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Aposente as velhas ideias para começar a pensar diferente. É mais simples do que você imagina! TEXTO E ENTREVISTAS NATÁLIA NEGRETTI DESIGN KARINA ARRUDA A quela conhecida história de “pen- sar fora da caixa” nunca deixou de ser autêntica. A civilização hu- mana está em constante evolução, e só se evolui quando ideias novas surgem – prin- cipalmente se elas puderem ser adaptadas na vida do indivíduo. “O importante é sem- pre pensar diferente dentro da realidade. Muitas pessoas acham que ‘pensar diferen- te’ é ser excêntrico. Pelo contrário, quando você começa a enxergar a realidade do dia a dia de forma simples, você passa a trans- mitir essa clareza em suas criações, e o seu pensamento fica mais ordenado”, afirma o professor de neurociência em pedagogia João Rilton Franco Correia. Parece, mas não é As definições podem confundir, mas pen- sar diferente nem sempre significa ser criati- vo. “Todo criativo pensa diferente, mas nem todo aquele que pensa diferente é criativo”, ressalta Ana Flávia Farias, proprietária de uma agência de publicidade. A profissional destaca que a criativida- de é um processo que envolve ideias que combinam entre si e, para que algo seja criativo, precisa vir de uma associação de elementos que façam sentido. Ou seja, de nada adianta ter pensamentos superdife- rentes mas que não fazem sentido. “Alguns especialistas até sugerem que o nome seja combinatividade, pois, basicamente, é uma técnica que pode ser aprimorada dia- riamente, de modo que você crie algo novo a partir do seu repertório”, afirma Ana Flá- via. Correia destaca que, para ser conside- rado um pensamento criativo, o que é tido como diferente deve ser inusitado. “Criati- vidade é a capacidade de causar surpresa ao cérebro”, frisa. Isto é, não basta expressar uma ideia diferente se ela não for exposta de uma forma inusitada, que surpreenda quem vai recebê-la. Inovar, sempre Não há dúvidas de que estar envolvido Mente nova 4 Turbine sua Criatividade

Revista Turbine sua Criatividade - Editora Alto Astral - Prof. João Rilton - Abril/2016

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Aposente as velhas ideias para começar a pensar

diferente. É mais simples do que você imagina!

TEXTO E ENTREVISTAS NATÁLIA NEGRETTI DESIGN KARINA ARRUDA

Aquela conhecida história de “pen-sar fora da caixa” nunca deixou de ser autêntica. A civilização hu-

mana está em constante evolução, e só se evolui quando ideias novas surgem – prin-cipalmente se elas puderem ser adaptadas na vida do indivíduo. “O importante é sem-pre pensar diferente dentro da realidade. Muitas pessoas acham que ‘pensar diferen-te’ é ser excêntrico. Pelo contrário, quando você começa a enxergar a realidade do dia a dia de forma simples, você passa a trans-mitir essa clareza em suas criações, e o seu pensamento fica mais ordenado”, afirma o professor de neurociência em pedagogia João Rilton Franco Correia.

Parece, mas não éAs definições podem confundir, mas pen-

sar diferente nem sempre significa ser criati-vo. “Todo criativo pensa diferente, mas nem todo aquele que pensa diferente é criativo”, ressalta Ana Flávia Farias, proprietária de uma agência de publicidade.

A profissional destaca que a criativida-de é um processo que envolve ideias que combinam entre si e, para que algo seja criativo, precisa vir de uma associação de elementos que façam sentido. Ou seja, de nada adianta ter pensamentos superdife-rentes mas que não fazem sentido. “Alguns especialistas até sugerem que o nome seja combinatividade, pois, basicamente, é uma técnica que pode ser aprimorada dia-riamente, de modo que você crie algo novo a partir do seu repertório”, afirma Ana Flá-via.

Correia destaca que, para ser conside-rado um pensamento criativo, o que é tido como diferente deve ser inusitado. “Criati-vidade é a capacidade de causar surpresa ao cérebro”, frisa. Isto é, não basta expressar uma ideia diferente se ela não for exposta de uma forma inusitada, que surpreenda quem vai recebê-la.

Inovar, sempreNão há dúvidas de que estar envolvido

Mentenova

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em projetos criativos requer uma constante inovação. E, para inovar, informação nunca é demais. Ana Flávia sugere estar sempre atento a assuntos variados e fazer ligações entre eles. Por exemplo: se você está em um projeto de arquitetura, pode ler sobre pa-leontologia, música barroca e programação neurolinguística, assuntos distantes entre si, mas que podem influenciar na hora da cria-ção. “O processo cognitivo usado para asso-ciar e manipular áreas de diferentes aspectos, mesmo que de forma lúdica, desenvolve a capacidade de criação, na qual a inovação é gerada pela mistura de diversidades”, desta-ca a profissional.

Para Correia, o desafio de lidar com algo novo todos os dias é compensador, pois faz o indivíduo sair da zona de conforto e busque novas referências. “Em um projeto criativo, você precisa unir três elementos fundamen-tais para que sua proposta tenha viabilidade: técnica, qualidade e inovação”, afirma o es-pecialista. Além disso, conhecer o mercado, ter bom repertório e boas referências são fundamentais para inovar sempre.

Pense e apareçaÉ difícil afirmar se uma pessoa é mais ou

menos criativa do que a outra. Na maioria das vezes, o que difere um indivíduo do outro é sua iniciativa em expor suas ideias. Por isso, é essencial que, por mais mirabolante que pos-sa parecer, você compartilhe sua opinião. No entanto, é preciso saber como e quando ex-pô-la. “Ter pensamentos e ações que diferem das outras pessoas torna a sua comunicação pessoal diferenciada, porém diferenciada não significa eficiente. Se você mantém há-bitos e costumes diferentes da maioria das pessoas, como não assistir televisão e ler li-vros exóticos, pode ser um trunfo, pois você tem informações privilegiadas a respeito de certos assuntos. Porém, para divulgar essas informações, é extremamente importante ter didática e ser respeitoso com a crença do outro. Ainda é preciso desenvolver inteligên-cia interpessoal, saber como mostrar ao ou-tro que você fez uma boa opção através da

sua atitude cotidiana”, explica Ana Flávia.

O professor de neurociência em pedagogia destaca que um passo importante para se pensar diferen-te é o autoconhecimento, afinal, é preciso ter confiança ao defender uma ideia – ainda mais quando ela pode ser considerada oposta de muitas outras. “Só pensamos dife-rente quando nossos pensamentos convergem com a nossa identidade como pessoa, quando compreen-demos a nossa realidade”, destaca.

Os benefícios de pensar “contra a maré” são inúmeros, como maior chance de oportunidades e mais aprendizado, autoconhecimento, autoestima, resiliência e motivação. “O mundo carece de inovação. Culti-var pensamentos e ações diferentes da maioria das pessoas é contribuir para esse processo. O novo, o criati-vo, surge da necessidade daquilo di-ferente ser aceito, para que cumpra o seu propósito de causar surpresa, surpreendendo os padrões comuns, desestabilizando-os e, depois, re-construindo-os sobre os alicerces de uma sociedade que reconhece na inovação e na criatividade a mola propulsora para o desenvolvimento humano”, completa Ana Flávia.

CONSULTORIAS Ana Flávia Farias, proprietária da empresa Laço Criativo (www.lacocriativo.com); João Rilton Franco Correia, coordenador e professor de neurociências em pedagogia no Instituto Brasileiro de Formação de Educadores, em Campinas (SP). 

COMBINATIVIDADEO termo se refere à junção de ideias existentes que, quando combinadas, resultam na criatividade. A definição tem como justificativa, o fato de o ser humano, desde seu princípio histórico, ter agregado conceitos já existentes na natureza para criar novas combinações. Como consequência, quanto mais novas combinações, mais coisas surgiam para serem combinadas. Assim, para que novas ideias sejam despertadas, é preciso ter repertório e combiná-las. Parece que a máxima do químico francês Antoine Lavoisier, de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, também faz sentido quando o assunto é processo criativo.

“Pensar diferente é um estilo de vida e, quando você decide

pensar ‘fora da caixinha’, começa a

se destacar em tudo o que faz”

João Rilton Franco Correia, coordenador e professor de

neurociências em pedagogia

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