17
População: Teorias Demográficas Em 2003, o planeta contava com cerca de 6,3 bilhões de habitantes. Do início dos anos 1970 até 2003, o crescimento da população mundial caiu de 2,1% para 1,2% ao ano, o número de mulheres que utilizam algum método anticoncepcional aumentou de 10% para 50% e o número médio de filhos por mulher (taxa de fecundidade) em países desenvolvidos caiu de 6 para 2,7. Ainda assim, esse ritmo continua elevado e, caso se mantenha, a população do planeta será de 9 bilhões em 2050. Desde a antiguidade, o crescimento populacional é tema de reflexão para muitos estudiosos que se preocupam com o equilíbrio entre a organização da sociedade, a dinâmica demográfica e a exploração dos recursos naturais. Na China, há mais de mil anos, textos apontavam as vantagens do que era considerada a quantidade ideal de pessoas para manter um hipotético equilíbrio entre a disponibilidade de terras e a população local, indicando que o governo deveria incentivar as migrações de zonas muito povoadas para outras com menor densidades de ocupação. Na Grécia antiga, Platão e Aristóteles advertiram, como fez Malthus na Inglaterra muitos séculos depois, que não seria possível aumentar as áreas de cultivo na mesma velocidade do crescimento populacional, o que tenderia a aumentar os níveis de pobreza e a escassez de alimentos ao longo de sucessivas gerações. Somente a partir do século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo, o crescimento populacional passou a ser estudado como um fato positivo, uma vez que, quanto mais pessoas houvesse, mais consumidores também haveria. Nessa época, foi publicada a primeira teoria demográfica de grande repercussão, formulada pelo economista inglês Thomas Robert Malthus (1766- 1834). Ao final da Segunda Guerra Mundial surgiu outra teoria demográfica

TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

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Page 1: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

População: Teorias Demográficas

Em 2003, o planeta contava com

cerca de 6,3 bilhões de habitantes. Do

início dos anos 1970 até 2003, o

crescimento da população mundial caiu

de 2,1% para 1,2% ao ano, o número de

mulheres que utilizam algum método

anticoncepcional aumentou de 10% para

50% e o número médio de filhos por

mulher (taxa de fecundidade) em países

desenvolvidos caiu de 6 para 2,7.

Ainda assim, esse ritmo continua elevado e, caso se mantenha, a população

do planeta será de 9 bilhões em 2050.

Desde a antiguidade, o crescimento populacional é tema de reflexão para

muitos estudiosos que se preocupam com o equilíbrio entre a organização da

sociedade, a dinâmica demográfica e a exploração dos recursos naturais.

Na China, há mais de mil anos, textos apontavam as vantagens do que era

considerada a quantidade ideal de pessoas para manter um hipotético equilíbrio

entre a disponibilidade de terras e a população local, indicando que o governo

deveria incentivar as migrações de zonas muito povoadas para outras com menor

densidades de ocupação. Na Grécia antiga, Platão e Aristóteles advertiram, como

fez Malthus na Inglaterra muitos séculos depois, que não seria possível aumentar

as áreas de cultivo na mesma velocidade do crescimento populacional, o que

tenderia a aumentar os níveis de pobreza e a escassez de

alimentos ao longo de sucessivas gerações.

Somente a partir do século XVIII, com o

desenvolvimento do capitalismo, o crescimento

populacional passou a ser estudado como um fato

positivo, uma vez que, quanto mais pessoas houvesse, mais consumidores também

haveria.

Nessa época, foi publicada a primeira teoria demográfica de grande

repercussão, formulada pelo economista inglês Thomas Robert Malthus (1766-

1834). Ao final da Segunda Guerra Mundial surgiu outra teoria demográfica

Page 2: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

importante, a ―neomalthusiana‖, e, em resposta à ela, representantes dos países

subdesenvolvidos elaboraram a chamada ―teoria reformista‖, com conclusões

inversas às das duas teorias demográficas anteriores.

Conheça três teorias demográficas de destaque, surgidas a partir do século

XVIII e outros conceitos básicos sobre demografia.

Características e crescimento da população mundial: Países com mais de

100 milhões de habitantes em 1950, 2003 e 2050

Características e crescimento da população

mundial

• Países com mais de 100 milhões de habitantes em 1950, 2003 e 2050

Países com mais de 100 milhões de habitantes em 1950, 2003 e 2050*

1950 2003 2050*

Ordem País População (em milhões) Ordem País População

(em milhões) Ordem País População (em milhões)

1 China 555 1 China 1 304 1 Índia 1 531

2 Índia 350 2 Índia 1 085 2 China 1 305

3 Estados Unidos 150 3 Estados

Unidos 294 3 Estados Unidos 409

4 Rússia 103 4 Indonésia 220 4 Paquistão 349

5 Brasil 178 5 Indonésia 294

6 Paquistão 154 6 Nigéria 258

7 Bangladesh 147 7 Bangladesh 255

8 Rússia 143 8 Brasil 233

9 Japão 128 9 Etiópia 171

10 Nigéria 124 10 Rep. Dem. do Congo 152

11 México 103 11 México 140

12 Egito 127

13 Filipinas 127

14 Vietnã 118

15 Japão** 110

16 Irã 105

17 Uganda 103

18 Rússia** 101

ONU — Organização das Nações Unidas. Disponível em: <www.un.org/esa/population>. Acesso em: 14 abr. 2004. *Estimativa. **Em 2003, a população russa e japonesa apresentavam crescimento populacional negativo, o que explica a previsão de redução no contingente.

Bibliografia:

Page 3: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

http://www.scipione.com.br/ap/ggb/unidade6_c1_a03.htm. (acesso em 20/08/2006)

Por que a população mundial está envelhecendo? Uma análise que explica o

fenômeno do envelhecimento populacional verificado nos países desenvolvidos e a

tendência de "encolhimento" populacional nessas nações. Revolução Industrial e Crescimento Demográfico : uma reflexão sobre a

importância da industrialização da sociedade no crescimento demográfico dos

países europeus entre os séculos XVIII e XIX. Taxas - Fundamentos básicos para a leitura de dados demográficos : Taxa de

natalidade, taxa de mortalidade, taxa de crescimento vegetativo, taxa de

fecundidade, taxa de mortalidade infantil.

Teoria de Malthus : a mais famosa teoria demográfica, suas concepções,

reflexões e considerações.

Teoria neomalthusiana: teoria que, embora com postulados totalmente diferentes

daqueles utilizados por Malthus, chega à mesma conclusão.

Teoria reformista (marxista) : teoria elaborada em resposta aos malthusianos,

que chega à conclusão inversa às teorias malthusianas, e muito mais adequada aos

interesses terceiro-mundistas.

Por que a população está envelhecendo?

A partir da Segunda Guerra, os avanços na ciência médica – principalmente

a descoberta dos antibióticos – aliados à urbanização causaram uma grande queda

nas taxas de mortalidade, mesmo em países pobres. O crescimento vegetativo

aumentou em todo o planeta até a década de 1970. A partir desse período, as

taxas de mortalidade – em condições normais, excluindo-se, portanto, os países

que sofreram guerras, epidemias ou grandes desastres – tenderam a estabilizar-se

em níveis próximos a 0,6% nos países desenvolvidos e

a continuar apresentando pequenas quedas nos países

subdesenvolvidos.

Em alguns países desenvolvidos, as alterações

comportamentais criadas pela urbanização e a melhoria

do padrão de vida causaram uma queda tão acentuada

dos índices de natalidade que, em alguns anos, o índice

de crescimento vegetativo chegou a ser negativo. Nos

países subdesenvolvidos, de forma geral, embora as

Page 4: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

taxas de natalidade e de mortalidade venham declinando, a do crescimento

vegetativo continua elevada, acima de 1,7% ao ano.

Atualmente, o que se verifica na média mundial é uma queda dos índices de

natalidade e mortalidade, embora em alguns países as taxas ainda se mantenham

muito elevadas. Essa queda está relacionada principalmente ao êxodo rural (saída

de pessoas do campo em direção às cidades) e suas conseqüências no

comportamento demográfico, como:

Maior custo para criar os filhos: é mais caro e difícil criar filhos na

cidade, pois é necessário adquirir maior quantidade de alimentos básicos,

que não são mais cultivados pela família. Além disso, o ingresso dos

dependentes no mercado de trabalho urbano costuma acontecer mais tarde

que no campo, e as necessidades gerais de consumo – com vestuário,

lazer, medicamentos, transportes, energia, saneamento e comunicação –

aumentam substancialmente.

. Acesso a método anticoncepcionais: no meio urbano, as pessoas

passaram a residir próximo a farmácias, hospitais e postos de saúde,

tomando contato com a pílula anticoncepcional, os preservativos, os

métodos de esterilização, entre outros métodos contraceptivos.

. Trabalho feminino extradomiciliar: no meio urbano, aumenta

sensivelmente o percentual de mulheres que trabalham fora e

desenvolvem carreira profissional. Para essas mulheres, sucessivas

gravidezes acarretam queda no padrão de vida e comprometem sua

atividade profissional.

. Aborto: por ser uma ação ilegal na maioria dos países, os índices de

abortos clandestinos são desconhecidos. Sabe-se, porém, que a

urbanização elevou bastante a sua ocorrência, contribuindo para uma

queda da natalidade.

. Acesso a assistência médica, saneamento básico e programas de

vacinação: nas cidades, a expectativa de vida é maior que no campo.

Portanto, com a urbanização, principalmente nos países subdesenvolvidos,

caem as taxas de mortalidade. Mas isso não significa que a população

esteja vivendo melhor. Em muitos casos, está apenas vivendo mais.

Page 5: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

. A partir da Segunda Guerra, os avanços na ciência médica –

principalmente a descoberta dos antibióticos – aliados à urbanização

causaram uma grande queda nas taxas de mortalidade, mesmo em países

pobres. O crescimento vegetativo aumentou em todo o planeta até a

década de 1970. A partir desse período, as taxas de mortalidade – em

condições normais, excluindo-se, portanto, os países que enfrentaram

guerras, epidemias ou grandes desastres – tenderam a estabilizar-se em

níveis próximos a 0,6% nos países desenvolvidos e a continuar

apresentando pequenas quedas nos países subdesenvolvidos.

Em alguns países desenvolvidos, as alterações comportamentais

criadas pela urbanização e a melhoria do padrão de vida causaram uma

queda tão acentuada dos índices de natalidade que, em alguns anos, o

índice de crescimento vegetativo chegou a ser negativo. Nos países

subdesenvolvidos, de forma geral, embora as taxas de natalidade e de

mortalidade venham declinando, a de crescimento vegetativo continua

elevada, acima de 1,7% ao ano.

Bibliografia: MOREIRA, J.C. SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo : Scipione, 2005. p.435.

Revolução Industrial e Crescimento

Demográfico

Calcula-se que, neste início do século XXI, a cada ano, mais de 80 milhões

de pessoas passem a habitar a Terra, uma população equivalente à da Alemanha.

Esses novos seres humanos concentram-se principalmente na África, na Ásia e na

América Latina. Justamente nessas regiões estão situados os países que

apresentam os maiores índices de crescimento demográfico do mundo.

No decorrer da

história da humanidade,

de modo geral, o ritmo de

crescimento populacional

Page 6: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

foi lento. A natalidade

elevada era acompanhada

pela mortalidade quase

na mesma proporção. A

fome, as epidemias e as

catástrofes naturais

chegavam a dizimar

povos inteiros.

Peste Negra na Idade Média

Foi a partir dos

séculos XVII e XVIII que

o crescimento da

população acelerou-se.

Inicialmente, foi um

fenômeno restrito à

Europa, decorrente das

transformações no modo

de vida trazidas pela

Revolução Industrial.

A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, teve forte repercussão na

organização socioespacial: houve intenso processo de migração do campo para a

cidade, além de mudanças de hábitos e novas relações de trabalho. As condições

de vida nas áreas industriais eram inicialmente precárias, mas aos poucos

ocorreram melhorias sanitárias significativas, e a população urbana passou a ter

acesso a serviços de saúde. A Revolução Industrial, enfim, não foi apenas uma

transformação no modo de produzir mercadorias, mas uma transformação

tecnológica e científica que atingiu todas as áreas do conhecimento, entre elas a

medicina.

A solução de problemas sanitários

e o avanço da medicina contribuíram para

a diminuição da mortalidade infantil e da

mortalidade da população em geral.

A elevação da expectativa de vida levou

ao aumento do número de habitantes nos

países que primeiramente se

industrializaram.

A vacina contra a varíola foi a A VARÍOLA

Page 7: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

descoberta médica mais importante para o

crescimento populacional entre o final do

século XVIII e o início do século XIX. Graças

a ela e a outros fatores, as taxas de

mortalidade se reduziram, e a natalidade

permaneceu por longo tempo (cerca de 100

anos) em patamares elevados.

Outros fatores são considerados

responsáveis pela aceleração do crescimento

populacional dos países industrializados

europeus do século XIX, como a utilização

generalizada do trabalho infantil nesse

período, que pode ter estimulado o aumento

do número de filhos para elevar a renda

familiar. Assim, o crescimento populacional

seria resultado não apenas da diminuição da

mortalidade, mas também do aumento da

natalidade.

Trabalho infantil e feminino em indústria têxtil

. Países mais populosos em 2003

país população (em milhões)

1 China 1304 2 Índia 1065 3 Estados Unidos 294 4 Indonésia 220 5 Brasil 178 6 Paquistão 153

Classificada como uma das enfermidades mais devastadoras da humanidade, a varíola foi considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1980. No entanto, a doença voltou às manchetes de jornais em virtude da suposição de que ela pudesse ser utilizada como arma biológica.

Acredita-se que a varíola tenha surgido há mais de três mil anos, provavelmente na Índia ou no Egito. De lá para cá, ela se espalhou pelo mundo, causou inúmeras epidemias, aniquilou populações inteiras (como diversos povos indígenas brasileiros) e mudou o curso da história. Marcas causadas pela doença foram encontradas na face da múmia do faraó Ramsés II. A doença atingiu também personagens importantes da história ocidental, como a rainha Maria II, da Inglaterra, o rei Luiz I, da Espanha, o imperador José I, da Áustria, e o rei Luiz XV, da França.

O vírus da varíola pertence à mesma família dos vírus causadores de doenças próprias do gado bovino (a varíola bovina) e de outros animais.

No dia 14 de maio de 1796, o médico inglês Edward Jenner retirou pequena quantidade de sangue das mãos de uma camponesa que havia sido infectada com o vírus bovino e o inoculou em um garoto de oito anos. Com o tempo, constatou-se que a criança havia se tornado imune à varíola. Jenner realizou esse experimento após observar que pessoas antes infectadas com o vírus da varíola bovina (bem mais branda) nunca manifestavam a varíola humana: estava descoberta a vacina contra a enfermidade. A descoberta de Jenner mudou a história da imunologia – a própria palavra vacina vem do latim vaccinus, de vacca (vaca). (FERREIRA, Pablo. Assessoria de Imprensa da Fiocruz,

http://www.fiocruz.br/ccs/glossario/variola.htm - acesso em 24/03/2004 - adaptado ) in LUCCI, Elian Alabi ett all. Território e sociedade no mundo globalizado – geografia geral e do Brasil. São Paulo : Saraiva, 2005. p.316.

Bibliografia: LUCCI, Elian Alabi ett all. Território e sociedade no mundo globalizado – geografia geral e do Brasil. São Paulo : Saraiva, 2005. p.31

Page 8: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

Taxas Demográficas - Fundamentos básicos

.

1 -Taxa de natalidade

Número de nascidos vivos* em um ano por mil

habitantes. É a relação entre os nascimentos anuais e a

população total, expressa por mil habitantes.

. *não incluiu os natimortos . Exemplo: .

Nascimentos anuais: 775.000 População total: 55.173.000 habitantes Taxa de natalidade:

775.000 x 1000 = 14%o

55.173.000 .

Taxa de natalidade é 14%o ou 14/1000 (lê-

se catorze crianças nascidas vivas para cada grupo de mil habitantes num ano) .

??

0/00 ??

.

Expressa-se o resultado anterior assim: 1,4% = "Hum vírgula

quatro por cento" .

2 -Taxa de mortalidade

Número de óbitos em um ano por mil habitantes. É

calculada a partir da relação entre óbitos anuais, multiplicados

por mil, e a população. Exemplo:

.

Óbitos anuais: 335.000 População total: 55.173.000 habitantes Taxa de mortalidade:

335.000 x 1000 = 6%o

55.173.000 .

Taxa de mortalidade é 6%o ou 6/1000 (lê-se

seis pessoas morreram para cada grupo de mil

habitantes num ano) .

.

Page 9: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

Expressa-se o resultado anterior assim: 0,6% = "Zero vírgula seis

por cento"

As taxas de natalidade e de mortalidade são

expressas em porcentagem. Assim, baseando-se nos dados dos

exemplos acima (14%o e 6%o), concluímos que a:

taxa de natalidade = 1,4% / taxa de mortalidade =

0,6%. ..

3 -Taxa de crescimento vegetativo

Diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de

mortalidade. Conforme exemplos de taxas de natalidade e

mortalidade anteriores, subtraímos a menor da maior assim:

.

Taxa de natalidade: 14%o Taxa de mortalidade: -6%o Crescimento vegetativo: 8%o

Crescimento vegetativo: 8%o ou 8%

Obs: a taxa de crescimento vegetativo é também denominada taxa de crescimento natural. Assim,

baseando-se no resultado do exemplos acima

concluímos que o crescimento vegetativo é de

0,8%.

. 4 -Taxa de fecundidade

Número médio de filhos por mulher em idade de procriar,

ou seja, entre 15 e 49 anos.

A taxa de fecundidade da mulher brasileira caiu de 6,28

filhos, em 1960, para 2,38 filhos, em 2000. Nas famílias mais

pobres, a queda da fecundidade está muito relacionada à

esterilização. As mulheres pobres têm dificuldade de acesso a

informações e a serviços de contracepção, e muitas vezes

acabam optando pela esterilização logo após o primeiro parto.

Em 1970 a mulher brasileira tinha, em média, 5,8

filhos. Trinta anos depois, esta média era de 2,3 filhos.

Page 10: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

No mundo, no final do século XX, a taxa de fecundidade

era de 2,9 filhos por mulher, Nos países mais desenvolvidos

esta taxa era de 1,5, e nos países menos desenvolvidos, em

torno de 3,2.

Segundo a ONU, a taxa média de fecundidade

necessária para a reposição da população é de 2,1 filhos por

mulher. Os dados da tabela a seguir mostram que, enquanto

em muitos países essa taxa supera esse valor, em outros ela é

inferior. Nesses casos, ou esses países incentivam a natalidade

(caso dos Países Baixos, que na década de 1990 estava com

crescimento populacional negativo) e aceitam a entrada de

imigrantes (caso da Itália), ou suas populações tendem a

diminuir, como mostram projeções da ONU para 2050.

Taxa de crescimento populacional

Países Taxa de crescimento da população entre 2000 e 2005 (% ao ano)

Taxa de fecundidade

Somália 4,2 7 Afeganistão 3,9 7 Arábia Saudita 2,9 5 Paraguai 2,4 4 Índia 1,5 3 Brasil 1,2 2 Estados Unidos 1,0 2 China 0,7 2 Países Baixos 0,5 2 Alemanha 0,1 1 Itália -0,1 1 Rússia -0,5 1

ONU: Divisão de Estatísticas. Disponível em http://unstats.um.org. Acesso em: 14 abr. 2004. Divisão de estatísticas do Banco Mundial. Disponível em http://devdata.worldbank.org. Acesso em 14 abr. 2004.

. Leia mais em http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/fecundidade.html .

Bibliografia: LUCCI, Elian Alabi ett all. Território e

Page 11: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

sociedade no mundo globalizado – geografia geral e do Brasil. São Paulo : Saraiva, 2005. p.315. Bibliografia: MOREIRA, J.C. SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo : Scipione, 2005. p.434.

Teoria de Malthus

Em 1798,

Malthus publicou

seu Ensaio sobre

a população, no

qual desenvolveu

uma teoria

demográfica que se apoiava

basicamente em dois

postulados:

1) crescimento da

população;

2) produção de

alimentos.

A população, se não ocorrerem guerras, epidemias, desastres naturais,

etc., tenderia a duplicar a cada 25 anos. Ela cresceria, portanto, em progressão

geométrica (2, 4, 8, 16, 32...) e constituiria um fator variável, que cresceria sem

parar.

O crescimento da produção de alimentos ocorreria apenas em

progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10...) e possuiria certo limite de produção,

por depender de um fator fixo: a própria extensão territorial dos continentes.

Ao considerar esses dois postulados, Malthus concluiu que o ritmo de

crescimento populacional seria mais acelerado que o ritmo de crescimento da

produção de alimentos (progressão geométrica versus progressão aritmética).

Previu também que um dia as possibilidades de aumento da área cultivada

Page 12: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

estariam esgotadas, pois todos os continentes estariam plenamente ocupados pela

agropecuária e, no entanto, a população mundial ainda continuaria crescendo.

Conseqüências da dinâmica demográfica malthusiana:

A conseqüência disso seria a fome, ou seja, a falta de alimentos para

abastecer as necessidades de consumo do planeta, e as mortes, doenças, guerras

civis, disputas por territórios, etc.

Proposta de Malthus:

Para evitar esse flagelo, Malthus, que além de economista era pastor da

Igreja Anglicana, na época contrária aos métodos anticoncepcionais, propunha que

as pessoas só tivessem filhos se possuíssem terras cultiváveis para poder alimenta-

los.

Falhas da teoria de Malthus:

Hoje, verifica-se que suas previsões não se concretizaram: a população do

planeta não duplicou a cada 25 anos, e a produção de alimentos se acelerou graças

ao desenvolvimento tecnológico. Mesmo que se considere uma área fixa de cultivo,

a quantidade produzida aumentou, uma vez que a produtividade (quantidade

produzida por área; toneladas de arroz por hectare, por exemplo) também vem

aumentando ao longo das décadas.

Por que Malthus errou?

Essa teoria, quando foi elaborada, parecia muito consistente. Os erros de

previsão estão ligados principalmente às limitações da época para a coleta de

dados, já que Malthus tirou suas conclusões partindo da observação do

comportamento demográfico em uma determinada região, com população

predominantemente rural, e as considerou válidas para todo o planeta no

transcorrer da história, sem considerar os progressos técnicos advindos da natural

evolução humana. Não previu os efeitos decorrentes da urbanização na evolução

demográfica e do progresso tecnológico aplicado à agricultura.

Page 13: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

Reflexões finais

Desde que Malthus apresentou

sua teoria, são comuns os

discursos que relacionam de

forma simplista a ocorrência

da fome no planeta ao

crescimento populacional. A

fome que castiga mais da

metade da população mundial

é resultado da má distribuição

da renda e não da carência na

produção de alimentos. Nos

primeiros anos do século XXI,

a produção agropecuária

mundial era suficiente para

alimentar cerca de 9 bilhões de

pessoas, enquanto a população

do planeta era pouco superior

a 6 bilhões. A fome existe

porque as pessoas não

possuem o dinheiro necessário

para suprir suas necessidades

básicas, fenômeno este

facilmente observável no

Brasil, onde, apesar do enorme

volume de alimentos

exportados e de as prateleiras

dos supermercados estarem

sempre lotadas, a panela de

muitos trabalhadores

permanece vazia ou sua

alimentação é muito mal

balanceada.

.

.

.

.

Nesta foto, crianças vasculham um lixão em busca de alimento e objetos que possam vender por uns poucos trocados.

Bibliografia: MOREIRA, J.C. SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo : Scipione, 2005. p.431.

Page 14: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

Teoria Neomalthusiana

Com o fim da Segunda Guerra, foi

realizada uma conferência de paz em 1945,

em São Francisco (Estados Unidos), que deu

origem à Organização das Nações Unidas

(ONU). Na ocasião, foram discutidas

estratégias de desenvolvimento, para evitar a

eclosão de um novo conflito militar em escala

mundial. Havia apenas um ponto de consenso

entre os participantes: a paz depende da

harmonia entre os povos e, portanto, da

diminuição das desigualdades econômicas no

planeta. Assim sendo, como explicar e, mais

difícil ainda, enfrentar a questão da miséria

nos países subdesenvolvidos?

Por que os países desenvolvidos defendem o neomalthianismo?

Esses países (subdesenvolvidos) buscaram

identificar a raiz de seus problemas na colonização

de exploração realizada em seus territórios e na

desigualdade das relações comerciais que

caracterizaram o colonialismo e o imperialismo. Por

isso, passaram a propor amplas reformas nas

relações econômicas, em escala planetária, que

diminuiriam as vantagens comerciais e, portanto, o

fluxo de capitais e a evasão de divisas dos países

subdesenvolvidos em direção aos desenvolvidos (o

que não é vantajoso para estes últimos).

Qual foi a solução dos países desenvolvidos?

Neste contexto histórico, foi formulada a teoria demográfica

neomalthusiana, uma tentativa de explicar a ocorrência da fome e do atraso nos

países subdesenvolvidos. Ela é defendida por setores da população e dos governos

Page 15: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

dos países desenvolvidos – e por alguns setores dos países subdesenvolvidos – com

o intuito de se esquivarem das questões econômicas.

Segundo essa teoria, uma numerosa população jovem, resultante das

elevadas taxas de natalidade verificadas em quase todos

os países subdesenvolvidos, necessitaria de grandes

investimentos sociais em educação e saúde. Com isso,

sobrariam menos recursos para serem investidos nos

setores agrícola e industrial, o que impediria o pleno

desenvolvimento das atividades econômicas e, conseqüentemente, da melhoria das

condições de vida da população.

Ainda segundo os neomalthusianos, quanto maior o número de habitantes

de um país, menor a renda per capita e a disponibilidade de capital a ser distribuído

pelos agentes econômicos.

Hum... está parecendo que já assisti esse filme...

Verifica-se que essa teoria, embora com postulados totalmente diferentes

daqueles utilizados por Malthus, chega à mesma conclusão: o crescimento

populacional é o responsável pela ocorrência da miséria.

Propostas para reduzir a pobreza, segundo os neomalthusianos.

Seus defensores passam a propor, então, programas de controle da

natalidade nos países subdesenvolvidos mediante a

disseminação de métodos anticoncepcionais. É uma tentativa

de enfrentar os problemas socioeconômicos partindo

exclusivamente de posições contrárias à natalidade, e ainda

acobertar os efeitos danosos dos baixos salários e das

péssimas condições de vida que vigoram nos países subdesenvolvidos, apenas com

base em uma argumentação demográfica.

Além do mais, afirmar que os países subdesenvolvidos desperdiçam em

investimentos sociais um dinheiro que deveria ser destinado ao setor produtivo é

uma conclusão bastante simplista.

Bibliografia: MOREIRA, J.C. SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo : Scipione, 2005. p.432.

Page 16: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

Teoria Reformista (ou marxista)

Na mesma época em que foi criada a teoria neomalthusiana,

representantes dos países subdesenvolvidos elaboraram, em resposta, a teoria

reformista (ou marxista), que chega a uma conclusão inversa à das duas teorias

demográficas anteriores.

População jovem e numerosa é atraso socioeconômico?

Uma população jovem numerosa, em virtude de elevadas taxas de

natalidade, não é causa, mas conseqüência do subdesenvolvimento. Em países

desenvolvidos, marcados por um elevado padrão de vida

da população, o controle da natalidade ocorreu de

maneira simultânea à melhoria da qualidade de vida da

população, além de ter sido passado espontaneamente

de uma geração para outra à medida que foram se

alterando os modos e os projetos de vida das famílias,

as quais, em geral, passaram a ter menos filhos ao longo do século XX. Uma

população jovem numerosa só se tornou empecilho ao desenvolvimento das

atividades econômicas nos países subdesenvolvidos porque não foram realizados

investimentos sociais, principalmente em educação e saúde.

Investimentos sociais são fatores de atraso?

Essa situação gerou um imenso contingente

de mão-de-obra sem qualificação, que

continuamente ingressa no mercado de trabalho.

Tal realidade tende a rebaixar o nível médio de

produtividade por trabalhador e a empobrecer

enormes parcelas da população desses países. É

necessário o enfrentamento, em primeiro lugar, das questões sociais e

econômicas para que a dinâmica demográfica entre em equilíbrio.

Page 17: TEORIA DA POPULAÇÃO - DEMOGRAFIA

Quando o cotidiano familiar transcorre

em condições miseráveis e as pessoas não têm

consciência das determinações econômicas e

sociais às quais estão submetidas, vivendo de

subempregos, em submoradias e

subalimentadas, como esperar que elas

estejam preocupadas em gerar menos filhos?

Argumentos à favor da teoria reformista

Para os defensores dessa corrente, a tendência

de controle espontâneo da natalidade é facilmente

verificável ao se comparar a

taxa de natalidade entre as

famílias brasileiras de classe

baixa e as de classe média. À

medida que as famílias obtêm condições dignas de vida

– educação, assistência médica, acesso à informação,

etc. -, tendem a ter menos filhos.

Os investimentos em educação são fundamentais para a melhoria de todos os

indicadores sociais. No mundo inteiro, quanto maior a escolaridade da mulher,

menor tende ser o número de filhos e também menor a taxa de mortalidade

infantil (importante indicador de qualidade de vida).

Essa teoria, enfim, é a mais realista, por analisar os problemas

econômicos, sociais e demográficos de forma objetiva, partindo de situações reais

do dia-a-dia das pessoas.

Bibliografia: MOREIRA, J.C. SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo : Scipione, 2005. p.433.