1. A EDITORA MTODO se responsabiliza pelos vcios do produto no
que concerne sua edio (impresso e apresentao a fim de possibilitar
ao consumidor bem manuse-lo e l-lo). Os vcios relacionados
atualizao da obra, aos conceitos doutrinrios, s concepes ideolgicas
e referncias indevidas so de responsabilidade do autor e/ou
atualizador. Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que
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parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrnico ou
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gravao, sem permisso por escrito do autor e do editor. Impresso no
Brasil Printed in Brazil Direitos exclusivos para o Brasil na lngua
portuguesa Copyright 2014 by EDITORAMTODO LTDA. Uma editora
integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Rua Dona Brgida, 701,
Vila Mariana 04111-081 So Paulo SP Tel.: (11) 5080-0770 / (21)
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Catalogao-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
T198dm Tartuce, Flvio Manual de direito civil: volume nico / Flvio
Tartuce. 4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; So
Paulo: MTODO, 2014. Inclui bibliografia ISBN 978-85-309-5328-7 1.
Direito civil - Brasil. I. Ttulo. 11-0307. CDU: 347(81) Ebook
adquirido na Livrarialivros.com
2. Dedico esta obra aos juristas que, de forma direta ou
indireta, influenciaram na minha formao acadmica, como verdadeiros
gurus intelectuais: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Maria
Helena Diniz, lvaro Villaa Azevedo, Jos Fernando Simo, Gustavo
Tepedino, Cludia Lima Marques, Paulo Lbo, Jos de Oliveira Ascenso,
Rubens Limongi Frana, Slvio Rodrigues, Zeno Veloso, Nelson Nery
Jr., Mrio Luiz Delgado, Anderson Schreiber e Pablo Stolze
Gagliano.
3. NOTA DO AUTOR 4. EDIO Aps um ano muito intenso, o Manual de
Direito Civil Volume nico chega sua 4. edio. Para esta nova verso,
foram includos muitos pensamentos doutrinrios alguns de novas obras
surgidas no ltimo ano , os enunciados aprovados na VI Jornada de
Direito Civil e os principais julgamentos de 2013, especialmente do
Superior Tribunal de Justia. O livro tambm foi revisto, ampliado e
atualizado com as principais leis e normas que surgiram no ltimo
ano. Novas reflexes pessoais foram acrescentadas, muitas em
decorrncia do incio das minhas atividades como professor do
programa de mestrado e doutorado na Faculdade Autnoma de Direito
(FADISP), em So Paulo. Sempre s teras-feiras, tive a feliz
oportunidade de ministrar as disciplinas Funo social e
constitucionalizao do Direito Privado: Direito Existencial e
Direito Patrimonial e Desafios Concretos do Direito Civil
Constitucional. Gostaria de agradecer aos meus orientandos e alunos
pela profundidade e extenso dos debates, que possibilitaram o meu
crescimento acadmico e profissional, em especial a Jos Antonio
Martos (doutorando), lcio Arruda (doutorando), Tas Fernandes Duarte
(doutoranda), Carlos Alexandre Moraes (doutorando), Fbio Ricardo
Rodrigues Brasilino (doutorando), Jos Luiz Toro (doutorando),
Adriana Augusta Telles (doutoranda), Silvia Bellandi Paes
(mestranda), Leandro Eduardo Pereira Lemos (mestrando) e Andr Luiz
Mattos (mestrando). Espero que o prximo ano seja to rico como o
ltimo, at porque ampliarei minha atuao em cursos de ps-graduao
stricto sensu. No poderia deixar de agradbecer Professora Giselda
Hironaka, por mais essa oportunidade, que mudou o meu perfil de
atuao como docente. Agradeo, por fim, minha famlia, por sempre
estar ao meu lado nos momentos em que efetivamente precisei. O meu
afeto minha me Maria Eliana, minha irm Fernanda Tartuce (com quem
convivi ainda mais, por conta da FADISP) e aos meus filhos Enzo e
Las. Por fim, minha Princesa Leia, a quem devo a elaborao deste
Volume nico, que cada vez mais conquista um espao importante no
meio editorial brasileiro. Foi ela quem me convenceu a escrev-lo,
quando eu muito relutava. Amo vocs. Vila Mariana, So Paulo, incio
de novembro de 2013. O autor
4. Nota da Editora: o Acordo Ortogrfico foi aplicado
integralmente nesta obra.
5. SUMRIO 1. ESTUDO DA LEI DE INTRODUO 1.1 Primeiras palavras
sobre a Lei de Introduo 1.2 A Lei de Introduo e a Lei como fonte
primria do Direito Brasileiro. A vigncia das normas jurdicas (arts.
1. e 2. da Lei de Introduo) 1.3 Caractersticas da norma jurdica e
sua aplicao. Anlise do art. 3. da Lei de Introduo 1.4 As formas de
integrao da norma jurdica. Art. 4. da Lei de Introduo 1.4.1 A
analogia 1.4.2 Os costumes 1.4.3 Os princpios gerais de Direito
1.4.4 A equidade 1.5 Aplicao da norma jurdica no tempo. O art. 6.
da Lei de Introduo 1.6 Aplicao da norma jurdica no espao. Os arts.
7. a 19 da Lei de Introduo e o Direito Internacional Pblico e
Privado 1.7 Estudo das antinomias jurdicas 2. PARTE GERAL DO CDIGO
CIVIL DE 2002 2.1 Introduo. Viso filosfica do Cdigo Civil de 2002.
As principais teses do direito civil contemporneo 2.1.1 Direito
Civil Constitucional 2.1.2 A eficcia horizontal dos direitos
fundamentais 2.1.3 O dilogo das fontes 2.1.4 A interao entre as
teses expostas e a viso unitria do ordenamento jurdico 2.2 Parte
geral do Cdigo Civil de 2002. Da pessoa natural
6. 2.2.1 Conceitos iniciais. A capacidade e conceitos
correlatos 2.2.2 O incio da personalidade civil. A situao jurdica
do nascituro 2.2.3 Os incapazes no Cdigo Civil de 2002 2.2.3.1 Dos
absolutamente incapazes 2.2.3.2 Dos relativamente incapazes 2.2.4 A
emancipao 2.2.5 Os direitos da personalidade em uma anlise
civil-constitucional. A ponderao de direitos 2.2.6 O domiclio da
pessoa natural 2.2.7 A morte da pessoa natural. Modalidades e
efeitos jurdicos 2.2.7.1 Morte real 2.2.7.2 Morte presumida sem
declarao de ausncia. A justificao 2.2.7.3 Morte presumida com
declarao de ausncia 2.2.7.4 A comorincia 2.2.8 O estado civil da
pessoa natural. Viso crtica 2.3 Parte geral do Cdigo Civil de 2002.
Da pessoa jurdica 2.3.1 Conceito de pessoa jurdica e suas
classificaes 2.3.2 Da pessoa jurdica de direito privado. Regras e
conceitos bsicos. Anlise do art. 44 do CC 2.3.3 Modalidades de
pessoa jurdica de direito privado e anlise de suas regras
especficas 2.3.3.1 Das associaes 2.3.3.2 Das fundaes particulares
2.3.3.3 Das sociedades 2.3.3.4 Das corporaes especiais. Partidos
polticos e organizaes religiosas 2.3.4 Do domiclio da pessoa
jurdica de direito privado 2.3.5 Da extino da pessoa jurdica de
direito privado 2.3.6 Da desconsiderao da personalidade jurdica 2.4
Parte geral do Cdigo Civil de 2002. Dos bens. Objeto do direito
2.4.1 Primeiras palavras. Diferenas entre bens e coisas. A teoria
do patrimnio mnimo 2.4.2 Principais classificaes dos bens 2.4.2.1
Classificao quanto tangibilidade 2.4.2.2 Classificao dos bens
quanto mobilidade 2.4.2.3 Classificao quanto fungibilidade
7. 2.4.2.4 Classificao quanto consuntibilidade 2.4.2.5
Classificao quanto divisibilidade 2.4.2.6 Classificao quanto
individualidade 2.4.2.7 Classificao quanto dependncia em relao a
outro bem (bens reciprocamente considerados) 2.4.2.8 Classificao em
relao ao titular do domnio 2.4.3 Do bem de famlia. O tratamento
dualista do sistema jurdico 2.4.3.1 Bem de famlia voluntrio ou
convencional 2.4.3.2 Bem de famlia legal 2.5 Parte geral do Cdigo
Civil de 2002. Teoria geral do negcio jurdico 2.5.1 Conceitos
bsicos. Fato, ato e negcio jurdico 2.5.2 Classificaes do negcio
jurdico 2.5.3 Elementos estruturais do negcio jurdico. A Escada
Ponteana 2.5.3.1 Plano da existncia 2.5.3.2 Plano da validade
2.5.3.3 Plano da eficcia 2.5.3.4 A Escada Ponteana e o direito
intertemporal. Anlise do art. 2.035, Caput, do CC. Exemplos prticos
2.5.4 Estudo dos elementos acidentais do negcio jurdico. Condio,
termo e encargo 2.5.5 Vcios ou defeitos do negcio jurdico 2.5.5.1
Do erro e da ignorncia 2.5.5.2 Do dolo 2.5.5.3 Da coao 2.5.5.4 Do
estado de perigo 2.5.5.5 Da leso 2.5.5.6 Da simulao. O
enquadramento da reserva mental 2.5.5.7 Da fraude contra credores
2.5.6 Teoria das nulidades do negcio jurdico 2.5.6.1 Da inexistncia
do negcio jurdico 2.5.6.2 Da nulidade absoluta negcio jurdico nulo
2.5.6.3 Da nulidade relativa ou anulabilidade. Negcio jurdico
anulvel 2.5.6.4 Quadro comparativo. Negcio jurdico nulo (nulidade
absoluta) x negcio jurdico anulvel (nulidade relativa ou
anulabilidade) 2.6 Prescrio e decadncia
8. 2.6.1 Introduo. Frmula para diferenciar a prescrio da
decadncia 2.6.2 Regras quanto prescrio 2.6.3 Regras quanto
decadncia 2.6.4 Quadro comparativo. Diferenas entre a prescrio e a
decadncia 3. TEORIA GERAL DAS OBRIGAES 3.1 O conceito de obrigao e
seus elementos constitutivos 3.1.1 Elementos subjetivos da obrigao
3.1.2 Elemento objetivo ou material da obrigao 3.1.3 Elemento
imaterial, virtual ou espiritual da obrigao 3.2 Diferenas
conceituais entre obrigao, dever, nus e direito potestativo 3.3 As
fontes obrigacionais no direito civil brasileiro 3.4 Breve estudo
dos atos unilaterais como fontes do direito obrigacional 3.4.1 Da
promessa de recompensa 3.4.2 Da gesto de negcios 3.4.3 Do pagamento
indevido 3.4.4 Do enriquecimento sem causa 3.5 Principais
classificaes das obrigaes. Modalidades previstas no Cdigo Civil de
2002 3.5.1 Classificao da obrigao quanto ao seu contedo ou prestao
3.5.1.1 Obrigao positiva de dar 3.5.1.2 Obrigao positiva de fazer
3.5.1.3 Obrigao negativa de no fazer 3.5.2 Classificao da obrigao
quanto complexidade do seu objeto 3.5.2.1 Obrigao simples 3.5.2.2
Obrigao composta 3.5.3 Classificao das obrigaes quanto ao nmero de
pessoas envolvidas. Estudo das obrigaes solidrias 3.5.3.1 Conceitos
bsicos e regras gerais (arts. 264 a 266 do CC) 3.5.3.2 Da
solidariedade ativa (arts. 267 a 274 do CC) 3.5.3.3 Da obrigao
solidria passiva (arts. 275 a 285 do CC) 3.5.4 Classificao das
obrigaes quanto divisibilidade (ou indivisibilidade) do objeto
obrigacional 3.6 O adimplemento das obrigaes (teoria do pagamento)
3.6.1 Primeiras palavras
9. 3.6.2 Do pagamento direto 3.6.2.1 Elementos subjetivos do
pagamento direto. O solvens e o accipiens. Quem paga e quem recebe
3.6.2.2 Do objeto e da prova do pagamento direto (elementos
objetivos do pagamento direto). O que se paga e como se paga
3.6.2.3 Do lugar do pagamento direto. Onde se paga 3.6.2.4 Do tempo
do pagamento. Quando se paga 3.6.3 Das regras especiais de
pagamento e das formas de pagamento indireto 3.6.3.1 Do pagamento
em consignao (ou da consignao em pagamento) 3.6.3.2 Da imputao do
pagamento 3.6.3.3 Do pagamento com sub-rogao 3.6.3.4 Da dao em
pagamento 3.6.3.5 Da novao 3.6.3.6 Da compensao 3.6.3.7 Da confuso
3.6.3.8 Da remisso de dvidas 3.7 Da transmisso das obrigaes 3.7.1
Introduo 3.7.2 Da cesso de crdito 3.7.3 Da cesso de dbito ou assuno
de dvida 3.7.4 Da cesso de contrato 3.8 Do inadimplemento
obrigacional. Da responsabilidade civil contratual 3.8.1
Modalidades de inadimplemento 3.8.2 Regras quanto ao inadimplemento
relativo ou mora 3.8.3 Regras quanto ao inadimplemento absoluto da
obrigao 3.8.4 Dos juros no Cdigo Civil de 2002 3.8.5 Da clusula
penal 3.8.6 Das arras ou sinal 4. RESPONSABILIDADE CIVIL 4.1
Conceitos bsicos da responsabilidade civil. Classificao quanto
origem (responsabilidade contratual x extracontratual). Ato ilcito
e abuso de direito 4.2 Elementos da responsabilidade civil ou
pressupostos do dever de indenizar 4.2.1 Primeiras palavras
conceituais 4.2.2 Conduta humana
10. 4.2.3 A culpa genrica ou lato sensu 4.2.3.1 O dolo 4.2.3.2
Da culpa estrita ou stricto sensu 4.2.4 O nexo de causalidade 4.2.5
Dano ou prejuzo 4.2.5.1 Danos patrimoniais ou materiais 4.2.5.2
Danos morais 4.2.5.3 Danos estticos 4.2.5.4 Danos morais coletivos
4.2.5.5 Danos sociais 4.2.5.6 Danos por perda de uma chance 4.2.5.7
Outras regras importantes quanto fixao da indenizao previstas no
Cdigo Civil de 2002 4.3 A classificao da responsabilidade civil
quanto culpa. Responsabilidade subjetiva e objetiva 4.3.1
Responsabilidade civil subjetiva 4.3.2 A responsabilidade civil
objetiva. A clusula geral do art. 927, pargrafo nico, do CC.
Aplicaes prticas do dispositivo 4.3.3 A responsabilidade objetiva
no Cdigo Civil de 2002. Principais regras especficas 4.3.3.1 A
responsabilidade civil objetiva por atos de terceiros ou
responsabilidade civil indireta 4.3.3.2 A responsabilidade civil
objetiva por danos causados por animal 4.3.3.3 A responsabilidade
civil objetiva por danos causados por prdios em runa 4.3.3.4 A
responsabilidade civil objetiva por danos oriundos de coisas
lanadas das casas (defenestramento) 4.3.3.5 A responsabilidade
civil objetiva no contrato de transporte 4.4 Das excludentes do
dever de indenizar 4.4.1 Da legtima defesa 4.4.2 Do estado de
necessidade ou remoo de perigo iminente 4.4.3 Do exerccio regular
de direito ou das prprias funes 4.4.4 Das excludentes de nexo de
causalidade 4.4.5 Da clusula de no indenizar 5. TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
11. 5.1 Conceito de contrato. Do clssico ao contemporneo. Do
moderno ao ps- moderno 5.2 Principais classificaes contratuais
5.2.1 Quanto aos direitos e deveres das partes envolvidas 5.2.2
Quanto ao sacrifcio patrimonial das partes 5.2.3 Quanto ao momento
do aperfeioamento do contrato 5.2.4 Quanto aos riscos que envolvem
a prestao 5.2.5 Quanto previso legal 5.2.6 Quanto negociao do
contedo pelas partes. Contrato de adeso x contrato de consumo 5.2.7
Quanto presena de formalidades ou solenidades 5.2.8 Quanto
independncia contratual. Os contratos coligados ou conexos 5.2.9
Quanto ao momento do cumprimento 5.2.10 Quanto pessoalidade 5.2.11
Quanto definitividade do negcio 5.3 Princpios contratuais no Cdigo
Civil de 2002 5.3.1 Primeiras palavras 5.3.2 Princpio da autonomia
privada 5.3.3 Princpio da funo social dos contratos 5.3.4 Princpio
da fora obrigatria do contrato (pacta sunt servanda) 5.3.5 Princpio
da boa-f objetiva 5.3.6 Princpio da relatividade dos efeitos
contratuais 5.4 A formao do contrato pelo Cdigo Civil 5.4.1 Fase de
negociaes preliminares ou de puntuao 5.4.2 Fase de proposta,
policitao ou oblao 5.4.3 Fase de contrato preliminar 5.4.4 Fase de
contrato definitivo 5.5 A reviso judicial dos contratos por fato
superveniente no Cdigo Civil e no Cdigo de Defesa do Consumidor
5.5.1 Primeiras palavras 5.5.2 A reviso contratual por fato
superveniente no Cdigo Civil de 2002 5.5.3 A reviso contratual por
fato superveniente no Cdigo de Defesa do Consumidor 5.6 Os vcios
redibitrios no Cdigo Civil 5.7 A evico
12. 5.8 Extino dos contratos 5.8.1 Extino normal dos contratos
5.8.2 Extino por fatos anteriores celebrao 5.8.3 Extino por fatos
posteriores celebrao 5.8.4 Extino por morte de um dos contratantes
6. CONTRATOS EM ESPCIE (CONTRATOS TPICOS DO CC/2002) 6.1 Da compra
e venda (arts. 481 a 532 do CC) 6.1.1 Conceito e natureza jurdica
6.1.2 Elementos constitutivos da compra e venda 6.1.3 A estrutura
sinalagmtica e os efeitos da compra e venda. A questo dos riscos e
das despesas advindas do contrato 6.1.4 Restries autonomia privada
na compra e venda 6.1.4.1 Da venda de ascendente a descendente
(art. 496 do CC) 6.1.4.2 Da venda entre cnjuges (art. 499 do CC)
6.1.4.3 Da venda de bens sob administrao (art. 497 do CC) 6.1.4.4
Da venda de bens em condomnio ou venda de coisa comum (art. 504 do
CC) 6.1.5 Regras especiais da compra e venda 6.1.5.1 Venda por
amostra, por prottipos ou por modelos (art. 484 do CC) 6.1.5.2
Venda a contento ou sujeita prova (arts. 509 a 512 do CC) 6.1.5.3
Venda por medida, por extenso ou ad mensuram (art. 500 do CC)
6.1.5.4 Venda de coisas conjuntas (art. 503 do CC) 6.1.6 Das
clusulas especiais da compra e venda 6.1.6.1 Clusula de retrovenda
6.1.6.2 Clusula de preempo, preferncia ou prelao convencional
6.1.6.3 Clusula de venda sobre documentos 6.1.6.4 Clusula de venda
com reserva de domnio 6.2 Da troca ou permuta (art. 533 do CC)
6.2.1 Conceito e natureza jurdica 6.2.2 Objeto do contrato e relao
com a compra e venda 6.2.3 Troca entre ascendentes e descendentes
6.3 Do contrato estimatrio ou venda em consignao (arts. 534 a 537
do CC) 6.3.1 Conceito e natureza jurdica 6.3.2 Efeitos e regras do
contrato estimatrio
13. 6.4 Da doao (arts. 538 a 564 do CC) 6.4.1 Conceito e
natureza jurdica 6.4.2 Efeitos e regras da doao sob o enfoque das
suas modalidades ou espcies 6.4.2.1 Doao remuneratria 6.4.2.2 Doao
contemplativa ou meritria 6.4.2.3 Doao a nascituro 6.4.2.4 Doao sob
forma de subveno peridica 6.4.2.5 Doao em contemplao de casamento
futuro 6.4.2.6 Doao de ascendentes a descendentes e doao entre
cnjuges 6.4.2.7 Doao com clusula de reverso 6.4.2.8 Doao conjuntiva
6.4.2.9 Doao manual 6.4.2.10 Doao inoficiosa 6.4.2.11 Doao
universal 6.4.2.12 Doao do cnjuge adltero ao seu cmplice 6.4.2.13
Doao a entidade futura 6.4.3 Da promessa de doao 6.4.4 Da revogao
da doao 6.5 Da locao de coisas no CC/2002 (arts. 565 a 578 do CC)
6.5.1 Conceito, natureza jurdica e mbito de aplicao 6.5.2 Efeitos
da locao regida pelo Cdigo Civil 6.6 Do emprstimo. Comodato e mtuo
6.6.1 Introduo. Conceitos bsicos 6.6.2 Do comodato (arts. 579 a 585
do CC) 6.6.3 Do mtuo (arts. 586 a 592 do CC) 6.7 Da prestao de
servio (arts. 593 a 609 do CC) 6.7.1 Conceito e natureza jurdica
6.7.2 Regras da prestao de servios no CC/2002 6.8 Da empreitada
(arts. 610 a 626 do CC) 6.8.1 Conceito e natureza jurdica 6.8.2
Regras da empreitada no CC/2002 6.9 Do depsito (arts. 627 a 652 do
CC) 6.9.1 Conceito e natureza jurdica 6.9.2 Regras quanto ao
depsito voluntrio ou convencional
14. 6.9.3 Do depsito necessrio 6.9.4 Da priso do depositrio
infiel 6.10 Do mandato (arts. 653 a 692 do CC) 6.10.1 Conceito e
natureza jurdica 6.10.2 Principais classificaes do mandato 6.10.3
Principais regras do mandato no CC/2002 6.11 Da comisso (arts. 693
a 709 do CC) 6.12 Da agncia e distribuio (arts. 710 a 721 do CC)
6.13 Da corretagem (arts. 722 a 729 do CC) 6.14 Do transporte
(arts. 730 a 756 do CC) 6.14.1 Conceito e natureza jurdica 6.14.2
Regras gerais do transporte no CC/2002 6.14.3 Do transporte de
pessoas 6.14.4 Do transporte de coisas 6.15 Do seguro (arts. 757 a
802 do CC) 6.15.1 Conceito e natureza jurdica 6.15.2 Regras gerais
do seguro no CC/2002 6.15.3 Do seguro de dano 6.15.4 Do seguro de
pessoa 6.16 Da constituio de renda (arts. 803 a 813 do CC) 6.17 Do
jogo e da aposta (arts. 814 a 817 do CC) 6.18 Da fiana (arts. 818 a
839 do CC) 6.18.1 Conceito e natureza jurdica 6.18.2 Efeitos e
regras da fiana no CC/2002 6.19 Da transao (arts. 840 a 850 do CC)
6.20 Do compromisso (arts. 851 a 853 do CC) 7. DIREITO DAS COISAS
7.1 Introduo. Conceitos de direito das coisas e de direitos reais.
Diferenas entre os institutos e suas caractersticas gerais 7.2
Principais diferenas entre os direitos reais e os direitos pessoais
patrimoniais. Reviso do quadro comparativo 7.3 Da posse (arts.
1.196 a 1.224 do CC) 7.3.1 Conceito de posse e teorias
justificadoras. A teoria da funo social da posse 7.3.2 Diferenas
entre a posse e a deteno. Converso dos institutos
15. 7.3.3 Principais classificaes da posse 7.3.4 Efeitos
materiais e processuais da posse 7.3.4.1 Efeitos da posse quanto
aos frutos 7.3.4.2 Efeitos da posse em relao s benfeitorias 7.3.4.3
Posse e responsabilidades 7.3.4.4 Posse e usucapio. Primeira
abordagem 7.3.4.5 Posse e processo civil. A faculdade de invocar os
interditos possessrios 7.3.4.6 A legtima defesa da posse e o
desforo imediato 7.3.5 Formas de aquisio, transmisso e perda da
posse 7.3.6 Composse ou compossesso 7.4 Da propriedade 7.4.1
Conceitos fundamentais relativos propriedade e seus atributos 7.4.2
Principais caractersticas do direito de propriedade 7.4.3 Disposies
preliminares relativas propriedade. A funo social e socioambiental
da propriedade 7.4.4 A desapropriao judicial privada por
posse-trabalho (art. 1.228, 4. e 5., do CC/2002) 7.4.5 Da
propriedade resolvel e da propriedade fiduciria 7.4.6 Formas de
aquisio da propriedade imvel 7.4.6.1 Das acesses naturais e
artificiais 7.4.6.2 Da usucapio de bens imveis 7.4.6.2.1
Generalidades 7.4.6.2.2 Modalidades de usucapio de bens imveis
7.4.6.2.3 Usucapio imobiliria e direito intertemporal 7.4.6.2.4 A
questo da usucapio de bens pblicos 7.4.6.3 Do registro do ttulo
7.4.6.4 Da sucesso hereditria de bens imveis 7.4.7 Formas de
aquisio da propriedade mvel 7.4.7.1 Da ocupao e do achado do
tesouro. O estudo da descoberta 7.4.7.2 Da usucapio de bens mveis
7.4.7.3 Da especificao 7.4.7.4 Da confuso, da comisto e da adjuno
7.4.7.5 Da tradio 7.4.7.6 Da sucesso hereditria de bens mveis
16. 7.4.8 Da perda da propriedade imvel e mvel 7.5 Direito de
vizinhana (arts. 1.277 a 1.313 do CC) 7.5.1 Conceitos bsicos 7.5.2
Do uso anormal da propriedade 7.5.3 Das rvores limtrofes 7.5.4 Da
passagem forada e da passagem de cabos e tubulaes 7.5.5 Das guas
7.5.6 Do direito de tapagem e dos limites entre prdios 7.5.7 Do
direito de construir 7.6 Do condomnio 7.6.1 Conceito, estrutura
jurdica e modalidades 7.6.2 Do condomnio voluntrio ou convencional
7.6.3 Do condomnio necessrio 7.6.4 Do condomnio edilcio 7.6.4.1
Regras gerais bsicas. Instituio e constituio. A questo da natureza
jurdica do condomnio edilcio 7.6.4.2 Direitos e deveres dos
condminos. Estudo das penalidades no condomnio edilcio 7.6.4.3 Da
administrao do condomnio edilcio 7.6.4.4 Da extino do condomnio
edilcio 7.7 Do direito real de aquisio do promitente comprador
(compromisso de compra e venda de imvel registrado na matrcula) 7.8
Dos direitos reais de gozo ou fruio 7.8.1 Generalidades 7.8.2 Da
superfcie 7.8.3 Das servides 7.8.4 Do usufruto 7.8.5 Do uso 7.8.6
Da habitao 7.8.7 Das concesses especiais para uso e moradia. Novos
direitos reais de gozo ou fruio criados pela Lei 11.481/2007 7.9
Dos direitos reais de garantia 7.9.1 Princpios e regras gerais
quanto aos direitos reais de garantia tratados pelo CC/2002 7.9.2
Do penhor 7.9.3 Da hipoteca
17. 7.9.4 Da anticrese 7.9.5 Da alienao fiduciria em garantia
8. DIREITO DE FAMLIA 8.1 Conceito de direito de famlia e seus
princpios fundamentais 8.1.1 Princpio de proteo da dignidade da
pessoa humana (art. 1., III, da CF/1988) 8.1.2 Princpio da
solidariedade familiar (art. 3., I, da CF/1988) 8.1.3 Princpio da
igualdade entre filhos (art. 227, 6., da CF/1988 e art. 1.596 do
CC) 8.1.4 Princpio da igualdade entre cnjuges e companheiros (art.
226, 5., da CF/1988 e art. 1.511 do CC) 8.1.5 Princpio da no
interveno ou da liberdade (art. 1.513 do CC) 8.1.6 Princpio do
maior interesse da criana e do adolescente (art. 227, caput, da
CF/1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC) 8.1.7 Princpio da afetividade
8.1.8 Princpio da funo social da famlia (art. 226, caput, da
CF/1988) 8.1.9 Princpio da boa-f objetiva 8.2 Concepo
constitucional de famlia 8.3 Do casamento (arts. 1.511 a 1.590 do
CC) 8.3.1 Conceito, natureza jurdica e princpios 8.3.2 Capacidade
para o casamento, impedimentos matrimoniais e causas suspensivas do
casamento 8.3.3 Do processo de habilitao e da celebrao do
casamento. Modalidades especiais de casamento quanto sua celebrao
8.3.3.1 Casamento em caso de molstia grave (art. 1.539 do CC)
8.3.3.2 Casamento nuncupativo (em viva voz) ou in extremis vitae
momentis, ou in articulo mortis (art. 1.540 do CC) 8.3.3.3
Casamento por procurao (art. 1.542 do CC) 8.3.3.4 Casamento
religioso com efeitos civis (arts. 1.515 e 1.516 do CC) 8.3.4 Da
invalidade do casamento 8.3.4.1 Esclarecimentos necessrios 8.3.4.2
Do casamento inexistente 8.3.4.3 Do casamento nulo 8.3.4.4 Do
casamento anulvel 8.3.4.5 Do casamento putativo
18. 8.3.5 Provas do casamento 8.3.6 Efeitos pessoais do
casamento e seus deveres 8.3.7 Efeitos patrimoniais do casamento.
Regime de bens 8.3.7.1 Conceito de regime de bens e seus princpios
8.3.7.2 Regras gerais quanto ao regime de bens 8.3.7.3 Regras
quanto ao pacto antenupcial 8.3.7.4 Regime de bens. Regras
especiais 8.3.8 Dissoluo da sociedade conjugal e do casamento.
Separao e divrcio 8.3.8.1 Conceitos iniciais. O sistema introduzido
pelo Cdigo Civil de 2002 e as alteraes fundamentais institudas pela
Emenda do Divrcio (EC 66/2010) 8.3.8.2 Questes pontuais relativas
ao tema da dissoluo da sociedade conjugal e do casamento aps a
Emenda Constitucional 66/2010 8.3.8.2.1 O fim da separao de direito
em todas as suas modalidades e a manuteno da separao de fato
8.3.8.2.2 Manuteno do conceito de sociedade conjugal. A situao das
pessoas separadas juridicamente antes da EC 66/2010 8.3.8.2.3 A
existncia de modalidade nica de divrcio. Fim do divrcio indireto
8.3.8.2.4 Da possibilidade de se discutir culpa para o divrcio do
casal 8.3.8.2.5 A questo do uso do nome pelo cnjuge aps a EC
66/2010 8.3.8.2.6 O problema da guarda na dissoluo do casamento.
Anlise atualizada com a EC 66/2010 8.3.8.2.7 Alimentos na dissoluo
do casamento e a Emenda do Divrcio 8.4 Da unio estvel 8.4.1
Conceito de unio estvel e seus requisitos fundamentais. Diferenas
entre unio estvel e concubinato 8.4.2 Efeitos pessoais e
patrimoniais da unio estvel 8.4.3 A unio homoafetiva e o seu
enquadramento como unio estvel 8.5 Relaes de parentesco 8.5.1
Conceito, modalidades e disposies gerais (arts. 1.591 a 1.595 do
CC) 8.5.2 Filiao (arts. 1.596 a 1.606 do CC) 8.5.3 Reconhecimento
de filhos (arts. 1.607 a 1.617 do CC)
19. 8.5.3.1 Primeiras palavras. Modalidades de reconhecimento
de filhos 8.5.3.2 Reconhecimento voluntrio ou perfilhao 8.5.3.3
Reconhecimento judicial. Aspectos principais da ao investigatria
8.5.4 Da adoo 8.5.5 Do poder familiar (arts. 1.630 a 1.638 do CC).
O problema da alienao parental 8.6 Dos alimentos no Cdigo Civil de
2002 8.6.1 Conceito e pressupostos da obrigao alimentar 8.6.2
Caractersticas da obrigao de alimentos 8.6.3 Principais
classificaes dos alimentos 8.6.4 Extino da obrigao de alimentos 8.7
Da tutela e da curatela 8.7.1 Da tutela (arts. 1.728 a 1.756 do CC)
8.7.2 Da curatela 9. DIREITO DAS SUCESSES 9.1 Conceitos
fundamentais do direito das sucesses 9.2 Da herana e de sua
administrao 9.3 Da herana jacente e da herana vacante 9.4 Da vocao
hereditria e os legitimados a suceder 9.5 Da aceitao e renncia da
herana 9.6 Dos excludos da sucesso. Indignidade sucessria e
deserdao. Semelhanas e diferenas 9.7 Da ao de petio de herana 9.8
Da sucesso legtima 9.8.1 Primeiras palavras. Panorama geral das
inovaes introduzidas pelo CC/2002 9.8.2 Da sucesso dos descendentes
e a concorrncia do cnjuge 9.8.3 Da sucesso dos ascendentes e a
concorrncia do cnjuge 9.8.4 Da sucesso do cnjuge, isoladamente
9.8.5 Da sucesso dos colaterais 9.8.6 Da sucesso do companheiro. O
polmico art. 1.790 do CC e suas controvrsias principais 9.8.7 Do
direito de representao 9.9 Da sucesso testamentria
20. 9.9.1 Conceito de testamento e suas caractersticas. Regras
fundamentais sobre o instituto 9.9.2 Das modalidades ordinrias de
testamento 9.9.2.1 Do testamento pblico 9.9.2.2 Do testamento
cerrado 9.9.2.3 Do testamento particular 9.9.3 Das modalidades
especiais de testamento 9.9.3.1 Do testamento martimo e do
testamento aeronutico 9.9.3.2 Do testamento militar 9.9.4 Do
codicilo 9.9.5 Das disposies testamentrias 9.9.6 Dos legados
9.9.6.1 Conceito e espcies 9.9.6.2 Dos efeitos do legado e do seu
pagamento 9.9.6.3 Da caducidade dos legados 9.9.7 Do direito de
acrescer entre herdeiros e legatrios 9.9.8 Das substituies
testamentrias 9.9.9 Da reduo das disposies testamentrias 9.9.10 Da
revogao do testamento. Diferenas fundamentais em relao invalidade
9.9.11 Do rompimento do testamento 9.9.12 Do testamenteiro 9.10 Do
inventrio e da partilha 9.10.1 Do inventrio. Conceito, modalidades
e procedimentos 9.10.1.1 Do inventrio judicial 9.10.1.1.1 Inventrio
judicial pelo rito tradicional 9.10.1.1.2 Inventrio judicial pelo
rito sumrio 9.10.1.1.3 Inventrio judicial pelo rito do arrolamento
comum 9.10.1.2 Do inventrio extrajudicial ou por escritura pblica
9.10.2 Da pena de sonegados 9.10.3 Do pagamento das dvidas 9.10.4
Da colao ou conferncia 9.10.5 Da reduo das doaes inoficiosas 9.10.6
Da partilha 9.10.6.1 Da partilha amigvel ou extrajudicial
21. 9.10.6.2 Da partilha judicial 9.10.6.3 Da partilha em vida
9.10.7 Da garantia dos quinhes hereditrios. A responsabilidade pela
evico 9.10.8 Da anulao, da resciso e da nulidade da partilha
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
22. ESTUDO DA LEI DE INTRODUO Sumrio: 1.1 Primeiras palavras
sobre a Lei de Introduo 1.2 A Lei de Introduo e a lei como fonte
primria do Direito brasileiro. A vigncia das normas jurdicas (arts.
1. e 2. da Lei de Introduo) 1.3 Caractersticas da norma jurdica e
sua aplicao. Anlise do art. 3. da Lei de Introduo 1.4 As formas de
integrao da norma jurdica. Art. 4. da Lei de Introduo: 1.4.1 A
analogia; 1.4.2 Os costumes; 1.4.3 Os princpios gerais de Direito;
1.4.4 A equidade 1.5 Aplicao da norma jurdica no tempo. O art. 6.
da Lei de Introduo 1.6 Aplicao da norma jurdica no espao. Os arts.
7. a 19 da Lei de Introduo e o Direito Internacional Pblico e
Privado 1.7 Estudo das antinomias jurdicas. 1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS
SOBRE A LEI DE INTRODUO A antiga Lei de Introduo ao Cdigo Civil o
Decreto-lei 4.657, de 1942, conhecida anteriormente nos meios
jurdicos pelas iniciais LICC. Trata-se de uma norma de
sobredireito, ou seja, de uma norma jurdica que visa a regulamentar
outras normas (leis sobre leis ou lex legum). O seu estudo sempre
foi comum na disciplina de Direito Civil ou de Introduo ao Direito
Privado, pela sua posio topogrfica preliminar frente ao Cdigo Civil
de 1916. A tradio inicialmente foi mantida com o Cdigo Civil de
2002, podendo a citada norma ser encontrada, de forma inaugural,
nos comentrios atual codificao privada.1 Por isso, questes
relativas matria sempre foram e continuavam sendo solicitadas nas
provas de Direito Civil. Porm, apesar desse seu posicionamento
metodolgico, a verdade que a antiga LICC no constitua uma norma
exclusiva do Direito Privado. Por isso, e por bem, a recente Lei
12.376, de 30 de dezembro de 2010, alterou o seu nome de Lei de
Introduo ao Cdigo Civil para Lei de Introduo s Normas do Direito
Brasileiro. Isso porque, atualmente, a norma mais se aplica aos
outros ramos do Direito do que ao prprio Direito Civil. Em outras
palavras, o seu contedo interessa mais Teoria Geral do Direito do
que ao Direito Civil propriamente dito. Por questes
23. didticas e pelo momento de transio, na presente obra, a
norma ser denominada to simplesmente de Lei de Introduo. A Lei de
Introduo possui dezenove artigos que trazem em seu contedo regras
quanto vigncia das leis (arts. 1. e 2.), a respeito da aplicao da
norma jurdica no tempo (arts. 3. a 6.), bem como no que concerne
sua subsistncia no espao, em especial nas questes de Direito
Internacional (arts. 7. a 19). Ademais, atribui-se Lei de Introduo
o papel de apontar as fontes do Direito Privado em complemento
prpria lei. No se pode esquecer que o art. 4. da Lei de Introduo
enuncia as fontes formais secundrias, aplicadas inicialmente na
falta da lei: a analogia, os costumes e os princpios gerais do
Direito. Anote-se que a Lei de Introduo no faz parte do Cdigo Civil
de 2002, como tambm no era componente do Cdigo Civil de 1916. Como
se extrai, entre os clssicos, da obra de Serpa Lopes, ela uma
espcie de lei anexa, publicada originalmente em conjunto com o
Cdigo Civil para facilitar a sua aplicao.2 Feita essa anlise
preliminar, parte-se ao estudo do contedo da Lei de Introduo,
aprofundando- se as questes que mais interessam ao estudioso do
Direito Privado. 1.2 A LEI DE INTRODUO E A LEI COMO FONTE PRIMRIA
DO DIREITO BRASILEIRO. A VIGNCIA DAS NORMAS JURDICAS (ARTS. 1. E 2.
DA LEI DE INTRODUO) O Direito Brasileiro sempre foi filiado escola
da Civil Law, de origem romano-germnica, pela qual a lei fonte
primria do sistema jurdico. Assim ainda o , apesar de todo o
movimento de valorizao do costume jurisprudencial, notadamente pela
emergncia da smula vinculante como fonte do direito, diante da
Emenda Constitucional 45/2005. Como notrio, a alterao
constitucional incluiu o art. 103-A no Texto Maior com a seguinte
redao: O Supremo Tribunal Federal poder, de ofcio ou por provocao,
mediante deciso de dois teros dos seus membros, aps reiteradas
decises sobre matria constitucional, aprovar smula que, a partir de
sua publicao na imprensa oficial, ter efeito vinculante em relao
aos demais rgos do Poder Judicirio e administrao pblica direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder sua reviso ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
Desse modo, haveria uma tendncia de se caminhar para um sistema
prximo Common Law, em que os precedentes jurisprudenciais
constituem a principal fonte do direito. Porm, conforme destaca
Walber de Moura Agra, as smulas vinculantes no so leis, no tendo a
mesma fora dessas.3 A concluso, portanto, pela permanncia, pelo
menos por enquanto, de um sistema essencialmente legal. Como
notrio, o princpio da legalidade est expresso no art. 5., inc. II,
da Constituio Federal de 1988, pelo qual ningum ser obrigado a
fazer ou a deixar de fazer algo seno em virtude da lei. Conceito
interessante de lei aquele concebido por Goffredo Telles Jr.,
seguido pelo autor desta
24. obra, no sentido de ser a norma jurdica um imperativo
autorizante.4 Trata-se de um imperativo, pois emanada de autoridade
competente, sendo dirigida a todos (generalidade). Constitui um
autorizamento, pois autoriza ou no autoriza determinadas condutas.
Tal preciosa construo pode ser seguida por todos os estudiosos do
Direito, desde o estudante de graduao que se inicia, at o mais
experiente jurista ou professor do Direito. Apesar de a lei ser a
fonte primria do Direito, no se pode conceber um Estado Legal puro,
em que a norma jurdica acaba sendo o fim ou o teto para as solues
jurdicas. Na verdade, a norma jurdica apenas o comeo, o ponto de
partida, ou seja, o piso mnimo para os debates jurdicos e para a
soluo dos casos concretos. Vige o Estado de Direito, em que outros
parmetros devem ser levados em conta pelo intrprete do Direito. Em
outras palavras, no se pode conceber que a aplicao da lei descabe
para o mais exagerado legalismo, conforme se extrai das palavras de
Srgio Resende de Barros a seguir destacadas: Desse modo, com
inspirao em Carr de Malberg, pode-se e deve-se distinguir o Estado
de direito do Estado de legalidade. O que ele chamou de Estado
legal hoje se pode chamar de Estado de legalidade: degenerao do
Estado de direito, que pe em risco a justa atuao da lei na enunciao
e concreo dos valores sociais como direitos individuais, coletivos,
difusos. No mero Estado de Legalidade, a lei editada e aplicada sem
levar em conta o resultado, ou seja, sem considerar se da resulta
uma injusta opresso dos direitos. Impera o legalismo, que a forma
mais sutil de autoritarismo, na qual o esprito autoritrio se aninha
e se disfara na prpria lei. O processo legislativo atende
convenincia poltica do poderoso do momento, quando no este in
persona quem edita a norma provisoriamente.5 Pois bem, sendo
concebida a lei como fonte do direito mas no como a nica e
exclusiva , a Lei de Introduo consagra no seu incio regras
relativas sua vigncia. De incio, o art. 1., caput, da Lei de
Introduo, enuncia que Salvo disposio contrria, a lei comea a
vigorar em todo o pas quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada. Nos termos do art. 8., 1., da Lei Complementar 95/1998,
a contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabelecem
perodo de vacncia far-se- com a incluso da data da publicao e do
ltimo dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente sua
consumao integral. Como aponta a doutrina, no interessa se a data
final seja um feriado ou final de semana, entrando em vigor a norma
mesmo assim, ou seja, a data no prorrogada para o dia seguinte.6
Esclarecendo, a lei passa por trs fases fundamentais para que tenha
validade e eficcia as de elaborao, promulgao e publicao. Depois vem
o prazo de vacncia, geralmente previsto na prpria norma. Isso
ocorreu com o Cdigo Civil de 2002, com a previso do prazo de um ano
a partir da publicao (art. 2.044 do CC/2002). De acordo com o
entendimento majoritrio, inclusive da jurisprudncia nacional, a
atual codificao privada entrou em vigor no dia 11 de janeiro de
2003, levando-se em conta a contagem dia a dia (nesse sentido, ver:
STJ, AgRg no REsp 1.052.779/SC, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido,
Primeira Turma, j. 27.10.2009, DJe 19.11.2009; REsp 1.032.952/SP,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 17.03.2009, DJe
26.03.2009 e EDcl no AgRg no REsp 1.010.158/PR, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, j. 23.09.2008, DJe 06.11.2008). De
acordo com o art. 1., 1., da Lei de Introduo, a obrigatoriedade da
norma brasileira passa
25. a vigorar, nos Estados estrangeiros, trs meses aps a
publicao oficial em nosso Pas, previso esta de maior interesse ao
Direito Internacional Pblico. Ainda quanto vigncia das leis,
destaque-se que o art. 1., 2., da Lei de Introduo foi revogado pela
Lei 12.036/2009. Previa o comando: A vigncia das leis, que os
Governos Estaduais elaborem por autorizao do Governo Federal,
depende da aprovao deste e comea no prazo que a legislao estadual
fixar. Segundo aponta Gustavo Mnaco, professor da Universidade de
So Paulo, o dispositivo foi revogado, pondo fim dvida doutrinria
sobre a sua recepo pela Constituio Federal de 1988, diante de
suposto desrespeito tripartio dos poderes.7 Em havendo norma
corretiva, mediante nova publicao do texto legal, os prazos
mencionados devem correr a partir da nova publicao (art. 1., 3., da
Lei de Introduo). A norma corretiva aquela que existe para afastar
equvocos importantes cometidos pelo texto legal, sendo certo que as
correes do texto de lei j em vigor devem ser consideradas como
sendo lei nova. O art. 2. da Lei de Introduo consagra o princpio da
continuidade da lei, pelo qual a norma, a partir da sua entrada em
vigor, tem eficcia contnua, at que outra a modifique ou revogue.
Dessa forma, tem-se a regra do fim da obrigatoriedade da lei, alm
do caso de ter a mesma vigncia temporria. Contudo, no se fixando
este prazo, prolongam-se a obrigatoriedade e o princpio da
continuidade at que a lei seja modificada ou revogada por outra
(art. 2., caput, da Lei de Introduo). A lei posterior revoga a
anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatvel ou quando regule inteiramente a matria de que tratava a
lei anterior (art. 2., 1.). Entretanto, a lei nova, que estabelea
disposies gerais ou especiais a par das j existentes, no revoga nem
modifica a lei anterior (art. 2., 2.). Vejamos dois exemplos
concretos. Inicialmente, imagine-se o caso do Cdigo Civil de 2002,
que disps expressamente e de forma completa sobre o condomnio
edilcio, entre os seus arts. 1.331 a 1.358. Por tal tratamento,
deve ser tida como revogada a Lei 4.591/1964, naquilo que regulava
o assunto (arts. 1. a 27). Trata-se de aplicao da segunda parte do
art. 2., 1., da Lei de Introduo, o que vem sendo confirmado pela
jurisprudncia nacional (STJ, REsp 746.589/RS, Quarta Turma, Rel.
Min. Aldir Guimares Passarinho Junior, j. 15.08.2006, DJU
18.09.2006, p. 327). Como segundo exemplo temos a incidncia do art.
2., 2., da Lei de Introduo na seguinte concluso: o Cdigo Civil
disps de forma especial sobre a locao (arts. 565 a 578), no
prejudicando a lei especial anterior que dispunha sobre a locao
imobiliria, permanecendo esta inclume (Lei 8.245/1991). Tanto isso
verdade que foi introduzida na codificao emergente uma norma de
direito intertemporal, prevendo que a locao de prdio urbano que
esteja sujeita lei especial, por esta continua a ser regida (art.
2.036 do CC/2002). Pois bem, pelo que consta do art. 2. da Lei de
Introduo, o meio mais comum para se retirar a eficcia de uma norma
jurdica a sua revogao, o que pode ocorrer sob duas formas,
classificadas quanto sua extenso: a) Revogao total ou ab-rogao
ocorre quando se torna sem efeito uma norma de forma integral, com
a supresso total do seu texto por uma norma emergente. Exemplo
ocorreu com o Cdigo Civil de 1916, pelo que consta do art. 2.045,
primeira parte, do CC/2002. b) Revogao parcial ou derrogao uma lei
nova torna sem efeito parte de uma lei anterior,
26. como se deu em face da parte primeira do Cdigo Comercial de
1850, conforme est previsto no mesmo art. 2.045, segunda parte, do
CC. No que concerne ao modo, as duas modalidades de revogao
analisadas podem ser assim classificadas: a) Revogao expressa (ou
por via direta) situao em que a lei nova taxativamente declara
revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos que pretende
retirar. Conforme previso do art. 9. da Lei Complementar 95/1998, a
clusula de revogao dever enumerar expressamente a lei ou disposies
revogadas. O respeito, em parte, em relao a tal dispositivo
especial pode ser percebido pela leitura do citado art. 2.045 do
Cdigo Civil, pelo qual revogam-se a Lei 3.071, de 1. de janeiro de
1916 Cdigo Civil e a Primeira Parte do Cdigo Comercial, Lei 556, de
25 de junho de 1850. Entretanto, o atual Cdigo Civil permaneceu
silente a respeito da revogao ou no de algumas leis especiais como
a Lei do Divrcio (Lei 6.515/1977), a Lei de Registros Pblicos (Lei
6.015/1973), a Lei de Condomnio e Incorporao (Lei 4.591/1967),
entre outras. Nesse ltimo ponto residem crticas ao Cdigo Civil de
2002, por ter desobedecido orientao anterior. A questo da revogao
das leis especiais anteriores deve ser analisada caso a caso. b)
Revogao tcita (ou por via oblqua) situao em que a lei posterior
incompatvel com a anterior, no havendo previso expressa no texto a
respeito da sua revogao. O Cdigo Civil de 2002 no trata da revogao
de leis especiais, devendo ser aplicada a revogao parcial tcita que
parece constar do seu art. 2.043 do CC: At que por outra forma se
disciplinem, continuam em vigor as disposies de natureza
processual, administrativa ou penal, constantes de leis cujos
preceitos de natureza civil hajam sido incorporados a este Cdigo.
Assim, vrios preceitos materiais de leis especiais, como a Lei do
Divrcio (Lei 6.515/1973), foram incorporados pelo atual Cdigo
Civil, permanecendo em vigor os seus preceitos processuais,
trazendo a concluso da sua revogao parcial, por via oblqua. Muito
importante lembrar que o art. 2., 3., da Lei de Introduo, afasta a
possibilidade da lei revogada anteriormente repristinar, salvo
disposio expressa em lei em sentido contrrio. O efeito
repristinatrio aquele pelo qual uma norma revogada volta a valer no
caso de revogao da sua revogadora. Esclarecendo: 1) Norma A vlida.
2) Norma B revoga a norma A. 3) Norma C revoga a norma B. 4) A
Norma A (revogada) volta a valer com a revogao (por C) da sua
revogadora (B)? 5) Resposta: No. Porque no se admite o efeito
repristinatrio automtico.
27. Contudo, excepcionalmente, a lei revogada volta a viger
quando a lei revogadora for declarada inconstitucional ou quando
for concedida a suspenso cautelar da eficcia da norma impugnada
art. 11, 2., da Lei 9.868/1999. Tambm voltar a viger quando, no
sendo situao de inconstitucionalidade, o legislador assim o
determinar expressamente. Em suma, so possveis duas situaes. A
primeira delas aquela em que o efeito repristinatrio decorre da
declarao de inconstitucionalidade da lei. A segunda o efeito
repristinatrio previsto pela prpria norma jurdica. Como exemplo da
primeira hiptese, pode ser transcrito o seguinte julgado do
Superior Tribunal de Justia: Contribuio previdenciria patronal.
Empresa agroindustrial. Inconstitucionalidade. Efeito
repristinatrio. Lei de Introduo ao Cdigo Civil. 1. A declarao de
inconstitucionalidade em tese, ao excluir do ordenamento positivo a
manifestao estatal invlida, conduz restaurao de eficcia das leis e
das normas afetadas pelo ato declarado inconstitucional. 2. Sendo
nula e, portanto, desprovida de eficcia jurdica a lei
inconstitucional, decorre da que a deciso declaratria da
inconstitucionalidade produz efeitos repristinatrios. 3. O chamado
efeito repristinatrio da declarao de inconstitucionalidade no se
confunde com a repristinao prevista no artigo 2., 3., da LICC,
sobretudo porque, no primeiro caso, sequer h revogao no plano
jurdico. 4. Recurso especial a que se nega provimento (STJ, 2. T.,
REsp 517.789/AL, Rel. Min. Joo Otvio de Noronha, j. 08.06.2004, DJ
13.06.2005, p. 236). A encerrar o estudo da matria de vigncia das
normas jurdicas, vejamos as suas principais caractersticas e a sua
aplicao concreta. 1.3 CARACTERSTICAS DA NORMA JURDICA E SUA
APLICAO. ANLISE DO ART. 3. DA LEI DE INTRODUO A lei, como fonte
primria do Direito brasileiro, tem as seguintes caractersticas
bsicas: a) Generalidade a norma jurdica dirige-se a todos os
cidados, sem qualquer distino, tendo eficcia erga omnes. b)
Imperatividade a norma jurdica um imperativo, impondo deveres e
condutas para os membros da coletividade. c) Permanncia a lei
perdura at que seja revogada por outra ou perca a eficcia. d)
Competncia a norma, para valer contra todos, deve emanar de
autoridade competente, com o respeito ao processo de elaborao. e)
Autorizante o conceito contemporneo de norma jurdica traz a ideia
de um autorizamento (a norma autoriza ou no autoriza determinada
conduta), estando superada a tese de que no h norma sem sano (Hans
Kelsen).
28. Como outra caracterstica bsica, est consagrado no art. 3.
da Lei de Introduo o princpio da obrigatoriedade da norma, pelo
qual ningum pode deixar de cumprir a lei alegando no conhec-la. Trs
so as correntes doutrinrias que procuram justificar o contedo da
norma: a) Teoria da fico legal, eis que a obrigatoriedade foi
instituda pelo ordenamento para a segurana jurdica.8 b) Teoria da
presuno absoluta, pela qual haveria uma deduo iure et de iure de
que todos conhecem as leis.9 c) Teoria da necessidade social,
amparada, segundo Maria Helena Diniz, na premissa de que as normas
devem ser conhecidas para que melhor sejam observadas, a gerar o
princpio da vigncia sincrnica da lei.10 A ltima das teorias parece
melhor convencer. De fato, no merece alento a tese da fico legal,
pela qual a obrigatoriedade um comando criado pela lei e dirigida a
todos; muito menos a teoria pela qual h uma presuno absoluta (iure
et iure) de que todos conhecem o teor da norma, a partir da sua
publicao. Sobre a tese da presuno, comenta Zeno Veloso, com razo e
filiado teoria da necessidade social: No se deve concluir que o
aludido art. 3. da LICC est expressando uma presuno de que todos
conhecem as leis. Quem acha isto est conferindo a pecha de inepto
ou insensato ao legislador. E ele no estpido. Num Pas em que h um
excesso legislativo, uma superproduo de leis, que a todos
atormenta, assombra e confunde sem contar o nmero enormssimo de
medidas provisrias , presumir que todas as leis so conhecidas por
todo mundo agrediria a realidade.11 Em reforo, constata-se que o
princpio da obrigatoriedade das leis no pode ser visto como um
preceito absoluto, havendo claro abrandamento no Cdigo Civil de
2002. Isso porque o art. 139, III, da codificao em vigor admite a
existncia de erro substancial quando a falsa noo estiver
relacionada com um erro de direito (error iuris), desde que este
seja nica causa para a celebrao de um negcio jurdico e que no haja
desobedincia lei. Alerte-se, em complemento, que a Lei de
Contravenes Penais j previa o erro de direito como justificativa
para o descumprimento da norma (art. 8.). Pois bem, no h qualquer
conflito entre o art. 3. da Lei de Introduo e o citado art. 139,
III, do CC, que possibilita a anulabilidade do negcio jurdico pela
presena do erro de direito, conforme previso do seu art. 171. A
primeira norma Lei de Introduo geral, apesar da discusso da sua
eficcia, enquanto a segunda Cdigo Civil especial, devendo
prevalecer. Concluindo, havendo erro de direito a acometer um
determinado negcio ou ato jurdico, proposta a ao especfica no prazo
decadencial de quatro anos contados da sua celebrao (art. 178, II,
do CC), haver o reconhecimento da sua anulabilidade. Ilustrando,
trazendo interessante concluso de aplicao do erro de direito, da
jurisprudncia trabalhista: Anulao Erro de direito (art. 139, III,
CC) A concesso de benefcio (assistncia mdica suplementar) previsto
em acordo coletivo de trabalho calcada em regulamento j
revogado
29. traduz negcio jurdico eivado por erro substancial a
autorizar sua supresso quando detectado o equvoco (TRT 2. Regio,
Recurso Ordinrio 2.032, Acrdo 20070028367, 7. Turma, Rel. Juza Ctia
Lungov, j. 01.02.2007, DOESP 09.02.2007). Em complemento, a
concretizar o erro de direito, cite-se julgado do Tribunal de
Justia de So Paulo que anulou acordo celebrado na extinta separao
judicial diante de engano cometido pelo marido, que destina esposa,
no acordo de separao, bens incomunicveis seus (TJSP, Apelao Cvel
192.355-4/1-00, Rio Claro, 4. Cmara de Direito Privado, Rel. Des.
nio Santarelli Zuliani, j. 02.02.2006). 1.4 AS FORMAS DE INTEGRAO
DA NORMA JURDICA. ART. 4. DA LEI DE INTRODUO O Direito no lacunoso,
mas h lacunas.12 A frase acima pode parecer um paradoxo sem
sentido, mas no o . A construo reproduzida perfeita. O sistema
jurdico constitui um sistema aberto, no qual h lacunas, conforme
elucida Maria Helena Diniz em sua clssica obra As lacunas no
direito.13 Entretanto, de acordo com as suas lies, as lacunas no so
do direito, mas da lei, omissa em alguns casos. H um dever do
aplicador do direito de corrigir as lacunas (vedao do no julgamento
ou do non liquet), extrado do art. 126 do Cdigo de Processo Civil,
pelo qual O juiz no se exime de sentenciar ou despachar alegando
lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-
aplicar as normas legais; no as havendo, recorrer analogia, aos
costumes e aos princpios gerais de direito.14 A propsito da
classificao das lacunas, perfeita a construo criada por Maria
Helena Diniz, a saber: Lacuna normativa: ausncia total de norma
prevista para um determinado caso concreto. Lacuna ontolgica:
presena de norma para o caso concreto, mas que no tenha eficcia
social. Lacuna axiolgica: presena de norma para o caso concreto,
mas cuja aplicao seja insatisfatria ou injusta. Lacuna de conflito
ou antinomia: choque de duas ou mais normas vlidas, pendente de
soluo no caso concreto. As antinomias sero estudadas oportunamente,
em seo prpria.15 Presentes as lacunas, devero ser utilizadas as
formas de integrao da norma jurdica, tidas como ferramentas de
correo do sistema, constantes dos arts. 4. e 5. da Lei de Introduo.
Anote-se que a integrao no se confunde com a subsuno, sendo a ltima
a aplicao direta da norma jurdica a um determinado tipo ou
fattispecie. O art. 4. da Lei de Introduo enuncia que quando a lei
for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princpios gerais de direito. A primeira dvida
concreta que surge em relao ao comando legal se a ordem nele
prevista
30. deve ou no ser rigorosamente obedecida. Em uma viso
clssica, a resposta positiva. Filiado a essa corrente, pode ser
citado, entre tantos outros, Slvio Rodrigues, para quem No silncio
da lei, portanto, deve o julgador, na ordem mencionada, lanar mo
desses recursos, para no deixar insolvida a demanda.16 No mesmo
sentido, posiciona-se Rubens Limongi Frana.17 Todavia, at pode-se
afirmar que essa continua sendo a regra, mas nem sempre o respeito
a essa ordem dever ocorrer, diante da fora normativa e coercitiva
dos princpios, notadamente daqueles de ndole constitucional. Como
notrio, a Constituio Federal de 1988 prev no seu art. 5., 1., que
as normas que definem direitos fundamentais muitas geradoras de
princpios estruturantes do sistema jurdico , tm aplicao imediata.
Trata-se da eficcia horizontal dos direitos fundamentais, mecanismo
festejado por muitos constitucionalistas, caso de Daniel Sarmento
que leciona: Fala-se em eficcia horizontal dos direitos
fundamentais, para sublinhar o fato de que tais direitos no regulam
apenas as relaes verticais de poder que se estabelecem entre Estado
e cidado, mas incidem tambm sobre relaes mantidas entre pessoas e
entidades no estatais, que se encontram em posio de igualdade
formal.18 A exemplificar, em casos que envolvem a proteo da
dignidade humana (art. 1., III, da CF/1988), no se pode dizer que
esse princpio ser aplicado somente aps o emprego da analogia e dos
costumes e, ainda, se no houver norma prevista para o caso
concreto. Em suma, os princpios constitucionais no podem mais ser
vistos somente como ltimo recurso de integrao da norma jurdica,
como acreditavam os juristas clssicos. Consigne-se, como reforo, o
trabalho de Paulo Bonavides, que apontou a constitucionalizao dos
princpios gerais do direito, bem como o fato de que os princpios
fundamentam o sistema jurdico, sendo tambm normas primrias.19 Em
suma, deve-se reconhecer eficcia normativa imediata aos princpios,
em alguns casos, particularmente naqueles que envolvem os direitos
fundamentais da pessoa, ou de personalidade. Isso porque com o
Estado Democrtico de Direito houve a transposio dos princpios
gerais de direito para princpios constitucionais fundamentais.
Entre os prprios civilistas se contesta o teor do art. 4. da Lei de
Introduo e at mesmo a sua aplicao. Gustavo Tepedino, por exemplo,
ensina que: A civilstica brasileira mostra-se resistente s mudanas
histricas que carrearam a aproximao entre o direito constitucional
e as relaes jurdicas privadas. Para o direito civil, os princpios
constitucionais equivaleriam a normas polticas, destinadas ao
legislador e, apenas excepcionalmente, ao intrprete, que delas
poderia timidamente se utilizar, nos termos do art. 4. da Lei de
Introduo ao Cdigo Civil brasileiro, como meio de confirmao ou de
legitimao de um princpio geral de direito. Mostra-se de evidncia
intuitiva o equvoco de tal concepo, ainda hoje difusamente adotada
no Brasil, que acaba por relegar a norma constitucional, situada no
vrtice do sistema, a elemento de integrao subsidirio, aplicvel
apenas na ausncia de norma ordinria especfica e aps terem sido
frustradas as tentativas, pelo intrprete, de fazer uso da analogia
e de regra consuetudinria. Trata-se, em
31. uma palavra, de verdadeira subverso hermenutica. O
entendimento mostra-se, no entanto, bastante coerente com a lgica
do individualismo oitocentista, sendo indiscutvel o papel
predominante que o Cdigo Civil desempenhava com referncia normativa
exclusiva no mbito das relaes de direito privado.20 Em sntese,
compreendemos que aqueles que seguem a escola do Direito Civil
Constitucional, procurando analisar o Direito Civil a partir dos
parmetros constitucionais, realidade atual do Direito Privado
brasileiro, no podem ser favorveis aplicao obrigatria da ordem
constante do art. 4. da Lei de Introduo de forma rgida e
incontestvel. Esse ltimo entendimento o que deve prevalecer na viso
contempornea do Direito Civil Brasileiro. Superado esse
esclarecimento inicial, parte-se ao estudo especfico das formas de
integrao da norma jurdica, ferramentas de correo do sistema. 1.4.1
A analogia A analogia a aplicao de uma norma prxima ou de um
conjunto de normas prximas, no havendo uma norma prevista para um
determinado caso concreto. Dessa forma, sendo omissa uma norma
jurdica para um dado caso concreto, deve o aplicador do direito
procurar alento no prprio ordenamento jurdico, permitida a aplicao
de uma norma alm do seu campo inicial de atuao. Como exemplo de
aplicao da analogia, prev o art. 499 do CC que lcita a venda de
bens entre cnjuges quanto aos bens excludos da comunho. Como a
norma no , pelo menos diretamente, restritiva da liberdade
contratual, no h qualquer bice de se afirmar que lcita a compra e
venda entre companheiros quanto aos bens excludos da comunho.
Destaque-se que, em regra, o regime de bens do casamento o mesmo da
unio estvel, qual seja, o da comunho parcial de bens (arts. 1.640 e
1.725 do CC). Outro exemplo de aplicao da analogia era a incidncia
do Decreto-lei 2.681/1912, antes do Cdigo Civil de 2002. Previa
esse decreto a responsabilidade civil objetiva das empresas de
estradas de ferro. Por ausncia de lei especfica, esse dispositivo
legal passou a ser aplicado a todos os tipos de contrato de
transporte terrestre. Por uma questo lgica, e pela presena de
lacuna normativa, tal comando legal passou a incidir em ocorrncias
envolvendo bondes, nibus, caminhes, automveis, motos e outros meios
de transporte terrestre. Frise-se, porm, que no h mais a
necessidade de socorro analogia para tais casos, eis que o Cdigo
Civil atual traz o transporte como contrato tpico. Observe-se que
continua consagrada a responsabilidade objetiva do transportador,
pelo que consta dos arts. 734 (transporte de pessoas) e 750
(transporte de coisas) da atual codificao. A analogia pode ser
assim classificada, na esteira da melhor doutrina: a) Analogia
legal ou legis a aplicao de somente uma norma prxima, como ocorre
nos exemplos citados. b) Analogia jurdica ou iuris a aplicao de um
conjunto de normas prximas, extraindo elementos que possibilitem a
analogia. Exemplo: aplicao por analogia das regras da ao
32. reivindicatria para a ao de imisso de posse (TJMG, Agravo
Interno 1.0027.09.183171- 2/0011, Betim, 16. Cmara Cvel, Rel. Des.
Wagner Wilson, j. 12.08.2009, DJEMG 28.08.2009). No se pode
confundir a aplicao da analogia com a interpretao extensiva. No
primeiro caso, rompe-se com os limites do que est previsto na
norma, havendo integrao da norma jurdica. Na interpretao extensiva,
apenas amplia-se o seu sentido, havendo subsuno. Vejamos um exemplo
prtico envolvendo o Cdigo Civil em vigor. O art. 157 do CC consagra
como vcio ou defeito do negcio jurdico a leso, presente quando a
pessoa, por premente necessidade ou inexperincia, submete-se a uma
situao desproporcional por meio de um negcio jurdico. O art. 171,
II, da atual codificao, prev que tal negcio anulvel, desde que
proposta a ao anulatria no prazo decadencial de quatro anos
contados da sua celebrao (art. 178, II). Entretanto, conforme o 2.
do art. 157, pode-se percorrer o caminho da reviso do negcio, se a
parte beneficiada com a desproporo oferecer suplemento suficiente
para equilibrar o negcio. Recomenda-se sempre a reviso do contrato
em casos tais, prestigiando-se a conservao do negcio jurdico e a
funo social dos contratos. Pois bem, vejamos duas hipteses: Hiptese
1. Aplicao do art. 157, 2., do CC, para a leso usurria, prevista no
Decreto-lei 22.626/1933 (Lei de Usura). Nessa hiptese haver
interpretao extensiva, pois o dispositivo somente ser aplicado a
outro caso de leso. Amplia-se o sentido da norma, no rompendo os
seus limites (subsuno). Hiptese 2. Aplicao do art. 157, 2., do CC,
para o estado de perigo (art. 156 do CC). Nesse caso, haver aplicao
da analogia, pois o comando legal em questo est sendo aplicado a
outro instituto jurdico (integrao). Nesse sentido, prev o Enunciado
n. 148 CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil, que: Ao estado de
perigo (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no 2. do art.
157. Muitas vezes, porm, podem existir confuses, no havendo frmula
mgica para apontar se uma determinada situao envolve a aplicao da
analogia ou da interpretao extensiva, devendo as situaes concretas
ser analisadas caso a caso. Regra importante que deve ser captada
que as normas de exceo ou normas excepcionais no admitem analogia
ou interpretao extensiva.21 Entre essas podem ser citadas as normas
que restringem a autonomia privada que, do mesmo modo no admitem
socorro a tais artifcios, salvo para proteger vulnervel ou um valor
fundamental. A ilustrar, imagine-se que um pai quer hipotecar um
imvel em favor de um de seus filhos. Para tanto, haver necessidade
de autorizao dos demais filhos? A resposta negativa, pela ausncia
de tal requisito previsto em lei. Na verdade, h regra que exige tal
autorizao para a venda entre pais e filhos (ascendentes e
descendentes), sob pena de anulabilidade (art. 496 do CC). A norma
no pode ser aplicada por analogia para a hipoteca, salvo para
proteger um filho incapaz, por exemplo.
33. 1.4.2 Os costumes Desde os primrdios do direito, os
costumes desfrutam de larga projeo jurdica. No passado havia certa
escassez de leis escritas, realidade ainda hoje presente nos pases
baseados no sistema da Common Law, caso da Inglaterra. Em alguns
ramos jurdicos, o costume assume papel vital, como ocorre no
Direito Internacional Privado (Lex Mercatoria). Os costumes podem
ser conceituados como sendo as prticas e usos reiterados com
contedo lcito e relevncia jurdica. Os costumes, assim, so formados,
alm da reiterao, por um contedo lcito, conceito adaptado ao que
consta no Cdigo Civil de 2002. Isso porque em vrios dos
dispositivos da novel codificao encontrada referncia aos bons
costumes, constituindo seu desrespeito abuso de direito, uma espcie
de ilcito, pela previso do seu art. 187. Tambm h meno aos bons
costumes no art. 13 do CC, regra relacionada com os direitos da
personalidade, pela qual Salvo por exigncia mdica, defeso ato de
disposio do prprio corpo, quando importar diminuio permanente da
integridade fsica, ou contrariar os bons costumes. Os costumes
podem ser assim classificados: a) Costumes segundo a lei (secundum
legem) incidem quando h referncia expressa aos costumes no texto
legal, como ocorre nos artigos da codificao antes citados (arts. 13
e 187 do CC/2002). Na aplicao dos costumes secundum legem, no h
integrao, mas subsuno, eis que a prpria norma jurdica que aplicada.
b) Costumes na falta da lei (praeter legem) aplicados quando a lei
for omissa, sendo denominado costume integrativo, eis que ocorre a
utilizao propriamente dita dessa ferramenta de correo do sistema.
Exemplo de aplicao do costume praeter legem o reconhecimento da
validade do cheque ps-datado ou pr-datado. Como no h lei proibindo
a emisso de cheque com data para depsito e tendo em vista as
prticas comerciais, reconheceu-se a possibilidade de quebrar com a
regra pela qual esse ttulo de crdito ordem de pagamento vista.
Tanto isso verdade que a jurisprudncia reconhece o dever de
indenizar quando o cheque depositado antes do prazo assinalado.
Nesse sentido, a Smula 370 do STJ prescreve: Caracteriza dano moral
a apresentao antecipada do cheque pr- datado. c) Costumes contra a
lei (contra legem) incidem quando a aplicao dos costumes contraria
o que dispe a lei. Entendemos que, pelo que consta no Cdigo Civil
em vigor, especificamente pela proibio do abuso de direito (art.
187 do CC), no se pode admitir, em regra, a aplicao dos costumes
contra legem. Eventualmente, havendo desuso da lei poder o costume
ser aplicado, o que no pacfico. Tambm aqui, por regra, no h que se
falar em integrao. Na viso clssica do Direito Civil, os costumes
teriam requisitos para aplicao como fonte do direito. Rubens
Limongi Frana apresenta cinco, a saber: a) continuidade; b)
uniformidade; c) diuturnidade; d) moralidade; e) obrigatoriedade.22
Resumindo, afirma o jurista que necessrio que o costume esteja
arraigado na conscincia popular aps a sua prtica durante um tempo
considervel, e, alm disso, goze da reputao de imprescindvel norma
costumeira.23 Por fim, destaque-se que a jurisprudncia consolidada
pode constituir elemento integrador do
34. costume (costume judicirio ou jurisprudencial). Como
exemplo, podem ser citados os entendimentos constantes em smulas
dos Tribunais Superiores (v.g. STF, STJ e TST). A deciso a seguir,
do Superior Tribunal de Justia, traz interessante exemplo de
extenso do costume judicirio em questo envolvendo o direito
processual civil: Embargos de declarao. Agravo regimental contra
deciso que negou seguimento a agravo de instrumento por ausncia de
certido de intimao do acrdo recorrido. Smula n 223 desta corte
superior. Artigo 544, 1., do Cdigo de Processo Civil. Artigo 5.,
Inciso II, da Constituio Federal. Omisso e obscuridade
inexistentes. No h choque entre a Smula n. 223 do Superior Tribunal
de Justia e o princpio insculpido no artigo 5., inciso II, da
Constituio Federal. A repetio constante de certos julgados, de
forma pacfica, surgida com a necessidade de regular uma situao no
prevista de forma expressa na legislao, encerra um elemento de
generalidade, pois cria o que se pode chamar de costume judicirio,
que, muitas vezes, d ensejo edio, pelos Tribunais, dos Enunciados
de Smula, os quais, embora no tenham carter obrigatrio, so acatados
em razo dos princpios da segurana jurdica e economia processual. Se
de modo uniforme o rgo colegiado tem entendido ser necessria a
certido de intimao do acrdo recorrido (Smula n. 223/Superior
Tribunal de Justia), assim o faz levando em conta os pressupostos
recursais, no que se refere s peas essenciais, uma vez que, como se
sabe, o questionado artigo do Cdigo de Processo Civil no apresenta
hipteses numerus clausus, mas apenas exemplificativo. A deciso
judicial volta- se para a composio de litgios. No pea terica ou
acadmica. Contenta-se o sistema com o desate da lide segundo a res
iudicium deducta, o que se deu, no caso ora em exame. incabvel, nos
declaratrios, rever a deciso anterior, reexaminando ponto sobre o
qual j houve pronunciamento, com inverso, em consequncia, do
resultado final. Nesse caso, h alterao substancial do julgado, o
que foge ao disposto no art. 535 e incisos do CPC (RSTJ 30/412).
Embargos de declarao rejeitados. Deciso unnime (STJ, Embargos de
Declarao no Agravo Regimental 280.797/SP, 2. Turma, Rel. Min.
Domingos Franciulli Netto, j. 16.11.2000, DJU 05.03.2001, p. 147).
Sendo analisados os costumes, parte-se ao estudo dos princpios
gerais do Direito, uma das mais importantes fontes do Direito na
atualidade. 1.4.3 Os princpios gerais de Direito O conceito de
princpio constitui construo bsica muitas vezes no conhecida pelos
aplicadores do direito. Vejamos algumas construes doutrinrias que
podem ser teis ao estudioso no seu dia a dia jurdico. Conceito da
Enciclopdia Saraiva de Direito, obra clssica do sculo XX, em
verbete elaborado pelo jurista alagoano Slvio de Macedo: a palavra
princpio vem de principium, que significa incio, comeo, ponto de
partida, origem. Em linguagem cientfica princpio
35. quer dizer fundamento, causa, estrutura. O termo foi
introduzido na filosofia por Anaximandro de Mileto, filsofo
pr-socrtico, que viveu entre 610 a 547 a.C.24 Miguel Reale: Os
princpios so verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como
tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas,
mas tambm por motivos de ordem prtica de carter operacional, isto ,
como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da
praxis.25 Jos de Oliveira Ascenso: Os princpios so as grandes
orientaes formais da ordem jurdica brasileira, que fundam e
unificam normas e solues singulares.26 Francisco Amaral: Os
princpios jurdicos so pensamentos diretores de uma regulamentao
jurdica. So critrios para a ao e para a constituio de normas e
modelos jurdicos. Como diretrizes gerais e bsicas, fundamentam e do
unidade a um sistema ou a uma instituio. O direito, como sistema,
seria assim um conjunto ordenado segundo princpios.27 Maria Helena
Diniz: os princpios so cnones que no foram ditados, explicitamente,
pelo elaborador da norma, mas que esto contidos de forma imanente
no ordenamento jurdico. Observa Jeanneau que os princpios no tm
existncia prpria, esto nsitos no sistema, mas o juiz que, ao
descobri-los, lhes d fora e vida. Esses princpios que servem de
base para preencher lacunas no podem opor-se s disposies do
ordenamento jurdico, pois devem fundar-se na natureza do sistema
jurdico, que deve apresentar-se como um organismo lgico, capaz de
conter uma soluo segura para o caso duvidoso.28 Nelson Nery Jr. e
Rosa Nery: Princpios gerais de direito. So regras de conduta que
norteiam o juiz na interpretao da norma, do ato ou negcio jurdico.
Os princpios gerais de direito no se encontram positivados no
sistema normativo. So regras estticas que carecem de concreo. Tm
como funo principal auxiliar o juiz no preenchimento das lacunas.29
Vislumbradas tais definies, constata-se que confrontados com as
normas jurdicas, os princpios so mais amplos, abstratos, muitas
vezes com posio definida na Constituio Federal. So esses os pontos
que os diferenciam das normas, dotadas de concretismo denota-se um
alto grau de concretude , de uma posio de firmeza, em oposio ao
nexo dentico relativo que acompanha os princpios. Ambos os
conceitos de princpios e normas apontam as decises particulares a
serem tomadas no caso prtico pelo aplicador do direito, existindo
diferena somente em relao ao carter da informao que fornecem. As
normas devero ser sempre aplicadas, sob pena de suportar
consequncias jurdicas determinadas previamente. Pois bem, o prprio
art. 5. da Lei de Introduo traz em seu bojo um princpio: o do fim
social da norma. O magistrado, na aplicao da lei, deve ser guiado
pela sua funo ou fim social e pelo objetivo de alcanar o bem comum
(a pacificao social). O comando legal fundamental, ainda, por ser
critrio hermenutico, a apontar a correta concluso a respeito uma
determinada lei que surge para a sociedade. Ilustrando, entrou em
vigor no Brasil, no ano de 2007, a lei que possibilita o
36. divrcio e o inventrio extrajudiciais (Lei 11.441/2007, que
introduziu o art. 1.124-A no CPC). Como finalidades da nova norma,
a guiar o intrprete, podem ser apontadas a desjudicializao dos
conflitos (fuga do Judicirio), a reduo de formalidades e de
burocracia, a simplicidade, a facilitao de extino dos vnculos
familiares, entre outras. Historicamente, no se pode esquecer que
os princpios j estavam previstos como forma de integrao da norma no
direito romano, de acordo com as regras criadas pelo imperador, as
leges, entre 284 a 568 d.C. Nesse sentido, no se pode perder de
vista dos princpios jurdicos consagrados pelo direito romano ou
mandamentos do direito romano: honeste vivere, alterum non laedere,
suum cuique tribuere (viver honestamente, no lesar a ningum, dar a
cada um o que seu, respectivamente). Tais regramentos continuam
sendo invocados, tanto pela doutrina quanto pela jurisprudncia,
sendo artifcios de argumentao dos mais interessantes. Aplicando um
desses mandamentos, transcreve-se, do Tribunal de Justia de Minas
Gerais: Ao de cobrana. Pagamento indevido. Enriquecimento ilcito.
Restituio. Recurso a que se nega provimento. O enriquecimento sem
causa tem como pressuposto um acrscimo patrimonial injustificado e
a finalidade de restituio ao patrimnio de quem empobreceu. Ele
encontra seu fundamento no velho princpio de justia suum cuique
tribuere, dar a cada um o que seu. Nessa toada, em que pesem a
alardeada boa-f e a situao econmica precria, com base simplesmente
na concepo pura do enriquecimento sem causa, constata-se a
necessidade de o Apelante restituir os valores recebidos
indevidamente ao Apelado (TJMG, Acrdo 1.0024.06.025798-7/001, Belo
Horizonte, 13. Cmara Cvel, Rel. Des. Cludia Maia, j. 10.05.2007,
DJMG 25.05.2007). Conforme destacam Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de
Andrade Nery os princpios jurdicos no precisam estar expressos na
norma.30 A concluso perfeita, devendo ser tida como majoritria.
Exemplifique-se que o princpio da funo social do contrato expresso
no Cdigo Civil de 2002 (arts. 421 e 2.035, pargrafo nico), mas
implcito ao Cdigo de Defesa do Consumidor e mesmo CLT, que trazem
uma lgica de proteo do vulnervel, do consumidor e do trabalhador,
consagrando o regramento em questo, diante do seu sentido coletivo,
de diminuio da injustia social. Com a entrada em vigor do Cdigo
Civil de 2002 ganha fora a corrente doutrinria clssica nacional que
apontou para o fato de no se poder desassociar dos princpios o seu
valor coercitivo, tese defendida por Rubens Limongi Frana em sua
festejada e clssica obra sobre o tema.31 Os princpios gerais devem
assim trilhar o aplicador do direito na busca da justia, estando
sempre baseados na estrutura da sociedade. A partir de todos esses
ensinamentos transcritos, pode-se conceituar os princpios como
fontes do direito, conforme previso do art. 4. da Lei de Introduo,
o que denota o seu carter normativo. Analisando os seus fins, os
princpios gerais so regramentos bsicos aplicveis a um determinado
instituto ou ramo jurdico, para auxiliar o aplicador do direito na
busca da justia e da pacificao social. Sob o prisma da sua origem,
os princpios so abstrados das normas jurdicas, dos costumes, da
doutrina, da jurisprudncia e de aspectos polticos, econmicos e
sociais. O Cdigo Civil de 2002 consagra trs princpios fundamentais,
conforme se extrai da sua exposio de motivos, elaborada por Miguel
Reale, a saber:
37. a) Princpio da Eticidade Trata-se da valorizao da tica e da
boa-f, principalmente daquela que existe no plano da conduta de
lealdade das partes (boa-f objetiva). Pelo Cdigo Civil de 2002, a
boa-f objetiva tem funo de interpretao dos negcios jurdicos em
geral (art. 113 do CC). Serve ainda como controle das condutas
humanas, eis que a sua violao pode gerar o abuso de direito, nova
modalidade de ilcito (art. 187). Por fim, a boa-f objetiva tem a
funo de integrar todas as fases pelas quais passa o contrato (art.
422 do CC). b) Princpio da Socialidade Segundo apontava o prprio
Miguel Reale, um dos escopos da nova codificao foi o de superar o
carter individualista e egosta da codificao anterior. Assim, a
palavra eu substituda por ns. Todas as categorias civis tm funo
social: o contrato, a empresa, a propriedade, a posse, a famlia, a
responsabilidade civil. c) Princpio da Operabilidade Esse princpio
tem dois sentidos. Primeiro, o de simplicidade ou facilitao das
categorias privadas, o que pode ser percebido, por exemplo, pelo
tratamento diferenciado da prescrio e da decadncia. Segundo, h o
sentido de efetividade ou concretude, o que foi buscado pelo
sistema aberto de clusulas gerais adotado pela atual codificao. A
anlise mais profunda de tais princpios e das clusulas gerais consta
da primeira parte do prximo captulo desta obra, em que se busca
explicar a filosofia da atual codificao privada. 1.4.4 A equidade
Na viso clssica do Direito Civil, a equidade era tratada no como um
meio de suprir a lacuna da lei, mas sim como um mero meio de
auxiliar nessa misso.32 Todavia, no sistema contemporneo privado, a
equidade deve ser considerada fonte informal ou indireta do
direito. Alis, aps a leitura do prximo captulo desta obra, no
restar qualquer dvida de que a equidade tambm pode ser tida como
fonte do Direito Civil Contemporneo, principalmente diante dos
regramentos orientadores adotados pela nova codificao. A equidade
pode ser conceituada como sendo o uso do bom-senso, a justia do
caso particular, mediante a adaptao razovel da lei ao caso
concreto. Na concepo aristotlica definida como a justia do caso
concreto, o julgamento com a convico do que justo. Na doutrina
contempornea, ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho que O julgamento por equidade (e no com equidade) tido, em
casos excepcionais, como fonte do direito, quando a prpria lei
atribui ao juiz a possibilidade de julgar conforme os seus
ditames.33 Ora, como pelo Cdigo Civil de 2002 comum essa ingerncia,
no h como declinar a condio da equidade como fonte jurdica, no
formal, indireta e mediata. Ato contnuo de estudo, a equidade, de
acordo com a doutrina, pode ser classificada da seguinte forma: a)
Equidade legal aquela cuja aplicao est prevista no prprio texto
legal. Exemplo pode ser retirado do art. 413 do CC, que estabelece
a reduo equitativa da multa ou clusula penal como um dever do
magistrado (A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo
juiz se a
38. obrigao principal tiver sido cumprida em parte, ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negcio). b) Equidade judicial
presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por
equidade o caso concreto. Isso pode ser notado pelo art. 127 do
CPC, pelo qual o juiz s decidir por equidade nos casos previstos em
lei. Os conceitos expostos so muito parecidos e at se confundem. Na
verdade, no segundo caso h uma ordem ao juiz, de forma expressa, o
que no ocorre dessa forma na equidade legal, mas apenas
implicitamente. At pela confuso conceitual, a classificao acima
perde um pouco a relevncia prtica. No que tange ao art. 127 do CPC,
trata-se de um dispositivo criticvel, uma vez que, na literalidade,
somente autoriza a aplicao da equidade aos casos previstos em lei.
Ora, a justia do caso concreto a prioridade do Direito, no havendo
necessidade de autorizao expressa pela norma jurdica. Ademais,
pode-se dizer que a equidade implcita prpria lei. O dispositivo com
razo criticado, entre tantos, por Miguel Reale, que o considera
como exageradamente rigoroso.34 Por fim, interessa apontar que em
outros ramos jurdicos a equidade considerada nominalmente como
verdadeira fonte do Direito, como acontece no Direito do Trabalho,
pela previso expressa do art. 8. da CLT, nos seguintes termos: As
autoridades administrativas e a Justia do Trabalho, na falta de
disposies legais ou contratuais, decidiro, conforme o caso, pela
jurisprudncia, por analogia, por equidade e outros princpios e
normas gerais de direito, principalmente do direito de trabalho, e,
ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevalea sobre o interesse pblico (texto destacado). O mesmo ocorre
com o Direito do Consumidor, pela meno expressa equidade como ltima
palavra do art. 7., caput, da Lei 8.078/1990, in verbis: Os
direitos previstos neste cdigo no excluem outros decorrentes de
tratados ou convenes internacionais de que o Brasil seja signatrio,
da legislao interna ordinria, de regulamentos expedidos pelas
autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem
dos princpios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. 1.5
APLICAO DA NORMA JURDICA NO TEMPO. O ART. 6. DA LEI DE INTRODUO A
norma jurdica criada para valer ao futuro, no ao passado.
Entretanto, eventualmente, pode uma determinada norma atingir tambm
os fatos pretritos, desde que sejam respeitados os parmetros que
constam da Lei de Introduo e da Constituio Federal. Em sntese,
ordinariamente, a irretroatividade a regra, e a retroatividade, a
exceo . Para que a retroatividade seja possvel, como primeiro
requisito, deve estar prevista em lei. Valendo para o futuro ou
para o passado, tendo em vista a certeza e a segurana jurdica,
determina o art. 5., XXXVI, da CF/1988 que: a lei no prejudicar o
direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada. A
norma constitui outro requisito para a retroatividade.
39. O art. 6. da Lei de Introduo, alm de trazer regra
semelhante pela qual a lei nova ter efeito imediato e geral
respeitados o ato jurdico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada, procura conceituar as categorias acima, da seguinte forma:
a) Direito adquirido: o direito material ou imaterial incorporado
no patrimnio de uma pessoa natural, jurdica ou ente
despersonalizado. Pela previso do 2. do art. 6. da Lei de Introduo,
consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou
algum por ela, possa exercer, como aqueles cujo comeo do exerccio
tenha tempo prefixo, ou condio preestabelecida inaltervel, a
arbtrio de outrem. Como exemplo pode ser citado um benefcio
previdencirio desfrutado por algum. b) Ato jurdico perfeito: a
manifestao de vontade lcita, emanada por quem esteja em livre
disposio, e aperfeioada. De acordo com o que consta do texto legal
(art. 6., 1., Lei de Introduo), o ato jurdico perfeito aquele
consumado de acordo com lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Exemplo: um contrato anterior j celebrado e que esteja gerando
efeitos. c) Coisa julgada: a deciso judicial prolatada, da qual no
cabe mais recurso (art. 6., 3., Lei de Introduo). A partir desses
conceitos, pode-se afirmar que o direito adquirido o mais amplo de
todos, englobando os demais, uma vez que tanto no ato jurdico
perfeito quanto na coisa julgada existiriam direitos dessa
natureza, j consolidados. Em complemento, a coisa julgada tambm
deve ser considerada um ato jurdico perfeito, sendo o conceito mais
restrito. Tal convico pode ser concebida pelo desenho a seguir:
Questo contempornea das mais relevantes saber se a proteo de tais
categorias absoluta. A resposta negativa, diante da forte tendncia
de relativizar princpios e regras em sede de Direito. Em reforo,
vivificamos a era da ponderao dos princpios e de valores, sobretudo
os de ndole constitucional, tema muito bem desenvolvido por Robert
Alexy.35 Ilustrando, inicialmente, h forte tendncia material e
processual em apontar a relativizao da coisa julgada,
particularmente nos casos envolvendo aes de investigao de
paternidade julgadas improcedentes por ausncia de provas em momento
em que no existia o exame de DNA. Nesse sentido, doutrinariamente,
dispe o Enunciado n. 109 do Conselho da Justia Federal, da I
Jornada de Direito Civil, que: A restrio da coisa julgada oriunda
de demandas reputadas improcedentes por insuficincia de prova no
deve prevalecer para inibir a busca da identidade gentica pelo
investigando. Na mesma linha o Superior Tribunal de Justia tem
decises no sentido da
40. possibilidade de relativizao da coisa julgada material em
situaes tais. Nesse sentido, cumpre transcrever o mais famoso dos
precedentes judiciais a respeito do tema: Processo civil.
Investigao de paternidade. Repetio de ao anteriormente ajuizada,
que teve seu pedido julgado improcedente por falta de provas. Coisa
julgada. Mitigao. Doutrina. Precedentes. Direito de famlia. Evoluo.
Recurso acolhido. I No excluda expressamente a paternidade do
investigado na primitiva ao de investigao de paternidade, diante da
precariedade da prova e da ausncia de indcios suficientes a
caracterizar tanto a paternidade como a sua negativa, e
considerando que, quando do ajuizamento da primeira ao, o exame
pelo DNA ainda no era disponvel e nem havia notoriedade a seu
respeito, admite-se o ajuizamento de ao investigatria, ainda que
tenha sido aforada uma anterior com sentena julgando improcedente o
pedido. II Nos termos da orientao da Turma, sempre recomendvel a
realizao de percia para investigao gentica (HLA e DNA), porque
permite ao julgador um juzo de fortssima probabilidade, seno de
certeza na composio do conflito. Ademais, o progresso da cincia
jurdica, em matria de prova, est na substituio da verdade ficta
pela verdade real. III A coisa julgada, em se tratando de aes de
estado, como no caso de investigao de paternidade, deve ser
interpretada modus in rebus. Nas palavras de respeitvel e avanada
doutrina, quando estudiosos hoje se aprofundam no reestudo do
instituto, na busca, sobretudo, da realizao do processo justo, a
coisa julgada existe como criao necessria segurana prtica das
relaes jurdicas e as dificuldades que se opem sua ruptura se
explicam pela mesmssima razo. No se pode olvidar, todavia, que numa
sociedade de homens livres, a Justia tem de estar acima da
segurana, porque sem Justia no h liberdade. IV Este Tribunal tem
buscado, em sua jurisprudncia, firmar posies que atendam aos fins
sociais do processo e s exigncias do bem comum (STJ, REsp
226.436/PR (199900714989), 414113, Data da deciso: 28.06.2001, 4.
Turma, Rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, DJ 04.02.2002, p.
370, RBDF 11/73, RDR 23/354, RSTJ 154/403). Pelo que consta da
ementa do julgado, possvel uma nova ao para a prova da paternidade,
se a ao anterior foi julgada improcedente em momento em que no
existia o exame de DNA. A questo pode ser solucionada a partir da
tcnica de ponderao, desenvolvida, entre outros, por Robert Alexy.36
No caso em questo, esto em conflito a proteo da coisa julgada (art.
5., XXXVI, da CF/1988) e a dignidade do suposto filho de saber quem
o seu pai, o que traduz o direito verdade biolgica (art. 1., III,
da CF/1988). Nessa coliso entre direitos fundamentais, o Superior
Tribunal de Justia posicionou-se favoravelmente ao segundo. Outros
julgados do mesmo Tribunal Superior, mais recentes, tm seguido a
mesma linha de raciocnio (nesse sentido, ver deciso publicada no
Informativo n. 354 do STJ, de abril de 2008 REsp 826.698/MS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 06.05.2008). Cumpre destacar que o Supremo
Tribunal Federal, em deciso ainda mais atual, publicada no seu
Informativo n. 622 (abril de 2011), confirmou a tendncia de mitigao
da coisa julgada. Conforme o relator do julgado, Ministro Dias
Toffoli, h um carter personalssimo, indisponvel e imprescritvel do
reconhecimento do estado de filiao, considerada a preeminncia do
direito geral da personalidade; devendo este direito superar a
mxima da coisa julgada. Ato contnuo, confirmou
41. a premissa de que o princpio da segurana jurdica no seria,
portanto, absoluto, e que no poderia prevalecer em detrimento da
dignidade da pessoa humana, sob o prisma do acesso informao gentica
e da personalidade do indivduo (STF, RE 363.889/DF, rel. Min. Dias
Toffoli, 07.04.2011). Ato contnuo de estudo, quanto relativizao de
proteo do direito adquirido e do ato jurdico perfeito, o Cdigo
Civil em vigor, contrariando a regra de proteo apontada, traz, nas
suas disposies finais transitrias, dispositivo polmico, pelo qual
os preceitos relacionados com a funo social dos contratos e da
propriedade podem ser aplicados s convenes e negcios celebrados na
vigncia do Cdigo Civil anterior, mas cujos efeitos tm incidncia na
vigncia da nova codificao. Enuncia o pargrafo nico do art. 2.035 do
Cdigo em vigor, norma de direito intertemporal: Nenhuma conveno
prevalecer se contrariar os preceitos de ordem pblica, tais como os
estabelecidos por este Cdigo para assegurar a funo social da
propriedade e dos contratos. O dispositivo consagra o princpio da
retroatividade motivada ou justificada, pelo qual as normas de
ordem pblica relativas funo social da propriedade e dos contratos
podem retroagir. No h qualquer inconstitucionalidade na norma, eis
que amparada na funo social da propriedade, prevista no art. 5.,
XXII e XXIII, da Constituio Federal. Quando se l no dispositivo
civil transcrito a expresso conveno, pode-se ali enquadrar qualquer
ato jurdico celebrado, inclusive os negcios jurdicos celebrados
antes da entrada em vigor da nova lei geral privada e cujos efeitos
ainda esto sendo sentidos atualmente, na vigncia da nova codificao.
A norma vem recebendo a correta aplicao pela jurisprudncia
nacional. Fazendo incidir o art. 2.035, pargrafo nico, do CC,
importante questo da multa contratual, do Tribunal de Sergipe:
Civil. Aes declaratrias de inexigibilidade de ttulos e cautelares
de sustao de protestos. Intempestividade. No configurada.
Litispendncia. Extino do feito. Resciso contratual. Atraso. Clusula
penal. Alegao de prejuzo. Desnecessidade. Reduo da multa
convencional. Cabimento. Incidncia sobre o montante no executado do
pacto. Compensao de dvidas. Liquidez. Simples clculos aritmticos.
Exigibilidade das duplicatas. Inocorrncia. Contrato realizado na
vigncia do CC/1916. Regra de transio. Art. 2.035 do NCC. Matria de
ordem pblica. Retroatividade da norma. Protestos indevidos.
Distribuio do nus sucumbencial. Procedncia das aes cautelares.
(...). VIII. Tendo o contrato sido celebrado na vigncia do Cdigo
Civil/1916, aplicam-se, em princpio, as regras deste. Todavia, em
se tratando de normas de ordem pblica, perfeitamente possvel a
retroatividade da Lei nova, consoante regra de transio disposta no
art. 2.035, pargrafo nico, do CC/2002. IX. Em se tratando a reduo
de clusula penal de matria de ordem pblica, impondo a nova Lei,
atravs do art. 413 do CC, uma obrigao ao magistrado em reduzir o
montante da multa cominatria sempre que verificar excesso na sua
fixao, a fim de que seja resguardada a funo social dos contratos,
impe-se a manuteno do decisum que apenas fez incidir a norma
cogente ao caso em apreo; (...) (TJSE, Apelao Cvel 2006212091,
Acrdo 10.214/2008, 2. Cmara Cvel, Rel. Des. Marilza Maynard Salgado
de Carvalho, DJSE 13.01.2009, p. 16).
42. Na mesma linha, colaciona-se deciso do Tribunal Paulista,
que conclui pela retroatividade da boa-f objetiva, fazendo
interessante dilogo com o Cdigo de Defesa do Consumidor:
Seguro-sade. No renovao automtica do plano pela seguradora. alegao
de aumento da sinistralidade. Justificativa no comprovada nos
autos. Impossibilidade de denncia vazia pela parte mais forte da
relao. Malferimento do princpio da boa-f objetiva. Desinteresse
justamente no momento em que o beneficirio mais precisa do servio
contratado situao em que o cancelamento ou a no renovao automtica
podem frustrar o prprio escopo da contratao vantagem exagerada em
desfavor do consumidor. Sentena de procedncia recurso improvido.
Boa-f objetiva. Principiou de interpretao que se aplica espcie.
Arts. 4., III, e 51, IV, todos do CDC, bem como art. 422, aplicvel
aos contratos anteriores a 2003, por fora do art. 2.035, segunda
parte, e pargrafo nico, do mesmo CODEX. Sentena de procedncia.
Recurso improvido (TJSP, Apelao com Reviso 424.075.4/8, Acrdo
3236639, So Paulo, 5. Cmara de Direito Privado, Rel. Des. Oscarlino
Moeller, j. 10.09.2008, DJESP 03.11.2008). A proteo do direito
adquirido, um dos baluartes da segurana jurdica, quando levada ao
extremo engessa o sistema jurdico, no possibilitando a evoluo da
cincia e da sociedade. Por isso que deve entrar em cena a correta
ponderao de valores, especialmente quando entram em cena valores de
ordem pblica com amparo constitucional. O Direito seguro cede espao
para o Direito justo, conforme se extrai das palavras do jovem
constitucionalista Daniel Sarmento: A segurana jurdica ideia que
nutre, informa e justifica a proteo constitucional do direito
adquirido , como j se destacou, um valor de grande relevncia no
Estado Democrtico do Direito. Mas no o nico valor, e talvez no seja
nem mesmo o mais importante dentre aqueles em que se esteia a ordem
constitucional brasileira. Justia e igualdade material, s para
ficar com dois exemplos, so valores tambm carssimos nossa
Constituio, e que, no raro, conflitam com a proteo da segurana
jurdica. Se