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DOMINGO, 23 DE SETEMBRO DE 2012 - Rebeka Figueiredo rebeka.fi[email protected] O feriado da Indepen- dência passou des- percebido durante uma aula de idioma em São Paulo, na noite do últi- mo dia 6. Com diferentes sota- ques, a língua portuguesa era a única ouvida entre os 18 estu- dantes vindos dos Estados Uni- dos, da Dinamarca, da França, da China, da Áustria, da Co- lômbia, do Japão, da Holanda e da Suécia. O grupo reflete o crescimento dos cursos de por- tuguês para estrangeiros. Considerado uma das dez maiores economias mundiais, o Brasil acaba de entrar no ranking das 50 nações mais competitivas, segundo o Fórum Econômico Mundial. Mesmo com sinais Quero falar português! De olho no potencial econômico do País, estrangeiros procuram cada vez mais escolas de idiomas. Já existe até exame de proficiência na língua portuguesa ILUSTRAçãO: EDER SANTOS 8 g eral

Quero falar português!

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DOMINGO, 23 DE SETEMBRO DE 2012 -

Rebeka [email protected]

Oferiado da Indepen-dência passou des-percebido durante uma aula de idioma

em São Paulo, na noite do últi-mo dia 6. Com diferentes sota-ques, a língua portuguesa era a única ouvida entre os 18 estu-dantes vindos dos Estados Uni-dos, da Dinamarca, da França, da China, da Áustria, da Co-lômbia, do Japão, da Holanda e da Suécia. O grupo reflete o crescimento dos cursos de por-tuguês para estrangeiros.

Considerado uma das dez maiores economias mundiais, o Brasil acaba de entrar no ranking das 50 nações mais competitivas, segundo o Fórum Econômico Mundial. Mesmo com sinais

Quero falar português!

De olho no potencial econômico do País, estrangeiros procuram cada vez mais escolas de idiomas. Já existe até exame de proficiência na língua portuguesa

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de que a economia vai crescer menos neste ano, os negócios gerados pela Copa 2014 e pela Olímpiada 2016 prometem movimentar bilhões de reais e a necessidade de infraestrutura e mão de obra qualificada precisa ser resolvida. Neste cenário, o domínio do português desponta como um diferencial.

Na PUC-SP, a dis-ciplina “Português Brasileiro: Língua e Cultura” teve a procura inflada em quase 800% desde 2010. Neste ano, 120 estrangeiros c u r s a r a m m ó d u l o s

intensivos e 52 fazem aulas regulares. O Grupo Multi, detentor das marcas Wizard, Alps, Yázigi e Skill, registrou aumento de 25% na procura por esse tipo de curso nos últi-mos 2 anos. Nas escolas de idio-mas Berlitz, a alta de 40% fez do português o segundo idioma mais solicitado, atrás apenas do

inglês, e na rede Cel-Lep, o número subiu 10%.

A p a i x o n a d a pelo Brasil, a

francesa Jessica Picon (foto), de

25 anos, co-nhece mais de uma dezena de cidades no

País e não precisou fazer curso para aprender português. O idioma foi praticado durante as visitas ao Brasil e ela agora sonha em morar por aqui. “Só preciso encontrar um emprego em comunicação”, diz ela.

Recém-formado em Co-mércio Internacional, o francês Pierre Crenier, de 24 anos, veio ao Brasil para ficar perto da na-morada, mas também pensa em uma oportunidade profissional. “Um estágio no Brasil vai ser importante e, para isso, preciso falar português”, afirma.

Outro estrangeiro que se mudou para o País por causa da namorada e espera traba-lhar por aqui é o dinamarquês Sebastian Dam, de 27 anos. “A gramática é difícil, mas o voca-bulário tem palavras similares a outras línguas”, afirma, recla-mando apenas que os brasilei-ros falam muito rápido.

A estudante holandesa de Relações Internacionais Erica Kirindongo, de 22 anos, tam-bém está no Brasil de olho em seu futuro profissional. Ela veio para um intercâmbio de 6 me-ses, já conversa em português e demonstra preocupação com a crise na Europa. “Há muito co-mércio entre Holanda e Brasil, e quero participar desses proje-tos”, planeja a moça.

A vice-coordenadora do cur-so da PUC-SP, Regina Sellan, destaca que o perfil dos alunos inclui estudantes, executivos, turistas e curiosos. “Muitos vêm especialmente para aprender português. Outros querem tra-balhar e fazer a vida aqui.”

Para Márcio Salvato, coor-denador de Economia do Ib-mec Minas Gerais, a presença de estrangeiros vai se intensi-ficar. “Com a crise europeia, jovens bem qualificados enfren-tam dificuldade para encontrar trabalho e devem buscar países com mercado aquecido.”

No primeiro semestre de 2012, as autorizações de traba-lho para profissionais de outros países subiram 24% em relação ao mesmo período de 2011, segundo o Ministério do Tra-balho e Emprego (MTE). Das 32.913 pessoas com permissões do MTE, mais de 57% têm cur-so superior completo.

O genro da mexicana

Fiquei apaixonada pelo Brasil e pelo povo brasileiro. aprendi o português graças à música brasileira. assisti a filmes sem legendas, comprei livros e estudei sozinha durante 1 mês e meio. na segunda viagem ao Brasil, pratiquei muito

Jessica Picon, de 25 anos, francesa que pensa em morar no Brasil

Alunos dA PuC-sP: o dinamarquês sebastian (e), a holandesa erica (c) e o francês Pierre (d) durante uma aula de português na capital paulista

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a língua portuguesa no mundoquase 250 milhões de pessoas usam o idioma para se comunicar

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Guadalupe Golding, de 64 anos, foi transferido de Nova York para a unidade brasilei-ra de um banco europeu e ela veio junto para ficar perto da filha. Como a família vai ficar 2 anos por aqui, os três frequen-tam aulas de língua portuguesa. “Estou fascinada, é um idioma muito bonito”, conta Guadalu-pe, fã de Caetano Veloso.

Plínio Gherardi, sócio-dire-tor da escola Linguae, aponta a falta de livros adequados como um entrave para o ensino do idioma. “Os títulos são restritos e têm qualidade inferior aos de outras línguas. A gramática é muito conservadora e não ab-sorveu a forma falada.” Para a professora Ana Katy Lazare Gabriel ensinar a cultura brasi-leira é um desafio. “Tocar uma pessoa durante uma conversa é comum para nós, mas em ou-tros países pode ser extrema-mente ofensivo”, observa.

Considerada uma língua exótica no passado, o português agora é um idioma de oportu-nidades na opinião de Matilde Scaramucci, docente do Insti-tuto de Estudos da Linguagem da Unicamp e uma das autoras do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras). “A língua é um bem de mercado, um patrimônio”, avalia.

Criado em 1998 pelo Mi-nistério da Educação e aplicado pelo Inep, o Celpe-Bras é o úni-

co exame oficial para avaliar os conheci-mentos na língua. En-tre 2009 e 2012 rece-beu 18 mil inscrições.

A colombiana Margarita Bautista, de 23 anos, conseguiu o certificado e hoje faz mestrado na USP. “Acho engraçada a proximidade entre português e espanhol. Quando fui à Colôm-bia, usei palavras mui-to brasileiras numa tradução meio portu-nhol”, diverte-se.

Para difundir e fortalecer a língua e a cultura do Brasil, o governo mantém 22 centros culturais brasileiros espalhados pelo mundo (veja no infográfico). Na América do Sul, vários acor-dos preveem o ensino do por-tuguês e do espanhol nos pa-íses do Mercado Comum do Sul (Mercosul). No Uruguai, por exemplo, a língua portu-guesa faz parte do currículo do curso técnico em Hotelaria e Turismo da Universidad del Trabajo del Uruguay.

Patrimônio vivo revela a evolução do idioma

Inaugurado em 2006, o Museu da Língua Portuguesa é uma espécie de guardião do idioma no País. A instituição, que funciona dentro de um prédio de arquitetura inglesa do século 20, nas instalações que já perten-ceram à Estação da Luz, recebeu mais de 2,8 milhões visitantes desde a abertura e está entre os mais visitados da América Latina. “Nossa língua é a manifestação mais impor-tante de nossa identidade, como cidadãos de uma democracia”, diz Ataliba de Castilho, assessor linguístico do local. “E o museu foi criado para preservá-la.”

a língua portuguesa é um idioma muito bonito. estou fascinada.Guadalupe Golding, de 64 anos, mexicana que vivia em nova York e

vai morar 2 anos no País

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MeMóriA PreservAdA: Mais de 2,8 milhões de pessoas já visitaram o museu na estação da luz

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