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Simbolismo

Simbolismo - Cruz e Souza

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Page 1: Simbolismo -  Cruz e Souza

Simbolismo

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JOÃO DA CRUZ E SOUSA nasceu na cidade de Desterro, hoje Florianópolis, Estado de Santa Catarina, a 24 de novembro de 1862 e f. em Sítio, uma vila do interior do Estado de Minas Gerais, a 19 março de 1898. O lançador do Simbolismo no Brasil, é situado, por alguns estudiosos, junto de Mallarmé e Stefan George, entre os três maiores simbolistas do mundo, formando a "grande tríade harmoniosa". Além de ter uma boa apresentação física, era um homem extremamente culto e elogiado por seus mestres. Mas nada disso, para as pessoas da época, superava o fato de ser negro, o que lhe causou sérios problemas. Em vida, sofreu muito e não conheceu o sucesso. Teve uma vida atribulada e dramática. Cruz e Sousa um amargurado, um infeliz. De seu consórcio nasceram-lhe quatro filhos, tendo-os visto morrer, um a um, ceifados pela tuberculose, moléstia que o levou também ao túmulo. Sua companheira de infortúnio faleceu em um hospício, e assim o poeta passou pela vida marcado por um destino adverso, ferido em todos os seus sentimentos.É nesse ambiente de dor que nasce sua incrível obra, onde transparecem a melancolia e a revolta, porém com versos magicamente ricos e sonoros. Arte é a palavra-chave. Arte libertária, ansiosa, criativa, que foge dos padrões métricos sem perder a classe, a musicalidade. Cruz e Sousa é, sem dúvida, um dos maiores expoentes das poesia brasileira. 

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Antífona

antífona: versículo que se anuncia antes de um salmo;turíbulo: vaso em que se queima incenso nos templos;ara: altar dos sacrifícios nos templos;

mádida: umedecida;dolência: mágoa;réquiem: missa fúnebre;flébil: choroso;Edênico: paradisíaco;

diafaneidade: transparência;alabastro: entre os gregos antigos, pequenoVaso sem asas utilizado para queimar perfumes.

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Forças originais, essência, graça De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres, Desejos, vibrações, ânsias, alentos Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Os mais estranhos

estremecimentos... 

Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte...

eflúvio: emanação invisível que se desprende de um fluido; aroma, perfume;álacre: alegre, jovial;fulva: cor alourada;acre: amargo, áspero;tantálico: infernal;quimérico: fantástico;tropel: desordem;cabalístico: secreto, misterioso.

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Inefável

Nada há que me domine e que me vença Quando a minh'alma mudamente acorda... Ela rebenta em flor, ela transborda Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial Sentença, Condenado do Amor, que se recorda Do Amor e sempre no Silêncio borda D'estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros E tudo vejo dos encantos raros E de outra mais serenas madrugadas!

todas as vozes que procuro e chamo Ouço-as dentro de mim, porque eu as amo Na minh'alma volteando arrebatadas! 

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Renascimento

A Alma não fica inteiramente morta! Vagas Ressurreições do Sentimento Abrem já, devagar, porta por porta, Os palácios reais do Encantamento!

Morrer! Findar! Desfalecer! que importa Para o secreto e fundo movimento Que a alma transporta, sublimiza e exorta, Ao grande Bem do grande Pensamento!

Chamas novas e belas vão raiando, Vão se acendendo os límpidos altares E as almas vão sorrindo e vão orando...

E pela curva dos longínquos ares Ei-las que vêm, como o imprevisto bando Dos albatrozes dos estranhos mares... 

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Características

Não convém ler a poesia de Cruz e Sousa do ponto de vista da biografia sentimental. Ocorre que, ainda que sua visão trágica da existência tenha íntima relação com a sua vida, não há alusões diretas à autobiografia e à confissão: a transfiguração das experiências manifesta-se em seus textos nas alusões a realidade sociais degradantes e degradadas, como a doença, a loucura, a miséria e o preconceito de cor.

Formação filosófica e cientista, realista e naturalista: No emprego de termos científicos e na visão pessimista, combinada com as imprecisões e musicalidades vagamente espiritualistas do Simbolismo e com um individualismo neo-romântico, na transfiguração de seus impulsos pessoais.

A cosmovisão de Cruz e Sousa lembra o Barroco: o mundo terreno é um grande cárcere de cor e infortúnio; o homem, um ser oprimido, vil e desprezível. A única solução seria a fuga, a separação, a transcendentalizarão, a ascensão para outro mundo, espiritual, puro, etéreo, branco. Da tensão “eu” versus “mundo” decorre o emparedamento, a existência é uma prisão. O próprio poeta se autodefine como o “grande triste”.