970, o Decreto
nº 1.110 criou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),
resultado da fusão do Ibra com o Inda.
Com o Estatuto da Terra foi possível fazer uma estatística agropecuária
viabilizando a criação de políticas públicas voltadas para o campo, quando foi
possível saber o que é um imóvel rural, população do campo, renda, sexo, idade,
etnia e outros, sendo criados os módulos rurais, derivados do conceito de
propriedade familiar. O conceito de módulo rural deriva do conceito de propriedade
familiar, que, nos termos do inciso II, do artigo 4º da Lei nº 4.504/64 (Estatuto da
Terra), é entendido como:
[...] o imóvel rural que, direta e pessoalmente, explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com ajuda de terceiros. (INCRA, 2010)
O módulo rural, calculado para cada imóvel a partir dos dados constantes no
cadastro de Imóveis Rurais no SNCR (Sistema Nacional de Cadastro Rural)
gerenciado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, é
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considerado como unidade de medida que permite estabelecer uma comparação
mais adequada entre os imóveis rurais, pois leva em consideração outros atributos
do imóvel, além de sua dimensão.
Uma das medidas foi a criação do INCRA, uma autarquia federal criada pelo
Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970 cujo objetivo principal é realizar a reforma
agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas
da União, implantado em todo o território nacional por meio de várias
Superintendências Regionais.
As medidas agrárias são utilizadas para medir superfícies de campo,
plantações, pastos, fazendas, e demais, e a principal unidade destas medidas é o
are (a), seu múltiplo, o hectare (ha), e submúltiplo, o centiare (ca), um hectare é
equivalente a 10.000 .
A agropecuária brasileira ganhou um novo incentivo após a doação de terras
para pessoas de posses que se tornaram grandes fazendeiros por todo o Brasil
sendo que alguns desses resolveram devolver as terras ao governo, ficando
conhecida como terras devolutas e outros que não conseguiram este privilégio foram
as classes menos favorecidas, famílias que precisavam vender sua força de trabalho
para manter sua renda sustentável.
A economia brasileira da época contava com a contribuição do setor
agropecuário, para aumentar os ganhos com exportações agrícolas para financiar a
industrialização e substituir as importações. Outro fator necessário era liberar parte
da mão-de-obra do campo para atender a necessidade de força de trabalho nas
indústrias; e, regular os salários urbanos, por meio da oferta a baixo preço de
produtos que compunham a cesta básica do trabalhador. (RIBEIRO, 2002)
Para que esse crescimento ocorresse o Estado brasileiro iniciou um trabalho
de conduzir o desenvolvimento nacional, organizando e lançando medidas que
unissem o setor agropecuário ao industrial, até alcançar as mudanças necessárias.
As ações foram planejadas de forma a atender os interesses sócio-econômicos, o
que gerou divergências e mais conflitos, até a completa modernização do setor
agrícola.
Na visão de Gonçalves Neto
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O objetivo primordial do Estado é atrelar o setor ao processo de desenvolvimento econômico, não permitindo que ele possa obstar o crescimento da economia. Para este fim, recursos são canalizados, criam-se institutos de pesquisa e de assistência técnica, estabelece-se um sistema nacional de crédito rural e incentiva-se a utilização de técnicas e insumos modernos, o que propicia a integração da agricultura ao circuito industrial (GONÇALVES NETO, 1997 p.145).
Com as ações do Estado a agricultura foi sendo adaptada às necessidades
do desenvolvimento econômico, de forma que as relações sociais capitalistas
fossem adotadas no setor agrícola brasileiro, resultando na adoção do modo
capitalista de produção, ocupando novas áreas para plantio e cultivo, aumentando a
produção e atendendo às necessidades do mercado interno e, principalmente,
externo.
Ribeiro (2002) afirma que foi o investimento de capitais na agricultura
brasileira a partir da década de 1960, a forma encontrada para atender exigências
do setor urbano-industrial brasileiro, que, por sua vez, respondia à demanda
internacional de produtos agrícolas e agro-industriais, o que envolvia o Estado e
grupos de interesses organizados.
Andrade explica que
Após o final da Segunda Guerra Mundial o processo capitalista foi acelerado, ocorrendo a construção de grandes obras publicas e na expansão de crédito para diversas atividades econômicas, sempre favorecendo o crescimento e desenvolvimento das cidades. A modernização, industrialização e acesso a matérias primas estimulou o crescimento da capacidade de produção das indústrias e produtos agrícolas, aumentando ainda mais a sede de terras por parte das empresas, acentuando a penetração do capitalismo no campo. (ANDRADE, 1991, p.68)
Durante a década de 1970, 16 milhões de pessoas deixaram o campo em
direção à cidade. O resultado foi um grande incremento populacional e o inchamento
das cidades que, sem planejamento e infra-estrutura para absorver um fluxo
migratório tão intenso, deixaram os novos habitantes em condições precárias de
sobrevivência.
O trabalhador rural, que passou a ter moradia urbana, se viu separado dos
seus meios de produção e retorna ao campo como bóia-fria ou outras formas de
trabalho temporário, incluindo as mulheres e as crianças nestas modalidades de
trabalho para a complementação da renda.
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Na tabela a seguir, vemos a distribuição dos gastos nas propriedades
agropecuárias, em cada década, evidenciando o aumento dos investimentos em
tecnologias de produção, substituindo gradativamente a mão-de-obra, e a
diminuição do valor gasto com remuneração dos trabalhadores, dentro das
despesas da propriedade.
Tabela 01: Brasil-Gastos com trabalho e maquinário em propriedade agropecuáriaRemuneração do
trabalhoGastos com
máquinas, veículos e equipamentos
1958-59 40,46% 10,81%1968-69 41,25% 5,85%1980-81 23,51% 14,30%
Fonte: Martine e Garcia, 1987
Martine e Garcia afirmam que os problemas sociais se intensificavam, pois
[...] atrelado a tecnologias destinadas a aumentar a produtividade de certas culturas e a uma estrutura social de produção liberadora de mão-de-obra, esse modelo divide o número de produtores de alimentos básicos (através da expulsão de pequenos produtores) e multiplica o número de consumidores urbanos (através do êxodo rural). A migração para as cidades provoca um inchamento da força de trabalho em números muito superiores ao potencial de absorção produtivo. Esta pressão maciça, por sua vez, garante níveis salariais baixíssimos, inviabilizando qualquer tentativa de resolver o problema de abastecimento via preços. (MARTINE E GARCIA, 1987, p.94)
A modernização da agricultura alterou significativamente as relações sociais
de produção, pois surgiram novas categorias de trabalhadores, tais como
administradores das fazendas, os operadores de máquinas, ao passo que os
trabalhadores tradicionais, aqueles antigos agregados, meeiros, parceiros, foram
excluídos, não faziam parte do novo modelo agrícola. Mesmo com tanta experiência
no plantio e cuidado com as terras o modelo agrícola precisava de mão-de-obra
qualificada e não aproveitava este trabalhador que desconhecia as novas técnicas.
Foram também lançados incentivos e linhas de crédito destinados aos
investimentos de capital no setor agrícola, e com isso a agricultura e indústria
cresceram significativamente durante a década de 1970. O crédito rural e demais
políticas agrícolas beneficiaram mais o setor industrial do que o setor agropecuário,
e o financiamento dos grandes produtores e dos produtos de exportação aqueceu as
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indústrias de máquinas e outros bens de produção, sustentando, dessa forma, o
desenvolvimento do setor industrial.
O ambiente econômico internacional no final dos anos 70 apresentava uma
grande recessão mundial e crise no Sistema Financeiro Internacional, e, conforme
Oliveira (2003) a economia brasileira também estava abalada pela queda dos preços
das exportações acarretada pelo protecionismo dos países importadores, e as taxas
de juros no mercado financeiro internacional.
Ao invés de propor mudanças na estrutura interna, reaproveitando as
capacidades ociosas existentes o governo não poupou esforços para atrair capitais
externos a fim de honrar os compromissos internacionais, porém, sem gerar os
recursos que o país necessitava. O mesmo autor nos diz ainda que, com tudo isso
os custos dos financiamentos no mercado interno muito altos levaram a uma parada
nos investimentos, aumentando ainda mais o volume de capacidade ociosa da
indústria, levando muitas empresas a sofrer sérias conseqüências.
Nesse momento entra em atuação o FMI – Fundo Monetário Internacional,
para promover a cooperação e socorrer os países em dificuldades, fazendo porém o
papel de cobrador de dívidas, agravando ainda mais a desordem da economia, com
uma política recessiva que comprimiu o consumo interno de produtos agrícolas e
industrializados, a fim de exportar mais, dificultando a ampliação da produção para o
mercado interno.
A partir de então aconteceu uma busca excessiva de excedentes para
exportação, acelerando ainda mais a utilização de enormes extensões de terra com
maquinário pesado para o plantio de um mesmo produto, acentuando ainda mais o
desequilíbrio entre o setor agropecuário, baseado em grandes propriedades e
voltado para a exportação e o setor voltado para a produção de alimentos para o
mercado interno. Para Oliveira (2003), isso piorou a escassez de certos alimentos,
fazendo com que o governo tivesse que gastar mais para importar carne, leite, trigo,
arroz, feijão, milho e outros, forçando a criação de novos e dinâmicos centros
urbanos; aumentou a utilização das estradas e diminuiu o uso das estradas-de-ferro,
exigindo a ampliação da malha rodoviária, aumento nos sistemas de energia
elétrica, telecomunicações, saneamento básico e demais itens necessários.
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Por estar com as atenções voltadas para o mercado externo e em honrar os
acordos internacionais, o Estado foi aos poucos deixando de reinvestir nos setores
fundamentais sob sua responsabilidade. Sendo assim, o final dos anos 70 e início
dos anos 80 representaram o começo da repressão de diversos serviços públicos
sob a responsabilidade do Estado.
Foi também significativo o aumento da dívida externa do Brasil, que subiu de
US$ 17,1 bilhões em 1970 para US$ 49,9 bilhões, em 1979, com a grande
importação que ocorreu de 1968 a 1974, e a explosão industrial que foi chamada de
milagre brasileiro. Para BAUER (1990) nesse período o Brasil utilizou o
endividamento para fazer investimentos em novas áreas de substituição de
importações, sobretudo em bens de capital, e aumentar a diversificação das
exportações. Dados do IBGE mostram que a indústria brasileira de bens de capital
cresceu significativamente entre a década de 70 e de 80, comprovando o “milagre”
ocorrido no setor, conforme tabela a seguir:
Tabela 02: Brasil - Núcleo Setorial de Estabelecimentos 1973/1980Estabelecimentos Quantidade
1973 1980Produtos minerais não metálicos 6.101 17.130Metalurgia 5.405 9.595Mecânica 3.887 8.001Elétrica e de Comunicações 1.617 2.803Química 2.085 3.025Fonte: Anuário Estatístico IBGE, 1983 apud OLIVEIRA, 2003
Outros dados apresentados mostram que a balança comercial brasileira foi
amplamente favorecida pelo aumento do cultivo de produtos destinados à
exportação, contribuindo em muito para o superávites do início dos anos de 1990.
Sem as exportações agrícolas a balança comercial apresentaria índices negativos
ou, no máximo, saldos muito baixos.
Tabela 03 Agricultura e comércio exterior no Brasil, 1961-63 a 1991-93Economia brasileira (US$ 1000)
Triênio Importação Exportação Saldo1961-63 1.474.000 1.341.000 -133.000
10
1971-731981-831991-93
5.161.00020.649.66724.613.667
4.364.66721.789.00035.396.000
-796.3331.139.33310.782.333
Agricultura brasileira (US$ 1000)Triênio Importação Exportação Saldo
1961-631971-731981-831991-93
335.967942.6772.475.9893.801.114
1.179.3343.138.17510.068.88811.144.891
843.3672.195.4987.592.8997.343.777
Agricultura/ Economia (%)Triênio Importação Exportação Saldo
1961-631971-731981-831991-93
22,7918,2711,9915,44
87,9471,9046,2131,49
-976.367(1)-2.991.831(1)-6.453.565(1)3.438.557(1)
Fonte: Baseado em FAO (Agrostat) Apud GONÇALVES (1999, P.270).
A agricultura brasileira rendeu respostas favoráveis aos projetos
implementados e aos incentivos oferecidos ao setor, com o incremento tecnológico
fez com que o Brasil aparecesse entre os grandes produtores e exportadores
mundiais de produtos agropecuários. A produção foi incrementada por novas áreas
de exploração, destacando o país no ranking mundial de produção de grãos.
A implantação e utilização da agricultura moderna passou a ser de grande
importância para a economia brasileira, assim como a de diversos países, o que foi
grandemente beneficiado com a descoberta do pesquisador alemão Justus von
Liebig, em meados do século XIX, sobre a forma de os vegetais se alimentarem,
através das raízes de elementos como nitrogênio, fósforo e potássio, fazendo com
que a indústria de fertilizantes passasse a crescer, culminando com o
desenvolvimento da chamada Revolução Verde. Durante esse período não só
aumentou a quantidade de fertilizantes químicos industriais, mas também de
inseticidas, hormônios vegetais, maquinaria pesada e sementes melhoradas
geneticamente.
O desenvolvimento agrícola, como segue explicando Oliveira, foi denominado
agricultura moderna ou mecanizada, onde além do uso de fertilizantes, pesticidas e
sementes melhoradas, é utilizada uma grande quantidade de energia adicional,
principalmente sob a forma de combustíveis fósseis para operar maquinaria agrícola
pesada, como tratores e colheitadeiras, resultando em uma alta produção de grãos,
com os quais se sustenta grande parte da população local. E ainda conforme
Oliveira (2003), ao desenvolver novas técnicas de plantio e cultivo foi possível o
11
desenvolvimento de variedades de trigo, arroz e milho que multiplicaram a
quantidade de grãos que antigamente se podia obter por hectare. (OLIVEIRA, 2003)
Conforme foram introduzidas tais melhoras, ao longo das décadas de 60 e 70
na América Latina, Caribe e Ásia, muitos países que até então haviam sido
deficitários na produção de alimentos tornaram-se exportadores, até mesmo a Índia,
que sofria grandes períodos de fome passou a produzir cereal suficiente para sua
população; e a Indonésia, passou a ser um país exportador; outros países chegaram
a aumentar sua produção em quase 300%. (OLIVEIRA, 2003)
Além dos grandes investimentos, a agricultura moderna exige também um
planejamento empresarial aliado à agricultura tradicional, pois ao fazer uso de
maquinaria agrícola aumenta também o uso de combustível, de energia; para
fabricar fertilizantes e pesticidas é empregado petróleo; para transportar e
comercializar os produtos agrícolas pelo mundo são consumidos combustíveis
fósseis, ecossistemas são destruídos, muitos danos ambientais são causados.
As mudanças e o crescimento foram significativos para a economia brasileira,
mas os problemas sociais relacionados aos trabalhadores cresceram muito e
refletiram nas relações sociais de produção e de trabalho no campo. Os pequenos
produtores e proprietários foram sendo excluídos do processo de produção do
campo brasileiro, acarretando a expropriação e proletarização desta classe de
trabalhadores, como um fenômeno de marginalização das culturas para consumo
interno e dos pequenos produtores, que possuíam pequenas propriedades, de forma
que a modernização da agricultura causou a concentração do capital.
Para Martine e Garcia,
É impossível avaliar a tecnificação pela qual passou a agricultura no Brasil sem analisar também os seus resultados sociais em termos de questões como o acesso à terra, a evolução do emprego, a dimensão da migração, a produção e distribuição de alimentos, os efeitos dos agrotóxicos e a adequação do modelo tecnológico às condições sociais e ecológicas brasileiras. (MARTINE E GARCIA, 1987, p. 96)
Nesse processo de modernização, que transformou o campo numa realidade
totalmente diferente, houve uma classe da sociedade que ficou com o que há de
mais moderno na agricultura e pecuária, porém, ao mesmo tempo, deixou outra
classe, a dos agricultores familiares, ou seja, a maioria dos produtores rurais, cada
12
vez mais distantes das inovações, sendo que esta é a categoria que fica cada vez
mais próxima do limite de sobrevivência.
Essa realidade segundo diz Balsan (2006), nos mostra que a produção serve
como instrumento de transformação do espaço, mas para as pessoas ela traz
prosperidade em certos momentos e decadência em outros. Outro aspecto da
modernização é o fato de ter ocorrido de maneira parcial, pois beneficiou alguns
produtos, em algumas regiões e alguns produtores. Assim, não só aumentou a
dependência da agricultura com relação a outros setores da economia,
principalmente o industrial e o financeiro, como também aumentou o desequilíbrio
social e o impacto da atividade agrícola sobre condições ambientais.
O crescimento agrícola pode ser medido de várias maneiras, uma delas seria
pela quantidade de equipamentos utilizados, no consumo de fertilizantes, são os
índices indicadores de modernização, que mostram um aumento gradativo destes
produtos ao longo dos anos.
Segundo o FIBGE, nos Censos Agrícolas do Brasil de 1950 e 1960 e Censos
Agropecuários do Brasil de 1970, 1975, 1980 e 1985, entre 1965 e 1975, o consumo
de fertilizantes cresceu a taxa média de 60% ao ano, enquanto que os agrotóxicos
cresceram numa média anual de 25%. A aquisição de tratores também teve
aumento considerável, passando de 8.372 unidades na década de 1950 para
665.280 no final da década de 1980.
Outros indicadores igualmente mostram crescimento no setor, mas não da
forma como se esperava, e trouxe junto muitos problemas estruturais, aumento da
pobreza, miséria e outros. Um aspecto a ser destacado neste panorama é o
comportamento da família rural frente à dinâmica do ambiente econômico, pois com
a chegada da industrialização este setor não alterou sua base de formação familiar e
nem seus objetivos, que eram a reprodução da família, geração de emprego, renda,
entre outros. Dados apresentados no Censo Agropecuário de 2006, sobre a
agricultura familiar, apontaram que dos 4,3 milhões de estabelecimentos
identificados, 84,4% estão direcionados à agricultura familiar e que apesar de
cultivarem uma área menor da lavoura e pastagem, este segmento, é responsável
por garantir boa parte dos alimentos consumidos no País.
Gonçalves Neto ressalta que:
13
A década de 70 assistirá a uma profunda mudança no conteúdo do debate. Impulsionada por uma política de créditos facilitados, que se inicia na segunda metade dos anos 60, pelo desenvolvimento urbano-industrial daquele momento, que se convencionou chamar de “milagre brasileiro”, a agricultura brasileira não apenas respondeu às demandas da economia, como foi profundamente alterada em sua base produtiva. O maciço crescimento do uso da tecnologia mecânica, de defensivos e adubos, a presença da assistência técnica, o monumental êxodo rural, permite dizer que o Brasil mudou e o campo também. (GONÇALVES NETO, 1997, p. 78)
Dessa forma o Brasil iniciou os anos 80 com um parque industrial completo e
bem estruturado, ganhando destaque no cenário internacional como a 9º economia
entre as nações capitalistas, com alguns setores apresentando elevado grau de
desenvolvimento técnico-científico. O processo de substituição de importações ficou
saturado, e começa a busca por um novo modelo de acumulação, uma nova
estrutura produtiva no modelo político econômico vigente. Porém, era preciso uma
reorganização da estrutura produtiva interna, que demorou a acontecer.
Na visão de Oliveira,
A perda de um modelo, no qual toda a estrutura produtiva estava “viciada”, perfeitamente integrada e lucrativamente assentada, termina por impedir que os investimentos sejam aplicados imediatamente como no passado. [...] declinam os investimentos e declina também a demanda global do sistema. Os investimentos, portanto, deveriam ser retomados em outros setores, pressupondo-se, naturalmente, mudanças institucionais e tempo para amadurecimento da nova consciência. (OLIVEIRA, 2003, pg.37)
Foi esse contexto de mudanças e necessidade de reorganização, no início
dos anos 80, que serviu como base para a primeira pré-fase da indústria de Mato
Grosso do Sul
REFERÊNCIAS
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14
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MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro, São Paulo: Hucitec,1990
OLIVEIRA, Tito Caros Machado de. Agroindústria e reprodução do espaço. Brasília: Ministério da Integração Nacional; Campo Grande: Ed. UFMS, 2003. Coleção Centro-Oeste de Estudos e Pesquisas.
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REZENDE, Antonio Paulo. História do Movimento Operário no Brasil. 3.ed. São Paulo: Ática, 1994
TEIXEIRA, J. C. Modernização da Agricultura No Brasil: Impactos Econômicos, Sociais e Ambientais. 2005. Disponível em: http://www.cptl.ufms.br/revista-geo/jodenir.pdf
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................
CAPÍTULO 1: A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL
CAPÍTULO 2: O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS
AGRÍCOLAS DO PERÍODO DE 1995 A 2005
2.1 SOJA ........................................................................................................................
2.2 CANA-DE-AÇÚCAR .................................................................................................
2.3 INCENTIVOS À INDUSTRIALIZAÇÃO NO MATO GROSSO DO SUL ................
2.4 ANÁISE DE DADOS DO CENSO AGROPECUÁRIO ............................................
2.4.1 Conceituação das características investigadas no Censo ....................................
CAPÍTULO 3: A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA
ANDRADINA-MS: uma análise pelos censos agropecuários de 1995/1996 e 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Gastos com trabalho e maquinário
Tabela 02: Brasil - Núcleo Setorial de Estabelecimentos 1973/1980
Tabela 03 Agricultura e comércio exterior no Brasil, 1961-63 a 1991-93
Tabela 04: Mato Grosso do Sul – Áreas de pastagens e rebanho bovino
Tabela 05 - Quantidade de produção (ton), área plantada (ha) e rendimento
médio da produção (kg por ha) de soja em Mato Grosso do Sul de 1990 a
2004.
Tabela 06 – Produção de Soja no Brasil – 1959 à 1990
Tabela 07: Área plantada, área colhida, quantidade produzida, rendimento
médio e participação da cultura no total da produção de cereais, leguminosas
e oleaginosas, em ordem decrescente de quantidade produzida, segundo os
principais produtos. Brasil – 2005
Tabela 08: Confronto dos resultados dos censos de 1970, 1975, 1980 e
1995/1996-Mato Grosso do Sul
Tabela 09: Utilização da terra – MS
Tabela 10: Área, quantidade, rendimento e valor dos produtos da lavoura
temporária em 31.12.1995-MS
Tabela 11: Produtos da lavoura temporária em 31.12.2005-MS
Tabela 12: Maquinaria e veículos existentes – 1995-2005 – MS
Tabela 13: Utilização da terra – 1995/96 – 2005/06 - Nova Andradina
Tabela 14: Maquinaria e veículos existentes – Nova Andradina
Tabela 15: Rebanho de bovinos – Nova Andradina
Tabela 16: Produtos da lavoura temporária em 31.12.2005-Nova Andradina
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01: Evolução da lavoura permanente entre 1975 e 1995-MS
Gráfico 02: Aumento do rebanho de Bovinos-MS
Gráfico 03: Fluxo orçamentário comparativo - Nova Andradina
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Faixa territorial de cultivo da cana-de-açúcar entre os paralelos
norte e sul ............................................................................................................
Figura 02: Áreas de plantação de cana-de-açúcar, 2010 ...................................
Figura 03: Localização das usinas de álcool e açúcar no Brasil .........................
Figura 04: Plantação de cana-de-açúcar em Pernambuco .................................
Figura 05: Plantação de cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul .....................
Figura 06: Colheita da cana antes da mecanização ...........................................
Figura 07: Trabalhadores da cana-de-açúcar .....................................................
Figura 08: Trabalhadores da cana-de-açúcar .....................................................
Figura 09: Moita ..................................................................................................
Figura 10: Bacia do Paraná .................................................................................
Figura 11: Áreas de plantio de cana-de açúcar ..................................................
Figura 12: Áreas para produção de cana-de-açúcar e áreas de conservação
Figura 13: Alternância de uso da terra, para pasto e plantação .........................
Figura 14: Rotação de culturas ...........................................................................
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