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Rescaldo do debate sobre ‘a concessão do estacionamento em Aveiro’ Um debate público organiza-se disponibilizando atempadamente informação (http://www.slideshare.net/slideshow/embed_code/19007720), promovendo um palco para a colocação de dúvidas e, por último, criando condições para a obtenção dos esclarecimentos necessários. Não tendo sido possível convencer a autarquia a realizar um debate público sobre a concessão do estacionamento, um colectivo de cidadãos, em colaboração com o Diário de Aveiro, organizou no passado dia 16 de Abril 2013 uma sessão pública de esclarecimento, no auditório da Associação Comercial de Aveiro (ACA). A sessão contou com uma presença significativa de cidadãos, que praticamente lotaram o auditório da ACA, mostrando que, ao contrário do que se diz frequentemente, quando os temas interessam e os cidadãos se organizam assiste-se a uma forte mobilização e participação cívica. No rescaldo do evento ficam dez notas síntese: 1. Álvaro Seco, docente da Universidade de Coimbra e orador convidado começou por referir que não tinha dados suficientes para, num nível técnico, assegurar se os lugares de estacionamento previstos se justificavam ou não, explicando que esta decisão deve decorrer duma opção política sobre o futuro da cidade, o modelo de mobilidade pretendido e a importância que se atribui a um conjunto de questões (estilos de vida saudável, alterações climáticas, …) e que deve ter um momento específico de legitimação (por ex. em acto eleitoral). 2. Explicou que a nível europeu os lugares recomendados/implementados rondam os 30- 40-50 lugares por hectare, sendo que este último é já um pouco elevado. É da opinião que, num trajecto de 5min de carro, como acontece em Aveiro, pelo menos metade dos percursos deveriam ter outra opção de mobilidade (autocarro, bicicleta ou a pé) tendo ficado desapontado com os 2% de utilização de bicicleta. 3. Criticou o período de concessão do estacionamento à superfície, que considerou excessivo. A este propósito alertou para a dificuldade de prever o futuro da cidade e dos transportes a 60 anos, bastando para tal recuar o mesmo período e perceber que ninguém preveria a actualidade tal como ela é hoje em dia. Alertou para o risco da perda de controlo da gestão do estacionamento à superfície, nomeadamente no que concerne à perda de capacidade de poder propor medidas de apoio ao comércio local (por ex. criando gratuitidade nos primeiros 30 minutos de estacionamento) ou ao combate à desertificação (por ex. criando descriminação positiva para atrair pessoas ao centro). Por último, questionou o timming da decisão, tomada a seis meses da eleição e chamou a atenção para as dificuldades de futura renegociação dos contractos e para a perda de receitas para pagamento do sistema de transportes colectivos. 4. No final, acentuou a ideia que deveria existir um plano (apresentado pelos partidos políticos para o próximo período autárquico) que definiria, para um determinado horizonte temporal, um conjunto de metas a atingir, nomeadamente a % de utilização de bicicletas, de utilização transportes públicos e de automóveis, tendo considerado que esta deveria ser uma equação imprescindível para se puderem definir políticas de mobilidade (e calcular o número de lugares de estacionamento a construir no futuro). 5. Jorge Carvalho, docente da Universidade de Aveiro e coordenador do projecto da Avenida enviou uma carta aos promotores do debate público revelando que recebeu ‘com a maior estranheza e consequente protesto’ o concurso que ‘contraria totalmente o que propôs e a Câmara aprovou’ quer no que concerne à Avenida, quer ao Rossio, sublinhando que prever aí estacionamento ‘contraria o princípio de minimizar a presença do carro na área central’ (Diário de Aveiro, 18/04/2013). 6. Falaram representantes dos partidos políticos presentes (PS, CDS-PP, PCP e BE) que mostraram recusa unânime da proposta da concessão do estacionamento. Nelson Peralta do Bloco do Esquerda referiu o protesto de uma empresa do sector, a Bragaparques, que considera que o caderno de encargos está produzido para que só possa ‘estar acessível a duas empresas ligadas ao sector’. Miguel Viegas do PCP

Rescaldo do debate sobre ‘a concessão do estacionamento em aveiro’

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Rescaldo do debate sobre ‘a concessão do estacionamento em Aveiro’ 16 ABR 2013

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Page 1: Rescaldo do debate sobre ‘a concessão do estacionamento em aveiro’

Rescaldo do debate sobre ‘a concessão do estacionamento em Aveiro’

Um debate público organiza-se disponibilizando atempadamente informação (http://www.slideshare.net/slideshow/embed_code/19007720), promovendo um palco para a colocação de dúvidas e, por último, criando condições para a obtenção dos esclarecimentos necessários. Não tendo sido possível convencer a autarquia a realizar um debate público sobre a concessão do estacionamento, um colectivo de cidadãos, em colaboração com o Diário de Aveiro, organizou no passado dia 16 de Abril 2013 uma sessão pública de esclarecimento, no auditório da Associação Comercial de Aveiro (ACA).

A sessão contou com uma presença significativa de cidadãos, que praticamente lotaram o auditório da ACA, mostrando que, ao contrário do que se diz frequentemente, quando os temas interessam e os cidadãos se organizam assiste-se a uma forte mobilização e participação cívica.

No rescaldo do evento ficam dez notas síntese:

1. Álvaro Seco, docente da Universidade de Coimbra e orador convidado começou por referir que não tinha dados suficientes para, num nível técnico, assegurar se os lugares de estacionamento previstos se justificavam ou não, explicando que esta decisão deve decorrer duma opção política sobre o futuro da cidade, o modelo de mobilidade pretendido e a importância que se atribui a um conjunto de questões (estilos de vida saudável, alterações climáticas, …) e que deve ter um momento específico de legitimação (por ex. em acto eleitoral).

2. Explicou que a nível europeu os lugares recomendados/implementados rondam os 30-40-50 lugares por hectare, sendo que este último é já um pouco elevado. É da opinião que, num trajecto de 5min de carro, como acontece em Aveiro, pelo menos metade dos percursos deveriam ter outra opção de mobilidade (autocarro, bicicleta ou a pé) tendo ficado desapontado com os 2% de utilização de bicicleta.

3. Criticou o período de concessão do estacionamento à superfície, que considerou excessivo. A este propósito alertou para a dificuldade de prever o futuro da cidade e dos transportes a 60 anos, bastando para tal recuar o mesmo período e perceber que ninguém preveria a actualidade tal como ela é hoje em dia. Alertou para o risco da perda de controlo da gestão do estacionamento à superfície, nomeadamente no que concerne à perda de capacidade de poder propor medidas de apoio ao comércio local (por ex. criando gratuitidade nos primeiros 30 minutos de estacionamento) ou ao combate à desertificação (por ex. criando descriminação positiva para atrair pessoas ao centro). Por último, questionou o timming da decisão, tomada a seis meses da eleição e chamou a atenção para as dificuldades de futura renegociação dos contractos e para a perda de receitas para pagamento do sistema de transportes colectivos.

4. No final, acentuou a ideia que deveria existir um plano (apresentado pelos partidos políticos para o próximo período autárquico) que definiria, para um determinado horizonte temporal, um conjunto de metas a atingir, nomeadamente a % de utilização de bicicletas, de utilização transportes públicos e de automóveis, tendo considerado que esta deveria ser uma equação imprescindível para se puderem definir políticas de mobilidade (e calcular o número de lugares de estacionamento a construir no futuro).

5. Jorge Carvalho, docente da Universidade de Aveiro e coordenador do projecto da Avenida enviou uma carta aos promotores do debate público revelando que recebeu ‘com a maior estranheza e consequente protesto’ o concurso que ‘contraria totalmente o que propôs e a Câmara aprovou’ quer no que concerne à Avenida, quer ao Rossio, sublinhando que prever aí estacionamento ‘contraria o princípio de minimizar a presença do carro na área central’ (Diário de Aveiro, 18/04/2013).

6. Falaram representantes dos partidos políticos presentes (PS, CDS-PP, PCP e BE) que mostraram recusa unânime da proposta da concessão do estacionamento. Nelson Peralta do Bloco do Esquerda referiu o protesto de uma empresa do sector, a Bragaparques, que considera que o caderno de encargos está produzido para que só possa ‘estar acessível a duas empresas ligadas ao sector’. Miguel Viegas do PCP

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referenciou que a concessão se enquadra numa prática de privatização de um conjunto de serviços públicos (águas, transportes colectivos,…) que não tem beneficiado os cidadãos. Ernesto Barros do CDS-PP reiterou a crítica à proposta e sublinhou a importância de todos os partidos e cidadãos estarem unidos contra a pretensão da autarquia. Eduardo Feio do PS lembrou que a questão já tinha estado em cima da mesa com a ideia da construção dos parques em contrapartida pela construção das escolas.

7. Vários dos intervenientes chamaram a atenção para a falta de transparência do processo, que não foi discutido na assembleia como prometido e alertou-se para os riscos de uma indemnização à empresa promotora, caso o concurso não seja cancelado a tempo.

8. Pompílio Souto apelou para a necessidade de uma vigilância cívica mais activa e reflexiva e para a criação de uma relação de maior proximidade entre partidos e cidadãos, de forma a evitar que este tipo de projectos tornem a repetir-se e que, por isso, passem a não chegar tarde e a reboque da intervenção. Apelou à necessidade da realização de planos de mobilidade para as principais organizações, com especial destaque para a Universidade de Aveiro.

9. Vários cidadãos presentes alertaram para a necessidade de: valorizar o contributo voluntário cívico para acrescentar conhecimento técnico e encontro de posições mas lamentar o atropelo político-institucional (Fernando Nogueira); aprofundar a democracia participativa (António Garcia); uma maior aposta na bicicleta e para a existência de recursos locais de apoio à mobilidade ciclável, que nem sempre são devidamente aproveitados (Gaspar Pinto Monteiro); uma nova ética no comportamento dos actores políticos, de maior transparência e respeito com os cidadãos (Ilídio Carreira); um maior respeito pelos instrumentos de planeamento existentes; reflectir e interrogar os responsáveis e cidadãos sobre a insanidade do desrespeito sistemático e sucessivo pelos planos e projectos, exemplificando com o caso do Plano Polis, Parque da Sustentabilidade e do Projecto da Avenida (Gil Moreira).

10. Apelou-se à presença dos cidadãos na Assembleia Municipal da próxima segunda-feira (22 Abril 2013) onde a proposta subscrita por todos os partidos com assento parlamentar que recomenda o fim do concurso vai ser discutida e votada.

Por último, cumpre-nos fazer alguns agradecimentos. Ao Prof. Álvaro Seco pela forma qualificada como ajudou a reflectir sobre a cidade, a organização da mobilidade e as consequências das diferentes opções de estacionamento, à Associação Comercial de Aveiro por, uma vez mais, ceder as suas instalações para a reflexão cívica, ao Diário de Aveiro, ao seu director, Ivan Silva, e à jornalista Maria José Santana, pela disponibilidade para apoiar os cidadãos que se organizam colectivamente para reflectir sobre o futuro da cidade, e pela forma como apoiaram a divulgação do evento e a sua moderação, e aos restantes órgãos de comunicação social local (*) pela cobertura jornalística do evento.

Um cumprimento final aos representantes dos partidos políticos pela sua presença e tomada de posição pública, ao Prof. Jorge Carvalho, pela resposta ao nosso apelo de esclarecimento e aos cidadãos de Aveiro pela maciça presença e intervenção cívica vigilante e atenta.

Colectivo de Cidadãos de Aveiro

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(*)http://www.noticiasdeaveiro.pt/pt/28414/aveiro-bragaparques-questiona-concessao-do-estacionamento & http://www.terranova.pt/index.php?idNoticia=122322