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Pesquisa de Ney Wendell sobre o impacto do espetáculo e projeto Cuida Bem de Mim na diminuição da violência nas escolas. Contato: [email protected]
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“Teatro e Afeto: Recepção da Obra Teatral Cuida Bem de Mim”
20 Seminário Nacional de Arte e Educação – Montenegro-RS - 2006
Autor: Ney Wendell
Universidade Federal da Bahia-UFBA
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas-PPGAC
Liceu de Artes e Ofícios da Bahia
Comunicação de Pesquisa
A Pesquisa em Síntese
Título:
O Teatro no Enfrentamento das Violências nas Escolas: experiência do Projeto Cuida Bem de Mim
Objeto:
O impacto artístico-pedagógico da obra teatral Cuida Bem de Mim no público de jovens alunos de 12 escolas públicas de Salvador, Recife e Rio de Janeiro no período de 2004 a 2006.
Recorte
Estudo da obra teatral como método artístico-pedagógico no enfrentamento das violências nas escolas públicas através da análise de questionários aplicados com a platéia, debates,depoimentos e história do projeto.
“Avaliar o efeito produzido é ser capaz de vivenciar a carga energética da obra e a descarga que se produz no espectador”
Patrice Pavis
TEATRO E VIOLÊNCIA
• A relação entre teatro e violência está no embrião do teatro ocidental
• A ação é a base do fenômeno teatral; o diálogo é a manifestação formal mais expressiva
• O teatro é visto como:
o Campo das relações intersubjetivas
o Relação dinâmica de mútua influência palco e platéia
o Palco da mediação dos conflitos entre pessoas, personagens e instituições
• A linguagem teatral é ponto de partida, método e alvo para tratar da violência escolar
• Ao invés de sufocar o conflito, explicitá-lo e administrá-lo no próprio ambiente escolar
O ESPETÁCULO
• É encenado por jovens atores de escolas públicas, oriundos de bairros populares, entre 16 e 21 anos de idade
• O texto foi escrito a partir do registros audiovisuais das 40 Oficinas Dramático-Pedagógicas feitas com mais de 500 líderes e 300
professores.
• O ponto de partida do texto CUIDA BEM DE MIM é o conflito: alunos X alunos,
alunos X professores, professores X professores,
alunos X professores X direção
• Duas histórias cruzam o cotidiano de uma escola pública: a construção do amor entre dois jovens rivais e a degradação da relação entre
alunos, professores e direção • O final da peça aponta a necessidade conjunta de cada um assumir e
desempenhar seu papel dentro da escola, reafirmando vínculos e a necessidade de uma cultura de paz
TIPOS BÁSICOS DE VIOLÊNCIA NO ESPETÁCULO
Violência Física: dramaticamente os alunos e professores e direção se digladiam com a existência de duas facções grupais, mostrando
através da ação teatral:
• intolerância,
• agressões corporais
• destruição do patrimônio
Violência Simbólica: é a violência moral, ética, afetiva e institucional na depredação das relações. É expressa durante o tempo todo no
espetáculo nos seguintes exemplos:
• desvalorização do aluno em sala de aula por parte do professor e vice-versa
• uso do bulling (apelidos depreciativos)
• agressões verbais
• falta de educação qualificada
• falta de condições humanas de trabalho preconceito de classe social e o racismo
REFERÊNCIAIS TEMÁTICOS DO PROJETO
• Violência Física e Violência Simbólica
• Educação e Arte para o Desenvolvimento Humano
• Teatro e Educação
• Cultura de Paz nas Escolas
• Papéis e Relações na Escola
• Preservação do Patrimônio
• Mobilização Estudantil
• Drogas na Escola
• Vínculos Sócio-Afetivos
Grupo de Avaliação do EspetáculoA cada apresentação é formado um grupo com 10% da
platéia que respondem um questionário antes e depois do espetáculo.
O projeto já possui 1200 questionários de 600 jovens de 12 escolas públicas já tabulados e prontos para terem
seus dados analisados
Prática da violência: 78% dos jovens revelam antes de assistir a peça que nunca realizou nenhum ato de violência e
nos questionário pós mostram 80% de ações praticadas referentes a micro-violências. Eles ampliam a visão do que é
violência relacionando com as ações dos personagens.
-Implicação com o problema: antes de assistir a peça apenas 37% colocam a solução da violência na união da comunidade escolar e depois este dado passa para 59%,
relacionando-se com outra resposta onde 29% coloca a cena final onde todos se ajudam como principal solução na peça.
- Aprender a conviver: no dado sobre o que mais aprendeu com o espetáculo 80% das respostas dos jovens
foram categorizadas dentro da competência social, demonstrando como a questão do relacionamento está por
trás das diversas violências.
Estes dados são referentes à pesquisa feita na escola CETOP na cidade de Belford Roxo-RJ - Dezembro de 2005.
Dados Levantados (Exemplo 1)
Mudança na relação: antes 35% coloca que tem um bom relacionamento com os colegas e depois 51%
escolhe melhorar este relacionamento.
-Fazer teatro: 51% dos alunos falam que gostariam de fazer teatro na escola, sendo que 63% dos alunos
nunca tinha ido ao teatro.
-Identificação com os personagens: 31% se idenficaram com Rita e 27% com Sinval que são os dois jovens que mudam a história da peça e da escola depois
que se e escutam e se apaixonam.
- A escola em cena: 78% dos jovens falam que a escola da peça parece com a sua, expondo neste dado
sua visão mais clara sobre o seu contexto escolar.
Dados Levantados (Exemplo 2)
DebatesA cada apresentação é feito um debate de 30 min. com a platéia conduzido pelo grupo de jovens atores. É o diálogo entre palco e
platéia que é gravado e depois analisado.
Momento no qual acontece a reflexão sobre o espetáculo reunindo na platéia alunos, professores e diretores da mesma
escola.
Depoimentos do Debate: exemplo
Professora- Eu fui aquela professora que às vezes
olha pro aluno, que é grossa com o aluno, que beija
o aluno e que, às vezes, precisa politizar esse aluno.
Então na voz do professor de matemática, eu me
achei, na voz da professora de português, eu me
achei. Chorei porque eu tenho pena (emocionada)
com o que tá acontecendo hoje no Colégio. E eu sou
uma das professoras que tô assim igual a professora
de literatura, pedindo pra sair. Por quê? Porque se
perdeu o limite das coisas. Os alunos estão perdendo
os limites. Estão quebrando os móveis, estão
desrespeitando os funcionários, do professor ao
colega, ao vice [...] desse jeito, gente, vocês vão
perder professor por professor.
Aluna - É a primeira vez que vou ao teatro e a realidade às vezes é tão dura pra gente...(chora) Quem está fora não sente, só a gente mesmo que vive a realidade da escola pública é que vê. A gente que é pobre, que vive isso é que sabe. Só nós podemos sentir [...].
“A violência é uma forma de chamar a atenção para a falta. O que tenho de fazer é cuidar da escola, porque
vou ter filhos e netos que vão sentar nestas
cadeiras.” Aluna do Colégio Estadual Senhor do Bonfim – Bahia
Este espetáculo faz parte do Projeto Cuida Bem de Mim realizado há 10 anos pela ONG Liceu de Artes e Ofícios da Bahia e já apresentado para 230 mil pessoas em mais de 790 apresentações, com premiações nacionais e exibição em eventos internacionais. Além da peça, realiza ações artístico-pedagógicos com alunos, professores e diretores nas
escolas.