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Tr 130 valorização da bicicleta

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Importância e realidade

A valorização económica da bicicleta em Portugal

www.transportesemrevista.com TR 130 DEZEMBRO 2013

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Em Portugal, as autoridades públicas locais olham para esta questão como uma oportu-nidade para mudar o paradigma de mobilida-de e também para promover ambientes ur-banos mais amigáveis, capazes de assegurar maior sociabilização, e têm vindo a produzir investimento sobretudo na melhoria da infra-estrutura ciclável, maioritariamente associada a frentes de água e a percursos lúdicos, em alguns casos, sacrificando o espaço pedonal, e um menos evidente esforço em equipa-mentos de apoio (estacionamento e duches). Paralelamente, e de forma mais tímida, têm vindo a implementar sistemas coletivos de uso de bicicleta – “Bikesharing” – associa-das à qualificação do ambiente urbano ou à melhoria da oferta turística, casos de torres Vedras ou Águeda e murtosa ou Vilamoura, respetivamente.alguns municípios e empresas têm vindo a trabalhar com organizações do Sistema Científico-tecnológico (SCt), desenvolvendo projetos de investigação e de desenvolvimen-to centrados na bicicleta com preocupações de articular o conhecimento ligado à tecno-logia, ciência, design e materiais e a valori-zação social e económica do território. mas, apesar dos resultados (caso do BikeEmotion, por exemplo), a capacidade de replicação das aprendizagens noutros contextos mais alar-gados ainda não é evidente.ao nível das políticas públicas nacionais, o desenvolvimento do Plano de Promoção da Bicicleta e outros modos Suaves 2013-2020 pelo Imtt foi um exercício oportuno mas, ape-sar do conjunto relevante de propostas que produziu, ainda não teve consequências ou resultados visíveis. Destaque-se, no entanto, a recente alteração legislativa ao Código da Es-trada, que promoveu uma maior proteção e defesa dos ciclistas, seja pelos direitos que lhes são diretamente atribuídos, seja pela clara in-tenção de promover no espaço urbano meno-res diferenciais de velocidade entre utilizadores (com destaque para a criação das Zonas 30).Porventura a mais relevante modificação do contexto de promoção do uso da bicicleta está associado ao aparecimento de movimen-tos cívicos que se organizam em torno da promoção da utilização da bicicleta (entre os quais emergiram a muBI e outras organiza-ções associadas ao movimento massa Crítica) com iniciativa relevante de estímulo da utili-

O tema da bicicleta e da mobilidade ciclável tem ganho, nos últimos tempos, um crescente interesse e atenção, seja pela crescente visibilidade nos media, pelo número de utilizadores, seja ainda pelo facto de estar alinhado com um conjunto de preocupações da sociedade contemporânea, de natureza global, sobretudo ligada a questões ambientais e energéticas (relacionadas com a dependência dos combustíveis fósseis, a poluição e as alterações climáticas) e de natureza individual, relacionadas com o bem-estar e a saúde, tendo-se transformando numa espécie de novo «zeitgeist», um novo espírito do tempo.

zação em meio urbano e de reflexão crítica sobre políticas e propostas com impacto na mobilidade suave.Da análise aos projetos e iniciativas que têm sido produzidas nos últimos anos é possível produzir duas leituras distintas: uma primeira, centrada na procura de mudar e qualificar pa-drões de deslocação, assentando para o efeito na criação/melhoria de infraestrutura e na al-teração do quadro legal em vigor (asseguran-do uma maior proteção dos ciclistas). E uma segunda, menos evidente, associada à valori-zação económica da bicicleta e da mobilidade suave, quer através do estímulo à produção industrial e consequente incorporação do valor associado ao design e materiais, quer da pro-moção de mobilidade ligada ao lazer e turismo.No entanto, existe a consciência de que a “realidade ciclável” em Portugal é muito mais vasta e complexa, envolvendo um número crescente de utilizadores com motivações dis-tintas - de deslocação do dia a dia, desporto, lazer ou turismo - cujas necessidades e moti-vações se desconhecem e cujos efeitos estão por analisar.

utilizadores da bicicleta em Portugalum primeiro esforço de conhecimento da realidade pode ser produzido a partir dos dados publicados pelos Censos 2011. Essa informação permite perceber, em primeiro lugar, o aumento do peso do transporte indi-vidual (62 por cento em 2011 contra 46 por cento em 2001; ainda assim o valor atual é relativamente próximo da média europeia) em detrimento do transporte coletivo (redu-ção de 21 por cento para 15 por cento em igual período) e dos modos suaves (a pé, de 25 por cento para 17 por cento em 2011; e bicicleta e motorizada de 3,2 por cento para 1,7 por cento em 2011). Não havendo dados para perceber a evolução do modo ciclável, o seu peso na repartição modal atual é cerca de 0,5 por cento, representando cerca de 31 mil utilizadores regulares, um valor muito abaixo da média na Europa, cerca de 7,4 por cento em 2010 (Eurobarómetro sobre Política de transportes, 2010).Numa análise mais fina ao território nacional, é possível perceber que em Portugal é a Sub--região do Baixo Vouga aquela onde mais pessoas andam regularmente de bicicleta – um valor oito vezes superior à média nacio-nal – 3,9 por cento contra 0,5 por cento (INE, 2011). De notar que é nesta região que está

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José Carlos mota e Frederico moura Sá

(docentes e investigadores do DCSPtu-ua)

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o concelho com maior número de utilizadores em termos relativos, a murtosa com 17 por cento, e os cinco concelhos com maior valor em termos absolutos: Ílhavo, aveiro, Estarreja, ovar e murtosa, com 2.160, 1.351, 996, 935 e 893 utilizadores da bicicleta, respetivamente. Para além dos utilizadores regulares, existem cerca de cem mil pessoas envolvidas em ati-vidades desportivas ligadas à bicicleta, das quais apenas dez por cento estão federadas, segundo informação fornecida recentemente pela Federação Portuguesa de Ciclismo. o crescimento tem sido homogéneo no territó-rio nacional, ainda assim com alguma particu-lar relevância no Norte do país, sendo espelho dessa dinâmica a quantidade de eventos nas mais variadas modalidades - cross-country, maratonas, endurance, downhill, ciclo-cross, pista, com mais de 300 eventos/ano.

Valor económico da bicicletaNão existem em Portugal estudos conhecidos sobre o valor económico da bicicleta e da mo-bilidade ciclável nas suas diferentes vertentes.relativamente ao valor ligado à produção

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8.640

2.525

2.389

2.051

1.952

utilizadores

1.818

1.713

1.556

1.320

939

utilizadores

Baixo Vouga

GrandePortoPinhalLitoralBaixo

Mondego

Algarve

GrandeLisboa

Lezíriado Tejo

Oeste

Cávado

Setúbal

224.238

249.912

736.344

150.180

1.224.331

utilizadores

1.224.331

449.261

133.447

203.592

243.126

utilizadores

3,9%

1%

0,3%

1,4%

1,2%

Peso daBicicleta

0,1%

0,4%

1,2%

0,6%

0,4%

Peso daBicicleta

Peso da bicicleta na repartição modal de transportes por região

Peso da bicicleta na repartição modal de transportes por sub-região

#1 #6#2 #7

#3 #8

#4 #9

#5 #10

#25.761

utilizadores2.051.031utilizadores

0,3%total de Bicicletas

#33.531

utilizadores1.673.592utilizadores

0,2% total de Bicicletas

#52.525

utilizadores249.912utilizadores

1,0% total de Bicicletas

#115.858

utilizadores1.246.318utilizadores

1,3%total de Bicicletas

#43.203

utilizadores394.235utilizadores

0,8%total de Bicicletas

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cionado com a produção e comercialização de bicicletas elétricas pelo seu potencial em territórios menos planos e em deslocações de média distância. outro ligado com o turismo e lazer ciclável, uma atividade que mobiliza vi-

sitantes/turistas que se deslocam de bicicleta, em férias ou em lazer, de forma independen-te ou fazendo parte de viagens organizadas, que pode incluir o uso de outros transportes e recorrer a alojamento formal ou informal

industrial de bicicletas, os dados disponíveis mostram que ele representava em 2006 cerca de 71 milhões de euros, com um peso signi-ficativo relacionado com a exportação (PNPB, 2012). Dados mais recentes apontam para um volume de vendas próximo dos 200 mi-lhões de euros (aBImota, 2013).Existe a perceção empírica de que têm vin-do a surgir um conjunto de novas atividades económicas relacionadas com a bicicleta, no-meadamente a organização de eventos turís-ticos e de lazer, a abertura de novas lojas de bicicletas e oficinas, componentes para bici-cletas e vestuário/moda. Sem prejuízo de uma análise mais aprofundada, é possível concluir que a grande maioria dos negócios são recen-tes, têm uma estrutura de custos fixos baixa, um leque alargado de serviços prestados com uma relação de militância com a atividade, o que explica, em parte, a sua capacidade de resiliência neste período de crise.Existem dois segmentos de negócio emergen-tes que valerá a pena acompanhar. um rela-

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pub.

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(lumsdon, 2003). Sobre o segmento da bi-cicleta elétrica, alguns estudos mostram ser um dos ligados às duas rodas que mais está a crescer na Europa, podendo vir a representar em Portugal “um volume de negócio na casa dos 80 milhões de euros” (Paulo rodrigues, aBImota, JN 2013-11-21). No que concerne ao turismo ciclável, estudos recentes produ-zidos pelo Parlamento Europeu (DgIP, 2009) mostram que a atividade representa 2,8 mil milhões de viagens na Europa (26 milhões dos quais correspondem a viagens de turis-mo) e um valor aproximadamente de 54 mil milhões de euros (DgIP 2009), sendo funda-mental para o seu desenvolvimento a criação de uma rede europeia de ciclovias (EuroVelo) que totaliza mais de 66 mil Km (75 por cento dos quais já construídos), que atinge 12,5 mi-lhões de viajantes e um impacto económico de cerca de 4,4 mil milhões de euros. Curio-samente, esta rede só inclui um pequeno tro-ço nacional, no sul do país.

Plataforma para a valorização económica da bicicletaComo já foi referido, a região de aveiro é de longe a que possui maior número de utiliza-dores regulares de bicicleta e é também aque-la onde o tema tem adquirido centralidade em termos das políticas públicas locais. Estes

Murtosa: sucesso com raízes na tradiçãoDe acordo com o Instituto Nacional de Estatística, 17 por cento da população ativa da murtosa – um concelho com 10.575 habitantes – utiliza a bicicleta como meio de trans-porte nas deslocações de casa para o trabalho, sendo este o valor mais elevado no nosso País. Esse valor até pode pecar por defeito, porque não contabiliza os estudantes e os reformados. a página de Internet ‘murtosa Ciclável’ refere que mais de metade dos resi-dentes utilizam a bicicleta com regularidade e cerca de 90 por cento da população escolar desloca-se neste meio de transporte. No passado, as pessoas utilizavam a bicicleta porque a alternativa era andar a pé. a morfologia do concelho também ajudava à mobilidade ciclável e pedonal, uma vez que a diferença de cota máxima é inferior a 1,20 metros. a maior elevação foi construída pelo homem, uma ponte que atravessa a ria de aveiro na estrada até à praia e que no ponto mais alto se encontra cinco metros acima da água.aproveitando a tradição histórica da bicicleta no concelho, a Câmara municipal da mur-tosa apresentou, em 2007, o projeto de mobilidade sustentável, numa parceria com a universidade de aveiro e a agência Portuguesa do ambiente. a iniciativa tinha como objetivo a utilização da bicicleta nas deslocações do dia a dia, como meio de transporte suave, amigo da saúde e do ambiente e o seu uso como meio privilegiado de descoberta e fruição do riquíssimo património natural e cultural local. o projeto permitiu a constru-ção de mais de 40 quilómetros de vias cicláveis, entre troços específicos e partilhados. a estrada para a torreira foi alargada e passou a dispor de ciclovias protegidas dos carros. uma das preocupações da autarquia consistiu no planeamento e no desenho urbano para proporcionar condições mais favoráveis aos utilizadores de bicicleta. Para além dos residentes, a murtosa também oferece condições aos turistas para a co-nhecerem de bicicleta. os hotéis e as pensões receberam bicicletas, disponibilizando-as aos hóspedes, que as podem levantar e deixar nos locais assinalados. a segunda vertente do projeto ‘murtosa Ciclável’ traduziu-se na implementação do Per-curso Visitável da Natureza – Naturria, que disponibiliza percursos cicláveis para conhe-cer a ria.

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50

893

2160

996

192

355

669

390

745

488

935

utilizadores

Murtosa Baixo Vouga

Vagos Baixo Vouga

Estarreja Baixo Vouga

Marinha Grande Pinhal Litoral

Golegã Lezíria do Tejo

Anadia Baixo Vouga

Mira Baixo Mondego

Ovar

municípios DSg

Baixo Vouga

NutS DSg

Ílhavo Baixo Vouga

Vila Real de Stº António Algarve

5.275

22.357

14.677

2.879

6.032

12.865

9.924

22.013

15.778

32.325

utilizadores

16,9%

9,7%

6,8%

6,7%

5,9%

4,7%

3,9%

3,4%

3,1%

2,9%

Peso daBicicleta

10 concelhos com mais utilizadores de bicicleta (em termos relativos)

#1

#6

#2

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#4

#9

#5

#100,5%

média Nacional

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aluguer de bicicletas; ensaios laboratoriais; produção de sistemas de montagem e ges-tão de stocks;

> ProDutoS – produção e comercialização de roupa (diário, desporto, lazer e turismo) e acessórios (capacetes); produção de gad-gets e tICE

> SErVIÇoS Para FINS mÚltIPloS – DIÁrIo, DESPorto, laZEr E turISmo – transpor-te intermodal; mecânica; Formação; orga-nização de eventos e atividades comple-mentares (cultura, lazer, saúde); assistência (segurança e apoio médico); alojamento e restauração ‘bike-friendly’; Edição de guias e mapas;

Num segundo evento, organizado em no-vembro, o   1.º WorKINg-DaY «PlataFor-ma PEla ValorIZaÇÃo ECoNÓmICa Da BICIClEta», procurou-se lançar as bases de um esforço colaborativo de mobilização de vontades e competências das várias universi-dades, associações do setor, empresas, autar-quias e organizações de cidadãos pela pro-moção da bicicleta e das atividades que em torno dela se podem desenvolver, tendo sido convidadas personalidades que fazem negó-cios, produzem políticas, organizam eventos e promovem o uso da bicicleta em Portugal e que têm tido um papel relevante, visando ajudar a refletir sobre o «estado da arte» e começar a desenhar um plano de ação futu-ro, perspetivando o quadro europeu de finan-ciamento 2014-2020.

o futuroa criação de condições favoráveis ao uso da bicicleta e modos suaves nas cidades pode propiciar uma ambiência favorável ao desen-volvimento económico (gerar novas atividades com impacto na economia local), à melhoria do ambiente (redução da dependência do uso do transporte individual), ao fortalecimento das relações interpessoais (maior inclusão), com re-

factos não podem ser dissociados do facto de aí estar instalado o setor nacional de produ-ção das duas rodas e sediada a sua associa-ção nacional (aBImota) e também do papel da I&D produzida na universidade de aveiro (ua) sobre esta matéria. Estas circunstâncias e o reconhecimento do enorme potencial ins-talado conduziram ao estabelecimento de um protocolo de colaboração entre a aBImota e a ua que visou a promoção da bicicleta na sua dimensão social, económica e territorial (https://www.facebook.com/ValorEconomi-codaBicicleta). organizaram, nesse âmbito, em setembro do ano passado, um primeiro evento onde procuraram refletir sobre a opor-tunidade de promover o valor económico da bicicleta, enquadrado nas competências do SCt, e em particular da ua, e nas oportunida-des de I&D do novo quadro financeiro euro-peu 2014-2020.a primeira conclusão que se retirou desse evento foi que o tema tem vindo a ganhar um crescente interesse enquanto objeto de I&D, medido pelo número de projetos relacio-nados com a mobilidade ciclável, nomeada-mente na conceção de bicicletas com adapta-ção a utentes com necessidades especiais, a utilização de novos materiais e equipamentos (elétricos, por ex.) e a inovação em proces-sos de fabrico, a conceção de pavimentos e redes de infraestruturas, o planeamento do território e a gestão da mobilidade, para além de investigação relacionada com temas com-plementares, nomeadamente com a saúde, o ambiente, o turismo e as tICE. a segunda conclusão foi a necessidade de desenhar um quadro tipológico de atividades associadas à fileira da bicicleta e que resultou na identificação dos seguintes domínios: > INFraEStruturaS E EQuIPamENtoS DE

aPoIo – produção de novos materiais para pavimentos; organização, produção e ges-tão de sistemas de infraestruturas cicláveis; produção e comercialização de mobiliário urbano, sinalética e equipamentos apoio (oficinas, balneários, cacifos, estaciona-mentos); produção e comercialização de equipamentos de gestão de sistemas coleti-vos de bicicletas;

> BICIClEta – produção de componentes e quadros, com novos materiais, design e mecânica; montagem de bicicletas; pro-dução e/ou adaptação de acessórios e ba-terias elétricas; produção bicicletas adap-tadas para utilizadores com necessidades especiais de mobilidade; comercialização e

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percussões positivas na qualidade dos territórios e comunidades. aproveitando o momento privilegiado de ar-ranque de ano Novo, deixa-se um conjunto de sugestões de reflexão e ação futura. Primeiro, procurar começar por perceber quem são os di-ferentes utilizadores da bicicleta (desporto, dia a dia, lazer e turismo, atividades radicais) e os contextos territoriais onde são usados (urbanos e rurais). Segundo, criar ou aperfeiçoar as pla-taformas de diálogo entre os diferentes atores que produzem políticas, fazem negócios, orga-nizam eventos e promovem o uso da bicicleta, com o objectivo de influenciar a agenda da po-

além do desenvolvimento e produção de bicicletas, desenho e planea-mento urbano, comércio e reparação, o setor da bicicleta também cons-titui uma oportunidade para empresas de tecnologias de informação. uma delas é a ubiwhere, que se dedica ao fornecimento de serviços de consultoria e desenvolvimento de software para redes Heterogé-neas e redes de Próxima geração. as suas atividades envolvem ainda a investigação na área da Computação Úbiqua e a criação de serviços inovadores para dispositivos móveis. Especial ênfase é dado à área do turismo, através de aplicações baseadas na localização dos utilizadores e que lhes enriqueça a experiência, caso do bikeemotion – o sistema de quarta geração de partilha de bicicletas. Segundo a responsável de marketing e Comunicação da ubiwhere, Helena Dias, «a inovação e a especialização têm trazido o necessário valor acrescentado ao se-tor em Portugal, permitindo o crescimento e aumento de compe-titividade internacional do setor», adiantando que as «dificuldades económicas e sociais que o País atravessa, e em que determinadas opções se têm tornado insustentáveis, levam a que o aumento da percentagem de utilização de meios de transporte mais sus-tentáveis seja uma medida a tomar com caráter de urgência». No entanto, salienta que é «importante o reforço da capacidade de de-senvolvimento de novos produtos, integração de novos materiais e melhoria do design das bicicletas e seus componentes».Para Helena Dias, em Portugal existem “experties” para o desenvol-vimento e produção de bicicletas, peças, equipamentos e acessórios, afirmando que um dos sinais é o valor das exportações, que indica que o setor «vale cerca de 200 milhões de euros, sendo o saldo comercial de bicicletas muito positivo». o aumento dos preços do petróleo e dos transportes públicos, assim como a redução do poder de compra dos portugueses têm conduzido muitas pessoas a mudan-ças de hábitos e a adotar a bicicleta para as suas deslocações. Estes dois fatores têm ainda levado a que haja um maior esforço de moder-nização das empresas produtoras de bicicletas, que têm vindo a investir para produzir produtos com alta qualidade. «No distrito de Aveiro é onde se concentra a indústria ligada à bicicleta e algumas das empresas chegam mesmo a estar ao nível dos países mais com-petitivos do Mundo, como os EUA e a Alemanha».

a responsável de Comunicação e marketing da ubiwhere é da opinião que as universidades estão atentas a esta oportunidade, apontando como exemplo a universidade de aveiro. «Além de trabalhar em parceria com a ABIMOTA (Associação Nacional dos Industriais de Bicicletas, Ciclomotores, Motociclos e Acessórios) para promover o valor económico, social e ambiental da bicicleta, é um dos nos-sos parceiros, a par da Ponto.C e da Micro I/O, no projeto bike-emotion – o sistema de 4ª Geração de partilha de bicicletas». as entidades governamentais estão igualmente sensibilizadas para esta temática, existindo iniciativas como o Plano de Promoção da Bicicleta e outros modos Suaves 2013-2020 (ciclando) e a possibilidade de trans-porte de bicicletas nos comboios. ao nível municipal, existem também algumas iniciativas, como os sistemas de partilha de bicicleta como a Buga, em aveiro, e a BiCas, em Cascais.Helena Dias acredita que existem condições para que as várias ativida-des ligadas à bicicleta se possam transformar num ‘cluster’.«Apesar de muitas entidades e os próprios portugueses estarem cada vez mais sensibilizados para o uso da bicicleta como meio de trans-porte, um cluster nacional ou internacional iria permitir estimu-lar e orientar o crescimento do setor em termos de aumento da capacidade de I&DT, volume de negócios, exportações e empre-go qualificado. Para que isso aconteça será necessário que haja articulação entre inovação, novas tecnologias, sistemas de infor-mação e os demais componentes da mobilidade e, consequen-temente, das diversas entidades públicas e privadas do setor». Para a economia nacional, uma das vantagens da constituição de um ‘cluster’ para o setor «reside na sua forma diferenciada de organizar a cadeia de valor que irá estimular o relacionamen-to e a difusão de informação entre empresas», afirma Helena Dias, salientando que «aspetos relacionados com a confiança e a transparência, assim como a transferência de conhecimento/tecnologia entre as empresas do mesmo cluster aumentarão a competitividade face a intervenientes não agrupados e que atuam individualmente. Tal competitividade manifesta-se ao aumentar a produtividade, ao potenciar a inovação e ao esti-mular a formação de novos negócios».

Helena Dias – Ubiwhere«Algumas empresas nacionais estão ao nível de países como a Alemanha ou os Estados Unidos»

lítica pública, as opções dos agentes económi-cos e os comportamentos individuais. terceiro, apostar na criação de valor na fileira das ativida-des ligadas à bicicleta, em particular ligando-a à ciência e tecnologia, às artes e design, ao ter-ritório e às comunidades, aproveitando o novo quadro europeu de apoios (2014-2020), cujos princípios orientadores ligados ao crescimento inteligente, sustentável e inclusivo estão pró-ximos das preocupações e anseios dos atores envolvidos nesta temática. Por último, fica um desafio para aderirem a este esforço coletivo pela promoção do valor económico da bicicleta ([email protected]).

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